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Escola dos Annales




                     Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
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                                        Júnior
• A moda estruturalista, apesar da ofensiva
  braudeliana, beneficia-se de um contexto favorável; a
  descolonização.

• A consciência etnológica descobre o interesse que
  outras civilizações apresentam. Cada um se
  interessa, então, por aquilo que faz a força de resistência
  dessas sociedades. Pela permanência de suas
  estruturas e seus valores, que parecem irredutíveis ao
  modelo ocidental.


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                                      Júnior
• Trata-se da descoberta do outro, no
  espaço, transformado em exemplo de uma verdade
  humana que relativiza o eurocentrismo.

• O ocidente fica com a impressão que não faz mais a
  história humana, mas a história de uma humanidade.




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                                     Júnior
• No Terceiro mundo,* que recusa essa história em um
  combate muitas vezes radical, os intelectuais ocidentais
  ficaram também tentados a jogar para o alto o passado
  impecável de sua sociedade e lançar o olhar sobre o
  mundo mais espacial do que temporal.




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                                      Júnior
• O Ocidente descobre os charmes discretos do tempo
  antigo, da idade do ouro perdida, da belle époque, que é
  preciso reencontrar.

• É esse tempo reencontrado que os historiadores se
  encarregam de reproduzir ao tomarem emprestado os
  instrumentos de análise e os códigos dos etnólogos. (...)




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                                      Júnior
• Tudo se torna objeto de curiosidade para o historiador,
  que desloca seu olhar para as margens, para o avesso
  dos valores estabelecidos, para os loucos, para as
  feiticeiras, para os transgressores...

• O horizonte do historiador fechar-se sobre um presente
  imóvel, não há mais futuro: “Há um sinal que eu acho
  encorajador (...) é o fim do progressismo” (Philippe
  Ariès)



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                                      Júnior
• A crise da ideia de progresso acentuo o renascimento
  das culturas anteriores à industrialização.

• A Nova História se esconde então na busca das
  tradições, ao valorizar o tempo que se repete, as voltas e
  reviravoltas dos indivíduos.

• O surgimento de um neo-romantismo (referência a idade
  média)



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• Nova estética se instala, segundo a qual se fala de uma
  aldeia, das mulheres, dos imigrados e dos marginais.



• A Terceira Geração dos Annales, sensível como as
  outras às interrogações do presente, muda o rumo de
  seu discurso ao desenvolver a antropologia histórica.




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                                     Júnior
• Ao responder ao desfio da antropologia estrutural, os
  historiadores dos Annales retomam mais uma vez a
  roupagem dos rivais mais sérios e confirmam suas
  posições hegemônicas.

• O preço a ser pago: o abandono dos grandes espaços
  econômicos braudelianos, o refluxo do social para o
  simbólico e para o cultural.




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                                      Júnior
• Nasce uma Nova História que Daniel Roche chama “ a
  história sociocultural”

• Mudança na direção da Revista dos Annales: de uma
  tradição uma para uma direção colegiada: André
  Burguière, Marc erro, Jacques Le Goff, Emmanuel Le
  Roy Ladurie e Jacques Ravel




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                                    Júnior
• "O que queremos, de fato, é que as ideias voltem a ser perigosas"
  (Guy Debord)

• "Sejam realistas, exijam o impossível!"

• "A imaginação ao poder"

• "É proibido proibir"

• "As paredes têm ouvidos, seus ouvidos têm paredes"

• "Se queres ser feliz, prende o teu proprietário"

• "O patrão precisa de ti, tu não precisas dele“

      • Fonte: Folha de São Paulo (30.04.2008)

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                                            Júnior
• "A revolução deve ser feitas nos homens, antes de
  ser feita nas coisas"

• "Um só fim de semana não-revolucionário é
  infinitamente mais sangrento que um mês de
  revolução permanente"

• "Quanto mais amor faço, mais vontade tenho de fazer
  a revolução. Quanto mais revolução faço, maior
  vontade tenho de fazer amor"

    • Fonte: Folha de São Paulo (30.04.2008)
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                                      Júnior
• A França dos anos de 1960, sob o comando do general
  Charles De Gaulle, era uma sociedade culturalmente
  conservadora e fechada, vivendo ainda o reflexo das
  perdas sofridas durante a Segunda Guerra Mundial
  (1939-1945).

• Nas escolas francesas, as crianças eram disciplinadas
  com rigidez. As mulheres francesas tinham o costume de
  pedir autorização aos maridos para expressarem uma
  opinião, e a homossexualidade era diagnosticada pelos
  médicos como uma doença.

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                                     Júnior
• O Maio de 68 mudou profundamente as relações entre raças,
  sexos e gerações na França, e, em seguida, no restante da
  Europa. No decorrer das décadas, as manifestações
  ajudaram o Ocidente a fundar ideias como as das liberdades
  civis democráticas, dos direitos das minorias, e da igualdade
  entre homens e mulheres, brancos e negros e heterossexuais
  e homossexuais.

• O Maio francês rapidamente repercutiu em vários países da
  Europa e do mundo, de uma forma direta e imediata. As
  ocupações de universidades se multiplicaram a partir da
  França, e ocorreu a expansão das mobilizações entre os
  trabalhadores europeus e latino-americanos, em muitos casos
  em aliança com osTeoria da História - Hélio Moreira da Costa
                     estudantes.
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                              Júnior
• O movimento francês teve início na Universidade de
  Nanterre, nos arredores de Paris, que foi cercada no final de
  abril por estudantes liderados por Daniel Cohn-Bendit. O
  protesto dos estudantes logo se dirigiu à capital.

• Em 5 de maio, cerca de 10 mil estudantes entraram em
  choque com policiais no bairro latino Quartier Latin, em
  Paris, em um protesto contra o fechamento de outra
  universidade francesa, a Sorbonne, em Paris.

• Em seguida, em 10 de maio, ocorre a Noite das
  Barricadas, quando 20 mil estudantes enfrentaram a polícia
  nas universidades e ruas de Paris.

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                                       Júnior
• No dia 13, estudantes e trabalhadores franceses unificam
  seus movimentos e decretam uma greve geral de 24 horas
  em Paris, em protesto contra as políticas trabalhista e
  educacional do governo do general De Gaule.

• No dia 20, a mobilização atinge seu auge: Paris amanhece
  sem metrô, ônibus, telefones e outros serviços. Cerca de 6
  milhões de grevistas ocupam as 300 fábricas da França.

• A Universidade de Sorbonne, ocupada pelos estudantes,
  começa uma outra batalha, em que as maiores "armas" foram
  as palavras. Surgiram frases que expressavam a política
  "libertária" desejada pelos jovens universitários: "A
  imaginação ao poder", "É proibido proibir", "Abaixo a
  universidade" e "Abaixo a sociedade espetacular mercantil".

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• Após 1968 as condições estavam prontas para uma
  nova mudança na historiografia francesa.
• A partir de 1969, André Burguière e Jacques Revel
  envolveram-se na administração dos Annales, e com a
  aposentadoria em 1972 de Braudel da Presidência da VI
  Seção, que iria ser ocupada em seguida, por Jacques Le
  Goff; e em 1975, quando a velha VI Seção desapareceu
  e Le Goff tornou-se o Presidente da reorganizada École
  des Hautes Études en Sciences Sociales, sendo
  substituído, em 1977, por François Furet.


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                                     Júnior
• é mais difícil traçar o perfil da terceira geração do que
  das duas anteriores. Ninguém neste período dominou o
  grupo como o fizeram Febvre e Braudel.

• François Dosse chega mesmo a falar numa
  fragmentação da Clio.




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                                      Júnior
• o policentrismo prevaleceu.
• Vários membros do grupo levaram mais adiante o projeto
  de Febvre, estendendo as fronteiras da história de forma
  a permitir a incorporação da infância, do sonho, do corpo
  e, mesmo, do odor.




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                                     Júnior
• Outros solaparam o projeto pelo retorno à história
  política e à dos eventos.

• Alguns continuaram a praticar a história
  quantitativa, outros reagiram contra ela.




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                                      Júnior
• A terceira geração é a
  primeira a incluir
  mulheres, especialmente
  Christiane Klapisch, que
  trabalhou sobre a história
  da família na Toscana
  durante a Idade Média e o
  Renascimento;




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                                     Júnior
• Arlette Farge, que
  estudou o mundo social
  das ruas de Paris no
  século XVIII; Mona Ozouf,
  autora de um estudo muito
  conhecido sobre os
  festivais durante a
  Revolução Francesa.




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                                    Júnior
• Michèle Perrot, que
  escreveu sobre a história
  do trabalho e a história da
  mulher.




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                                                                 23
                                      Júnior
• A critica feita á ausência das mulheres na historiografia
  parece ter sido superada a a partir das publicações de
  Georges Duby e Michèle Perrot, por exemplo, que
  estarão empenhados em organizar uma história da
  mulher em vários volumes.




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                                                                 24
                                      Júnior
• Esta geração, por outro lado, é mais aberta a idéias
  vindas do exterior.
• Muitos dos seus membros viveram um ano ou mais nos
  Estados Unidos, em Princeton, Ithaca, Madison ou San
  Diego. Diferentemente de Braudel, falam e escrevem em
  inglês.




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                                                               25
                                    Júnior
• Por diferentes caminhos, tentaram fazer uma síntese
  entre a tradição dos Annales e as tendências intelectuais
  americanas-como a psico-história, a nova história
  econômica, a história da cultura popular, antropologia
  simbólica, etc.




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                                      Júnior
DO PORÃO AO SÓTÃO




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                                  Júnior
• Na geração de Braudel, a história das mentalidades e
  outras formas de história cultural não foram inteiramente
  negligenciadas, contudo, situavam-se marginalmente ao
  projeto dos Annales.
• No correr dos anos 60 e 70, porém, uma importante
  mudança de interesse ocorreu.
• O itinerário intelectual de alguns historiadores dos
  Annales transferiu-se da base econômica para a
  “superestrutura” cultural, “do porão ao sótão”



                   Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                 28
                                      Júnior
• Foi realmente um historiador da
  geração de Braudel que despertou a
  atenção pública para a história das
  mentalidades, através de um livro
  notável, quase sensacional,
  publicado em 1960. Philippe Ariès
  era um historiador diletante, “um
  historiador domingueiro”.
  (...)Demógrafo histórico por
  formação, Ariès veio a rejeitar a
  perspectiva quantitativa (da mesma
  maneira que rejeitou outros
  aspectos do mundo burocrático- da Costa
                   Teoria da História - Hélio Moreira
                                      Júnior
                                                        29
• Seus interesses direcionaram-se
  para a relação entre natureza e
  cultura, para as formas pelas quais
  uma cultura vê e classifica
  fenômenos naturais tais como a
  infância e a morte.




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                                                                 30
                                      Júnior
• Em seu estudo sobre as famílias e as escolas durante o
  antigo regime, Ariès defende que a idéia de infância, ou, mais
  exatamente, que o sentimento da infância, não existia na
  Idade Média. O grupo etário que chamamos de “crianças” era
  visto, mais ou menos, como animais até a idade de sete anos
  e quase que como uma miniatura dos adultos daí em diante. A
  infância, de acordo com Ariès, foi descoberta na França, na
  altura do século XVII. Foi por esse tempo que, por exemplo,
  roupas especiais eram destinadas às crianças, como a “robe”
  para meninos. Cartas e diários do período documentam o
  interesse crescente dos adultos no comportamento das
  crianças, que tentavam, algumas vezes, reproduzir a fala
  infantil. Baseou-se também em registros iconográficos, como
  o crescente número de quadros de crianças, para ilustrar a
  hipótese de que a consciência da infância como uma fase do
  desenvolvimento humano retroage ao limiar dos tempos
  modernos-não vai além (Ariès, 1960).
                    Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                  31
                                       Júnior
• Seus últimos anos foram dedicados a estudos sobre as
  atitudes perante a morte, focalizando de novo um
  fenômeno da natureza refratado pela cultura, a cultura
  ocidental, e atendendo a um famoso reclamo de Lucien
  Febvre, em 1941, “Nós não possuímos uma história da
  morte” (Febvre, 1973, p. 24).




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                                                                32
                                     Júnior
• Robert Mandrou: a figura principal na psicologia
  histórica à la Febvre foi publicou Introduction à la France
  Moderne, com o subtítulo “Um ensaio em psicologia
  histórica – 1500-1640”, em que incluía capítulos sobre
  saúde, emoções e mentalidades (Mandrou, 1961).
• Ruptura entre Braudel e Mandrou, no decorrer de um
  debate sobre o futuro do movimento dos Annales.
• Nessa discussão, Braudel defendeu a
  inovação, enquanto Mandrou preferia a herança de
  Febvre, o que ele chamava “o estilo original” ( Annales
  première manière), em que a psicologia histórica ou a
  história das mentalidades desempenhavam um papel
  importante.
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                                                                 33
                                      Júnior
• Delumeau utilizou, ocasionalmente, as idéias de psicanalistas
  como Wilhelm Reich e Erich Fromm. Havia sido precedido
  nesse sentido por Le Roy Ladurie, cujo Les paysans de
  Languedoc (1966), analisado no capítulo anterior, incluía
  livros de Freud na bibliografia, (...).
• Le Roy descreveu o carnaval de Romans como um
  psicodrama, “que dava acesso imediato a criações do
  inconsciente”, tais como fantasias de canibalismo, e
  interpretou as convulsões proféticas dos camisards em termos
  de histeria.
• Alain Besançon, um especialista na Rússia do século XIX, que
  escreveu um longo ensaio na revista sobre as possibilidades
  do que ele denominava “história psicanalítica”. Tentou pôr em
  prática essas possibilidades num estudo sobre pais e filhos. O
  estudo focalizava dois tzares, Ivã, o Terrível, e Pedro, o
  Grande, o primeiroTeoria da História -Júnior Moreira dao segundo condenou o 34
                       matou seu filho, e Costa
                                         Hélio

  seu à morte (Besançon, 1968, 1971).
• Besançon, Le Roy Ladurie e Delumeau tomaram as
  idéias principalmente de Freud, dos freudianos ou
  neofreudianos.
• O estilo americano de psico-história, orientado no
  sentido do estudo de indivíduos, finalmente encontrou a
  psicologia histórica francesa, dirigida no sentido do
  estudo de grupos, embora as duas correntes não se
  tenham fundido numa síntese.




                  Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                35
                                     Júnior
• Contudo, a tendência principal la numa direção diferente.
  Dois dos mais destacados historiadores recrutados para
  a história das mentalidades, no início dos anos 60, foram
  os medievalistas:
  • Jacques Le Goff (“O tempo dos mercadores e o tempo da Igreja
    na Idade Média”) e
  • Georges Duby (La naissance du Purgatoire O nascimento do
    purgatório).




                    Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                  36
                                       Júnior
O “TERCEIRO NÍVEL” DA
HISTÓRIA SERIAL




                 Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                               37
                                    Júnior
• A história das mentalidades não foi
  marginalizada nos Annales, em sua segunda
  geração, apenas porque Braudel não tinha
  interesse nela. Existiram pelo menos, duas
  outras razões mais importantes para essa
  marginalização.




               Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                             38
                                  Júnior
• Em primeiro lugar, um bom número de
  historiadores franceses acreditava, ou pelo
  menos pressupunha, que a história social e
  econômica era mais importante, ou mais
  fundamental, do que outros aspectos do
  passado.




                Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                              39
                                   Júnior
• Em segundo lugar, a nova abordagem
  quantitativa, analisada no capítulo anterior, não
  encontrava no estudo das mentalidades o
  mesmo tipo de sustentação oferecido pela
  estrutura socioeconômica.




                 Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                               40
                                    Júnior
• A abordagem estatística foi desenvolvida para
  estudar a história da prática religiosa, a história
  do livro e a história da alfabetização. Espraiou-
  se, algum tempo depois, para outros domínios
  históricos.




                 Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                               41
                                    Júnior
• A ideia de uma história da prática religiosa francesa , ou
  de uma sociologia retrospectiva do catolicismo francês,
  baseada em estatísticas da frequência à comunhão, das
  vocações religiosas etc., remonta a Gabriel Le Bras, que
  publicou um artigo sobre o tema, em 1931 (Le Bras,
  1931).
• Criou uma escola de historiadores da Igreja e sociólogos
  da religião, que estavam particularmente preocupados
  com o que chamavam de “descristianização” da França
  do final do século XVIII em diante, investigando a
  questão através de métodos quantitativos.

                   Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                 42
                                      Júnior
• a obra do círculo de Le Bras (como o de Ariès) inspirou
  alguns historiadores dos Annales quando se elevaram do
  porão ao sótão.
• Estudos regionais mais recentes sobre
  Anjou, Provença, Avignon e Bretanha dedicaram-se mais
  fortemente à cultura do que seus predecessores, e, em
  particular, às atitudes diante da morte.
• Como escreveu Le Goff no prefácio de um desses
  estudos, “a morte está na moda”.



                  Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                43
                                     Júnior
• O mais original desses trabalhos é o de Vovelle. Um
  historiador marxista da Revolução Francesa, “formado
  na escola de Ernest Labrousse”, como ele próprio
  diz, Vovelle interessou-se pelo problema da
  “descristianização”.
• Sua ideia foi a de tentar mensurar esse processo pelo
  estudo das atitudes diante da morte e o além tal como
  são reveladas nos testamentos.




                  Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
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                                     Júnior
• O resultado, consubstanciado em sua tese doutoral, foi
  um estudo da Provença fundamentado na análise
  sistemática de cerca de 30.000 testamentos.

• Onde historiadores anteriores haviam justaposto
  evidências quantitativas sobre mortalidade com
  evidências mais literárias sobre as atitudes frente a
  morte, Vovelle quis mensurar mudanças no pensamento
  e no sentimento.



                  Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
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                                     Júnior
• Deu atenção, por exemplo, às referências feitas à
  proteção dos santos padroeiros; ao número de missas
  que o testador encomenda para a salvação de sua alma;
  aos arranjos feitos para os funerais e mesmo ao peso
  das velas acendidas durante a cerimônia.




                 Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                               46
                                    Júnior
• Vovelle identificou uma mudança bastante significativa
  no que denominou de “pompa barroca” dos funerais do
  século XVII para a singeleza dos funerais do século
  XVIII.

• Sua principal pressuposição era a de que a linguagem
  dos testamentos refletia “o sistema de representações
  coletivas; sua conclusão mais importante foi a
  identificação de tendências à secularização, sugerindo
  que a “descristianização” nos anos da Revolução
  Francesa foi espontânea e não imposta de cima, por
  fazer parte de uma tendência mais ampla.
                  Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                47
                                     Júnior
• Digna de nota é a maneira pela qual Vovelle mapeia a
  expansão das novas atitudes da nobreza para com os
  artesãos e camponeses, das grandes cidades, como Aix,
  Marselha e Toulon, através de pequenas cidades,
  Barcelonette, por exemplo, para as pequenas vilas.

• Sua argumentação era ilustrada com uma grande
  quantidade de mapas, gráficos e tabelas.




                 Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                               48
                                    Júnior
• Piété baroque et Dechristianisation, título do estudo de
  Vovelle, produziu uma certa sensação intelectual, graças
  particularmente ao uso virtuoso das estatísticas,
  acompanhado de um agudo senso das dificuldades em
  interpreta-las.

• (...) O que Ariès vinha realizando sozinho no campo da
  história da morte, em seu estilo deliberadamente
  impressionista, foi assim completado por pesquisas
  coletivas e quantitativas de profissionais”.


                  Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                49
                                     Júnior
• Essa apropriação da vida depois da morte por
  historiadores laicos, armados de computadores, é ainda
  o mais notável exemplo da história serial de terceiro
  nível.

• Outros historiadores da cultura, porém, utilizaram de
  maneira eficiente os métodos
  quantitativos, especialmente na história da alfabetização
  e na história do livro.



                   Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                 50
                                      Júnior
• O estudo da alfabetização é um outro campo da história
  cultural que conduz à pesquisa coletiva e à análise
  estatística.
• O projeto mais importante nesse campo, iniciado na
  década de [19]70, foi levado a efeito na École des
  Hautes Études, dirigido por François Furet – um
  discípulo de Ernest Labrousse (...).




                  Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                51
                                     Júnior
• O tema do projeto era a mudança dos níveis de
  alfabetização, na França do século XVI ao XIX (Furet e
  Ozouf, 1977).
• Os pesquisadores utilizaram fontes mais variadas, do
  recenseamento às estatísticas do exército sobre os
  conscritos, o que os habilitava antes a afirmar do que a
  presumir a correlação entre a habilidade de assinar o
  próprio nome à capacidade de ler e escrever.




                   Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                 52
                                      Júnior
• Confirmaram a tradicional divisão entre duas Franças,
  mas sofisticaram a análise estabelecendo distinções
  dentro das regiões. Entre outras conclusões
  interessantes, notaram que, no século XVIII, a
  alfabetização cresceu mais rapidamente entre as
  mulheres do que entre os homens.




                  Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                53
                                     Júnior
• As pesquisas sobre a alfabetização foram
  acompanhadas de pesquisas sobre o que os franceses
  chamam de “a história do livro”.

• Pesquisas que não se preocupavam com os grandes
  livros, mas com as tendências da sua produção e com os
  hábitos de leitura dos diferentes grupos sociais
  (Roche/Chartier, 1974).




                  Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                54
                                     Júnior
• O estudo de cultura popular de Robert Mandrou, (...), por
  exemplo, lidava com literatura de Cordel, a chamada
  “Biblioteca Azul” (Mandrou, 1964).
• Tais livros, que custavam um ou dois sous, eram
  distribuídos por mascates e produzidos em grande parte
  por famílias de impressores em Troyes, localizada na
  região Nordeste da França, onde a taxa de alfabetização
  era elevada.




                   Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                 55
                                      Júnior
• Mandrou examinou cerca de 450 títulos, assinalando a
  importância da leitura religiosa (120 títulos), almanaques
  e mesmo romances de cavalaria.

• Concluiu que essa literatura era essencialmente uma
  “literatura de evasão”, lida especialmente pelos
  camponeses e que revelava uma mentalidade
  “conformista”.



• Obs: La Bibliothèque Bleue tinha esse nome porque suas capas
  eram feitas de papel azul, utilizado para empacotar açúcar.
                    Teoria da História - Hélio Moreira da Costa
                                                                  56
                                       Júnior

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Escola dos Annales

  • 1. Escola dos Annales Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 1 Júnior
  • 2. • A moda estruturalista, apesar da ofensiva braudeliana, beneficia-se de um contexto favorável; a descolonização. • A consciência etnológica descobre o interesse que outras civilizações apresentam. Cada um se interessa, então, por aquilo que faz a força de resistência dessas sociedades. Pela permanência de suas estruturas e seus valores, que parecem irredutíveis ao modelo ocidental. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 2 Júnior
  • 3. • Trata-se da descoberta do outro, no espaço, transformado em exemplo de uma verdade humana que relativiza o eurocentrismo. • O ocidente fica com a impressão que não faz mais a história humana, mas a história de uma humanidade. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 3 Júnior
  • 4. • No Terceiro mundo,* que recusa essa história em um combate muitas vezes radical, os intelectuais ocidentais ficaram também tentados a jogar para o alto o passado impecável de sua sociedade e lançar o olhar sobre o mundo mais espacial do que temporal. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 4 Júnior
  • 5. • O Ocidente descobre os charmes discretos do tempo antigo, da idade do ouro perdida, da belle époque, que é preciso reencontrar. • É esse tempo reencontrado que os historiadores se encarregam de reproduzir ao tomarem emprestado os instrumentos de análise e os códigos dos etnólogos. (...) Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 5 Júnior
  • 6. • Tudo se torna objeto de curiosidade para o historiador, que desloca seu olhar para as margens, para o avesso dos valores estabelecidos, para os loucos, para as feiticeiras, para os transgressores... • O horizonte do historiador fechar-se sobre um presente imóvel, não há mais futuro: “Há um sinal que eu acho encorajador (...) é o fim do progressismo” (Philippe Ariès) Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 6 Júnior
  • 7. • A crise da ideia de progresso acentuo o renascimento das culturas anteriores à industrialização. • A Nova História se esconde então na busca das tradições, ao valorizar o tempo que se repete, as voltas e reviravoltas dos indivíduos. • O surgimento de um neo-romantismo (referência a idade média) Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 7 Júnior
  • 8. • Nova estética se instala, segundo a qual se fala de uma aldeia, das mulheres, dos imigrados e dos marginais. • A Terceira Geração dos Annales, sensível como as outras às interrogações do presente, muda o rumo de seu discurso ao desenvolver a antropologia histórica. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 8 Júnior
  • 9. • Ao responder ao desfio da antropologia estrutural, os historiadores dos Annales retomam mais uma vez a roupagem dos rivais mais sérios e confirmam suas posições hegemônicas. • O preço a ser pago: o abandono dos grandes espaços econômicos braudelianos, o refluxo do social para o simbólico e para o cultural. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 9 Júnior
  • 10. • Nasce uma Nova História que Daniel Roche chama “ a história sociocultural” • Mudança na direção da Revista dos Annales: de uma tradição uma para uma direção colegiada: André Burguière, Marc erro, Jacques Le Goff, Emmanuel Le Roy Ladurie e Jacques Ravel Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 10 Júnior
  • 11. • "O que queremos, de fato, é que as ideias voltem a ser perigosas" (Guy Debord) • "Sejam realistas, exijam o impossível!" • "A imaginação ao poder" • "É proibido proibir" • "As paredes têm ouvidos, seus ouvidos têm paredes" • "Se queres ser feliz, prende o teu proprietário" • "O patrão precisa de ti, tu não precisas dele“ • Fonte: Folha de São Paulo (30.04.2008) Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 11 Júnior
  • 12. • "A revolução deve ser feitas nos homens, antes de ser feita nas coisas" • "Um só fim de semana não-revolucionário é infinitamente mais sangrento que um mês de revolução permanente" • "Quanto mais amor faço, mais vontade tenho de fazer a revolução. Quanto mais revolução faço, maior vontade tenho de fazer amor" • Fonte: Folha de São Paulo (30.04.2008) Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 12 Júnior
  • 13. • A França dos anos de 1960, sob o comando do general Charles De Gaulle, era uma sociedade culturalmente conservadora e fechada, vivendo ainda o reflexo das perdas sofridas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). • Nas escolas francesas, as crianças eram disciplinadas com rigidez. As mulheres francesas tinham o costume de pedir autorização aos maridos para expressarem uma opinião, e a homossexualidade era diagnosticada pelos médicos como uma doença. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 13 Júnior
  • 14. • O Maio de 68 mudou profundamente as relações entre raças, sexos e gerações na França, e, em seguida, no restante da Europa. No decorrer das décadas, as manifestações ajudaram o Ocidente a fundar ideias como as das liberdades civis democráticas, dos direitos das minorias, e da igualdade entre homens e mulheres, brancos e negros e heterossexuais e homossexuais. • O Maio francês rapidamente repercutiu em vários países da Europa e do mundo, de uma forma direta e imediata. As ocupações de universidades se multiplicaram a partir da França, e ocorreu a expansão das mobilizações entre os trabalhadores europeus e latino-americanos, em muitos casos em aliança com osTeoria da História - Hélio Moreira da Costa estudantes. 14 Júnior
  • 15. • O movimento francês teve início na Universidade de Nanterre, nos arredores de Paris, que foi cercada no final de abril por estudantes liderados por Daniel Cohn-Bendit. O protesto dos estudantes logo se dirigiu à capital. • Em 5 de maio, cerca de 10 mil estudantes entraram em choque com policiais no bairro latino Quartier Latin, em Paris, em um protesto contra o fechamento de outra universidade francesa, a Sorbonne, em Paris. • Em seguida, em 10 de maio, ocorre a Noite das Barricadas, quando 20 mil estudantes enfrentaram a polícia nas universidades e ruas de Paris. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 15 Júnior
  • 16. • No dia 13, estudantes e trabalhadores franceses unificam seus movimentos e decretam uma greve geral de 24 horas em Paris, em protesto contra as políticas trabalhista e educacional do governo do general De Gaule. • No dia 20, a mobilização atinge seu auge: Paris amanhece sem metrô, ônibus, telefones e outros serviços. Cerca de 6 milhões de grevistas ocupam as 300 fábricas da França. • A Universidade de Sorbonne, ocupada pelos estudantes, começa uma outra batalha, em que as maiores "armas" foram as palavras. Surgiram frases que expressavam a política "libertária" desejada pelos jovens universitários: "A imaginação ao poder", "É proibido proibir", "Abaixo a universidade" e "Abaixo a sociedade espetacular mercantil". Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 16 Júnior
  • 17. • Após 1968 as condições estavam prontas para uma nova mudança na historiografia francesa. • A partir de 1969, André Burguière e Jacques Revel envolveram-se na administração dos Annales, e com a aposentadoria em 1972 de Braudel da Presidência da VI Seção, que iria ser ocupada em seguida, por Jacques Le Goff; e em 1975, quando a velha VI Seção desapareceu e Le Goff tornou-se o Presidente da reorganizada École des Hautes Études en Sciences Sociales, sendo substituído, em 1977, por François Furet. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 17 Júnior
  • 18. • é mais difícil traçar o perfil da terceira geração do que das duas anteriores. Ninguém neste período dominou o grupo como o fizeram Febvre e Braudel. • François Dosse chega mesmo a falar numa fragmentação da Clio. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 18 Júnior
  • 19. • o policentrismo prevaleceu. • Vários membros do grupo levaram mais adiante o projeto de Febvre, estendendo as fronteiras da história de forma a permitir a incorporação da infância, do sonho, do corpo e, mesmo, do odor. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 19 Júnior
  • 20. • Outros solaparam o projeto pelo retorno à história política e à dos eventos. • Alguns continuaram a praticar a história quantitativa, outros reagiram contra ela. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 20 Júnior
  • 21. • A terceira geração é a primeira a incluir mulheres, especialmente Christiane Klapisch, que trabalhou sobre a história da família na Toscana durante a Idade Média e o Renascimento; Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 21 Júnior
  • 22. • Arlette Farge, que estudou o mundo social das ruas de Paris no século XVIII; Mona Ozouf, autora de um estudo muito conhecido sobre os festivais durante a Revolução Francesa. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 22 Júnior
  • 23. • Michèle Perrot, que escreveu sobre a história do trabalho e a história da mulher. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 23 Júnior
  • 24. • A critica feita á ausência das mulheres na historiografia parece ter sido superada a a partir das publicações de Georges Duby e Michèle Perrot, por exemplo, que estarão empenhados em organizar uma história da mulher em vários volumes. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 24 Júnior
  • 25. • Esta geração, por outro lado, é mais aberta a idéias vindas do exterior. • Muitos dos seus membros viveram um ano ou mais nos Estados Unidos, em Princeton, Ithaca, Madison ou San Diego. Diferentemente de Braudel, falam e escrevem em inglês. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 25 Júnior
  • 26. • Por diferentes caminhos, tentaram fazer uma síntese entre a tradição dos Annales e as tendências intelectuais americanas-como a psico-história, a nova história econômica, a história da cultura popular, antropologia simbólica, etc. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 26 Júnior
  • 27. DO PORÃO AO SÓTÃO Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 27 Júnior
  • 28. • Na geração de Braudel, a história das mentalidades e outras formas de história cultural não foram inteiramente negligenciadas, contudo, situavam-se marginalmente ao projeto dos Annales. • No correr dos anos 60 e 70, porém, uma importante mudança de interesse ocorreu. • O itinerário intelectual de alguns historiadores dos Annales transferiu-se da base econômica para a “superestrutura” cultural, “do porão ao sótão” Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 28 Júnior
  • 29. • Foi realmente um historiador da geração de Braudel que despertou a atenção pública para a história das mentalidades, através de um livro notável, quase sensacional, publicado em 1960. Philippe Ariès era um historiador diletante, “um historiador domingueiro”. (...)Demógrafo histórico por formação, Ariès veio a rejeitar a perspectiva quantitativa (da mesma maneira que rejeitou outros aspectos do mundo burocrático- da Costa Teoria da História - Hélio Moreira Júnior 29
  • 30. • Seus interesses direcionaram-se para a relação entre natureza e cultura, para as formas pelas quais uma cultura vê e classifica fenômenos naturais tais como a infância e a morte. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 30 Júnior
  • 31. • Em seu estudo sobre as famílias e as escolas durante o antigo regime, Ariès defende que a idéia de infância, ou, mais exatamente, que o sentimento da infância, não existia na Idade Média. O grupo etário que chamamos de “crianças” era visto, mais ou menos, como animais até a idade de sete anos e quase que como uma miniatura dos adultos daí em diante. A infância, de acordo com Ariès, foi descoberta na França, na altura do século XVII. Foi por esse tempo que, por exemplo, roupas especiais eram destinadas às crianças, como a “robe” para meninos. Cartas e diários do período documentam o interesse crescente dos adultos no comportamento das crianças, que tentavam, algumas vezes, reproduzir a fala infantil. Baseou-se também em registros iconográficos, como o crescente número de quadros de crianças, para ilustrar a hipótese de que a consciência da infância como uma fase do desenvolvimento humano retroage ao limiar dos tempos modernos-não vai além (Ariès, 1960). Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 31 Júnior
  • 32. • Seus últimos anos foram dedicados a estudos sobre as atitudes perante a morte, focalizando de novo um fenômeno da natureza refratado pela cultura, a cultura ocidental, e atendendo a um famoso reclamo de Lucien Febvre, em 1941, “Nós não possuímos uma história da morte” (Febvre, 1973, p. 24). Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 32 Júnior
  • 33. • Robert Mandrou: a figura principal na psicologia histórica à la Febvre foi publicou Introduction à la France Moderne, com o subtítulo “Um ensaio em psicologia histórica – 1500-1640”, em que incluía capítulos sobre saúde, emoções e mentalidades (Mandrou, 1961). • Ruptura entre Braudel e Mandrou, no decorrer de um debate sobre o futuro do movimento dos Annales. • Nessa discussão, Braudel defendeu a inovação, enquanto Mandrou preferia a herança de Febvre, o que ele chamava “o estilo original” ( Annales première manière), em que a psicologia histórica ou a história das mentalidades desempenhavam um papel importante. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 33 Júnior
  • 34. • Delumeau utilizou, ocasionalmente, as idéias de psicanalistas como Wilhelm Reich e Erich Fromm. Havia sido precedido nesse sentido por Le Roy Ladurie, cujo Les paysans de Languedoc (1966), analisado no capítulo anterior, incluía livros de Freud na bibliografia, (...). • Le Roy descreveu o carnaval de Romans como um psicodrama, “que dava acesso imediato a criações do inconsciente”, tais como fantasias de canibalismo, e interpretou as convulsões proféticas dos camisards em termos de histeria. • Alain Besançon, um especialista na Rússia do século XIX, que escreveu um longo ensaio na revista sobre as possibilidades do que ele denominava “história psicanalítica”. Tentou pôr em prática essas possibilidades num estudo sobre pais e filhos. O estudo focalizava dois tzares, Ivã, o Terrível, e Pedro, o Grande, o primeiroTeoria da História -Júnior Moreira dao segundo condenou o 34 matou seu filho, e Costa Hélio seu à morte (Besançon, 1968, 1971).
  • 35. • Besançon, Le Roy Ladurie e Delumeau tomaram as idéias principalmente de Freud, dos freudianos ou neofreudianos. • O estilo americano de psico-história, orientado no sentido do estudo de indivíduos, finalmente encontrou a psicologia histórica francesa, dirigida no sentido do estudo de grupos, embora as duas correntes não se tenham fundido numa síntese. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 35 Júnior
  • 36. • Contudo, a tendência principal la numa direção diferente. Dois dos mais destacados historiadores recrutados para a história das mentalidades, no início dos anos 60, foram os medievalistas: • Jacques Le Goff (“O tempo dos mercadores e o tempo da Igreja na Idade Média”) e • Georges Duby (La naissance du Purgatoire O nascimento do purgatório). Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 36 Júnior
  • 37. O “TERCEIRO NÍVEL” DA HISTÓRIA SERIAL Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 37 Júnior
  • 38. • A história das mentalidades não foi marginalizada nos Annales, em sua segunda geração, apenas porque Braudel não tinha interesse nela. Existiram pelo menos, duas outras razões mais importantes para essa marginalização. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 38 Júnior
  • 39. • Em primeiro lugar, um bom número de historiadores franceses acreditava, ou pelo menos pressupunha, que a história social e econômica era mais importante, ou mais fundamental, do que outros aspectos do passado. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 39 Júnior
  • 40. • Em segundo lugar, a nova abordagem quantitativa, analisada no capítulo anterior, não encontrava no estudo das mentalidades o mesmo tipo de sustentação oferecido pela estrutura socioeconômica. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 40 Júnior
  • 41. • A abordagem estatística foi desenvolvida para estudar a história da prática religiosa, a história do livro e a história da alfabetização. Espraiou- se, algum tempo depois, para outros domínios históricos. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 41 Júnior
  • 42. • A ideia de uma história da prática religiosa francesa , ou de uma sociologia retrospectiva do catolicismo francês, baseada em estatísticas da frequência à comunhão, das vocações religiosas etc., remonta a Gabriel Le Bras, que publicou um artigo sobre o tema, em 1931 (Le Bras, 1931). • Criou uma escola de historiadores da Igreja e sociólogos da religião, que estavam particularmente preocupados com o que chamavam de “descristianização” da França do final do século XVIII em diante, investigando a questão através de métodos quantitativos. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 42 Júnior
  • 43. • a obra do círculo de Le Bras (como o de Ariès) inspirou alguns historiadores dos Annales quando se elevaram do porão ao sótão. • Estudos regionais mais recentes sobre Anjou, Provença, Avignon e Bretanha dedicaram-se mais fortemente à cultura do que seus predecessores, e, em particular, às atitudes diante da morte. • Como escreveu Le Goff no prefácio de um desses estudos, “a morte está na moda”. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 43 Júnior
  • 44. • O mais original desses trabalhos é o de Vovelle. Um historiador marxista da Revolução Francesa, “formado na escola de Ernest Labrousse”, como ele próprio diz, Vovelle interessou-se pelo problema da “descristianização”. • Sua ideia foi a de tentar mensurar esse processo pelo estudo das atitudes diante da morte e o além tal como são reveladas nos testamentos. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 44 Júnior
  • 45. • O resultado, consubstanciado em sua tese doutoral, foi um estudo da Provença fundamentado na análise sistemática de cerca de 30.000 testamentos. • Onde historiadores anteriores haviam justaposto evidências quantitativas sobre mortalidade com evidências mais literárias sobre as atitudes frente a morte, Vovelle quis mensurar mudanças no pensamento e no sentimento. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 45 Júnior
  • 46. • Deu atenção, por exemplo, às referências feitas à proteção dos santos padroeiros; ao número de missas que o testador encomenda para a salvação de sua alma; aos arranjos feitos para os funerais e mesmo ao peso das velas acendidas durante a cerimônia. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 46 Júnior
  • 47. • Vovelle identificou uma mudança bastante significativa no que denominou de “pompa barroca” dos funerais do século XVII para a singeleza dos funerais do século XVIII. • Sua principal pressuposição era a de que a linguagem dos testamentos refletia “o sistema de representações coletivas; sua conclusão mais importante foi a identificação de tendências à secularização, sugerindo que a “descristianização” nos anos da Revolução Francesa foi espontânea e não imposta de cima, por fazer parte de uma tendência mais ampla. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 47 Júnior
  • 48. • Digna de nota é a maneira pela qual Vovelle mapeia a expansão das novas atitudes da nobreza para com os artesãos e camponeses, das grandes cidades, como Aix, Marselha e Toulon, através de pequenas cidades, Barcelonette, por exemplo, para as pequenas vilas. • Sua argumentação era ilustrada com uma grande quantidade de mapas, gráficos e tabelas. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 48 Júnior
  • 49. • Piété baroque et Dechristianisation, título do estudo de Vovelle, produziu uma certa sensação intelectual, graças particularmente ao uso virtuoso das estatísticas, acompanhado de um agudo senso das dificuldades em interpreta-las. • (...) O que Ariès vinha realizando sozinho no campo da história da morte, em seu estilo deliberadamente impressionista, foi assim completado por pesquisas coletivas e quantitativas de profissionais”. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 49 Júnior
  • 50. • Essa apropriação da vida depois da morte por historiadores laicos, armados de computadores, é ainda o mais notável exemplo da história serial de terceiro nível. • Outros historiadores da cultura, porém, utilizaram de maneira eficiente os métodos quantitativos, especialmente na história da alfabetização e na história do livro. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 50 Júnior
  • 51. • O estudo da alfabetização é um outro campo da história cultural que conduz à pesquisa coletiva e à análise estatística. • O projeto mais importante nesse campo, iniciado na década de [19]70, foi levado a efeito na École des Hautes Études, dirigido por François Furet – um discípulo de Ernest Labrousse (...). Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 51 Júnior
  • 52. • O tema do projeto era a mudança dos níveis de alfabetização, na França do século XVI ao XIX (Furet e Ozouf, 1977). • Os pesquisadores utilizaram fontes mais variadas, do recenseamento às estatísticas do exército sobre os conscritos, o que os habilitava antes a afirmar do que a presumir a correlação entre a habilidade de assinar o próprio nome à capacidade de ler e escrever. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 52 Júnior
  • 53. • Confirmaram a tradicional divisão entre duas Franças, mas sofisticaram a análise estabelecendo distinções dentro das regiões. Entre outras conclusões interessantes, notaram que, no século XVIII, a alfabetização cresceu mais rapidamente entre as mulheres do que entre os homens. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 53 Júnior
  • 54. • As pesquisas sobre a alfabetização foram acompanhadas de pesquisas sobre o que os franceses chamam de “a história do livro”. • Pesquisas que não se preocupavam com os grandes livros, mas com as tendências da sua produção e com os hábitos de leitura dos diferentes grupos sociais (Roche/Chartier, 1974). Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 54 Júnior
  • 55. • O estudo de cultura popular de Robert Mandrou, (...), por exemplo, lidava com literatura de Cordel, a chamada “Biblioteca Azul” (Mandrou, 1964). • Tais livros, que custavam um ou dois sous, eram distribuídos por mascates e produzidos em grande parte por famílias de impressores em Troyes, localizada na região Nordeste da França, onde a taxa de alfabetização era elevada. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 55 Júnior
  • 56. • Mandrou examinou cerca de 450 títulos, assinalando a importância da leitura religiosa (120 títulos), almanaques e mesmo romances de cavalaria. • Concluiu que essa literatura era essencialmente uma “literatura de evasão”, lida especialmente pelos camponeses e que revelava uma mentalidade “conformista”. • Obs: La Bibliothèque Bleue tinha esse nome porque suas capas eram feitas de papel azul, utilizado para empacotar açúcar. Teoria da História - Hélio Moreira da Costa 56 Júnior