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UM ESTUDO DO LÉXICO EM MATÉRIA DE POESIA, DE MANOEL DE BARROS
Igor Iuri Dimitri Nakamura¹ e Rauer Ribeiro Rodrigues²
¹ Aluno do curso de Letras da UFMS, bolsista de Iniciação Científica CNPq – PIBIC 2014/15
² Professor da UFMS, campus do Pantanal, e-mail: rauer.rauer@uol.com.br
Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise da linguagem poética da obra
Matéria de poesia, de Manoel de Barros, tendo como fundamentação teórica os estudos da
lexicologia. Para tanto, elaborou-se um levantamento das lexias trabalhadas estilisticamente
pelo poeta no referido corpus e, em seguida, criou-se um glossário com elas organizadas
segundo critérios semasiológicos. Encontraram-se ao todo 12 lexias, das quais se
classificaram 7 neologismos, 4 regionalismos e 1 gíria. Os resultados atestam que o exercício
linguístico de invenção e reinvenção do discurso poético do autor constitui uma atmosfera
própria, permeada pela cultura e costumes da gente pantaneira sul-mato-grossense e pelas
coisas tradicionalmente concebidas como inúteis. Conclui-se que o estilo empregado pelo
poeta justifica a sua originalidade enquanto criador de um universo verbal e imagético.
Palavras-chave: poesia, estilo, linguagem
INTRODUÇÃO
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá em 19 de dezembro de 1916, e
passou a infância em Corumbá, na fronteira do Pantanal com a Bolívia. Na juventude, estudou
em colégios internos no Rio de Janeiro, bacharelou-se em direito e integrou o Partido
Comunista por um curto período. Após alguns anos, mudou-se para a fazenda de seu pai em
Campo Grande, onde passou a maior parte da sua vida, compondo as suas poesias, iniciando a
sua carreira poética em 1937, com Poemas concebidos sem pecado, embora fosse reconhecido
pela crítica somente décadas mais tarde. Manoel de Barros faleceu em 13 de novembro de
2014, deixando um legado extraordinário para a poesia brasileira contemporânea, com
dezenas de livros publicados, entre os quais, a obra Matéria de poesia.
Sendo o sexto livro da carreira do poeta, Matéria de poesia foi publicado pela primeira
vez em 1970. A obra estrutura-se em três poemas: o primeiro, homônimo ao título do livro, o
segundo intitulado Como os loucos de água e estandarte e o último, Aproveitamento de
materiais e passarinhos de uma demolição. Já a sua temática central se configura no exercício
poético e metalinguístico envolvendo objetos e pessoas que sob o olhar corriqueiro e
paradigmático da lógica e da realidade factual não apresentam poeticidade alguma, mas que
durante o exercício linguístico do fazer literário se transformam em matéria, isto é, em objetos
para a poesia. Percebe-se isto em toda a obra, como se esboçam nos seguintes versos:
Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para a poesia
As coisas que os líquenes comem
– sapatos, adjetivos –
têm muita importância para os pulmões
da poesia
(...)
Pessoas desimportantes
dão para poesia
qualquer pessoa ou escada
(BARROS, 2013, p. 136)
Nota-se, pois, uma relação entre a linguagem e a matéria de poesia expressa pela voz
do eu poético. Os elementos linguísticos como a metaforização do natural e a ilógica textual e
imagética transfiguram o significado na apresentação dos referenciais, ao mesmo passo que
constituem esteticamente o espaço pantaneiro sul-mato-grossense. Além disso, o trabalho
poético de invenção de vocábulos, como o termo “desimportantes”, reforça a temática central
do livro. Logo, tem-se uma construção poética pautada no exercício verbal de caráter
disforme e inventivo, isto é, livre das regras tradicionais da língua e inovador, e que se realiza,
numa unicidade entre a forma e o conteúdo, na composição da obra.
Tratando-se de poesia, Friedrich (1978, p. 17-8) observa que a lírica moderna passa
por uma série de transformações, envolvendo o significado, a sintaxe, a comparação e a
metáfora nos quais as naturezas do irreal e do real se fundem. Deste modo, a poesia de
Manoel de Barros, elaborada nos séculos XX e XXI, se enquadra como propulsora dessas
transformações, de tal modo que:
(...) é feita de rupturas, frases fragmentadas, montagens insólitas, metáforas
inusitadas, complexas e incongruentes. As categorias gramaticais são subvertidas,
adquirem valor diferente, ditadas não por regras estabelecidas, mas pela necessidade
de traduzir a realidade em uma nova semântica. O poeta estabelece relações
inesperadas entre as palavras, instaura ambiguidades que se enraízam na
desestabilização dos sentidos. Assim, apresenta uma linguagem fora do
pragmatismo dos padrões linguísticos convencionais e sua poesia surge como
festejos de linguagem. (GRÁCIA-RODRIGUES, 2006, p. 95)
Sendo assim, a poesia manoelina constrói um vocabulário próprio, pelo no qual “o
poeta zarpa para ousadas combinações, sonoridades e neologismos” (WALDMAN, 1996, p.
29). Deste modo, toda a linguagem poética de Manoel de Barros discorre para um processo
recorrente de formação de palavras, a neologia, cujos resultados são as mudanças de
significado e criação de novos vocábulos, como os neologismos e as onomatopeias e etc.
Alves (1994) distingue os seguintes processos de criação neológica: neologia
fonológica, semântica e sintática (derivação prefixal e sufixal, composição e etc.). Segundo a
estudiosa, os neologismos fonológicos são aqueles que se originam independentes de
significante e significado, enquanto os neologismos semânticos são aqueles cujo significado é
inédito, mas sua unidade lexical se mantém e, por sua vez, os neologismos sintáticos são os
que se originam por meio de uma combinação de morfemas já existentes, como prefixos e
sufixos, do qual se têm os neologismos por derivação prefixal e sufixal respectivamente.
Assim, o vocábulo “desimportantes” é uma criação neológica própria do vocabulário de
Manoel de Barros, com significação inédita.
Já a mudança do significado de um vocábulo se dá por intermédio da transposição do
seu significado conceptual, de natureza lógica, para um significado associativo ou temático
por meio do ambiente em que ele é situado (BIDERMAN, 2001). Assim, em Manoel de
Barros, a realidade construída pela ambientação poética, na qual os vocábulos são situados,
constrói uma natureza léxico-semântica esteticamente elaborada para estes, paralelamente à
sua consolidação enquanto pano de fundo de toda a poesia do autor.
Logo, as formas linguísticas presentes no estilo de Manoel de Barros são recursos de
natureza literária com valor léxico-semântico esteticamente trabalhado pelo poeta na
construção da sua obra. Ponderando tais observações, fez-se necessário a elaboração deste
trabalho, cujo objetivo é analisar o vocabulário empregado pelo autor em Matéria de poesia,
tendo como base os estudos da lexicologia (ALVES, 1994) e da léxico-semântica
(BIDERMAN, 2001) e os estudos da linguagem poética de Manoel de Barros (GRÀCIA-
RODRIGUES, 2006).
METODOLOGIA
A pesquisa se realizou através de três etapas distintas e complementares, sendo elas:
levantamento bibliográfico, recolhimento lexical e elaboração do glossário. Distintas, pelo
fato de não se intercalarem, isto é, de serem visíveis no desenvolvimento deste trabalho, e
complementares pelo fato de cumprirem com os pressupostos teóricos coerentemente. Assim,
toda a metodologia forneceu um leque de opções de caminhos a serem trilhados durante a
pesquisa, desde a elaboração de seu arcabouço teórico à sua conclusão.
A fase de levantamento bibliográfico se deu após a leitura do corpus. Nela enfatizou-
se, inicialmente, como objeto o léxico na poesia de Manoel de Barros, com o objetivo de
abstrair uma noção inicial acerca das discussões da recepção crítica ao autor. Como
resultados, obtiveram-se os estudos de Waldman (1992) e Grácia-Rodrigues (2006), além do
trabalho de Hugo Friedrich (1978). Em seguida, prosseguiu-se o levantamento, mas desta vez
enfatizando os estudos da área da lexicologia, dos quais emergiram os trabalhos de Alves
(1994) e Biderman (2001).
Na fase de recolhimento lexical, buscou-se observar os vocábulos do corpus
esteticamente modificados, nos âmbitos do significado ou da forma, tendo como ferramenta
de consulta o dicionário de Houaiss e Villar (2009), ao qual se trabalhou a técnica de
comparação entre o significado para com a sua designação, quando existente.
Em seguida, efetuou-se uma conceituação proximal dos vocábulos, de acordo com a
semasiologia, isto é, com ênfase na significação para a estruturação do significado
(BIDERMAN, 2001, p. 199). Isto, de modo que se distanciasse do significado conceptual e se
embasasse nos significados associativos e na significação temática (idem, ibidem, p. 189), ou
seja, na organização do significado inserido em um contexto.
Paralelamente, classificou-se vocábulo por vocábulo de acordo com a taxonomia do
processo de criação de palavras, em que se têm neologismos (fonológicos, semânticos,
sintáticos por prefixação ou sufixação), regionalismos, arcaísmos, empréstimos e
estrangeirismos e outras formas linguísticas (ALVES, 1994).
A estruturação dos verbetes do glossário se realizou pautada no modelo do dicionário
de Houaiss e Villar (2009). Deste modo, apresentou-se cada verbete por meio de uma palavra
de entrada contendo o vocábulo, destacado com fonte em maiúsculo e em negrito, sucedida
pela formação mórfica do vocábulo entre parênteses e da classe de palavras a qual ele
pertence, de forma abreviada e em itálico. Seguindo essa sequência, apresentou-se o
significado do vocábulo, com algumas observações quando necessário e depois se expôs um
recorte da citação em que ele aparece no corpus.
Fez-se necessário também a criação de uma listagem com abreviaturas e siglas de
termos responsáveis pela organização dos verbetes. Para termos simples, abreviou-se
utilizando as primeiras letras em itálico. Já para termos compostos, abreviou-se utilizando a
letra inicial de cada termo e em itálico também. Para a enumeração de entrada dos
significados dos verbetes, quando existente, utilizou-se fonte em negrito.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Realizadas as fases delineadas pela metodologia pressuposta para a execução da
pesquisa, obtiveram-se ao todo 10 vocábulos estilisticamente modificados no corpus Matéria
de poesia, dentre os quais 05 neologismos, 05 regionalismos e 05 arcaísmos. Assim sendo,
segue-se o glossário, contendo os vocábulos transformados em verbetes, do livro Matéria de
poesia, de Manoel de Barros, precedido de suas notas e de suas abreviaturas e siglas.
Glossário de Matéria de poesia, de Manoel de Barros
Quadro 1. Notas
Notas
 Palavras de entrada distribuídas em ordem alfabética, em negrito e maiúsculo;
 Formação morfológica da lexia entre colchetes, em negrito dividida segundo a sua construção
neológica;
 Classificação da lexia entre colchetes e em itálico sucedida por duas barras;
 Significado da lexia após a classe gramatical;
 Classe gramatical em itálico e abreviada, antecedendo a citação da lexia pelo autor na obra;
 Citações da lexia nas obras do autor em itálico sucedidas por um travessão e por barra única em caso
de separação de versos.
Quadro 2. Abreviaturas e siglas
Abreviaturas e Siglas
adj.= adjetivo
adv.= advérbio, adverbal
brasil.= Brasil, brasileiro, brasileirismo
c.f.= conferir
comp.= composição, composto
deriv.= derivação, derivado
gír.= gíria
geog.= geografia, geográfico
i.e.= isto é
MP= Matéria de poesia
neol.= neologismo, neológico
Obs.= observação, observar
p.= página
parass.= parassíntese, parassintético
pref.= prefixação, prefixo, prefixal
prep.= preposição
reg.= região, regionalismo, regional
sem.= semântica, semântico
s.f.= substantivo feminino
s.m.= substantivo masculino
suf.= sufixação, sufixo, sufixal
Var.= variação, variado, variante
v.i.= verbo intransitivo
v.t.= verbo transitivo
BRENHENTAS. [neol. deriv. suf.// brenh + entas] adj. Qualidade de labirinto. Obs.: O
poeta se refere à linguagem de Mário-pega-sapo como “fala de furas brenhentas” e “nua”, no
qual se subentende furnas como “gruta” e brenhentas – derivado de brenha, i.e., “bosque”,
“floresta”, criando a sensação de uma fala desconexa e profunda, mas que é despida,
compreensível para as “crianças e as putas do jardim”. – A fala de furnas brenhentas de
Mário-pega-sapo era nua (MP, p. 138).
CORGOS. [Var. geog. reg.] s.m. Variante de córrego. – Viram casos de ostras em canetas / e
ajudaram as aves na arrumação dos corgos (MP, p. 139).
DESCANGOTADOS. [neol. sem.] adj. Deslumbrado. Obs.: O adjetivo “descangotado”
deriva do verbo “descangotar”, i.e., quebrar o pescoço e, por meio disso, Manoel de Barros
causa simultaneamente uma sensação de inércia e deslumbramento ao adjetivar o substantivo
“sapos” com o referido termo, sucedido pelo complemento “de luar”. Obs.: Embora possa
parecer um elemento de uma metaforização, “descangotados” é um neologismo semântico por
manter a forma (significante) e alterar o seu conteúdo significativo (c.f. GUILBERT, 1975
apud ASSIRATI, 1998, p. 122) – Só um poço merejava fora dele / e sapos descangotados de
luar (MP, p. 141).
DESIMPORTANTES. [neol. deriv. pref.// des + importante] s.m. Significa pessoa sem
importância, sem status social. Obs.: O poeta se utiliza do prefixo “–des” como forma de
inversão do significado conceptual (c.f. BIDERMAN, p. 189), i.e., principal explicitado na
palavra (c.f. GRÁCIA-RODRIGUES, p. 170) e, por isso, o termo “desimportantes” se refere a
pessoas sem a equivalente e reconhecida importância social exercida, ao homem simples e
rude, enfim, àqueles que compõem a base da pirâmide econômica. – Pessoas desimportantes /
dão para poesia (MP, p. 137).
GERAL. [gír.] s.f. O mesmo que “a todos”. – Cada coisa sem préstimo / tem seu lugar / na
poesia ou na geral (MP, p.136).
EMPERNAVA. [neol. deriv. parass. // em + pern + ar] v.t. Baldear, cercar. Obs.: O autor
transforma um substantivo em verbo por intermédio de um processo de derivação para
produzir a imagem de um rio abraçando as casas, aumentando assim a atmosfera pantaneira
que envolve os seus habitantes. – O rio empernava as casas (MP, p. 149).
EMPÓS. [Var. geog. reg.] prep. Variação de após. – Só empós de virar traste que o homem é
poesia... (MP, p. 143).
MÁRIO-PEGA-SAPO. [neol. comp.] sub.próp. Trata-se da criação de um substantivo
próprio para a personagem homônima. Obs.: O poeta se utiliza das qualidades naturalizadas
pela personagem para nomeá-la. – A fala de furnas brenhentas de Mário-pega-sapo era nua
(MP, p. 138).
NIM. [Var. geog. reg.] prep. O mesmo que “em”. – Jogar pedrinhas nim moscas... (MP, p.
138).
RIACHOSO. [neol. deriv. suf. // riach + oso] adj. O poeta se refere a um admirador do
cantar dos sapos. Obs.: Trata-se do processo de naturalização com a região pantaneira pelo
qual algumas personagens passam. – Que um homem riachoso escutava os sapos (MP, p.
139).
SEMENTAVA. [neol. deriv. suf. // sement + ar] v.i. O mesmo que germinar. Obs.: O poeta
relaciona o caranguejo, crustáceo comum em regiões úmidas como o Pantanal, com a poesia
representada pela figura da harpa, reforçando a ideia do objeto do fazer poético. – Um
caranguejo curto sementava entre harpas (MP, p. 148).
TERÉNS. [reg. brasil.] s.m. Coisa ou objeto. Obs.: Segundo consta nas abreviaturas de
Houaiss (2009), tal vocábulo se trata de um brasileirismo informal. – Nos versos mais
transparentes enfiar pregos sujos, teréns de rua / e de música (MP, p. 138).
Os vocábulos apresentados representam, de um modo geral, uma projeção do
espaço pantaneiro sul-mato-grossense. As variações regionais e as gírias se configuram como
mecanismos de mimetização da fala do homem pantaneiro como um registro discursivo em
que se mesclam a sua cultura e costumes. Já por outro lado, os neologismos se apresentam
como formas linguísticas de natureza léxico-semântica que extravasam a linguagem
mimetizada e constituem o processo de criação verbal esteticamente construídos enquanto
objeto do fazer literário.
Ressaltando que, em Matéria de poesia, a reflexão do fazer poético constitui a
temática central, o que se tem é a expressão da introspecção metalinguística de um eu poético
por meio do discurso do qual emerge o exercício linguístico enquanto representação fiel dos
objetos de construção poética, ou melhor, das matérias pela qual se faz a poesia simples, mas
inovadora e própria, de Manoel de Barros.
CONCLUSÃO
A variedade lexical no estilo poético de Manoel de Barros, apresentada no corpus
Matéria de poesia, atesta a invencionice estilística verbal do autor. O poeta, num intenso
trabalho linguístico, se utiliza da palavra, da ruptura gramatical, das desconcertantes
construções metafóricas, para expressar o regionalismo e a simplicidade do povo sul-mato-
grossense. Portanto, essa linguagem (re)inventada, enquanto objeto de construção poética,
projeta um universo próprio, permeado de coisas inúteis e de gente simples que, ao olhar
comum, não têm valor poético, mas, como matéria para uma poesia mimetizada, são as mais
puras representações dos costumes e valores das terras pantaneiras sul-mato-grossenses, assim
como acrescem ao fazer poético de Manoel de Barros um tom de originalidade.
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Ieda Maria. Neologismo: criação lexical. 2. ed. São Paulo: Ática, 1994.
ASSIRATI, Elaine Therezinha. Neologismos por empréstimo na informática. Alfa. São
Paulo, n. 42. 1998. p. 121-145. Disponível em:
<http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/viewFile/4047/3711>; Acesso em 12 de set. 2014.
BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: LeYa, 2013.
BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. O significado. A estruturação do léxico. In:______.
Teoria linguística: teoria lexical e linguística computacional. São Paulo: Martins Fontes,
2001, p. 187-202.
GRÁCIA-RODRIGUES, Kelcilene. De corixos a veredas: a alegada similitude entre as
poéticas de Manoel de Barros e Guimarães Rosa. Araraquara, 2006. 318 f. Tese (Doutorado,
Estudos Literários) – Faculdade de Ciências e Letras, UNESP.
FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna: da metade do século XIX a meados do
século XX. trad. Marise Curioni e Dora da Silva. São Paulo: Duas Cidades, 1978.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2009.
WALDMAN, Berta. A poesia ao rés do chão. In: BARROS, Manoel de. Gramática
expositiva do chão: poesia quase toda. Rio de Janeiro: Civilização, 1992, p. 11-32.

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Um estudo do léxico em Matéria de poesia, de Manoel de barros

  • 1. UM ESTUDO DO LÉXICO EM MATÉRIA DE POESIA, DE MANOEL DE BARROS Igor Iuri Dimitri Nakamura¹ e Rauer Ribeiro Rodrigues² ¹ Aluno do curso de Letras da UFMS, bolsista de Iniciação Científica CNPq – PIBIC 2014/15 ² Professor da UFMS, campus do Pantanal, e-mail: rauer.rauer@uol.com.br Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar uma análise da linguagem poética da obra Matéria de poesia, de Manoel de Barros, tendo como fundamentação teórica os estudos da lexicologia. Para tanto, elaborou-se um levantamento das lexias trabalhadas estilisticamente pelo poeta no referido corpus e, em seguida, criou-se um glossário com elas organizadas segundo critérios semasiológicos. Encontraram-se ao todo 12 lexias, das quais se classificaram 7 neologismos, 4 regionalismos e 1 gíria. Os resultados atestam que o exercício linguístico de invenção e reinvenção do discurso poético do autor constitui uma atmosfera própria, permeada pela cultura e costumes da gente pantaneira sul-mato-grossense e pelas coisas tradicionalmente concebidas como inúteis. Conclui-se que o estilo empregado pelo poeta justifica a sua originalidade enquanto criador de um universo verbal e imagético. Palavras-chave: poesia, estilo, linguagem INTRODUÇÃO Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá em 19 de dezembro de 1916, e passou a infância em Corumbá, na fronteira do Pantanal com a Bolívia. Na juventude, estudou em colégios internos no Rio de Janeiro, bacharelou-se em direito e integrou o Partido Comunista por um curto período. Após alguns anos, mudou-se para a fazenda de seu pai em Campo Grande, onde passou a maior parte da sua vida, compondo as suas poesias, iniciando a sua carreira poética em 1937, com Poemas concebidos sem pecado, embora fosse reconhecido pela crítica somente décadas mais tarde. Manoel de Barros faleceu em 13 de novembro de 2014, deixando um legado extraordinário para a poesia brasileira contemporânea, com dezenas de livros publicados, entre os quais, a obra Matéria de poesia. Sendo o sexto livro da carreira do poeta, Matéria de poesia foi publicado pela primeira vez em 1970. A obra estrutura-se em três poemas: o primeiro, homônimo ao título do livro, o segundo intitulado Como os loucos de água e estandarte e o último, Aproveitamento de materiais e passarinhos de uma demolição. Já a sua temática central se configura no exercício poético e metalinguístico envolvendo objetos e pessoas que sob o olhar corriqueiro e paradigmático da lógica e da realidade factual não apresentam poeticidade alguma, mas que
  • 2. durante o exercício linguístico do fazer literário se transformam em matéria, isto é, em objetos para a poesia. Percebe-se isto em toda a obra, como se esboçam nos seguintes versos: Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma e que você não pode vender no mercado como, por exemplo, o coração verde dos pássaros, serve para a poesia As coisas que os líquenes comem – sapatos, adjetivos – têm muita importância para os pulmões da poesia (...) Pessoas desimportantes dão para poesia qualquer pessoa ou escada (BARROS, 2013, p. 136) Nota-se, pois, uma relação entre a linguagem e a matéria de poesia expressa pela voz do eu poético. Os elementos linguísticos como a metaforização do natural e a ilógica textual e imagética transfiguram o significado na apresentação dos referenciais, ao mesmo passo que constituem esteticamente o espaço pantaneiro sul-mato-grossense. Além disso, o trabalho poético de invenção de vocábulos, como o termo “desimportantes”, reforça a temática central do livro. Logo, tem-se uma construção poética pautada no exercício verbal de caráter disforme e inventivo, isto é, livre das regras tradicionais da língua e inovador, e que se realiza, numa unicidade entre a forma e o conteúdo, na composição da obra. Tratando-se de poesia, Friedrich (1978, p. 17-8) observa que a lírica moderna passa por uma série de transformações, envolvendo o significado, a sintaxe, a comparação e a metáfora nos quais as naturezas do irreal e do real se fundem. Deste modo, a poesia de Manoel de Barros, elaborada nos séculos XX e XXI, se enquadra como propulsora dessas transformações, de tal modo que: (...) é feita de rupturas, frases fragmentadas, montagens insólitas, metáforas inusitadas, complexas e incongruentes. As categorias gramaticais são subvertidas, adquirem valor diferente, ditadas não por regras estabelecidas, mas pela necessidade de traduzir a realidade em uma nova semântica. O poeta estabelece relações inesperadas entre as palavras, instaura ambiguidades que se enraízam na desestabilização dos sentidos. Assim, apresenta uma linguagem fora do pragmatismo dos padrões linguísticos convencionais e sua poesia surge como festejos de linguagem. (GRÁCIA-RODRIGUES, 2006, p. 95)
  • 3. Sendo assim, a poesia manoelina constrói um vocabulário próprio, pelo no qual “o poeta zarpa para ousadas combinações, sonoridades e neologismos” (WALDMAN, 1996, p. 29). Deste modo, toda a linguagem poética de Manoel de Barros discorre para um processo recorrente de formação de palavras, a neologia, cujos resultados são as mudanças de significado e criação de novos vocábulos, como os neologismos e as onomatopeias e etc. Alves (1994) distingue os seguintes processos de criação neológica: neologia fonológica, semântica e sintática (derivação prefixal e sufixal, composição e etc.). Segundo a estudiosa, os neologismos fonológicos são aqueles que se originam independentes de significante e significado, enquanto os neologismos semânticos são aqueles cujo significado é inédito, mas sua unidade lexical se mantém e, por sua vez, os neologismos sintáticos são os que se originam por meio de uma combinação de morfemas já existentes, como prefixos e sufixos, do qual se têm os neologismos por derivação prefixal e sufixal respectivamente. Assim, o vocábulo “desimportantes” é uma criação neológica própria do vocabulário de Manoel de Barros, com significação inédita. Já a mudança do significado de um vocábulo se dá por intermédio da transposição do seu significado conceptual, de natureza lógica, para um significado associativo ou temático por meio do ambiente em que ele é situado (BIDERMAN, 2001). Assim, em Manoel de Barros, a realidade construída pela ambientação poética, na qual os vocábulos são situados, constrói uma natureza léxico-semântica esteticamente elaborada para estes, paralelamente à sua consolidação enquanto pano de fundo de toda a poesia do autor. Logo, as formas linguísticas presentes no estilo de Manoel de Barros são recursos de natureza literária com valor léxico-semântico esteticamente trabalhado pelo poeta na construção da sua obra. Ponderando tais observações, fez-se necessário a elaboração deste trabalho, cujo objetivo é analisar o vocabulário empregado pelo autor em Matéria de poesia, tendo como base os estudos da lexicologia (ALVES, 1994) e da léxico-semântica (BIDERMAN, 2001) e os estudos da linguagem poética de Manoel de Barros (GRÀCIA- RODRIGUES, 2006). METODOLOGIA A pesquisa se realizou através de três etapas distintas e complementares, sendo elas: levantamento bibliográfico, recolhimento lexical e elaboração do glossário. Distintas, pelo fato de não se intercalarem, isto é, de serem visíveis no desenvolvimento deste trabalho, e complementares pelo fato de cumprirem com os pressupostos teóricos coerentemente. Assim,
  • 4. toda a metodologia forneceu um leque de opções de caminhos a serem trilhados durante a pesquisa, desde a elaboração de seu arcabouço teórico à sua conclusão. A fase de levantamento bibliográfico se deu após a leitura do corpus. Nela enfatizou- se, inicialmente, como objeto o léxico na poesia de Manoel de Barros, com o objetivo de abstrair uma noção inicial acerca das discussões da recepção crítica ao autor. Como resultados, obtiveram-se os estudos de Waldman (1992) e Grácia-Rodrigues (2006), além do trabalho de Hugo Friedrich (1978). Em seguida, prosseguiu-se o levantamento, mas desta vez enfatizando os estudos da área da lexicologia, dos quais emergiram os trabalhos de Alves (1994) e Biderman (2001). Na fase de recolhimento lexical, buscou-se observar os vocábulos do corpus esteticamente modificados, nos âmbitos do significado ou da forma, tendo como ferramenta de consulta o dicionário de Houaiss e Villar (2009), ao qual se trabalhou a técnica de comparação entre o significado para com a sua designação, quando existente. Em seguida, efetuou-se uma conceituação proximal dos vocábulos, de acordo com a semasiologia, isto é, com ênfase na significação para a estruturação do significado (BIDERMAN, 2001, p. 199). Isto, de modo que se distanciasse do significado conceptual e se embasasse nos significados associativos e na significação temática (idem, ibidem, p. 189), ou seja, na organização do significado inserido em um contexto. Paralelamente, classificou-se vocábulo por vocábulo de acordo com a taxonomia do processo de criação de palavras, em que se têm neologismos (fonológicos, semânticos, sintáticos por prefixação ou sufixação), regionalismos, arcaísmos, empréstimos e estrangeirismos e outras formas linguísticas (ALVES, 1994). A estruturação dos verbetes do glossário se realizou pautada no modelo do dicionário de Houaiss e Villar (2009). Deste modo, apresentou-se cada verbete por meio de uma palavra de entrada contendo o vocábulo, destacado com fonte em maiúsculo e em negrito, sucedida pela formação mórfica do vocábulo entre parênteses e da classe de palavras a qual ele pertence, de forma abreviada e em itálico. Seguindo essa sequência, apresentou-se o significado do vocábulo, com algumas observações quando necessário e depois se expôs um recorte da citação em que ele aparece no corpus. Fez-se necessário também a criação de uma listagem com abreviaturas e siglas de termos responsáveis pela organização dos verbetes. Para termos simples, abreviou-se utilizando as primeiras letras em itálico. Já para termos compostos, abreviou-se utilizando a letra inicial de cada termo e em itálico também. Para a enumeração de entrada dos significados dos verbetes, quando existente, utilizou-se fonte em negrito.
  • 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Realizadas as fases delineadas pela metodologia pressuposta para a execução da pesquisa, obtiveram-se ao todo 10 vocábulos estilisticamente modificados no corpus Matéria de poesia, dentre os quais 05 neologismos, 05 regionalismos e 05 arcaísmos. Assim sendo, segue-se o glossário, contendo os vocábulos transformados em verbetes, do livro Matéria de poesia, de Manoel de Barros, precedido de suas notas e de suas abreviaturas e siglas. Glossário de Matéria de poesia, de Manoel de Barros Quadro 1. Notas Notas  Palavras de entrada distribuídas em ordem alfabética, em negrito e maiúsculo;  Formação morfológica da lexia entre colchetes, em negrito dividida segundo a sua construção neológica;  Classificação da lexia entre colchetes e em itálico sucedida por duas barras;  Significado da lexia após a classe gramatical;  Classe gramatical em itálico e abreviada, antecedendo a citação da lexia pelo autor na obra;  Citações da lexia nas obras do autor em itálico sucedidas por um travessão e por barra única em caso de separação de versos. Quadro 2. Abreviaturas e siglas Abreviaturas e Siglas adj.= adjetivo adv.= advérbio, adverbal brasil.= Brasil, brasileiro, brasileirismo c.f.= conferir comp.= composição, composto deriv.= derivação, derivado gír.= gíria geog.= geografia, geográfico i.e.= isto é MP= Matéria de poesia neol.= neologismo, neológico Obs.= observação, observar p.= página parass.= parassíntese, parassintético pref.= prefixação, prefixo, prefixal prep.= preposição reg.= região, regionalismo, regional sem.= semântica, semântico s.f.= substantivo feminino s.m.= substantivo masculino suf.= sufixação, sufixo, sufixal Var.= variação, variado, variante v.i.= verbo intransitivo v.t.= verbo transitivo BRENHENTAS. [neol. deriv. suf.// brenh + entas] adj. Qualidade de labirinto. Obs.: O poeta se refere à linguagem de Mário-pega-sapo como “fala de furas brenhentas” e “nua”, no qual se subentende furnas como “gruta” e brenhentas – derivado de brenha, i.e., “bosque”, “floresta”, criando a sensação de uma fala desconexa e profunda, mas que é despida, compreensível para as “crianças e as putas do jardim”. – A fala de furnas brenhentas de Mário-pega-sapo era nua (MP, p. 138).
  • 6. CORGOS. [Var. geog. reg.] s.m. Variante de córrego. – Viram casos de ostras em canetas / e ajudaram as aves na arrumação dos corgos (MP, p. 139). DESCANGOTADOS. [neol. sem.] adj. Deslumbrado. Obs.: O adjetivo “descangotado” deriva do verbo “descangotar”, i.e., quebrar o pescoço e, por meio disso, Manoel de Barros causa simultaneamente uma sensação de inércia e deslumbramento ao adjetivar o substantivo “sapos” com o referido termo, sucedido pelo complemento “de luar”. Obs.: Embora possa parecer um elemento de uma metaforização, “descangotados” é um neologismo semântico por manter a forma (significante) e alterar o seu conteúdo significativo (c.f. GUILBERT, 1975 apud ASSIRATI, 1998, p. 122) – Só um poço merejava fora dele / e sapos descangotados de luar (MP, p. 141). DESIMPORTANTES. [neol. deriv. pref.// des + importante] s.m. Significa pessoa sem importância, sem status social. Obs.: O poeta se utiliza do prefixo “–des” como forma de inversão do significado conceptual (c.f. BIDERMAN, p. 189), i.e., principal explicitado na palavra (c.f. GRÁCIA-RODRIGUES, p. 170) e, por isso, o termo “desimportantes” se refere a pessoas sem a equivalente e reconhecida importância social exercida, ao homem simples e rude, enfim, àqueles que compõem a base da pirâmide econômica. – Pessoas desimportantes / dão para poesia (MP, p. 137). GERAL. [gír.] s.f. O mesmo que “a todos”. – Cada coisa sem préstimo / tem seu lugar / na poesia ou na geral (MP, p.136). EMPERNAVA. [neol. deriv. parass. // em + pern + ar] v.t. Baldear, cercar. Obs.: O autor transforma um substantivo em verbo por intermédio de um processo de derivação para produzir a imagem de um rio abraçando as casas, aumentando assim a atmosfera pantaneira que envolve os seus habitantes. – O rio empernava as casas (MP, p. 149). EMPÓS. [Var. geog. reg.] prep. Variação de após. – Só empós de virar traste que o homem é poesia... (MP, p. 143). MÁRIO-PEGA-SAPO. [neol. comp.] sub.próp. Trata-se da criação de um substantivo próprio para a personagem homônima. Obs.: O poeta se utiliza das qualidades naturalizadas pela personagem para nomeá-la. – A fala de furnas brenhentas de Mário-pega-sapo era nua (MP, p. 138). NIM. [Var. geog. reg.] prep. O mesmo que “em”. – Jogar pedrinhas nim moscas... (MP, p. 138). RIACHOSO. [neol. deriv. suf. // riach + oso] adj. O poeta se refere a um admirador do cantar dos sapos. Obs.: Trata-se do processo de naturalização com a região pantaneira pelo
  • 7. qual algumas personagens passam. – Que um homem riachoso escutava os sapos (MP, p. 139). SEMENTAVA. [neol. deriv. suf. // sement + ar] v.i. O mesmo que germinar. Obs.: O poeta relaciona o caranguejo, crustáceo comum em regiões úmidas como o Pantanal, com a poesia representada pela figura da harpa, reforçando a ideia do objeto do fazer poético. – Um caranguejo curto sementava entre harpas (MP, p. 148). TERÉNS. [reg. brasil.] s.m. Coisa ou objeto. Obs.: Segundo consta nas abreviaturas de Houaiss (2009), tal vocábulo se trata de um brasileirismo informal. – Nos versos mais transparentes enfiar pregos sujos, teréns de rua / e de música (MP, p. 138). Os vocábulos apresentados representam, de um modo geral, uma projeção do espaço pantaneiro sul-mato-grossense. As variações regionais e as gírias se configuram como mecanismos de mimetização da fala do homem pantaneiro como um registro discursivo em que se mesclam a sua cultura e costumes. Já por outro lado, os neologismos se apresentam como formas linguísticas de natureza léxico-semântica que extravasam a linguagem mimetizada e constituem o processo de criação verbal esteticamente construídos enquanto objeto do fazer literário. Ressaltando que, em Matéria de poesia, a reflexão do fazer poético constitui a temática central, o que se tem é a expressão da introspecção metalinguística de um eu poético por meio do discurso do qual emerge o exercício linguístico enquanto representação fiel dos objetos de construção poética, ou melhor, das matérias pela qual se faz a poesia simples, mas inovadora e própria, de Manoel de Barros. CONCLUSÃO A variedade lexical no estilo poético de Manoel de Barros, apresentada no corpus Matéria de poesia, atesta a invencionice estilística verbal do autor. O poeta, num intenso trabalho linguístico, se utiliza da palavra, da ruptura gramatical, das desconcertantes construções metafóricas, para expressar o regionalismo e a simplicidade do povo sul-mato- grossense. Portanto, essa linguagem (re)inventada, enquanto objeto de construção poética, projeta um universo próprio, permeado de coisas inúteis e de gente simples que, ao olhar comum, não têm valor poético, mas, como matéria para uma poesia mimetizada, são as mais puras representações dos costumes e valores das terras pantaneiras sul-mato-grossenses, assim como acrescem ao fazer poético de Manoel de Barros um tom de originalidade.
  • 8. BIBLIOGRAFIA ALVES, Ieda Maria. Neologismo: criação lexical. 2. ed. São Paulo: Ática, 1994. ASSIRATI, Elaine Therezinha. Neologismos por empréstimo na informática. Alfa. São Paulo, n. 42. 1998. p. 121-145. Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/viewFile/4047/3711>; Acesso em 12 de set. 2014. BARROS, Manoel de. Poesia completa. São Paulo: LeYa, 2013. BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. O significado. A estruturação do léxico. In:______. Teoria linguística: teoria lexical e linguística computacional. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 187-202. GRÁCIA-RODRIGUES, Kelcilene. De corixos a veredas: a alegada similitude entre as poéticas de Manoel de Barros e Guimarães Rosa. Araraquara, 2006. 318 f. Tese (Doutorado, Estudos Literários) – Faculdade de Ciências e Letras, UNESP. FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna: da metade do século XIX a meados do século XX. trad. Marise Curioni e Dora da Silva. São Paulo: Duas Cidades, 1978. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2009. WALDMAN, Berta. A poesia ao rés do chão. In: BARROS, Manoel de. Gramática expositiva do chão: poesia quase toda. Rio de Janeiro: Civilização, 1992, p. 11-32.