O documento discute a Abordagem Integral de Ken Wilber, que busca integrar diferentes áreas do conhecimento como ciência, espiritualidade e arte. A Abordagem Integral é comparada a um mapa abrangente que mostra as dimensões internas da consciência e sua relação com a percepção externa.
1. A abordagem integral estudo aquilo é fundamental para que se enxergue o mundo, ou mundos, e
com eles suas alegrias e reveses.
Estuda a Consciência.
Seu principal articulador.
Ken Wilber (Kenneth Earl Wilber Jr.), nascido em 31 de Janeiro de 1949, Oklahoma City (EUA), é um
famoso pensador e criador da Psicologia Integral, e de forma mais geral um importante fundador e
divulgador do Movimento Integral.
Mesmo sendo considerado um fundador da escola da Psicologia Trans-pessoal, ele se dissociou dela.
Em 1998 Wilber fundou o Instituto Integral (Integral Institute), organização que reúne os inúmeros
trabalhos nas questões sobre a ciência e a sociedade de maneira integral. Ele tem sido pioneiro no
desenvolvimento da Psicologia Integral, da Política Integral, Administração Integral - e, mais
recentemente, na proposta de uma nova Espiritualidade Integral.
Sua obra concentra-se basicamente na integração de todas as áreas do conhecimento (ciência,
autoajuda, arte, ética e espiritualidade). Parte da intuição que todas as perspectivas contem uma
parte da verdade e que para uma aproximação desta é necessário a inclusão do maior numero
possível de pontos de vista. Com grande cuidado em unir ciência e religião, Wilber se apoia em sua
própria experiência e na de diversos místicos de algumas das grandes tradições de sabedoria, tanto
ocidentais quanto orientais. Seu trabalho traz de volta elementos da Sabedoria Perene, a linha de
sabedoria por detraz de todas as religiões e ciências, como sendo uma das bases da Abordagem
Integral, bem como fundamentos científicos de todas as ciências e linhas de pesquisa do
conhecimento, como por exemplo sua releitura trans-pessoal da psicologia analítica de Carl Gustav
Jung.
Por analisar e comparar profundamente tantas áreas do conhecimento de forma metódica e
abrangente e com acolhimento incomum, Wilber encontrou grandes generalizações unificadoras
que se aproximam de nossos instintos, sentimentos, pensamento e espiritualidade fundamentais do
que é a inexprimível “Verdade”. Por ser um modelo sempre em mutação, acolhedor de todas as
possíveis visões de mundo que se apresentem, e demonstra que todas as perspectivas podem existir
sem conflito num espaço Integrativo que oferece um lugar para cada coisa, explicita sua relação,
valor e pertencimento a um todo maior. Assim como também demonstra o constante fluir de tudo
em um movimento constante, energético e evolutivo, na direção de uma maior cooperação e
integração, seja dos átomos, seja das almas.
O mundo visto apenas a partir de sua múltiplas formas e fenômenos, como o que observamos “la
fora” não nos dá uma linha de sentido. Podemos disseca-lo ao infinito que após arrancarmos pedras
de pedras não vamos ver nada ali, e vamos nos perguntar por que passei tanto tempo criando
desertos? Os fatos e formas mesmo que se conectem aqui ou ali parecem não ter em si nenhum
significado muito maior. Vemos desconexões e fragmentações, mais que as conexões e
integralidade, por que o próprio olhar que treinamos até agora tem sido separativo e cortante.
Fracionando o mundo deparamo-nos com incoerências e inconsistências, que são do nosso olhar e
não do mundo. Partilhamos a intuição fundamental, de que esse mundo é na sua realidade mais
básica uma coisa integrada. Sentimos que existe uma unidade em tudo e por isso nos angustiamos e
não nos conformamos com o aparente estado geral de desintegração e de dificuldades. Começamos
2. a nos perguntar além da racionalidade, numa busca de algo além não aquém do racional, e isso é
algo que está acontecendo de uma forma muito ampla, nas ciências e nas humanidades, bem como
nas assembleias e nas praças, e nas intimidades. Por que enxergamos as coisas como as enxergamos,
por que pensamos como pensamos, e quais são os efeitos e as consequências disso, em que
dimensões e por que somos conscientes de qualquer coisa.
Esse questionamento nos leva a “olhar o nosso olhar”, e surpreendentemente essa ampliação de
“um passo atras”, ou acima, ou além, oferece algumas explicações interessantes sobre nossas
limitações e potencialidades. No nosso olhar o mundo e na nossa construção de nossa identidade
individual existem tantas chaves para a nossa liberação de sofrimento, para nosso
“empoderamento” diante das situações, do nosso encontro com a apreciação intima e feliz daquilo
que tudo nos cerca, do simples prazer de desfrutar da vida, e compartilhar, e construir, e se entregar
sem medo, mas também sem ilusão ou cobrança.
Todos nós desejaríamos um encantamento, uma oração, uma equação, uma estruturação que nos
desse controle sobre o mundo, que nos permitisse realizar desejos e sonhos. E quando a gente olha
lá bem fundo são desejos até simples, abundancia, paz, segurança, pertencimento, reconhecimento,
realização. Necessidades, enfim, que a gente busca a partir de nosso entendimento e cultura
encontrar de formas mais concretas. Todas essas são formas, válidas, pelas quais buscamos a
felicidade, mas por vezes os caminhos que tomamos para encontra-las são equivocados, ineficientes,
ou pensamos, tão difíceis que a gente simplesmente abre mão de ir além.
Não diria que a Abordagem Integral é mais um modo de controlar a vida, as pessoas ou os eventos.
Ela oferece uma forma de flexibilizar tantas coisas rígidas e estagnadas em nós que eu nem saberia
dizer qual é o melhor dos seus benefícios e em que forma sua aplicação se realizara em você.
A abordagem integral trabalha em tantos níveis mostrando que não existe um só caminho, mas
existe um impulso que é algo que nos leva a superar, a não se conformar com acomodações e
limites, assim como nos conecta a própria história que o cosmos está contando a 13 e meio bilhões
de anos.
A isso tem se chamado impulso evolutivo, mas existem grandes resistências a essa terminologia, que
parece dizer que existe um destino final para esse processo da vida e que o que ficou para traz no
tempo e na história parece ter perdido o “valor”. Isso para as religiões parece querer dizer que Deus
teria criado algo imperfeito, já que existe um destino de busca de aperfeiçoamento, e mesmo a
ciência parece lutar com esse dilema ao propor que todas as possibilidades de todas as
potencialidades existem ao mesmo tempo em infinidades de Universos e dimensões... Nesse caso eu
tenho que me ater ao que eu percebo na esfera do meu agora, esperando que meu mapa (e mente)
me conduza a entender isso melhor mais adiante e se abram quando chegar o momento.
Pois a teoria integral se propõe a ser um mapa, o melhor possível com o que a gente sabe no
momento dessas dimensões internas e sua relação com nossa percepção externa. Um mapa que tem
a capacidade de registrar e demonstrar os espelhamentos, níveis, linhas e manifestações da
consciência. Consciencia que tem tantas colorações de experiência e sensação, e por onde passam
todas as impressões que chamamos de vida, de existência. Consciencia pela qual, e onde,
percebemos problemas e dilemas, criando ou nos deparando com estes, onde vemos o infinito ou o
microscópico, onde somos supersticiosos, científicos, amorosos, dançarinos. Onde sentimos o vento,
o amor, a dúvida, o divino.
Nossa separação do mundo surge com a consciência da dualidade, nossa reintegração ao mundo
passa pela consciência amadurecida na não dualidade. Sem consciencia somos igual ao chão, só
3. potencia, mas indiferente e insensível. Fora dela não existe coração pra amar, nem céu para
alçarmos o voo máximo em direção as estrelas. Tudo surge e some na consciência, inclusive aquilo
que nós somos, onde estamos e o que fazemos.
O lugar onde tudo acontece para nós por mais aparentemente desconectada uma coisa da outra é a
consciência, e é essa a linha que liga tudo e a tudo dá sentido. O mundo não é algo lá fora
independente de que somos conscientes, o mundo é algo através do qual experimentamos as
dimensões da consciência, suas potencialidades e características e que surge ao olhar a partir e não
independentemente delas.
Se a gente imaginar a consciência como o mundo, ou mais reduzidamente, como a cidade em que
vivemos, e para isso vamos imaginar uma cidade muito grande onde rola de tudo, tudo mesmo.
Pode ser que a gente ande muito bem no bairro em que a gente nasceu, e no outro pro qual a gente
se mudou quando casou, e o caminho do trabalho e pra onde quer que a gente vá no tempo de lazer
e nas férias seja bem conhecido. Você não tem um mapa disso, no papel, mas tem na sua mente e
poderia traça-lo bem. Muita gente talvez possa pensar, e já foi o caso de dizer, isso é o mundo,
depois dessas bordas e fora desses caminhos não tem mais nada, nada que interesse, nada que
valha a pena. Quando a gente fecha o mundo assim os nossos mares se assombram com monstros e
sereias. Tem um dito que a natureza detesta o vácuo, logo o preenche com algo, talvez seja mais
correto dizer que a mente detesta o vácuo, o desconhecido além de fronteiras imaginárias, e o
enche como consegue, nos limites de sua imaginação.
Por isso às vezes andando nos caminhos traçados e gastos a gente vê na borda um Boitatá, um
Curupira, uma coisa que assusta, um ET voando no Céu, rachaduras, coisas que causam estranheza
no nosso mapa limitado. Pode se manifestar como o comportamento mudado dum filho, uma
dificuldade no trabalho, doença, qualquer coisa que infrinja nessas fronteiras. Muitos creio, vão
aceitando o desafio, ampliando a mente e o coração seguindo além, desbravando, explorando, e
dando muita cabeçada no processo, tem sido assim. Vamos redescobrindo a roda e a pólvora, ou
simplesmente nos sentindo muito sós no processo. No Budismo existe a figura de MahaRaja, que
representa a impossibilidade da gente ficar quieto no conforto da ignorância, na manutenção de
fronteiras rígidas que dizem aqui sou, aqui não sou. Um processo de impermanência e criatividade
que olhando por esse “passo além” é o processo de toda a humanidade, de explorar sua
potencialidade e superar apegos e limitações (a maioria auto impostas, por acomodamento,
ignorância, preguiça), e de criar mundos sem fim. Saber que existem lugares comuns entre nossas
experiências pessoais únicas nos aproxima, bem como nos dá ferramenta para supera-las. Como já
disse o cerne, a linha comum desse lugar compartilhado é a consciência. Todos somos conscientes,
autoconscientes, e capazes de ir além como, por exemplo, entender que o outro é portador de
consciência e sentimentos, e além entender que compartilhamos essa “comonalidade”.
Ter fé, por entender, que esse processo nos leva a crescer, a ir além de limites que não são reais faz
muita diferença no “aproveitamento da lição” por assim dizer.
Voltando ao mapa, imagine se houvesse um mapa que te mostrasse atalhos para chegar ao trabalho,
e desempenha-lo com mais desembaraço, ou que te mostrasse lugares incríveis na sua cidade que
você estava achando tão chata, e além disso te desse permissão e condição pra ir no show da sua
vida, e dançar sem inibição ou culpa com todo mundo que você ama até ficar azul e roxo como você
nem lembrava mais ser possível. E mostrasse os pontos altos que você pode subir pra ver sua casa e
sua vida de modos que você não imaginava, e encontrar relações entre seus caminhos, e ver um
horizonte arejado, sem medos e sem fim. E que esse mesmo mapa mostrasse que não tem nada de
errado com teu lugar e teus caminhos, e que não tem nada de errado com o lugar e com os
caminhos de ninguém. E ao mostrar as limitações e características do seu, do meu, e do caminho do
4. outro a gente passasse a entender por que agimos assim, por que o outro age assim. E por entender
os horizontes e desafios de cada um, a gente conseguisse mais poder pra se comunicar e se
entender, mais força para agir sem agredir ou diminuir, mas com capacidade pra encontrar um
caminho comum. É um desafio enorme o nosso no presente, e para isso estamos
recebendo/materializando os meios, eles existem, estão aí, a abordagem integral é um deles.
(As imagens vem de mapas muito antigos
Lascaux
Piri Reis
World Political Map
A imagem é da terra completa)
Um meio que tem sido usado para explicar uma coisa assim tão abstrata e aparentemente racional
(não é racional - é trans-racional – só parece assim por que o método que tem que ser usado é esse
– palavra, ciência, conversação) é apresentar a ideia que a Abordagem integral é um Mapa. Um
grande mapa abrangente dos campos da consciência e pensamento. Um mapa especial, e um tanto
audacioso, por que até o momento existiam muitas coisas obscuras e invisíveis nesse campo da
consciência, percepção, e o funcionamento de nossos processos internos. A ciência e a psicologia
ocidentais, somadas ao conhecimento das tradições espirituais tem permitido vislumbrar esses
territórios e compartilhar esse conhecimento por meio de “mapas”. A abordagem integral quer ser
o mapa mais abrangente e completo (não o mapa absoluto – isso é impossível, pois o Universo se
desdobra de modo aberto e imprevisível para nós)
Imagine que se você quisesse chegar a um lugar, você não sabe bem qual é, mas como nun sonho
você tem que chegar lá. Voce entra numa viela, é a primeira esquina que pode te levar na direção
que você está sendo chamado, seu norte é pra lá. A viela se estreita, a esquerda um bar, uma
casinha ali, uma parede no fim. Não é o caminho. Voce retorna, tenta de novo no dia seguinte,
mesma coisa, acaba caindo lá de novo, sem saída. E assim vai indo dia após dia teus passos te levam,
você acaba ficando ali mesmo, esquece até de voltar pra rua principal. Se você tivesse um mapa
talvez descobrisse que se você virasse mais a frente a esquerda e parasse por um tempo na
academia de dança, pra aprender uns passos, e depois fosse até o ponto do ônibus que te levaria até
outra cidade, e dali, enfim e dali seu caminho fluiria melhor e mais desimpedido, eu acho que era
bom achar esse mapa.
Claro que um mapa não resolve tudo, o território é dentro da gente, e a exploração e experieniação
desse lugar depende da gente se dedicar e se movimentar. Por vezse a gente descobre que o mapa
manda a gente esperar, enquanto os outros andam, ou que seria melhor a gente fazer o que
absolutamente nãose sente inclinado a fazer, enquanto para outros a receita é seguir o que deseja.
Enfim não é um mapa com um destino único, ou que proponha uma salvação. Acho que propõe uma
saúde, uma redescoberta de energias e dimensões as vezes deixadas de lado. As vezes um caminho
travado vai se abrir com tanto influxo de energia, as vezes tem que se andar de volta uns passos. São
muitas possibilidades e a sua você vai lendo e escrevendo nesse mapa, enquanto redescobre suas
potencialidades e se liberta de limitações que não são reais.