4. GOVERNO DO ESTADO GOVERNO DO MUNICÍPIO Sindicato da Indústria da Construção
DE SÃO PAULO DE SÃO PAULO Civil de São Paulo - SindusCon-SP .
José Serra Gilberto Kassab
Governador Prefeito Sergio Tiaki Watanabe
Presidente
Secretaria de Desenvolvimento Secretaria do Verde e do Meio Ambiente
do Município de São Paulo
Geraldo Alckmin Cristiano Goldstein
Secretário Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho Delfino Paiva Teixeira de Freitas
Secretário
Francisco Antunes de Vasconcellos Neto
Instituto de Pesquisas Tecnológicas
Haruo Ishikawa
do Estado de São Paulo
José Antonio Marsiglio Schuvarz
João Fernando Gomes de Oliveira
José Carlos Molina
Diretor Presidente
José Roberto Pereira Alvim
Luiz Antônio Messias
Álvaro José Abackerli
Marcos Roberto Campilongo Camargo
Diretor de Operações e Negócios
Maristela Alves Lima Honda
Altamiro Francisco da Silva Mauricio Linn Bianchi
Diretor Financeiro e Administrativo Odair Garcia Senra
Paulo Brasil Batistella
Walter Furlan Vice-presidentes
Diretor de Processos e Tecnologia da Informação
José Batista Ferreira
Denise Andrade Rodrigues
José Roberto Alves
Diretora de Gestão Estratégica
Luís Gustavo Ribeiro
Luiz Cláudio Minniti Amoroso
Paulo Piagentini
Renato Tadeu Parreira Pinto.
Ricardo Beschizza
Ronaldo de Oliveira Leme
Silvio Benito Martini Filho
Diretores regionais
6. Construindo cidades e protegendo florestas
Manter em pé a floresta amazônica é es- Por isso, proteger a floresta é proteger o seu
sencial não só para que a atividade empre- negócio. A aquisição de madeira certificada
sarial do setor madeireiro seja sustentável FSC e de fontes controladas é fundamental:
em longo e médio prazos, mas também para reduz o risco de quem compra e contribui
assegurar padrões mínimos de qualidade de para a conservação das florestas. O setor
vida para os brasileiros. Se eliminarmos a da construção civil, o maior consumidor de
floresta, substituindo-a por pasto, plantações madeira tropical do país, precisa se consci-
ou área urbana, enfrentaremos, cada vez entizar de que não somente a qualidade e
mais, os problemas causados pelas mudanças os custos da madeira são importantes, mas
climáticas, como inundações, falta de água e também a origem. É preciso adotar políticas
poluição do ar, entre outros. de compras responsáveis, restringindo a
aquisição de madeira de desmatamento e de
A atividade madeireira ilegal e predatória, as- fontes ilegais ou desconhecidas.
sim como as queimadas e o desmatamento ile-
gal, tem provocado a destruição da Amazô- Para que essa mudança de comportamento
nia. Em menos de 50 anos, quase 20% da das empresas e dos consumidores seja
cobertura florestal da região já desapareceu. incentivada, é necessário adicionar um
ingrediente fundamental: informação. Por
Para os empresários do setor madeireiro e esta razão, consideramos estratégico o
das indústrias compradoras de madeira, como trabalho pioneiro do Instituto de Pesquisas
a construção civil, a floresta é importante Tecnológicas (IPT). Em parceria com o
fonte de matéria-prima. Portanto, conservar SindusCon-SP e com a Secretaria Municipal
a Amazônia é condição fundamental para a do Verde e Meio Ambiente de São Paulo,
continuidade do negócio em longo prazo. o IPT compilou uma série de dados úteis
para os compradores de madeira no setor da
construção civil.
7. Em tempos de drásticas alterações no clima
do planeta, é dever do setor produtivo
procurar matérias-primas certificadas que
valorizem as florestas e, consequentemente,
contribuam para a redução de gases do
efeito estufa. Este manual é uma importante
ferramenta no apoio ao uso sustentável das O WWF-Brasil é uma organização não-governa-
mental brasileira dedicada à conservação da natureza
florestas brasileiras.
com os objetivos de harmonizar a atividade humana
com a conservação da biodiversidade e promover o
Boa Leitura. uso racional dos recursos naturais em benefício dos
cidadãos de hoje e das futuras gerações. O WWF-
Denise Hamú Brasil, criado em 1996 e sediado em Brasília,
desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede
Secretária-geral
WWF, a maior rede independente de conservação
WWF-Brasil da natureza, com atuação em mais de 100 países e
o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo
associados e voluntários.
A Rede WWF vem trabalhando com empresas
do mundo inteiro para que produzam e consumam
madeira de forma sustentável. Por intermédio do
Programa SIM , o WWF-Brasil tem trabalhado em
parceria com empresas florestais para melhorar a
forma como manejam as florestas. Entre os associados
do Programa estão algumas empresas no estado do
Acre e o Grupo de Produtores Florestais Certifica-
dos na Amazônia (PFCA).
8. Dever de todos
Maior floresta tropical do mundo, a Amazô- A exploração madeireira na Amazônia é
nia é um patrimônio ambiental que está um dos vetores que mais contribuem para
presente diariamente na economia e na vida o avanço desse desmatamento, abrindo
dos brasileiros. fronteiras em áreas de floresta intocadas,
criando infra-estrutura de acesso a essas
Cerca de 20% de toda água doce dis- regiões e facilitando a conversão do seu solo
ponível no planeta encontra-se na bacia para uso agropecuário. Além disso, calcula-se
amazônica. As chuvas provenientes desta que 80% do total de madeira produzida
região têm grande responsabilidade no abas- na região todos os anos seja ilegal. A maior
tecimento de água das grandes metrópoles e parte desta produção é consumida pelo
na geração de energia, e sua regularidade e mercado interno brasileiro, tendo como
abundância propiciam ao Brasil posição de principal destino a construção civil. Para a
destaque como um dos maiores produtores indústria madeireira, a madeira proveniente
de alimentos do mundo. Porém, até 2008, do desmatamento, ilegal ou não, é estrategi-
mais de 720.000 km² da Amazônia já tinham camente um mau negócio para o setor, pois
sido desmatados, uma área equivalente a significará a extinção deste valioso recurso em
quase três vezes o tamanho do Estado de curto espaço de tempo. Os danos causados
São Paulo. O desmatamento da Amazônia, por este modelo de exploração são, muitas
além de colocar em risco sua sobrevivência, vezes, irreversíveis.
contribui para fazer do país o quarto maior
emissor de gases de efeito estufa do planeta, Mudar nossos padrões de consumo e
já que 75% de nossas emissões são proveni- produção, banindo o uso de madeira ilegal
entes do uso do solo e do desmatamento de e de desmatamento, e substituindo-as por
nossas florestas. produtos provenientes de planos de Manejo
Florestal com certificação FSC é funda-
mental não apenas para a conservação da
9. Amazônia, mas também para a sobrevivência
econômica das populações que dependem
dos recursos da floresta. Adquirir madeira
certificada, além de garantia de procedência,
significa também respeito às leis trabalhistas,
fiscais e aos direitos e costumes das popula-
ções tradicionais.
O Greenpeace é uma organização global e inde-
O trabalho apresentado a seguir, realizado
pendente que atua para defender o meio ambiente
pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas
e promover a paz, inspirando as pessoas a mudarem
(IPT), juntamente com o SindusCon-SP (Sin- atitudes e comportamentos. Defendemos soluções eco-
dicato da Indústria da Construção Civil do nomicamente viáveis e socialmente justas, que ofereçam
Estado de São Paulo) e com a Secretaria do esperança para esta e para as futuras gerações.
Verde e do Meio Ambiente do Municipío de
Por não aceitar doações de governos, empresas ou
São Paulo, é uma importantíssima ferramenta partidos políticos, o Greenpeace existe graças à
para essa mudança. É fundamental apresentar contribuição de milhões de colaboradores em todo o
soluções e alternativas a todos que querem mundo, que garantem nossa independência e o nosso
compromisso exclusivo com os indivíduos e com a
ajudar a salvar a Amazônia.
sociedade civil. Hoje, o Greenpeace está presente
em mais de 40 países e conta com a colaboração de
O futuro do Brasil depende do futuro de nos- aproximadamente 3 milhões de pessoas.
sas florestas. Combater o desmatamento, ex-
plorando os recursos naturais de forma consciente
e responsável é econômica e estrategicamente
fundamental para o desenvolvimento de nosso
país, e um dever de todos nós.
Marcelo Furtado
Diretor Executivo
Greenpeace Brasil
10. Sim, é possível!
Sim, é possível usar a floresta sem destruir mente adequada, socialmente justa e economica-
a natureza! Produzir de forma sustentável, mente viável. O PFCA se orgulha de comunicar
gerando emprego, renda e cuidando do meio que o Brasil tem a maior área certificada da
ambiente. O Grupo de Produtores Florestais América Latina. Fazer parte dessa história de
Certificados na Amazônia (PFCA) acredita transformação é uma vitória.
firmemente nisso. E foi assim que, em janeiro
de 2003, foi criado o primeiro grupo do Hoje, somos um seleto grupo de empresas com
gênero no Brasil, composto por empresas que áreas de florestas, cadeias de produção e as-
possuem florestas certificadas, que fabricam sociações que defendem e trabalham dentro do
produtos certificados (Cadeia de Custódia) conceito da certificação. Nos anima saber que
e por comunidades tradicionais que realizam o somos incansáveis na busca de novos associados
manejo florestal de acordo com os padrões do que compartilhem conosco a missão de cons-
FSC - Forest Stewardship Council. truir um novo cenário na Amazônia. De forma
incessante, buscamos práticas mais sustentáveis,
Pioneiro, o PFCA surgiu em resposta à através da permanente troca de experiências e
crescente demanda por madeira certificada, do avanço em questões relevantes de pesquisa
tanto no mercado interno quanto no externo. florestal.
E nasceu com o firme propósito de difundir
práticas sustentáveis na Amazônia, a exemplo Os nossos resultados são uma clara demonstra-
do manejo florestal: uma alternativa viável para ção de que um trabalho sustentável é viável na
uso dos recursos da floresta. Amazônia. É prova de que é possível, sim, a
integração do homem com o meio ambiente, em
Outra prática incentivada pelo PFCA é a um respeito mútuo, duradouro e numa relação de
Certificação. O conhecido Selo Verde facilita harmonia com o meio ambiente e seus recursos.
bons negócios em todo o mundo e representa
a certeza de que a produção é ambiental-
11. Conscientes de que manter a floresta viva Associação dos Seringueiros de
é fundamental não apenas para as empresas PORTO DIAS
madeireiras, mas para sobrevivência de todo
o planeta, apoiamos integralmente o trabalho Comunidade Kayapó na Terra Indígena do
desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Baú - (TI-Baú)
Tecnológicas (IPT), em parceria com o
SindusCon (Sindicato da Indústria da Cons- Cikel Brasil Verde S.A.
trução Civil) e com a Secretaria Municipal
do Verde e Meio Ambiente de São Paulo. Eldorado Exportação e Serviços Ltda.
Oferecer informação e alternativas para o
uso sustentável da floresta é, sem dúvida, IBL - Izabel Madeiras do Brasil
uma fundamental ferramenta para construir-
mos um admirável mundo novo. Juruá Florestal Ltda.
Fazem parte do PFCA: Mil Madeireira Itacoatiara Ltda. (Precious
Wood Amazon)
APRUMA - Associação dos Produtores
Rurais em Manejo Florestal e Agricultura Orsa Florestral Ltda.
Associação de Moradores e Produtores do Tramontina Belém S/A
Projeto Agroextrativista Chico Mendes –
AMPPAEM Vitória Régia Exportadora Ltda.
Associação Comunitária Agrícola de Extra-
tores de Produtos da Floresta – ACAF
12. O CBCS Conselho Brasileiro de Construção O CBCS entende que o Manual elaborado
Sustentável tem como objetivo induzir o setor pela SVMA é um instrumento que vem
da construção a utilizar práticas mais susten- colaborar para a conscientização e levar infor-
táveis que venham melhorar a qualidade de mação à sociedade, para o uso racional e sus-
vida dos usuários, dos trabalhadores e do tentável da madeira, especialmente ao ressaltar
ambiente que cerca as edificações. os cuidados que devem ser tomados no seu
uso. E, ainda, ao alertar que os fornecedores
Neste sentido, defende a necessidade do e beneficiadores devem ter comprovação da
uso racional e sustentável da madeira na cons- origem da madeira e, de preferência, serem
trução civil, minimizando os impactos na ex- certificados por um sistema que, efetivamente,
tração, beneficiamento, utilização e destinação garanta o manejo florestal, origem e a rastre-
de resíduos. O uso racional deve considerar abilidade do produto, e os aspectos legais da
aspectos como qualidade; durabilidade; evitar cadeia de custódia.
desperdícios, quer seja na sua fabricação,
quer na sua utilização; e o uso de produtos A iniciatva da SVMA / IPT e SindusCon-
para preservação da madeira que não causem SP de editar a segunda edição do Manual
danos ao meio ambiente e à saúde humana. demonstra a importância cada vez mais pre-
sente deste tema. E cabe ao CBCS apoiar e
Questões socioambientais também são essenci- divulgar este trabalho.
ais, como o combate à informalidade; o manejo
CBCS - é uma organização da sociedade civil sem fins
sustentável de nossas florestas; as florestas
lucrativos (OSCIP) que tem por obejtivo contribuir
plantadas, o transporte e a comercialização
para a promoção do desenvolvimento sustentável por
da madeira devem ser feitos por empresas meio da geração e disseminação de conhecimento e da
responsáveis, que cuidam da segurança e mobilização da cadeia produtiva da construção civil,
qualidade de vida dos funcionários, zelam pela de seus clientes e consumidores
preservação da biodiversidade (fauna e flora),
combatem o desmatamento ilegal e prezam por
sua integridade empresarial.
14. Sumário
1. Introdução.............................................................................................. 14
2. Você sabe de onde vem a madeira que você consome?...................................... 16
3. Usos da madeira na construção civil............................................................. 20
4. Produtos de madeira................................................................................. 23
5. Indicação da madeira para construção civil.................................................... 40
6. Fichas tecnológicas de madeira.................................................................... 50
7. Qualidade da madeira............................................................................... 78
8. Gestão ambiental para o controle de cupins subterrâneos na construção civil............ 87
9. Referências bibliográficas.............................................................................. 90
10. Glossário............................................................................................... 95
15. 1. Introdução
O desmatamento na região amazônica e Saber a procedência da madeira mostra-se
suas conseqüências em relação às mudanças assim fundamental no momento da compra do
climáticas no planeta, hoje, são repercuti- produto. Um consumidor consciente precisa
dos internacionalmente como o principal ter idéia de todo o processo para saber se,
problema ambiental do Brasil. Outras com sua compra, está ajudando a manter a
regiões do país muitas vezes percebem Floresta Amazônica de pé ou contribuindo
este desmatamento como algo distante de para a continuidade do desmate.
seu dia-a-dia, embora contribuam indireta-
mente para esta situação. A maior parte da Existem inúmeros empreendimentos florestais
produção madeireira da Amazônia, segundo que adotam padrões internacionais de procedi-
o IMAZON – Fatos Florestais – 2005, mentos que têm como objetivo principal con-
é consumida no Brasil - cerca de 64% de ciliar o uso da floresta e a conservação de seus
toda a madeira produzida na Amazônia é recursos naturais. Nestes empreendimentos,
consumida por brasileiros. O Estado de São a exploração da madeira de forma ambiental-
Paulo é o maior consumidor, respondendo mente correta, socialmente benéfica e eco-
por 15% do consumo nacional, sendo que, nomicamente viável se consolida em importante
dentre os principais setores consumidores, ferramenta para a manutenção da floresta.
destaca-se a indústria moveleira e a cons-
trução civil. A madeira, acompanhada de provas docu-
mentais que garantam sua origem legal e não
Ao adquirirmos um produto cuja matéria- predatória, se constitui em produto susten-
prima tem origem na exploração predatória e tável, natural e oriundo de uma fonte plena-
ilegal dos recursos florestais, também dividi- mente renovável - a floresta. Reconhecida há
mos a responsabilidade pela degradação do muito como amiga da humanidade, a madeira
meio ambiente e, através de nossas escolhas, deve ser reapresentada à sociedade atual
podemos interferir para que nossas florestas como alternativa ecológica a materiais como
não sejam destruídas de forma predatória. metais, plásticos, compostos de cimento e
14
16. semelhantes às das espécies tradicionais e
outros que, em sua produção, utilizam como
apresentando os novos mecanismos dis-
fonte de energia a própria madeira e, em
poníveis no mercado, que garantem ao
seus ciclos de vida, acarretam incomparáveis
consumidor consciente a aquisição de uma
impactos ambientais. Quando utilizada na
matéria-prima de origem legal, extraída de
fabricação de bens duráveis como móveis,
maneira responsável e não predatória.
objetos de decoração e nas nossas habita-
ções, se constitui em ferramenta para fixação
É o resultado da ação conjunta da Gerência
do carbono, contribuindo para a redução do
de Ecoeconomia da Secretaria do Verde e
aquecimento global.
do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal
de São Paulo, do Centro de Tecnologia de
A incorporação de espécies alternativas
Recursos Florestais do Instituto de Pesquisas
ao processo de escolha e especificação da
Tecnológicas e do Comitê de Meio Ambiente
madeira empregada nas atividades da
do Sindicato da Indústria da Construção Civil
construção civil, em contraposição aos
do Estado de São Paulo. Contribuíram tam-
impactos ambientais causados pelo uso inten-
bém para a elaboração da presente publicação
sivo e constante de determinadas espécies,
profissionais de importantes e expressivas enti-
se traduz em importante passo do setor
dades e empresas, como o Grupo de Produ-
produtivo que mais consome este insumo no
tores Florestais Certificados na Amazônia, da
país para a preservação e a sustentabilidade
Coordenação do Programa Cidade Amiga da
das florestas brasileiras.
Amazônia da Associação Civil Greenpeace
e da Coordenação do Programa de Apoio
Este guia que você tem em mãos amplia o
ao Desenvolvimento Sustentável WWF-Bra-
conhecimento de profissionais da construção
sil. Agradecemos também aos profissionais,
e de consumidores que buscam informações
entidades e empresas que colaboraram para a
sobre este importante produto, oferecendo
1ª edição deste manual. Ressalvamos que a
espécies alternativas com propriedades
elas não cabe nenhuma responsabilidade pelo
texto final.
15
17. 2. Você sabe de onde vem a madeira que você consome?
Estimativas indicam que entre 43% e 80% da uso sustentável. Não pode haver desmatamento
produção madeireira da região amazônica seja apenas para acessar madeira de forma mais fácil.
ilegal, advinda de áreas desmatadas ou exploradas O interessado deve protocolar uma solicitação jun-
de forma predatória e insustentável. Em média, tamente com documentação sobre a propriedade,
75% dessa produção é destinada ao mercado in- mapas e estimativa do volume das espécies florestais
terno. Assim, há uma grande chance de que todas que serão comercializadas, com base em inventário
ou grande parte das empresas que usam madeira florestal amostral.
da região amazônica estejam involuntariamente
utilizando madeira de origem ilegal ou predatória. Mesmo assim, o desmatamento não pode ocorrer
em toda a propriedade. Na Amazônia Legal, 80%
Diante da exploração extrativista sem planos de da área total da propriedade deve permanecer com
manejo adequado das matas nativas, que retira cobertura vegetal original, é a chamada Reserva
grandes volumes de apenas algumas espécies Legal (RL), onde são permitidos usos sustentáveis
definidas pelo mercado, a floresta não consegue se como manejo para produção de madeira e para
recompor naturalmente na mesma velocidade. produtos florestais não-madeireiros.
De acordo com a legislação brasileira pode-se ex- Para transportar a madeira da floresta é necessário
trair madeira da floresta de duas maneiras: a partir portar o Documento de Origem Florestal (DOF),
de manejo florestal ou da conversão de áreas de emitido pelo IBAMA, ou documento correlato
florestas em outros usos do solo, como agricultura emitido pelo Órgão Estadual de Meio
e pecuária, por meio do desmatamento. Ambiente (OEMA). Quando emitido pelo
OEMA, não obrigatoriamente será chamado de
O desmatamento deve ser autorizado (autorização DOF, mas deverá seguir os princípios gerais do
de desmate) por um órgão ambiental estadual ou DOF, documento que atesta a origem do carrega-
pelo IBAMA. A conversão de florestas em áreas mento, neste caso, um desmatamento autorizado.
abertas somente pode ocorrer se for destinada ao O DOF é obtido pela internet. Cada estado pode
16
18. optar por desenvolver um sistema semelhante ao - Por meio de exploração extrativista: explorando
DOF, que deverá ser aprovado pelo Governo comercialmente apenas as espécies com valor de
Federal, ou utilizar a plataforma disponibilizada mercado, sem projetos de manejo.
pelo IBAMA. A partir desta plataforma pode-se
2.2. Manejo florestal
realizar o controle eletrônico dos saldos de madeira
de cada plano de manejo florestal, semelhante a O aproveitamento das florestas naturais ou
uma conta corrente bancária, por meio do cruza- plantadas, através de Projeto de Manejo Florestal
mento automático de dados com controle fiscal. aprovado pelo IBAMA, é a forma correta de
utilizar estes recursos naturais, por partir do
2.1. Fontes de matéria prima (florestas nativas princípio de sustentabilidade, ou seja, prevendo
e plantadas) uma utilização que permita a recomposição da
floresta de uma determinada área, viabilizando-a
As fontes das madeiras tão desejadas são: econômica, socialmente e ambientalmente.
2.1.1. Florestas plantadas: 2.3. Recomendações para sua obra
que se destinam a produzir matéria-prima para as Oitenta por cento da produção de madeira
indústrias de madeira serrada, painéis à base de da Amazônia é destinada ao mercado interno
madeira e móveis, cuja implantação, manutenção e brasileiro. A oferta de matéria-prima centraliza-se
exploração seguem projetos previamente aprovados principalmente em poucas espécies, exercendo
pelo IBAMA. uma pressão muito grande sobre as florestas
nativas. Diante deste quadro são recomendáveis
2.1.2. Florestas nativas: as seguintes práticas:
que são exploradas para atender o mercado de
madeiras de duas formas:
- Por meio de manejo florestal: através da explora-
ção planejada e controlada da mata nativa.
17
19. 2.3.1. Projetos e Especificação da Madeira: certificadas são monitoradas no mínimo a cada ano
a) ao projetar e especificar o tipo da madeira a ser e sempre precisam apresentar desempenho superior
utilizada é importante que sejam consideradas as ao do ano anterior.
características das peças a serem detalhadas, evitan-
do excesso de cortes e emendas. Procure adequar o Estão disponíveis no Brasil o Sistema de Certifica-
projeto às peças com medidas de mercado; ção Florestal Brasileiro do INMETRO (CER-
b) Para a especificação do tipo da madeira, FLOR) – para mais informações sobre o Sistema
consulte no capítulo 6 deste manual as espécies CERFLOR visite www.sbs.org.br – e o Sistema
que mais se adequam a seu projeto. do FSC – Forest Stewardship Council (Conselho
de Manejo Florestal) –, que certificam a produção
2.3.2. Aquisição: adequada ambientalmente. Também existem hoje
a) Adquirir madeira somente de empresas que organizações não-governamentais que buscam ori-
possam comprovar a origem da mesma através de entar as empresas interessadas em ter um controle
um plano de manejo aprovado pelo IBAMA, sobre a origem da madeira que consomem. Um
com a apresentação de nota fiscal e Documento de desses programas é oferecido pelo WWF-Brasil,
Origem Florestal – DOF; denominado Sistema de Implementação e Veri-
b) Outra opção é adquirir madeira de origem ficação Modular (SIM), baseado em avaliações
comprovada através de Certificação Florestal. da cadeia de suprimento de uma empresa por
auditores independentes e tem como objetivo
Certificação Florestal determinar a origem da madeira consumida pelas
A certificação florestal é uma ferramenta de mer- empresas associadas.
cado que atesta que uma determinada empresa ou
comunidade maneja suas florestas de acordo com O Programa SIM do WWF-Brasil faz parte da
padrões (regras) pré-definidos e acordados entre Rede Global de Floresta e Comércio (GFTN,
os diversos setores da sociedade. Os sistemas de Global Forest & Trade Network em inglês).
certificação são a melhor garantia de legalidade e A GFTN é resultado de uma parceria que reúne
um consórcio de organizações não-governamentais
utilização racional das florestas, porque requerem lideradas pela rede WWF, empresas e comu-
um cumprimento de normas que vão além da nidades. O objetivo é demonstrar liderança,
legalidade. Na prática, empresas de comunidade implementar melhores práticas e promover atuação
18
20. 2.3.3. Uso na obra
responsável nas áreas de manejo e comércio flo-
restal. A GFTN se insere na estratégia global do a) Procure utilizar as peças de acordo com o
WWF de combate à atividade madeireira ilegal e projeto, e na falta deste, de forma a evitar perda
de melhoria do manejo das florestas ameaçadas. com cortes desnecessários;
b) verificar a possibilidade do reúso das peças,
Para mais informações sobre o Programa SIM e a ou seja, utilizar uma mesma peça mais de uma vez,
Rede GFTN visite www.wwf.org.br/sim. dando-lhe uma sobrevida, o que significa economia
de dinheiro e matéria-prima
Para o WWF-Brasil o sistema de certificação com
2.3.4. Destinação de resíduos de madeira
maior credibilidade é o do Conselho de Manejo
Florestal (FSC), maior e mais antigo sistema de A resolução do Conselho Nacional do Meio Am-
certificação florestal em todo o mundo, presente em biente n° 307 considera os geradores de resíduos
todos os continentes em mais de 80 países. da construção civil responsáveis pelo seu destino
e deverão ter como objetivo primordial a não
Para mais informações sobre a certificação florestal geração de resíduos e secundariamente, a redução,
FSC, visite www.fsc.org.br a reutilização, a reciclagem e a destinação final.
c) Não recorrer somente a espécies tradicio- Os estados e municípios estão elaborando suas
nais, buscando neste Manual alternativas com as políticas de gestão de resíduos, onde estão previs-
mesmas características técnicas entre as madeiras tas a implantação de ATTs – Áreas de Transbordo
de reflorestamento e mesmo de outras espécies de e Triagem, para onde deverão ser encaminhados os
mata nativa, porém que não estejam, no momento, resíduos da construção civil para que possam ser
sob pressão de exploração, desta forma agregando segregados, reutilizados, reciclados ou tenham a
valor econômico a espécies pouco conhecidas. correta destinação.
19
21. 3. Usos da madeira na construção civil
Na construção civil, a madeira é utilizada de diversas formas em usos temporários, como: fôrmas
para concreto, andaimes e escoramentos. De forma definitiva, é utilizada nas estruturas de cober-
tura, nas esquadrias (portas e janelas), nos forros e nos pisos.
Para se avaliar comparativamente esses usos é apresentado na tabela 1 o consumo de madeira
serrada amazônica pela construção civil, no estado de São Paulo, em 2001.
Tabela1 - Consumo de madeira serrada amazônica pela
construção civil, no estado de São Paulo, em 2001.
Usos na Construção Civil Consumo
1000 m³ %
Estrutura de Cobertura 891,7 50
Andaimes e formas para concreto 594,4 33
Forros, pisos e esquadrias 233,5 13
Casas pré-fabricadas 63,7 4
Total 1783,3 100
Fonte: Sobral et al. (2002)
20
22. Nessa tabela observa-se que o uso em Para atender a esses usos na construção
estruturas de cobertura representa metade da civil os principais centros demandantes de
madeira consumida no estado de São Paulo. madeira serrada, localizados nas Regiões Sul e
Neste uso, são empregadas peças simples- Sudeste, se abasteceram durante décadas com
mente serradas, como vigas, caibros, pranchas o pinho-do-paraná (Araucaria angustifolia)
e tábuas. Tais produtos são comercializados e a peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron),
em lojas especializadas, conhecidas como explorados nas florestas nativas dessas regiões.
depósitos de madeira, e destinam-se principal-
mente à construção horizontal, ou seja, casas e Com a exaustão dessas florestas, o suprimento
pequenas edificações (Sobral et al., 2002). de madeiras nativas passou a ser realizado,
em parte, a partir de países limítrofes, como
Na mesma tabela pode ser visto que a o Paraguai, porém de forma mais significativa
madeira usada em andaimes e fôrmas para a partir da Região Amazônica. As madeiras
concreto representa 33% da madeira con- de pinus (Pinus spp.) e eucalipto (Eucalyptus
sumida no estado de São Paulo. Neste tipo spp.), geradas nos reflorestamentos implan-
de uso, a construção verticalizada é a principal tados nas Regiões Sul e Sudeste, também
demandante, com aproximadamente 485 mil passaram a suprir a construção habitacional.
metros cúbicos anuais. Este valor representa
80% da madeira consumida nesse segmento Tais mudanças têm provocado a substituição
da construção civil (Sobral et al., 2002). do pinho-do-paraná e da peroba-rosa por
outras madeiras desconhecidas dos usuários,
O quadro completa-se com a madeira às vezes inadequadas ao uso pretendido.
utilizada em forros, pisos e esquadrias, A implantação de medidas visando o uso
partes da obra em que a madeira sofre forte racional e sustentado do material madeira deve
concorrência de outros materiais, e em casas considerar desde a minoração dos impactos
pré-fabricadas. ambientais da exploração florestal centrada
21
23. em poucos tipos de madeira, passando pelas temporários (andaimes, escoramento e fôrmas
medidas para diminuição de geração de resíduos para concreto) e as ripas e cáibros utiliza-
e reciclagem dos mesmos, até a ampliação do das em partes secundárias de estruturas de
ciclo de vida do material pela escolha correta do cobertura. A madeira de pinho-do-paraná
tipo de madeira e pelos procedimentos do seu (Araucaria angustifolia) foi a mais utilizada,
condicionamento (secagem e preservação). durante décadas, neste grupo.
Construção civil leve interna decorativa
Para atingir os objetivos deste trabalho os usos
da madeira foram agrupados como segue: Abrange as peças de madeira serrada e
beneficiada, como forros, painéis, lambris e
Construção civil pesada externa guarnições, onde a madeira apresenta cor e
Engloba as peças de madeira serrada usadas desenhos considerados decorativos.
para estacas marítimas, trapiches, pontes, obras
Construção civil leve interna de utilidade geral
imersas, postes, cruzetas, estacas, escoras e dor-
mentes ferroviários, estruturas pesadas, torres de São os mesmos usos descritos acima, porém
observação, vigamentos, tendo como referência para madeiras não decorativas.
a madeira de angico-preto (Anadenanthera
Construção civil leve em esquadrias
macrocarpa).
Abrange as peças de madeira serrada e be-
Construção civil pesada interna neficiada, como portas, venezianas, caixilhos.
Engloba as peças de madeira serrada na forma A referência é a madeira de pinho-do-paraná
de vigas, caibros, pranchas e tábuas utilizadas (Araucaria angustifolia).
em estruturas de cobertura, onde tradicional-
Construção civil assoalhos domésticos
mente era empregada a madeira de peroba-rosa
(Aspidosperma polyneuron). Compreende os diversos tipos de peças de
madeira serrada e beneficiada (tábuas cor-
Construção civil leve externa e leve interna ridas, tacos, tacões e parquetes).
estrutural
Reúne as peças de madeira serrada na forma
de tábuas e pontaletes empregados em usos
22
24. 4. Produtos de madeira
Os produtos de madeiras utilizados na de edificações, assim como a madeira roliça
construção variam desde peças com pouco empregada na pré-fabricação das chamadas
ou nenhum processamento – madeira roliça log homes.
– até peças com vários graus de beneficia-
mento, como: madeira serrada e beneficiada, A madeira roliça na região centro-sul do país
lâminas, painéis de madeira e madeira tratada é proveniente de reflorestamentos, principal-
com produtos preservativos. mente daqueles realizados com as diversas
espécies de eucalipto (Eucalyptus spp.).
4.1. Madeira roliça
A madeira roliça é o produto com menor grau Madeiras nativas na forma roliça são emprega-
de processamento da madeira. Consiste de das somente nas regiões produtoras, como
um segmento do fuste da árvore, obtido por na Amazônia, onde se destaca a acariquara
cortes transversais (traçamento) ou mesmo sem (Minquartia guianensis), pela sua resistência
esses cortes (varas: peças longas de pequeno mecânica e alta durabilidade natural.
diâmetro). Na maior parte dos casos, sequer
4.2. Madeira serrada
a casca é retirada. Tais produtos são em-
pregados, de forma temporária, em escora- A madeira serrada é produzida em unidades
mentos de lajes (pontaletes) e construção de industriais - serrarias - onde as toras são
andaimes. Em construções rurais, é freqüente processadas mecanicamente, transformando
o seu uso em estruturas de telhado. a peça originalmente cilíndrica em peças
quadrangulares ou retangulares, de menor
Neste tipo de produto também se enquadra dimensão. A sua produção está diretamente
a madeira roliça derivada dos postes de relacionada com o número e as características
distribuição de energia elétrica, em geral dos equipamentos utilizados, e o rendimento
tratados com produtos preservativos de baseado no aproveitamento da tora (volume
madeira, que é empregada em estruturas serrado em relação ao volume da tora), sendo
23
25. este função do diâmetro da tora (maiores Devido ao método de tratamento e à natureza
diâmetros resultam em maiores rendimentos). dos produtos preservativos utilizados, o pré-
-tratamento confere uma proteção superficial
As diversas operações pelas quais a tora à madeira, pois atinge somente suas camadas
passa são determinadas pelos produtos que mais externas. O pré-tratamento pode ser
serão fabricados. Na maioria das serrarias, dispensado pela indústria quando a secagem
as principais operações realizadas incluem o da madeira é feita em estufas, imediatamente
desdobro, o esquadrejamento, o destopo após desdobro das toras, e não deve ser
das peças e o pré-tratamento. considerado, pelo consumidor, como um
tratamento definitivo da madeira que vai
O pré-tratamento possui caráter profilático garantir sua proteção quando seca e em uso.
e tem por objetivo proteger a madeira recém
serrada contra fungos e insetos xilófagos, As serrarias produzem a maior diversidade
apenas durante o período de secagem natu- de produtos: pranchas, pranchões, blocos,
ral. É realizado, normalmente, por meio da tábuas, caibros, vigas, vigotas, sarrafos, pon-
imersão das pranchas em um tanque com uma taletes, ripas e outros. A tabela 2 apresenta
solução contendo um produto preservativo os principais produtos obtidos nas serrarias,
de ação fungicida e outro de ação inseticida. bem como as dimensões dos mesmos.
24
26. Pranchas e pranchões As vigotas ou vigotes são uma variação de
No desdobro, a tora sofre cortes longitu- vigas, de menores dimensões, apresentando
dinais resultando em peça com duas faces espessura de 40 mm a 80 mm e largura
paralelas entre si, mas com os cantos irregula- entre 80 e 110 mm.
res (mortos) e com casca.
A prancha deve apresentar espessura de 40 Tábuas, Caibros
mm a 70 mm e largura superior a 200 mm. As tábuas dão origem a quase todas as
O comprimento é variável. O pranchão outras peças de madeira serrada por redução
caracteriza-se por espessura superior a 70 de tamanho. Apresentam-se na forma re-
mm e largura superior a 200 mm. O com- tangular, com espessura entre 10 e 40 mm,
primento também é variável. largura superior a 100 mm e comprimento
variável, de acordo com o pedido do solici-
Vigas e vigotas tante. Estes produtos são gerados a partir de
As vigas são peças de madeira serrada toras, pranchas e pranchões.
utilizadas na construção civil. Apresentam-se
na forma retangular, com espessura maior do Os caibros, ripas e sarrafos têm múltiplas
que 40 mm, largura entre 110 e 200 mm aplicações tanto na construção civil como na
e comprimento variável, de acordo com o fabricação de móveis. Os quadradinhos são
pedido do solicitante. variações do sarrafo, com menores dimen-
sões, utilizadas normalmente para confecção
de cabos de vassoura e pincéis.
25
27. Tabela2 - Dimensões dos Principais Produtos de Madeira Serrada
Produtos Espessura (mm) Largura (mm) Comprimento (m)
Maior que 70 Maior que 200 Variável
Pranchão
40 - 70 Maior que 200 Variável
Prancha
Maior que 40 110 - 200 Variável
Viga
40 - 80 80 - 110 Variável
Vigota
40 - 80 50 - 80 Variável
Caibro
10 - 40 Maior que 100 Variável
Tábua
20 - 40 20 - 100 Variável
Sarrafo
Maior que 20 Maior que 100 Variável
Ripa
160 - 170 220 - 240 2,00 - 5,60/ 2,80 - 5,60
Dormente
75 75 Variável
Pontalete
Variável Variável Variável
Bloco
Fonte: NBR 7203 (1982)
26
28. 4.3 Madeira beneficiada No aplainamento, as sobremedidas e as
A madeira beneficiada é obtida pela irregularidades são retiradas, deixando a
usinagem das peças serradas, agregando superfície mais lisa. O molduramento faz
valor às mesmas. As operações são realizadas os cortes de encaixes – tipo macho-fêmea,
por equipamentos com cabeças rotatórias por exemplo, – no comprimento para peças
providas de facas, fresas ou serras, que usi- destinadas a forros, lambris, peças para
nam a madeira dando a espessura, largura e assoalhos, batentes de portas, entre outros.
comprimento definitivos, forma e acabamento No torneamento as peças tomam a forma
superficial da madeira. Podem incluir as arredondada, como balaustres de escadas.
seguintes operações: aplainamento, moldura-
mento e torneamento, e ainda desengrosso, As dimensões dos principais produtos usina-
desempeno, destopamento, recorte, furação, dos representados por madeira aplainada em
respigado, ranhurado, entre outras. Para duas ou quatro faces, assoalhos e forros (ma-
cada uma destas operações existem máqui- cho-fêmea), rodapés, molduras de diferentes
nas específicas, manuais ou não, simples ou desenhos, madeira torneada, furada com
complexas, que executam vários trabalhos na respigas, são apresentadas na tabela 3.
mesma peça.
Tabela3 - Dimensões das Principais
Peças de Madeira Beneficiada
Dimensões de Secção
Peça
Transversal (mm)
Assoalho 20x100
Forro 10x100
Batente 45x145
Rodapé 15x150 ou 15x100
Taco 20x21
Fonte: NBR 7203 (1982)
27
29. 4.4 Madeira em lâminas térmicas e acústicas. Adicionalmente, suprem
As lâminas de madeira são obtidas por um uma necessidade reconhecida no uso da
processo de fabricação que se inicia com madeira serrada e ampliam a sua superfície
o cozimento das toras de madeira e seu útil, através da expansão de uma de suas
posterior corte em lâminas. Existem dois dimensões - a largura - para, assim, otimizar
métodos para a produção de lâminas: o a sua aplicação.
torneamento e o faqueamento. No primeiro,
a tora já descascada e cozida é colocada em O desenvolvimento tecnológico verificado
torno rotativo. As lâminas assim obtidas são no setor dos painéis à base de madeira tem
destinadas à produção de compensados. ocasionado o aparecimento de novos produ-
Por outro lado, a lâmina faqueada é obtida tos no mercado internacional e nacional, que
a partir de uma tora inteira, da metade ou vêm preencher os requisitos de uma demanda
de um quarto da tora, presa pelas laterais, cada vez mais especializada e exigente.
para que uma faca do mesmo comprimento
4.5.1 Compensado
seja aplicada sob pressão, produzindo
fatias únicas. Normalmente, essas lâminas Os compensados surgiram no início do sécu-
são originadas de madeiras decorativas de lo XX como um grande avanço, ao transfor-
boa qualidade, com maior valor comercial, mar toras em painéis de grandes dimensões,
prestando-se para revestimento de divisórias, possibilitando um melhor aproveitamento e
com fins decorativos. consequente redução de custos.
4.5 Painéis O painel compensado é composto de várias
Os painéis de madeira surgiram da neces- lâminas desenroladas, unidas cada uma,
sidade de amenizar as variações dimensionais perpendicularmente à outra, através de
da madeira maciça, diminuir seu peso e adesivo ou cola, sempre em número ímpar,
custo e manter as propriedades isolantes, de forma que uma compense a outra, for-
28
30. necendo maior estabilidade e possibilitando O multissarrafeado é considerado o mais
que algumas propriedades físicas e mecânicas estável, seu miolo compõe-se de lâminas
sejam superiores às da madeira original. A prensadas e coladas na vertical, fazendo um
espessura do compensado pode variar de 3 “sanduíche”.
a 35 mm, com dimensões planas de 2,10 m
x 1,60 m, 2,75 m x 1,22 m e 2,20 m x Os compensados podem ou não ser
1,10 m, sendo esta a mais comum. comercializados com aplicação de lâminas
de madeira de uso mais nobre ou mesmo
Extensamente utilizado na indústria de laminado plástico. Nesses casos há sempre a
móveis e construção civil, seu preço varia necessidade de revestimento das bordas.
conforme as espécies e a cola utilizadas, com
4.5.2 Chapas de fibra: chapa dura
a qualidade das faces e com o número de
lâminas que o compõe. As chapas duras ou hardboards, cujas marcas
mais conhecidas são Duratex e Eucatex,
Há compensados tanto para uso interno são chapas obtidas pelo processamento da
quanto externo. Chapas finas de compen- madeira de eucalipto, de cor natural marrom,
sado apresentam vantagens sobre as demais apresentando a face superior lisa e a inferior
madeiras industrializadas, pois são maleáveis corrugada. As fibras de eucalipto aglutinadas
e podem ser encurvadas. com a própria lignina da madeira são pren-
sadas a quente, por um processo úmido que
São encontrados no mercado três tipos: reativa esse aglutinante, não necessitando a
laminados, sarrafeados e multissarrafeados. adição de resinas, formando chapas rígidas
Os primeiros são produzidos com finas lâmi- de alta densidade de massa, com espessuras
nas de madeira prensada. No compensado que variam de 2,5 mm a 3,0 mm.
sarrafeado, o miolo é formado por vários
sarrafos de madeira, colados lado a lado.
29
31. 4.5.3 Chapa de fibra: MDF – Chapa de malhetes e espigas, e recebe bem pregos,
densidade média parafusos e colas, desde que seguidas as
As chapas MDF – medium density fiberboard recomendações do fabricante quanto ao uso
- com densidade de massa entre 500 e 800 dos elementos corretos de fixação. Pode ser
kg/m³, são produzidas com fibras de madeira usado em móveis e na construção civil, com
aglutinadas com resina sintética termofixa, que destaque para portas de armário, frentes de
se consolidam sob ação conjunta de tempera- gavetas, tampos de mesa, molduras, pisos e
tura e pressão, resultando numa chapa maciça outras aplicações.
de composição homogênea de alta qualidade.
Estas chapas apresentam superfície plana e No mercado essas chapas são encontradas
lisa, adequada a diferentes acabamentos, em três versões: natural; revestida com
como pintura, envernizamento, impressão, laminado melamínico de baixa pressão – BP
revestimento e outros. Estes painéis possuem - de acabamento liso ou texturizado em
bordas densas e de textura fina, apropriados distintos padrões; e revestida com película
para trabalhos de usinagem e acabamento. celulósica do tipo Finish Foil - FF, apre-
sentando superfícies lisas ou texturizadas em
As chapas MDF vêm preencher grande parte vários padrões madeirados.
dos requisitos técnicos que eram deman-
dados, mas não supridos, pelas chapas de Devido ao uso relativamente especializado e
fibras em diversos usos –densidade média nobre que se prevê para as chapas MDF, a
e maiores espessuras, e pelo aglomerado, matéria-prima preferida para sua fabricação é
boas características de usinabilidade e de madeira de florestas plantadas, com carac-
acabamento, tanto com equipamentos indus- terísticas uniformes e, preferencialmente de
triais quanto com ferramentas convencionais. baixa densidade de massa e cor clara, sendo
Este tipo de painel pode ser serrado, tornea- favorecido o pinus.
do, lixado, furado, trabalhado em encaixes,
30
32. Ainda dentro deste tipo de painel, já são qualquer direção, o que permite o seu maior
produzidas e utilizadas as HDF – high aproveitamento. O aglomerado deve ser reves-
density fiberboards – que são chapas produ- tido, sendo indicado na aplicação de lâminas
zidas pelo mesmo processo a seco, como as de madeira natural e laminados plásticos.
MDF, exceto que em um valor mais alto de
densidade de massa – acima de 800 kg/m³. É amplamente utilizado pela indústria de móveis,
Este tipo de painel, revestido com materiais construção civil, embalagens, entre outros.
apropriados, destina-se à fabricação de
pisos, por exemplo. Algumas operações como fresagem, fixações,
encabeçamentos, molduras, post forming,
4.5.4 Chapas de partículas: aglomerado entre outras, requerem cuidados especiais
O aglomerado é uma chapa de partículas de com ferramentas e equipamentos. Normas e
madeiras selecionadas de pinus ou eucalipto, recomendações dever ser observadas para se
provenientes de reflorestamento. Essas obter maior uniformidade e acabamento na
partículas, aglutinadas com resina sintética instalação do produto final. Os dispositivos
termofixa, se consolidam sob a ação de alta de fixação utilizados devem ser aqueles
temperatura e pressão. As chapas aglomeradas indicados para este tipo de material, sob
são encontradas no mercado, na sua aparência pena de serem obtidos resultados finais
natural, revestidas com película celulósica do negativos caso estas recomendações não
tipo Finish Foil – FF em padrões madeirados, sejam seguidas.
unicolores ou fantasias, ou ainda, revestidas
com laminado melamínico de baixa pressão Por não apresentar resistência à umidade ou
– BP que por efeito de prensagem a quente
, à água, o aglomerado deve ser utilizado em
funde o laminado à madeira aglomerada ambientes internos e secos, para que suas
formando um corpo único e inseparável. propriedades originais não se alterem.
São chapas estáveis, podendo ser cortadas em
31
33. 4.5.5 Chapas de partículas: MDP – sos, maior estabilidade dimensional e menor
Chapa de partículas de média densidade absorção de umidade. Trata-se de nova gera-
São painéis compostos de partículas de ção de painéis de madeira industrializada com
madeira ligadas entre si por resinas de última características diferenciadas do aglomerado.
geração. Estas resinas, sob ação de pressão
e temperatura, polimerizam garantindo a O MDP é indicado para partes de móveis
coesão do conjunto. As partículas são residenciais e de escritório que não neces-
classificadas e separadas por camadas, as sitem de usinagens em baixo relevo, entalhes
mais finas sendo depositadas na superfície, ou cantos arredondados, tais como: laterais,
enquanto que aquelas de maiores dimensões divisórias, prateleiras, portas retas, frentes e
são depositadas nas camadas internas. laterais de gavetas, tampos retos e pós-for-
matos, bases superior e inferior.
Os MDPs têm a densidade elevada das
4.5.6 Chapas de partículas: OSB – Pai-
camadas superiores (950 a 1000 kg/m³
néis de partículas orientadas
em comparação a 800 kg/m³ do MDF),
o que assegura um melhor acabamento para Os painéis de partículas orientadas ou ori-
pinturas, impressão e revestimentos. Os ented strand boards, mais conhecidos como
MDPs possuem partículas menores na super- OSB, foram dimensionados para suprir uma
fície, aumentando de diâmetro da superfície característica demandada, e não encontrada,
da chapa para o miolo, o que proporciona tanto na madeira aglomerada tradicional
uma homogeneidade das camadas externas e quanto nas chapas MDF - a resistência
também internas. mecânica exigida para fins estruturais.
Os painéis são formados por camadas de
O MDP apresenta maior resistência à flexão, partículas ou de feixes de fibras com resinas
comparando-se com aglomerados e MDF, ao fenólicas, que são orientados em uma mesma
empenamento e ao arrancamento de parafu- direção e então prensados para sua consoli-
32
34. dação. Cada painel consiste de três a cinco a resistência mecânica, trabalhabilidade,
camadas, orientadas em ângulo de 90 graus versatilidade e valor fazem deles alternati-
umas com as outras. vas atrativas em relação à madeira sólida.
Entre estes usos estão mobiliário industrial,
A resistência destes painéis à flexão estática incluindo estruturas de móveis, embalagens,
é alta, não tanto quanto a da madeira sólida containers e vagões.
original, mas tão alta quanto a dos com-
pensados estruturais, aos quais substituem No Brasil, a produção de OSB é recente
perfeitamente. O seu custo é mais baixo e está restrita a apenas um fabricante. Na
devido ao emprego de matéria-prima menos construção civil já é possível ver sua
nobre, mas não admitem incorporar resíduos aplicação em obras temporárias (tapumes e
ou “finos”, como no caso dos aglomerados. alojamentos), divisórias e coberturas.
Os OSB têm a elasticidade da madeira
4.6 Desenvolvimento em madeira estru-
aglomerada convencional mas são mais
tural composta
resistentes mecanicamente.
A madeira “engenheirada” inclui produtos já
Os painéis OSB têm tido utilização no comuns em outros países, especialmente do
exterior, principalmente na construção Hemisfério Norte, mas ainda relativamente
habitacional. Nos EUA, a construção de desconhecidos entre nós, ou no máximo
casas apresenta características de uso intenso familiares apenas a uns poucos especialistas.
de madeira serrada e de painéis, especial-
mente em paredes internas e externas, pisos A madeira serrada classificada eletromecani-
e forros, e nestes usos, os painéis OSB têm camente vem a ser madeira serrada, geral-
tido bom desempenho. Mais recentemente, mente de coníferas, ensaiada não-destruti-
estes produtos estão encontrando nichos de vamente (em máquinas de alta velocidade)
uso também em aplicações industriais, onde quanto à flexão estática, e identificada
33
35. quanto à sua classe de resistência mecânica. turais compostas, como: LVL – laminated
Este produto é conhecido como machine veneer lumber, PSL – parallel strand lumber
evaluated lumber - MEL ou machine stress e OSL – oriented strand lumber.
rated - MSR. Este produto não é encon-
4.7 Outros produtos
trado neste país por várias razões, entre as
quais se inclui a falta de normatização das A tecnologia tem ampliado a gama de novos
seções transversais das peças usadas em produtos derivados da madeira, seja em
estruturas, o alto custo do equipamento e da diferentes formas, seja em combinação com
operação, além da falta de tradição no uso outros materiais, visando sempre o melhor
de madeira de coníferas para fins estruturais. desempenho do produto no fim a que se
destina, a otimização do uso da matéria-prima
Pode compor também este grupo a madeira e a redução dos custos de processamento.
laminada e colada, na qual as tábuas são
dispostas e coladas, com as suas fibras na Muitos dos processos desenvolvidos
mesma direção, ampliando o comprimento baseiam-se no emprego de matéria-prima
ou a espessura (glulam). Vigas laminadas produzida em florestas de rápido crescimen-
e coladas, fabricadas com madeiras de to, especialmente para um determinado fim.
reflorestamento - pinus e eucalipto – preser- Isto é reflexo de uma demanda especializada,
vadas contra ataque de insetos e fungos, exigente não só em relação ao desempenho
além de protegidas contra fogo e umidade, do produto, mas também em relação à sua
são um produto já encontrado no setor da aparência. Exemplos podem ser facilmente
construção civil neste país. apontados, como é o caso dos painéis MDF
produzidos com misturas de espécies, resul-
Entretanto, outros produtos, manufaturados tando em painéis de cor mais escura, logo
em maior ou menor grau de sofisticação, recusados pelo mercado mais sofisticado.
estão incluídos no grupo das madeiras estru-
34
36. 4.8 Madeira tratada com produtos
Contudo, uma vertente de interesse
preservativos
crescente tem sido a utilização de resíduos
de processamento mecânico ou químico de Preservação de madeiras é todo e qualquer
madeiras na produção de painéis, dentro do procedimento ou conjunto de medidas que
princípio de reúso ou mesmo de reciclagem possam conferir à madeira em uso maior
de materiais resistência aos agentes de deterioração,
proporcionando maior durabilidade. Estes
Exemplo recente é o desenvolvimento de agentes podem ser de natureza física, química
painéis produzidos com madeira sólida e com e biológica (fungos e insetos xilófagos), que
partículas de madeira tratada com CCA, afetam suas propriedades. Essas medidas devem
um preservante de madeira à base de cobre, ser discutidas e adotadas na etapa de elabo-
cromo e arsênio. Este material, proveniente de ração dos projetos, sendo que o uso racional
descarte, passaria a constituir-se em potencial da madeira como um material de engenharia no
contaminante ambiental. Com o reaproveita- ambiente construído pressupõe minimamente:
mento destes produtos na forma de painéis,
um potencial agente contaminante passou a • Conhecimento do nível de desempenho
constituir-se em matéria-prima, gerando outros necessário para o componente ou estrutura
produtos de alta durabilidade. de madeira, tais como vida útil, responsabili-
dade estrutural, garantias comerciais e legais,
O mercado requer produtos de bom entre outras.
desempenho, menor custo, esteticamente
agradáveis e crescentemente sadios do ponto • Escolha da espécie da madeira com base
de vista ambiental. nas propriedades intrínsecas de durabilidade
natural e tratabilidade.
35
37. • Definição das condições de exposição (uso) da madeira, por exemplo, expressa em
da madeira e dos possíveis agentes biodeterio- quilogramas de ingrediente ativo por metro
radores presentes (fungos e insetos xilófagos), cúbico de madeira tratável (kg/ m³).
ou seja, definição do risco biológico a que a
madeira será submetida. Considerando a Lei nº 4.797 de 20 de
outubro de 1965 e a Instrução Normativa
• Adoção do método de tratamento e Conjunta IBAMA e ANVISA, em fase
produto preservativo de madeira (inseticida e/ final de implementação para substituição da
ou fungicida) em função do risco biológico para Portaria Interministerial nº 292 de 20 de
aumentar a durabilidade da madeira. outubro de 1989 e Instrução Normativa
O tratamento preservativo faz-se necessário se nº5, de 20/10/92, que disciplinam o setor
a espécie escolhida não é naturalmente durável Preservação de Madeiras no Brasil, o trata-
para o uso considerado e/ou se a madeira mento preservativo de madeiras é obrigatório
contém porções de alburno. para peças ou estruturas de madeira, tais
como dormentes, estacas, vigas, vigotas,
• Implementação de controle de qualidade de pontes, pontilhões, postes, cruzetas, torres,
toda a madeira tratada com produtos preserva- moirões de cerca, escoras de minas e de
tivos para garantir os principais parâmetros de taludes, ou quaisquer estruturas de madeira
tratamento: penetração e a retenção do preser- que sejam usadas em contato direto com o
vativo absorvido no processo de tratamento. solo ou sob condições que contribuam para
A penetração é definida como sendo a profun- a diminuição de sua vida útil.
didade alcançada pelo preservativo ou pelo(s)
seu(s) ingrediente(s) ativo(s) na madeira. Já Esta obrigatoriedade deve ser observada ex-
a retenção é a quantidade do preservativo ou clusivamente com relação às essências florestais
do seu(s) ingrediente(s) ativo(s), contida de passíveis de tratamento. São passíveis de
maneira uniforme num determinado volume tratamento preservativo as peças de madeira
36
38. portadoras de alburno ou as que, sendo de VISA), que avalia os resultados dos testes
puro cerne, apresentem alguma pemeabilidade para classificação da Periculosidade Ambiental.
à penetração dos produtos preservativos em Assim como, para o tratamento industrial da
seus tecidos lenhosos. No caso do uso de madeira, deve-se exigir registro, no IBAMA,
madeira de puro cerne, esta deve ser de alta das usinas de preservação de madeira e outras
durabilidade natural aos fungos apodrecedores indústrias que utilizam esses produtos.
e insetos xilófagos (brocas-de-madeira e
cupins) para as condições de uso biologica- A especificação de um tratamento pre-
mente ativa e/ou agressiva. servativo, baseado nas condições de uso
da madeira, deve requerer penetração e
Com relação ao tratamento preservativo retenção adequadas que dependem do
da madeira, deve-se considerar a busca de método de tratamento escolhido. As normas
produtos preservativos e processos de trata- técnicas e a experiência do fabricante podem
mento de menor impacto ao meio ambiente relacionar estes parâmetros de qualidade do
e à higiene e segurança, a disponibilidade de tratamento, considerando minimamente:
produtos no mercado brasileiro, os aspectos
estéticos (alteração de cor da madeira, por • a diferente durabilidade natural e tratabi-
exemplo), aceitação de acabamento e a lidade do alburno e cerne devem ser sempre
necessidade de monitoramento contínuo. consideradas;
• quanto maior a responsabilidade estrutural
Só devem ser utilizados os produtos preser- do componente de madeira, maior deverá ser a
vativos devidamente registrados e autorizados retenção e penetração do produto preservativo;
pelo Ministério do Meio Ambiente, através • uma maior vida útil está normalmente
do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e associada a uma maior retenção e penetração
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e na do produto;
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (AN- • para um mesmo processo de tratamento,
37
39. diferenças de micro e macroclima entre regiões tomada de decisão sobre o uso racional da
podem exigir maiores retenções e penetrações; madeira tratada. Esta ferramenta relacionará
• a economia em manutenção e a acessibi- as possíveis condições de exposição da ma-
lidade para reparos ou substituições de um deira e os agentes biodeterioradores (fungos
componente podem exigir maiores retenções e insetos) com os produtos preservativos e
e penetrações; processos de tratamento pertinentes, além
• o controle de qualidade de toda a de apresentar orientações mínimas de projeto
madeira preservada deverá ser realizado para para minimizar os danos causados por estes
garantir os principais parâmetros de quali- organismos xilófagos.
dade: penetração e retenção do preservativo
4.9 Cuidados na aplicação de tintas e
absorvido no processo de tratamento.
vernizes
• se o risco de lixiviação do produto preserva-
tivo existe, considerar a proteção dos compo- Ao se aplicar tintas e vernizes como
nentes durante construção e/ou transporte; acabamento de superfície de peças de
• fatores como manuseio das peças tratadas, madeira, devem ser tomadas precauções que
práticas durante a construção, integridade de visam, em geral, a utilização eficiente destes
acabamentos ou compatibilidade do produto produtos e a segurança quanto aos aspec-
preservativo com o acabamento, podem tos ambientais e de saúde, relacionados às
afetar o desempenho da madeira preservada. emissões oriundas de solventes e substâncias
tóxicas/perigosas para o meio ambiente e
Na norma brasileira NBR 7190 – Estruturas que podem ser acumulados nos seres vivos
de Madeira, atualmente em revisão pela (aquáticos e terrestres); à disposição dos
Associação Brasileira de Normas Técnicas resíduos e principalmente em relação ao con-
(ABNT), está sendo introduzido o conceito tato direto com o homem na aplicação e no
de classe de risco que auxiliará o engenheiro, uso. As tintas e vernizes contêm solventes
arquiteto e usuário de madeira em geral na orgânicos que emitem vapores à temperatura
38
40. ambiente; por contato direto com a pele
ou por inalação, podem provocar alergias,
queimaduras ou após inalações repetidas,
doenças respiratórias e lesões pulmonares.
Na seleção e aplicação de um produto de
acabamento recomenda-se:
• preferir produtos/princípios ativos ambien-
talmente amigáveis;
• verificar as instruções escritas nas embala-
gens quanto às condições de armazenagem e
boas práticas de manuseio durante aplicação,
tais como, uso de EPI’s e separação dos
resíduos sólidos e líquidos.
• verificar com o fabricante as orientações
para disposição do resíduo gerado na apli-
cação e pós uso, caso estas instruções não
estejam disponíveis na embalagem.
39
41. 5. Indicação da madeira para construção civil
As propriedades básicas da madeira variam Paraguai, porém, de forma mais significativa,
muito entre as espécies. Tomando-se a a partir da região amazônica. As madeiras
densidade de massa aparente a 15% de disponíveis nos reflorestamentos implanta-
teor de umidade, como um indicador dessas dos nas Regiões Sul e Sudeste, com pinus e
propriedades, tem-se a madeira de balsa com eucalipto, já estão suprindo a construção civil.
200 kg/m3 e a de aroeira com 1100 kg/m3,
ou seja, materiais com propriedades físicas e Essas mudanças têm provocado a substituição
mecânicas totalmente distintas. do pinho-do-paraná e da peroba-rosa, espé-
cies tradicionalmente utilizadas pelo setor, por
Portanto, na escolha da madeira correta para outras madeiras, desconhecidas dos usuários e,
um determinado uso, deve-se considerar às vezes, inadequadas ao uso pretendido.
quais as propriedades e os respectivos níveis
requeridos para que a madeira possa ter um A variedade de espécies de madeira - e a
desempenho satisfatório. Esse procedimento é amplitude de suas propriedades - existente
primordial principalmente em países tropicais, na floresta amazônica dificulta as atividades
onde a variedade e o número de espécies de de exploração florestal sustentada e mesmo
madeiras existentes na floresta são expressões uma comercialização mais intensa do potencial
da sua biodiversidade. madeireiro da floresta, sobretudo naqueles
mercados abastecidos tradicionalmente por
Soma-se a essa questão a mudança das fontes poucas espécies de madeira.
de suprimento dos principais centros deman-
dantes de madeira serrada, localizados nas Tais circunstâncias sugerem uma abordagem para
Regiões Sul e Sudeste. Com a exaustão das redução da heterogeneidade das madeiras,
florestas nativas dessas regiões, o suprimento através do grupamento ou reunião das mesmas
de madeiras nativas passou a ser realizado, em categorias de propriedades comuns.
em parte, a partir de países limítrofes, como o
40
42. nos grupos de uso final (ver capítulo 3) foi
No mercado brasileiro o grupamento já é realizada através de um critério em que foram
praticado, porém de forma não técnica e utilizadas as propriedades e/ou características
com desconhecimento por parte do usuário consideradas como o mínimo necessário para
final. Na cidade de São Paulo, sob o nome um bom desempenho da madeira no uso
de cedrinho estão sendo comercializadas especificado. Para cada uma das proprie-
cerca de 15 diferentes espécies de madeira dades escolhidas foram fixados valores
(amazônicas e de reflorestamento), que são mínimos e, às vezes, máximos, tendo como
empregadas indistintamente em uso tem- base os valores de madeiras tradicionalmente
porário nas obras. empregadas nos usos considerados.
O lado positivo desse fato é a constata- Esta estratégia foi adotada considerando que
ção da aplicação prática do conceito de os especificadores de madeira (engenheiros,
grupamento de espécies por uso final (várias arquitetos, compradores de empreiteiras,
espécies sendo aplicadas num determinado carpinteiros etc.) têm o hábito de indicar so-
uso) e a aceitação, portanto, de outras mente as madeiras tradicionais, como peroba-
espécies de madeira não tradicionais. Porém, rosa e pinho-do-paraná. Com isto, busca-se
a forma como este processo está se desen- facilitar a aceitação de “novas” madeiras.
volvendo, baseado na escolha das espécies
pela tentativa-e-erro e sem, pelo menos Entretanto, há processos de seleção de
aparentemente, o conhecimento do con- madeiras tecnicamente mais elaborados, como o
sumidor, é inapropriada e poderá aumentar utilizado na norma NBR 7190 “Projeto de es-
o preconceito em relação a madeira como truturas de madeiras”, da Associação Brasileira
material de construção. de Normas Técnicas - ABNT, e que substituiu
a NBR 6230 com profundas alterações na
Neste trabalho, a alocação das madeiras metodologia e procedimentos de ensaios.
41
43. Nessa norma foram estabelecidas três classes vantes, em função da classe de risco de deterioração
de resistência - C 20, C25 e C 30 - para biológica a que a madeira estará exposta (item
as madeiras de coníferas (pinus e pinho-do- 10.7 da Norma). Outra situação que requer tal
-paraná, p. ex.) e quatro classes - C 20, C especificação é quando se precisa conhecer as carac-
30, C 40 e C 60 - para as madeiras de terísticas de trabalhabilidade e de decoratividade da
dicotiledôneas (peroba-rosa, ipê, jatobá, p. madeira.
ex.). No estabelecimento dessas classes foram
consideradas propriedades físicas (densidade As listas de madeiras reunidas em grupos de
de massa básica e aparente), de resistência uso final, tendo como referências as madeiras de
(compressão paralela às fibras e cisalhamento) peroba-rosa, pinho-do-paraná, imbuia e angico-
e de rigidez (módulo de elasticidade). -preto, são apresentadas a seguir. Ao se elaborar
essas listas, buscou-se excluir espécies de madeira
A utilização de classes de resistência elimina que, embora sejam comercializadas, enfrentam res-
a necessidade da especificação da espécie trições legais ou têm uso alternativo mais rentável,
da madeira, pois em um projeto estrutural como p. ex., a castanheira (Bertholletia excelsa)
desenvolvido de acordo com essa norma e a copaíba (Copaifera spp.).
bastará a verificação das propriedades de
resistência de um lote de peças de madeira à Informações técnicas para algumas madeiras
classe de resistência especificada no projeto. recomendadas são fornecidas no Capítulo 6 deste
Manual. Para obter informações técnicas sobre
É importante salientar que a necessidade de outras madeiras consulte o site
especificar a espécie de madeira foi suprimida http://www.ipt.br/areas/ctfloresta/lmpd/madeiras .
no que diz respeito à resistência mecânica.
Entretanto, isto ainda é necessário quando
se precisa empregar madeiras naturalmente
resistentes ou permeáveis às soluções preser-
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44. Lista de madeiras indicadas para os diversos grupos de uso na construção
civil em substituição a Peroba-rosa e Pinho-do-Paraná
Nome Popular Nome Científico
Acapu Vouacapoua americana
Angelim-pedra Hymenolobium spp.
Angelim-vermelho Dinizia excelsa
Angico-preto Anadenanthera colubrina sinonímia:
Anadenanthera macrocarpa
Angico-vermelho Parapiptadenia rigida
Bacuri Platonia insignis
Bacuri-de-anta Moronobea coccinea
Cupiúba Goupia glabra
Eucalipto-R* Eucalyptus tereticornis, Corymbia citriodora sinonímia:
Eucalyptus citriodora, E. saligna
Fava-de-orelha-de-negro Enterolobium schomburgkii
Faveira-amargosa Vatairea app.
Garapa Apuleia leiocarpa
Guajará-branco Chrysophyllum sericeum
Itaúba Mezilaurus itauba
Jarana Lecythis jarana
Jatobá Hymenaea spp.
Maçaranduba Manilkara ssp.
Muiracatiara Astronium lecointei
Piquiarana Caryocar glabrum
Rosadinho Micropholis guianensis
Roxinho Peltogyne spp.
Sapucaia Lecythis pisonis
Sucupira Diplotropis spp., Bowdichia spp.
Tanibuca Terminalia spp. R*= madeira gerada em refloresta-
Tatajuba mento.
Bagassa guianensis
Obs.: nomes em negrito - ver ficha,
Timborana Piptadenia suaveolens
cap. 6, com informações técnicas sobre
Uxi Endopleura uchi
a madeira.
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45. Construção civil pesada interna
Nome Popular Nome Científico
Engloba as peças de madeira serrada
na forma de vigas, caibros, pranchas Araracanga Aspidosperma desmanthum.
Angelim-pedra
e tábuas utilizadas em estruturas de Hymenolobium spp.
Angelim-vermelho
cobertura, onde tradicionalmente era Dinizia excelsa
Angico-preto
empregada a madeira de peroba-rosa Anadenanthera macrocarpa
Angico-vermelho Parapiptadenia rigida
(Aspidosperma polyneuron).
Bacuri Platonia insignis
Bacuri-de-anta Moronobea coccinea
Cupiúba Goupia glabra
Eucalipto (R*) Eucalyptus tereticornis, E. citriodora, E.saligna
Faveira-amargosa Enterolobium schomburgkii
Garapa Apuleia leiocarpa
Goiabão Pouteria pachycarpa
Itaúba Mezilaurus itauba
Jarana Lecythis jarana
Maçaranduba Manilkara spp.
Muiracatiara Astronium lecointei
Pau-amarelo Euxylophora paraensis
Pau-mulato Calycophyllum Sprumceanum
Rosadinho Micropholis guianensis
Pau-roxo Peltogyne spp.
Sapucaia Lecythis pisonis
Tanibuca Terminalia spp.
Tatajuba Bagassa guianensis
R*= madeira gerada em reflorestamento. Timborana Piptadenia suaveolens
Obs.: nomes em negrito - ver ficha, cap. 6, com
Uxi Anadenanthera macrocarpa
informações técnicas sobre a madeira.
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46. Construção civil leve externa e
Nome Popular Nome Científico
Leve interna estrutural
Reúne as peças de madeira serrada Angelim-pedra Hymenolobium spp.
na forma de tábuas e pontaletes Bacuri Platonia insignis
Bacuri-de-anta
empregados em usos temporários Moronobea coccinea
Cambará
(andaimes, escoramento e fôrmas Qualea ssp.
Canafíscula
para concreto) e as ripas e caibros Peltrophorum vogelianum
Cedrinho
utilizadas em partes secundárias de Erisma uncinatum
Eucalipto (R*) Eucalyptus tereticornis, E. citriodora, E.saligna
estruturas de cobertura. A madeira
Garapa Apuleia leiocarpa
de pinho-do-paraná (Araucaria angus-
Jacareúba Calophyllum brasiliense
tifolia) foi a mais utilizada, durante
Louro-canela Ocotea spp. ou Nectandra spp.
décadas, neste grupo.
Louro-vermelho Nectandra rubra
Marinheiro Guarea spp.
Pau-jacaré Laetia procera
Quaruba Vochysia spp.
Rosadinho Micropholis guianensis
Tatajuba Bagassa guianensis
Tauari Couratari spp.
Taxi Tachigali spp. ou Sclerolobium spp.
R*= madeira gerada em reflorestamento.
Obs.: nomes em negrito - ver ficha, cap. 6, com
informações técnicas sobre a madeira.
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