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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
     DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
  CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL




                  GEVERSON BISPO RODRIGUES




MOSTRAS DE CINEMA SUPER-8 NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DO PARANÁ
        NO FINAL DA DÉCADA DE 70: UM RESGATE HISTÓRICO




               TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO




                           CURITIBA
                             2010
GEVERSON BISPO RODRIGUES




MOSTRAS DE CINEMA SUPER-8 NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL
   DO PARANÁ NO FINAL DA DÉCADA DE 70: UM RESGATE
                      HISTÓRICO




                     Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação,
                     apresentado à disciplina de Trabalho de Diplomação,
                     do Curso Superior de Tecnologia em Comunicação
                     Institucional, do Departamento de Comunicação e
                     Expressão – DACEX, da Universidade Tecnológica
                     Federal do Paraná – UTFPR, como requisito parcial
                     para obtenção do título de Tecnólogo.

                     Orientadora: Professora Mestre Selma Suely Teixeira




                         CURITIBA
                            2010
TERMO DE APROVAÇÃO
                       Aluno: Geverson Bispo Rodrigues (887129)




       Mostras de Cinema Super-8 na Escola Técnica Federal do Paraná no Final da
       década de 70: um resgate histórico



Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para à disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso II do Curso Tecnológico de Comunicação Institucional do Departamento
Acadêmico de Comunicação e Expressão da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Banca Examinadora:

Prof. Msc. Almir Correa, UTFPR/DACEX

Profª. Dr. Angela Maria Rubel Fanini, UTFPR/DACEX

Profª..Dr. Denise Rauta Buiar, UTFPR/GEREP

Orientadora: Profª. Msc. Selma Suely Teixeira, UTFPR/DACEX
Aos meus pais por acreditarem.
Aos meus amigos por não esquecerem.
AGRADECIMENTOS


       Agradeço o entusiasmo incessante da minha professora e orientadora Mestre Selma
Suely Teixeira com esse trabalho, mesmo quando ainda nem sabíamos que ele se
transformaria no meu TCC. Sua orientação cuidadosa fez com que essas páginas pudessem
crescer em segurança.
       Através da Professora Mestre Maurini de Souza A. Pereira quero reverenciar todos os
professores do Curso de Comunicação Institucional que, no decorrer do Curso, me fizeram
enxergar a Comunicação como uma área instigante.
          Fica registrado aqui o carinho que recebi dos servidores da Cinemateca de Curitiba
que abriram os seus arquivos sobre cinema paranaense com sorrisos estimulantes. Agradeço
também a Biblioteca Pública do Paraná, principalmente a Divisão de Documentação
Paranaense, onde pude consultar uma infinidade de pastas durante as manhãs preguiçosas de
sábado. Também agradeço ao Núcleo de Documentação Histórica da UTFPR (NUDHI) onde
encontrei verdadeiras preciosidades.
       Espero que esse trabalho seja parte do meu agradecimento aos entrevistados que se
mostraram extremamente prestativos e solidários ao revelarem suas participações nas
Mostras. Fico grato ao Jorge Luiz Bostelmann por abrir para mim as portas da sua casa aqui
em Curitiba e, também àqueles que, mesmo longe, como Hélio Lemos, Francisco Simões e
Elisabeth Karam, responderam meus e-mails com muita atenção e carinho.
       Não posso deixar de agradecer a meus colegas de turma por compartilharem comigo
as alegrias, angústias e a dedicação inerentes ao cursar uma universidade.
          Por fim, mas não menos importante, meu agradecimento a Bruna, por me fazer rir
sempre.
“Nunca se deve subestimar o poder de compartilhamento da experiência
humana”
                                                     Paul Thompson



“O trabalho (de pesquisa) deve ser assumido no desejo. Se essa assunção não
se dá, o trabalho é moroso, funcional, alienado, movido apenas pela
necessidade de prestar um exame, de obter um diploma, de garantir uma
promoção na carreira”.
                                                             Roland Barthes
RESUMO


       Este trabalho apresenta o resgate histórico das cinco Mostras de Cinema Super-8 que
ocorreram na Escola Técnica Federal do Paraná, hoje Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, no final da década de 70. Sob esse aspecto procura encontrar, nesse passado, fatos
que possam reverberar no presente da Instituição, além de contextualizar e retomar a
importância dessa manifestação cultural como parte integrante da história do cinema
paranaense e brasileiro dos anos 70. Para realizá-lo, foi feita, inicialmente, uma breve revisão
bibliográfica sobre o que hoje se denomina História Empresarial, para logo depois
divulgarmos como transcorreram essas cinco edições, por intermédio de jornais da época,
documentos que se mantinham até o momento depositados nos arquivos da UTFPR e relatos
orais de participantes.


Palavras-chave: Super-8, UTFPR, Resgate Histórico, Cinema Paranaense, Memória
Empresarial.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................7
1.0 MEMÓRIA: UMA POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO...........................................8
    1.1 MEMÓRIA EMPRESARIAL...........................................................................................9
    1.2 MEMÓRIA SOCIAL.....................................................................................................11
    1.3 MEMÓRIA E ACONTECIMENTO .............................................................................11
    1.4 MEMÓRIA E IDENTIDADE ......................................................................................13
    1.5 AÇÕES PARA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA EMPRESARIAL..........................15
2.0 O Super-8 na ETFPR: elementos para uma história...........................................................17
 ..................................................................................................................................................17
     2.1.1 POR UMA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE.....................................................17
     2.1.1 POR UMA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE.....................................................17
     2.1.2 BREVE HISTÓRIA DO SUPER-8............................................................................18
     2.1.3 A I Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR - 1975 ...........................................20
     2.1.4 GODARD E ALAIN RESNAIS NA ETFPR.............................................................23
     2.1.5 A CENSURA E a Mostra DE 1975............................................................................23
     2.1.6 RELATO – Jorge Luiz Bostelmann............................................................................24
     2.1.7 A PEDRA FUNDAMENTAL DO CINEMA PARANAENSE.................................26
     2.1.9 A III Mostra Nacional DO FILME Super-8 - 1977....................................................29
     2.1.10 RELATO – Hélio Lemos..........................................................................................30
     2.1.11 A CENTRAL DE PRODUÇÃO DE FILMES DIDÁTICOS da ETFPR.................31
     2.1.12 A IV Mostra de Filme Super-8 da ETFPR- 1978.....................................................32
     2.1.13 RELATOS: Francisco Simões e Elisabeth Karam ...................................................35
     2.1.14 A V Mostra de Filmes Super-8, na ETFPR - 1979 ..................................................37
     2.1.15 UM FIM NÃO ANUNCIADO.................................................................................38
3.0 CONCLUSÃO....................................................................................................................39
ANEXOS..................................................................................................................................40
Anexo 1: Capa do suplemento especial dedicado à I Mostra Internacional de Filme Super-8,
da ETFPR..................................................................................................................................41
REFERÊNCIAS........................................................................................................................51
INTRODUÇÃO


       No final da década de 60 e início da de 70, uma tecnologia fílmica despontava no
Brasil e também no exterior: era a câmera Super-8. Em um formato mais simples que as
existentes naquele tempo, ela era voltada para o público amador. No entanto, em pouco tempo
essas câmeras passaram a ser utilizadas também de forma profissional. É nesse momento de
ascensão que surgem festivais e mostras de cinema que procuravam apresentar a produção
que se acumulava e debater as limitações do formato Super 8.
       Esses festivais tiveram fundamental importância para a divulgação da intensa
produção feita tanto aqui como no exterior e que recebe, hoje, uma atenção especial por parte
dos estudiosos do cinema brasileiro.
       Ao nos aprofundarmos nas cinco edições de Mostras Super-8 que ocorreram
anualmente na ETFPR, de 1975 a 1979, procuramos resgatar parte da história da instituição
que parece desconhecida, assim como retirar, dessas edições, elementos que ainda encontrem
ecos no presente.
       É preciso lembrar que esse acontecimento, que durou cinco anos, ocorreu no momento
em que o país atravessava um período politicamente conturbado. O regime militar vigorava
sob o comando do General Ernesto Geisel que, apesar de assumir o governo prometendo um
processo gradual e seguro de retorno à democracia, a conhecida “distensão”, deixou que
continuasse presente a censura e repressão. Basta recordarmos que em 1975 ocorre o
assassinato do jornalista Vladimir Herzog na sede do DOI-CODI em São Paulo e que, durante
os anos que se seguiram, a imprensa e as atividades artísticas e culturais continuaram sendo
alvos de perseguições.
       Na primeira edição da Mostra de Super-8, da Escola Técnica Federal do Paraná, em
1975, filmes internacionais inscritos no evento não foram exibidos devido à censura. Essa
mesma atmosfera de ameaça e coerção vai permear as Mostras dos outros anos e estar
presente de forma mais direta na edição de 1977, como nos conta Hélio Lemos, participante
da III Mostra Nacional do Filme Super-8, em seu depoimento. Dessa forma, o resgate das
Mostras de Super-8 da ETFPR deve entendido também a partir desse contexto histórico.
1.0 MEMÓRIA: UMA POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO

       “Nunca se deve subestimar o poder de compartilhamento da experiência humana”,
essa frase do estudioso britânico Paul Thompson, que se transformou em uma das epígrafes
que abre esse trabalho, consegue condensar, de maneira clara, aquilo que iremos tratar nessas
primeiras páginas durante a abordagem teórica sobre Memória Empresarial.
       Mas, antes de começarmos a tratar da Memória Empresarial, é necessário que façamos
algumas considerações sobre a memória, “esse espaço móvel de divisões, de disjunções, de
deslocamentos e de retomadas, de conflitos de regularização... Um espaço de desdobramentos,
réplicas, polêmicas e contra-discursos.”(PÊCHEUX, 1999, p. 56).

       A partir do conceito expresso por Michael Pêcheux é possível entender que a memória
apresenta contornos fluídos e que o seu caráter movente tem a possibilidade de transitar em
diversas direções.

       Tais características nos são importantes porque é a partir delas que podemos entender
que “A memória em sua potencialidade permite reacender utopias, reconstituir outros tempos,
representar diferentes idéias e ideais, reativar emoções, rememorar convivências ou
conflitos”. (NEVES, 2000, apud CAPRINO; PERAZZO, 2008, p.117).

       Não sendo matéria imutável, a memória apresenta, portanto, variações na sua
construção e na sua posterior sedimentação permitindo que, em determinadas situações, ela
reconstrua os fatos assimilados no passado, a partir do contexto atual. Se pudéssemos tomar
de empréstimo a adjetivação “líquida”, criada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, para
definir a pós-modernidade, poderíamos estabelecer o termo memória líquida, pois, ao
contrário da matéria sólida que se caracteriza pelo seu caráter inflexível e estável, a matéria
líquida guarda entre suas características a capacidade de reorganização, expansão e
mobilidade, como a memória.

       Vista sob essa ótica, pode-se afirmar que a memória não se constrói somente a partir
dos fatos que vivenciamos e guardamos. Segundo Pollack:



                       A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da pessoa.
                       A memória também sofre flutuações que são em função do momento em que
                       ela é articulada, em que ela está sendo expressa. As preocupações do
                       momento constituem um elemento de estruturação da memória. (POLLACK,
                       1992, p. 4)
Apesar de ser relativamente mais fácil para nós concebermos a memória como uma
construção individual, é preciso incluir em nosso entendimento que a memória também é uma
construção coletiva e, principalmente, social, sendo, assim, submetida a variações e
transformações (POLLACK, 1992).



1.1   MEMÓRIA EMPRESARIAL


       Nos últimos anos, artigos e livros começam a apontar a denominada Memória
Empresarial como um elemento valioso que pode, desde que corretamente gerenciado, gerar
nas organizações a ratificação dos seus discursos e também uma análise mais profunda de
cultura organizacional. Isso acontece porque,


                      ao compreender a vida de uma organização disposta na linha do tempo,
                      podemos distinguir quão importantes foram e são os fatos históricos, as
                      reações, as linhas de comando e o perfil que ela vai incorporando, traduzindo-
                      se na própria maneira de ser da organização (MARICATO, 2006, p.126)


       Paulo Nassar, Diretor-Presidente da Associação Brasileira de Comunicação
Empresarial - ABERJE conceitua história empresarial, em seu livro Relações Públicas na
construção da responsabilidade histórica e no resgate da memória institucional das
organizações como um:


                        Campo controverso de pesquisas que, na atualidade, se debruça, cada vez
                        mais, sobre os acontecimentos das organizações, os seus integrantes e
                        dirigentes, bens e serviços e seus relacionamentos com a sociedade e os seus
                        públicos, configurando o que se denomina história empresarial. (NASSAR,
                        2007, p. 111)


       Classificada como um “campo controverso”, a História Empresarial sistematiza o
relacionamento entre a instituição e os seus públicos, enquadrando esse relacionamento em
um contexto histórico e social. Essa preocupação com os acontecimentos da organização tem
suas raízes nas Relações Públicas, que tem como uma de suas                 principais finalidades
satisfazer os interesses de todos os públicos da organização.
        Segundo Flávia Borges, no artigo “A memória da empresa: construindo arquivos
empresariais” publicado no livro Memória e Cultura: a importância da memória na formação
cultural humana:
Para as empresas, sem dúvida, a preservação da memória serve de suporte
                        para redefinições estratégicas de negócios e de comunicação interna e
                        externa e, neste sentido, é um instrumento valioso para a gestão da cultura e
                        do conhecimento em um cenário marcado por transformações sociais e
                        econômicas em um mercado extremamente competitivo. (BORGES, 2007.
                        p.285)


       Quando implementados, os programas de Memória Empresarial podem oferecer às
instituições uma série de benefícios e ser uma grande aliada da organização como exposto
pela autora. Além disso, essa tendência se revela importante também porque as empresas

                        perceberam que tantos os registros físicos do passado como as pessoas que
                        vivenciaram os momentos históricos estavam ser perdendo. Com eles, ia-se
                        também a compreensão dos processos passados, e consequentemente, de
                        seus reflexos no presente. (TOTINI; GAGETE, 2004, p.119)



       Sob essa ótica, a história da organização acabou por se tornar uma manifestação clara
da sua cultura e da sua identidade, pois é a história que:



                        [...] constrói, a cada dia, a percepção que o consumidor e seus funcionários
                        têm das marcas, dos produtos, dos serviços. O consumidor e o funcionário
                        têm na cabeça uma imagem, que é histórica. Uma imagem viva, dinâmica,
                        mutável, ajustável, que sofre interferências de toda natureza. A imagem,
                        somada à reputação, é determinante para o cidadão, nas inúmeras situações
                        em que se relaciona com a empresa, e para o empregado, na hora de se aliar
                        á causa da empresa. Por isso, todo cuidado é pouco e toda atenção é
                        necessária. (NASSAR, 2007, p.139)


       Dessa maneira, ela se tornou a principal fonte em que, tanto o público interno quanto o
externo procuram como primeiro referencial. Analisar esse processo histórico em que a
empresa está inserida e evidenciá-lo da maneira mais adequada se tornou indispensável para o
fortalecimento da marca de uma empresa.
1.2   MEMÓRIA SOCIAL


       Para melhor compreender o resgate que estávamos das Mostras de Super-8 realizadas
na Escola Técnica Federal do Paraná na década de 70, que estávamos realizando recorremos
também a outras classificações de memória. Umas dela foi a de memória social que Marilena
Chauí, em seu livro Convite à Filosofia, vai conceituar como aquela que:


                          É fixada por uma sociedade através de mitos fundadores e de relatos,
                          registros, documentos, monumentos, datas e nomes de pessoas, fatos e
                          lugares que possuem significado para a vida coletiva. Excetuando-se os
                          mitos, que são fabulações, essa memória é objetiva, pois existe em objetos
                          (textos, monumentos, instrumentos, ornamentos, etc.) e fora de nós;
                          (CHAUÍ, 2002, p.129).


       Cientes da importância dos depoimentos e fontes impressas que constituem a memória
histórica e social, direcionamos o nosso trabalho de reconstrução da história das Mostras de
Super-8 da ETFPR para a pesquisa em jornais publicados no final dos anos 70 e para a
tomada de depoimentos de quem participou ou presenciou a realização dos eventos.



1.3   MEMÓRIA E ACONTECIMENTO


       Ao realizar o resgate histórico que compõem o corpo desse trabalho nos foi importante
chegar à noção de acontecimento histórico. Para Paulo Veyne (1983, p.54 apud WORCMAN;
PEREIRA, 2006, p.202) “os acontecimentos não são coisas, objetos consistentes, substâncias;
são um corte que operamos livremente na realidade, um agregado de processos onde agem e
padecem substâncias em interação, homens e coisas”. Nesse sentido, o acontecimento seria
aquilo que submerge a simples realidade para modificá-la, como se fosse, usando uma
metáfora, uma cicatriz.

       Segundo Davallon (1999, p.25)

                      Para que haja memória, é preciso que o acontecimento ou o saber registrado
                      saia da indiferença, que ele deixe o domínio da insignificância. É preciso que
                      ele conserve uma força a fim de poder posteriormente fazer impressão.
Essa força que poderia fazer com que as Mostras de Cinema Super-8 na ETFPR
saíssem do esquecimento estava no resgate desse acontecimento e também na aceitação do
que Barthes expõe no seu ensaio “Da história ao real”, de que:



                         O prestígio do que aconteceu tem uma importância e uma amplitude
                         verdadeiramente históricas. Há um gosto de nossa civilização pelo efeito de
                         real, atestado pelo desenvolvimento de gêneros específicos como o romance
                         realista, o diário intimo, a literatura de documento, o fait divers, o museu
                         histórico, a exposição de objetos antigos e, principalmente, o
                         desenvolvimento maciço da fotografia, cujo único traço pertinente
                         (comparada ao desenho) é precisamente significar que o evento representado
                         realmente se deu. (BARTHES, 1984, p. 178 - 179).


       Procuramos esse efeito de real em nosso projeto a partir das notícias extraídas de
jornais sobre as Mostras, procuramos também destacar as peculiaridades de cada edição e
contextualizá-las no quadro maior que seria o de seu reconhecimento como parte integrante da
história da UTFPR, instituição que se tornou centenária no ano de 2009, e também na história
do cinema paranaense e nacional da década de 70 com o cuidado necessário para comprovar a
sua relevância porque:


                         Lembrar um acontecimento ou um saber não é forçosamente mobilizar e
                         fazer jogar uma memória social. Há necessidade de que o acontecimento
                         lembrado reencontre sua vivacidade; e, sobretudo, é preciso que ele seja
                         reconstruído a partir de dados e de noções comuns aos diferentes membros
                         da comunidade social. (DAVALLON, 1999, p. 25)


       Essa vivacidade de que fala Davallon é encontrada quando o fato histórico resgatado
ainda encontra ecos no presente. É preciso que o objeto do resgate tenha alguma relação de
importância ou mesmo de continuidade com a atualidade.

       O cuidado com a comprovação da importância das Mostras Super-8 da ETFPR se
deveu, principalmente, pelo conhecimento de que ao lidarmos com um acontecimento inscrito
no passado nós podemos correr alguns riscos como orienta Burke:



                         À medida que os acontecimentos retrocedem no tempo,
                         perdem algo de sua especificidade. Eles são elaborados,
                         normalmente de forma inconsciente, e assim passam a se
                         enquadrar nos esquemas gerais correntes. Na cultura esses
esquemas ajudam a perpetuar memórias, sob custo, porém
                       de sua distorção. (BURKE, 2005, p.88)
       Trabalhando com fatos ocorridos há trinta anos atrás tínhamos consciência das
dificuldades que encontraríamos ao tentar tecer uma história completa, com todos os fatos que
permearam as Mostras, assim como das dificuldades inerentes à distância temporal de
conseguirmos um resgate preciso dos acontecimentos a partir de depoimentos e também dos
materiais coletados nos jornais da época. Ao realizar um resgate é preciso o



                       Reconhecimento do fato de que sempre é possível interpretar de outra forma
                       o mesmo complexo e, portanto, a admissão de um grau inevitável de
                       controvérsia, de conflito entre interpretações rivais; em seguida, a pretensão
                       de dotar a interpretação assumida com argumentos plausíveis, possivelmente
                       prováveis, submetidos à parte adversa; finalmente, a confissão de que, por
                       trás da interpretação, subsiste sempre um fundo impenetrável, opaco,
                       inesgotável, de motivações pessoais e culturais, do qual o sujeito jamais
                       acabou de dar conta. (RICCEUR, 2007, p.351)


       Assim, procuramos respeitar os diferentes enfoques dados pelos depoimentos, assim
como registramos as informações de jornais e documentos da época.

        Ao entrar em contato com pessoas que participaram de forma ativa das Mostras,
observamos que:



                       Retomar a memória pela possibilidade narrativa das pessoas, permite, de
                       forma inovadora na sociedade pós-moderna, recolocar o papel do
                       comunicador social, dessa vez como mediador e não como informante ou
                       meramente emissor ou reprodutor (CAPRINO; PERAZZO; 2008, p.119)



       Esse papel que os autores delegam ao novo comunicador social, um ator que apenas
faz a mediação, mais do que informar ou repetir a informação foi um dos caminhos pelos
quais decidimos seguir, porque só como meros informantes teríamos um trabalho mais
limitado, além de uma interpretação mais restrita.




1.4   MEMÓRIA E IDENTIDADE
       Segundo Paul Argenti, a identidade de uma empresa é:
A manifestação visual de sua realidade, conforme transmitida através do
                       nome, logomarca, lema, produtos, serviços e instalações, folheteria,
                       uniformes e todas as outras peças que possam ser exibidas, criadas pela
                       organização e comunicadas a uma grande variedade de públicos. Os
                       diferentes públicos formam, então, percepções baseadas nas mensagens que
                       as empresas enviam de forma tangível. Se essas imagens refletirem com
                       precisão a realidade organizacional, o programa de identidade terá obtido
                       êxito. (ARGENTI, 2006, p.81)



       Essa identidade pode ser modificada, amplificada ou mesmo ratificada através da
faceta que escolher para trabalhar a história da empresa. A memória, dessa forma, se relaciona
com a identidade, porque ela



                      é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual
                      como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente
                      importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de
                      um grupo em sua reconstrução de si. (POLLACK, 1992, p.5)



       As organizações hoje necessitam de uma identidade clara e coesa principalmente
porque ela “costura (ou para usar uma metáfora médica,“sutura”) o sujeito à estrutura.
Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos
reciprocamente mais unificados e predizíveis”. (HALL, 2006, p.12). Nesse sentido, ressaltar
os elementos que formam a identidade corporativa de uma organização como: valores,
filosofias, padrões e objetivos da empresa, a partir da sua história pode contribuir para
coerência que toda a instituição busca. (Argenti, 2006)
       Quando a Memória Empresarial é trabalhada visando a um fortalecimento de
identidade e, ambos os elementos, ficam suficientemente amarrados, Pollack argumenta que,


                       [...] os questionamentos vindos de grupos externos à organização, os
                       problemas colocados pelos outros, não chegam a provocar a necessidade de
                       se proceder a rearrumações, nem no nível da identidade coletiva, nem no
                       nível da identidade individual. Quando a memória e a identidade trabalham
                       por si sós, isso corresponde àquilo que eu chamaria de conjunturas ou
                       períodos calmos, em que diminui a preocupação com a memória e a
                       identidade. (POLLACK, 1992, p.7)
No caso especifico do resgate da história das Mostras de Super-8 da ETFPR, os fatos
projetaram a Instituição para além de seus limites físicos levando-a a fazer parte da história do
cinema brasileiro e colocando a Escola Técnica Federal do Paraná como um importante
reduto do cinema produzido no país no final da década de 70, fortalecendo, dessa maneira sua
identidade.



1.5   AÇÕES PARA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA EMPRESARIAL

       Atualmente, uma série de ações para preservação da memória empresarial ocorrem em
organizações de todo o Brasil. Isso se deve, principalmente, pelo fato de que:

                        [...] ações, tem sido cada vez mais cobrada pela sociedade. Desta forma, o
                        conhecimento da história da empresa passa a ser um novo critério a ser
                        observado, em razão de seu potencial em agregar valor aos produtos e
                        serviços das organizações. Como efeito dessa nova tendência surge o desafio
                        por parte das empresas em valorizar sua história e resgatar sua memória.
                        (MARICATO, 2006, p. 128)

       Apesar dessa movimentação ser uma tendência atualmente, e, consequentemente, mais
sistematizada e estudada, na década de 80, no Brasil, algumas empresas já realizavam
investimentos em Centros de Documentação e Memória embora com outro enfoque. Como
expõe Borges,


                        Na época, os modelos de gestão mais inovadores incorporavam novos
                        conceitos de marketing social e cultural. As empresas procuravam maior
                        agilidade e mudanças culturais, e a História era vista então como uma
                        ferramenta de análise de suporte para a gestão das áreas de Comunicação e
                        Recursos Humanos. Por outro lado, as empresas familiares viam no trabalho
                        histórico um reforço de suas culturas, identidades, valores e “mitos”.
                        (BORGES, 2007, p.284)


       Presentemente se sabe que “fortalecer o senso de pertencimento e de autoria de cada
um, somado à possibilidade de fazer-se “ouvir” é o grande sentido social que um projeto de
memória pode adquirir.” (WORCMAN; PEREIRA, 2006, p. 204).

       Nesse campo, as narrativas orais também começam a ganhar mais prestígio. Nos dias
atuais áreas das Ciências Humanas e também das Ciências Sociais estão se voltando com mais
atenção para aquelas narrativas que, de certa forma, ficaram à margem do que denominamos
de “história oficial”. Por isso, criações pioneiras como a do Museu da Pessoa, em São Paulo,
passam a ganhar mais espaço.
       Constituído como organização da sociedade civil de interesse público, sem fins
lucrativos,

                     O Museu da Pessoa tem sua sede de trabalho na cidade de São Paulo. Em
                     1997 estreou seu primeiro site e, em 2003, lançou o portal
                     (www.museudapessoa.net), com ferramentas para pessoas e comunidades
                     criarem sua própria coleção de histórias. (WORCMAN; PEREIRA, 2006, p.
                     199)


       Todo esse esforço aparenta estar mais forte, porque:

                        A memória está na ordem do dia, a memória está presente na multiplicação
                       dos museus, nas “instituições da memória”, centros de memória, arquivos,
                       memórias de empresas, memórias de partidos, de igrejas, de famílias, de
                       clubes, de ONGs, nos documentários, novelas de época, moda retrô,
                       movimentos sociais de preservação de bens culturais, reivindicações de
                       identidade e cidadania, etc. ( MENESES, 2007, p.20)


       A expressão “ordem do dia”, empregado por Meneses pode indicar uma insinuação de
modismo, no entanto, a memória empresarial e suas ramificações passam a ter agora, além de
um material bibliográfico ainda mais consistente, também mais ações por parte de grandes
organizações. O que torna essa preocupação irrevogável, já que, a partir dela, se consegue
melhorar o relacionamento com os públicos da organização, fortalecer sua identidade e
compreendermos melhor os processos internos da instituição.
2.0 O Super-8 na ETFPR: elementos para uma história




                 “Os festivais de cinema em Super-8 organizados pelo Teatro Guaíra e pela
                 Escola Técnica Federal do Paraná, (atual Centro Federal de Educação
                 Tecnológica – CEFET-PR) revelaram importantes curtas-metragistas, como
                 os irmãos Wagner (Helmut Jr., Rosana, Ingrid e Elizabeth), que iniciaram
                 sua carreira com Metamorfose (Super-8, 1977) e seguiram fazendo cinema
                 de animação até os anos 90.”
                 ENCICLOPÉDIA DO CINEMA BRASILEIRO – ORGANIZADORES:
                 FERNÃO RAMOS E LUIZ FELIPE MIRANDA




                 “O que possibilitou a expansão do movimento superoito, no Paraná como em
                 outros estados, foram os festivais. Um dos dois mais importantes realizados
                 em Curitiba, o Festival Nacional de Cinema em Super 8, coordenado por
                 Silvio Back (1974 e 1975), evidenciou a heterogeneidade na bitola. Mas foi
                 a então Escola Técnica Federal do Paraná (hoje Centro Federal de Educação
                 Tecnológica) que, com a Mostra Nacional de Filme em Super-8 (1975-
                 1979), consolidou o movimento local e permitiu o intercâmbio de
                 informações, o que contribuiu para a formação de profissionais do cinema.”
                        CINEMA DO PARANÁ - ELEMENTOS PARA UMA HISTÓRIA –
                                                         CELINA ALVETTI

2.1.1 POR UMA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE
Voltamo-nos para as edições das Mostras de Cinema Super-8 (1975-1979) ocorridos
na então Escola Técnica Federal do Paraná (ETFPR), hoje, Universidade Tecnológica Federal
do Paraná (UTFPR), com um distanciamento de quem não viveu essa história. Pretendemos
revisitar o que restou desse acontecimento que, embora curto, foi suficiente para que ficasse
inscrito na trajetória do cinema paranaense e do cinema nacional da década de 70. Buscamos
uma limitada reconstituição desse passado que só foi importante por possibilitar certa
compreensão do presente.
       É preciso que se reconheça já no início dessa apresentação, a impossibilidade desse
resgate apresentar explicações que sejam categóricas sobre o começo, término e meandros de
todas as edições. Trabalha-se, aqui, antes de tudo, com vestígios. Grande parte desse trabalho
foi possível a partir de dois grandes estudiosos do cinema paranaense: Francisco Alves do
Santos e Celina Alvetti, cujo trabalho pioneiro sobre a história do cinema paranaense é um
referencial. Nosso projeto, inclusive, referencia esse trabalho tomando de empréstimo parte
do título de seu livro Cinema Paranaense: elementos para uma história.



      2.1.2 BREVE HISTÓRIA DO SUPER-8


    As câmeras e cartuchos de Super-8 passaram a ser comercializados na metade da década
de 60, mas foi na década de 70 que a novidade começava a se consolidar como instrumento
democratizador do registro das imagens em movimento. Apresentando um manuseio mais
simples e, por conseguinte, mais dinâmico, esse novo formato modificou a memória dos
acontecimentos caseiros e, por um efêmero período, o modo de se fazer cinema. A câmera de
Super-8, voltada ao público amador, era o equipamento ideal para realizar pequenos vídeos
que podiam captar desde aniversários infantis até imagens de viagens de lua-de-mel. No
entanto, não tardou para que essa função “caseira” da câmera fosse substituída para se tornar
uma ferramenta de produção artística. Assim, na década de 70, no Brasil e no exterior,
cineastas começaram a utilizá-la para realização de filmes de ficção e documentários. A
expansão foi intensa e, para abrigar todas essas realizações fílmicas, festivais e mostras foram
criadas no exterior e também em território nacional com a intenção de apresentar essas
produções.
       No Paraná, pode-se dizer que a história do Super-8 tem início em 1974 no FESTIVAL
NACIONAL DA BITOLA que teve à frente, como coordenador, o cineasta Sylvio Back. Esse
Festival aconteceu no Teatro Guaíra, e teve apenas duas edições, uma em 1974 e outra em
1975, o bastante, no entanto para que despertasse a atenção da crítica e movimentasse os
realizadores paranaenses de Super-8 ainda tímidos e sem espaço de exibição no estado.
        No Brasil, dois festivais incontestavelmente são essenciais para observar o desenrolar
do Super-8 no país. Um dos maiores foi a Jornada da Bahia que surgiu em 1972, três anos
antes da primeira edição da mostra na ETFPR, e que resiste até hoje, obviamente cedendo
espaço a outros formatos e suportes de filmes. O outro festival significativo da época foi o
notório GRIFE, nome como ficou conhecido o Super Festival Nacional do Super-8, em São
Paulo. Realizado entre 1973 e 1983, tornou-se um dos mais importantes festivais de bitola do
país, premiando vários realizadores paranaenses.
        Comum a esses festivais era a motivação dos diretores que, antes da premiação e o do
reconhecimento, tinham por objetivo apresentar suas produções ao grande número de pessoas
que frequentavam esses eventos. Sem esses canais, os filmes produzidos na nova bitola
ficariam limitados a restritas sessões caseiras, ou mesmo às realizadas em pequenos
cineclubes.
        O que diferenciava um festival do outro, além da localização e abrangência, eram as
suas propostas. Enquanto o GRIFE e a Jornada da Bahia propunham uma discussão mais
centrada sobre o Super-8, os festivais realizados na ETFPR, buscavam algo a mais do que
isso.
        Realizado por uma instituição de ensino, as edições contemplavam, além das
categorias comuns a eventos similares, a produção de filmes didáticos como uma das
categorias passíveis de premiação. O incentivo dado a essa categoria deu origem, em 1977, a
uma Central de Produção de Filmes Didáticos sediada pela Escola Técnica que produziu, até
sua extinção, um acervo de cerca de 300 filmes que registraram atividades didáticas de todas
as áreas de ensino da Escola.
        Aos poucos, o Super-8 passou a ganhar espaço em outras mídias. Na TV Cultura havia
um programa semanal chamado “Ação Super-8” que teve início em 1975 e que tinha como
proposta entrevistar realizadores, gravar reportagens sobre os festivais de bitola e exibir
trechos de filmes em Super-8. Já nos jornais impressos havia alguns veículos que mantiveram
inclusive colunas exclusivas ao Super-8, como a Folha da Tarde, em São Paulo, a revista Íris,
e até mesmo O Pasquim, cuja coluna era mantida pelo jornalista Carlos Sampaio, jurado da
Primeira Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR. Nos veículos paranaenses, podemos
destacar os jornais O Estado do Paraná, principalmente a coluna Tablóide, de Aramis
Millarch, Gazeta do Povo, Jornal do Estado, Diário do Paraná e A Voz do Paraná.
2.1.3 A I MOSTRA INTERNACIONAL DE SUPER-8, DA ETFPR - 1975

A NEVE QUE VI PELA PRIMEIRA VEZ


       A Primeira Mostra dedicada ao filme Super -8 realizada pela então Escola Técnica
Federal do Paraná, hoje UTFPR, ganhou o nome de “Primeira Mostra Internacional do Filme
Super-8” e aconteceu de 22 a 28 de setembro sob a coordenação da Professora Rosane
Saldanha Câmera e do cineasta José Augusto Iwersen (v. Anexos 1, 2 e 3). Foram sete dias
em que os filmes Super -8 tiveram um espaço amplo e propício a sua exibição e discussão.
Passou pela Primeira Mostra toda uma produção fílmica que, analisada hoje, nos ajuda a
compreender porque a década de 70 é frequentemente vista como a década em que ocorreu o
Boom do filme Super-8.
       Vagotomia super seletiva, Desarticulação interescapulotorácica, Chuleio de varizes
esofageanas. Títulos estranhos para filmes Super-8? Sim, pois todos esses termos fazem parte
do jargão médico usados pelo médico-cineasta Dr. Alfredo Duarte para nomear três
documentários científicos feitos por ele, a partir cirurgias que o médico realizou em vários
hospitais de Curitiba, e inscritos na Primeira Mostra Internacional do Filme Super-8, da
ETFPR.
         Apesar da especificidade dessas produções elas foram apresentadas sem nenhuma
restrição ao público. Consideradas pela crítica como bem realizadas e produzidas, essa
películas não obtiveram nenhuma premiação tendo em vista a inexistência de uma categoria
onde pudessem ser encaixadas.Coincidência ou não, os primeiros inscritos na Mostra foram
médicos curitibanos, conforme comprova a nota publicada pelo jornalista Aramis Millarch em
sua coluna no jornal Estado do Paraná do dia 21 de agosto de 1975, aproximadamente
quatro meses antes do início da Mostra. No texto, o jornalista e crítico de cinema informava
que os primeiros quatro filmes inscritos na Mostra eram dos médicos João Alfredo Duarte,
João Batista Marchesine e João Batista Neon.
       De todos os Joões, João Alfredo Duarte foi o único a ser premiado. O seu
documentário A Neve ganhou como “melhor filme sobre a neve”, categoria criada sobre
inspiração dos flocos brancos que os curitibanos enxergaram descer em 17 de julho de 1975.
A disputa não foi muito acirrada, já que só havia outro filme inscrito, A neve que vi pela
primeira vez, de Edson Kolbe, Super-8 que, assim como o filme vencedor, documentou a
neve se adensando sobre toda a capital em um dos dias mais frios que cidade já atravessou.
CORPO DE JURADOS


       Ao contrário das mostras que se seguiram, a Primeira Mostra não apresentou júri
popular, apenas um júri oficial que durante todas as edições tradicionalmente foi composto
por profissionais reconhecidamente notórios em seus campos de atuações. Na primeira edição
podemos destacar a presença de Ozualdo Candeias, Carlos Sampaio, Aramis Millarch,
Valêncio Xavier e Francisco Alves dos Santos, crítico de cinema e autor do Dicionário de
Cinema Paranaense, entre outras publicações. Abaixo podemos conhecer um pouco sobre
cada um dos profissionais que compuseram o júri oficial da I Mostra.


CARLOS SAMPAIO
       Publicitário e Desenhista, foi professor de cinema em Super-8 e escreveu sobre o
assunto, sendo um de seus livros lançado em Curitiba, em 1977, Super 8 e quadrinhos,
produto derivado da coluna que mantinha no jornal Pasquim.


OZUALDO CANDEIAS
       Ozualdo Candeias, falecido em 8 de fevereiro de 2007, aos 88 anos, foi um dos
percussores do chamado Cinema Marginal, movimento que surge na década de 70, pós-
Cinema Novo, e que apresenta em seus filmes características como a ideologia da
contracultura e uma crítica ácida à sociedade do consumo.
       Sua primeira experiência cinematográfica é com o curta-metragem Tambau – Cidade
dos Milagres (1955), mas é no longa A margem que faz um filme emblemático que logo se
torna referência ao grupo de cineastas que, assim como ele, durante um curto período de
tempo fez um tipo de cinema marcado por uma estética que buscava contestar a própria
linguagem cinematográfica, contrariando em alguma parte o mote principal do Cinema Novo
que buscava levar radicalmente às telas o processo político e cultural pelo qual o Brasil
passava.
       Candeias estabeleceu com Curitiba uma relação muito particular. Além de ministrar
cursos de direção de atores a convite do Museu da Imagem e do Som na década de 80,
realizou aqui, em parceria com Valêncio Xavier, A visita do velho Senhor. Já o curta-
metragem Mister Pauer (1988) foi confeccionado durante um curso na Cinemateca.
ARAMIS MILLARCH


       Foi sem dúvida o maior jornalista cultural que o Paraná conheceu e um dos mais
importantes do Brasil. Um dos fundadores da Associação dos Pesquisadores da Música
Popular Brasileira foi também o seu primeiro Presidente. Millarch ao longo da carreira
ganhou vários prêmios, inclusive o cobiçado Esso de Jornalismo. Deixou para a história mais
de 30 anos de relatos jornalísticos sobre o que de mais importante aconteceu no Brasil e no
exterior em termos de cultura.


VALÊNCIO XAVIER
       Escritor e cineasta foi primeiro diretor da Cinemateca Guido Viaro, ligada à Fundação
Cultural de Curitiba. Sem nenhuma dúvida, é a figura principal do cinema na década de 70 e
80 em Curitiba, porque centralizou em torno de si toda uma geração de cineastas que teve
nele apoio em suas primeiras realizações. À frente da Cinemateca, além de realizar filmes que
entraram para a história do cinema paranaense, também coordenou atividades de restauração e
cursos livres. Paulistano radicado em Curitiba, tornou-se um célebre escritor, ganhador
inclusive de um prêmio Jabuti. Emprestou a suas obras literárias, muitas vezes, o seu olhar de
cineasta.


CATEGORIAS
       As categorias de premiação dessa Primeira Mostra contemplaram 20 áreas, desde as
mais comuns como a de melhor filme, direção, ator e atriz, até algumas curiosas como
“melhor uso do som”, “melhor apresentação”, filme com “melhor mensagem humana”,
“melhor temática paranaense”, oferecido pela Cinemateca do Museu Guido Viaro que acabou
não sendo atribuído, e o já comentado “melhor filme sobre a neve”.


A GEOGRAFIA DOS INSCRITOS


       Muitos filmes brasileiros se inscreveram na Mostra. Na geografia dos inscritos, a
maioria dos participantes era do Paraná, incluindo, além de Curitiba, cidades como Maringá,
Londrina e Paranaguá. Dos outros estados brasileiros houve presença maior de São Paulo,
mas estados como o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Pernambuco também estiveram
presentes.
PREMIAÇÃO


       Os prêmios da primeira edição da Mostra foram, em sua maioria, oferecidos pelos
apoiadores. O Grupo Importador Sosecal (v. Anexo 4) ofereceu projetores sonoros (Bauer
Hertieur – Royal_, Filmadoras (Minolta), iluminadores (Taurolux) Gravadores (Monarch) e
Tripés (Velbon); a Escola Técnica Federal do Paraná ofereceu troféus confeccionados pelo
Curso de Decoração que a Escola Técnica abrigava e certificados, o Instituto Nacional do
Cinema ofereceu cinco mil cruzeiros, o jornal Voz do Paraná premiou os ganhadores com
filmes virgens, a Cinemateca do Museu Guido Viaro ofereceu a produção de filmes , o
Diretório Acadêmico César Lattes ofereceu troféu e dois mil cruzeiros, o Studio 8, ofereceu a
assinatura da revista Super 8 Filmaker, a Esferatur, passagem aos Estados Unidos.



      2.1.4 GODARD E ALAIN RESNAIS NA ETFPR



       Em nota publicada na seção Tablóide, do jornal O Estado do Paraná, o jornalista
Aramis Millarch divulgou que três filmes de Jean-Luc Godard e Alain Resnais estariam
concorrendo na I Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR (v. Anexo 5). A notícia fez
brilhar os olhos de todos aqueles que tinham Godard e Resnais como os ícones da Nouvelle
Vague, movimento cinematográfico que buscou transgredir a velha forma de se fazer cinema.
       Apesar de todo o alvoroço diante da possibilidade desses nomes fazerem parte da
Mostra, o evento ocorreu e desses cineastas não há nenhum resquício, não se sabe nem ao
menos se os filmes foram inscritos e, caso tenham sido, se foram inscritos por eles, ou por fãs
que usaram o nome dos diretores como pseudônimos.
       O registro da I Mostra confirma a inscrição de filmes internacionais, mas nenhum
deles chegou a ser exibido.



      2.1.5 A CENSURA E A MOSTRA DE 1975


       Em 1975, o regime militar vigorava sob o comando de Ernesto Geisel, o país vivia sob
estado de forte repressão, e a censura aqui instalada pela Ditadura não deixou de assombrar a
I Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR, e seus realizadores, ao limitar a apresentação
dos filmes internacionais inscritos no evento apenas para os jurados.
De acordo com os registros da I Mostra, os filmes Super-8 internacionais inscritos no
evento foram:


The Angel´s – Filme sueco. Relatando os excessos cometidos por um grupo de motociclistas,
o filme abordava temas como sexo e drogas tendo, por esse motivo, sua exibição limitada a
alguns críticos que manifestaram sua opinião no suplemento especial lançado no final da
Mostra. Para eles, o filme era originas e, apesar das cenas sexo, conseguia escapar da
pornografia e registrar ótima fotografia, música e direção.


The Conference – Filme de Chicago E.U.A., documentava uma reunião em um escritório
entre um homem de negócios, uma mulher de biquíni, Jesus, um cowboy, um jovem radical e
um palhaço. Antes do final do filme Jesus era assassinado.


Seashore – Filme de Atlanta E.U.A. Filme premiado no Festival Internacional de Chicago,
em 1972, pelo seu discurso ecológico. Dirigido por Fred Hudson, mostrava o oceano sob
diferentes aspectos focando, principalmente, os animais que vivem no mar.



      2.1.6 RELATO – JORGE LUIZ BOSTELMANN


       Jorge Luiz Bostelmann de Oliveira entrou na Escola Técnica Federal do Paraná para
cursar o ensino técnico. Segundo ele, desde muito pequeno desejava se tornar jornalista. No
entanto, previa que o caminho seria mais difícil se não tivesse uma profissão antes de se
formar por isso optou por fazer, junto com a Escola Normal, o Curso Técnico de Edificações
da ETFPR, muito tradicional na época. Na Escola Técnica da década de 70 ele disse ter
encontrado, além do ensino de qualidade, um apoio muito grande a várias formas de artes que
surgiam como atividades extracurriculares. Foi assim que ele teve o primeiro contato com o
grupo de Teatro da ETFPR que naquele ano passara a contar com José Maria Santos, uma
verdadeira lenda do teatro paranaense. Bostelmamm lembra também da premiadíssima Banda
Marcial da Escola. Não demorou para que logo começasse a participar do Centro Acadêmico
e foi junto com esses estudantes que fundou, na Escola, o CineClube Atlântida.
O CINECLUBE ATLÂNTIDA


        Na década de 70, devido a toda uma tecnologia inexistente na época, a projeção de
filmes se restringia ou aos cinemas, ou aos cineclubes, ambientes que tinham uma tradição
muito forte no Paraná. São daquele tempo as atividades realizadas no Colégio Marista, na
Universidade Federal do Paraná e, em 1975, na Cinemateca da Fundação Cultural de Curitiba.
       Com uma logística um tanto inusitada para a época, o CineClube Atlântida exibia
filmes aos sábados, geralmente em duas sessões, em sua maioria lotadas. Bostelmann destaca
que eles se preocupavam para que, em cada sessão, houvesse um aluno ou convidado que
ficasse responsável por fazer um estudo prévio antes das projeções para tecer comentários
sobre o diretor, ou a forma de produção dos longas exibidos.
       Para conseguir os filmes, ele se dirigia até o Cine Vitória, local em que hoje funciona
o Centro de Convenções de Curitiba, na Rua Barão do Rio Branco e de lá trazia um saco com
vários rolos de filmes em 16mm. O preço da locação era alto e quem financiava o empréstimo
eram os recursos que o Atlântida recebia da ETFPR. Os filmes eram também repassados para
os colegas da UFPR.
       Um ano depois de iniciadas as atividades do CineClube Atlântida, os alunos ficaram
sabendo que a Escola Técnica iria produzir a Primeira Mostra Internacional do Filme Super-8.
Bostelmann diz não saber muito bem quem foi o idealizador da idéia. No entanto, destaca que
muito daqueles eventos culturais aconteciam por iniciativa do professor Ivo Mezzadri, Diretor
da Escola Técnica que, apesar de agradar uma grande parcela de estudantes inquietos e que
desejavam uma formação mais completa era, por outro lado, criticado por uma parcela mais
conservadora da Escola, que desejava a centralização em um ensino mais técnico.


OS FILMES


       Como ainda não tinha nenhuma experiência em feitura de filmes, Bostelmann diz que
recorreu a manuais que tratavam didaticamente sobre como elaborar roteiros. Reunido com
alguns amigos eles trabalharam em uma história baseada em quadrinhos. Como ainda não
tinham câmera, foram socorridos pela Cinemateca que emprestou uma para eles. Para
finalizar o filme contaram com o apoio de Percy Tamplin, cineasta e professor de música, e de
Valêncio Xavier, jurados da Primeira Mostra de Filmes Super-8, da Escola. Foi assim e com a
ajuda também do grupo de teatro da ETFPR que filmaram Enigma, que acabou se tornando o
primeiro filme produzido pela Cinemateca Guido Viaro.
Entre essas idas e vindas até a Cinemateca Jorge viu, em uma lata de lixo, uma série
de filmes Super-8 revelados que haviam sido descartados. Recolheu-os e levou-os para casa.
Inspirado por uma retrospectiva que havia visto anteriormente sobre o cineasta canadense
Normam Mclaren (1914-1987), com uma agulha de costura e um projetor começou a
desenhar uma história na própria película do Super-8, um trabalho artesanal e delicado. Após
vários desenhos ele tinha uma animação que receberia o nome de Cotidiano, filme que
tratava de cenas corriqueiras do dia-a-dia.
       Apesar de despretensioso, o filme recebeu elogios de Aramis Milarch que disse que,
apesar das circunstâncias de feitura, o filme era muito criativo. O público também se
entusiasmou, mas como na Primeira Edição não havia Júri Popular, o filme não chegou a ser
premiado.
       Bostelmann também participou como ator no filme Apoio, de Mario Braga que venceu
a I Mostra como Melhor Filme Estudantil. O enredo centrava-se no sonho de uma pessoa com
deficiência física sobre sua aceitação pela sociedade.
       Após terminar o curso técnico, Bostelmann trabalhou por um breve período na área de
Edificações, passou no vestibular de Jornalismo na UFPR e lá se tornou o primeiro calouro
Presidente do Centro Acadêmico.
       Hoje, jornalista do Ministério da Saúde, Jorge Bostelmann destaca que foi uma
experiência fantástica seu envolvimento com o cinema, teatro e atividades do Cineclube, na
ETFPR. Apesar de não ter enveredado para área do audiovisual, o jornalista diz ainda que
isso o ajudou muito no inicio da sua profissão, quando trabalhou na Rede Paranaense de
Televisão.



      2.1.7 A PEDRA FUNDAMENTAL DO CINEMA PARANAENSE


       1975, além de ser o ano que guarda a primeira edição da Mostra de Filmes Super-8 da
ETFPR e o último do Festival Brasileiro do Filme Super-8 que ocorria no Teatro Guaíra, é
também o ano em que é fundada a Cinemateca do Museu Guido Viaro, instituição que
influenciará positivamente no rumo do cinema paranaense.
       Inaugurada em 23 de abril por Valêncio Xavier, seu diretor durante os oito primeiros
anos, a Cinemateca logo se transformou em um pólo centralizador de toda cultura
cinematográfica de Curitiba dos 70 e 80. A partir da visão de Valêncio, o local que poderia
ser só mais uma instituição municipal, representou um verdadeiro alento para os jovens
cineastas, cinéfilos, ou simplesmente amadores, além de outros profissionais do audiovisual
paranaense que lá encontravam um pequeno refugio seguro para criar e dirigir filmes
paranaenses.
       As atividades da Cinemateca não envolviam somente a produção cinematográfica, mas
também a elaboração de cursos práticos, recuperação de filmes, preservação do acervo fílmico
paranaense e atividades de cineclube. Ela também estava recebia cineastas de destaque que
passavam por lá para repartir o que sabiam através de mini-cursos, como Ozualdo Candeias,
Sylvio Back, Rogério Sganzerla e Jean-Claude Bernardet, entre outros. Todo esse apoio e
centralização fizeram com que o cinema paranaense ganhasse um novo capítulo conhecido
como “A geração Cinemateca” que englobava nomes que, a partir daquele espaço, tornaram-
se grandes diretores. Dentre eles podemos citar Peter Lorenzo, Beto Carminatti, Fernando
Severo, Rui Vezaro e Berenice Mendes.
       Em 1996, a Cinemateca mudou do antigo endereço na Travessa Nestor de Castro/Rua
São Francisco para a Rua Carlos Cavalcanti, 1174, onde se mantém até hoje oferecendo
cursos de prática de cinema, abrigando lançamentos de filmes e oferecendo para a
comunidade em geral uma programação especial de filmes que não chegam ao circuito
comercial.
       Modernizada por uma reforma feita em 2007, hoje ela possui duas salas. Uma com
equipamentos de última geração, batizada de “João Batista Groff”, em homenagem a um dos
cineastas pioneiros do Paraná, exibe filmes clássicos e inéditos filmes de arte que não são
exibidos em outros cinemas. A outra, denominada “Limite”, em homenagem ao clássico de
Mário Peixoto, é dedicada à exibição e apresentações de filmes de diretores locais, mantendo
a tradição de incentivo ao cinema paranaense.
       A Cinemateca também possui uma biblioteca especializada em cinema, além de um
acervo de filmes e de materiais preciosos como pastas com recortes de inúmeros jornais sobre
cinema paranaense que nos ajudam a tecer um panorama da nossa história cinematográfica.




2.1.8 A II MOSTRA NACIONAL DO FILME DOCUMENTÁRIO - 1976



SUPER-8 ECONÔMICO

       Após realizar a Primeira Mostra Internacional do Filme Super-8 com uma repercussão
além da esperada, pois a Mostra foi muito bem aceita pela imprensa, o organizador da mostra
José Augusto Iwersen junto com o então diretor da ETFPR, professor Ivo Mezzadri, decidiu
buscar um novo foco. Deixava-se agora toda a abrangência da primeira Mostra para abrigar os
documentários (v. Anexo 6).
       Estávamos na década de 70, e o documentário se tornara a forma corrente de denúncia
de uma realidade que gritava, priorizando, em geral, temas de nossa cultura que iam da
religiosidade à cultura popular. Nesse sentido Iwersen, ele próprio um exímio documentarista,
anuncia a primeira mostra do gênero na cidade.


A MOSTRA DO FILME DOCUMENTÁRIO DEIXOU A DESEJAR


       Apesar de todo o contexto favorável a uma Mostra dedicada a um gênero
cinematográfico tão popular na época, a Mostra Nacional do Filme Documentário foi
prejudicada pela falta de divulgação. Uma falha grave afinal para um evento que se pretendia
nacional, esse erro comprometeu toda a promoção. Um número reduzido de cineastas se
inscreveu, chegando a haver quem propusesse o adiamento da Mostra.
       Com o auxílio das Cinematecas Guido Viaro e a do Museu de Arte Moderna, do Rio
de Janeiro, e também de participantes da edição anterior, a Mostra foi realizada contando com
40 filmes inscritos sendo que a maioria das películas já havia sido exibida na Mostra anterior
ou em outros festivais.


A MOSTRA


       Os filmes inscritos na Mostra Nacional do Filme Documentário concorreram em três
categorias: artes plásticas, técnico e cientifico, dificultando o trabalho do júri formado por
integrantes do eixo Rio – São Paulo que encontrou filmes que não se enquadravam em
nenhum desses gêneros.
       Tentando encontrar uma solução para o impasse, o corpo de jurados decidiu, em
consenso, avaliar os filmes como “cientificamente didáticos”, destinados a serem utilizados
em sala de aula, como um auxílio no ensino.
       Como o novo foco, o prêmio de melhor filme foi para Há uma gota de sangue em
cada poema, denominado também de Maciel. Dirigido por Tuna Espinheira, o filme tratava
de um bairro de Salvador, famoso pela prostituição, miséria, promiscuidade e degradação.
Na categoria de filme técnico foi vencedor o conjunto de filmes que documentavam
cirurgias relevantes e inovadoras na área da saúde, exibido pelo curitibano J. A. Duarte na
edição anterior do Mostra na Escola Técnica.
       Na categoria de artes plásticas, o vencedor foi um documentário curto sobre um pintor
primitivo nordestino, dirigido por Pedro Jorge com fotografia de Valter Carvalho.
       A Menção Honrosa foi dada aos filmes Sob o ditame de rude almajesto, de Olney São
Paulo, que documentava a previsão da chuva feita pelo nordestino a partir de interpretação ou
leitura dos sinais encontrados na própria natureza, e Palmas para Jesus, em que a diretora
Mariza Leão falava sobre o pentecostalismo que, naquela época, crescia como um fenômeno
religioso considerável. George Jonas levou outra Menção Honrosa pelo conjunto de filmes
Sementinha, que tratava da reprodução de plantas.
       O diretor de cada filme selecionado recebeu 7 mil cruzeiros. O júri também concedeu
um prêmio de incentivo para o filme Proteus, uma produção de Cornélio Procópio que
tratava do lançamento frustrado de um foguete construído pelos alunos de uma escola.



      2.1.9 A III MOSTRA NACIONAL DO FILME SUPER-8 - 1977


       O ano de 1977 marca, no cinema mundial, o surgimento da saga Star Wars, dirigida
por George Lucas, e tido, por muitos, como o marco inicial da era dos chamados
Blockbusters.
       No mesmo ano, no dia três de novembro tinha início a III Mostra Nacional do Filme
Super-8, da Escola Técnica Federal do Paraná (v. Anexo 7). Diferente da II Mostra, essa
terceira edição volta a privilegiar todos os gêneros fílmicos.
       Aberta a diferentes estilos, a III Mostra recebeu aproximadamente 60 filmes inscritos.
Dentre as inscrições, 20 inscrições foram de cineastas curitibanos, duas de Londrina, duas de
Paranaguá e duas de Cornélio Procópio.
       Os prêmios chegaram a 70 mil cruzeiros, sendo 45 mil do Fundo Nacional de
Desenvolvimento e 25 mil da Embrafilme.
       Com o objetivo de divulgar o evento em circuito nacional, ao mesmo tempo em que
trazia para a Mostra profissionais da crítica de cinema a prática de incluir jornalistas do eixo
Rio - São Paulo foi mantida nessa III Mostra sendo a escolhida, para essa edição, a jornalista
do jornal O Estado de São Paulo, Pola Vartuk.
OS VENCEDORES
       Favelando, de Hélio Lemos, do Rio de Janeiro, foi o grande vencedor da III Mostra
Nacional do Filme Super-8, recebendo os prêmios de Melhor Documentário (10 mil
cruzeiros), Melhor Filme Estudantil (6 mil cruzeiros) e Melhor Apresentação (3 mil cruzeiros)
.
       Tabela, de Henrique de Oliveira/Bernardo Caro e Berenice de Oliveira, de Campinas,
recebeu os prêmios de Melhor Filme de Arte e Melhor Trilha Sonora (6 e 3 mil cruzeiros,
respectivamente). O prêmio de Melhor Filme Didático ficou para Uma viagem em vitrais, de
Hugo Mengarelli e equipe que levou 10 mil cruzeiros. O de Melhor Ficção ficou para Lona
Suja, de Francisco Simões.
       Os irmãos Wagner, de Curitiba, receberam, com o filme Ensaios, o segundo lugar na
categoria Didáticos, e filme na de Animação (5 e 6 mil cruzeiros, respectivamente). O de
Melhor Documentário ficou para Círio de Nazaré, de Paes Loureiro, de Belém do Pará. O de
Melhor Fotografia, para Urubu, da Bahia. O de Melhor Roteiro, para Contraponto, de Brasília
e a Menção Honrosa foi para Fausto, de Londrina. O prêmio de incentivo foi para O estranho
mensageiro, de Ciro Matoso.



      2.1.10 RELATO – HÉLIO LEMOS


       “O Favelando foi feito, inicialmente, como trabalho de grupo de faculdade. Eu era
aluno da ECO, Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas já
tinha certeza que queria fazer filmes. Tinha 21 anos.
       Favelando é a história de um grupo de estudantes de jornalismo de classe média
tentando fazer um trabalho sobre remoção de favelas e desigualdade social no Rio. É uma
colagem bastante anárquica sobre poder e cidadania. O filme fez muito sucesso dentro da
faculdade, e resolvemos inscrevê-lo no Festival de Curitiba.
       Quando o festival começou, ficamos sabendo pelo Simões – eu ficara no Rio – que o
filme tinha sido proibido pela censura de ser exibido na competição, mas que o Júri decidira
que iria mantê-lo no festival mesmo assim e que ele, mesmo censurado, poderia ser premiado.
       Na véspera do dia do encerramento do Festival decidi ir a Curitiba, incentivado pelo
Simões que me dizia que os jurados elogiavam muito o Favelando. O presidente do Júri era o
escritor, professor e cineasta, Marcos Margullies, já falecido.
A festa de premiação estava para começar quando ficamos sabendo que havia uma
possibilidade de liberação do filme para exibição.
       Logo de início, o Favelando ganhou um prêmio de Solução de Apresentação, pois o
filme utilizava, no lugar dos créditos, uma profusão de documentos dos participantes,
arrumados de forma criativa.
       Eu subi ao palco super feliz e satisfeito: pronto, já podia voltar para o Rio, o filme
havia ganhado algum prêmio. Segue a premiação e novamente sou chamado ao palco para
receber o prêmio de Melhor Montagem – o filme tinha uma linguagem nova, um jeito de
relacionar som e imagem que provocava e instigava. Eu fiquei muito feliz com este segundo
prêmio, pois adorava montagem e tinha sérias pretensões de me tornar um montador
profissional, o que de fato aconteceu e acontece até hoje.
       Começaram a anunciar os vencedores em cada categoria. A nossa chamava Estudantil
e novamente ganhamos como Melhor Filme Estudantil. Neste ponto eu já estava eufórico,
jamais imaginara que pudéssemos ganhar três prêmios. Para encerrar, o apresentador
anunciou o Grande Vencedor do Festival: Favelando, e a minha emoção foi muito forte, pois
logo em seguida as luzes se apagaram e o filme foi exibido – já como grande premiado –
sendo muito ovacionado e bem recebido pelo público. Houve depois um coquetel e nele fiquei
sabendo que o Marcos Margullies havia avisado ao censor, antes da premiação, que dariam
quatro prêmios ao Favelando e conseguiu convencê-lo de que seria melhor liberá-lo para
exibição.
       Depois, me formei jornalista, fui estudar cinema em Londres, e trabalhei por mais de
10 anos como editor e montador de longas do cinema brasileiro, até criar minha própria
produtora, a Quadro a Quadro Produções. O Favelando, ainda em 1977, ganhou o segundo
lugar no Festival de Cinema de Gramado, na categoria Curtas.”
 HÉLIO LEMOS, que participou da Mostra Nacional de Filmes Super-8, de 1977 com o
                                                                           filme Favelando.




      2.1.11 A CENTRAL DE PRODUÇÃO DE FILMES DIDÁTICOS DA ETFPR


       A Central de Produção de Filmes Didáticos da Escola Técnica Federal do Paraná,
criada com o objetivo de abrir um espaço em que houvesse condições de produzir filmes que
pudessem melhorar a técnica de ensino na ETFPR, iniciou suas atividades no mesmo ano da
III Mostra Nacional de Super-8. (v. Anexo 8).
       A ideia era dar condições para o corpo docente da Escola produzir e utilizar filmes
documentários como elementos pedagógicos. Previa-se também que, a partir de um
laboratório para produção de filmes didáticos, servidores da Escola pudessem ser preparados
para a produção de filmes didáticos para o ensino profissionalizante, além de criar uma
opção de atividade extra classe para os alunos, na área de educação artística. No projeto de
criação da Central (v. Anexo 9)é evidenciado como o cinema havia se tornado, para a Escola,
uma ferramenta educacional:


                      “É indiscutível a eficácia da linguagem cinematográfica como forma de
                      apresentação de idéias e conhecimentos. Como recurso didático áudio visual,
                      o cinema é, até o presente momento, a técnica de maior poder de
                      esclarecimento e convicção.”


       Pela Central passaram grandes nomes do cinema paranaense sendo deles Ruy Vezzaro
que ali atuou de 1982 a 1986 dirigindo filmes técnicos e lecionando sobre técnica
cinematográfica. Vezzaro realizou, na Central, mais de 60 filmes abrangendo as áreas
tecnológicas.
       Fernando Severo, hoje um dos mais importantes cineastas paranaenses, também foi
um dos técnicos que atuou na Central.

      2.1.12 A IV MOSTRA DE FILME SUPER-8 DA ETFPR- 1978


       A IV Mostra de Filme Super-8 foi realizada no Centro Federal de Educação
Tecnológica, nova denominação da Escola Técnica Federal do Paraná, a partir de 1978.
Iniciada no mesmo Auditório que abrigou as edições anteriores, a IV Mostra contou com um
grande público e com a expectativa dos participantes diante da possibilidade de exibir seus
filmes para uma platéia repleta.
       Em depoimento ao jornal Correio de Notícias publicado em 9 de novembro de 1978,
Elisabeth Karam, jornalista e diretora do filme Até quando? Inscrito no evento, confirmou a
importância da Mostra para os produtores de Super-8:


                              “Não há outro jeito. A única maneira da gente poder mostrar um filme
                      é num festival. Se não mostrar em festivais, ou num encontro de amigos, o
filme acaba ficando na gaveta. A não ser um possível prêmio num festival, não
                      há retorno de investimento. No Brasil não há campo, ainda, de exibição para
                      essa bitola.”


       Naquele ano, os prêmios se tornaram ainda mais atrativos estando distribuídos nas
categorias de Melhor Filme da Mostra (20 mil cruzeiros); dos três melhores filmes didáticos
(respectivamente 20,15 e 10 mil cruzeiros); do Melhor Filme Estudantil (10 mil), de Melhor
Documentário (10 mil), de Melhor Filme de Arte (10 mil) e de Melhor Filme de Animação
(10 mil). Para as categorias Roteiro, Fotografia e Melhor Apresentação, a premiação seriam
feitas em forma de material cinematográfico.
       A IV Mostra abria também um espaço para discussão em torno do Super-8, estando
incluídas, na programação, palestras sobre cinema no período da tarde. Entre os palestrantes
a Mostra trouxe Abraaão Berman que falou sobre “O super-8 em ação”, André Margulis que
tratou do tema “A importância do cinema como pesquisa e informação” e, por último, Marcos
Margulis que falou sobre “O cinema na educação”.
       O júri oficial composto por vinte e um profissionais de diferentes áreas do
conhecimento contou com o professor de estética da Universidade Católica do Paraná,
Roberto Figurelli; com o cientista Freire Maia; com o arquiteto Rubens Meister; com os
jornalistas Francisco Alves do Santos, Marilu Silveira e Aroldo Murá; com o ex-professor da
ETFPR, Guilherme Bender; com os professores do CEFET-PR Ingo Toedler, Antonio
Sokoloski, José Carlos Laurindo, Edson Iwamura, Antonio Venevides e com o representante
da Ótica Boa Vista, Eloir, Baglioli, além do Diretor do Departamento Profissionalizante da
EMBRAFILME, Reinaldo Knittel Dias; de Frederico Góis, Diretor do Departamento de
Assuntos Não Comerciais da EMBRAFILME; de Pedro Natal, representante da Kodak do
Brasil; de Cesar Braga de Oliveira, representante do MEC; de Marcos Margulis, professor da
UFPRJ; de André Margulis, representante da Rede Globo de televisão e Abraão Berman,
cineasta e diretor do GRIFE.


INSCRITOS
       Os filmes inscritos na IV Mostra passaram por uma seleção prévia composta por
profissionais ligados à arte, educação e cinema que seguiram os critérios de:
a) adequação do filme aos objetivos da Mostra enunciados no item 2 do Regulamento que
dizia que a IV Mostra Nacional do Filme super-8 era de caráter nacional e que tinha por
objetivo estimular a produção de filmes educativos e de documentários técnicos e científicos
que poderiam efetivamente contribuir para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem
em nosso país;
b) qualidade técnica do filme;
c) adequação à categoria proposta pelo responsável na ficha de inscrição;
d) do prazo de chegada do filme e ainda a falta de ficha de inscrição de alguns filmes que não
puderam ser identificados.
       Ao todo foram inscritos 89 filmes sendo 37 do Paraná, 14 do Rio de Janeiro, 18 de São
Paulo, 4 de Brasília, 13 de São Luiz do Maranhão, 1 de Belém do Pará, 2 de Santa Catarina e
1 da Bahia. Desses 89 inscritos foram selecionados 50 filmes.


DESTAQUES
       Um dos destaques da IV Mostra foi a temática social explorada pelos 13 filmes que
vieram de São Luís do Maranhão, no total de 13. Entre outros temas os filmes abordaram o
problema do êxodo rural, da baixa condição de vida nordestina e o registro de características
da própria região.
       Em 1978, a Central de Produção de Filmes Didáticos do CEFET-PR participou da
Mostra na categoria de Filme Didático, com a produção coletiva Arriamento da Bandeira, que
registrava o ritual cívico da descida da Bandeira Nacional.


PREMIADOS
       A IV Mostra do Filme Super-8 foi encerrada no dia 11 de novembro, com entrega de
prêmios e exibição dos filmes premiados.
       Epílogo, filme de Claudine Perina, foi o grande vencedor, tematizando os abusos do
homem contra a natureza e a desumanização do mundo moderno. Foi pena Q foi eleito o
Melhor Filme da mostra pelo Júri Popular. Dirigido pelos Irmãos Wagner, de Curitiba, o
trabalho era uma sátira sobre o Descobrimento do Brasil.
       Na categoria Didática os três premiados foram: A vida a 18.000 a.c, de Ito Pedro de
Souza, de Curitiba, Movimento Retilíneo Uniformemente Acelerado, de Luiz Roberto Gomes,
de Curitiba e Spelaion, de Clayton Lino que também ganhou na categoria Melhor Fotografia.
       Na categoria Estudantil o melhor filme foi Caminhando, de Nelson Martins e Antônio
Domingues, de Curitiba. A cidade dos executivos, também dos Irmãos Wagner, ganhou como
Melhor Filme de Animação e Ora bolas venceu na categoria Artes, com a Melhor Trilha
Sonora e Apresentação.
O documentário vencedor da Mostra foi Pescadores da Raposa, de Jorge Martins, de
Brasília. O filme teve por tema uma colônia de pescadores do Nordeste.
       A Menção Honrosa ficou para Gran Circo Natal, de Francisco Simões. O filme Até
quando, de Elisabeth Karam e o filme Marionete, de Varli Martins recebem os prêmios Voz
do Paraná e Cinemateca do Museu Guido Viaro, por apresentarem relevância à cultura local.
       Adaptado de um conto de Dalton Trevisan, o filme O besouro produzido por Hugo
Mengarelli e alunos da Universidade Católica do Paraná recebeu o prêmio de Melhor
Produção da IV Mostra Nacional do Filme Super-8.

      2.1.13 RELATOS: FRANCISCO SIMÕES E ELISABETH KARAM

GRAN CIRCO DO NATAL
       “Nesse filme tive a intenção de fazer críticas ao ambiente festivo da época natalina
que, infelizmente, não alcança a todos nem a todas as famílias. Expus à crítica também a
exploração comercial levada a efeito naquele período, exibindo um autêntico festival de
anúncios, tanto de revistas quanto da TV.
       Mostrei a festa realizada no Estádio do Maracanã, repleto de crianças, com
apresentação de artistas de circo, músicos e cantores e a triunfal chegada de Papai Noel, de
helicóptero. Estive lá com Zezé e filmei todo o acontecimento naquele ano. Durante o filme as
cenas se intercalam num ritmo alucinante e se mesclam com a filmagem que eu fizera na casa
de minha cunhada, Joamar, irmã de Zezé, durante uma noite de Natal com ceia farta, e muita
gente reunida. Essas cenas começam com a lenta arrumação da mesa onde todos iriam se
banquetear mais tarde.
       Usei cenas de rua e também a rotina de um menino pobre, na mesma noite, sem festa,
sem ceia, sem Papai Noel. O pequeno ator que desempenhou este papel foi o meu sobrinho
Glauco Fernandes, hoje um excelente e respeitado violinista, músico e arranjador.
       O fundo musical foi escolhido com muito carinho. Algumas músicas natalinas além de
interpretações do conjunto MPB-4 (“A fome tem que ter raiva de interromper/A raiva é a
fome de interromper”...), músicas circenses, a bonita Gente Humilde, de Chico Buarque,
cantada por Ângela Maria, além de duas excelentes interpretações de Ivan Lins e Elis Regina.
       Nas cenas finais do filme, justamente quando o espetáculo do Maracanã também
caminhava para o encerramento, sobe a música interpretada por Elis cuja letra, ao final, diz:
“... somos todos bons demais/sufocados pelo mal/só queremos acreditar/ que isso tudo pode
acabar”...
Este trabalho seguiu a linha mestra da grande maioria do que produzi em curta-
metragem, naquela grande fase do cinema Super-8, ou seja, a crítica política e social. Todos
os filmes estiveram em algum Festival, alguma Mostra, pelo Brasil afora, geralmente no
circuito universitário.
       Alguns foram excluídos pela censura oficial da época, outros retirados pelos próprios
organizadores que se curvavam àquele absurdo monstruoso procurando agradar aos senhores
do poder autoritário que se impunham pela força.
       Gran Circo do Natal, com duração de 12 minutos, foi apresentado em um Festival na
Universidade Federal do Maranhão, em São Luis, onde mereceu Menção Honrosa e outra no
CEFET, em Curitiba. Era a segunda vez que eu comparecia à Mostra de Super-8, na primeira
me haviam concedido o primeiro lugar, em Ficção, com o filme Lona Suja.
       Foi muito gratificante para mim a decisão que o júri da mostra do CEFET, em
Curitiba, tomou, ao criar um prêmio que não existia para atribuir ao meu Gran Circo do
Natal. O prêmio denominado Solidariedade Humana. Creio que não preciso dizer mais nada.”
    FRANCISCO SIMÕES participou da Mostra de Filme Super-8, de 1978 com o filme
                                                                          Gran Circo Natal.



Até Quando
       “Na época, eu estava bastante envolvida com cinema, assim como com um grande
grupo de pessoas que vivia bastante o cinema em Curitiba no final da década de 70, liderado
pelo Valêncio Xavier. Ele foi meu professor de Cinema no curso de Jornalismo que fazia na
Católica. Mas ele aglomerava um grupo em torno da Cinemateca com sessões de cinema,
mostras e festivais, cursos e mais cursos rápidos - de dois dias, uma semana, com pessoal que
o Valêncio trazia de fora. Enfim, encontrávamos quase sempre as mesmas pessoas nesses
locais. E se falava e se conversava sobre cinema.
        Sempre gostei de cinema, estava fazendo Jornalismo (me formei em 1976). Estagiava
como repórter – e também comecei a fazer comentários de filmes no extinto Diário do
Paraná e também no jornal Pólo Cultural que circulava na época. E tinha também uma idéia
de fazer um filme em Super-8 com a máquina que ganhei do meu pai de presente de
formatura.
       Foi minha primeira experiência – e única. Não lembro do dia da premiação, não.
Depois desse filme, estava com um projeto para fazer um outro em 16 mm, quase tudo
acertado, mas aí me mudei para Florianópolis e o projeto parou. Em Florianópolis continuei
com o projeto, estava conseguindo verba, parei também. Continuei no Jornalismo, fazendo
durante muitos anos a cobertura cultural.
          O filme está ainda só em Super 8, sempre penso em passar para outro formato, como
forma de preservá-lo, mas até hoje não fiz. Eu acho que[a Mostra] tinha boa cobertura da
imprensa, é só ver os jornais da época.
          Naquela época havia uma movimentação em torno de cinema, cinemateca, festivais,
cursos, um grupo estava se formando. Muitos deles seguiram em frente, assim como alguns
que foram chegando depois. Acho que muitos dos nomes do cinema paranaense de hoje são
oriundos daquela época fomentada pelo Valêncio Xavier, em torno da Cinemateca, da
Fundação Cultural de Curitiba. Não só de cinema. Tinha exposições, lançamentos de livros,
muita coisa acontecia. A Fundação Cultural de Curitiba, especialmente, promovia muita
coisa.”
            ELISABETH KARAM participou da Mostra de 1978 com o filme Até Quando?




      2.1.14 A V MOSTRA DE FILMES SUPER-8, NA ETFPR - 1979


          A V Mostra Nacional do Filme Super-8 foi uma das mais atribuladas da história do
evento. Já no primeiro dia, uma onda de protestos pela eliminação do filme O Mágico, de
Hugo Mengarelli tomou conta da Mostra. Não selecionado pelo júri da seleção prévia porque
infrigia o regulamento da V Mostra que só aceitava filmes realizados por brasileiros ou
estrangeiros naturalizados, o filme foi exibido em sessão especial apenas para alguns
membros do Júri Oficial, revelando-se um ótimo trabalho segundo o corpo de jurados.
          Diante da qualidade do filme, o júri sugeriu a Mengarelli que desse o crédito de
direção para os alunos orientados por ele para a elaboração do documentário. Sem atender ao
pedido dos jurados, Hugo Mengarelli remontou os créditos colocando um “x” em cima de seu
nome, ocasionando a eliminação definitiva da Mostra.
          Exibindo um total de 45 filmes, a V Mostra encerrou suas atividades com um debate
em que se discutiu a necessidade de serem criadas Mostras ao dos filmes premiados desde
1970 que poderiam circular por todo o país e serem conhecidos pelo grande público.
          Seguindo a tradição de trazer para compor o júri nomes de relevância nacional a V
Mostra Nacional do Filme Super-8 contou com a presença de Jairo Ferreira, jornalista da
Folha de São Paulo e diretor dos longas metragens O vampiro da Cinemateca e O Insigne
Ficante, e dos curtas O Guru e os guris, O M de Minha mão, Antes que eu me esqueça e
Horror Palace Hotel. Além dessas atividades, Jairo Ferreira publicou o livro Cinema de
Invenção, considerado um clássico da bibliografia sobre o cinema marginal brasileiro. Sobre a
Mostra de Super-8 do CEFET-PR, escreveu três matérias para a Folha de São Paulo em que
discorrreu sobre as “Misérias e Glórias do Super-8 em Curitiba”.


OS VENCEDORES
          Anunciados pelo Presidente da Mostra e Diretor do CEFET-PR, professor Ataíde
Moacyr Ferrazza, os vencedores da V Mostra de Filmes Super-8, do CEFET-PR foram:
Mané da Paz, fabricante de viola, de Celso Luck, vencedor nas categorias Documentário (Cr$
20 mil) e Melhor Filme (Cr$30 mil); Aluminosa Espera do Apocalipse, de Rui Vezzaro, na
categoria Estudantil (Cr$ 20 mil) e do Prêmio Especial do Júri (Cr$ 20 mil em materiais
cinematográficos). Nas categorias Artes(Cr$ 20 mil) e Júri Popular, o vencedor foi o cineasta
Perina.




      2.1.15 UM FIM NÃO ANUNCIADO


          O Super-8 que nascera no cinema paranaense de forma tímida em meados de 1974
avançou durante meia década trazendo consigo adeptos que acreditam que “é fazendo cinema,
que se aprende cinema”. Aquilo que surge de uma vontade amadora toma forma até ser
reconhecida como uma obra artística de nível profissional.
          Em 1979 já não se discutia as limitações do formato Super-8, mas sim as
possibilidades que ele podia trazer ao cinema paranaense e brasileiro que se expandia para
caminhos então desconhecidos. É nesse sentido que podemos dizer que a edição de 1979 das
Mostras realizadas pela ETFPR completou um ciclo que se inscreveu na história do cinema
paranaense e nacional. O Super-8 havia realmente despertado novos cineastas, ganhou a
crítica e um certo espaço, conforme atesta nota publicada no jornal Diário do Paraná de 3 de
dezembro de 1982 (v. Anexo 10).
          Não foi encontrado nenhum registro sobre a extinção das Mostras de Super-8 da
ETFPR/CEFET-PR. Uma suposição pode ser feita a partir da carência de patrocínios para a
área cultural que permeou a década de 80. Outra possibilidade é a grande aceitação que os
aparelhos de videocassete passaram a ter no período, praticamente extinguindo os filmes de
bitola de 8 mm.

                                      3.0 CONCLUSÃO

       Ao realizar o Trabalho de Conclusão de Curso, Mostras de Cinema Super-8 na Escola
Técnica Federal do Paraná no Final da Década de 70: um resgate histórico, descobrimos
que em uma pesquisa, por mais que nos aprofundemos, sempre que a encerramos a sensação
de incompletude é maior do que a sensação de finalização. Talvez porque seja difícil unir
todas as pontas sobram arestas abertas que não podemos fechar completamente. Descobrimos
também que a pesquisa é, antes de tudo, uma interpretação, ainda que baseada em
documentos e fontes confiáveis, e, por isso, ela é passível de contestações e questionamentos.
       O trabalho que realizamos apresentou os meandros das cinco edições das Mostras de
Cinema Super-8 que ocorreram no final da década de 70, na Escola Técnica Federal do
Paraná. Essas Mostras possibilitaram a toda uma produção em Super-8 que estava sendo
realizada pudesse ter um espaço apropriado de exibição e, mais do que isso, permitiu que
essas obras também fossem discutidas, avaliadas e premiadas. Talvez seja adequado dizer, ao
final desse trabalho, que mais do que Mostras, o que a ETFPR promoveu foram verdadeiras
celebrações, pois no período de duração do evento, estiveram em evidência o formato Super-
8, os cinéfilos, os novos e velhos cineastas e a reunião estimulante de nomes da cultura
paranaense e nacional que, durante as cinco edições, se alternaram na composição do júri.
       Todo esse conhecimento dos elementos que compuseram essa história se transforma,
aqui, no elo de ligação entre passado e presente trazendo para os dias atuais um dos fatos mais
representativos da história centenária da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e
também do Cinema Brasileiro e Paranaense da década de 1970.
ANEXOS
Anexo 1: Capa do suplemento especial dedicado à I Mostra Internacional de Filme Super-8, da
ETFPR
Anexo 2: Nota assinada pelo jornalista Aramis Millarch divulgando a apresentação da I Mostra
Internacional de Filmes Super-8




        O cineasta José Augusto Iwersen, diretor do Studio 8 e professor de Cinema na Escola Técnica
Federal do Paraná, anunciou ontem, oficialmente, uma grande promoção: I Mostra Internacional do Filme
Super 8. Patrocinada pela Escola Técnica Federal do Paraná, através de sua coordenação de Educação
Artística, dirigida pela professora Rosane Camera, esta grande promoção cinematográfica será realizada de
22 a 28 de setembro de 1975. Com a participação de filmes de vários países, realização paralela de um
festival do cinema brasileiro e distribuição de Cr$ 100 mil em prêmios, a Mostra idealizada por Iwersen (ex
Cine Clube Pró-Arte, ex-cine de arte Rivieira, editor de livros sobre cinema etc.), deverá alcançar
promoção internacional. Pelo seu relacionamento em todos os Estados e livre trânsito junto aos setores de
comunicação e cultura do Estado, tem todas as condições de fazer de seu festival Super 8, um
acontecimento da maior importância, entre tantas outras promoções semelhantes realizadas em várias
cidades brasileiras.
                 ARAMIS MILLARCH - ESTADO DO PARANÁ - SEÇÃO: TABLÓIDE - 18/03/1975
Anexo 3: Foto 1 - Diretora do Museu da Imagem e Som do Paraná , Mauro Alice e Percy Tamplin,
membros do júri da I Mostra Internacional de Filmes Super-8. Fotos 2 e 3 - Rosane Saldanha Câmera
e José Augusto Iwersen, organizadores da I Mostra. Foto 4 - Grupo reunindo intérpretes e realizadores
de dois filmes do Paraná – A pedra fundamental e Enigma
Anexo 4: Anúncio de projetores da empresa Sosecal, patrocinadora da I Mostra de Filmes Super-8, da
ETFPR.
Anexo 5: Texto assinado por Aramis Millarch anunciando a inscrição de filmes de Godard e
Resnais, na I Mostra de Super-8, da ETFPR.




O cineasta José Augusto Iwersen recebeu ontem telefonema de monsieur Amy Courvisier, diretor da
Unifrance, comunicando que três filmes em super-8, realizados por um cineasta chamado Jean-Luc Godard
e Alain Resnais, estarão concorrendo na I Mostra Internacional em Super-8, que Zé Iwersen coordena para
a Escola Técnica Federal do Paraná em setembro próximo. Prestígio e bom relacionamento é isso! A
propósito: Godard e Alain Resnais, caso recebam passagens, virão a Curitiba para participar do Festival da
ETFPR.
                ARAMIS MILLARCH - ESTADO DO PARANÁ - SEÇÃO: TABLÓIDE - 19/04/1975
Anexo 6: Texto de Aramis Millarch notificando a realização da II Mostra de Filmes Super-8, na
ETFPR, com a inclusão de novas categorias.


Reunido com o cineasta José Augusto Iwersen e a professora Rosane Câmera, terça-feira, o professor Ivo
Mezzadri, o poderoso diretor da Escola Técnica Federal do Paraná já deu instruções para que se iniciem os
preparativos da II Mostra Internacional do Filme Super 8. A grande repercussão da mostra realizada na
semana passada, o bom nível dos filmes premiados e, principalmente, o fato de toda a promoção ter custado
à escola menos de Cr$ 20 mil (os prêmios foram oferecidos pelo grupo importador Sosecal/Focal e algumas
entidades) animaram o professor Mezzadri a estimular novos eventos, abertos inclusive a outras categorias,
em especial o cinema cientifico, didático e esportivo. O pequeno custo da promoção mostrou o que pode
fazer a boa organização, a honestidade da coordenação e o empenho em realizar um acontecimento sério e
sem auto-promoções.
               ARAMIS MILLARCH - ESTADO DO PARANÁ – SEÇÃO -TABLÓIDE - 03/10/1975
Anexo 7: Nota publicada no Nosso Jornal, órgão de divulgação da ETFPR, sobre a realização da III
Mostra de Filmes Super-8.


De 3 a 5 de novembro terá lugar na Escola a III Mostra Nacional do Filme Super 8. Além das diversas
categorias da Mostra, haverá a Didática que será a de maior interesse. A mostra começará a ser divulgada
em setembro e os interessados já poderão começar a pensar na produção de filmes para concorrer
                                                                 NOSSO JORNAL, AGOSTO DE 1977
Anexo 8: Nota de Aramis Millarch sobre a criação, na ETFPR, da Central de Produção de Filmes
Didáticos.




A Escola Técnica Federal do Paraná acaba de ganhar da EMBRAFILME uma Central de Produção de
Filmes Didáticos. A Central deverá funcionar ainda este ano e é resultado de um Projeto apresentado pela
Escola àquela entidade. No final do mês de agosto estarão em Curitiba representantes da Embrafilme que
virão para assinar o Convênio de instalação da Central. Professores e alunos da Escola já poderão pensar na
produção de filmes didáticos. Nossa escola será a única do País que terá esta condição.
               ARAMIS MILLARCH - O ESTADO DO PARANÁ - SEÇÃO: TABLÓIDE - 05/11/1977
Anexo 9: Capa do projeto de criação do Laboratório de Filmes Didáticos, criado na Escola
Técnica Federal do Paraná, em colaboração com a Embrafilme .
Anexo 10: Nota publicada pelo jornal Diário do Paraná sobre a posição atingida pela última
edição da Mostra de Filmes Super-8, da ETFPR.




O superoito no Paraná chega ao auge em 1979 (última edição da Escola Técnica), quando os filmes
revelam incrível maturidade tanto a nível artístico como técnico alcançando o reconhecimento nacional em
festivais de expressão como Gramado, Salvador, São Paulo e Campinas. Os prêmios se multiplicam.
Nomes como Celso Luck, Ciro Matoso, José Augusto Iwersen, Irmãos Wagner, Fernando Severo, Peter
Lorenzo, Rui Vezaro, Pedro Merege, Hugo Mengarelli, Aparecido Bueno Marques, Nivaldo Lopes,
Manfredo Osterroht, dentre outros, fazem do superoito veículo de expressão cultural tão importante quanto
as bitolas de 16mm e do 35 mm.
                                                                          Diário do Paraná, 08-12-1982
REFERÊNCIAS

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de Janeiro: Elsevier, 2006.

BARTHES, Roland. O discurso da História. In BARTHES, Roland. O Rumor da língua. Trad. Mário
Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchio. Trad. Carlos Albert Medeiros. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

BORGES, FLÁVIA. A memória da empresa: construindo arquivos empresariais. In Miranda, Danilo
Santos. Memória e Cultura: a importância da memória na formação cultural humana. São Paulo: SESC
SP, 2007.

BURKE, Peter. O que é história cultural?, Trad. Sérgio Góes de Paula. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2005.

CAPRINO, Mônica Pegurer; Perazzo, Priscila Ferreira. Possibilidades da comunicação e Inovação
em uma dimensão regional. In Caprino, Mônica Pegurer. Comunicação e Inovação – Reflexões
Contemporâneas. São Paulo: Paulus, 2008.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002.

DAVALLON, Jean. A imagem, uma arte da memória?. In NUNES, José Horta. Papel da Memória.
Campinas: Pontes, 1999.

GAGETE, Élida; TOTINI, Beth. Memória Empresarial - Uma análise da sua evolução. In NASSAR,
Paulo. Memória de Empresa: história e comunicação de mãos dadas, a construir o futuro das
organizações. São Paulo: Aberje, 2004.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Guacira Lopes Louro [et al.]. 11. ed.
Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006.

MARICATO, Adriano. História e Memória. In: MARCHIORI, Marlene (org). Faces da cultura e da
comunicação organizacional. São Caetano do Sul: Difusão, 2006.

MENESES, Ulpiano Bezerra. Os paradoxos da memória. In: Miranda, Danilo Santos (org). Memória
e Cultura: a importância da memória na formação cultural humana. São Paulo: SESC SP, 2007.

MIRANDA, Luiz Felipe. RAMOS, Fernão. Enciclopédia do Cinema Brasileiro. 2 ed. São Paulo:
Editora Senac, 1997.

NASSAR, PAULO. Relações Públicas na construção da responsabilidade histórica e no resgate da
memória institucional das organizações. São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2007.

PEREIRA, Jesus Vasquez; WORCMAN, Karen. História Falada: memória, rede e mudança social.
São Paulo: SESC SP: Museu da Pessoa; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio: In: Estudos Históricos: Rio de Janeiro: V. 2,
n.3, 1989. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/asp/dsp edicao.asp?cd edi=15, Acesso em:
18 de set. 2008
____________. Memória e identidade social. In: Estudos históricos. Rio de Janeiro: V. 5, n. 10, 1992.
Disponível em: http://ww.cpdoc.fgv.br/revista/asp/dsp edicao.asp?cd edi=15, Acesso em: 18 de
set.2008

PÊCHEUX, Michael. Papel da Memória. In NUNES, José Horta. Papel da Memória.
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RICCEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain François [et al.]. Campinas, SP:
Editora Unicamp, 2007.

SANTOS, Francisco Alves. Cinema no Paraná: nova geração. Curitiba: FCC, 1996.

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  • 1. UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL GEVERSON BISPO RODRIGUES MOSTRAS DE CINEMA SUPER-8 NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DO PARANÁ NO FINAL DA DÉCADA DE 70: UM RESGATE HISTÓRICO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2010
  • 2. GEVERSON BISPO RODRIGUES MOSTRAS DE CINEMA SUPER-8 NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DO PARANÁ NO FINAL DA DÉCADA DE 70: UM RESGATE HISTÓRICO Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação, apresentado à disciplina de Trabalho de Diplomação, do Curso Superior de Tecnologia em Comunicação Institucional, do Departamento de Comunicação e Expressão – DACEX, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, como requisito parcial para obtenção do título de Tecnólogo. Orientadora: Professora Mestre Selma Suely Teixeira CURITIBA 2010
  • 3. TERMO DE APROVAÇÃO Aluno: Geverson Bispo Rodrigues (887129) Mostras de Cinema Super-8 na Escola Técnica Federal do Paraná no Final da década de 70: um resgate histórico Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II do Curso Tecnológico de Comunicação Institucional do Departamento Acadêmico de Comunicação e Expressão da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Banca Examinadora: Prof. Msc. Almir Correa, UTFPR/DACEX Profª. Dr. Angela Maria Rubel Fanini, UTFPR/DACEX Profª..Dr. Denise Rauta Buiar, UTFPR/GEREP Orientadora: Profª. Msc. Selma Suely Teixeira, UTFPR/DACEX
  • 4. Aos meus pais por acreditarem. Aos meus amigos por não esquecerem.
  • 5. AGRADECIMENTOS Agradeço o entusiasmo incessante da minha professora e orientadora Mestre Selma Suely Teixeira com esse trabalho, mesmo quando ainda nem sabíamos que ele se transformaria no meu TCC. Sua orientação cuidadosa fez com que essas páginas pudessem crescer em segurança. Através da Professora Mestre Maurini de Souza A. Pereira quero reverenciar todos os professores do Curso de Comunicação Institucional que, no decorrer do Curso, me fizeram enxergar a Comunicação como uma área instigante. Fica registrado aqui o carinho que recebi dos servidores da Cinemateca de Curitiba que abriram os seus arquivos sobre cinema paranaense com sorrisos estimulantes. Agradeço também a Biblioteca Pública do Paraná, principalmente a Divisão de Documentação Paranaense, onde pude consultar uma infinidade de pastas durante as manhãs preguiçosas de sábado. Também agradeço ao Núcleo de Documentação Histórica da UTFPR (NUDHI) onde encontrei verdadeiras preciosidades. Espero que esse trabalho seja parte do meu agradecimento aos entrevistados que se mostraram extremamente prestativos e solidários ao revelarem suas participações nas Mostras. Fico grato ao Jorge Luiz Bostelmann por abrir para mim as portas da sua casa aqui em Curitiba e, também àqueles que, mesmo longe, como Hélio Lemos, Francisco Simões e Elisabeth Karam, responderam meus e-mails com muita atenção e carinho. Não posso deixar de agradecer a meus colegas de turma por compartilharem comigo as alegrias, angústias e a dedicação inerentes ao cursar uma universidade. Por fim, mas não menos importante, meu agradecimento a Bruna, por me fazer rir sempre.
  • 6. “Nunca se deve subestimar o poder de compartilhamento da experiência humana” Paul Thompson “O trabalho (de pesquisa) deve ser assumido no desejo. Se essa assunção não se dá, o trabalho é moroso, funcional, alienado, movido apenas pela necessidade de prestar um exame, de obter um diploma, de garantir uma promoção na carreira”. Roland Barthes
  • 7. RESUMO Este trabalho apresenta o resgate histórico das cinco Mostras de Cinema Super-8 que ocorreram na Escola Técnica Federal do Paraná, hoje Universidade Tecnológica Federal do Paraná, no final da década de 70. Sob esse aspecto procura encontrar, nesse passado, fatos que possam reverberar no presente da Instituição, além de contextualizar e retomar a importância dessa manifestação cultural como parte integrante da história do cinema paranaense e brasileiro dos anos 70. Para realizá-lo, foi feita, inicialmente, uma breve revisão bibliográfica sobre o que hoje se denomina História Empresarial, para logo depois divulgarmos como transcorreram essas cinco edições, por intermédio de jornais da época, documentos que se mantinham até o momento depositados nos arquivos da UTFPR e relatos orais de participantes. Palavras-chave: Super-8, UTFPR, Resgate Histórico, Cinema Paranaense, Memória Empresarial.
  • 8. SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................................7 1.0 MEMÓRIA: UMA POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO...........................................8 1.1 MEMÓRIA EMPRESARIAL...........................................................................................9 1.2 MEMÓRIA SOCIAL.....................................................................................................11 1.3 MEMÓRIA E ACONTECIMENTO .............................................................................11 1.4 MEMÓRIA E IDENTIDADE ......................................................................................13 1.5 AÇÕES PARA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA EMPRESARIAL..........................15 2.0 O Super-8 na ETFPR: elementos para uma história...........................................................17 ..................................................................................................................................................17 2.1.1 POR UMA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE.....................................................17 2.1.1 POR UMA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE.....................................................17 2.1.2 BREVE HISTÓRIA DO SUPER-8............................................................................18 2.1.3 A I Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR - 1975 ...........................................20 2.1.4 GODARD E ALAIN RESNAIS NA ETFPR.............................................................23 2.1.5 A CENSURA E a Mostra DE 1975............................................................................23 2.1.6 RELATO – Jorge Luiz Bostelmann............................................................................24 2.1.7 A PEDRA FUNDAMENTAL DO CINEMA PARANAENSE.................................26 2.1.9 A III Mostra Nacional DO FILME Super-8 - 1977....................................................29 2.1.10 RELATO – Hélio Lemos..........................................................................................30 2.1.11 A CENTRAL DE PRODUÇÃO DE FILMES DIDÁTICOS da ETFPR.................31 2.1.12 A IV Mostra de Filme Super-8 da ETFPR- 1978.....................................................32 2.1.13 RELATOS: Francisco Simões e Elisabeth Karam ...................................................35 2.1.14 A V Mostra de Filmes Super-8, na ETFPR - 1979 ..................................................37 2.1.15 UM FIM NÃO ANUNCIADO.................................................................................38 3.0 CONCLUSÃO....................................................................................................................39 ANEXOS..................................................................................................................................40 Anexo 1: Capa do suplemento especial dedicado à I Mostra Internacional de Filme Super-8, da ETFPR..................................................................................................................................41 REFERÊNCIAS........................................................................................................................51
  • 9. INTRODUÇÃO No final da década de 60 e início da de 70, uma tecnologia fílmica despontava no Brasil e também no exterior: era a câmera Super-8. Em um formato mais simples que as existentes naquele tempo, ela era voltada para o público amador. No entanto, em pouco tempo essas câmeras passaram a ser utilizadas também de forma profissional. É nesse momento de ascensão que surgem festivais e mostras de cinema que procuravam apresentar a produção que se acumulava e debater as limitações do formato Super 8. Esses festivais tiveram fundamental importância para a divulgação da intensa produção feita tanto aqui como no exterior e que recebe, hoje, uma atenção especial por parte dos estudiosos do cinema brasileiro. Ao nos aprofundarmos nas cinco edições de Mostras Super-8 que ocorreram anualmente na ETFPR, de 1975 a 1979, procuramos resgatar parte da história da instituição que parece desconhecida, assim como retirar, dessas edições, elementos que ainda encontrem ecos no presente. É preciso lembrar que esse acontecimento, que durou cinco anos, ocorreu no momento em que o país atravessava um período politicamente conturbado. O regime militar vigorava sob o comando do General Ernesto Geisel que, apesar de assumir o governo prometendo um processo gradual e seguro de retorno à democracia, a conhecida “distensão”, deixou que continuasse presente a censura e repressão. Basta recordarmos que em 1975 ocorre o assassinato do jornalista Vladimir Herzog na sede do DOI-CODI em São Paulo e que, durante os anos que se seguiram, a imprensa e as atividades artísticas e culturais continuaram sendo alvos de perseguições. Na primeira edição da Mostra de Super-8, da Escola Técnica Federal do Paraná, em 1975, filmes internacionais inscritos no evento não foram exibidos devido à censura. Essa mesma atmosfera de ameaça e coerção vai permear as Mostras dos outros anos e estar presente de forma mais direta na edição de 1977, como nos conta Hélio Lemos, participante da III Mostra Nacional do Filme Super-8, em seu depoimento. Dessa forma, o resgate das Mostras de Super-8 da ETFPR deve entendido também a partir desse contexto histórico.
  • 10. 1.0 MEMÓRIA: UMA POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO “Nunca se deve subestimar o poder de compartilhamento da experiência humana”, essa frase do estudioso britânico Paul Thompson, que se transformou em uma das epígrafes que abre esse trabalho, consegue condensar, de maneira clara, aquilo que iremos tratar nessas primeiras páginas durante a abordagem teórica sobre Memória Empresarial. Mas, antes de começarmos a tratar da Memória Empresarial, é necessário que façamos algumas considerações sobre a memória, “esse espaço móvel de divisões, de disjunções, de deslocamentos e de retomadas, de conflitos de regularização... Um espaço de desdobramentos, réplicas, polêmicas e contra-discursos.”(PÊCHEUX, 1999, p. 56). A partir do conceito expresso por Michael Pêcheux é possível entender que a memória apresenta contornos fluídos e que o seu caráter movente tem a possibilidade de transitar em diversas direções. Tais características nos são importantes porque é a partir delas que podemos entender que “A memória em sua potencialidade permite reacender utopias, reconstituir outros tempos, representar diferentes idéias e ideais, reativar emoções, rememorar convivências ou conflitos”. (NEVES, 2000, apud CAPRINO; PERAZZO, 2008, p.117). Não sendo matéria imutável, a memória apresenta, portanto, variações na sua construção e na sua posterior sedimentação permitindo que, em determinadas situações, ela reconstrua os fatos assimilados no passado, a partir do contexto atual. Se pudéssemos tomar de empréstimo a adjetivação “líquida”, criada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, para definir a pós-modernidade, poderíamos estabelecer o termo memória líquida, pois, ao contrário da matéria sólida que se caracteriza pelo seu caráter inflexível e estável, a matéria líquida guarda entre suas características a capacidade de reorganização, expansão e mobilidade, como a memória. Vista sob essa ótica, pode-se afirmar que a memória não se constrói somente a partir dos fatos que vivenciamos e guardamos. Segundo Pollack: A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da pessoa. A memória também sofre flutuações que são em função do momento em que ela é articulada, em que ela está sendo expressa. As preocupações do momento constituem um elemento de estruturação da memória. (POLLACK, 1992, p. 4)
  • 11. Apesar de ser relativamente mais fácil para nós concebermos a memória como uma construção individual, é preciso incluir em nosso entendimento que a memória também é uma construção coletiva e, principalmente, social, sendo, assim, submetida a variações e transformações (POLLACK, 1992). 1.1 MEMÓRIA EMPRESARIAL Nos últimos anos, artigos e livros começam a apontar a denominada Memória Empresarial como um elemento valioso que pode, desde que corretamente gerenciado, gerar nas organizações a ratificação dos seus discursos e também uma análise mais profunda de cultura organizacional. Isso acontece porque, ao compreender a vida de uma organização disposta na linha do tempo, podemos distinguir quão importantes foram e são os fatos históricos, as reações, as linhas de comando e o perfil que ela vai incorporando, traduzindo- se na própria maneira de ser da organização (MARICATO, 2006, p.126) Paulo Nassar, Diretor-Presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial - ABERJE conceitua história empresarial, em seu livro Relações Públicas na construção da responsabilidade histórica e no resgate da memória institucional das organizações como um: Campo controverso de pesquisas que, na atualidade, se debruça, cada vez mais, sobre os acontecimentos das organizações, os seus integrantes e dirigentes, bens e serviços e seus relacionamentos com a sociedade e os seus públicos, configurando o que se denomina história empresarial. (NASSAR, 2007, p. 111) Classificada como um “campo controverso”, a História Empresarial sistematiza o relacionamento entre a instituição e os seus públicos, enquadrando esse relacionamento em um contexto histórico e social. Essa preocupação com os acontecimentos da organização tem suas raízes nas Relações Públicas, que tem como uma de suas principais finalidades satisfazer os interesses de todos os públicos da organização. Segundo Flávia Borges, no artigo “A memória da empresa: construindo arquivos empresariais” publicado no livro Memória e Cultura: a importância da memória na formação cultural humana:
  • 12. Para as empresas, sem dúvida, a preservação da memória serve de suporte para redefinições estratégicas de negócios e de comunicação interna e externa e, neste sentido, é um instrumento valioso para a gestão da cultura e do conhecimento em um cenário marcado por transformações sociais e econômicas em um mercado extremamente competitivo. (BORGES, 2007. p.285) Quando implementados, os programas de Memória Empresarial podem oferecer às instituições uma série de benefícios e ser uma grande aliada da organização como exposto pela autora. Além disso, essa tendência se revela importante também porque as empresas perceberam que tantos os registros físicos do passado como as pessoas que vivenciaram os momentos históricos estavam ser perdendo. Com eles, ia-se também a compreensão dos processos passados, e consequentemente, de seus reflexos no presente. (TOTINI; GAGETE, 2004, p.119) Sob essa ótica, a história da organização acabou por se tornar uma manifestação clara da sua cultura e da sua identidade, pois é a história que: [...] constrói, a cada dia, a percepção que o consumidor e seus funcionários têm das marcas, dos produtos, dos serviços. O consumidor e o funcionário têm na cabeça uma imagem, que é histórica. Uma imagem viva, dinâmica, mutável, ajustável, que sofre interferências de toda natureza. A imagem, somada à reputação, é determinante para o cidadão, nas inúmeras situações em que se relaciona com a empresa, e para o empregado, na hora de se aliar á causa da empresa. Por isso, todo cuidado é pouco e toda atenção é necessária. (NASSAR, 2007, p.139) Dessa maneira, ela se tornou a principal fonte em que, tanto o público interno quanto o externo procuram como primeiro referencial. Analisar esse processo histórico em que a empresa está inserida e evidenciá-lo da maneira mais adequada se tornou indispensável para o fortalecimento da marca de uma empresa.
  • 13. 1.2 MEMÓRIA SOCIAL Para melhor compreender o resgate que estávamos das Mostras de Super-8 realizadas na Escola Técnica Federal do Paraná na década de 70, que estávamos realizando recorremos também a outras classificações de memória. Umas dela foi a de memória social que Marilena Chauí, em seu livro Convite à Filosofia, vai conceituar como aquela que: É fixada por uma sociedade através de mitos fundadores e de relatos, registros, documentos, monumentos, datas e nomes de pessoas, fatos e lugares que possuem significado para a vida coletiva. Excetuando-se os mitos, que são fabulações, essa memória é objetiva, pois existe em objetos (textos, monumentos, instrumentos, ornamentos, etc.) e fora de nós; (CHAUÍ, 2002, p.129). Cientes da importância dos depoimentos e fontes impressas que constituem a memória histórica e social, direcionamos o nosso trabalho de reconstrução da história das Mostras de Super-8 da ETFPR para a pesquisa em jornais publicados no final dos anos 70 e para a tomada de depoimentos de quem participou ou presenciou a realização dos eventos. 1.3 MEMÓRIA E ACONTECIMENTO Ao realizar o resgate histórico que compõem o corpo desse trabalho nos foi importante chegar à noção de acontecimento histórico. Para Paulo Veyne (1983, p.54 apud WORCMAN; PEREIRA, 2006, p.202) “os acontecimentos não são coisas, objetos consistentes, substâncias; são um corte que operamos livremente na realidade, um agregado de processos onde agem e padecem substâncias em interação, homens e coisas”. Nesse sentido, o acontecimento seria aquilo que submerge a simples realidade para modificá-la, como se fosse, usando uma metáfora, uma cicatriz. Segundo Davallon (1999, p.25) Para que haja memória, é preciso que o acontecimento ou o saber registrado saia da indiferença, que ele deixe o domínio da insignificância. É preciso que ele conserve uma força a fim de poder posteriormente fazer impressão.
  • 14. Essa força que poderia fazer com que as Mostras de Cinema Super-8 na ETFPR saíssem do esquecimento estava no resgate desse acontecimento e também na aceitação do que Barthes expõe no seu ensaio “Da história ao real”, de que: O prestígio do que aconteceu tem uma importância e uma amplitude verdadeiramente históricas. Há um gosto de nossa civilização pelo efeito de real, atestado pelo desenvolvimento de gêneros específicos como o romance realista, o diário intimo, a literatura de documento, o fait divers, o museu histórico, a exposição de objetos antigos e, principalmente, o desenvolvimento maciço da fotografia, cujo único traço pertinente (comparada ao desenho) é precisamente significar que o evento representado realmente se deu. (BARTHES, 1984, p. 178 - 179). Procuramos esse efeito de real em nosso projeto a partir das notícias extraídas de jornais sobre as Mostras, procuramos também destacar as peculiaridades de cada edição e contextualizá-las no quadro maior que seria o de seu reconhecimento como parte integrante da história da UTFPR, instituição que se tornou centenária no ano de 2009, e também na história do cinema paranaense e nacional da década de 70 com o cuidado necessário para comprovar a sua relevância porque: Lembrar um acontecimento ou um saber não é forçosamente mobilizar e fazer jogar uma memória social. Há necessidade de que o acontecimento lembrado reencontre sua vivacidade; e, sobretudo, é preciso que ele seja reconstruído a partir de dados e de noções comuns aos diferentes membros da comunidade social. (DAVALLON, 1999, p. 25) Essa vivacidade de que fala Davallon é encontrada quando o fato histórico resgatado ainda encontra ecos no presente. É preciso que o objeto do resgate tenha alguma relação de importância ou mesmo de continuidade com a atualidade. O cuidado com a comprovação da importância das Mostras Super-8 da ETFPR se deveu, principalmente, pelo conhecimento de que ao lidarmos com um acontecimento inscrito no passado nós podemos correr alguns riscos como orienta Burke: À medida que os acontecimentos retrocedem no tempo, perdem algo de sua especificidade. Eles são elaborados, normalmente de forma inconsciente, e assim passam a se enquadrar nos esquemas gerais correntes. Na cultura esses
  • 15. esquemas ajudam a perpetuar memórias, sob custo, porém de sua distorção. (BURKE, 2005, p.88) Trabalhando com fatos ocorridos há trinta anos atrás tínhamos consciência das dificuldades que encontraríamos ao tentar tecer uma história completa, com todos os fatos que permearam as Mostras, assim como das dificuldades inerentes à distância temporal de conseguirmos um resgate preciso dos acontecimentos a partir de depoimentos e também dos materiais coletados nos jornais da época. Ao realizar um resgate é preciso o Reconhecimento do fato de que sempre é possível interpretar de outra forma o mesmo complexo e, portanto, a admissão de um grau inevitável de controvérsia, de conflito entre interpretações rivais; em seguida, a pretensão de dotar a interpretação assumida com argumentos plausíveis, possivelmente prováveis, submetidos à parte adversa; finalmente, a confissão de que, por trás da interpretação, subsiste sempre um fundo impenetrável, opaco, inesgotável, de motivações pessoais e culturais, do qual o sujeito jamais acabou de dar conta. (RICCEUR, 2007, p.351) Assim, procuramos respeitar os diferentes enfoques dados pelos depoimentos, assim como registramos as informações de jornais e documentos da época. Ao entrar em contato com pessoas que participaram de forma ativa das Mostras, observamos que: Retomar a memória pela possibilidade narrativa das pessoas, permite, de forma inovadora na sociedade pós-moderna, recolocar o papel do comunicador social, dessa vez como mediador e não como informante ou meramente emissor ou reprodutor (CAPRINO; PERAZZO; 2008, p.119) Esse papel que os autores delegam ao novo comunicador social, um ator que apenas faz a mediação, mais do que informar ou repetir a informação foi um dos caminhos pelos quais decidimos seguir, porque só como meros informantes teríamos um trabalho mais limitado, além de uma interpretação mais restrita. 1.4 MEMÓRIA E IDENTIDADE Segundo Paul Argenti, a identidade de uma empresa é:
  • 16. A manifestação visual de sua realidade, conforme transmitida através do nome, logomarca, lema, produtos, serviços e instalações, folheteria, uniformes e todas as outras peças que possam ser exibidas, criadas pela organização e comunicadas a uma grande variedade de públicos. Os diferentes públicos formam, então, percepções baseadas nas mensagens que as empresas enviam de forma tangível. Se essas imagens refletirem com precisão a realidade organizacional, o programa de identidade terá obtido êxito. (ARGENTI, 2006, p.81) Essa identidade pode ser modificada, amplificada ou mesmo ratificada através da faceta que escolher para trabalhar a história da empresa. A memória, dessa forma, se relaciona com a identidade, porque ela é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si. (POLLACK, 1992, p.5) As organizações hoje necessitam de uma identidade clara e coesa principalmente porque ela “costura (ou para usar uma metáfora médica,“sutura”) o sujeito à estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis”. (HALL, 2006, p.12). Nesse sentido, ressaltar os elementos que formam a identidade corporativa de uma organização como: valores, filosofias, padrões e objetivos da empresa, a partir da sua história pode contribuir para coerência que toda a instituição busca. (Argenti, 2006) Quando a Memória Empresarial é trabalhada visando a um fortalecimento de identidade e, ambos os elementos, ficam suficientemente amarrados, Pollack argumenta que, [...] os questionamentos vindos de grupos externos à organização, os problemas colocados pelos outros, não chegam a provocar a necessidade de se proceder a rearrumações, nem no nível da identidade coletiva, nem no nível da identidade individual. Quando a memória e a identidade trabalham por si sós, isso corresponde àquilo que eu chamaria de conjunturas ou períodos calmos, em que diminui a preocupação com a memória e a identidade. (POLLACK, 1992, p.7)
  • 17. No caso especifico do resgate da história das Mostras de Super-8 da ETFPR, os fatos projetaram a Instituição para além de seus limites físicos levando-a a fazer parte da história do cinema brasileiro e colocando a Escola Técnica Federal do Paraná como um importante reduto do cinema produzido no país no final da década de 70, fortalecendo, dessa maneira sua identidade. 1.5 AÇÕES PARA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA EMPRESARIAL Atualmente, uma série de ações para preservação da memória empresarial ocorrem em organizações de todo o Brasil. Isso se deve, principalmente, pelo fato de que: [...] ações, tem sido cada vez mais cobrada pela sociedade. Desta forma, o conhecimento da história da empresa passa a ser um novo critério a ser observado, em razão de seu potencial em agregar valor aos produtos e serviços das organizações. Como efeito dessa nova tendência surge o desafio por parte das empresas em valorizar sua história e resgatar sua memória. (MARICATO, 2006, p. 128) Apesar dessa movimentação ser uma tendência atualmente, e, consequentemente, mais sistematizada e estudada, na década de 80, no Brasil, algumas empresas já realizavam investimentos em Centros de Documentação e Memória embora com outro enfoque. Como expõe Borges, Na época, os modelos de gestão mais inovadores incorporavam novos conceitos de marketing social e cultural. As empresas procuravam maior agilidade e mudanças culturais, e a História era vista então como uma ferramenta de análise de suporte para a gestão das áreas de Comunicação e Recursos Humanos. Por outro lado, as empresas familiares viam no trabalho histórico um reforço de suas culturas, identidades, valores e “mitos”. (BORGES, 2007, p.284) Presentemente se sabe que “fortalecer o senso de pertencimento e de autoria de cada um, somado à possibilidade de fazer-se “ouvir” é o grande sentido social que um projeto de memória pode adquirir.” (WORCMAN; PEREIRA, 2006, p. 204). Nesse campo, as narrativas orais também começam a ganhar mais prestígio. Nos dias atuais áreas das Ciências Humanas e também das Ciências Sociais estão se voltando com mais atenção para aquelas narrativas que, de certa forma, ficaram à margem do que denominamos
  • 18. de “história oficial”. Por isso, criações pioneiras como a do Museu da Pessoa, em São Paulo, passam a ganhar mais espaço. Constituído como organização da sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos, O Museu da Pessoa tem sua sede de trabalho na cidade de São Paulo. Em 1997 estreou seu primeiro site e, em 2003, lançou o portal (www.museudapessoa.net), com ferramentas para pessoas e comunidades criarem sua própria coleção de histórias. (WORCMAN; PEREIRA, 2006, p. 199) Todo esse esforço aparenta estar mais forte, porque: A memória está na ordem do dia, a memória está presente na multiplicação dos museus, nas “instituições da memória”, centros de memória, arquivos, memórias de empresas, memórias de partidos, de igrejas, de famílias, de clubes, de ONGs, nos documentários, novelas de época, moda retrô, movimentos sociais de preservação de bens culturais, reivindicações de identidade e cidadania, etc. ( MENESES, 2007, p.20) A expressão “ordem do dia”, empregado por Meneses pode indicar uma insinuação de modismo, no entanto, a memória empresarial e suas ramificações passam a ter agora, além de um material bibliográfico ainda mais consistente, também mais ações por parte de grandes organizações. O que torna essa preocupação irrevogável, já que, a partir dela, se consegue melhorar o relacionamento com os públicos da organização, fortalecer sua identidade e compreendermos melhor os processos internos da instituição.
  • 19. 2.0 O Super-8 na ETFPR: elementos para uma história “Os festivais de cinema em Super-8 organizados pelo Teatro Guaíra e pela Escola Técnica Federal do Paraná, (atual Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET-PR) revelaram importantes curtas-metragistas, como os irmãos Wagner (Helmut Jr., Rosana, Ingrid e Elizabeth), que iniciaram sua carreira com Metamorfose (Super-8, 1977) e seguiram fazendo cinema de animação até os anos 90.” ENCICLOPÉDIA DO CINEMA BRASILEIRO – ORGANIZADORES: FERNÃO RAMOS E LUIZ FELIPE MIRANDA “O que possibilitou a expansão do movimento superoito, no Paraná como em outros estados, foram os festivais. Um dos dois mais importantes realizados em Curitiba, o Festival Nacional de Cinema em Super 8, coordenado por Silvio Back (1974 e 1975), evidenciou a heterogeneidade na bitola. Mas foi a então Escola Técnica Federal do Paraná (hoje Centro Federal de Educação Tecnológica) que, com a Mostra Nacional de Filme em Super-8 (1975- 1979), consolidou o movimento local e permitiu o intercâmbio de informações, o que contribuiu para a formação de profissionais do cinema.” CINEMA DO PARANÁ - ELEMENTOS PARA UMA HISTÓRIA – CELINA ALVETTI 2.1.1 POR UMA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE
  • 20. Voltamo-nos para as edições das Mostras de Cinema Super-8 (1975-1979) ocorridos na então Escola Técnica Federal do Paraná (ETFPR), hoje, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), com um distanciamento de quem não viveu essa história. Pretendemos revisitar o que restou desse acontecimento que, embora curto, foi suficiente para que ficasse inscrito na trajetória do cinema paranaense e do cinema nacional da década de 70. Buscamos uma limitada reconstituição desse passado que só foi importante por possibilitar certa compreensão do presente. É preciso que se reconheça já no início dessa apresentação, a impossibilidade desse resgate apresentar explicações que sejam categóricas sobre o começo, término e meandros de todas as edições. Trabalha-se, aqui, antes de tudo, com vestígios. Grande parte desse trabalho foi possível a partir de dois grandes estudiosos do cinema paranaense: Francisco Alves do Santos e Celina Alvetti, cujo trabalho pioneiro sobre a história do cinema paranaense é um referencial. Nosso projeto, inclusive, referencia esse trabalho tomando de empréstimo parte do título de seu livro Cinema Paranaense: elementos para uma história. 2.1.2 BREVE HISTÓRIA DO SUPER-8 As câmeras e cartuchos de Super-8 passaram a ser comercializados na metade da década de 60, mas foi na década de 70 que a novidade começava a se consolidar como instrumento democratizador do registro das imagens em movimento. Apresentando um manuseio mais simples e, por conseguinte, mais dinâmico, esse novo formato modificou a memória dos acontecimentos caseiros e, por um efêmero período, o modo de se fazer cinema. A câmera de Super-8, voltada ao público amador, era o equipamento ideal para realizar pequenos vídeos que podiam captar desde aniversários infantis até imagens de viagens de lua-de-mel. No entanto, não tardou para que essa função “caseira” da câmera fosse substituída para se tornar uma ferramenta de produção artística. Assim, na década de 70, no Brasil e no exterior, cineastas começaram a utilizá-la para realização de filmes de ficção e documentários. A expansão foi intensa e, para abrigar todas essas realizações fílmicas, festivais e mostras foram criadas no exterior e também em território nacional com a intenção de apresentar essas produções. No Paraná, pode-se dizer que a história do Super-8 tem início em 1974 no FESTIVAL NACIONAL DA BITOLA que teve à frente, como coordenador, o cineasta Sylvio Back. Esse Festival aconteceu no Teatro Guaíra, e teve apenas duas edições, uma em 1974 e outra em
  • 21. 1975, o bastante, no entanto para que despertasse a atenção da crítica e movimentasse os realizadores paranaenses de Super-8 ainda tímidos e sem espaço de exibição no estado. No Brasil, dois festivais incontestavelmente são essenciais para observar o desenrolar do Super-8 no país. Um dos maiores foi a Jornada da Bahia que surgiu em 1972, três anos antes da primeira edição da mostra na ETFPR, e que resiste até hoje, obviamente cedendo espaço a outros formatos e suportes de filmes. O outro festival significativo da época foi o notório GRIFE, nome como ficou conhecido o Super Festival Nacional do Super-8, em São Paulo. Realizado entre 1973 e 1983, tornou-se um dos mais importantes festivais de bitola do país, premiando vários realizadores paranaenses. Comum a esses festivais era a motivação dos diretores que, antes da premiação e o do reconhecimento, tinham por objetivo apresentar suas produções ao grande número de pessoas que frequentavam esses eventos. Sem esses canais, os filmes produzidos na nova bitola ficariam limitados a restritas sessões caseiras, ou mesmo às realizadas em pequenos cineclubes. O que diferenciava um festival do outro, além da localização e abrangência, eram as suas propostas. Enquanto o GRIFE e a Jornada da Bahia propunham uma discussão mais centrada sobre o Super-8, os festivais realizados na ETFPR, buscavam algo a mais do que isso. Realizado por uma instituição de ensino, as edições contemplavam, além das categorias comuns a eventos similares, a produção de filmes didáticos como uma das categorias passíveis de premiação. O incentivo dado a essa categoria deu origem, em 1977, a uma Central de Produção de Filmes Didáticos sediada pela Escola Técnica que produziu, até sua extinção, um acervo de cerca de 300 filmes que registraram atividades didáticas de todas as áreas de ensino da Escola. Aos poucos, o Super-8 passou a ganhar espaço em outras mídias. Na TV Cultura havia um programa semanal chamado “Ação Super-8” que teve início em 1975 e que tinha como proposta entrevistar realizadores, gravar reportagens sobre os festivais de bitola e exibir trechos de filmes em Super-8. Já nos jornais impressos havia alguns veículos que mantiveram inclusive colunas exclusivas ao Super-8, como a Folha da Tarde, em São Paulo, a revista Íris, e até mesmo O Pasquim, cuja coluna era mantida pelo jornalista Carlos Sampaio, jurado da Primeira Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR. Nos veículos paranaenses, podemos destacar os jornais O Estado do Paraná, principalmente a coluna Tablóide, de Aramis Millarch, Gazeta do Povo, Jornal do Estado, Diário do Paraná e A Voz do Paraná.
  • 22. 2.1.3 A I MOSTRA INTERNACIONAL DE SUPER-8, DA ETFPR - 1975 A NEVE QUE VI PELA PRIMEIRA VEZ A Primeira Mostra dedicada ao filme Super -8 realizada pela então Escola Técnica Federal do Paraná, hoje UTFPR, ganhou o nome de “Primeira Mostra Internacional do Filme Super-8” e aconteceu de 22 a 28 de setembro sob a coordenação da Professora Rosane Saldanha Câmera e do cineasta José Augusto Iwersen (v. Anexos 1, 2 e 3). Foram sete dias em que os filmes Super -8 tiveram um espaço amplo e propício a sua exibição e discussão. Passou pela Primeira Mostra toda uma produção fílmica que, analisada hoje, nos ajuda a compreender porque a década de 70 é frequentemente vista como a década em que ocorreu o Boom do filme Super-8. Vagotomia super seletiva, Desarticulação interescapulotorácica, Chuleio de varizes esofageanas. Títulos estranhos para filmes Super-8? Sim, pois todos esses termos fazem parte do jargão médico usados pelo médico-cineasta Dr. Alfredo Duarte para nomear três documentários científicos feitos por ele, a partir cirurgias que o médico realizou em vários hospitais de Curitiba, e inscritos na Primeira Mostra Internacional do Filme Super-8, da ETFPR. Apesar da especificidade dessas produções elas foram apresentadas sem nenhuma restrição ao público. Consideradas pela crítica como bem realizadas e produzidas, essa películas não obtiveram nenhuma premiação tendo em vista a inexistência de uma categoria onde pudessem ser encaixadas.Coincidência ou não, os primeiros inscritos na Mostra foram médicos curitibanos, conforme comprova a nota publicada pelo jornalista Aramis Millarch em sua coluna no jornal Estado do Paraná do dia 21 de agosto de 1975, aproximadamente quatro meses antes do início da Mostra. No texto, o jornalista e crítico de cinema informava que os primeiros quatro filmes inscritos na Mostra eram dos médicos João Alfredo Duarte, João Batista Marchesine e João Batista Neon. De todos os Joões, João Alfredo Duarte foi o único a ser premiado. O seu documentário A Neve ganhou como “melhor filme sobre a neve”, categoria criada sobre inspiração dos flocos brancos que os curitibanos enxergaram descer em 17 de julho de 1975. A disputa não foi muito acirrada, já que só havia outro filme inscrito, A neve que vi pela primeira vez, de Edson Kolbe, Super-8 que, assim como o filme vencedor, documentou a neve se adensando sobre toda a capital em um dos dias mais frios que cidade já atravessou.
  • 23. CORPO DE JURADOS Ao contrário das mostras que se seguiram, a Primeira Mostra não apresentou júri popular, apenas um júri oficial que durante todas as edições tradicionalmente foi composto por profissionais reconhecidamente notórios em seus campos de atuações. Na primeira edição podemos destacar a presença de Ozualdo Candeias, Carlos Sampaio, Aramis Millarch, Valêncio Xavier e Francisco Alves dos Santos, crítico de cinema e autor do Dicionário de Cinema Paranaense, entre outras publicações. Abaixo podemos conhecer um pouco sobre cada um dos profissionais que compuseram o júri oficial da I Mostra. CARLOS SAMPAIO Publicitário e Desenhista, foi professor de cinema em Super-8 e escreveu sobre o assunto, sendo um de seus livros lançado em Curitiba, em 1977, Super 8 e quadrinhos, produto derivado da coluna que mantinha no jornal Pasquim. OZUALDO CANDEIAS Ozualdo Candeias, falecido em 8 de fevereiro de 2007, aos 88 anos, foi um dos percussores do chamado Cinema Marginal, movimento que surge na década de 70, pós- Cinema Novo, e que apresenta em seus filmes características como a ideologia da contracultura e uma crítica ácida à sociedade do consumo. Sua primeira experiência cinematográfica é com o curta-metragem Tambau – Cidade dos Milagres (1955), mas é no longa A margem que faz um filme emblemático que logo se torna referência ao grupo de cineastas que, assim como ele, durante um curto período de tempo fez um tipo de cinema marcado por uma estética que buscava contestar a própria linguagem cinematográfica, contrariando em alguma parte o mote principal do Cinema Novo que buscava levar radicalmente às telas o processo político e cultural pelo qual o Brasil passava. Candeias estabeleceu com Curitiba uma relação muito particular. Além de ministrar cursos de direção de atores a convite do Museu da Imagem e do Som na década de 80, realizou aqui, em parceria com Valêncio Xavier, A visita do velho Senhor. Já o curta- metragem Mister Pauer (1988) foi confeccionado durante um curso na Cinemateca.
  • 24. ARAMIS MILLARCH Foi sem dúvida o maior jornalista cultural que o Paraná conheceu e um dos mais importantes do Brasil. Um dos fundadores da Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira foi também o seu primeiro Presidente. Millarch ao longo da carreira ganhou vários prêmios, inclusive o cobiçado Esso de Jornalismo. Deixou para a história mais de 30 anos de relatos jornalísticos sobre o que de mais importante aconteceu no Brasil e no exterior em termos de cultura. VALÊNCIO XAVIER Escritor e cineasta foi primeiro diretor da Cinemateca Guido Viaro, ligada à Fundação Cultural de Curitiba. Sem nenhuma dúvida, é a figura principal do cinema na década de 70 e 80 em Curitiba, porque centralizou em torno de si toda uma geração de cineastas que teve nele apoio em suas primeiras realizações. À frente da Cinemateca, além de realizar filmes que entraram para a história do cinema paranaense, também coordenou atividades de restauração e cursos livres. Paulistano radicado em Curitiba, tornou-se um célebre escritor, ganhador inclusive de um prêmio Jabuti. Emprestou a suas obras literárias, muitas vezes, o seu olhar de cineasta. CATEGORIAS As categorias de premiação dessa Primeira Mostra contemplaram 20 áreas, desde as mais comuns como a de melhor filme, direção, ator e atriz, até algumas curiosas como “melhor uso do som”, “melhor apresentação”, filme com “melhor mensagem humana”, “melhor temática paranaense”, oferecido pela Cinemateca do Museu Guido Viaro que acabou não sendo atribuído, e o já comentado “melhor filme sobre a neve”. A GEOGRAFIA DOS INSCRITOS Muitos filmes brasileiros se inscreveram na Mostra. Na geografia dos inscritos, a maioria dos participantes era do Paraná, incluindo, além de Curitiba, cidades como Maringá, Londrina e Paranaguá. Dos outros estados brasileiros houve presença maior de São Paulo, mas estados como o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Pernambuco também estiveram presentes.
  • 25. PREMIAÇÃO Os prêmios da primeira edição da Mostra foram, em sua maioria, oferecidos pelos apoiadores. O Grupo Importador Sosecal (v. Anexo 4) ofereceu projetores sonoros (Bauer Hertieur – Royal_, Filmadoras (Minolta), iluminadores (Taurolux) Gravadores (Monarch) e Tripés (Velbon); a Escola Técnica Federal do Paraná ofereceu troféus confeccionados pelo Curso de Decoração que a Escola Técnica abrigava e certificados, o Instituto Nacional do Cinema ofereceu cinco mil cruzeiros, o jornal Voz do Paraná premiou os ganhadores com filmes virgens, a Cinemateca do Museu Guido Viaro ofereceu a produção de filmes , o Diretório Acadêmico César Lattes ofereceu troféu e dois mil cruzeiros, o Studio 8, ofereceu a assinatura da revista Super 8 Filmaker, a Esferatur, passagem aos Estados Unidos. 2.1.4 GODARD E ALAIN RESNAIS NA ETFPR Em nota publicada na seção Tablóide, do jornal O Estado do Paraná, o jornalista Aramis Millarch divulgou que três filmes de Jean-Luc Godard e Alain Resnais estariam concorrendo na I Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR (v. Anexo 5). A notícia fez brilhar os olhos de todos aqueles que tinham Godard e Resnais como os ícones da Nouvelle Vague, movimento cinematográfico que buscou transgredir a velha forma de se fazer cinema. Apesar de todo o alvoroço diante da possibilidade desses nomes fazerem parte da Mostra, o evento ocorreu e desses cineastas não há nenhum resquício, não se sabe nem ao menos se os filmes foram inscritos e, caso tenham sido, se foram inscritos por eles, ou por fãs que usaram o nome dos diretores como pseudônimos. O registro da I Mostra confirma a inscrição de filmes internacionais, mas nenhum deles chegou a ser exibido. 2.1.5 A CENSURA E A MOSTRA DE 1975 Em 1975, o regime militar vigorava sob o comando de Ernesto Geisel, o país vivia sob estado de forte repressão, e a censura aqui instalada pela Ditadura não deixou de assombrar a I Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR, e seus realizadores, ao limitar a apresentação dos filmes internacionais inscritos no evento apenas para os jurados.
  • 26. De acordo com os registros da I Mostra, os filmes Super-8 internacionais inscritos no evento foram: The Angel´s – Filme sueco. Relatando os excessos cometidos por um grupo de motociclistas, o filme abordava temas como sexo e drogas tendo, por esse motivo, sua exibição limitada a alguns críticos que manifestaram sua opinião no suplemento especial lançado no final da Mostra. Para eles, o filme era originas e, apesar das cenas sexo, conseguia escapar da pornografia e registrar ótima fotografia, música e direção. The Conference – Filme de Chicago E.U.A., documentava uma reunião em um escritório entre um homem de negócios, uma mulher de biquíni, Jesus, um cowboy, um jovem radical e um palhaço. Antes do final do filme Jesus era assassinado. Seashore – Filme de Atlanta E.U.A. Filme premiado no Festival Internacional de Chicago, em 1972, pelo seu discurso ecológico. Dirigido por Fred Hudson, mostrava o oceano sob diferentes aspectos focando, principalmente, os animais que vivem no mar. 2.1.6 RELATO – JORGE LUIZ BOSTELMANN Jorge Luiz Bostelmann de Oliveira entrou na Escola Técnica Federal do Paraná para cursar o ensino técnico. Segundo ele, desde muito pequeno desejava se tornar jornalista. No entanto, previa que o caminho seria mais difícil se não tivesse uma profissão antes de se formar por isso optou por fazer, junto com a Escola Normal, o Curso Técnico de Edificações da ETFPR, muito tradicional na época. Na Escola Técnica da década de 70 ele disse ter encontrado, além do ensino de qualidade, um apoio muito grande a várias formas de artes que surgiam como atividades extracurriculares. Foi assim que ele teve o primeiro contato com o grupo de Teatro da ETFPR que naquele ano passara a contar com José Maria Santos, uma verdadeira lenda do teatro paranaense. Bostelmamm lembra também da premiadíssima Banda Marcial da Escola. Não demorou para que logo começasse a participar do Centro Acadêmico e foi junto com esses estudantes que fundou, na Escola, o CineClube Atlântida.
  • 27. O CINECLUBE ATLÂNTIDA Na década de 70, devido a toda uma tecnologia inexistente na época, a projeção de filmes se restringia ou aos cinemas, ou aos cineclubes, ambientes que tinham uma tradição muito forte no Paraná. São daquele tempo as atividades realizadas no Colégio Marista, na Universidade Federal do Paraná e, em 1975, na Cinemateca da Fundação Cultural de Curitiba. Com uma logística um tanto inusitada para a época, o CineClube Atlântida exibia filmes aos sábados, geralmente em duas sessões, em sua maioria lotadas. Bostelmann destaca que eles se preocupavam para que, em cada sessão, houvesse um aluno ou convidado que ficasse responsável por fazer um estudo prévio antes das projeções para tecer comentários sobre o diretor, ou a forma de produção dos longas exibidos. Para conseguir os filmes, ele se dirigia até o Cine Vitória, local em que hoje funciona o Centro de Convenções de Curitiba, na Rua Barão do Rio Branco e de lá trazia um saco com vários rolos de filmes em 16mm. O preço da locação era alto e quem financiava o empréstimo eram os recursos que o Atlântida recebia da ETFPR. Os filmes eram também repassados para os colegas da UFPR. Um ano depois de iniciadas as atividades do CineClube Atlântida, os alunos ficaram sabendo que a Escola Técnica iria produzir a Primeira Mostra Internacional do Filme Super-8. Bostelmann diz não saber muito bem quem foi o idealizador da idéia. No entanto, destaca que muito daqueles eventos culturais aconteciam por iniciativa do professor Ivo Mezzadri, Diretor da Escola Técnica que, apesar de agradar uma grande parcela de estudantes inquietos e que desejavam uma formação mais completa era, por outro lado, criticado por uma parcela mais conservadora da Escola, que desejava a centralização em um ensino mais técnico. OS FILMES Como ainda não tinha nenhuma experiência em feitura de filmes, Bostelmann diz que recorreu a manuais que tratavam didaticamente sobre como elaborar roteiros. Reunido com alguns amigos eles trabalharam em uma história baseada em quadrinhos. Como ainda não tinham câmera, foram socorridos pela Cinemateca que emprestou uma para eles. Para finalizar o filme contaram com o apoio de Percy Tamplin, cineasta e professor de música, e de Valêncio Xavier, jurados da Primeira Mostra de Filmes Super-8, da Escola. Foi assim e com a ajuda também do grupo de teatro da ETFPR que filmaram Enigma, que acabou se tornando o primeiro filme produzido pela Cinemateca Guido Viaro.
  • 28. Entre essas idas e vindas até a Cinemateca Jorge viu, em uma lata de lixo, uma série de filmes Super-8 revelados que haviam sido descartados. Recolheu-os e levou-os para casa. Inspirado por uma retrospectiva que havia visto anteriormente sobre o cineasta canadense Normam Mclaren (1914-1987), com uma agulha de costura e um projetor começou a desenhar uma história na própria película do Super-8, um trabalho artesanal e delicado. Após vários desenhos ele tinha uma animação que receberia o nome de Cotidiano, filme que tratava de cenas corriqueiras do dia-a-dia. Apesar de despretensioso, o filme recebeu elogios de Aramis Milarch que disse que, apesar das circunstâncias de feitura, o filme era muito criativo. O público também se entusiasmou, mas como na Primeira Edição não havia Júri Popular, o filme não chegou a ser premiado. Bostelmann também participou como ator no filme Apoio, de Mario Braga que venceu a I Mostra como Melhor Filme Estudantil. O enredo centrava-se no sonho de uma pessoa com deficiência física sobre sua aceitação pela sociedade. Após terminar o curso técnico, Bostelmann trabalhou por um breve período na área de Edificações, passou no vestibular de Jornalismo na UFPR e lá se tornou o primeiro calouro Presidente do Centro Acadêmico. Hoje, jornalista do Ministério da Saúde, Jorge Bostelmann destaca que foi uma experiência fantástica seu envolvimento com o cinema, teatro e atividades do Cineclube, na ETFPR. Apesar de não ter enveredado para área do audiovisual, o jornalista diz ainda que isso o ajudou muito no inicio da sua profissão, quando trabalhou na Rede Paranaense de Televisão. 2.1.7 A PEDRA FUNDAMENTAL DO CINEMA PARANAENSE 1975, além de ser o ano que guarda a primeira edição da Mostra de Filmes Super-8 da ETFPR e o último do Festival Brasileiro do Filme Super-8 que ocorria no Teatro Guaíra, é também o ano em que é fundada a Cinemateca do Museu Guido Viaro, instituição que influenciará positivamente no rumo do cinema paranaense. Inaugurada em 23 de abril por Valêncio Xavier, seu diretor durante os oito primeiros anos, a Cinemateca logo se transformou em um pólo centralizador de toda cultura cinematográfica de Curitiba dos 70 e 80. A partir da visão de Valêncio, o local que poderia ser só mais uma instituição municipal, representou um verdadeiro alento para os jovens
  • 29. cineastas, cinéfilos, ou simplesmente amadores, além de outros profissionais do audiovisual paranaense que lá encontravam um pequeno refugio seguro para criar e dirigir filmes paranaenses. As atividades da Cinemateca não envolviam somente a produção cinematográfica, mas também a elaboração de cursos práticos, recuperação de filmes, preservação do acervo fílmico paranaense e atividades de cineclube. Ela também estava recebia cineastas de destaque que passavam por lá para repartir o que sabiam através de mini-cursos, como Ozualdo Candeias, Sylvio Back, Rogério Sganzerla e Jean-Claude Bernardet, entre outros. Todo esse apoio e centralização fizeram com que o cinema paranaense ganhasse um novo capítulo conhecido como “A geração Cinemateca” que englobava nomes que, a partir daquele espaço, tornaram- se grandes diretores. Dentre eles podemos citar Peter Lorenzo, Beto Carminatti, Fernando Severo, Rui Vezaro e Berenice Mendes. Em 1996, a Cinemateca mudou do antigo endereço na Travessa Nestor de Castro/Rua São Francisco para a Rua Carlos Cavalcanti, 1174, onde se mantém até hoje oferecendo cursos de prática de cinema, abrigando lançamentos de filmes e oferecendo para a comunidade em geral uma programação especial de filmes que não chegam ao circuito comercial. Modernizada por uma reforma feita em 2007, hoje ela possui duas salas. Uma com equipamentos de última geração, batizada de “João Batista Groff”, em homenagem a um dos cineastas pioneiros do Paraná, exibe filmes clássicos e inéditos filmes de arte que não são exibidos em outros cinemas. A outra, denominada “Limite”, em homenagem ao clássico de Mário Peixoto, é dedicada à exibição e apresentações de filmes de diretores locais, mantendo a tradição de incentivo ao cinema paranaense. A Cinemateca também possui uma biblioteca especializada em cinema, além de um acervo de filmes e de materiais preciosos como pastas com recortes de inúmeros jornais sobre cinema paranaense que nos ajudam a tecer um panorama da nossa história cinematográfica. 2.1.8 A II MOSTRA NACIONAL DO FILME DOCUMENTÁRIO - 1976 SUPER-8 ECONÔMICO Após realizar a Primeira Mostra Internacional do Filme Super-8 com uma repercussão além da esperada, pois a Mostra foi muito bem aceita pela imprensa, o organizador da mostra
  • 30. José Augusto Iwersen junto com o então diretor da ETFPR, professor Ivo Mezzadri, decidiu buscar um novo foco. Deixava-se agora toda a abrangência da primeira Mostra para abrigar os documentários (v. Anexo 6). Estávamos na década de 70, e o documentário se tornara a forma corrente de denúncia de uma realidade que gritava, priorizando, em geral, temas de nossa cultura que iam da religiosidade à cultura popular. Nesse sentido Iwersen, ele próprio um exímio documentarista, anuncia a primeira mostra do gênero na cidade. A MOSTRA DO FILME DOCUMENTÁRIO DEIXOU A DESEJAR Apesar de todo o contexto favorável a uma Mostra dedicada a um gênero cinematográfico tão popular na época, a Mostra Nacional do Filme Documentário foi prejudicada pela falta de divulgação. Uma falha grave afinal para um evento que se pretendia nacional, esse erro comprometeu toda a promoção. Um número reduzido de cineastas se inscreveu, chegando a haver quem propusesse o adiamento da Mostra. Com o auxílio das Cinematecas Guido Viaro e a do Museu de Arte Moderna, do Rio de Janeiro, e também de participantes da edição anterior, a Mostra foi realizada contando com 40 filmes inscritos sendo que a maioria das películas já havia sido exibida na Mostra anterior ou em outros festivais. A MOSTRA Os filmes inscritos na Mostra Nacional do Filme Documentário concorreram em três categorias: artes plásticas, técnico e cientifico, dificultando o trabalho do júri formado por integrantes do eixo Rio – São Paulo que encontrou filmes que não se enquadravam em nenhum desses gêneros. Tentando encontrar uma solução para o impasse, o corpo de jurados decidiu, em consenso, avaliar os filmes como “cientificamente didáticos”, destinados a serem utilizados em sala de aula, como um auxílio no ensino. Como o novo foco, o prêmio de melhor filme foi para Há uma gota de sangue em cada poema, denominado também de Maciel. Dirigido por Tuna Espinheira, o filme tratava de um bairro de Salvador, famoso pela prostituição, miséria, promiscuidade e degradação.
  • 31. Na categoria de filme técnico foi vencedor o conjunto de filmes que documentavam cirurgias relevantes e inovadoras na área da saúde, exibido pelo curitibano J. A. Duarte na edição anterior do Mostra na Escola Técnica. Na categoria de artes plásticas, o vencedor foi um documentário curto sobre um pintor primitivo nordestino, dirigido por Pedro Jorge com fotografia de Valter Carvalho. A Menção Honrosa foi dada aos filmes Sob o ditame de rude almajesto, de Olney São Paulo, que documentava a previsão da chuva feita pelo nordestino a partir de interpretação ou leitura dos sinais encontrados na própria natureza, e Palmas para Jesus, em que a diretora Mariza Leão falava sobre o pentecostalismo que, naquela época, crescia como um fenômeno religioso considerável. George Jonas levou outra Menção Honrosa pelo conjunto de filmes Sementinha, que tratava da reprodução de plantas. O diretor de cada filme selecionado recebeu 7 mil cruzeiros. O júri também concedeu um prêmio de incentivo para o filme Proteus, uma produção de Cornélio Procópio que tratava do lançamento frustrado de um foguete construído pelos alunos de uma escola. 2.1.9 A III MOSTRA NACIONAL DO FILME SUPER-8 - 1977 O ano de 1977 marca, no cinema mundial, o surgimento da saga Star Wars, dirigida por George Lucas, e tido, por muitos, como o marco inicial da era dos chamados Blockbusters. No mesmo ano, no dia três de novembro tinha início a III Mostra Nacional do Filme Super-8, da Escola Técnica Federal do Paraná (v. Anexo 7). Diferente da II Mostra, essa terceira edição volta a privilegiar todos os gêneros fílmicos. Aberta a diferentes estilos, a III Mostra recebeu aproximadamente 60 filmes inscritos. Dentre as inscrições, 20 inscrições foram de cineastas curitibanos, duas de Londrina, duas de Paranaguá e duas de Cornélio Procópio. Os prêmios chegaram a 70 mil cruzeiros, sendo 45 mil do Fundo Nacional de Desenvolvimento e 25 mil da Embrafilme. Com o objetivo de divulgar o evento em circuito nacional, ao mesmo tempo em que trazia para a Mostra profissionais da crítica de cinema a prática de incluir jornalistas do eixo Rio - São Paulo foi mantida nessa III Mostra sendo a escolhida, para essa edição, a jornalista do jornal O Estado de São Paulo, Pola Vartuk.
  • 32. OS VENCEDORES Favelando, de Hélio Lemos, do Rio de Janeiro, foi o grande vencedor da III Mostra Nacional do Filme Super-8, recebendo os prêmios de Melhor Documentário (10 mil cruzeiros), Melhor Filme Estudantil (6 mil cruzeiros) e Melhor Apresentação (3 mil cruzeiros) . Tabela, de Henrique de Oliveira/Bernardo Caro e Berenice de Oliveira, de Campinas, recebeu os prêmios de Melhor Filme de Arte e Melhor Trilha Sonora (6 e 3 mil cruzeiros, respectivamente). O prêmio de Melhor Filme Didático ficou para Uma viagem em vitrais, de Hugo Mengarelli e equipe que levou 10 mil cruzeiros. O de Melhor Ficção ficou para Lona Suja, de Francisco Simões. Os irmãos Wagner, de Curitiba, receberam, com o filme Ensaios, o segundo lugar na categoria Didáticos, e filme na de Animação (5 e 6 mil cruzeiros, respectivamente). O de Melhor Documentário ficou para Círio de Nazaré, de Paes Loureiro, de Belém do Pará. O de Melhor Fotografia, para Urubu, da Bahia. O de Melhor Roteiro, para Contraponto, de Brasília e a Menção Honrosa foi para Fausto, de Londrina. O prêmio de incentivo foi para O estranho mensageiro, de Ciro Matoso. 2.1.10 RELATO – HÉLIO LEMOS “O Favelando foi feito, inicialmente, como trabalho de grupo de faculdade. Eu era aluno da ECO, Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas já tinha certeza que queria fazer filmes. Tinha 21 anos. Favelando é a história de um grupo de estudantes de jornalismo de classe média tentando fazer um trabalho sobre remoção de favelas e desigualdade social no Rio. É uma colagem bastante anárquica sobre poder e cidadania. O filme fez muito sucesso dentro da faculdade, e resolvemos inscrevê-lo no Festival de Curitiba. Quando o festival começou, ficamos sabendo pelo Simões – eu ficara no Rio – que o filme tinha sido proibido pela censura de ser exibido na competição, mas que o Júri decidira que iria mantê-lo no festival mesmo assim e que ele, mesmo censurado, poderia ser premiado. Na véspera do dia do encerramento do Festival decidi ir a Curitiba, incentivado pelo Simões que me dizia que os jurados elogiavam muito o Favelando. O presidente do Júri era o escritor, professor e cineasta, Marcos Margullies, já falecido.
  • 33. A festa de premiação estava para começar quando ficamos sabendo que havia uma possibilidade de liberação do filme para exibição. Logo de início, o Favelando ganhou um prêmio de Solução de Apresentação, pois o filme utilizava, no lugar dos créditos, uma profusão de documentos dos participantes, arrumados de forma criativa. Eu subi ao palco super feliz e satisfeito: pronto, já podia voltar para o Rio, o filme havia ganhado algum prêmio. Segue a premiação e novamente sou chamado ao palco para receber o prêmio de Melhor Montagem – o filme tinha uma linguagem nova, um jeito de relacionar som e imagem que provocava e instigava. Eu fiquei muito feliz com este segundo prêmio, pois adorava montagem e tinha sérias pretensões de me tornar um montador profissional, o que de fato aconteceu e acontece até hoje. Começaram a anunciar os vencedores em cada categoria. A nossa chamava Estudantil e novamente ganhamos como Melhor Filme Estudantil. Neste ponto eu já estava eufórico, jamais imaginara que pudéssemos ganhar três prêmios. Para encerrar, o apresentador anunciou o Grande Vencedor do Festival: Favelando, e a minha emoção foi muito forte, pois logo em seguida as luzes se apagaram e o filme foi exibido – já como grande premiado – sendo muito ovacionado e bem recebido pelo público. Houve depois um coquetel e nele fiquei sabendo que o Marcos Margullies havia avisado ao censor, antes da premiação, que dariam quatro prêmios ao Favelando e conseguiu convencê-lo de que seria melhor liberá-lo para exibição. Depois, me formei jornalista, fui estudar cinema em Londres, e trabalhei por mais de 10 anos como editor e montador de longas do cinema brasileiro, até criar minha própria produtora, a Quadro a Quadro Produções. O Favelando, ainda em 1977, ganhou o segundo lugar no Festival de Cinema de Gramado, na categoria Curtas.” HÉLIO LEMOS, que participou da Mostra Nacional de Filmes Super-8, de 1977 com o filme Favelando. 2.1.11 A CENTRAL DE PRODUÇÃO DE FILMES DIDÁTICOS DA ETFPR A Central de Produção de Filmes Didáticos da Escola Técnica Federal do Paraná, criada com o objetivo de abrir um espaço em que houvesse condições de produzir filmes que
  • 34. pudessem melhorar a técnica de ensino na ETFPR, iniciou suas atividades no mesmo ano da III Mostra Nacional de Super-8. (v. Anexo 8). A ideia era dar condições para o corpo docente da Escola produzir e utilizar filmes documentários como elementos pedagógicos. Previa-se também que, a partir de um laboratório para produção de filmes didáticos, servidores da Escola pudessem ser preparados para a produção de filmes didáticos para o ensino profissionalizante, além de criar uma opção de atividade extra classe para os alunos, na área de educação artística. No projeto de criação da Central (v. Anexo 9)é evidenciado como o cinema havia se tornado, para a Escola, uma ferramenta educacional: “É indiscutível a eficácia da linguagem cinematográfica como forma de apresentação de idéias e conhecimentos. Como recurso didático áudio visual, o cinema é, até o presente momento, a técnica de maior poder de esclarecimento e convicção.” Pela Central passaram grandes nomes do cinema paranaense sendo deles Ruy Vezzaro que ali atuou de 1982 a 1986 dirigindo filmes técnicos e lecionando sobre técnica cinematográfica. Vezzaro realizou, na Central, mais de 60 filmes abrangendo as áreas tecnológicas. Fernando Severo, hoje um dos mais importantes cineastas paranaenses, também foi um dos técnicos que atuou na Central. 2.1.12 A IV MOSTRA DE FILME SUPER-8 DA ETFPR- 1978 A IV Mostra de Filme Super-8 foi realizada no Centro Federal de Educação Tecnológica, nova denominação da Escola Técnica Federal do Paraná, a partir de 1978. Iniciada no mesmo Auditório que abrigou as edições anteriores, a IV Mostra contou com um grande público e com a expectativa dos participantes diante da possibilidade de exibir seus filmes para uma platéia repleta. Em depoimento ao jornal Correio de Notícias publicado em 9 de novembro de 1978, Elisabeth Karam, jornalista e diretora do filme Até quando? Inscrito no evento, confirmou a importância da Mostra para os produtores de Super-8: “Não há outro jeito. A única maneira da gente poder mostrar um filme é num festival. Se não mostrar em festivais, ou num encontro de amigos, o
  • 35. filme acaba ficando na gaveta. A não ser um possível prêmio num festival, não há retorno de investimento. No Brasil não há campo, ainda, de exibição para essa bitola.” Naquele ano, os prêmios se tornaram ainda mais atrativos estando distribuídos nas categorias de Melhor Filme da Mostra (20 mil cruzeiros); dos três melhores filmes didáticos (respectivamente 20,15 e 10 mil cruzeiros); do Melhor Filme Estudantil (10 mil), de Melhor Documentário (10 mil), de Melhor Filme de Arte (10 mil) e de Melhor Filme de Animação (10 mil). Para as categorias Roteiro, Fotografia e Melhor Apresentação, a premiação seriam feitas em forma de material cinematográfico. A IV Mostra abria também um espaço para discussão em torno do Super-8, estando incluídas, na programação, palestras sobre cinema no período da tarde. Entre os palestrantes a Mostra trouxe Abraaão Berman que falou sobre “O super-8 em ação”, André Margulis que tratou do tema “A importância do cinema como pesquisa e informação” e, por último, Marcos Margulis que falou sobre “O cinema na educação”. O júri oficial composto por vinte e um profissionais de diferentes áreas do conhecimento contou com o professor de estética da Universidade Católica do Paraná, Roberto Figurelli; com o cientista Freire Maia; com o arquiteto Rubens Meister; com os jornalistas Francisco Alves do Santos, Marilu Silveira e Aroldo Murá; com o ex-professor da ETFPR, Guilherme Bender; com os professores do CEFET-PR Ingo Toedler, Antonio Sokoloski, José Carlos Laurindo, Edson Iwamura, Antonio Venevides e com o representante da Ótica Boa Vista, Eloir, Baglioli, além do Diretor do Departamento Profissionalizante da EMBRAFILME, Reinaldo Knittel Dias; de Frederico Góis, Diretor do Departamento de Assuntos Não Comerciais da EMBRAFILME; de Pedro Natal, representante da Kodak do Brasil; de Cesar Braga de Oliveira, representante do MEC; de Marcos Margulis, professor da UFPRJ; de André Margulis, representante da Rede Globo de televisão e Abraão Berman, cineasta e diretor do GRIFE. INSCRITOS Os filmes inscritos na IV Mostra passaram por uma seleção prévia composta por profissionais ligados à arte, educação e cinema que seguiram os critérios de: a) adequação do filme aos objetivos da Mostra enunciados no item 2 do Regulamento que dizia que a IV Mostra Nacional do Filme super-8 era de caráter nacional e que tinha por objetivo estimular a produção de filmes educativos e de documentários técnicos e científicos
  • 36. que poderiam efetivamente contribuir para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem em nosso país; b) qualidade técnica do filme; c) adequação à categoria proposta pelo responsável na ficha de inscrição; d) do prazo de chegada do filme e ainda a falta de ficha de inscrição de alguns filmes que não puderam ser identificados. Ao todo foram inscritos 89 filmes sendo 37 do Paraná, 14 do Rio de Janeiro, 18 de São Paulo, 4 de Brasília, 13 de São Luiz do Maranhão, 1 de Belém do Pará, 2 de Santa Catarina e 1 da Bahia. Desses 89 inscritos foram selecionados 50 filmes. DESTAQUES Um dos destaques da IV Mostra foi a temática social explorada pelos 13 filmes que vieram de São Luís do Maranhão, no total de 13. Entre outros temas os filmes abordaram o problema do êxodo rural, da baixa condição de vida nordestina e o registro de características da própria região. Em 1978, a Central de Produção de Filmes Didáticos do CEFET-PR participou da Mostra na categoria de Filme Didático, com a produção coletiva Arriamento da Bandeira, que registrava o ritual cívico da descida da Bandeira Nacional. PREMIADOS A IV Mostra do Filme Super-8 foi encerrada no dia 11 de novembro, com entrega de prêmios e exibição dos filmes premiados. Epílogo, filme de Claudine Perina, foi o grande vencedor, tematizando os abusos do homem contra a natureza e a desumanização do mundo moderno. Foi pena Q foi eleito o Melhor Filme da mostra pelo Júri Popular. Dirigido pelos Irmãos Wagner, de Curitiba, o trabalho era uma sátira sobre o Descobrimento do Brasil. Na categoria Didática os três premiados foram: A vida a 18.000 a.c, de Ito Pedro de Souza, de Curitiba, Movimento Retilíneo Uniformemente Acelerado, de Luiz Roberto Gomes, de Curitiba e Spelaion, de Clayton Lino que também ganhou na categoria Melhor Fotografia. Na categoria Estudantil o melhor filme foi Caminhando, de Nelson Martins e Antônio Domingues, de Curitiba. A cidade dos executivos, também dos Irmãos Wagner, ganhou como Melhor Filme de Animação e Ora bolas venceu na categoria Artes, com a Melhor Trilha Sonora e Apresentação.
  • 37. O documentário vencedor da Mostra foi Pescadores da Raposa, de Jorge Martins, de Brasília. O filme teve por tema uma colônia de pescadores do Nordeste. A Menção Honrosa ficou para Gran Circo Natal, de Francisco Simões. O filme Até quando, de Elisabeth Karam e o filme Marionete, de Varli Martins recebem os prêmios Voz do Paraná e Cinemateca do Museu Guido Viaro, por apresentarem relevância à cultura local. Adaptado de um conto de Dalton Trevisan, o filme O besouro produzido por Hugo Mengarelli e alunos da Universidade Católica do Paraná recebeu o prêmio de Melhor Produção da IV Mostra Nacional do Filme Super-8. 2.1.13 RELATOS: FRANCISCO SIMÕES E ELISABETH KARAM GRAN CIRCO DO NATAL “Nesse filme tive a intenção de fazer críticas ao ambiente festivo da época natalina que, infelizmente, não alcança a todos nem a todas as famílias. Expus à crítica também a exploração comercial levada a efeito naquele período, exibindo um autêntico festival de anúncios, tanto de revistas quanto da TV. Mostrei a festa realizada no Estádio do Maracanã, repleto de crianças, com apresentação de artistas de circo, músicos e cantores e a triunfal chegada de Papai Noel, de helicóptero. Estive lá com Zezé e filmei todo o acontecimento naquele ano. Durante o filme as cenas se intercalam num ritmo alucinante e se mesclam com a filmagem que eu fizera na casa de minha cunhada, Joamar, irmã de Zezé, durante uma noite de Natal com ceia farta, e muita gente reunida. Essas cenas começam com a lenta arrumação da mesa onde todos iriam se banquetear mais tarde. Usei cenas de rua e também a rotina de um menino pobre, na mesma noite, sem festa, sem ceia, sem Papai Noel. O pequeno ator que desempenhou este papel foi o meu sobrinho Glauco Fernandes, hoje um excelente e respeitado violinista, músico e arranjador. O fundo musical foi escolhido com muito carinho. Algumas músicas natalinas além de interpretações do conjunto MPB-4 (“A fome tem que ter raiva de interromper/A raiva é a fome de interromper”...), músicas circenses, a bonita Gente Humilde, de Chico Buarque, cantada por Ângela Maria, além de duas excelentes interpretações de Ivan Lins e Elis Regina. Nas cenas finais do filme, justamente quando o espetáculo do Maracanã também caminhava para o encerramento, sobe a música interpretada por Elis cuja letra, ao final, diz: “... somos todos bons demais/sufocados pelo mal/só queremos acreditar/ que isso tudo pode acabar”...
  • 38. Este trabalho seguiu a linha mestra da grande maioria do que produzi em curta- metragem, naquela grande fase do cinema Super-8, ou seja, a crítica política e social. Todos os filmes estiveram em algum Festival, alguma Mostra, pelo Brasil afora, geralmente no circuito universitário. Alguns foram excluídos pela censura oficial da época, outros retirados pelos próprios organizadores que se curvavam àquele absurdo monstruoso procurando agradar aos senhores do poder autoritário que se impunham pela força. Gran Circo do Natal, com duração de 12 minutos, foi apresentado em um Festival na Universidade Federal do Maranhão, em São Luis, onde mereceu Menção Honrosa e outra no CEFET, em Curitiba. Era a segunda vez que eu comparecia à Mostra de Super-8, na primeira me haviam concedido o primeiro lugar, em Ficção, com o filme Lona Suja. Foi muito gratificante para mim a decisão que o júri da mostra do CEFET, em Curitiba, tomou, ao criar um prêmio que não existia para atribuir ao meu Gran Circo do Natal. O prêmio denominado Solidariedade Humana. Creio que não preciso dizer mais nada.” FRANCISCO SIMÕES participou da Mostra de Filme Super-8, de 1978 com o filme Gran Circo Natal. Até Quando “Na época, eu estava bastante envolvida com cinema, assim como com um grande grupo de pessoas que vivia bastante o cinema em Curitiba no final da década de 70, liderado pelo Valêncio Xavier. Ele foi meu professor de Cinema no curso de Jornalismo que fazia na Católica. Mas ele aglomerava um grupo em torno da Cinemateca com sessões de cinema, mostras e festivais, cursos e mais cursos rápidos - de dois dias, uma semana, com pessoal que o Valêncio trazia de fora. Enfim, encontrávamos quase sempre as mesmas pessoas nesses locais. E se falava e se conversava sobre cinema. Sempre gostei de cinema, estava fazendo Jornalismo (me formei em 1976). Estagiava como repórter – e também comecei a fazer comentários de filmes no extinto Diário do Paraná e também no jornal Pólo Cultural que circulava na época. E tinha também uma idéia de fazer um filme em Super-8 com a máquina que ganhei do meu pai de presente de formatura. Foi minha primeira experiência – e única. Não lembro do dia da premiação, não. Depois desse filme, estava com um projeto para fazer um outro em 16 mm, quase tudo acertado, mas aí me mudei para Florianópolis e o projeto parou. Em Florianópolis continuei
  • 39. com o projeto, estava conseguindo verba, parei também. Continuei no Jornalismo, fazendo durante muitos anos a cobertura cultural. O filme está ainda só em Super 8, sempre penso em passar para outro formato, como forma de preservá-lo, mas até hoje não fiz. Eu acho que[a Mostra] tinha boa cobertura da imprensa, é só ver os jornais da época. Naquela época havia uma movimentação em torno de cinema, cinemateca, festivais, cursos, um grupo estava se formando. Muitos deles seguiram em frente, assim como alguns que foram chegando depois. Acho que muitos dos nomes do cinema paranaense de hoje são oriundos daquela época fomentada pelo Valêncio Xavier, em torno da Cinemateca, da Fundação Cultural de Curitiba. Não só de cinema. Tinha exposições, lançamentos de livros, muita coisa acontecia. A Fundação Cultural de Curitiba, especialmente, promovia muita coisa.” ELISABETH KARAM participou da Mostra de 1978 com o filme Até Quando? 2.1.14 A V MOSTRA DE FILMES SUPER-8, NA ETFPR - 1979 A V Mostra Nacional do Filme Super-8 foi uma das mais atribuladas da história do evento. Já no primeiro dia, uma onda de protestos pela eliminação do filme O Mágico, de Hugo Mengarelli tomou conta da Mostra. Não selecionado pelo júri da seleção prévia porque infrigia o regulamento da V Mostra que só aceitava filmes realizados por brasileiros ou estrangeiros naturalizados, o filme foi exibido em sessão especial apenas para alguns membros do Júri Oficial, revelando-se um ótimo trabalho segundo o corpo de jurados. Diante da qualidade do filme, o júri sugeriu a Mengarelli que desse o crédito de direção para os alunos orientados por ele para a elaboração do documentário. Sem atender ao pedido dos jurados, Hugo Mengarelli remontou os créditos colocando um “x” em cima de seu nome, ocasionando a eliminação definitiva da Mostra. Exibindo um total de 45 filmes, a V Mostra encerrou suas atividades com um debate em que se discutiu a necessidade de serem criadas Mostras ao dos filmes premiados desde 1970 que poderiam circular por todo o país e serem conhecidos pelo grande público. Seguindo a tradição de trazer para compor o júri nomes de relevância nacional a V Mostra Nacional do Filme Super-8 contou com a presença de Jairo Ferreira, jornalista da Folha de São Paulo e diretor dos longas metragens O vampiro da Cinemateca e O Insigne
  • 40. Ficante, e dos curtas O Guru e os guris, O M de Minha mão, Antes que eu me esqueça e Horror Palace Hotel. Além dessas atividades, Jairo Ferreira publicou o livro Cinema de Invenção, considerado um clássico da bibliografia sobre o cinema marginal brasileiro. Sobre a Mostra de Super-8 do CEFET-PR, escreveu três matérias para a Folha de São Paulo em que discorrreu sobre as “Misérias e Glórias do Super-8 em Curitiba”. OS VENCEDORES Anunciados pelo Presidente da Mostra e Diretor do CEFET-PR, professor Ataíde Moacyr Ferrazza, os vencedores da V Mostra de Filmes Super-8, do CEFET-PR foram: Mané da Paz, fabricante de viola, de Celso Luck, vencedor nas categorias Documentário (Cr$ 20 mil) e Melhor Filme (Cr$30 mil); Aluminosa Espera do Apocalipse, de Rui Vezzaro, na categoria Estudantil (Cr$ 20 mil) e do Prêmio Especial do Júri (Cr$ 20 mil em materiais cinematográficos). Nas categorias Artes(Cr$ 20 mil) e Júri Popular, o vencedor foi o cineasta Perina. 2.1.15 UM FIM NÃO ANUNCIADO O Super-8 que nascera no cinema paranaense de forma tímida em meados de 1974 avançou durante meia década trazendo consigo adeptos que acreditam que “é fazendo cinema, que se aprende cinema”. Aquilo que surge de uma vontade amadora toma forma até ser reconhecida como uma obra artística de nível profissional. Em 1979 já não se discutia as limitações do formato Super-8, mas sim as possibilidades que ele podia trazer ao cinema paranaense e brasileiro que se expandia para caminhos então desconhecidos. É nesse sentido que podemos dizer que a edição de 1979 das Mostras realizadas pela ETFPR completou um ciclo que se inscreveu na história do cinema paranaense e nacional. O Super-8 havia realmente despertado novos cineastas, ganhou a crítica e um certo espaço, conforme atesta nota publicada no jornal Diário do Paraná de 3 de dezembro de 1982 (v. Anexo 10). Não foi encontrado nenhum registro sobre a extinção das Mostras de Super-8 da ETFPR/CEFET-PR. Uma suposição pode ser feita a partir da carência de patrocínios para a área cultural que permeou a década de 80. Outra possibilidade é a grande aceitação que os
  • 41. aparelhos de videocassete passaram a ter no período, praticamente extinguindo os filmes de bitola de 8 mm. 3.0 CONCLUSÃO Ao realizar o Trabalho de Conclusão de Curso, Mostras de Cinema Super-8 na Escola Técnica Federal do Paraná no Final da Década de 70: um resgate histórico, descobrimos que em uma pesquisa, por mais que nos aprofundemos, sempre que a encerramos a sensação de incompletude é maior do que a sensação de finalização. Talvez porque seja difícil unir todas as pontas sobram arestas abertas que não podemos fechar completamente. Descobrimos também que a pesquisa é, antes de tudo, uma interpretação, ainda que baseada em documentos e fontes confiáveis, e, por isso, ela é passível de contestações e questionamentos. O trabalho que realizamos apresentou os meandros das cinco edições das Mostras de Cinema Super-8 que ocorreram no final da década de 70, na Escola Técnica Federal do Paraná. Essas Mostras possibilitaram a toda uma produção em Super-8 que estava sendo realizada pudesse ter um espaço apropriado de exibição e, mais do que isso, permitiu que essas obras também fossem discutidas, avaliadas e premiadas. Talvez seja adequado dizer, ao final desse trabalho, que mais do que Mostras, o que a ETFPR promoveu foram verdadeiras celebrações, pois no período de duração do evento, estiveram em evidência o formato Super- 8, os cinéfilos, os novos e velhos cineastas e a reunião estimulante de nomes da cultura paranaense e nacional que, durante as cinco edições, se alternaram na composição do júri. Todo esse conhecimento dos elementos que compuseram essa história se transforma, aqui, no elo de ligação entre passado e presente trazendo para os dias atuais um dos fatos mais representativos da história centenária da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e também do Cinema Brasileiro e Paranaense da década de 1970.
  • 43. Anexo 1: Capa do suplemento especial dedicado à I Mostra Internacional de Filme Super-8, da ETFPR
  • 44. Anexo 2: Nota assinada pelo jornalista Aramis Millarch divulgando a apresentação da I Mostra Internacional de Filmes Super-8 O cineasta José Augusto Iwersen, diretor do Studio 8 e professor de Cinema na Escola Técnica Federal do Paraná, anunciou ontem, oficialmente, uma grande promoção: I Mostra Internacional do Filme Super 8. Patrocinada pela Escola Técnica Federal do Paraná, através de sua coordenação de Educação Artística, dirigida pela professora Rosane Camera, esta grande promoção cinematográfica será realizada de 22 a 28 de setembro de 1975. Com a participação de filmes de vários países, realização paralela de um festival do cinema brasileiro e distribuição de Cr$ 100 mil em prêmios, a Mostra idealizada por Iwersen (ex Cine Clube Pró-Arte, ex-cine de arte Rivieira, editor de livros sobre cinema etc.), deverá alcançar promoção internacional. Pelo seu relacionamento em todos os Estados e livre trânsito junto aos setores de comunicação e cultura do Estado, tem todas as condições de fazer de seu festival Super 8, um acontecimento da maior importância, entre tantas outras promoções semelhantes realizadas em várias cidades brasileiras. ARAMIS MILLARCH - ESTADO DO PARANÁ - SEÇÃO: TABLÓIDE - 18/03/1975
  • 45. Anexo 3: Foto 1 - Diretora do Museu da Imagem e Som do Paraná , Mauro Alice e Percy Tamplin, membros do júri da I Mostra Internacional de Filmes Super-8. Fotos 2 e 3 - Rosane Saldanha Câmera e José Augusto Iwersen, organizadores da I Mostra. Foto 4 - Grupo reunindo intérpretes e realizadores de dois filmes do Paraná – A pedra fundamental e Enigma
  • 46. Anexo 4: Anúncio de projetores da empresa Sosecal, patrocinadora da I Mostra de Filmes Super-8, da ETFPR.
  • 47. Anexo 5: Texto assinado por Aramis Millarch anunciando a inscrição de filmes de Godard e Resnais, na I Mostra de Super-8, da ETFPR. O cineasta José Augusto Iwersen recebeu ontem telefonema de monsieur Amy Courvisier, diretor da Unifrance, comunicando que três filmes em super-8, realizados por um cineasta chamado Jean-Luc Godard e Alain Resnais, estarão concorrendo na I Mostra Internacional em Super-8, que Zé Iwersen coordena para a Escola Técnica Federal do Paraná em setembro próximo. Prestígio e bom relacionamento é isso! A propósito: Godard e Alain Resnais, caso recebam passagens, virão a Curitiba para participar do Festival da ETFPR. ARAMIS MILLARCH - ESTADO DO PARANÁ - SEÇÃO: TABLÓIDE - 19/04/1975
  • 48. Anexo 6: Texto de Aramis Millarch notificando a realização da II Mostra de Filmes Super-8, na ETFPR, com a inclusão de novas categorias. Reunido com o cineasta José Augusto Iwersen e a professora Rosane Câmera, terça-feira, o professor Ivo Mezzadri, o poderoso diretor da Escola Técnica Federal do Paraná já deu instruções para que se iniciem os preparativos da II Mostra Internacional do Filme Super 8. A grande repercussão da mostra realizada na semana passada, o bom nível dos filmes premiados e, principalmente, o fato de toda a promoção ter custado à escola menos de Cr$ 20 mil (os prêmios foram oferecidos pelo grupo importador Sosecal/Focal e algumas entidades) animaram o professor Mezzadri a estimular novos eventos, abertos inclusive a outras categorias, em especial o cinema cientifico, didático e esportivo. O pequeno custo da promoção mostrou o que pode fazer a boa organização, a honestidade da coordenação e o empenho em realizar um acontecimento sério e sem auto-promoções. ARAMIS MILLARCH - ESTADO DO PARANÁ – SEÇÃO -TABLÓIDE - 03/10/1975
  • 49. Anexo 7: Nota publicada no Nosso Jornal, órgão de divulgação da ETFPR, sobre a realização da III Mostra de Filmes Super-8. De 3 a 5 de novembro terá lugar na Escola a III Mostra Nacional do Filme Super 8. Além das diversas categorias da Mostra, haverá a Didática que será a de maior interesse. A mostra começará a ser divulgada em setembro e os interessados já poderão começar a pensar na produção de filmes para concorrer NOSSO JORNAL, AGOSTO DE 1977
  • 50. Anexo 8: Nota de Aramis Millarch sobre a criação, na ETFPR, da Central de Produção de Filmes Didáticos. A Escola Técnica Federal do Paraná acaba de ganhar da EMBRAFILME uma Central de Produção de Filmes Didáticos. A Central deverá funcionar ainda este ano e é resultado de um Projeto apresentado pela Escola àquela entidade. No final do mês de agosto estarão em Curitiba representantes da Embrafilme que virão para assinar o Convênio de instalação da Central. Professores e alunos da Escola já poderão pensar na produção de filmes didáticos. Nossa escola será a única do País que terá esta condição. ARAMIS MILLARCH - O ESTADO DO PARANÁ - SEÇÃO: TABLÓIDE - 05/11/1977
  • 51. Anexo 9: Capa do projeto de criação do Laboratório de Filmes Didáticos, criado na Escola Técnica Federal do Paraná, em colaboração com a Embrafilme .
  • 52. Anexo 10: Nota publicada pelo jornal Diário do Paraná sobre a posição atingida pela última edição da Mostra de Filmes Super-8, da ETFPR. O superoito no Paraná chega ao auge em 1979 (última edição da Escola Técnica), quando os filmes revelam incrível maturidade tanto a nível artístico como técnico alcançando o reconhecimento nacional em festivais de expressão como Gramado, Salvador, São Paulo e Campinas. Os prêmios se multiplicam. Nomes como Celso Luck, Ciro Matoso, José Augusto Iwersen, Irmãos Wagner, Fernando Severo, Peter Lorenzo, Rui Vezaro, Pedro Merege, Hugo Mengarelli, Aparecido Bueno Marques, Nivaldo Lopes, Manfredo Osterroht, dentre outros, fazem do superoito veículo de expressão cultural tão importante quanto as bitolas de 16mm e do 35 mm. Diário do Paraná, 08-12-1982
  • 53. REFERÊNCIAS ARGENTI, Paul. Comunicação empresarial – A construção da identidade, imagem e reputação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. BARTHES, Roland. O discurso da História. In BARTHES, Roland. O Rumor da língua. Trad. Mário Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004. BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchio. Trad. Carlos Albert Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. BORGES, FLÁVIA. A memória da empresa: construindo arquivos empresariais. In Miranda, Danilo Santos. Memória e Cultura: a importância da memória na formação cultural humana. São Paulo: SESC SP, 2007. BURKE, Peter. O que é história cultural?, Trad. Sérgio Góes de Paula. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. CAPRINO, Mônica Pegurer; Perazzo, Priscila Ferreira. Possibilidades da comunicação e Inovação em uma dimensão regional. In Caprino, Mônica Pegurer. Comunicação e Inovação – Reflexões Contemporâneas. São Paulo: Paulus, 2008. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002. DAVALLON, Jean. A imagem, uma arte da memória?. In NUNES, José Horta. Papel da Memória. Campinas: Pontes, 1999. GAGETE, Élida; TOTINI, Beth. Memória Empresarial - Uma análise da sua evolução. In NASSAR, Paulo. Memória de Empresa: história e comunicação de mãos dadas, a construir o futuro das organizações. São Paulo: Aberje, 2004. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Guacira Lopes Louro [et al.]. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006. MARICATO, Adriano. História e Memória. In: MARCHIORI, Marlene (org). Faces da cultura e da comunicação organizacional. São Caetano do Sul: Difusão, 2006. MENESES, Ulpiano Bezerra. Os paradoxos da memória. In: Miranda, Danilo Santos (org). Memória e Cultura: a importância da memória na formação cultural humana. São Paulo: SESC SP, 2007. MIRANDA, Luiz Felipe. RAMOS, Fernão. Enciclopédia do Cinema Brasileiro. 2 ed. São Paulo: Editora Senac, 1997. NASSAR, PAULO. Relações Públicas na construção da responsabilidade histórica e no resgate da memória institucional das organizações. São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2007. PEREIRA, Jesus Vasquez; WORCMAN, Karen. História Falada: memória, rede e mudança social. São Paulo: SESC SP: Museu da Pessoa; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006 POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio: In: Estudos Históricos: Rio de Janeiro: V. 2, n.3, 1989. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/asp/dsp edicao.asp?cd edi=15, Acesso em: 18 de set. 2008
  • 54. ____________. Memória e identidade social. In: Estudos históricos. Rio de Janeiro: V. 5, n. 10, 1992. Disponível em: http://ww.cpdoc.fgv.br/revista/asp/dsp edicao.asp?cd edi=15, Acesso em: 18 de set.2008 PÊCHEUX, Michael. Papel da Memória. In NUNES, José Horta. Papel da Memória. Campinas: Pontes, 1999. RICCEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain François [et al.]. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2007. SANTOS, Francisco Alves. Cinema no Paraná: nova geração. Curitiba: FCC, 1996.