1. O documento descreve estranhos fenômenos ocorridos no norte e nordeste do Brasil em 1977, incluindo avistamentos de luzes no céu e ataques de uma entidade luminosa.
2. Começou com um caso misterioso na Ilha dos Caranguejos, onde um homem morreu e outros ficaram feridos, dando início a um boato sobre a entidade.
3. O boato se espalhou para várias regiões, incluindo a Baixada Maranhense e o Pará, onde pessoas passaram a tem
2. HÉLIO AMADO RODRIGUES ANICETO
CORPOS LUMINOSOS
Uma Operação Militar em Busca de Respostas
2ª edição
Niterói RJ
Edição do Autor
2014
3. CORPOS LUMINOSOS
Aniceto, Hélio A. R.
Corpos Luminosos – Uma Operação Militar em Busca de Respostas /
Hélio Amado Rodrigues Aniceto. – Niterói RJ: Edição do Autor, 2014.
249p.
6. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. A LINHA DO TEMPO
Dos Jornais para os Quartéis
A Operação Prato
A Primeira Missão:
O Relatório de Flávio
Observações na Baia do Sol
A Segunda Missão
Um Objeto Sobre os Agentes do SNI – A Ausência de Flávio – Perguntas
Inconvenientes
O Relatório Perdido:
A Bola de Futebol Americano
Fazenda Jeju
Os Relatórios Extras
O Silêncio
Relatório Perdido 2?
Brasília na Linha:
A Nota do Ministro – Ofício do EMAER – O Radiograma
ROV: Registro Oficial
7. CORPOS LUMINOSOS
2. FORÇAS AÉREAS VERSUS OVNIS
O Caso Mantell:
O Acidente – O Relatório de Ruppelt – A Revista Life Movimenta o Caso
– As Investigações da NICAP
Incidente em Teerã:
A Mensagem da DIA e o Relatório Maccabbe – A Perseguição – O Pouso
A Declaração de Parvez Jafari
3. O SERVIÇO SECRETO
O Sistema
Serviços de Informações S2
A Organização Interna do SNI
Informação da Agência do SNI em Belém:
Classificação de Sigilo – Sobre a Missão – CH AC/SNI
Possibilidades:
Relatório Diário – Ministros da Casa – Repasse
Informe 4º Distrito Naval:
O Caso da Ilha dos Caranguejos – Noticiais de Quatipuru – A Luz
Misteriosa de Viseu – Clamor em Maracanã
O CISA:
O CISA BR em Colares
School of the Américas
Entrevista Hollanda e o SNI
O Buraco Negro
4. A REGIÃO E OS OVNIS
Baia do Marajó e Baia do Sol
Populações Núcleo
O Satélite 1
Cidades: Santo Antônio do Tauá – Colares – Vigia de Nazaré
O Satélite 2
8. 5. O ESPAÇO AÉREO DE BELÉM
Cobertura Radar
Radar Móvel?
Espaço Aéreo Inferior e Superior
Navegação:
Radiofaróis – VOR e DME
Aeroportos e Aerovias
Val de Cans – Julio Cesar – Desviando de OVNI: Registros 42, 43 e 130 do
ROV – Aerovias Sobre a Baia do Marajó
Frota da Aeronáutica
Velozes e Luminosos
6. OBSERVAÇÕES
Resumo Sintético-Cronológico - RSC
Registros de Observações de OVNI - ROV:
As Equipes da 2ª Seção
Vários Eventos RSC para um Evento ROV
Observações com Civis
O Primeiro Voo Supersônico
Dobradinha Supersônica:
Primeiro Evento – Segundo Evento
Fases da Velocidade Supersônica
Singularidade Prandtl-Glaubert
Aviões Supersônicos e Tráfego Aéreo
As Fotografias:
Minolta SRT101 – Depoimento de Fernando Costa
Luzes Sobre o Céu de Ubintuba:
Satélites e Simulações – Os Eventos de 22/10 – Os Eventos de 23/10
A Fazenda Jejú
7. OS DEPOIMENTOS
Fonte Primária e Memória
9. CORPOS LUMINOSOS
Efeitos Físicos
As Supostas Queimaduras:
Morador 1 – Morador 2 – Morador 3
As Jovens do Bairro Jurunas: O Parecer do Doutor
O Depoimento da Doutora:
Os Atingidos: Uma Multidão de Queimados? – O Quadro Clínico – Os
Atingidos: Uma Multidão de Anêmicos?
Falando das Mortes
Classificação da Fonte e Exatidão
Os Raios – Casos de Ataque:
Casos Extemporâneos – Manoel M.: Relato para a 2ª Seção; Relato para
“A Província do Pará” – Alzira – Manoel E. S. – Credibilidade
As Luzes e o Padre
A Nave da Doutora:
Desenhos Originais versus Concepções Artísticas – Eles Não Estavam Lá –
Seres
O Humanoide do Rio Guajará
A Luminosidade Interior:
O Caso de Miguel: Relato para a 2ª Seção – Notícias de Jornais
8. A NAVE DE HOLLANDA
Achando o Local
Entrevistas:
Bob Pratt 1981 – Revista UFO 1997 – Comparações
Os Registros 63, 65 e 66
Fontes Primárias – Tamanho Aparente – Aspectos Coincidentes
Outra Equipe
Imagens da Nave de Hollanda
9. SÍTIO DO GAMA
Estação de HF
10. O Objeto
Tiros de HK-33
Dança das Luzes
O Futuro Ministro
10. VISÃO GERAL
11. 0
INTRODUÇÃOINOSOS
No segundo semestre de 1977, extensas áreas das regiões norte e nordeste do
país enfrentaram duas ondas de estranhos fenômenos: a percepção de luzes
incomuns no céu noturno e de uma entidade maléfica e luminosa capaz de
queimar, sugar sangue e matar humanos. As regiões afetadas foram a Baixada
Maranhense e a faixa litorânea do Oceano Atlântico entre o Rio Gurupi, divisor
geográfico entre o Pará e Maranhão e a Baia do Marajó, no Pará.
No semestre anterior, entre fins de abril e de junho, ocorreu a gestação de um
moderno mito amazônico, quando se consolidou no imaginário popular uma
relação de causalidade entre os dois fenômenos, o luminoso e o diabólico, a tal
ponto, de causar terror nos corações da população humilde dos povoados quando
a luz era avistada no céu ou apenas intuída.
A percepção da existência de uma recém-chegada entidade diabólica, capaz de
atuar no mundo físico e ferir ou matar seres humanos, começou com uma história
12. CORPOS LUMINOSOS
2
misteriosa, aterradora, mortal e até hoje não desvelada. O mistério da Ilha dos
Caranguejos.
Refere-se à fatídica experiência passada por quatro homens a bordo de uma
embarcação numa madrugada do final de abril na inabitada Ilha dos Caranguejos,
localizada na Baia de São Marcos e tendo a leste a Ilha do Maranhão, onde fica a
capital São Luís. Nesse dia, um dos tripulantes ao amanhecer estava morto em sua
rede, outros dois com extensas queimaduras de segundo grau, sequelas físicas
graves e nenhuma memória dos acontecimentos nos três sobreviventes, um deles,
sem nenhuma sequela. Vou repetir: nenhum dos sobreviventes lembrava-se de
nada, mesmo depois de muitos anos e após seções de hipnose regressiva, as
memórias permaneceram inacessíveis.
Os jornais maranhenses começaram a divulgar o caso a partir do fim de abril
e começo de maio. Rapidamente a mídia, incluindo televisão e rádio, criou uma
história fantasiosa, associando a tragédia ao fenômeno das luzes aéreas, presente
na região. Em julho noticiários de televisão de São Luiz continuavam a falar de
luzes misteriosas, sobrevoando o município de Cajapió, nas proximidades da baia
de São Marcos e a poucos quilômetros da ilha dos Caranguejos. E no Pará, o jornal
O Liberal tratava de divulgar o caso para o estado, também noticiando o ocorrido
em Cajapió e dizendo sobre o povo de São Luiz: “todos se recordavam que, em meados
de maio último, uma luz misteriosa e muito brilhante, surgindo repentinamente, provocou a morte
de um homem a bordo de uma embarcação ancorada ao largo da ilha dos Caranguejos”.
Nenhuma das vítimas relatou a imprensa ou a pesquisadores do fenômeno
ufológico essa versão.
O cenário estava preparado. As luzes desconhecidas atacavam, queimavam e
matavam homens. Nascia um boato.
A edição de 30 de julho do periódico brasiliense Jornal de Brasília, trazia
informações do Maranhão, dando conta da extensa área geográfica onde eram
avistadas as luzes. Habitantes dos municípios de Perimirim, São Bento, Santa
Helena, Pinheiro, Guimarães e Bequimão estavam sofrendo crises nervosas. A
reportagem alertava não haver registro de casos de queimaduras, numa clara e
direta conexão com os acontecimentos na Ilha dos Caranguejos. Finalizava com
13. INTRODUÇÃO
3
uma estimativa grandiosa, atribuída a máxima autoridade de segurança do Estado:
50% da população da Baixada Maranhense já tinha visto o “estranho objeto”.
A partir da baia de São Marcos o boato foi para o interior da Baixada
Maranhense, se aproximando da divisa com o Pará. Em julho os dois fenômenos
já haviam penetrado o estado paraense principalmente pelo município de Viseu.
E mesmo antes daquela notícia do jornal O Liberal, o boato encontrava-se
espalhado, inclusive além das fronteiras do município. E provavelmente foi no
Pará ou na região fronteiriça entre os estados, onde se incorporou ao boato a perda
de sangue. Nos povoados em torno da sede de Viseu, como Vila do Piriá e Vila
de Itaçu, as pessoas tinham medo da luz forte vinda do céu, sugando o sangue de
suas vítimas até matá-las.
Na Vila do Piriá se dizia “praticamente todo mundo já viu os estranhos objetos voadores
luminosos” e na próxima Vila de Itaçu “ninguém viu, mas curiosamente todos acreditam”
como publicou o jornal O Liberal. As pessoas nessas localidades mais afastadas não
saiam de casa após o anoitecer com medo de serem atacadas pela luz.
Pessoas morriam, ficavam paralíticas e ninguém sabia quem elas eram, nem a
polícia, apesar das diligências. Tudo por causa da luz e da entidade luminosa
diabólica e sanguinária.
A pobreza era disseminada pelas regiões atingidas. Por exemplo, o Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de Viseu em 1980 era 0,307 de
uma escala de 0 a 1, considerado baixo. A dimensão renda per capita, uma das três
consideradas no cálculo, era 0,187. Na área rural, cenário principal dos supostos
ataques, onde estava a parcela majoritária de seus cidadãos, aproximadamente
84%, faltavam os melhores empregos, os principais centros comerciais,
consequentemente, a renda devia ser bem inferior à do centro urbano e da média
apurada pelo IDH-M. E deviam contar com parcos recursos públicos e privados.
Era uma vida difícil, penosa, de subsistência.
Rastrear o momento inicial quando o boato virou uma epidemia no Pará é
impossível. Podemos, no entanto, imaginar um cenário inusitado em algum dos
povoados muito pobres próximos a Viseu, quando várias pessoas de uma mesma
comunidade, num período curto de tempo, julgaram sofrer um ataque de sangue
14. CORPOS LUMINOSOS
4
da “lanterna com luz forte”. O estado emocional de extrema vulnerabilidade dessas
vítimas, quando acreditaram estar sendo perseguidas por entidade sobrenatural
diabólica através da mata, na beira dos rios ou igarapés ou quando no mutá à
espera da caça, deve ter sido enorme.
Para algumas talvez um evento traumático de estresse extremo, capaz de causar
um aturdimento, uma desorientação, interpretada como se a vitalidade estivesse
sendo drenada pela luz e não importa se real ou ilusório. “Ela fazia doer muito, tirava
toda a minha força. Eu sabia que ela estava me matando e rezava pra Deus me ajudar”, contou
o caboclo ao jornalista no começo de julho, quando um “raiozinho do jato de luz”
atingiu sua mão, vindo de um corpo luminoso cilíndrico. Era como se a vida
estivesse sendo sugada, e “sangue é vida”, como escrito no livro bíblico do
deuteronômio. Na Viseu de 1980, 97,25% da população era católica ou evangélica.
Aliás, sangue é um símbolo historicamente associado a vida. Portanto, associar a
perda da força, da vitalidade, da vida, a perda do sangue, pode ter sido uma
consequência natural de uma situação inusitada. A dimensão religiosa se
apresentou também na versão contrária a diabólica, quando um grupo evangélico
em Viseu considerava as luzes voadoras mensageiras do divino e do apocalipse.
Os dois fenômenos, as luzes voadoras e a entidade sugadora, seguiram juntos
na imaginação popular em direção a oeste na linha costeira do litoral atlântico do
Pará, com eventos em vários municípios como Bragança, Quatipuru, Maracanã e
Marapanim.
Quando a epidemia chegou à baia do Marajó, em meados de outubro, a 250
quilômetros de distância do epicentro em Viseu, ela havia incorporado novos
atributos ao fenômeno da entidade diabólica e vampiresca.
Nos pequenos povoados próximos ao rio Bituba no município de Vigia do
Nazaré, a Luz do “aparelho” penetrava os casebres pelas frestas do telhado, das
portas, onde pudesse e algumas pessoas se consideravam atacadas por focos de
luz em meio a uma intensa luminosidade difusa e sofriam sintomas como
amortecimento de partes do corpo, paralisia, entorpecimento, tremores, calor. Na
ilha de Colares, a mesma luminosidade penetrava no interior das residências e um
foco de luz chupava o sangue e causava extensas queimaduras no local da picada.
15. INTRODUÇÃO
5
A entidade das queimaduras da misteriosa Ilha dos Caranguejos estava de volta,
mais maléfica do que nunca. E o lar, a casa, a família, não eram mais proteção. Ela
invadia, feria e matava.
Até aqui, não havia envolvimento das autoridades militares, mas isso iria
mudar.
Durante a ditadura militar, a preocupação do regime era a segurança nacional,
a eliminação de qualquer foco de guerrilha insurgente, como feito em 1974 com a
Guerrilha do Araguaia, parte dela no território do Pará, e não estranhos
acontecimentos envolvendo a pobre população do nordeste paraense, contando
histórias mais parecidas com o rico folclore sobrenatural da Amazônia do que algo
palpável e mundano. Portanto, não havia motivo para impor as imprensas do Pará,
do Maranhão e de Brasília, censura prévia sobre relatos de luzes misteriosas
voando pelos céus, muito menos sobre vampiros escondidos em luzes coloridas
atacando ribeirinhos e a uma população escondida em seus casebres.
E continuaram a publicar notícias.
E elas vieram na direção da capital do Pará, Belém.
Quando chegaram perigosamente em Vigia do Nazaré, dentro da baia do
Marajó, a 100 km de Belém e do espaço aéreo controlado pelo I Comando Aéreo
Regional – I COMAR, órgão da Força Aérea Brasileira, a situação mudou. Foi
criada uma operação militar da aeronáutica e ela saiu a campo em outubro em
direção a Vigia. Ela foi batizada de Operação Prato.
Nos dias anteriores à deflagração da operação na Vigia, luzes cruzaram o céu
da sede municipal e aparentemente causaram um apagão de energia elétrica. Nos
povoados da Vigia próximos ao rio Bituba, vários casos de ataques da luz
diabólica, apelidada de chupa-chupa, ocorreram dentro dos casebres dos
moradores, onde várias famílias se juntavam em busca de mútua proteção. Mesmo
juntas assim, em intervalos de poucas horas, num mesmo casebre, pessoas
sentiam-se envolvidas pela luz e quedavam paralisadas, enfraquecidas. E o jornal
A Província do Pará chegou a noticiar: “Ubintuba pode ser abandonada”.
A equipe da aeronáutica era composta por sargentos e comandada por oficiais,
todos pertencentes ao serviço de informações do I COMAR. Também se
16. CORPOS LUMINOSOS
6
envolveram agentes do Serviço Nacional de Informações, o SNI, o serviço secreto
do Estado Brasileiro à época e o Centro de Informações de Segurança da
Aeronáutica, o CISA.
Graças à entrada desses atores, hoje podemos contar esse período da história
com riqueza de detalhes, utilizando informações confiáveis contidas na
documentação produzida. Não temos nada parecido disponível no período
maranhense e na fase inicial no Pará, enquanto os dois fenômenos viajavam de
Viseu para Belém.
A capital Belém também não se furtou a dar sua contribuição aos fenômenos.
O primeiro a chegar foi o bicho sugador, o chupa-chupa. Concentrou-se num
bairro pobre do centro velho atingindo adolescentes e jovens mulheres. E parecia
sedento, segundo os jornais, aplicando múltiplas picadas, sugando sangue
suficiente para deixar qualquer uma delas próxima da morte. Nesse ponto, a rápida
e correta atuação da imprensa brecou a epidemia na capital. O jornal A Província
do Pará levou até as vítimas ajuda médica e de posse da avaliação profissional,
publicou extensa matéria, cravando no coração do vampiro uma estaca: “Chupa-
Chupa É Só Fantasia”.
A fase Belém do fenômeno chupa-chupa não foi documentada pelos militares.
A operação foi além de Vigia, colhendo depoimentos e registrando
observações militares também em Santo Antônio do Tauá, Colares, ilha do
Mosqueiro distrito de Belém e Ananindeua na região metropolitana. As duas
missões da Operação Prato duraram pouco mais de trinta dias, não significando
que o monitoramento dos fenômenos aéreos não continuou por outros pequenos
períodos em missões específicas. Só não podemos chama-las mais de Prato. E
mesmo essas, já eram prelúdio do estertor das investigações oficiais da aeronáutica.
São inegáveis as observações relativamente precisas de Corpos Luminosos,
como eram chamadas as luzes voadoras pelos militares. Evoluíam no céu noturno
de Ubintuba, Colares, Baia do Sol e Baia do Marajó de forma não convencional,
em áreas livres de aerovias, a baixa altitude e algumas vezes a velocidades
supersônicas. Também inegável o estancamento dos casos de ataques da luz após
a chegada dos militares em Colares e Ubintuba.
17. INTRODUÇÃO
7
O fenômeno da entidade diabólica como epidemia morre em novembro de
1977 na capital e no interior.
A rápida presença da instituição Aeronáutica quando o fenômeno do chupa-
chupa chegou à baia do Marajó e a prudente cobertura jornalística dos supostos
ataques de sangue na capital detiveram a epidemia. Podem ter sobrevivido casos
isolados pelo interior, mas a epidemia havia sido contida.
A intensa presença de corpos luminosos, por sua vez, continuou na ativa até
meados de janeiro, no corredor das águas das baias do Marajó, do Sol e na região
do Rio Maguari em Ananindeua. Não sumiram a partir desse ponto, mas deixaram
de ser ostensivos.
No mês de junho de 78, o jornal O Estado do Pará conseguiu impressionantes
fotos do “aparelho”.
Apesar da criação de uma operação militar específica para investigar os
fenômenos amplamente noticiados, nunca houve em todos esses anos uma
conclusão oficial da chamada Operação Prato.
E graças a isso, alguns boatos continuaram vivos desde 1977 e são
considerados fatos reais por muitos brasileiros apaixonados pelos objetos
voadores não identificados.
Para muitos pesquisadores da área ufológica, a entidade diabólica existiu e
vinha certamente do espaço e as jovens de Belém de fato foram atacadas. Criaram-
se multidões, quase uma centena, de queimados e sangrados atendidos somente
em Colares. Uma tragédia sem registros comprobatórios.
Quero sua companhia, meu caro leitor, para contar essa história resgatando
sua verdadeira natureza, fantástica por si só, sem precisar anexos indevidos e
desvirtuados, muito menos criar novos boatos e muito menos alimentar os
antigos.
A publicidade sobre os fenômenos investigados levou facilmente os
acontecimentos daqueles dias para muitas direções. A música não ficou restrita ao
pequeno grupo de militares da operação. Ela tocou ouvidos de muitos e os
militares envolvidos passaram a ser objetos de cobiça dos legítimos interesses de
vários indivíduos e organizações, ávidos por informações.
18. CORPOS LUMINOSOS
8
Alguns integrantes que participaram dessa operação militar no Pará, a nomeada
Operação Prato, não sumiram como tantos outros brasileiros nas mãos do serviço
secreto quando vazaram informações ou relatos a pesquisadores e publicações
afeitos a essa área de interesse, ou quando junto a um jornalista estadunidense, o
chefe militar da operação investigou fenômenos aéreos anômalos pela Amazônia.
Havia grande interesse no assunto por parte de um grupo seleto de militares
pertencentes ao alto escalão da Força Aérea, que estimularam através de ordens,
inclusive ministeriais, investigações sobre fenômenos aéreos não identificados. As
operações levadas a cabo em Colares, Santo Antônio do Tauá, Vigia do Nazaré e
região metropolitana de Belém, significaram muito para esses militares. Após o
pico da atividade militar entre outubro e dezembro de 1977, o I COMAR em
Belém continuou monitorando os corpos luminosos pelo menos até fins de 1978,
mas de uma forma totalmente diferente. E nesse ano o Distrito Federal entraria
também na rota dos corpos luminosos, com um caso esplendorosamente
documentado, sobre a invasão de uma instalação militar de alta segurança da
aeronáutica, o pouco divulgado Incidente no Sítio do Gama.
O segredo que não era secreto, o fato noticiado e espalhado como rastilho de
pólvora, tomou seu lugar no esquecimento geral quando as notícias rarearam, e os
militares não foram mais a campo, pelo menos não publicamente. Apenas outro
grupo seleto de civis como alguns jornalistas, fotógrafos, pesquisadores, ufólogos,
continuaram a investigar e divulgar. E aqui começa o campo fértil da imaginação
sobre um passado que não se fez esclarecer pelas autoridades que tinham o poder
de fazê-lo. E quem procurava respostas se valeu das memórias dos envolvidos que
decidiram falar, apostando em seus relatos como fonte fiel dos eventos vividos.
E com os anos, graças à imaginação e a transliteração das memórias de forte
conteúdo emocional em verdades absolutas, surgiram as mais variadas versões dos
acontecimentos e histórias da história, criando um enorme nevoeiro sobre essa
operação militar, seus homens e os próprios acontecimentos.
Algumas páginas de relatórios elaborados durante a missão militar foram
entregues ou vazadas para publicação em revista do gênero, chamada UFO
Documento, em setembro de 1991. Apesar de investigação aberta pelo Primeiro
19. INTRODUÇÃO
9
Comando Aéreo Regional em Belém sobre esse vazamento de informações,
parece não ter havido maiores consequências.
Em 1997 o oficial à frente da operação militar concedeu entrevista gravada e
filmada a Revista UFO, onde fez um longo relato da operação e de suas próprias
experiências. O oficial, coronel reformado Uyrangê Hollanda, teria muita mais a
dizer se posteriores depoimentos pudessem ter sido coletados, mas infelizmente
ele se suicidou dois meses após a entrevista.
Com o passar dos anos outros envolvidos nos acontecimentos deram seus
depoimentos, cidadãos civis, como a médica do posto de saúde de Colares, um
piloto de avião participante ativo de vigílias com os militares, um jornalista do
periódico O Liberal, o filho de um dos principais militares que compôs a operação
e algumas vítimas do fenômeno chupa-chupa, como era chamada a luz que invadia
casas e atacava a população. Muitos programas televisivos sobre essa operação
foram ao ar, como um episódio do antigo programa Linha Direta Mistério da Rede
Globo em 2005, um especial do History Channel “The Brazil´s Roswell” também de
2005, outro da TV Cultura chamado a “História que Veio do Céu” de 2007.
Em outubro de 2008, após anos de gestão junto às autoridades e de uma
campanha pela liberdade de informação sobre objetos voadores não identificados
que recolheu milhares de assinaturas, capitaneada pela Comissão Brasileira de
Ufólogos – CBU, o Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica –
CENDOC, enviou ao Arquivo Nacional em Brasília, envelopes com os primeiros
documentos sigilosos sobre o assunto. Em abril de 2009 novos lotes e neles
finalmente apareceram os primeiros documentos sobre a operação militar no Pará.
Ainda em 2009, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência – GSI
enviou para o Arquivo Nacional lote de documentos do antigo Serviço Nacional
de Informações - SNI sobre a operação no Pará. O lote continha várias páginas
iguais ou semelhantes àquelas existentes nos relatórios vazados, confirmando a
autenticidade de muitas delas. Uma indicação muito forte a favor das demais e
apontando para uma procedência firme. Analisei os dois conjuntos documentais,
oficiais e vazados, e realizei diversas comparações. A principal e bastante
trabalhosa relacionou cada um dos 130 registros contidos no documento “Registros
20. CORPOS LUMINOSOS
10
de Observações de OVNI” emitido pela aeronáutica e guardado no Arquivo Nacional,
com os registros existentes em documento vazado, denominado “Resumo Sintético
Cronológico”, onde estão relacionadas todas as 288 observações militares e relatos
de civis. Obtive 99,2% de comparações positivas nas datas e horários, com
descrições entre idênticas e muito semelhantes, com apenas um registro em cento
e trinta sem seu par correspondente. Determinada a legitimidade daquele
documento resumo, fiz outro cruzamento relacionando o subconjunto das
observações militares no ano de 1977 com seus correspondentes registros nos
relatórios militares operacionais. Esse subconjunto contém 122 observações,
correspondendo a 42,3% do total dos registros do “Resumo Sintético Cronológico”,
sendo o mais expressivo grupamento. Obtive 94,2% de comparações positivas e
as sete observações sem correspondência, apesar de não constarem nos relatórios
operacionais, são coerentes com a operação e de certa forma rastreáveis. Posso
atestar com tranquilidade a veracidade dos documentos vazados.
Detalhe curioso do lote enviado pelo GSI foram os desenhos originais dos
objetos voadores relatados pelas testemunhas aos agentes do serviço secreto da
aeronáutica. Nos documentos vazados e no oficial “Registros de Observações de
OVNI” encontramos somente as concepções artísticas e não como foram
retratados durante a missão de campo. Também fornece, na forma manuscrita,
quase a integralidade de relatório especial sobre a situação nos municípios, em
especial Colares, elaborado pelo sargento Flávio Costa e pertencente aos
documentos vazados. Veremos bem isso na continuidade do livro.
Hoje esses documentos estão disponíveis na rede, os oficiais e os vazados. No
sitio do Arquivo Nacional, sob o código de referência BR AN,BSB ARX, é
possível ter acesso por meio digital a todos os arquivos OVNI liberados até o
momento. Os vazados, entregues a ufólogos, estão hospedados em sitio mantido
pela Revista UFO.
E onde entra este autor em meio a tantos documentos e tantas histórias?
Meu envolvimento começa pela curiosidade e grande interesse no assunto.
Num primeiro momento, pela tomada de conhecimento da operação e o tremendo
charme que ela desencadeia, seu apelo ao mistério e ao secreto, ela cativa. A leitura
21. INTRODUÇÃO
11
dos relatórios militares não é das mais fáceis, é intrincada, à primeira vista inclusive
desinteressante, mas é uma impressão apenas inicial. Entrando profundamente nas
linhas escritas e procurando montar a história, se descortina um período de grande
agitação e novas descobertas e a carga emocional que envolveu a todos. E fui
percebendo algumas inconsistências e contradições nos testemunhos modernos,
entre supostos fatos amparados em memórias e os registros históricos divulgados.
Parece que mesmo com esse material todo disponível e por tantos anos, não foi
feita uma autocrítica pela comunidade de especialistas, comparando o divulgado
até hoje com os eventos registrados nos arquivos liberados e vazados,
incorporando definitivamente esses registros documentais à história. Essa
autocrítica poderia criar um núcleo histórico coerente e poderoso o suficiente para
desestimular e restringir a proliferação de boatos que pecam por inexatidões. Um
núcleo histórico consistente, capaz de transmitir os eventos chaves e seus
desdobramentos sempre do mesmo jeito, independentemente de que modo quem
os reproduz os apresenta. Temos como definir datas com precisão e contar o
período exato da operação militar e suas interrupções, porque ela não foi contínua
e mesmo assim se reproduz até hoje o jargão “durou quatro meses”, uma afirmação
equivocada, ou quando se situa um evento importante em local totalmente diverso.
Ou quando se valorizam muito mais os relatos de testemunhas em detrimento das
muitas observações qualificadas dos militares, essas observações sim, com
importantes indícios da existência de aeronaves tecnologicamente muito
avançadas. Quando não se questionam os relatos, tanto faz se de um lado,
população, ou de outro, militares, esse relato venha, tudo vai para dentro do saco
e todos passam a ser verdadeiros, literalmente. E não é assim nem para aqueles
nem para os outros. Acaba se valorizando o periférico e o essencial fica ali, sem o
devido reconhecimento, sem uma luminária sobre a folha. Incompreensível ter
tanto a disposição, ao alcance das mãos e dos olhos e não se enxergar o
fundamental, valorizando o acessório. Senti isso muito forte e decidi pesquisar e
buscar esse núcleo coerente, consistente e transparente da história que ainda não
havia encontrado.
22. CORPOS LUMINOSOS
12
A meu favor, uma qualificação profissional seria muito útil. Durante anos
estive envolvido na elaboração de um número grande de procedimentos e padrões
técnicos da minha atividade, inclusive pertencendo ao grupo elaborador e revisor
da principal norma técnica Petrobras de minha área: a operação de oleodutos. As
inúmeras especificidades de cada instalação, as consistentes técnicas gerais de
operação desses sistemas complexos, o estudo detalhado dos documentos
técnicos e sua transformação em procedimentos ou padrões, forneceram uma
capacitação poderosa para analisar documentos e processos. E no caso desse livro,
essa qualificação encaixou perfeitamente.
Vamos entrar nessa história.
CORPOS LUMINOSOS
23. CAPÍTULO 1
A LINHA DO TEMPO
Os jornais em circulação pela capital do Pará, Belém, insistiam em noticiar
acontecimentos estranhos em pequenos municípios do nordeste paraense. O
Liberal, A Província do Pará e o Estado do Pará noticiavam sobre luzes nos céus
sobrevoando cidades, povoados e, às vezes, de tão próximos assustavam seus
moradores. E começaram a atacar. Raios e focos de luz atingindo pessoas
indefesas em suas casas ou durante a labuta diária na pesca e agricultura, luzes
esverdeadas ou avermelhadas chupando o sangue de suas vítimas e um pânico
generalizado nas vilas e povoados, chegando até bairros centrais da capital.
Naquele tempo estar na grande teia global de informações não era trivial como
hoje, onde um simples vídeo se espalha pela nuvem eletrônica das redes e torna-
se um viral como atualmente tanto se gosta de dizer. Era bem mais difícil e as
24. CORPOS LUMINOSOS
14
preocupações desse povo precisavam chegar aos jornais impressos dos grandes
centros e sensibilizar as autoridades para suas necessidades.
Estávamos em plena vigência da ditadura militar, com o general Ernesto Geisel
na presidência, em uma época onde os militares mandavam no país. Todas as
outras instituições giravam em torno deles. Exército, Marinha e Aeronáutica eram
as depositárias das esperanças dos ribeirinhos e agricultores daquelas afastadas
localidades que enfrentavam uma onda de devastação moral e física por supostas
entidades luminosas surgidas ao cair da noite, dominando a noite escura, enquanto
a abóboda celeste girava mudando as estrelas e constelações como faz a uma
eternidade.
E as vozes dessa população começaram a fazer eco na capital, naqueles onde
mais depositavam suas esperanças: os militares.
DOS JORNAIS PARA OS QUARTEIS
Documento oficial do 4º Distrito Naval, órgão da Marinha sediado em Belém,
informa eloquentemente:
“Desde Abril/77, os jornais de Belém, vem publicando notícias a respeito do
aparecimento de OVNI em várias regiões... Os moradores dessas regiões onde esses
OVNI aparecem, encontram-se amedrontados e falam em luzes misteriosas,
causadoras de mortes ou alucinações. ”
Houve pouca cobertura jornalística do fenômeno até meados de julho, mas a
partir dali, progressivamente, mais e mais notícias sobre as luzes misteriosas
chamaram a atenção das autoridades militares da marinha e da aeronáutica sobre
os estranhos fatos narrados pela gente humilde do interior, como essa reportagem
do jornal O Liberal de Belém: “Luz Misteriosa ainda Causa Pavor em Viseu” de
10/07/77, narrando estranhos ataques ao povo nas vilas próximas desse pequeno
município, na distante divisa oriental do estado com o Maranhão, vindos de luzes
voadoras misteriosas e seus raios paralisantes.
25. A LINHA DO TEMPO
15
Outro documento oficial, este do serviço secreto, emitido pela agência de
Belém do Serviço Nacional de Informações – SNI faz um resumo detalhado da
situação a Brasília, inclusive sobre a investigação de campo em curso pela
aeronáutica e finaliza com depoimentos considerados idôneos, acrescentando
pequeno resumo de notícia do jornal A Província do Pará de título “As evoluções dos
objetos nos céus da Vigia” com o relato do prefeito de Vigia do Nazaré sobre as
estranhas luzes. Obtive o original dessa reportagem de 20/10/1977 e faço um
resumo mais completo, além de incluir o desenho original publicado das manobras
observadas (figura 1.1).
Figura 1.1 Imagem: recorte de exemplar do jornal A Província do Pará de
20/10/1977, 1º Caderno, pág. 15, título “As evoluções dos objetos nos céus da
Vigia”. Os números (1 a 5) foram inseridos para representar a sequência dos
deslocamentos. As trajetórias 4 e 5 foram entre Candeuba e Arapiranga, com
Arapiranga deslocada na figura publicada, talvez para efeito de melhor
visualização. Arquivo Pessoal.
O prefeito relata ao repórter ter ouvido rumores nas ruas, às 18h45min:
“(...) dando conta que um objeto estranho cruzava os céus em espantosa
velocidade e lançando uma luz amarela. Como já tivesse ouvido falar na aparição
1
2
3
4
5
26. CORPOS LUMINOSOS
16
desses objetos, correu até a janela de sua casa, divisando então a olho nu quando
um subia da ilha de Tapará que fica localizada por trás da cidade sem ruídos e
sem deixar rastros tomava rumo do povoado de Santo Antônio de Ubintuba (...)”
(trajetória 1 na figura 1.1).
“A Vigia estava toda no escuro (...) parecendo ter sofrido interferência do
estranho objeto... dois minutos depois ressurgia, rumando em direção ao bairro de
Arapiranga onde da mesma forma sumiu após uma trajetória tão rápida quanto a
primeira.” (trajetória 2 na figura 1.1).
“(...) quando da ilha de Colares, situada em frente à Vigia (...) surgia
misteriosamente um outro aparelho (...) rumando para o bairro de Arapiranga da
mesma maneira sumindo ao ali chegar (...)” (trajetória 3 na figura 1.1).
“Quando parecia que o espetáculo havia terminado, surgiu outro da ilha de
Candeuba rumando para o bairro de Arapiranga, ao mesmo tempo em que deste
surgia mais um objeto com destino à Arapiranga havendo uma quase colisão entre
os dois aparelhos no ponto de interceção. ” (trajetórias 4 e 5 na figura 1.1).
Duraram uns 15 minutos. Ao fim das manobras a luz da cidade voltou. Houve
inúmeras testemunhas, muitas ouvidas pelo jornal. Como geralmente acontece na
coleta de múltiplos relatos, aparecem às divergências entre depoentes. Os ouvidos
pela reportagem descrevem as luzes distintamente: para algumas eram claras e
fixas. Para outras: claras, verdes e vermelhas. Distintas visões dos eventos serão
recorrentes por todo o caminho que iremos trilhar.
Prefeitos e políticos começaram a enviar pedidos desesperados aos militares
contra aquele “terrível inimigo”, que atacava seus moradores com um foco de luz
verde, como feito em 18/10 pela Câmara Municipal da pequena cidade de
Maracanã, na baia de mesmo nome, no litoral do Oceano Atlântico, enviando
requerimento às três Armas.
Não era mais possível ignorar.
27. A LINHA DO TEMPO
17
A reportagem de 20 de Outubro de 1977 do jornal A Província do Pará sobre
objetos sobrevoando Vigia do Nazaré e sobre o desespero reinante no povoado
de Santo Antônio do Ubintuba (“Ubintuba pode ser abandonada”), acrescida da
manifestação do prefeito claramente a favor da ajuda militar, coloca em cena o
Primeiro Comando Aéreo Regional, o I COMAR, órgão da Força Aérea Brasileira,
sediado em Belém.
Será um grupo seleto desses militares da aeronáutica, pertencentes à famosa 2ª
Seção, que viverão nos últimos meses de 1977, algumas das mais fantásticas,
empolgantes e perigosas experiências nos rios e matas paraenses, mudando suas
vidas para sempre. Deixaram um legado histórico registrado em documentos,
guardados por décadas em Brasília, liberados para o Arquivo Nacional em 2009.
Essa história precisa ser contada em detalhes. Ela pertence a todos os brasileiros.
É única. Em todo o mundo.
A OPERAÇÃO PRATO
Há muito a se contar. Há relatos, observações, investigações de campo, um
universo de informações nos relatórios de missão, relatórios dos agentes,
reportagens, cadernos de resumos e registros. Essas informações não estão
organizadas de forma clara e objetiva. Uma mesma observação militar está
fragmentada em diferentes documentos, sendo preciso ir buscar pacientemente os
pedaços para contar a sua história. Há também lacunas documentais, não
explicadas pelo mero esquecimento de se fazer um relatório. Isso leva a algumas
hipóteses, como a perda fortuita, destruição ou sua não liberação.
A análise de todo o conteúdo pode permitir a montagem de uma história
complexa. Não apenas dos deslocamentos operacionais, da natureza das
observações e dos relatos inquietantes. Às vezes diretamente ou entrelinhas,
surgem relações interpessoais entre personagens civis e militares, bem como, a
interferência de órgãos externos ao I COMAR na operação de campo e no seu
monitoramento, tornando visíveis situações que os depoimentos pós 1977
ocultaram, proposital ou inadvertidamente. Não poderei eliminar toda a névoa,
28. CORPOS LUMINOSOS
18
mas muita coisa poderá ser organizada, classificada e esclarecida. Antes de
esmiuçar a história, revivê-la, é preciso visualizar a Linha do Tempo permitida pela
documentação. Ela foi o meu fio de Ariadne, aquele entregue pela jovem princesa
a Teseu, guiando-o pelo labirinto do rei Minos, resgatando-o são e salvo após a
luta e morte do terrível Minotauro.
Um aviso é necessário. Na construção da Linha do Tempo poderá ficar a
impressão em alguns momentos de algo faltando, mas a linha tem de ser
construída sem paradas excessivamente técnicas. Os detalhamentos, as
interconexões e explicações serão abordados ao longo do livro. Falarei em certas
localidades, haverá um capítulo sobre a região e as cidades. Falarei do serviço
secreto, também haverá um capítulo dedicado a isso. E vamos em frente.
A operação militar foi batizada de Prato, Operação Prato. Costuma-se juntar
todo o material de 1977 envolvendo aqueles fenômenos específicos no Pará como
se ele todo fosse uma produção dessa operação militar e carimbada como
produzida em sua vigência, mas pela minha investigação, não é exatamente assim.
Há ligação entre eles, se complementam muitas vezes, no entanto, alguns
relatórios poderiam ser vistos isoladamente ou são mais amplos do que a Operação
Prato.
Os registros oficiais são claros: no dia 20/10/77 uma equipe é despachada para
o município de Santo Antônio do Tauá, à tarde, após a reportagem do jornal A
Província do Pará com o depoimento do prefeito da Vigia. O encadeamento entre
um e outro é cristalino, tanto que as primeiras diligências são realizadas em Tauá
e Ubintuba, localidades citadas no depoimento do prefeito como de maior
incidência das luzes. Colares não foi o estopim da operação como tanto se diz e
nisso o próprio Hollanda comete uma imprecisão em sua entrevista de 1997, talvez
por assumir a chefia da missão muitos dias depois de iniciada, quando
desembarcou de helicóptero em Colares.
Nos primeiros dias depoimentos são coletados, observações são efetuadas e
mais militares são ativados, além da presença em campo do Chefe da 2ª Seção,
tenente-coronel Camillo Ferraz de Barros, subordinado ao comandante do I
COMAR, brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira.
29. A LINHA DO TEMPO
19
Os agentes da 2ª Seção começaram a observar muitos corpos luminosos em
voo logo de início. As observações continuaram nos próximos dias, mostrando
luzes de variadas cores, emitindo lampejos em direção ao solo, luzes se dividindo
em novas luzes, luzes disparando a uma velocidade supersônica, evoluções nada
convencionais nos céus sobre Tauá, Ubintuba, Colares, baia do Marajó e a baia do
Sol.
Colares era geograficamente o local ideal para observações, localizada
frontalmente ao corredor das águas da Baia do Marajó. A visão da baia é ampla e
com um binóculo facilmente se vê a ilha do Marajó do outro lado. A visão da
abóboda celeste também é privilegiada. Era isolada, mas não tanto como
Ubintuba, possuindo uma modesta infraestrutura urbana, ao contrário da maior
urbanidade e agitação da Vigia. Era uma comunidade representativa da região
afetada, cultural e economicamente, portanto, adequada a realização de algumas
experiências, como o chamado Teste da População.
Nos dias 30 e 31/10 concentraram-se em Colares e colheram muitos
depoimentos importantes como da médica da Unidade Sanitária. E começaram a
fazer as experiências. Fazem duas apresentações para a população sobre as
recentes viagens do homem à Lua, encerradas em 1972 e constatam a boa
aceitação. As 19h00min de 01/11, após a passagem de um corpo luminoso em
velocidade supersônica sobre o centro de Colares, testemunhado por muitos
sargentos e oficiais, inclusive o Chefe da 2ª Seção, iniciam o chamado “teste da
população”. Um helicóptero Bell H-1H Huey que chegara de Belém às 17h10min,
pousado no campo de futebol de São Pedro, levanta voo e segue a trajetória antes
executada pelo corpo luminoso supersônico. O objetivo para mim é explicito:
verificar se a população confundiria o helicóptero com uma das luzes voadoras e,
talvez, convencê-las de que as observações eram produto de tecnologia humana.
Não há relatório com uma análise desse teste, nem esclarecendo seu objetivo,
apenas consta sua aplicação. Durante sua realização, um popular informa ter visto
uma luz seguindo a aeronave, mas uma das equipes posicionadas, provavelmente
na área central junto ao cemitério, nada observa.
30. CORPOS LUMINOSOS
20
Os homens da aeronáutica que testemunharam esse evento, bem como todo
o conjunto de observações militares, eram sargentos, aviadores, oficiais, homens
experientes nas suas carreiras, para compor equipes de campo apropriadas para
aquele tipo de missão. Tinham recursos limitados, mas existiam e em maior grau
que qualquer investigação civil e particular poderia ter para o objeto da
investigação: verba operacional, viaturas, helicóptero, câmeras fotográficas e lentes
sobressalentes, filmadora, gravador, teodolito (usado para medir ângulos
horizontais e verticais e determinar distâncias e alturas), binóculo e principalmente
pessoal: agentes, médicos do serviço, oficiais, chefes militares, informantes e
colaboradores. Tudo com a autoridade da Força Aérea, num cenário institucional
de regime militar instalado, onde era permitido ao capitão Hollanda invadir a
redação do jornal O Estado do Pará em junho de 1978 e exigir do redator chefe que
entregasse todas as fotos e negativos obtidos pelo jornal em sua cobertura sobre
o fenômeno, fotos de autoria do fotógrafo José de Ribamar dos Prazeres. E
conseguisse como afirma o jornalista Carlos Augusto Serra Mendes, do extinto
jornal O Estado do Pará em entrevista à Revista UFO em 2005.
A PRIMEIRA MISSÃO
A energia inicial foi voltada para coletar os depoimentos em Ubintuba onde os
moradores estavam desesperados. Eram muitos e perturbadores.
O povoado era habitado por 110 famílias, distribuídas em casas distantes entre
si, muitas à beira do rio Bituba, uma das divisas naturais entre os municípios de
Tauá e Vigia, onde o principal meio de transporte utilizado era o fluvial. Viviam
da roça e da derrubada de árvores da mata. Uma comunidade humilde. Ainda hoje
a estrada é de difícil acesso como soube por um morador de Colares conhecedor
da área. Não pude visita-la em minhas viagens por questão de tempo e logística,
mas confirmei que as casas continuam dispersas e próximas ao rio. Não deve ter
mudado muita coisa mesmo em décadas.
Em Ubintuba temos os primeiros registros de observações incomuns de
corpos luminosos, como a feita dia 22/10 às 20h15min:
31. A LINHA DO TEMPO
21
“Corpo luminoso, cor amarela avermelhada, deslocando-se no rumo N/S,
altitude média (3.600 ft), trajetória ligeiramente curva, velocidade variável,
tamanho aparente 2 a 3 cm; não tinha brilho.” (3.600 pés equivalem a 1.200
metros).
Na sequência da observação acima, já na madrugada de 23/10, 02h35min:
“Passagem de corpo luminoso, grande altura, mudança de rumo (aprox. 90º),
voltando a rota original. (?)”
Na primeira madrugada de observações em Colares, dia 25/10, 04h20min
temos essa:
“Passagem de corpo luminoso a média altura, apagou. Surgindo então dois outros
corpos luminosos, (no mesmo ponto), deslocando-se em sentido contrário. (?)”
No dia 26, 20h05min, temos uma observação muito parecida com a descrita
acima, mas dessa vez em Ubintuba:
“Corpo Luminoso, cor amarela clara..., ao atingir o centro da abóboda apagou;
daquele mesmo ponto, surgiram dois (2)corpos luminosos que se movimentaram em
sentido contrário ao inicialmente descrito (...)”
Nesse mesmo dia e horário (20h05min) o coronel Camillo, chefe da 2ª Seção
e uma equipe médica, na estrada entre Ubintuba e Colares, avistam uma corrida
de meteoro de tamanho invulgar, de sua cauda saindo chispas intermitentes, como
num escape de foguete.
Nos primeiros dez dias a equipe operacional de campo composta por três
militares percorreu intensivamente a região de Santo Antônio do Tauá: sede,
distritos e localidades. Deslocaram-se até o município de Vigia e nele,
principalmente, ao povoado de Ubintuba. O próprio coronel Camilo esteve
32. CORPOS LUMINOSOS
22
acompanhando o trabalho da equipe e colhendo depoimentos junto com a equipe
médica, entre 26 e 27/10. Na Vigia encontrou o prefeito. Nesse momento ele
estava pessoalmente à frente do comando da operação. Quanto à equipe
operacional, composta de três sargentos, ocorreu uma alteração em seus
componentes logo no início das investigações. O primeiro relatório identifica os
sargentos que saíram de Belém em 20/10: Ernesto, Luciano e Gualter. Em algum
momento não especificado a equipe é trocada pelos sargentos Flávio Costa,
Almeida e Pinto. Pelo meu entendimento, ela ocorreu entre 23 e 24, num dos
retornos da equipe a Belém para prestar contas ao Chefe da 2ª Seção.
Quanto a Colares, a partir de 24/10 às 21h15min, no quinto dia do início da
operação, os militares surgem, saindo na manhã seguinte as 06h00min com destino
a Ubintuba na Vigia, retornando apenas em 26/10 às 21h20min. Novamente saem
no dia seguinte as 08h00min para a sede da Vigia e o povoado de Ubintuba,
quando suspendem a missão para o dia 28, retornando a Colares no dia 29 às
22h30min. Nesses primeiros passos da operação o foco era Santo Antônio do
Ubintuba, mas a partir do dia 29, a base de operações se estabelece de vez em
Colares.
O capitão Hollanda foi chamado pelo coronel Camillo para assumir a
operação, chegando de helicóptero a Colares em 01/11, no dia do teste da população,
na companhia do coronel, assumindo a operação.
Hollanda era interessado em ufologia. E deveria estar atento aos
acontecimentos em Colares e na Baia do Sol, mesmo antes do convite para assumir
a operação, prova disso é existir uma observação feita por ele no dia 22/10, antes
mesmo de assumir a chefia da OP, incluída no documento oficial da Aeronáutica,
guardado no Arquivo Nacional, “Registro de Observações de OVNI”, que chamarei de
ROV1. Ele não estava em Colares quando da observação, e sim na ilha de
Mosqueiro, distrito de Belém, num ponto afastado e pouco povoado, à noite, não
estando sozinho, mas acompanhado de um piloto de avião, aficionado por
ufologia, e um cinegrafista. Ele já sabia da operação. E pressuponho queria entrar
nela. E conseguiu. Em seu depoimento em 1997, confirma ter assumido a chefia
1
ARQUIVO NACIONAL CÓDIGO: BR AN,BSB ARX.0.0.184
33. A LINHA DO TEMPO
23
da operação após iniciada e diz haver chegado de um curso realizado em Brasília
quando foi chamado. Fato é que estava em Belém dia 22/10, dois dias depois do
início oficial da missão, assumindo sua função onze dias após.
Muito se conheceria nesses primeiros dias, muitas localidades foram visitadas,
acampamentos montados e os militares iriam minuciosamente registrar todos os
seus passos e as evoluções dos corpos luminosos.
O acampamento principal acabou sendo erguido em Colares, junto a uma
centenária Samaumeira (figura 1.2), árvore de grande porte, presente na praia de
Humaitá. Contaram com a ajuda da prefeitura, pois Hollanda afirma ter o prefeito
também solicitado ajuda da Aeronáutica. Também havia um posto de saúde que
atendeu muitas das supostas vítimas dos focos de luz.
Figura 1.2 Imagem da Samaumeira da praia do Humaitá em Colares, local de
acampamento dos militares da aeronáutica. Arquivo Pessoal.
Dois personagens contribuíram muito para a Operação Prato. O falecido padre
católico Alfredo de La Ó, mexicano naturalizado americano, qualificado também
como médico e físico Ele forneceu relatos qualificados. A médica do posto de
34. CORPOS LUMINOSOS
24
saúde prestou importante depoimento sobre o atendimento aos populares
examinados por ela, supostamente atacados pela luz.
Foi durante essa primeira missão onde se registrou o maior contingente militar
de toda a operação. Diferente do afirmado por muitos e divulgado na mídia
ufológica, não houve contingente de dezenas de militares na região durante a
operação. Aqui devemos render congratulações à entrevista de Hollanda em 1997,
onde afirmou comandar uma equipe de 5 sargentos. Podemos afirmar sim, pelos
relatórios, num único dia, 01 de novembro, aquele do teste da população, haver
um contingente maior. E podemos contar: uma equipe de três sargentos (Flávio,
Almeida e Pinto), o Chefe da 2ª Seção (Camillo), o chefe da operação (Hollanda)
e os quatro tripulantes do helicóptero (oficiais Gonçalves e Kuster, sargentos
Roberto e Dourado), num total de 9 militares.
O material coletado e elaborado iria repercutir fortemente em Belém. Essa
primeira fase da missão é encerrada por ordem do tenente-coronel Camillo em
09/11. Mesmo dia de um informe da Agência de Belém do SNI para Brasília,
chefiada por outro homem da aeronáutica e ex-comandante da Base Aérea de
Belém, tenente-coronel Filemon Menezes. Os militares desmontam acampamento
em 10/11 e dia 11/11 se apresentam ao Chefe da 2ª Seção.
O Relatório de Flávio
O sargento Flávio Costa elaborou um relatório especial, referente ao período
da primeira missão, com uma análise pessoal dos acontecimentos na região. Não
é um documento onde expõe os registros, nem o passo a passo diário da equipe.
Ele fala sobre como os cidadãos de Colares estão percebendo os fenômenos e
como estão sendo afetados.
Esse documento é o único que formaliza detalhadamente o objetivo da missão:
“Esclarecer, o que de real existe sobre os aparecimentos e movimentação, em nosso Espaço Aéreo
Inferior dos chamados OBJETOS VOADORES NÃO IDENTIFICADOS (...)”.
Informa que várias pessoas foram ouvidas, de diferentes níveis culturais. Diz
não haver conclusão satisfatória, existindo dúvidas na explicação de algumas
35. A LINHA DO TEMPO
25
ocorrências. Cita em destaque a observação coletiva no dia do teste da população,
quando observaram um corpo luminoso com um pequeno semicírculo
avermelhado na parte superior, sobrevoar Colares e acelerar a uma velocidade
supersônica. Também cita as espetaculares observações do dia 06/11 em Colares,
que veremos detalhadamente no capítulo 6.
Conta dos ataques com foco de luz, a “histeria coletiva” em que se encontrava a
população de Colares e testemunha as constantes procissões de moradores
soltando fogos e tiros para afugentar as luzes. Em resumo, a sociedade local estava
apavorada. Sugere a proibição da venda de fogos de artifício e bebidas e diz que
nas outras localidades investigadas a situação não era diferente. Testemunha ter
encontrado numa dessas localidades 36 pessoas refugiadas num mesmo casebre:
“é a solidariedade frente a necessidade”.
É importante resgatar do relatório as seguintes considerações:
“(...) não houve difusão dos sintomas das primeiras pessoas atingidas, para que
tivessem sido espalhados entre moradores muitas vezes sem o menor vínculo de
comunicação. ”
Aparentemente um ponto a favor da legitimidade dos característicos incidentes
de ataques de luz da entidade diabólica. No entanto, Flávio deixa bem claro o papel
negativo e irresponsável da imprensa na criação do mito, (“do monstro criado pela
imprensa”), o sugador de sangue, sendo a causa da disseminação do pânico entre as
populações. A mídia foi o veículo principal, não o boato correndo de boca em
boca, como se percebe nesse comentário:
“Em sua totalidade a região (...) tem por habitantes pessoas de índice cultural,
sócio-econômico e sanitário dos mais baixos, aliados a crendices e formação simples,
facilmente influenciados pelos meios de comunicação, nem sempre usados por pessoas
escrupulosas”.
36. CORPOS LUMINOSOS
26
Era a opinião de Flávio. E declara sobre a entidade sanguinária: “possivelmente
não verdadeira”.
Continua dizendo que em 09/11 o ambiente melhorou, com os moradores
aprendendo a conviver com o problema e que de certa forma a presença e o
trabalho dos militares contribuiu para isso, através das palestras e apresentação de
slides das viagens a Lua.
Finaliza dizendo que a presença de objetos voadores não identificados é
patente, que efetuam manobras complexas e que “estes corpos e luzes, são: -
INTELIGENTEMENTE DIRIGIDOS”.
AVISTAMENTOS NA BAIA DO SOL
Nos próximos dez dias após o fim da primeira missão não há atividade de
campo. Sabemos que no informe do SNI de 09/11 é citado que o I COMAR
estava preparando uma nova missão. Qualquer que seja o que estivesse atrasando
o início da nova missão, se é que haveria uma próxima missão, foi atropelado por
um informe do sargento Flávio Costa.
Flávio recebe informação de um piloto de avião comercial sobre a presença de
corpos luminosos na Baia do Sol. Era o Sr. Ubiratan Pinon Frias, o mesmo que
acompanhou Hollanda dia 22/10 na mesma baia, antes dele assumir a OP.
Na madrugada do dia 22/11, Flávio, Pinon e duas acompanhantes estão na
ilha do Mosqueiro, em frente à Baia do Sol e a Ponta do Machadinho na ilha de
Colares (figura 1.3) e corpos luminosos fazem um conjunto de manobras e
evoluções sobre a baia, deixando a todos impressionados.
Entre 01h00min e 01h30min, um corpo luminoso a 30 m de altitude, em frente
à ponta do Machadinho, sobre a baia do Sol, subia e descia em movimentos
irregulares, distante uns 1.500 m da praia (ponto de observação).
As 03h10min, Flávio, um sargento com especialização em observação
meteorológica, do Quadro de Artífices do Corpo de Pessoal Subalterno da
Aeronáutica, observa um fenômeno classificado como “(...) desconhecido para o
observador, Q AT MT (...)”: lampejos de duração muito rápida, impressão de ar
37. A LINHA DO TEMPO
27
eletrificado, ausência de nuvens, nem mesmo os densos, altos e raivosos cúmulos
nimbos. Duraram vinte minutos.
Depois as coisas ficam mais interessantes.
As 03h20min um corpo luminoso a cerca de 500 km/h, de coloração amarela
fosca e 300-400 m de altitude e 600 m de distância dos observadores, acelera sem
ruído e ao atingir 2.000 m de distância, sobe completando duas voltas em curvas
fechadas (720o) até chegar a cerca de 1.500 m de altitude.
Figura 1.3 Imagem da baia do Sol, feita da ilha do Mosqueiro. Ao fundo a Ponta
do Machadinho na ilha de Colares. Arquivo Pessoal.
Em seguida, às 03h23min outro corpo luminoso surge, mais baixo e mais perto
que o anterior, faz uma curva sobre eles e desaparece.
As 04h25min outra luz cruza a baia vinda de Colares a 300 m de altura e 800
m de distância.
As 05h18min chegaram dois corpos luminosos amarelos foscos à baixa
velocidade, 200 km/h, paralelos a princípio, passaram sobre a vertical do ponto
de observação quando então repararam que um deles era menor e estava um
pouco à frente do maior. Uns 300 m adiante, o maior acelerou e cruzou a trajetória
38. CORPOS LUMINOSOS
28
do menor a sua frente à esquerda, retornou cruzando novamente o menor pela
direita. O menor seguiu rumo norte e o maior para Colares.
Enfim, termina.
As impressões que deixaram foram fortes. As acompanhantes demonstram
perplexidade e medo.
Tiraram ao todo 16 fotografias e foi produzido um croqui detalhado dos
eventos (figura 1.4). O das 05h18min, aquele do duplo círculo, entrou para o ROV
como o registro número 41.
Os eventos foram checados com a Torre de Controle do aeroporto de Belém
quanto ao trafego de aviões na área. Foram confirmadas positivas apenas para uma
observação realizada as 02h15min, a de um avião de grande porte em voo de
instrução.
Flávio não foi para a Baia do Sol só nesse dia depois que a primeira missão
terminou. Dia 20/11, ele na companhia de amigos, provavelmente o mesmo time
de 22/11, voltando da baia do Sol, viram um corpo luminoso cruzar a rodovia
Belém-Mosqueiro, relatando o ocorrido para o I COMAR em seu primeiro
relatório Extra.
Desde o fim da primeira missão, em 11/11, me pergunto: quantas vezes o
sargento Flávio Costa efetuou vigílias atrás dos corpos luminosos? Somente 20,
21 e 22/11?
Acredito ter esse conjunto de informes influenciado diretamente para o
reinicio da Operação Prato. Na entrevista de Hollanda ele afirma que a operação
saiu do papel graças ao interesse do comandante do I COMAR, brigadeiro
Protásio, um crente em OVNI. A filha do brigadeiro, afirmou à revista Isto É
número 2071 de 22/07/2009: “Papai chegava com os rolos de filmes e ia direto para a
biblioteca”. “Um dia, ele deixou a gente assisti-los. Dava para ver luzes se deslocando em todos
os sentidos.” e completa dizendo que Protásio sempre acreditou nos objetos
voadores não identificados.
Esse informe deve ter agitado o brigadeiro.
Independente do motivo detonador da segunda missão, ela saiu em campo dia
25/11, de volta a Colares. E havia uma novidade. O militar ou agente, chefiando
39. A LINHA DO TEMPO
29
a equipe de campo era um membro do CISA - Centro de Informações de Segurança da
Aeronáutica, da Sede em Brasília.
Figura 1.4 Composição do croqui dos eventos e sequência de fotos do evento
de 03h20min. Registros 39, 40 e 41 do ROV.
O CISA era o principal órgão repressor da Aeronáutica em apoio à ditadura
militar. Vamos explorar essas questões no capítulo 3 – Serviço Secreto, o importante
40. CORPOS LUMINOSOS
30
agora é alguém externo ao I COMAR, de um órgão tão importante quanto o CISA,
vir diretamente ao palco de operações. Veio de Brasília e por Brasília, acredito.
A SEGUNDA MISSÃO
Essa foi mais curta, durando apenas 11 dias: de 25/11 a 05/12. Inicialmente
com um chefe de equipe do CISA vindo de Brasília. Às 22h00min do dia 25/11
chegam a Colares.
A equipe fica concentrada na Sede de Colares durante toda a missão, não sendo
informadas incursões a outras localidades. Isso explica o rol de observações dessa
equipe: 2 em Penha Longa, local da travessia de balsa entre o município de Vigia
e Colares, observado durante a viagem com destino a Sede, e 34 em Colares.
Também colheram uma série de relatos de informantes.
Novamente uma missão é iniciada sem o capitão Hollanda. Consta nos
registros sua chegada para assumir a chefia da equipe no dia 29/11 às 08h45min,
voltando para Belém um dos agentes, mas não foi o do CISA, da elite do serviço
secreto da Aeronáutica. Hollanda, como chefe da equipe, incluiu no relatório 07
observações que ele efetuou na baia do Sol entre 26 e 28/11, sendo possível
rastrear que em uma delas estava acompanhado do piloto civil Pinon e de um civil
ligado a TV Liberal de Belém. Em outra sozinho.
E pode ser a observação de 28/11, o motivo de Hollanda retornar a chefia da
operação.
Um Objeto Sobre os Agentes do SNI
Hollanda conta em sua entrevista à Revista UFO, sobre uma experiência vivida
por ele e pelos agentes do SNI na Baia do Sol em Mosqueiro dia 28/11 às
19h30min, quando já iniciada a segunda missão em Colares, sem ele no comando.
Trechos da entrevista:
41. A LINHA DO TEMPO
31
‘Bem, o pessoal do SNI (...) um deles disse: “Olha aqui em cima, agora. Olha
para o alto” (...) tinha um negócio enorme bem em cima da gente. Era um disco
preto, escuro, parado a não mais que 150 m de altura, exatamente onde estávamos.’
“Ficou parado, mas tinha uma luz no meio, indo de amarela para âmbar. E fazia
um barulho como o de ar condicionado (...) era grande, com talvez uns 30 m de
diâmetro (...)”
Nenhuma observação dessa natureza ficaria de fora dos registros, como
demonstrarei mais à frente. Apesar de Hollanda não indicar a data, foi possível
rastrear o evento. Separei todos os registros do ROV ocorridos na Baia do Sol,
todos aqueles observados por Hollanda.
Na entrevista, Hollanda diz estar junto com o cinegrafista Milton Mendonça e
agentes do SNI.
Separei os 3 registros com Milton e Hollanda. Nenhum deles se parece, nem
de perto, com o evento descrito na entrevista.
No entanto, há um registro na Baia do Sol, e somente um, onde um corpo
luminoso amarelo avermelhado encontra-se estacionário na vertical sobre o
observador, no caso Hollanda. O registro 58 do ROV (figura 1.5). E mais, o objeto
emitiu em intervalos regulares 4 lampejos parecidos com flashes. Na entrevista ele
menciona esse fato, mas em número de cinco. Não fala do núcleo azul central
emitindo lampejos azulados conforme o registro, em vez disso, classifica como
amarela para âmbar. Diminui também a altura: dos 300 metros originais para 150
metros. A memória às vezes prega peças.
O fato de no campo Observador(es) do registro constar apenas Hollanda, não
citando Milton, é compreensível. Já seria esperado não haver citação dos agentes
do SNI e a exclusão de Milton foi uma forma de dificultar o rastreio de um evento
importante com a presença do serviço secreto.
Acredito que essa observação e o testemunho dos agentes do SNI foram
cruciais para Hollanda assumir o comando da segunda missão, em detrimento do
agente do CISA, estando em Colares as 08h45min de 29/11.
42. CORPOS LUMINOSOS
32
Não é difícil imaginar uma série de contatos entre o Chefe do SNI, Chefe da
2ª Seção e o Comandante do I COMAR, na noite de 28/11 após os informes de
seus agentes. O objeto havia direcionado sua manifestação para Hollanda. Não
para os agentes que estavam em Colares naquela noite. Ele não poderia ficar de
fora.
Figura 1.5 Registro 58 do ROV.
A Ausência de Flávio
Outra importante constatação: o sargento Flávio Costa não está na equipe e
não deve ter participado da compilação dos dados e elaboração do segundo
relatório de missão. A constatação se faz de duas formas, uma direta: seu nome
não é citado e uma indireta: não há croquis e desenhos, pois era ele quem os fazia.
E também não há fotos associadas aos eventos no ROV.
Perguntas Inconvenientes
• Por que Hollanda, sendo o chefe da OP, estava na baia do Sol
observando o céu entre 26 e 28/11, quando uma equipe de agentes
43. A LINHA DO TEMPO
33
estava em Colares com toda a infraestrutura necessária para observações,
sob o comando do CISA?
• Por que Flávio Costa não estava na equipe, já que eram reconhecidas
suas habilidades para registros operacionais e havia feito um eloquente
relatório para a 2ª Seção sobre atividades de corpos luminosos na baia
do Sol em 22/11?
Daqui podemos tomar vários caminhos, vou simplificar e colocar apenas
minha opinião.
A segunda missão estava sob as ordens de Brasília, tendo sido afastados os
principais protagonistas. Seria uma investigação independente.
Hollanda posteriormente assumiu a segunda missão com o apoio do I
COMAR e do SNI, após o contato de 28/11 na Baia do Sol.
O CISA ainda manteve algum grau de supervisão, pois seu agente continuou
na equipe. Flávio Costa continuou vetado, deixando claro que o comando de
Hollanda nessa segunda missão não foi absoluto.
Outras interpretações podem ser aceitas. Fico com essa.
O que podemos aferir com certeza é que a presença de dois grandes
personagens dessa história não foi contínua, muito menos onipresente.
A segunda missão foi encerrada na tarde do dia 05/12. E aqui se acabam os
relatórios da OP, pelos menos os conhecidos.
A água corre implacável pela baia do Marajó e os corpos luminosos também
corriam sobre a baia do Sol e região. Não iria terminar assim.
O RELATÓRIO PERDIDO
A Bola de Futebol Americano
Dezembro de 1977, após o encerramento da segunda missão.
O coronel Uyrangê Hollanda no célebre depoimento a Revista UFO deixou
eufóricos ufólogos mundo afora quando de seu relato sobre um imenso corpo
44. CORPOS LUMINOSOS
34
luminoso, segundo ele, uma nave de cerca de 100 m de comprimento e o formato
de uma bola de futebol americano, com janelas no eixo maior. O objeto fez
variadas evoluções aéreas muito próximas à equipe as margens do rio Guajará.
Frisa também ter aferido a distância para determinar a proximidade do objeto,
medida em 70 metros, para constar com exatidão no relatório. Não foi uma
observação isolada, mas sim um conjunto de três observações em algumas horas.
Não temos esse relatório operacional de campo, mas as três observações estão
presentes no maior legado histórico documental da operação: o documento oficial
da Aeronáutica, chamado “Registros de Observações de OVNI”, o ROV.
Iremos explorar essa experiência detalhadamente em capítulo específico.
FAZENDA JEJÚ
Dezembro ainda iria guardar surpresas.
Um relatório do agente sobre operação realizada entre 16 e 17 de dezembro,
informa que por ordem do chefe da 2a Seção, três agentes se deslocam para a
fazenda Jejú em São Domingos do Capim para verificar uma possível área de
pouso com marcas. Os agentes fazem uma vigília no local e realizam duas
observações importantes.
Para os dias 20 e 21 de dezembro, surge um novo relatório de missão
desenvolvida na fazenda Jejú e região. Desta vez foram enviadas duas equipes sob
o comando do tenente-coronel Filemon Menezes, chefe do SNI de Belém. O
serviço secreto não só estava interessado no assunto como passou a comandar
missões, em conjunto com a 2a Seção, visto que Flávio e outros agentes da
Operação Prato estavam lá. Foram feitas novas e impressionantes observações.
OS RELATÓRIOS EXTRAS
Flávio Costa foi muito ativo na procura dos corpos luminosos durante toda a
operação e após seu fim. Produziu ao menos dezesseis relatórios do agente: quinze
chamados de “EXTRA” e um “Relatos Esparsos”. Metade deles no ano de 1978.
45. A LINHA DO TEMPO
35
Sendo dois elaborados em períodos de férias do serviço: fevereiro/março e julho,
onde usou muitas horas de observação para produzir o material. Os relatos de
informantes de 1978 também são originários das visitas constantes de Flávio a
região. A partir de novembro de 1977 passou a levar a esposa nas vigílias não
oficiais, sempre acompanhado do piloto Pinon Frias, este muitas vezes
acompanhado de Célia M. Em um relatório do agente cita frases das
acompanhantes: “lindo, trocava de cor, brilhava muito, hora vermelho, hora azul violeta, foi
a coisa mais linda que já vi (SIC) F.M.F.COSTA” e “Eu fiquei com muito medo, é muito
bonito como D. France diz, mas sei lá...eu tremia, não sabia o que fazer (SIC) C.M.”. Nada
como relatos de civis. São vívidos e repassam a emoção. Os relatos militares são
frios, sintéticos, não usam o quesito beleza, mas são confiáveis, por certo.
Pinon forneceu várias entrevistas desde 1977 e afirma que foi contratado para
trabalhar na OP porque era amigo2 do sargento Flávio Costa e piloto experiente3
da aviação comercial. É fato que acompanhou Flávio Costa muitas vezes em 1977
e também ao capitão Hollanda, sempre em ponto de observação na baia do Sol,
ilha do Mosqueiro. Não existe registro de Pinon em Colares, Tauá ou Ubintuba
junto aos militares em missão oficial. Sua participação parece sempre ter estado
ligada a Flávio e Hollanda e na maioria das vezes como um amigo acompanhante.
Gozava de grande prestigio com os dois: seus relatos, sozinho ou com C.M.,
entraram no ROV não como relatos de informantes, mas com status de
observações de agente, como veremos em outra oportunidade. Muitas vezes é
como se ele, Flávio e Hollanda fossem uma equipe extraoficial em vigília quase
permanente, por vários dias, sempre na ilha do Mosqueiro. Nos períodos onde
nem Hollanda nem Flávio haviam sido incluídos nas equipes de campo ou quando
as operações foram interrompidas ou encerradas, supriram essa ausência de ações
institucionais em vigílias particulares na baia do Sol. E Flávio fez questão de
informar vigílias bem sucedidas ao Chefe da 2a Seção através de seus relatórios.
Não é possível rastrear quantas vigílias não foram bem sucedidas, sem qualquer
2
Entrevista de Ubiratan Pinon Frias a Tribuna da Calha do Norte, acessível no sítio
www.fenomenum.com.br.
3
Entrevista de Ubiratan Pinon Frias a UFOVIA em 2005, sítio www.viafanzine.jor.br.
46. CORPOS LUMINOSOS
36
observação relevante e sem gerar nenhum relatório. Fica claro que os três estavam
muito empolgados.
Em entrevista de Pinon publicada no sítio Ufovia, ele relatou uma abdução
alienígena quando criança, muitos outros contatos físicos com seres extraterrestres
e conhecer pelo modo como uma luz age nos céus se são uma nave do bem ou do
mal. E diz que tinha amplo acesso ao I COMAR. Não vou entrar no mérito de ser
real ou não uma abdução, ou superestimar ou subestimar a capacidade de alguém
reconhecer naves do bem ou do mal e se naves extraterrestres são. O que me
interessa é se Pinon poderia ter um julgamento fortemente tendencioso para a
hipótese extraterrestre dos fenômenos que observavam e se isso poderia ter
influenciado Flávio e Hollanda na descrição de um fenômeno que poderia ser
explicado por uma hipótese terrestre, se não no todo, pelo menos em parte. Ou,
quando sozinho, relatado algum fenômeno sob uma ótica preconcebida, afinal,
nos registros 30 e 35 do ROV ele é a única testemunha. Nos registros 33 e 36 do
ROV está acompanhado apenas de C. M. Esse questionamento poderia ser
levantado na verdade para qualquer um dos informantes, não é uma exclusividade
para Pinon, mas é ele que está rotineiramente junto a Flávio e, em menor grau, de
Hollanda. Medir isso é impossível. Infelizmente Flávio e Hollanda estão mortos.
É significativo que das 122 observações de 1977 no “Resumo Sintético-
Cronológico”, 40 (33%) foram na baia do Sol, fora de missão e que Pinon estivesse,
na grande maioria das vezes, acompanhado de Flávio e Hollanda.
O SILÊNCIO
Após Jejú, os últimos registros de 1977 são uma série de 9 observações na baia
do Sol em Mosqueiro entre 21 e 22/12, das 20h00min às 05h20min, com origem
em relatório “EXTRA 8” do sargento Flávio, sendo 4 incorporados no ROV. E
aqui mais uma vez o quarteto Flávio, Pinon e suas acompanhantes.
Depois disso, o silêncio.
Momentos tão intensos vividos nos últimos três meses de 1977 param por 32
dias.
47. A LINHA DO TEMPO
37
Talvez uma pequena notícia no jornal O Estado do Pará nos de uma pista. Saiu
em 21 de março de 1978 com o título: “A estranha luz esta de volta a Colares”,
informando o retorno de luzes que haviam percorrido Belém e região durante os
meses de novembro e dezembro. E diz “Quase da mesma maneira como desapareceu (...)
está de volta”.
Pelo ritmo, interesse e empolgação, fica difícil imaginar nossos personagens
abandonando as vigílias todo esse tempo. Imagino terem feito várias, mas os céus
ficaram calmos, os corpos luminosos pararam de evoluir sobre a baia do Sol. Se
dermos crédito à pequena notícia de jornal, após dezembro toda a região entrou
em calmaria e as luzes sumiram do céu, mas pode não ser a melhor opção se guiar
por notícias de jornal. Para a imprensa pode ter havido uma pausa até março.
Nossos agentes voltaram a agir, em missão, no final de janeiro de 1978.
RELATÓRIO PERDIDO 2?
Qualquer que tenha sido a motivação é notável termos o retorno da “Equipe do
A2/I COMAR” no começo de 1978, no mesmo local da observação da bola de
futebol americano de 100 metros, no Rio Içui-Guajará. São 3 registros na virada
da zero hora de 23 para 24 de janeiro sobre corpos luminosos entre 1.000 a 3.000
m de distância e entre 200 a 300 m de altura. Na virada de 27 para 28 de janeiro,
uma equipe da 2a Seção faz outra vigília e dessa vez não exatamente no mesmo
local, mas em rio perto do Içui-Guajará, o Rio Laranjeiras (figura 1.6), onde fazem
duas observações.
Vale ressaltar que esses registros possuem fontes primárias. São os relatórios
extras 09 e 10 do sargento Flávio Costa, observações feitas na “companhia de amigos”.
Portanto, anotar como observações da equipe A2 fugiram do padrão adotado em
1977, quando nas demais dessa natureza (com presença de civis), era claramente
especificado no campo Observadores do registro (ROV) os nomes dos civis
presentes.
48. CORPOS LUMINOSOS
38
Colocadas como “Equipe do A2/I COMAR”, por raciocínio semelhante ao já
praticado sobre o provável relatório perdido de 1977, indicaria outro relatório de
missão oficial perdido.
Como vimos, são relatórios extras, não sob as ordens do Chefe da 2ª Seção.
Nos eventos do rio Laranjeiras, apesar do carimbo de equipe da 2a Seção, o filme
utilizado (G160asa), foi fornecido pelo dono da Taxi Aéreo Kovacs Ltda. Todas
as imagens são copias do filme Super8.
Figura 1.6 Rio Laranjeiras à esquerda e o rio Içuí-Guajará à direita. Fonte: Google
maps.
As equipes A2 seriam apenas militares e compostas por três agentes. Aqui
temos um civil responsável pela filmagem, usando um filme de particular e
provavelmente a filmadora também era. A filmadora dos militares era uma Super8
Canon a de Virgílio era uma Super8 Elmo. Os militares deveriam estar com as
máquinas fotográficas da 2a Seção, mas parece que não, pois, nenhuma fotografia
foi anexada.
Restam duas perguntas retóricas para separar o provável relatório perdido do
Rio Guajará de 1977 do improvável relatório perdido de 1978:
• Sendo missão oficial, por que não foram utilizados os recursos do I
COMAR, como filmes e máquinas?
49. A LINHA DO TEMPO
39
• Por que foi utilizado um piloto de aviação como cinegrafista e não
pessoal próprio, numa missão oficial e secreta da 2ª Seção?
Essas perguntas me fazem não ter convicção para sugerir a existência de um
segundo relatório oficial de missão perdido no Rio Guajará. Tivemos sim, duas
vigílias particulares, com amigos e recursos não oficiais, posteriormente relatadas
e sancionadas.
BRASÍLIA NA LINHA
Os registros continuaram sendo coletados devido ao esforço pessoal do
sargento Flávio Costa com seus relatórios extras, mas em número cada vez menor.
Dia 28/11/78 traz a última observação classificada como OVNI na área de
abrangência do I COMAR e incluída no documento “Registros de Observações de
OVNI”, compilado entre fins de 1978 e início de 1979 a pedido do Ministério da
Aeronáutica e do seu Estado Maior– EMAER.
Em 25/07/78, o Estado Maior da Aeronáutica – EMAER, ao qual estava
subordinado o I COMAR, enviou ofício circular4 com novos procedimentos
relativos aos informes sobre Objetos Voadores Não Identificados - OVNI. Essa
era uma recomendação originária de nota5 oficial emitida pelo Ministro da
Aeronáutica, de 13/04/78.
A Nota do Ministro
A nota do Ministro Joelmir Campos de Araripe Macedo é muito interessante,
começando por afirmar (cópia no fim do capítulo):
4
ARQUIVO NACIONAL CÓDIGO: BR AN,BSB ARX.0.0.220, ofício 191/1SC/C-554.
5
ARQUIVO NACIONAL CÓDIGO: BR AN,BSB ARX.0.0.220, nota C-002/Min/Adm.
50. CORPOS LUMINOSOS
40
“As ocorrências vindas a público sobre o aparecimento de “Objetos Voadores
Não Identificados” – OVNI – no espaço aéreo brasileiro, têm, ultimamente,
aumentado de freqüência e parecem lastreados por testemunhas de relativa
insuspeição.”
“Forçoso é reconhecer que algo de estranho vem preocupando as atenções do
grande público, das autoridades e do mundo científico, face às frequentes incursões
de OVNI na atmosfera terrestre.”
O Ministro faz uma digressão sobre o fenômeno OVNI pela II Guerra
Mundial e o interesse da Luftwaffe (força aérea alemã) nos relatórios sobre OVNI
dos seus pilotos e o tratamento recente da questão nos EUA, onde a USAF (força
aérea americana) encerrou seus estudos dizendo que não havia risco à segurança
nacional.
Recomenda ao EMAER a organização de um “Registro de OVNI” e de uma
“Comissão de Avaliação”, composta por “elementos isentos de idéias ou opiniões
preconcebidas”.
O documento é ótimo. O Ministro da Aeronáutica, Tenente-brigadeiro
reformado Joelmir Macedo de fato considera o assunto sério e espinhoso quando
diz abertamente para se evitar explicações do fenômeno sem base científica ou se
expor ao ridículo.
O ministro, no entanto, acabou caindo numa armadilha por suas próprias
crenças, acreditando num conto da carochinha contado por Henry Durrant em
sua obra “O Livro Negro dos Discos Voadores” de 1970. O ministro cita na nota uma
organização alemã ligada a Luftwaffe chamada “Sonder buro Nr.13” que cuidava de
uma tal “Operação Uranus” para estudo dos discos voadores. É uma fraude aplicada
por Durrant e reconhecida pelo próprio6. Não invalida a importância da nota, mas
implica na credulidade no fenômeno e, principalmente, nas pessoas, manifestada
claramente no parágrafo inicial da nota acima reproduzida, quando chama a
atenção para o lastreio do famoso fenômeno por testemunhos. Um erro cometido
continuamente pela comunidade ufológica.
6
Fonte: Ceticismo Aberto.
51. A LINHA DO TEMPO
41
O Ministro tinha 69 anos, carioca, havia ocupado importantes cargos na
administração federal. Diretor da fábrica de aviões do Galeão e da Fábrica
Nacional de Motores, membro do Conselho Nacional de Petróleo, diretor de
Engenharia e de Rotas Aéreas da Aeronáutica. Sua última função antes da
aposentadoria compulsória e posterior nomeação para ministro da aeronáutica foi
a presidência da Comissão de Construção do Aeroporto Supersônico, no Galeão.
Ofício do EMAER
O Chefe do Estado Maior da Aeronáutica dá providências às recomendações
do Ministro através de ofício em 25/07/78, determinando que qualquer
ocorrência, independente da cadeia de subordinação, deve ser relatada aos
Comandos Aéreos Regionais (COMAR), devendo esses órgãos registrar,
investigar e remeter os relatórios diretamente ao Chefe do Estado Maior.
No inventário do Arquivo Nacional, foi possível determinar uma sequência
temporal do ofício do EMAER tramitando pelos órgãos do ministério (tabela 1.1).
Data N0
Identificação De Quem Para Quem
25/07/78 191/1SC/C-554 EMAER COMGAR7
07/08/78 15/A-2/C-382 COMGAR COMAR
14/08/78 009/A-2/78 COMDA8
1ª
ALADA9
17/08/78 006/SEC/C-266 DEPV10
SRPV-RJ
25/10/78 006/A-2C-0033 V COMAR EMAER
22/11/78 065/1SC/221178 EMAER I COMAR
28/11/78 011/A2/C-829 II COMAR COMGAR
14/12/78 050/A-2/C-654 EMGAR11
EMAER
14/02/79 04/A2/C-0101 I COMAR EMAER
Tabela 1.1 Documentos no Arquivo Nacional associados ao ofício 191/1SC/C-
554 do EMAER em 25/07/78; em negrito os relacionados ao I COMAR.
7
COMGAR: Comando Geral do AR, a cargo das atividades operacionais da Força Aérea. A ele ficam
subordinados os Comandos Aéreos Regionais – COMAR.
8
COMDA: Comando Aéreo de Defesa Aérea. Em 1995 virou o atual COMDABRA, Comando de Defesa
Aeroespacial Brasileiro, responsável por realizar a defesa do Território Nacional.
9
1ª
ALADA: Primeira Ala de Defesa Aérea, na época equipada com caças interceptadores Mirage III e
sediados na Base Aérea de Anápolis. Posteriormente virou 1o
GDA, Grupo de Defesa Aérea.
10
DEPV: Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Voo cabia dirigir, orientar, coordenar e controlar as
comunicações, tráfego aéreo, navegação, meteorologia, foto técnica e cartografia.
11
EMGAR: Estado Maior do COMGAR.
52. CORPOS LUMINOSOS
42
O Radiograma
Até novembro de 1978 o I COMAR não havia enviado suas ocorrências ao
Estado Maior. Fato estranho. Brasília sabia há muito tempo sobre a Operação
Prato. O CISA - Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica, subordinado ao
Ministro da Aeronáutica, esteve diretamente envolvido na segunda missão.
O EMAER enviou um radiograma com uma ordem direta ao I COMAR em
22/11/78 (figura 1.7), solicitando urgência.
Figura 1.7 Radiograma 065/1SC/221178 de 22/11/78 do EMAER para o I
COMAR. Arquivo Nacional, código de referência BR AN,BSB ARX.0.0.187.
Passarem-se meses depois do radiograma e somente em 14/02/79 o I
COMAR enviou por ofício ao EMAER (cópia no fim do capítulo), o espetacular
documento “Registros de Observações de OVNI”12, com o resumo de 130 casos,
contendo croquis, registros fotográficos, frames de super8 e mapas, entre relatos
12
ARQUIVO NACIONAL CÓDIGO: BR AN,BSB ARX.0.0.184.
53. A LINHA DO TEMPO
43
de informantes e observações militares, tornando-se até hoje o mais importante
documento do gênero no país e talvez no mundo.
Talvez um dia saibamos os motivos do brigadeiro Protásio, comandante do I
COMAR, reter por tanto tempo as informações, numa clara afronta ao chefe do
EMAER. Fato é que um novo presidente-general assumiria em menos de um mês
e haveria troca no comando da Aeronáutica. E já era público nessa data o nome
do novo Ministro da Aeronáutica.
ROV: REGISTRO OFICIAL
É preciso deixar claro. O documento “Registros de Observações de OVNI” – ROV
foi elaborado a partir dos dados coletados pela 2ª Seção do I COMAR e a pedido
formal do Estado Maior da Aeronáutica, o EMAER.
O Comandante do I COMAR brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira
respondeu a solicitação em 14/02/1979 através de ofício ao Chefe do Estado
Maior da Aeronáutica enviando uma “pasta colecionadora” com os 130 registros de
OVNI do ROV, informando estar enviando os registros catalogados no período
de 02/09/77 a 28/11/78.
Na coletânea de casos temos o humanoide do rio Guajará, a nave da médica
de Colares, os diversos voos supersônicos testemunhados por oficiais e sargentos,
o objeto sobre Hollanda e os agentes do SNI, dentre vários outros eventos
relatados por civis e observados pelas equipes da 2ª Seção. Não se pode alegar que
o brigadeiro Protásio tenha vetado a inserção de algum evento, afinal, outras
ocorrências estranhas estavam relatadas na coletânea. Além disso, era a grande
oportunidade do brigadeiro fazer chegar a Brasília oficialmente, os frutos de um
trabalho patrocinado por ele, de natureza altamente delicada, de tal sorte que exigiu
a oportunidade certa para enviá-lo aos escaninhos brasilienses do Ministério de
Aeronáutica, ganhando visibilidade. Os ventos da política no regime mudavam e
um novo presidente e ministro da aeronáutica seriam empossados. A solicitação
do EMAER era a pedida certa, desde que enviado no momento certo, e pareceu
ser o momento da transição de poder o mais adequado para ele. Por isso, não
54. CORPOS LUMINOSOS
44
tenho dúvidas constar no ROV a observação da nave em formato de bola de
futebol americano relatada por Hollanda em sua entrevista. E ela está lá, com
imagens, bem menos glamorosas que as relatadas na entrevista de 1997.
Outro detalhe importante pode ser retirado do ofício de envio da coletânea
ROV. Junto a ele há uma folha de encaminhamento mostrando que a pasta
colecionadora foi retirada do Arquivo da “Discoteca”. Fora a referência
espirituosa, significava existir um arquivo geral e maior sobre o assunto, onde
deveriam estar as demais fotos não anexadas ao ROV e os filmes super8. Não sei
se posteriormente esse material, principalmente os filmes, foram enviados a
Brasília. Não tenho um registro oficial em mãos.
Esperemos um dia as autoridades liberem esses vídeos e todo o restante do
material ainda secreto, para a sociedade brasileira.
55. A LINHA DO TEMPO
45
NOTA DO MINISTRO
Nota do Ministro da Aeronáutica C-002/Min/Adm de 13/04/78,
página 1/3.
57. A LINHA DO TEMPO
47
OFÍCIO DO I COMAR
Ofício 04/A2/C-0101 do I COMAR ao EMAER de 14/02/79.
58. CORPOS LUMINOSOS
CAPÍTULO 2
FORÇAS AÉREAS VERSUS OVNIS
Se há uma atividade com grandes possibilidades de encontros com corpos
luminosos não identificados é a aviação. E nela, a militar é a única preparada para
persegui-los e combatê-los.
Antes de continuar a escrever sobre a Operação Prato, quero levar ao leitor
duas experiências internacionais, nas quais Forças Aéreas em dois continentes se
confrontaram com fenômenos aéreos incomuns. Uma nos EUA em 1948 e outra
no Irã em 1976.
Nessas duas experiências, militares da aeronáutica de seus países perseguiram
no ar ou no solo estranhas luzes até hoje inexplicáveis, com consequências
enormes para os envolvidos e deixando rastros através de documentos produzidos
no meio militar. São os grandes clássicos: caso Mantell e o incidente em Teerã. São
59. CORPOS LUMINOSOS
49
intensos, registrados, testemunhados por muitas pessoas. E são contestados como
sempre, mas não é uma tarefa fácil desconstruir esses dois eventos.
O caso Mantell é o mais antigo e mais estudado, mas também é o caso
submetido a maior campanha de desconstrução que conheço. Relegado há décadas
como um erro do piloto que teria perseguido o planeta Vênus ou, como
posteriormente alegado pela Força Aérea, um balão, esta história trouxe descrédito
a esse clássico de consequências extremas: a morte.
O Incidente Mantell possui algumas similitudes com o nosso caso. Também é
antigo, com décadas de existência, as testemunhas militares da aeronáutica. Foram
produzidos documentos oficiais que durante os transcorrer dos anos foram sendo
liberados ou descobertos pelos investigadores. Durante muito tempo foi analisado
superficialmente. Investigações modernas contam uma história muito diferente e
resgatam a verdade e a honra do jovem tenente Mantell.
O Incidente em Teerã é chocante, tão diferente, tão extremo e fundamentado que
pouco se pode fazer para descredenciar a experiência. As similitudes no caso são
a presença de intensos corpos luminosos, velozes, manobrando inteligentemente
e um dos pivôs do evento, piloto e general da Força Aérea iraniana falar
abertamente sobre a ocorrência. Há documentos oficiais.
O CASO MANTELL
O Acidente
Em 07 de Janeiro de 1948 às 15h18min se choca no solo o caça de fabricação
americana Mustang P-51D matando o capitão Thomas Mantell Francis Jr da
Guarda Aérea Nacional do EUA, no estado do Kentucky, após perseguição a um
OVNI.
Este é um dos mais famosos casos da Ufologia mundial, com forte impacto na
imprensa americana e quando o assunto OVNI na sociedade estava em alta.
O caso Mantell está bem documentado e nos últimos anos novos documentos
oficiais da Força Aérea dos EUA vieram a público jogando novas luzes sobre os
60. FORÇAS AÉREAS VERSUS OVNIS
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eventos ocorridos em 07 de Janeiro de 1948. Logo após o acidente foi produzida
extensa documentação sob a supervisão de um investigador civil enviado pelo
quartel-general em Wright Patterson, membro do recém-inaugurado "Project
Signal". Esse projeto foi a primeira iniciativa de investigação oficial da Força Aérea
americana, para investigar objetos voadores não identificados, sediado na Base
Aérea em Wright-Patterson, estado de Ohio. Funcionou por sete meses1,
incluindo o período do acidente de Mantell. O investigador deixou ordens claras
para que nenhum outro relatório fosse produzido sem autorização expressa2.
No final do mês de janeiro, dia 21/01/48, a Força Aérea emitiu um “Report of
Major Accident”3, relatório de acidente grave. Houve uma revisão do caso em 1952
pelo “Air Technical Inteligence Center” - ATIC da Força Aérea, feita pelo chefe do
projeto para investigação de OVNIs da Força Aérea, “Project Blue Book”, Edward
Ruppelt. O Projeto Livro Azul foi o terceiro estudo sistemático de OVNIs levado
a cabo pela Força Aérea dos EUA, funcionando de 1952 a 1970.
Começarei o relato do caso pelos registros e análises feitas por Ruppelt
publicadas em seu livro4 de 1955.
O Relatório de Ruppelt
Mantell (figura 2.1a) era o líder de um voo de quatro aeronaves P-51 (figura
2.1b) que partiram da Base Aérea de Marietta, Atlanta, Geórgia e que estavam em
aproximação da Base Aérea Godman nas proximidades de Louisville, Kentucky e
que foi acionado pela torre de controle da Base para auxiliar na identificação de
um objeto nos céus da região.
Duas horas antes, às 13h15min, a torre de controle de Godman recebeu
telefonema da Polícia Rodoviária do estado sobre a observação de um objeto
circular de 250 metros a 300 metros de diâmetro por pessoas nas cidades de
1
Swords, M. D; Project Sign and the Estimate of the Situation; Journal of UFO Studies, New Series,
Vol. 7, 2000.
2
Project Blue Book Arquive: MAXW-PBB3-714.
3
Project Blue Book Arquive: USAF-SIGN1-309.jpg, 310.jpg, 311.jpg e 312.jpg.
4
The Report on Unidentied Flying Objects, Edward J. Ruppelt, 1955.
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Maysville e vinte minutos depois outro telefonema informando que também nas
cidades Owensboro e Irvington o mesmo acontecia. Como a Base Aérea de
Godman fica entre Maysville a leste e Owensboro a oeste, cidades separadas por
mais 300 km de distância (figura 2.2), os dois controladores da torre especularam
que o objeto poderia voltar e ser avistado, o que de fato aconteceu.
Figura 2.1a Capitão Mantell. Figura 2.1b P-51D Mustang da Guarda Nacional
Crédito: UPI de Michigan. Crédito: Força Aérea EUA
Sem poderem identificar o objeto como avião ou balão meteorológico, eles
chamaram o oficial de operações. A essa altura, a informação sobre o objeto correu
a Base e vários oficiais acudiram a torre, entre eles o oficial de inteligência e o
Comandante da Base, coronel Hix. Estavam perplexos e pensando como agir.
Então, avistaram o voo liderado pelo capitão Mantell; das quatro aeronaves, por
motivos que deverão ser mais bem analisados a frente, somente a de Mantell
empreendeu a perseguição. Ao avistar o objeto, Mantell teria proferido a frase:
“(...) 'it appears to be metallic object....of tremendous size....directly ahead and
slightly above....I am trying to close for a better look.”
Traduzindo livremente, “parece ser um objeto metálico.... de tamanho enorme....
diretamente em frente e um pouco acima.... Eu estou tentando fechar para ver melhor.”. A frase
consta de documento conjunto da Inteligência da Força Aérea e da Marinha,
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altamente secreto, chamado “Analysis of Flying Object Incidents in The U.S.”5 de
10/12/48, descoberto em 1985 graças aos esforços de Robert G. Todd6. No livro
de Ruppelt, ele não consegue identificar pelos relatos a verdadeira frase e usa uma
variação da acima citada.
Figura 2.2 Mapa da região da Base Aérea Godman, pelo google maps.
No relatório oficial, a conclusão foi de que Mantell perseguira o planeta Vênus
ou um balão e a queda no solo devido à perda de consciência do piloto causada
por baixo teor de oxigênio (hipóxia) na altitude acima de 20.000 pés (6.600 m).
Outro documento de 10/11/48 oriundo do departamento de inteligência
aponta para o verdadeiro pensamento da Força Aérea e como o acidente era
considerado: inexplicável7.
A Revista “Life” Movimenta o Caso
Quase cindo anos depois, em abril de 1952, a revista LIFE publica uma matéria
de H. B. Darrach Jr e Robert Ginna com o título “Have we visitors from space?”, algo
5 Reprodução disponível no endereço http://nicap.org/docs/airintelrpt100-203-79.pdf.
6 Robert Greer Todd, 1953 – 2007: especialista na recuperação de documentos do governo
americano, ufólogo e estudioso do Caso Roswell.
7 Project Blue Book: USAF-SIGN7-26, USAF-SIGN7-27, USAF-SIGN7-28.
Base Aérea
Godman
Owensboro
Maysville
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como: temos visitantes do espaço? Inclusive com direito a chamada de capa e,
diga-se, muito bem acompanhada pela foto de Marilyn Monroe. Uma sugestão aos
leitores e leitoras: visite o sítio da extinta LIFE mantida pela revista TIME, lá está
hospedada uma apresentação com a reprodução de várias páginas de diversas
edições entre 1952 e 1962 com matérias sobre Marilyn, use o endereço
http://life.time.com/icons/marilyn-the-life-covers-1952-1962.
Na matéria que despertou novamente o caso Mantell para a Força Aérea, os
repórteres fizeram uma análise de dez casos entre 1947 e 1952 e confrontaram
suas investigações na sede do Centro de Inteligência Técnica da força área - ATIC,
onde obtiveram auxílio de um “expert” em UFO, que se acredita tenha sido o
próprio Ruppelt, além de fontes no Pentágono. O caso Mantell não é um dos dez
casos, e sim citado introdutoriamente como um dos fatos de amplo conhecimento
e declara que a Força Aérea o considera ainda não resolvido. Após a matéria, o
Pentágono solicita a ATIC uma reanalise do caso a Ruppelt. Ao final ele chega à
conclusão que Vênus estaria descartada pela pouca luminosidade que naquela
região, dia e hora o planeta teria e não seria compatível com a observação pelo
pessoal da torre de controle de Godman. Então, faz a suposição do lançamento
de um balão skyhook, meteorológico para altas altitudes, utilizado pela Marinha
americana para pesquisa atmosférica, com cerca de 100 m de diâmetro, lançado na
Base Aérea de Clinton County, sul de Ohio. Suposição sem confirmação pela
central que supervisionava todos os lançamentos dos skyhook. Analisou ventos,
fez algumas conjecturas e deu o veredito de que Mantell e demais observadores
haviam visto um balão meteorológico skyhook. E assim ficou enterrado por mais
de 60 anos uma explicação científica do incidente. Além disso, Mantell foi acusado
de ter agido de modo emocional, saindo em perseguição a toda potência do motor,
desrespeitando as normas vigentes quanto a voo de altitude sem máscara de
oxigênio, colocando a sua vida em risco e não comunicar aos outros P-51 as suas
intenções, que eram a perseguição do OVNI em alta altitude.
Felizmente para a memória do capitão Thomas Mantell Francis Jr, uma nova
investigação foi levada adiante a partir de 2006 e em 2010 novas revelações
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contestam a versão oficial, a de Ruppelt e a dos pilotos em voo com Mantell
naquela tarde.
Primeiro: Mantell estava equipado com máscara e oxigênio; segundo: não
houve nenhum lançamento de balão skyhook na área e terceiro: seus colegas de
voo o abandonaram no transcurso da missão de forma criminosa.
Essas informações constam de um extenso trabalho publicado e disponível no
sítio da antiga NICAP8, chamado “The Mantell Incident – An Anatomy of an
Investigation”, de 2010, por Francis Ridge, coordenador e arquivista do sitio da
NICAP, Jean Waskiewicz e Dan Wilson, incluindo uma análise independente de
Brad Sparks, pesquisador ufológico reconhecido, especialista no envolvimento da
CIA no assunto UFO e nos documentos do antigo Projeto Livro Azul, iniciativa
da Força Aérea americana para investigação de UFOs entre 1952 e 1970.
As investigações descobriram antigos documentos oficiais e analisaram outros
já conhecidos, empreendendo análises cientificas aos dados existentes e chegando
a conclusões importantes que resgatam o incidente da credulidade em planetas
brilhantes e balões skyhook para explicar a perseguição a um OVNI que levou a
morte o capitão Mantell.
As Investigações da NICAP
Revelações: Oxigênio
O relatório do acidente em sua página 2 afirma que o sistema de oxigênio
estava em funcionamento e apenas não havia sido verificado antes do voo porque
a missão dos P-51 seria de baixa altitude. Documento cadastrado no sitio do
“Project Blue Book Arquive”, USAF-SIGN1-310 afirma "Oxygen system was not serviced.
System was in working order."
8 National Investigations Committee On Aerial Phenomena: Comitê Nacional de Investigação de
Fenômenos Aéreos – foi um grupo civil de pesquisa de objetos voadores não identificados entre 1956
e 1980. Em 1980 teve sua a última publicação de seu boletim. A organização foi dissolvida no final
daquele ano. Arquivos de casos de avistamentos de UFO da NICAP foram posteriormente adquiridos
pelo Center for UFO Studies (CUFOS).
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O fato de não ter sido verificado ou completado o nível de oxigênio nos
sistemas antes do voo, pode ter levado a Mantell estimar erroneamente a
disponibilidade dele quando subiu acima de 14.000 pés, altitude em que pelo
regulamento o piloto deveria usar a máscara de oxigênio, mas isso não significa
que Mantell desobedeceu ao regulamento e intempestivamente saiu à caça de um
UFO de modo desembestado e irresponsavelmente como as declarações públicas
da Força Aérea afirmaram. Segundo Brad Sparks, o mesmo relatório em sua página
4 contradiz o afirmado anteriormente, dizendo que não havia oxigênio no sistema
de Mantell, o que indica uma mudança na história que os militares decidiram
contar ao público, mas a tentativa de acobertamento vazou pelas suas rachaduras.
Revelações: Skyhook
Ruppelt defendeu a tese do balão skyhook (figura 2.3) em 1952 e acabou sendo
a tese mais aceita nos anos seguintes. No entanto, o engenheiro Charles Moore
que trabalhava para a fabricante dos skyhook, disse que em seus registros o
primeiro balão a ser lançado no campo de Clinton County foi em 09/07/51. Além
disso, esses balões meteorológicos não eram classificados como segredo como se
dá a entender por Ruppelt, sendo objeto de reportagens no New York Times entre
1946 e 1947 e na revista Popular Science de maio de 1948, sendo a matéria à
chamada de capa da edição. A matéria é extensa e ilustrada com muitas imagens e
já fazia a pergunta: são balões secretos os discos voadores?
Houve um balão skyhook de 70 pés (+-23 metros) lançado um dia antes da
queda de Mantell em Minnesota, com trajetória bem conhecida e que estava
distante o suficiente para não poder ser observado pelo pessoal na torre de
controle de Godman nem por Mantell.
Quando foi solicitado a Mantell para se aproximar na tentativa de identificar o
objeto, dos quatro P-51, um retornou a base de Standiford Field, pois estava com
pouco combustível e Mantell segue em perseguição acompanhado pelos outros
dois P-51, pilotados pelos tenentes Clements e Hendricks. Aqui neste ponto, há
muitos dados conflitantes entre os dados fornecidos por Ruppelt, pelos relatórios