1. 08.03.2010
A Política e as Mulheres
Gleisi Hoffmann*
Em todas as conversas que faço sobre direitos e participação das
mulheres, em especial no espaço da política e do poder público, ouço
a pergunta: "Se as mulheres são a metade do eleitorado, porque não
elegem a metade dos cargos em disputa? Por que mulher não vota
em mulher?".
É uma pergunta simples e singela, mas que não tem uma resposta
de mesma natureza. Aqui há muita complexidade.
O mundo da política demorou para aceitar as mulheres. Nós éramos tidas como incapazes
de discernir, pensar e, logo, decidir através do voto até a década de 30. Nós éramos
proibidas de votar. Isso faz menos de cem anos, o que é nada em relação à história. Nós
não existíamos para esse mundo. Esse mundo não falava conosco, nem se dedicava a nós.
Não tinha mensagens para as mulheres. Então as mulheres resolveram cuidar de outras
coisas que lhes interessava e lhes dava respeito e valor, deixando a política de lado.
Para fazer com que o mundo da mulher e o da política convirjam, não será um processo
fácil e rápido. De votar, a ser votada, há uma imensa distância. As dificuldades para
termos candidatas são grandes. Por isso defendo e acredito que precisamos de ações
positivas como as cotas de candidaturas, recursos para campanhas, formação política
específica para as mulheres.
Defendo, aliás, que precisaríamos de um número de cargos legislativos reservados às
mulheres, como no Congresso Argentino. Em relação à reforma política, o Partido dos
Trabalhadores já deliberou sua posição: a formação da lista de candidatos deverá ser
paritária para de fato dar oportunidade às mulheres de participação eleitoral nas mesmas
condições.
Não se acaba com um processo milenar de discriminação de uma hora para outra. É
preciso muita vontade e determinação. Eu acredito que as mulheres estão sentindo a
necessidade de mudar e participar: mudar a política, mudar essa lógica de poder,
excludente, personalista. Mas é uma coisa que está sendo feita aos poucos, com as
condições mínimas que temos. Se tivermos incentivos iremos mais rápido.
Outro fator importante é termos mulheres ocupando cargos de destaque decorrentes do
processo político. Vereadoras, deputadas, senadoras, prefeitas, governadora, presidenta
da República. Isso serve de estímulo a outras mulheres, mostrando que temos capacidade
de atuar nesse mundo tanto quanto atuamos na iniciativa privada, na esfera social.
2. Mas que uma ocupação de posições e cargos, vejo que as qualidades amorosas,
compassivas e sustentadoras do lado feminino, farão diferença, serão essenciais para
conduzir nossa sociedade por essas águas tão turbulentas. Precisamos de uma nova
política, que busque a cooperação, a construção de consensos, que é a verdadeira
essência da democracia. Penso ser esse o grande desafio das mulheres e do movimento
que fazemos pela chegada ao poder. Fazer política para construir, agregar, valorizar e
acima de tudo, estar no poder para servir.
*Gleisi Hoffmann é advogada e integra o Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores