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Missão Integral
procurando fidelidade à missio Dei
Comissão de Missão Integral da
Igreja Presbiteriana Independente do Brasil
2008
2
Índice
Prefácio .........................................................................................................................................................
Introdução .....................................................................................................................................................
Fundamentos Bíblico-Teológicos .................................................................................................................
Gênesis 1-11............................................................................................................................................
Gênesis 12-50..........................................................................................................................................
Êxodo a Josué..........................................................................................................................................
Os Profetas ..............................................................................................................................................
Os Escritos ..............................................................................................................................................
Os Evangelhos.........................................................................................................................................
Atos.........................................................................................................................................................
As Epístolas.............................................................................................................................................
Apocalipse...............................................................................................................................................
Fundamentos Históricos................................................................................................................................
Missão do século I ao século IV .............................................................................................................
Missão na Idade Média ...........................................................................................................................
Missão e a Igreja Católica Romana na Idade Moderna ..........................................................................
Missão e a Igreja Protestante ..................................................................................................................
Missão e evangelização na Perspectiva Ecumência................................................................................
Missão e evangelização no Movimento Evangelical..............................................................................
Ações missionárias no Brasil..................................................................................................................
A história da missão na IPI do Brasil......................................................................................................
Modelos e Desafios.......................................................................................................................................
Ministério de Missão...............................................................................................................................
3
Secretaria de Evangelização..............................................................................................................
Secretaria de Pastoral........................................................................................................................
Secretaria de Diaconia ......................................................................................................................
Secretaria de Família.........................................................................................................................
Ministério de Educação...........................................................................................................................
Secretarias de Educação Teológica e Continuada, Educação Cristã e Educação Secular ................
Secretaria de Música de Liturgia ......................................................................................................
Bibliografia ...................................................................................................................................................
Anexos...........................................................................................................................................................
4
Prefácio
A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil iniciou um processo de Planejamento Estratégico, em 2006,
dando origem ao Projeto Semeando, lançado oficialmente em sua primeira fase no final de 2007,
projetando até 2017, quando comemoraremos 500 anos da Reforma Protestante.
O Ministério da Missão recebeu o trabalho desenvolvido em 2006, analisando as ações gerais propostas a
ele e as específicas das suas quatro Secretarias: Diaconia, Evangelização, Família e Pastoral.
A primeira ação geral do Ministério era: Promover a conscientização da igreja sobre a Missão Integral.
Levando em conta que o conceito de Missão Integral precisava ser mais bem estudado, visto a grande
quantidade de literatura e reflexão disponível no mercado, decidimos nomear uma Comissão de Redação
do Texto de “Missão Integral”, composta dos membros do próprio Ministério, bem como dos diretores
dos Ministérios da Educação e Comunicação, e de um representante de cada Seminário, tendo como
relator o Rev. Dr. Timóteo Carriker, pastor-missionário, cedido pela Igreja Presbiteriana dos Estados
Unidos da América e há muitos anos trabalhando no Brasil, especialmente como professor em diferentes
seminários e com vários livros publicados, diretamente relacionados com o tema da Missão Integral.
Ao longo da caminhada, outros irmãos contribuíram com textos mais específicos, cujos nomes são
mencionados no índice.
Trabalhamos usando o seguinte esquema: Fundamentação Bíblica e Teológica, Fundamentação História,
Modelos Atuais (dentro e fora da IPI do Brasil) e Desafios. A idéia é: partindo da Bíblia e da Teologia,
analisar nossos modelos atuais de fazer missão e efetuar as mudanças necessárias, diante dos desafios que
o presente momento nos apresenta, tendo em mente o lema da Reforma Protestante: “A igreja, porque é
reformada, sempre se reforma”.
Em cada reunião, percebíamos que áreas que se encaixam no conceito de Missão Integral não estavam
sendo analisadas e decidíamos incorporá-las. Quando vimos, o documento já estava um tanto longo, mas
temos plena consciência de que pontos fundamentais para o desenvolvimento do conceito ainda precisam
ser trabalhados e alguns deles são mencionados no final.
5
Temos entendido que o trabalho da Comissão deverá continuar, especialmente com a chegada das reações
e participações de todos os segmentos da IPI do Brasil.
Assim, apresentamos o texto à Comissão Executiva da Assembléia Geral, em sua reunião de novembro de
2008, para que, após aprovação, seja disponibilizado a toda a igreja, para ser lido, estudado e discutido, e
para receber sugestões a serem encaminhadas ao relator.
Cremos que um bom embasamento conceitual nos ajudará na prática missional. Por isso, gastamos um
bom tempo na preparação do presente texto.
Contamos com a participação de toda a igreja para o seu aprimoramento. Pedimos aos pastores que o
estudem nas igrejas locais, presbitérios e sínodos, promovendo consultas, encontros e congressos sobre o
tema.
No vínculo do Calvário.
Rev. Paulo de Melo Cintra Damião
Diretor do Ministério da Missão
6
Introdução
Não deixei de lhes anunciar todo o plano de Deus
(At 20.27).
Durante os últimos 20-25 anos, a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB) tem adotado o
qualitativo “integral” para descrever a sua compreensão e ação missionária de modo abrangente e
inclusivo.1
Esta adoção representa uma preocupação de não restringir as áreas de atuação missionária.
Entretanto, até hoje não há uma definição específica nem das atividades nem dos conceitos que esta
integralidade “abrange” e “inclui”.
A necessidade de afirmar que a missão é integral significa que, na prática, ela não é concebida como tal.
De acordo com Valdir Steuernagel, o evangelho não precisa dessa expressão. Ela é utilizada por causa da
dureza do coração, em virtude de fatores como nossas divisões ideológicas e nossas barreiras culturais, e
porque é preciso ouvir o evangelho como um todo que nos desafia e nos compromete a vivê-lo
integralmente, não nos permitindo nos render a uma agenda da missão direcionada pelas exigências do
mercado.
A afirmação de que a missão é integral serve também para nos trazer à memória que o envolvimento na
missão passa pelo crivo do entendimento de que ela é amor que se encarna, que se compadece, que toma a
iniciativa da aproximação na perspectiva da graça. Nesse sentido, o outro passa a ser o próximo porque
alguém se aproximou dele e assumiu a sua condição de sofredor, sem pedir nada em troca (Lc 10.25-37).
Para tanto, temos de estar dispostos a escutar as vozes do mundo amado por Deus, pelo qual enviou seu
Filho. Isso é muito significativo, uma vez que vivemos num mundo onde ecoam vozes de dor, sofrimento,
opressão, injustiça e falta de solidariedade, expressadas de maneira tão dramática nos lábios e nos
corações dos proscritos, e no grito de socorro dos excluídos.
1
Os dicionários definem “integral” positivamente como “total”, “inteiro” e “global”, e negativamente como aquilo “que não
sofreu qualquer diminuição ou restrição”. Cf. HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio Eletrônico
Século XXI. Versão 3.0. Lexikon Informática Ltda, 1999; e HOUAISS, Antônio, VILLAR, Mauro de Salles, e DE MELLO
FRANCO, Francisco Manuel. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0. Editora Objetiva Ltda, 2001.
7
Nos últimos 3-5 anos, para auxiliar a compreensão da igreja “em missão”, surge também uma reflexão em
torno do conceito de missio Dei.2
Os dois discursos, acerca da “missão integral” e acerca da missio Dei,
surtem efeitos ligeiramente distintos, mas complementares. O primeiro ajuda a igreja a contemplar quais
ministérios ou dimensões faltam à sua ação missionária para que esta reflita “todo o conselho de Deus”. O
último, ao distanciar a missão da igreja da missão de Deus, ajuda a igreja a desconstruir e desmistificar os
seus projetos, estratégias e metodologias missionários, e a se perguntar novamente como pode adequar a
sua missão de tal forma que exerça melhor o papel que Deus deseja para ela. Em ambos os casos, a igreja
procura questionar, ampliando ou até eliminando aspectos da sua prática no mundo e na história em que
Deus a inseriu. Em ambos os casos, a intenção maior não é de sacralizar a compreensão e empenho atual
da igreja e, sim, ousar radicalizá-los para ser sal mais salgado e luz mais brilhante.
“Missão” é projeto de Deus. É Ele quem toma a iniciativa de salvar o mundo manchado pelo pecado,
separado dele, com o objetivo de estabelecer o seu reino neste mundo e sobre toda a sua criação. Faz parte
da concepção de muitos que a missão é da igreja, como se essa, num sentimento de posse, usasse a Deus
para a salvação do mundo, quando, na verdade, a missão é de Deus, o qual concede à igreja o privilégio de
ser parceira na consecução desse projeto. Sendo assim, podemos afirmar que a missão de Deus tem uma
igreja que, segundo David Bosch, passa de remetente para remetida, por estar a serviço de alguém que é
maior do que ela.3
A missão de Deus cria e envia a igreja ao mundo, visando à transformação e à salvação
do mundo, à implantação definitiva de seu reino de amor, justiça, solidariedade, e paz.
“Missão diz respeito às relações entre Deus e o mundo(...) Vocacionada, [a igreja]
é co-participante da própria ação de Deus no mundo, que visa salvar e libertar a
humanidade. Sua tarefa como enviada é ver, ouvir, chamar, orientar, ajudar e
tornar-se solidária como parte do testemunho daquela ação de Deus.”4
Para corrigir a concepção eclesiocêntrica da missão, é necessário avaliar o conceito de missio Dei (missão
de Deus). Na missio Dei, o próprio Deus torna a igreja um instrumento privilegiado de sua missão, mas
2
Veja, por exemplo, o documento aprovado pela Assembléia Geral da IPIB em 2005 sobre a Reforma na Educação Teológica
da Igreja. Diversos livros recentes ajudam a fomentar a reflexão acerca do conceito de missio Dei, notoriamente: BOSCH,
David J. Missão transformadora. Mudanças de paradigmas na teologia de missão. São Leopoldo: Sinodal, 2002.
3
Ibid, 444.
4
Citado por GEORGE, Sherron Kay. “Um Novo Paradigma da Missão para o Século 21. Em Simpósio, vol. 10 (2) ano XXXVII,
nº 46, novembro de 2004, p. 17.
8
não a razão da mesma. Moltmann afirmou que não é a igreja que deve cumprir uma missão de salvação do
mundo, mas é a missão do Filho e do Espírito Santo mediante o Pai que inclui a igreja. Sendo assim, a
igreja não pode ser vista como fundamento da missão, nem como objetivo desta, mas como instrumento.
De acordo com Moltmann, “a palavra final da igreja não é a igreja, mas a glória do Pai e do Filho no
Espírito da liberdade.”5
Segundo David Bosch, a missão da igreja deverá ser o serviço à missio Dei, ou seja, representar a Deus no
mundo e, diante do mundo, apontar para Deus. A missão da igreja e a igreja só podem ser vistas juntas,
como instrumentos de Deus, através dos quais Ele realiza a sua missão.
Deus não apenas envia e se torna enviado, mas Ele é o próprio conteúdo do envio. Em cada uma das
pessoas da Trindade, Deus age por inteiro. Nessa forma de atuação, Deus nos mostra como se faz missão.
Dois discursos: missão integral e missio Dei
Esta reflexão fará uso destes dois discursos. O último, o conceito de missio Dei, ajuda a definir melhor o
conceito de “missão integral” que, por uma questão pedagógica, é o fio condutor desta reflexão. Logo, o
propósito desta reflexão é sugerir, de modo amplo e aberto, um conceito e as atividades da “missão
integral” da IPIB. Não é nosso propósito fechar o assunto e, sim, procurando um consenso geral, refletir
sobre as diversas expressões bíblicas da atuação do povo de Deus frente ao mundo e sugerir passos
inclusivos para a IPIB, em continuidade com a história antiga e sua história mais recente, desempenhar
com fidelidade e coragem a sua vocação dentro do contexto brasileiro e mundial hoje.
O estudo a seguir passa por três momentos: considera fundamentos bíblicos e teológicos; avalia a
trajetória histórica da igreja; e pondera diversos modelos e desafios de ação. Este último procede por
Ministérios e Secretarias da denominação.
5
Citado por BOSCH, op cit., 453.
9
Fundamentação
Bíblico-Teológica
Observação introdutória
Por um lado, a mera existência da Bíblia como Palavra de Deus já é um profundo dado missionário: Deus
se revela ao ser humano com um propósito, isto é, com uma incumbência dada ao ser humao em relação a
Deus, à criação e ao seu próximo. Por outro lado e ao mesmo tempo, a Bíblia é também registro da
interação e reflexão missiológica pelo povo de Deus da sua fé e da sua incumbência em relação ao mundo.
Logo, faz-se necessário ressaltar a riqueza missiológica da Bíblia e reconhecer que sempre a sua
interpretação – uma tarefa nunca conclusiva – poderá ser explorada com melhor proveito dentro do
contexto do povo de Deus em toda a sua amplitude, diversidade cultural e extensão histórica. Igualmente
reconhece-se a limitação da nossa tarefa e a necessidade da manutenção do diálogo sempre aberto entre as
Escrituras e o povo de Deus.
Mesmo reconhecendo esta limitação, a seguinte reflexão organiza-se em nove partes:
1. A criação no Livro de Gênesis
2. O chamado de Abraão no Livro de Gênesis
3. O nascimento de Israel no Egito, no deserto e no Monte Sinai, no Pentateuco
4. O desenvolvimento, a decadência e a esperança de Israel nos Livros Proféticos
5. O culto e a ética do povo de Deus nos Escritos
6. O papel de Jesus como o “missionário” (enviado) de Deus nos Evangelhos
7. A expansão missionária da igreja no Livro de Atos
8. A vivência da igreja no mundo, nas Epístolas
9. A nova criação no Livro de Apocalipse.
É possível desdobrar cada um destes temas e acrescentar outros, mas as principais reflexões
missiológicas6
das últimas cinco décadas normalmente incluem estes. Cada um destes temas ajuda a
conceituar a missão integral da igreja como se vê a seguir.
6
Além do livro já mencionado de David Bosch, os seguintes estudos são ilustrativos: BLAUW, Johannes. A natureza
missionária da igreja. São Paulo: ASTE, 1966; CARRIKER, Timóteo. O caminho missionário de Deus: Uma teologia bíblica
de missões, Brasília: Editora Palavra, 2005; SENIOR, Donald e STUHLMUELLER, Carroll. Os fundamentos bíblicos da
10
A criação
CUIDADO E BONDADE:
Gênesis 1-11
Toda reflexão da Bíblia como Palavra de Deus precisa dar conta da organização canônica geral que
começa com a criação e termina com a nova criação. A criação, este mundo e esta história, não só
estabelece o palco da atuação de Deus entre o seu povo e todos os povos da terra, mas também forma uma
moldura para todo o relato a seguir. Não é pano de fundo de outro enredo “principal” e, sim, origem e
propósito finais. No terceiro milênio, mais que nunca, o povo de Deus precisa ponderar a sua “missão” de
modo tão abrangente que abrace a criação toda. Tal “tarefa” de todo ser humano precede a tarefa
evangelística da igreja, que abraça também a mesma incumbência como parte da sua missão. Antes de
termos uma missão como povo de Deus, temos uma incumbência como “gente” e, por isso, a igreja pode e
deve procurar se juntar a todos os esforços humanos que procuram o bem-estar ambiental. Eventualmente
no Novo Testamento, veremos que o alvo redentor da missão de Deus, na qual a igreja participa, abrange
não apenas a humanidade decaída como o meio ambiente todo, do qual a humanidade faz parte.
Uma missão “ecológica”7
Os relatos da criação no Livro de Gênesis ensinam que o destino e o bem-estar da criação estão
entrelaçados com o destino humano. Descrevem o papel do ser humano, fêmea e macho juntos, como
ligado ao cuidado e à ordenação proativos de todas as outras criaturas (capítulo 1) que, para isso, ele
próprio deve conhecer (nomeando) minusciosamente (capítulo 2). A história do dilúvio deixa claro que
nem a “queda” anulou esta incumbência primordial da humanidade. Portanto, assumimos a nossa
humanidade legítima, em parte, na medida em que assumimos esta “missão ecológica” da boa ordenação
do nosso meio ambiente, não apenas para o benefício humano, mas, acima de tudo, como a expressão da
imagem de Deus e para que toda a criação, na sua beleza e bem-estar, preste glória a Deus (Gênesis 1.27-
31; Salmos 8, 19, 29, 65, 93, 95, 98, 104, 107, 145, 148). Ser “gente” é ser agente no cuidado da criação.
Ser povo de Deus é ser agente da redenção da criação. Este é o mundo que o profeta Isaías espera
missão. São Paulo: Edições Paulinas, 1987; e VAN ENGEN, Charles Povo missionário, povo de Deus: Por uma definição do
papel da igreja local. São Paulo: Vida Nova, 1996.
7
Poderá encontrar uma rica reflexão, repleta de citações extensas de autores sobre o tema, no trabalho de Paulo Damião:
http://missao.info/?p=140 e também: http://ceuseterra.com/2007/10/16/uma-perspectiva-crista-da-ecologia/
11
(capítulo 11) e que o Livro de Apocalipse anuncia, um mundo onde a justiça e a eqüidade finalmente
estabelecer-se-ão – o lobo e o cordeiro caminham juntos, e o leopardo e o cabrito dormem no mesmo leito
– um espaço e um tempo onde o mal e o dano deixam de existir e, finalmente, o conhecimento da glória
do Senhor encherá a terra como as águas cobrem o mar. É importante que a igreja mantenha a mira na
missão ecológica, tanto na sua origem como no seu alvo final.
Quanto a estas observações escatológicas, surge uma dúvida comum: a criação, conforme o relato bíblico,
não se destina à destruição? Por que perder tempo com o conservacionismo, se tudo vai virar fumaça? No
Novo Testamento, a visão apocalíptica da criação não só pressupõe o seu julgamento (2Pe 3.1-12), como
também e ultimamente a sua renovação (2Pe 3.13; Ap 21). Lemos que haverá novos céus e nova terra –
não “outros” céus e “outra” terra –, uma visão que serve de paradigma e motivação para a “missão
ecológica” da igreja.8
A redenção final da igreja, mesmo por caminhos angusiantes e como a incumbência
inicial da humanidade toda, encontra-se intimamente vinculada à sua fidelidade no cuidado da criação
(Rm 8.18-25).
Uma missão dentro da nossa história e do nosso mundo
Tudo isso significa que a esperança da igreja não é uma esperança ultramundana e extrahistórica.9
Uma
missiologia que leva a sério o papel criador de Deus, que age dentro da história humana, compreenderá o
seu destino também dentro da história e dentro do mundo ainda em construção por Deus. Não fomos
criados para fugir deste mundo e do nosso tempo, mas, sim, para redimi-los. Até uma leitura das mais
superficiais das Escrituras percebe esta proximidade, iniciativa e propósito de Deus nas atividades
humanas. A missão “integral” inclui não só os diversos ministérios da igreja em relação ao seu próximo,
mas também integra o mundo todo criado por Deus e a história toda guiada por Deus. A escatologia da
missão “integral” é uma escatologia engajada no projeto de Deus para o mundo que ele próprio criou e
ainda redimirá.10
A escatologia não é periférica à missão, pois é ela que determinará o caráter otimista ou
8
A visão paradisíaca da linguagem apocalíptica funcionava não para dispensar o povo de Deus da sua responsabilidade e
engajmento no aqui e no agora em favor de um lugar e tempo remotos. Ao invés disto, servia de inspiração e paradigma para
sua missão dentro da história e mundo presentes.
9
Ao contrário da interpretação superficial de 1 Coríntios 15.19, que desconsidera que a passagem toda depende da confiança na
realização por Deus de algo que aconteceu dentro da nossa história e do nosso mundo concretos: a ressurreição de Jesus por via
de morte. Em 1 Coríntios 15.19, Paulo denuncia a fé coríntia que tente excluir a morte nesta vida a favor duma “ressurreição” já
realizada num plano espiritual e extra-terrestre, uma noção mais gnóstica que bíblica.
10
Nesta reflexão somos forçados a optar entre, por um lado, uma escatologia reformada, que avalia positivamente a ação de
Deus na nossa história e no nosso mundo, e, por conseqüência, a viabilidade essencial da incumbência missionária da igreja e,
por outro lado, uma escatologia que avalia com pessimismo a viabilidade de tal incumbência e a efetividade da ação redentora
12
pessimista da missão da igreja: ou o engajamento pela força do Espírito na nossa história e no nosso
mundo ou a espera passiva e socialmente alheia dum celeste porvir.11
Uma missão cultural
Nos relatos da criação, parte importante da “missão ecológica” da humanidade de cuidar da criação é sua
incumbência “cultural” (mandato cultural).12
Isto é, cabe ao ser humano não só cuidar da criação, mas
também se relacionar bem com o próximo. A sua relação mais íntima entre homem e mulher e a criação
de famílias são o auge deste relacionamento e se destacam nos relatos da criação. Tanto é que o
relacionamento da igreja com Deus e com Cristo frequentemente recorre para a linguagem da relação
comprometida entre homem e mulher. Entretanto, lendo além de Gênesis 1-2, vemos que a incumbência
de se relacionar com o próximo de maneira alguma se esgota no casamento, mesmo que aqui se
exemplifique melhor. Mas a missão “cultural” abrange toda a organização dos grupos humanos nas suas
múltiplas dimensões econômicas, políticas e culturais. Logo, o desenvolvimento da “cultura” como meio
de expressar o relacionamento entre os seres humanos faz parte da “missão ecológica”.
Convém o crente participar em atividades “seculares” como, por exemplo, grupos de interesse político,
cívico, cultural ou educativo? Isto não desvia a sua atenção das atividades da igreja? Estas são perguntas
que permanecem na cabeça de muitos membros das nossas igrejas. Por um lado, a resposta é simples e
inequivocada: sim, o crente pode e deve participar porque isto compete aos seres humanos (dos quais a
igreja participa!). Além disto, é vocação dos crentes que, com a mente renovada no Espírito, são
desafiados a serem sal e luz dentro do mundo. É parte da nossa incumbência como povo de Deus, não
atividade à parte. Ser enviado por Deus é ser enviado para dentro do nosso mundo e da nossa história.
de Deus em Jesus Cristo dentro da nossa história e dentro do nosso mundo. É impossível abraçar as duas posturas
simultaneamente.
11
A escatologia não é tanto o discurso sobre as últimas coisas no sentido de eventos que ainda estão por vir e por isso estão
grandemente fora da cognição humana. Antes disto, é o estudo das conseqüências últimas do plano eterno de Deus já
inaugurado em Cristo Jesus e ainda por ser realizado por Deus mesmo, que convida a igreja a participar desta realização.
12
O teólogo luterano alemão Dietrich Bonhoeffer distingue quatro “mandatos” na criação: do trabalho, do casamento, do
governo e da igreja. Abraham Kuyper, teólogo reformado holandês, fala de dois: o mandato cultural e o mandato redentor.
Ambos estão antecipando, para além da leitura de Gênesis, o papel missionário da igreja. Preferimos falar da “missão” ou
“mandato” do ser humano em Gênesis em relação à criação (“ecológica”) e dentro da criação, em relação ao seu próximo
(“cultural”). Somente depois, à medida que se desenvolve, é possível falar duma missão mais específica (“redentora”) em
relação aos outros povos.
13
Uma missão ética
Boa parte de Gênesis 1-11 fala do fracasso humano em relação à sua incumbência dada por Deus, da
mesma forma que boa parte do Antigo Testamento focaliza o fracasso do povo escolhido em relação ao
seu papel diante de Deus e diante do mundo. Aliás, em Gênesis 3-11, o fracasso humano aumenta e se
intensifica cada vez mais. Esta observação dá muita sobriedade à reflexão a respeito da missão “integral”.
É preciso computar o fracasso humano e o fracasso do povo de Deus, quando se contrói uma noção de
missão dos dois. Desde o princípio, a missão se revela ultimamente “de Deus”. Por isso, distinguimos
missio Dei de missiones ecclesiae. Temos uma incumbência, sim. Entretanto, ela se desenvolve em meio
ao fracasso e freqüentemente alheia ao plano de Deus para a sua criação. Se o resultado da presente
reflexão for apenas o de parabenizar o bom desempenho institucional da igreja, então teremos fracassado
miseravelmente. As exortações dirigidas para o povo de Deus, explicitamente em boa parte do Antigo
Testamento (os profetas anteriores e posteriores) e também do Novo Testamento (as Epístolas, Apocalipse
2-3) e implicitamente no restante da Bíblia, exigem de nós sempre uma autocrítica.
Com o fracasso humano, surge uma necessidade de reparo e restauração. O Deus que age na história e no
mundo é o Deus que resgata e que restaura. Com a queda, já surge uma promessa, ainda que enigmática,
de restauração (Gn 3.15). Ao longo das Escrituras, esta promessa de endireitar o mundo e a humanidade
caídos e aviltados é ação divina, mas também envolve a participação humana (Gn 12.3). Assim, junto com
a queda nasce, em primeiro lugar, a missão salvadora de Deus e, depois e eventualmente, a missão
evangelística da igreja. Esta situação de malignidade dum mundo declarado “bom”, “muito bom” e
abençoado por Deus (Gn 1.4, 10, 12, 18, 21, 25, 28, 31; 2.3) gera, portanto, a necessidade de retificação.
Desde o princípio e fundamental à fé bíblica, existe a preocupação pela ética, pela justiça e pelo
endireitamento do mundo em todos os aspectos.
14
O chamado de Abraão e Sara
BÊNÇÃO E ELEIÇÃO:
Gênesis 12-50
O fracasso cada vez maior do ser humano em Gênesis 1-11 nos prepara para a “solução” de Deus a partir
de Gênesis 12. Aqui, lemos a respeito do chamado divino dirigido a um casal, Abraão e Sara, que formou
um grande povo, que, por sua vez, irá exerceu um papel fundamental no alcance das nações.
Uma missão participativa
Há uma observação importante para ampliar a noção de “missão” ao ponto mais integral possível: tanto na
incumbência dada ao ser humano na criação quanto na “eleição” de um povo para levar adiante a tarefa
inacabada de “bem-fazer” ou “abençoar” o mundo (Gn 1.31; 12.3), ambos os gêneros humanos são
inclusos como participantes iguais e igualmente incumbidos. O “homem”, como macho e fêmea, e os
ancestrais do povo de Deus, tanto Abraão quanto Sara, recebem a designada “missão” (Gn 1.27; 12.1-3;
17.15-22). Isso implica tanto na luta pela quebra de preconceitos de gênero na sociedade, quanto na
capacitação e delegação de autoridade para ambos os gêneros, não para a competição, mas, sim, para a
plena participação como parceiros na missão de Deus.
Uma missão de abençoar
Quanto à incumbência em si, é importante reparar que o alvo inicial da “missão” dada para o povo de
Deus13
eleito em Gênesis 12 não se define em termos das penas ou galardões eternos da salvação, mas,
sim, em termos de “bênção”.14
A primeira expressão da missão do povo de Deus é “abençoar” os outros
povos com a mesma incumbência criativa inicial que a humanidade recebeu de Deus. Logo, embora
possamos falar de ecos de “fé” e “justificação” (Gn 15.6), na história de Abraão e Sara, a ênfase parece
estar no bem-estar do povo de Deus e, por meio dele, de todos os povos do mundo. Por outro lado, a igreja
primitiva entendeu a incumbência de “abençoar” como um tratamento da queda e do pecado (At 3.25, 26)
que restabelece nossa devida relação com Deus por meio de Jesus Cristo (Ef 1.3-4). Abençoar, portanto,
desemboca na tarefa de anunciar as boas notícias de que, em Jesus, Deus provê o meio definitivo para
13
Os componentes da aliança estabelecidos em Gênesis 12 se repetem para gerações subseqüentes ao longo do relato do livro.
14
A palavra para “abençoar” na língua hebraica, na sua forma verbal piel, significa “delegar ou declarar poder para sucesso,
fertilidade e prosperidade” (veja o mesmo uso em Gênesis 1.22, 28 e 2.3).
15
reatar os nossos laços com Ele como seres criados à sua imagem e à sua semelhança. Missão, antes de
tudo, é abençoar os povos com as boas novas do cumprimento dos propósitos de Deus em Jesus Cristo.
A promessa de abençoar todas as famílias da terra através de Abraão e da sua descendência não é
promessa passageira, mas se repete diversas vezes ao longo de todo o Livro de Gênesis, primeiro, para
Abraão (Gn 13.14-16; 15.5-7,18; 17.4-8; 18.18; 22.15-18) e, depois, para cada um dos seus descendentes
(Gn 26.2-4,24; 28.3-4, 13-14; 35.9-12; 48.16; 49.22). É uma das promessas mais fundamentais de toda a
Bíblia porque serve de base para as demais promessas. Tão importante era que o apostólo Paulo
considerou-a como o “preanúncio do evangelho” (Gl 3.8).
Uma missão litúrgica
Outra observação importante: “missão” não é antagônica nem periférica à vida e ao culto do povo de
Deus. O culto já aparece na aliança abraâmica como conseqüência final deste trato de Deus com um povo
específico (Gn 12.7-8). A missão do povo de Deus leva ao culto a Deus. O culto define o propósito último
da missão como a missão dá definição e sentido à vida eclesiástica. A missão da igreja não é mera
subdivisão da sua vida e, sim, a sua vocação essencial. “Missão” é algo primordial na definição do povo
de Deus, mas não é a sua finalidade última. O culto o é.
Uma missão mundial e multicultural
A incumbência dada a Abraão e Sara, aos seus descendentes e ao seu descendente mantém, por definição,
a participação no povo de Deus sempre abrangente. A “sua” bênção é meio para “abençoar” todas as
famílias da terra. Não se cumpre até que povos de todas as etnias, povos e raças sejam incluídos no povo
de Deus (Mt 24.14; 28.18-20). Esta caractéristica de missão ganha destaque ao longo das Escrituras, como
veremos em seguida. A igreja que limita a abrangência da sua missão ou em termos étnicos ou em termos
geográficos não percebeu a natureza mundial e multi-étnica da sua incumbência e se caracteriza mais pelo
provincialismo do que pela inclusividade inerente da sua missão.
16
O Egito e o Monte Sinai
LIBERTAÇÃO E ALIANÇA:
Êxodo – Josué
Se o primeiro livro do Pentatêuco relata a chamada (eleição) de um povo para Deus, os outros quatro
elaboram a sua formalização (aliança). Aqui lemos de três principais eventos: a libertação da opressão
egípcia, a peregrinação no deserto e o estabelecimento da aliança no Monte Sinai. Também lemos de duas
grandes instituições deste povo: o culto e a lei.
Na libertação, aprendemos que Deus age dentro da história humana, que a justiça é sua marca e que ele
age na história tanto através da humanidade quanto poderosa ou independentemente dela. Na
peregrinação, aprendemos que seguir Javé significa passar por deserto (no Novo Testamento: tomar a sua
cruz), exige fé e dependência de Deus que é o nosso sustento suficiente, e que temos um destino adiante.
Na aliança sinaítica, aprendemos que o povo de Deus, mesmo chamado à parte dos outros povos,
novamente, como no chamado de Abraão, encontra a sua vocação em favor dos povos:
Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha
aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos;
porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa.
São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel (Êx 19.5-6; cf. 1Pe 2.9)
Sua missão seria de obediência total e diária de Deus (como no deserto) que as instituições da lei e do
culto elaboram e especificam. Mais uma vez, as instituições do povo de Deus servem a um propósito
maior, um propósito “missionário” em favor dos povos e ultimamente um propósito de glorificar a Deus.
“Missão” na experiência do êxodo, do deserto e da aliança se caracteriza pela libertação da opressão, pela
justiça de Deus, pela ação de Deus na história humana (missio Dei), pela intercessão incessante, pelo culto
e pela ética do povo de Deus. Nisto, os conceitos de “missão” elaborados até aqui são reforçados e
adiantados.
São adiantados especificamente pela emergência e desenvolvimento das instituições da lei e do culto. A
lei, por sua vez, abrange toda a vida do povo de Deus, e ainda leva em conta a inclusão do estrangeiro e o
tratamento justo dos órfãos e viúvas. Integralidade está no coração do conceito da vivência do povo de
17
Deus. Também o alvo mundial e multi-étnico do culto se estabelece logo no princípio da aliança mosaica
pela especificação vocacional dos agentes do culto (sacerdotes) que intercedem a favor de todos os povos
(Êxodo 19.5-6; cf. 1 Pedro 2.9). Nisto, entendemos que a integralidade da missão se refere não somente à
diversidade de ministérios que a igreja exerce em relação ao mundo. Também implica na amplitude do
alvo destes ministérios no alcance de todos os povos, todas as raças, e todos os grupos sociais no mundo
todo.
O reino
JULGAMENTO E MISERICÓRDIA:
Os Profetas
Se o papel missionário do povo de Deus encontra maior definição no Pentatêuco, nos Profetas15
a ênfase
está cada vez mais no seu descumprimento, o subseqüente julgamento de Deus e a promessa da
misericórdia e libertação vindouras do Deus justo, poderoso e íntegro. Também, se a figura de Abraão
domina o Livro de Gênesis e a figura de Moisés domina o resto do Pentatêuco, é a figura de Davi e do seu
“descendente” que recebe mais destaque nos Profetas e nos Escritos.
Uma missão de serviço
Notório entre as “promessas” é o cumprimento do papel missionário de um “descendente” de Eva (Gn
3.15), de Abraão (Gn 12.7; 13.15; 15.18; 17.7; 22.17), de Moisés (Dt 18.15-18), de Davi (2Sm 7.12-17; Sl
72) e, assim, o cumprimento do mesmo papel do povo de Deus (Is 42.6; 49.6; 51.4). O Servo é um
descendente fiel de Deus e servo também é o seu povo. A missão é de serviço e é de seguir o modelo de
um Santo, que Deus revelará para cumprir os seus propósitos para todas as nações do mundo. A missão,
também, tem a ver com libertação, justiça e eventualmente a remoção das iniqüidades humanas (Is 53). É
nos Profetas, especialmente em Isaías, que aprendemos que a missão do povo de Deus, acima de tudo, é
seguir a missão do próprio Deus e, assim, cumprir o destino do ser humano, criado à imagem do seu
criador, isto é, o destino de ser o seu representante neste mundo e nesta história.
15
Por “Profetas” contemplamos tanto os “anteriores” (às vezes chamados de Livros Históricos) quanto os “posteriores”
(comumente dividos em “maiores” e “menores”). A extensão da história relatada, e não do período da sua composição, é desde
o final do período dos juízes, percorrendo as diversas monarquias e cativeiros, até o período pós-exílico.
18
Uma missão escatológica
Nas Escrituras todas, Deus se revela como o Deus que age dentro e através da história. Repetidas vezes,
lemos que o fracasso do povo de Deus não impede o avanço dos propósitos de Deus na história, mesmo
que Deus o convide a ser o seu agente de transformação no mundo. Nos profetas, uma das ilustrações mais
notórias desta missio Dei é a história de Jonas. A sua desobediência não impede o alcance da misericórdia
de Deus para com os ninivitas. E a parábola do verme, que fere a planta que dá sombra para Jonas, ilustra
como o povo de Deus se preocupa com coisas mesquinhas e pouco se importa com a vida dos outros, que
é de suma importância para Deus. Por trás destas e outras narrativas proféticas está o Deus que avança os
seus propósitos, ora por meio do seu povo, ora apesar dele.
Uma missão profética
No Antigo Testamento, são os Profetas Posteriores que mais destacam a dimensão crítica e denunciadora
da missão, tanto que a qualificativa “profética” no meio cristão já adquiriu esta conotação abrasiva. Esta
missão é uma faca de dois gumes. Às vezes, a critíca é dirigida à injustiça e à idolatria das nações.16
Mais
freqüentemente, é dirigida à injustiça e à idolatria do povo de Deus.17
Quando a injustiça dentro do povo
de Deus se manifesta, abafa toda a barulheira do culto (Am 5.23).
O culto e a cultura
FIDELIDADE E COMUNICAÇÃO:
Os Escritos
Assim chegamos aos Escritos, comumente negligenciados em relação à sua contribuição missiológica.
Aqui, entretanto, destacamos duas lições de tremenda relevância para a idéia de “missão integral”.
Uma missão contextualizada
Em primeiro lugar, especialmente a literatura sapiencial, mas também os Salmos estabelecem uma postura
de abertura e diálogo entre o povo de Deus e o mundo. Isto ocorre pelo freqüente aproveitamento e
adaptação de metáforas e ditados estrangeiros dentro deste dois tipos de literatura. Os Escritos oferecem
16
Para a denúncia contra as nações, veja especialmente Jeremias 46-50.
17
Para a denúncia da idolatria entre o povo de Deus, veja, por exemplo, 1 Reis 4.20-25 e a narrativa sobre os profetas de Baal
em 1 Reis 18. Para a denúncia da opressão entre o povo de Deus, veja 1 Reis 5.13-18; 9.15-22; Isaías 1.21-23; 7.1-9; 37. 33, 35;
Amós 3.8; 9.8-10; Oséias 4.11-14, 17-19; 6.8-10; Isaías 59; Salmo 53.
19
um modelo importante para uma avaliação essencialmente positiva da cultura. Como Deus se encarnou
para nos alcançar, a igreja adota uma postura otimista na sua busca de aproveitamento de elementos
culturais para conduzir o seu culto e para expressar as verdades da vida diária.
Isto é uma importante qualificação da postura de confronto que encontramos freqüentemente nos Profetas.
“Missão” implica num diálogo entre igreja e sociedade, não um diálogo que abre mão do senhorio e
soberania do único Deus, mas um diálogo que, mesmo assim, busca as verdades num mundo criado por
Deus e impressas em todos os povos, por serem criados à imagem e semelhança de Deus, mesmo
procedentes de outras religiões.
Missão como “diálogo”, embora não abra mão do senhorio do único Deus, mantém uma postura
essencialmente evangelística (de boas-novas) de um Deus que se revela ao ser humano dentro do seu
contexto e da sua cultura. Logo, não cabe uma postura proselitista (de más-novas) de um Deus que
somente se revela dentro da cultura cristã predominante, e não em todas as culturas que, por serem
humanas, refletem algo da imagem e semelhança de Deus.
Uma missão que chama para o culto
Em segundo lugar, os Escritos, em especial os Salmos, nos ensinam que missão envolve poesia e música.
Missão e culto, de fato, são dois lados da mesma moeda. A liturgia que agrada a Deus não é aquela que
afasta os diversos povos e, sim, a que os atrai. Não só atrai os povos como também a criação toda no
louvor e adoração a Deus, Javé. Missão, portanto, não é apenas ir ao encontro das nações (movimento
centrífugo), mas também atraí-las ao culto e à adoração a Deus (centrípeto). Assim, somos lembrados que
a nossa missão, por mais que ela nos defina, não é última. Último é o culto a Deus. Missão é a maneira de
chegar ao que é último, encher a terra com o conhecimento da glória do Senhor. Missão, logo, é o que
mais orienta o nosso culto, e o culto a Deus é a razão da nossa missão.
20
Jesus
CUMPRIMENTO E MODELO:
Os Evangelhos
Os escritores do Novo Testamento, a igreja primitiva e nós entendemos que o Servo de Deus é Jesus (At
3.24-26; Rm 15.8-9; Hb 1.1-4). Ele é o cumprimento das promessas feitas por Deus aos pais (Abraão,
Moisés e Davi) e modelo para a igreja.
Uma missão segundo o cumprimento por Deus (missio Dei)
Jesus cumpriu as promessas de Deus a Abraão, a Moisés e a Davi. As promessas a Abraão são de
abrangência nacional e internacional, e correspondem aos dois imperativos de ser povo de Deus e de
abençoar as nações. Estas promessas se aplicam ao patriarca e à sua descendência, esta última se referindo
ao povo de Israel e, também, a um descendente individual, fiel e real, que abençoará todos os povos do
mundo.
As promessas para Moisés, semelhantemente, assumem as mesmas duas dimensões, externa e interna. Só
que a natureza condicional da promessa e a incumbência de obediência por parte do povo de Deus se
formalizam através da lei e do culto. A lei e o culto serão duas áreas críticas para avaliar a obediência de
Israel. Fracassos nestas duas áreas, através da injustiça moral e social em relação à lei, e através da
adoração a outros deuses em relação ao culto, constituíram a decadência de Israel e a quebra da aliança
com o Deus Supremo.
As promessas a Davi se apresentam como um desdobramento das promessas anteriores. São de natureza
qualitativa e quantitativa. Isto é, o reino do descendente de Davi será qualitativamente de justiça e
eqüidade, e será eterno. Quantitativamente, as promessas, por um lado, se estreitam através do
remanescente até a figura messiânica. Por outro lado, se alargam na medida em que o Israel fiel e o servo
fiel e real serão luz para as nações. Desta maneira, as promessas, colocadas lado a lado, de bênção para a
nação e bênção para os povos da terra se realizarão.
21
Jesus Cristo cumpriu as promessas de Deus a Abraão18
, a Moisés19
e a Davi20
. Assim, estabeleceu a
inauguração duma nova criação, de bênção para todas as nações e do governo de Deus.
Uma missão segundo o modelo de Jesus
Sua mensagem, seu ministério, sua crucificação e sua ressurreição, todos são paradigmáticos para a
missão da igreja (João 20.21). Sua mensagem, que exige arrependimento, oferece perdão e anuncia que o
dono deste mundo é Deus, e não os senhores deste mundo, é também a mensagem missionária da igreja
(Mc 1.14-15; cf. At 2.38; 3.19, 25-26; 4.12). Seu ministério tríplice, de cura, libertação e proclamação, é o
mesmo ministério missionário da igreja (cf. At 2.43; 3.1-10; 5.12-16; 8.7; 9.32-42; 14.3, 8-10; 16.16-19;
28.8-9). Até mesmo a sua crucificação e a sua ressurreição são paradigmáticos para a vida (Rm 5.17; 6.8-
11; 8.11) e para a missão da igreja (1 Coríntios 1.18-25; Colossenses 1.24). Para a igreja, ser criado à
imagem e à semelhança de Deus adquire uma dimensão mais específica que a dimensão original para a
humanidade toda. Significa imitar ou seguir a Jesus. “Assim como o Pai me enviou, eu vos envio” (Jo
20.21).
Urge uma ação missionária da igreja que siga o padrão destes três aspectos do modelo de Jesus: sua
mensagem, seu ministério, e sua crucificação e ressurreição. Assim, uma missão integral procura emular,
pela presença do Espírito Santo na sua vida, a própria presença de Cristo, e sua missão reflete o cerne do
missio Dei, isto é, solus Christus, como o princípio protestante mestre (principium theologiae) dos outros
três gritos: sola Scriptura, sola fide e sola gratia. Colocar-se à disposição da missio Dei significa assumir
a postura radical de refletir a missio Christi, de novo, na sua mensagem, no seu ministério, e até mesmo na
sua crucificação e ressurreição. Consideremos, primeiro, a sua mensagem de arrependimento, perdão e
anúncio da chegada do reino de Deus.
18
Mateus 1.1,17; 8.11; Lucas 1.54-55, João 8.56; ver os discursos de Pedro em Atos 3.25-26 e Paulo em Gálatas 3.16.
19
João 1.17, 45 (cf. Deuteronômio 18.15); 3.14-18; 6.32-35; Hebreus 3.1-6; 8.1-2; 9.13-15, 24-25, 27-28; 8.6; 9.15; Romanos
3.31; 10.4; Gálatas 3.24.
20
Os escritores do Novo Testamento afirmam que as promessas para um descendente de Davi, em 2 Samuel 7.12-16 e Salmo
72, foram cumpridas em Jesus. As seguintes passagens são ilustrativas:
• Mateus 26.61: constuirá a casa de Deus;
• Atos 26.22-23: reinará eternamente;
• Mateus 14.33: será para Deus por filho;
• Lucas 4.17-19: terá sempre a misericórdia de Deus, i.e, julgará com justiça e eqüidade;
• Efésios 1.3: um domínio pelo mundo inteiro;
• Mateus 1.1, 17: Filho de Davi.
22
O “reino de Deus” é um conceito teológico central para uma teologia da missão e, conseqüentemente, para
o entendimento da missão como sendo integral. Falar em reino de Deus é afirmar que Deus reina e
governa a criação e a história. Georg Vicedom define o reino de Deus como sendo o senhorio de Deus.
Para Zabatiero, o reino é o projeto histórico de Deus que pretende estabelecer uma sociedade perfeita, sem
injustiças ou sofrimentos. O reino é, portanto, o símbolo que expressa a ação de Deus no mundo, hoje e no
futuro. Este símbolo é marcado por uma dupla dialética: entre presença e futuridade; e entre ação humana
e ação divina. “A simultaneidade de presença e a futuridade do reino de Deus estão numa tensão
dialética.”21
Crer que o reino é, a um só tempo, presente e futuro passa pela compreensão de dois
aspectos, ou seja, primeiro, que, em Jesus e no seu ministério, o reino entrou para a história e ainda hoje se
manifesta no mundo; e, segundo, que o mesmo reino aguarda, na história ou além dela, uma consumação
onde alcançará a plenitude. Entretanto, presente e futuro são características formais do reino. O que
importa é o que é o reino.22
Há um projeto histórico de Deus para a humanidade e isso se enquadra na reflexão que Zabatiero faz
utilizando-se dos textos proféticos de Isaías 11.1-6 e 65.17-25. Quem não deseja uma sociedade perfeita?
Nessa perspectiva, esses dois textos trazem no bojo, de forma poética, a utopia de uma sociedade perfeita,
marcada pela ausência de sofrimentos, injustiças, etc., descrevendo a forma histórica que o reino de Deus
tem como objetivo assumir no seio da humanidade. Um reino com ênfase num relacionamento perfeito
entre Deus e as pessoas a quem Ele criou à sua imagem e semelhança (11.1-5); repleto do louvor marcado
pela alegria diante da majestade divina (65.17-19); com a ausência de pessoas carentes e oprimidas, as
quais terão direito a moradia, trabalho, terra e vida.23
A igreja, por sua vez, enquanto espera a vinda do seu Senhor, desempenhará a sua missão, não sem
direção, mas tendo o reino de Deus como seu ponto de referência e seu paradigma.24
Sustentado pelo
poder do Espírito Santo, o projeto histórico de Deus será o projeto histórico da igreja. Caberá, portanto, à
igreja, como parceira de Deus, com base na sua graça, viabilizar esse projeto para a humanidade, o qual
foi inaugurado decisivamente por Jesus Cristo, pois, nele, a utopia se torna topia, ou seja, sonho possível.
21
BRAKEMEIER, G. Reino de Deus e Esperança Apocalíptica. São Leopoldo, Sinodal, 1984, p. 14.
22
FACCIO, Flávio Braga. “Os sinais do reino de Deus na História” em Boletim Teológico – Fraternidade Teológica Latino-
Americana. 21. Julho-setembro/1993, p. 18.
23
ZABATIERO, J.P. Tavares. Liberdade e Paixão. Missiologia latino-americana e o Antigo testamento. Londrina: Descoberta,
2000, pp. 153-154.
24
Ibid., p. 156.
23
Ao anunciar e sinalizar o reino de Deus, a igreja apresenta ao mundo um aperitivo daquilo que deve ser a
humanidade na perspectiva divina. Freitag se valeu da centralidade do conceito de reino de Deus na
mensagem de Jesus para mostrar os sinais que, na história da igreja, indicam os propósitos de Deus, ou
seja, como o reinado futuro de Deus exerce influência sobre o presente. Como afirma Cullmann, o “já” do
reinado de Deus excede seu “ainda não”.25
Em Jesus Cristo, a utopia do reino começa a se concretizar historicamente. Com Ele, o reino se realiza de
forma humanamente perceptível. Há certa dificuldade para se afirmar que, naquele Jesus, sem força,
falando de paz, demonstrando poder através do serviço, Deus estabeleceu seu reino no mundo. Jesus
mostra, através de sua prática, o modo de ser do reino de Deus. As atitudes de Jesus constituem sinais do
reino, pois, através delas, Deus restaura e promove a vida das pessoas. Deus se faz presente na cura dos
enfermos, na ressurreição dos mortos e no anúncio do Evangelho aos pobres (Lc 7.18-23).
Tendo o reino de Deus como paradigma, a prática cristã deve nos tornar aliados no que Ele já está
fazendo, tornando-nos seus instrumentos para a construção de um mundo melhor. Para tanto, precisamos
estar atentos à sua maneira de agir na história. Nesse sentido, os sinais do reino como sendo as
manifestações da ação divina no mundo precisam se fazer presentes na nossa vida. Nessa perspectiva, a
igreja tem a responsabilidade de manifestar o reino por meio da unidade, da diaconia, da solidariedade, da
ação social, da ação política e através da pregação do Evangelho.
Uma missão universal
Jesus também tira qualquer dúvida de que os propósitos de Deus e a incumbência do seu povo somente se
realizam quando atingem toda raça, toda classe social e toda etnia neste mundo. Como Jesus quebrava
barreiras no exercício do seu ministério, a igreja jamais poderá se contentar com um enfoque no status
quo, mas profeticamente segue os passos do seu Senhor ao anunciar que a mesa do banquete escatológico
está posta e os excluídos pela sociedade serão os primeiros convidados.
Uma missão transformadora
Somos enviados segundo o modelo de Cristo (Jo 20.21). Qual foi a vocação missionária de Jesus, então,
que imitamos? É uma missão que segue a tradição profética de priorizar os pobres e trazer a justiça de
25
Cf. BOSCH, op cit., p. 603.
24
Deus especialmente aos mais injustiçados (Lc 4.18-19). Acima de tudo, é uma missão de serviço e não de
dominação (Jo 13). Esta postura não pode ser ultrapassada quando a igreja contempla a “grande comissão”
dada por Jesus (Mt 28.18-20; Lc 24.44-48; At 1.8). Se o for, corre o perigo de se transformar em
programa triunfal e conquistador, uma característica que, tragicamente, acompanha a história da igreja e
que precisa ser constantemente denunciada. A cruz é mais que um enfeite cristão. É paradigma do nosso
discurso (1Co 1.18-25) e da nossa ação. Não só assumimos a via crucis como estilo do discipulado (Mc
8.34-38), mas também aceitamos o sofrimento em prol do evangelho como meio de efetuar o resgate por
Deus da sua criação (Rm 8.18-25) e meio pelo qual construimos a igreja (Cl 2.24).
Existe uma tensão entre a ênfase no evangelho que prioriza a conversão a partir de uma esperança apenas
futura, que não considera a necessidade de edificação de um mundo melhor e mais digno no momento
presente, e a que enfatiza um evangelho que não possui vínculo algum com o transcendente, ou seja, sem
verticalidade, conversão a Cristo, discipulado e temor. São duas posições extremas. A primeira se
preocupa apenas com o que está além mundo, com forte ênfase na salvação futura das almas (salvação
eterna), fazendo com que a vida presente se resuma a uma separação do mundo e a uma preparação para o
que está por vir, sem nenhuma preocupação com os problemas sociais, políticos, ecológicos, etc. É a
dimensão que considera que a vida depois da morte é mais importante do que a vida que vivemos aqui e
agora. O outro extremo é o da preocupação exclusiva com os trabalhos de promoção humana e
transformação de estruturas sociais, políticas, etc. Em ambos os extremos, falta a compreensão de que
uma dimensão sem a outra torna-se excludente e não contempla a dimensão integral do reino de Deus,
relacionado a um preceito importante da teologia da missão integral da igreja: “o evangelho todo, para o
ser humano todo, para todos os seres humanos.”
Alegramo-nos, sim, quando a igreja cresce na sua estatura e no seu alcance. Entretanto, é preciso
incentivar a igreja a não se contentar em contar almas, visando apenas o crescimento numérico, mas a
entender que a sua tarefa continua durante todo o tempo em que o pecado se manifesta na vida humana,
através da opressão, do racismo, das falsas religiões, das estruturas sócio-econômicas injustas, das
rupturas familiares, das drogas, da imoralidade e da corrupção.26
Sendo assim, entendemos que a missão
se constitui em luta contra o pecado na sua forma mais ampla: o pecado que prende o ser humano no seu
egoísmo, no seu individualismo, na sua ganância e na sua alienação.
26
ZABATIERO, ibid., 156.
25
Uma missão de múltiplas interpretações
Os evangelhos nos deixam com uma ressalva a respeito da tarefa de interpretar a nossa missão. Quatro
testemunhos que refletem as quatro personalidades dos seus quatro autores e as quatro situações das suas
comunidades eclesiais não nos permitem falar da nossa tarefa de modo único e 100% consensual. Diversas
interpretações não implicam no comprometimento da revelação divina e, sim, estabelecem a necessidade
da multiplicidade das nossas visões. Não que não haja concordância e unanimidade substanciais entre os
quatro evangelhos, apenas que os sabores distintos de cada um são paradigmáticos para o nosso pensar
missiológico. Uma vez reconhecido este papel da existência de quatro evangelhos, reparamos semelhante
fenômeno ao longo das Escrituras: diversos relatos da criação, diversos livros de lei, diversos relatos
históricos de Israel, diversos livros proféticos, epístolas de diversos autores com suas perspectivas
peculiares e diversas intenções e posturas pelo mesmo autor entre suas diversas epístolas. Buscamos a
unidade da fé e a concordância. Ao mesmo tempo, englobamos perspectivas que divergem da perspectiva
peculiar de qualquer um. Assim, espelhamos a universalidade do alvo missionário de levar todos os povos,
raças e nações a cultuar o único Deus.
O nascimento da igreja
COMPROMISSO E EXPANSÃO:
Atos
Provavelmente nenhum outro livro bíblico é mais procurado que o livro de Atos como referencial para a
missão da igreja. Ele nos conta da expansão da igreja e do seu comprometimento com a fé nascente.
Embora seja necessária cautela na aplicação das suas práticas ao nosso tempo, nem por isso deixa de
fornecer desafios ao nosso empenho. O livro de Atos nos deixa duas “dialéticas”. Primeiro, se, por um
lado, a missão se desenvolve de maneira soberana e sobrenatural – pelo poder do Espírito Santo –; por
outro lado e ao mesmo tempo, avança pelo esforço sacrificial, mesmo que falho, do povo de Deus.
Segundo, por um lado, no livro de Atos encontramos a igreja toda engajada na proclamação das boas-
novas; por outro lado, destaca-se especialmente o papel de alguns vocacionados específicos.
Missão como expansão estratégica
26
Por um lado, a missão avança pela atuação do Espírito na vida da igreja e dos apóstolos. Em cada nova
fase de expansão, o Espírito se faz presente por meio de sinais e prodígios (2.3-13; 8.15-17; 10.44-45;
18.24-28). E o Espírito possibilita a intrepidez no anúncio do evangelho (4.1-31; 6.5, 10, 55; 12.11-12;
28.31; cf. Ef 6.19; Tt 3.13). Há grande esperança de que o “conhecimento da glória do Senhor”, de fato,
no decorrer da história, encherá a terra como “as águas cobrem o mar” (Hc 2.14). E há ênfase na expansão
e no estabelecimento constante de novas fronteiras.
Nesta expansão em Atos, algumas estratégias começam a se desenvolver. Acima de tudo, destaca-se o
papel da oração como a postura normal e mais comum da igreja (1.14, 24; 2.42; 4.23-31; 12.5, 12; 13.3;
14.23). Junto com a pregação, a oração é a atividade mais comum dos apóstolos/missionários (3.1; 6.4, 6;
8.15; 9.11; 10.9; 11.5; 16.13, 16, 25; 21.5; 22.17; 28.8). A recomendação de Paulo para que a igreja ore
“em todo o tempo, no Espírito” (Ef 6.18), diante do relato do livro de Atos, só nos parece extraordinária
porque não reflete mais a atividade mais comum da igreja. A suprema estratégia da igreja em missão é a
oração pela atuação de Deus através do seu ministério. No caso de Atos e das Epístolas, as estratégias
conseqüentes da oração incluem o enfoque nas cidades principais do império, a promoção de igrejas
autóctones pela transferência rápida do poder decisivo para líderes locais (20.28-31) e a identificação de
pessoas “chaves”, como Cornélio, Lídia e outros, para a implantação da igreja.
Por outro lado, a missão em Atos avança em meio a perseguição e grande sacrifício (5.17, 40-41; 12.3;
14.14). O último terço do livro inteiro (caps. 21-28), ao mesmo tempo em que relata as “viagens
missionárias” de Paulo (caps. 13-20), focaliza o aprisionamento e a defesa de Paulo diante de diversas
audiências. A história não é nem somente nem principalmente de poder e glória. É uma saga de muito
esforço humano, de lutas, de desistências (13.13) e de portas fechadas (16.6-7).
Missão por todos e por alguns vocacionados específicos
Enquanto o livro de Atos descreve a igreja toda como uma comunidade missionária, também destaca o
papel de algumas pessoas vocacionadas em particular para o avanço do evangelho e o estabelecimento de
novas comunidades de fé. Lemos, logo, do papel marcante de Pedro no início desta caminhada (1.15;
2.14; 4.5-13; 5.1-11; 8.14). Freqüentemente, João o acompanha. Também lemos narrativas inspiradoras de
Filipe e Estevão (6.8; 8.5). Mas quem acaba predominando na história que Lucas nos traz é o apóstolo
Paulo. Surge como principal opositor e se revela como o principal defensor e o maior articulador do
27
movimento. Os Evangelhos e as cartas dos outros apóstolos evidenciam o esforço e o cuidado deles na
proclamação do evangelho para o leste e para o sul. E, mesmo que Paulo predomine no livro de Atos,
Lucas o descreve como uma pessoa que sabia dividir o trabalho com outros obreiros capazes, tais como
Barnabé (13.2), Silas e Judas (15.22), João Marcos (12.25), e Priscila e Áquila (18.2). Mas, pelo
testemunho de Paulo, havia mais parceiros ainda (Rm 16). Eram seus amigos, seus parentes e seus co-
obreiros. Até mesmo as suas cartas, em sua maioria, ele não as escreve sozinho. A missão envolve mais do
que a igreja toda, avançando também por meio de vocacionados específicos, mas o “missionário” nunca
trabalha sozinho. Sempre desenvolve o seu ministério no colegiado de uma equipe. Quando a igreja
desenvolve o seu ministério por equipes, espelha a própria Trindade.
A vida da igreja
ACERTOS E DESACERTOS:
As Epístolas
As Epístolas preenchem uma lacuna deixada pelo livro de Atos ao apresentar-nos a vida diária das igrejas
nascentes com seus acertos e desacertos. Os seus problemas e desafios são tão variados quanto o número
das cartas e demonstram que contextos diferentes e grupos sociais diferentes exigem tratamento
diferenciado. Não existe um “manual” definitivo de “como fazer” a missão da igreja. Ao invés disto,
existem instruções de como não fazê-la.
Missão como re-comprometimento
A mensagem incessante das Epístolas nos deixa sóbrios. Aqui, aprendemos que a missão ocorre em meio
a má compreensão, desobediência e necessidade de re-comprometimento. Urge uma postura constante e
ousada da igreja para sempre se reformar. Aqui, o anúncio é de salvação e o chamado é para revestir-se do
“novo homem”. Enquanto o livro de Atos descreve a igreja em pleno crescimento numérico e de fé, as
Epístolas deixam igualmente claro que a igreja precisava constantemente crescer também em sua
profundidade e na sua transformação social. De outra sorte, perde as suas qualidades de sal e luz
(comparar as cartas às sete igrejas do Apocalipse). Um crescimento integral envolve engajamento no
serviço (diaconia) e investimento na educação e capacitação dos seus membros para o exercício dos seus
ministérios (Ef 4.12-13)
28
Missão como pastoral
O maior missionário da igreja primitiva, Paulo, no livro de Atos, plantava igrejas. Nas suas próprias
cartas, desenvolve o trabalho pastoral. Nem menciona a “grande comissão” (mas ver Rm 10.14-15; 2Tm
4.2). O que faz é deixar o modelo do seu ministério, um ministério essencialmente pastoral. Paulo, o
grande missionário, escrevia cartas pastorais. Sabia que igrejas fortes, fiéis e engajadas eram o maior
segredo da expansão missionária (Ef 3.10; 1Ts 1.6-8). E, por isso, vivia a tensão de se distanciar delas,
para permitir o seu próprio desenvolvimento autóctone, e de manter-se próximo delas através das cartas,
para corrigi-las e motivá-las na nova vida em Cristo. As igrejas eram a evidência concreta de que a era
vindoura de Deus havia sido inaugurada e de que a era do Espírito havia chegado de modo visível. E, por
isso, era tão importante a implantação de igrejas sadias e marcadas pela presença do Espírito e pela nova
época escatológica inaugurada por Jesus.
Missão como carisma (graça)
Para Paulo, isto significava que, entre as marcas da igreja, estão ou deveriam estar uma vida pela fé, uma
ética conforme os moldes de Deus e, até mesmo, manifestações extraordinárias de Deus (Gl 3.5; 1Co 12,
14). Urge o testemunho de novas comunidades marcadas pelos carismas de Deus, onde todos possuam um
papel e ministério, onde a união e a concórdia dominem, e onde a justiça se manifeste nas vidas dos fiéis
e, por meio deles, na transformação da sociedade.
Missão priorizada
O norte da missão sempre é o conhecimento da glória de Deus (Hc 2.14). Este é o alvo final e a igreja
precisa sempre mantê-lo na sua mira. Para tanto, possui objetivos penúltimos. Por exemplo, por trás da
expansão geográfica da igreja primitiva, estava o princípio de anunciar Cristo “não onde já fora
anunciado” (Rm 15.20). Significa priorizar as pessoas, não necessariamente a geografia. Perguntamo-nos:
“onde Cristo já não fora anunciado”, entre quais grupos humanos, quais etnias, quais circunstâncias
sociais e de que maneira? A resposta varia de acordo com o momento histórico e o lugar social. Para a
igreja brasileira, por exemplo, os “confins da terra” (At 1.8) estão, literalmente, naa Oceania Pacífica, a
região com mais freqüência em igrejas do mundo inteiro. Logo, a questão não é meramente geográfica,
mas saber onde estão os maiores desafios para o evangelho. Não só é possível fazer esta pergunta. Urge
fazê-la.
29
A nova criação
LUTA E ESPERANÇA:
Apocalipse
A promessa de bênção para todas as famílias da terra (Gn 12.3) e luz para as nações (Is 42.6; 49.6) é
prevista (Lc 13.29) e estabelecida (Rm 15.8) por Jesus. A visão celestial de Apocalipse alimenta o
empenho missionário terrestre da igreja. E esta é uma visão de novo céu e nova terra, onde toda a criação
celebra a presença de Jesus, o que incentiva a nossa missão ecológica (5.13; 21.1-2; cf. 2Pe 3.13). É uma
visão inclusiva de todos os grupos humanos, que alimenta (5.9; 7.9) a missão social e evangelística da
igreja. É uma visão de adoração e louvor por todos os povos e toda a criação que motiva a missão litúrgica
da igreja. E é uma visão de justiça e retidão, finalmente, transbordantes (15.4; 19.8-11) que enfrenta a
constância e multiplicação da opressão e do mal atual, e encoraja a igreja a denunciar estas últimas e
incansavelmente sustentar a manifestação das primeiras. A justiça restabelecida. A terra e os céus
recriados. E a glória de Deus conhecida massivamente como a extensão e profundidade dos mares!
CONCLUSÃO
Concluimos a reflexão bíblica e teológica com algumas observações sobre a maneira que lemos as
Escrituras. Somos herdeiros de um movimento missionário marcado pela ênfase na fé individual. O
Pietismo estreitou a compreensão de reino de Deus ao reduzi-lo demais ao indivíduo. Exemplo disso é o
que se refere à tradição de leitura bíblica no protestantismo, marcada pela individualidade. É presunção
achar que os textos bíblicos foram escritos especificamente “para mim”. Eles são, na verdade, produção
comunitária; ligados à vida de um povo. Esse fator é muito importante no estabelecimento de uma
comunidade hermenêutica que estabeleça suas perguntas e preocupações ante o texto bíblico.
Essa perspectiva do ser humano enxergar sua relação com Deus como algo essencialmente individual
provoca também uma leitura Bíblica des-historizante, ou seja, retira do texto todo e qualquer conteúdo
histórico, privilegiando apenas o efeito momentâneo que o texto produz no leitor ou alguma expressão que
o permita se identificar com a experiência relatada no texto.
Para Zabatiero, em nossa tradição, a leitura da Bíblia passa por um único procedimento que se supõe
correto para o seu entendimento, resultando numa leitura do tipo doutrinária, quando se procura afirmar as
30
verdades de fé, e existencial, quando a intenção é a de aplicar tais verdades à vida das pessoas. Nessa
maneira de ler a Bíblia, a missão da igreja deixa de ser prioridade. “O conceito de missão que se
desenvolveu a partir deste modelo individualista de leitura da Bíblia também foi um projeto
individualista: a missão tem a ver com a salvação das almas ou das pessoas, como já se avançou em
tempos mais recentes. Salvação, sim, em alguns casos, até se pode usar o termo salvação plena, mas
sempre se dirige aos indivíduos. O Evangelho é lido de forma redutiva e, assim, a missão é considerada
de forma redutiva – um dos seus aspectos (a salvação de indivíduos) se torna praticamente o único ato
missionário eclesiástico.”27
Zabatiero afirma que a partir da missão integral pode-se dizer que é possível o desenvolvimento de uma
nova maneira de ler a Bíblia que, segundo ele, se chama modelo dialogal. É uma maneira de ler a Bíblia
com o objetivo de edificar consensos; em outras palavras, acordos fraternos sobre como praticar a vontade
de Deus na atualidade. Para esse autor, tais consensos devem ser: “Eticamente válidos, pois nem todos os
meios são justificados pelos fins – ou nem tudo o que funciona ou que dá prazer é justo, é bom, é santo;
cognitivamente verdadeiros, pois nem todas as experiências, doutrinas e conceitos que defendemos
passam pelo crivo da Sagrada Escritura; e pessoalmente verídicos; ler a Bíblia em busca de consensos
missionais depende de uma estratégia em que os sujeitos da leitura não sejam mais os indivíduos isolados,
os especialistas da técnica, mas sejam todos os participantes da comunidade de fé”.
Diante de tudo o que foi exposto, compartilhamos com Steuernagel que um dos caminhos para o
entendimento da Missão Integral é a de que esta seja “aberta para ser fundamentada nas Escrituras.
Aberta para ser guiada pelo Espírito. Aberta para ouvir as questões de vida local e para derramar
lágrimas de dor na mais profunda identificação com o sofrimento humano”. 28
Dessa maneira, não será
necessário afirmar que a missão é integral, porque, na prática, ela será visualizada e entendida com tal. Por
isso, “missão integral é um chamado ao arrependimento; um arrependimento que nos chama de volta ao
mundo do Evangelho e no leva adiante para o perdido e o pobre.” 29
Timóteo Carriker
Missiólogo e Educador
27
ZABATIERO, J.P. Tavares. “Missão Integral e Leitura da Bíblia” - Reflexões sobre temas da missão integral. Em:
www.forumjovemdemissaointegral.org
28
STEUERNAGEL, Valdir R. “Missão Integral”– Reflexões sobre temas da missão integral . Em:
www.forumjovemdemissaointegral.org
29
Idem.
31
Fundamentação
Histórica
É fundamental que, ao fazermos uma reflexão histórica sobre a “missão”, observemos alguns aspectos que
foram e têm sido determinantes em seu processo. Consideremos a terminologia usada por certas agências
missionárias ou igrejas ao longo da história. O uso do termo “missão” ou “missões” está sempre
relacionado à origem da teologia da missão, da ideologia política e até mesmo econômica de missão,
adotada pelos agentes de políticas missionárias.
Há quem prefira falar e agir em termos de “missões”, com um caráter mais pragmático, para atender a
certos interesses institucionais, temporais, de caráter apologético em defesa da fé cristã, ou proselitista,
como foi largamente usado por protestantes e católicos para converter judeus (responsabilizados pela
crucificação de Jesus) e pagãos.
Mas também há os que se referem a “missão” em sentido mais amplo e rico, vendo-a mais como um
evento que deve proceder da missio Dei, que não se fragmenta em ações pontuais, institucionais e
temporais, em função de determinadas situações, para atender a certos interesses políticos, econômicos ou
mesmo religiosos. Fala-se de “missão” e sua história, com um sentido mais ecumênico, nos termos da
palavra grega oikoumenē significando “todo o mundo habitado”, que se explica mais em função do Reino
de Deus do que em função da igreja enquanto instituição. Segundo Lutero, “missão” não depende de
esforços humanos, pois é vista como obra exclusiva de Deus, sendo cada cristão e a igreja um instrumento
crucial para a missão.
Católicos e protestantes alternaram e ainda alternam o uso dos termos “missão” e “missões” conforme o
momento histórico e os interesses envolvidos.
do Século I
MISSÃO
ao Século IV
32
A missão tem sido uma característica própria do cristianismo. Nem todas as religiões históricas
(hinduísmo, budismo e outras) realizam a missão de maneira tão explícita e determinada como ocorre no
cristianismo. O judaísmo, apesar das recomendações que aparecem no Antigo Testamento, afirmando que
a salvação deveria chegar a todos os povos por intermédio dos judeus, não foi uma religião missionária,
por excelência. A religião deste povo se difundiu de maneira natural, mais através das relações comerciais,
das conquistas militares, dos casamentos mistos, das alianças com outros povos do que por meio de
esforços e estratégias específicas de missão. Os judeus sempre estiveram mais preocupados na defesa de
sua fé do que em propagá-la, uma vez que sempre estiveram ameaçados pela idolatria adotada por povos
vizinhos. Entretanto, no período do Novo Testamento, como fruto da dispersão após o exílio babilônico e
por meio das sinagogas, emerge um judaismo um pouco mais “missionário” (Mt 23.15), que começa a
alcançar os gentios simpatizantes do monteísmo que chegam a ser conhecidos como “tementes a Deus”
(At 10.2,22; 16.14; 18.7).
Merecem destaque, porém, as pregações missionárias de Jesus, nos evangelhos. Antes e depois de sua
morte, Jesus insiste na missão a ser empreendida aos judeus e a todos os povos, tendo em vista a
realização da missio Dei de maneira universal. E, nos Atos dos Apóstolos, percebe-se a determinação dos
primeiros missionários cristãos em realizar a missão de maneira universal, através do ministério da igreja,
apesar das discussões sobre a prática ou não da circuncisão (conforme se percebe no contraste entre Pedro
e Paulo, Igreja de Jerusalém e Igreja de Antioquia).
Pode-se mesmo afirmar que o cristianismo dos primeiros séculos é caracterizado pelo exercício da missão.
De modo geral, a história nos leva a entender que todos os cristãos se sentiam missionários, protagonistas
da mensagem de salvação através de Jesus, apesar de certas distorções na interpretação do significado da
pessoa de Cristo como o Salvador da humanidade. Graças a esse tipo de procedimento, percebe-se uma
rápida difusão do cristianismo por toda a Grécia, Roma e norte da África.
O século I do cristianismo se caracteriza por dois períodos na história da missão: o primeiro (30 a 40 d.C),
chamado de período Judaico-Cristão, foi marcado pela influência da Igreja de Jerusalém como o centro
propulsor que tenta superar a religião tradicional. Aqui, merece destaque o que ocorreu em Cesaréia,
quando Pedro converte o centurião romano, Cornélio, um pagão (At 10). O segundo período (40 a 60 d.C.)
tem sido chamado de Pagão-Cristão, pela Igreja Católica, que destaca a Igreja de Antioquia como ponto
33
de partida para a difusão do cristianismo (At 13.1-3). Nesse século I, Paulo é o grande protagonista das
viagens missionárias, alcançando, inclusive, Roma e região.
Após a morte dos apóstolos, a missão continuou de maneira intensa e rápida, favorecida por fatores
sociais, político e culturais existentes no Império Romano: unidade da língua, a paz romana, a difusa
esperança de um salvador, facilidade de comunicações, pregação da liberdade dos escravos, entusiasmo
missionário dos cristãos e a riqueza de carismas.
No ano 313, o imperador Constantino concedeu liberdade de culto devido à rápida difusão do cristianismo
no império.30
No ano 379, o imperador Teodósio tornou o cristianismo religião oficial. Isto trouxe, ao
mesmo tempo, vantagens e desgraças, pois levou a igreja à acomodação e a usufruir de privilégios que
comprometeram moral, espiritual e teologicamente a sua marcha missionária na Idade Antiga e começo da
Idade Moderna, quando ocorre, em 1517, o movimento da Reforma Religiosa do século XVI, uma nova
fase para a história do cristianismo.
MISSÃO na Idade Média
A igreja, do ponto de vista histórico, tem considerado, como ação missionária que merece destaque, entre
outros, três momentos de sua história, ocorridos no Oriente: as Cruzadas, expedições para libertar os
lugares santos (1095-1274); o envio de missões diplomáticas aos povos da Ásia, sobretudo aos mongóis; e
o envio de missionários aos povos da Ásia (franciscanos e dominicanos). É bom lembrar que, nesse
período, há uma grande expansão do islamismo no Oriente Médio e na África do Norte, onde já havia
muitas dioceses organizadas.
No início da Idade Média, as “missões” quase sempre foram marcadas por interesses políticos e
econômicos, embora mascarados como sendo um empreendimento religioso e missionário. Certas
investidas da igreja, tidas como missionárias, chegaram a ser chamadas de “guerras missionárias”, pelo
30
STARK, Rodney.The Rise of Christianity. A Sociologist Reconsiders History. Princeton: Princeton University Press. 1996
34
seu caráter agressivo e freqüentemente brutal. Matar pagão, herege ou apóstata era algo digno de justo
reconhecimento e o assassino não seria culpado, mas, sim, merecedor de louvor e honra. Os judeus, por
causa da influência de Paulo e Agostinho, às vezes eram tolerados, sendo, contudo, discriminados.
Teólogos, como Crisóstomo, proferiam sermões virulentos contra os judeus. Muitos judeus que recusavam
a conversão ao cristianismo chegavam a ser ameaçados de execução.
Durante a Idade Média, o cristianismo foi levado ao norte da Europa e, daí, para a China e a Rússia. Essa
expansão deveu-se a alguns fatores. Entre eles, a constatação de que, em algumas situações, ocorreram
conversões em massa de todo um povo ou uma nação, sob a influência de um governante. Essas
conversões, embora significativas para a igreja e, aparentemente, positivas, por outro lado, quase sempre
trazia algum prejuízo em termos de qualidade, tendo em vista a compreensão do evangelho por parte dos
novos conversos. Isto também significa que era preciso que a igreja estivesse devidamente organizada
para promover um amplo projeto de educação cristã para os novos seguidores, a fim de que pudessem dar,
com segurança, as razões de sua fé.
Essas novas conversões em massa, que ocorriam sob a ação de um rei, que bem podia ser o da própria
nação, como no caso dos reis da Inglaterra, ou sob a ação de um rei invasor que via no cristianismo um
apoio à sua política expansionista, como foi o caso de Carlos Magno, tinham um sentido político e
ideológico. Muitas vezes, a função do rei na conversão se limitava apenas a usar o seu prestígio para
favorecer à nova fé, embora tenham sido freqüentes os casos em que o rei apelou para a força a fim de
levar os seus súditos para as águas do batismo. Houve também situações em que, com o fim de proteger
suas fronteiras, um governante enviou missionários a países vizinhos, como ocorreu no caso da proteção
prestada a Bonifácio por parte de Carlos Martel.
Outro aspecto determinante para o crescimento do cristianismo na Idade Média foi a importância do
monasticismo. São freqüentes os casos de monges que abandonavam seus antigos lares em busca de
solidão e, assim, tornavam-se, de maneira natural, precursores e fundadores do cristianismo em regiões
onde este ainda não havia chegado. Em muitos casos, como ocorreu com monges irlandeses, os que se
dirigiam a terras pagãs muitas vezes o faziam conscientes de sua responsabilidade missionária, mas com o
propósito primordial de praticar sua obra entre eles como um ato de renúncia. Os franciscanos e os
dominicanos, por exemplo, para os quais a tarefa missionária era primordial, a disciplina monástica
35
tornou-se um dos pilares de sua obra. Em toda a história da igreja na Idade Média, os monges foram os
que mais se distinguiram na expansão do evangelho. Mesmo quando o cristianismo se impunha pela força
e pelas armas, sempre eram os monges quem seguiam os soldados e, com seu trabalho de pregação,
procuravam legitimar a mudança de religião com uma sincera conversão.
Mas convém ressaltar que os papas e a hierarquia romana nem sempre tiveram com a expansão do
cristianismo medieval a preocupação que se poderia supor. Na verdade, antes da missão de Agostinho à
Inglaterra, não se tem notícias fidedignas de algum outro caso em que o papa tenha se empenhado em
enviar missionários a algum lugar. Embora as Cruzadas tenham recebido de Roma parte de seu impulso
inicial, não se pode dizer que seu propósito tenha sido de caráter missionário, de maneira estrita.
As ordens de São Francisco e Santo Domingo também não teriam surgido por iniciativa da autoridade de
Roma, apesar de sua ligação com o Vaticano, embora seu projeto de trabalho estivesse fundamentalmente
voltado para a obediência à autoridade religiosa de Roma. É incontestável, na Idade Média, o grande
prestígio, influência e autoridade da Igreja de Roma sobre a humanidade. Mas seu papel na expansão do
cristianismo na época não foi tão fundamental como veio a ser na Idade Moderna, certamente diante de
um novo desafio para o seu futuro, com o surgimento da Reforma Religiosa do século XVI e das igrejas
protestantes.
Finalmente, vale destacar o teor e o sentido da mensagem anunciada pelos missionários medievais. De um
modo geral, eles se ocupavam em pregar contra os deuses pagãos. Estes eram considerados impotentes,
habitados pelo diabo ou seus representantes. Os apelos dos missionários eram no sentido de que as
pessoas deixassem os deuses pagãos e caminhassem na direção do Deus verdadeiro, que enviou o seu
Filho Jesus Cristo para salvar o mundo. Esta mensagem se fazia acompanhar de um apelo e de uma
ameaça: os que não aceitassem o Deus verdadeiro sofreriam os tormentos do fogo eterno.
Um argumento geralmente usado pelos missionários medievais era o de que os seguidores do Deus
verdadeiro tinham garantida a prosperidade, como se percebe na vida dos fiéis seguidores do cristianismo
nos países cristãos. Assim também os missionários se referiam à necessidade dos reis se tornarem cristãos,
a fim de que conseguissem a vitória contra seus inimigos nas batalhas. A não aceitação dessa mensagem
36
levava os missionários a fazerem ameaças contra os refratários, constrangendo-os a uma possível
aceitação do cristianismo.
Esse tipo de pregação dos missionários medievais garantiu êxito para a missão que tinham em mente,
tendo em vista que muitos povos aceitaram esse cristianismo e nele permaneceram. Mais do que tudo isso,
apesar desses métodos, considerados adequados, naquela época, para a expansão do cristianismo, tal
pregação deu origem a outros movimentos missionários, com métodos nem sempre cristãos, embora em
nome da fé cristã.
e a Igreja Católica Romana
MISSÃO
na Idade Moderna
De acordo com Justo L. Gonzalez, em sua História das Missões, as razões comumente apontadas para
justificar a superioridade das missões católicas romanas em relação aos empreendimentos protestantes na
Idade Moderna não passariam de conjecturas. Mesmo assim, pode ser que tenham algum sentido como
referência histórica. Essas razões seriam: a vantagem geográfica resultante das conquistas de Portugal e
Espanha na América e no Sul da África; a vantagem militar e política dos católicos, decorrente das guerras
de religião na Europa. A unidade católico-romana, por se tratar de uma massa monolítica que tinha mais
facilidade para articulações internas, seria outro fator facilitador. Finalmente, a continuação do trabalho
missionário já empreendido desde o século XIII, através das ordens mendicantes, seria um velho impulso
motivador para a preservação do ideal de preservação de suas bases. Acrescente-se a isso, também, o
trabalho das ordens monásticas, nas quais os monges se esforçaram na expansão do evangelho.
No começo do século XVI, depois do chamado “descobrimento da América”, da descoberta do Sul da
África e do início do movimento da Reforma Religiosa na Alemanha (1517), inicia-se a evangelização
nessas terras recém-descobertas, sob o comando da Igreja Católica Apostólica Romana, conforme decisão
do Concílio de Trento, no qual foi organizada a Contra-Reforma para combater o crescimento do
protestantismo no mundo.
37
Preocupações tanto religiosas, como o sebastianismo, quanto políticas, como a ganância dos espanhóis e
dos portugueses, beneficiaram a expansão do catolicismo nas terras recém-descobertas. Em suas
expedições exploratórias e de conquista, sempre levavam sacerdotes. Tais sacerdotes, principalmente os
seculares, consideravam-se em missão e entendiam que sua função limitava-se a ministrar às necessidades
espirituais dos componentes da expedição. A princípio, os espanhóis, por exemplo, perguntavam-se se era
possível converter índios ao cristianismo.
Considerando que se tornava comum o aparecimento de ordens religiosas mendicantes, esse fato facilitou
a organização de projetos missionários para divulgação do cristianismo. Foi assim que surgiu, com muito
vigor missionário, a Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola. Essas ordens se tornaram o
principal instrumento do trabalho missionário no Novo Mundo.
A Companhia de Jesus
Inácio de Loyola recebeu do Papa Paulo III a incumbência de reconquista católica em regiões protestantes
e de catequese dos nativos das terras acima referidas. Além da catequese, como estratégia usada para a
conversão de nativos (índios) e negros escravos procedentes da África, os seguidores de Inácio de Loyola
também fundaram missões, deram ênfase à pregação anti-protestante, realizaram retiros e dedicaram-se ao
ensino como instrumentos da reconquista de católicos e conquista de novos adeptos ao catolicismo. A
Companhia de Jesus foi, ao mesmo tempo, uma das principais forças de combate ao protestantismo e do
movimento da Contra-Reforma.
Os nativos da América tiveram muita dificuldade de compreensão da mensagem cristã sob o prisma do
catolicismo romano. Além de outras razões, também as práticas consideradas cristãs eram censuráveis: os
conquistadores portugueses e espanhóis apoderavam-se das riquezas dos nativos e pregavam que o
cristianismo do qual eram portadores anunciava um novo mundo, construído sobre os fundamentos do
amor cristão.
É a partir do século XVI, portanto, que o processo evangelizador toma novo curso e passa a ser
comandado pelas coroas espanhola e portuguesa, também através da concessão, pelo Papa, do direito do
padroado real. Pelo padroado, a igreja reconhece a posse das terras descobertas na América, África e Ásia
por Portugal e Espanha. Em troca, os reis assumem a tarefa evangelizadora em sentido pleno e a igreja
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fica sob o controle quase pleno das coroas. Isto significa que o envio de missionários depende da
aprovação e manutenção dos governos de Portugal e Espanha. Os missionários católicos perdem, assim, a
autonomia profética. Aceitam e toleram as injustiças praticadas contra os nativos e os escravos
provenientes da África, condenando-as raramente e com limitações.
De qualquer forma, a Idade Moderna tornou-se o período de maior expansão do cristianismo, graças às
conquistas e à colonização imposta por nações européias sobre povos dominados. Essas iniciativas
missionárias, repetimos, nem sempre estiveram sob a jurisdição direta do papa, mas eram patrocinadas
pelas coroas, em virtude do direito do Padroado que o poder religioso de Roma havia concedido aos reis
de Espanha e Portugal.
É importante ressaltar que grande parte das conversões conseguidas pelo catolicismo resultava de
batismos realizados em massa. Muitos índios foram assim batizados para que também se pudesse justificar
a declaração de guerra aos mesmos pelos invasores, pois o batismo dava aos indígenas o “status” de
“civilizados”.
Na história do catolicismo na América, alguns nomes, entre os sacerdotes, merecem destaque: Bartolomeu
de las Casas, dominicano, primeiramente foi colonizador, possuiu propriedades; depois, converteu-se em
grande defensor dos povos indígenas, tendo influenciado, inclusive, na criação de leis protecionistas na
Espanha. Pela sua disposição de proteger os verdadeiros donos da terra, Bartolomeu de las Casas recebeu
na Espanha o título de Protetor Geral dos Índios.
José de Anchieta, chamado de Apóstolo do Brasil e patrono dos educadores brasileiros, notabilizou-se,
também por tornar-se cúmplice na morte de Le Balleur, calvinista condenado à morte por ser protestante.
A história diz que Anchieta participou diretamente de seu enforcamento. Pedro Claver, que chegou a ser
considerado santo, dedicou sua vida ao atendimento de negros escravos de Cartagena, na Colômbia.
Antônio Montesino, dominicano, foi defensor dos índios. Antônio Vieira, jesuíta, lutou contra a
escravidão no Brasil, mas, mesmo assim, chegou à conclusão de que o sistema português não funcionaria
sem escravos. Antônio de Valdivieso, bispo da Nicarágua, morreu assassinado por defender os indígenas.
O envio desses agentes eclesiásticos às colônias foi chamado de “missão”, termo empregado incialmente
por Inácio de Loyola, sendo tais agentes chamados de missionários.
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MISSÃO e a Igreja Protestante
A Reforma Religiosa do século XVI (1517) marca o início do protestantismo, a princípio conhecido como
luteranismo. Este surgiu como “movimento confessante” dentro da cristandade católica romana ocidental.
A Reforma visava corrigir os erros de uma cristandade já existente, sem pretender uma nova forma de
cristianismo, conforme está escrito no prefácio da Confissão de Augsburgo (1530). Apesar dessa
pretensão inicial, circunstâncias históricas favoreceram o surgimento de igrejas luteranas separadas, com
características confessionais muito claras.
Lutero e a missão
O líder da Reforma chegou mesmo a ser considerado omisso em relação a empreendimentos missionários,
embora fiel à ordem missionária encontrada nas Escrituras, segundo a qual a igreja, a palavra de Deus e
todo crente batizado são instrumentos cruciais para a missão. Houve quem o achasse possuidor de uma
consciência missionária deficiente. Mas também houve quem entendesse que essa “deficiência” de Lutero
estava relacionada às muitas tarefas urgentes de sua causa ou ao fato de que ele “simplesmente acreditava
que o fim do mundo estava tão próximo que o esforço não valia a pena”.
Na verdade, Lutero estava muito preocupado com a sua tarefa de ver a igreja reformada e de ver
convertidos os que ainda se mantinham fiéis a velhos costumes e doutrinas controvertidas. Por isso, teria
afirmado que a Grande Comissão, conforme aparece nos evangelhos, no sentido de ir por todo o mundo
pregando o evangelho, foi dada somente aos apóstolos, não se aplicando aos cristãos de sua época.
Segundo Lutero, cada cristão deveria, então, permanecer no lugar em que tinha sido colocado para
trabalhar pela causa do evangelho.
Apesas disso, em vários momentos, encontramos Lutero pronunciando-se sobre a importância da obra
missionária, mostrando, inclusive, que a missão é a tarefa essencial da igreja em todos os tempos. Porém,
ele ressalva que somente pode fazer missão uma igreja que está, ela própria, fundamentada e Evangelho.
Em nenhum lugar, contudo, o reformador faz da igreja o ponto de partida ou o alvo final da missão, como
40
queria a missiologia do século XIX. Em Lutero, a missão é sempre obra de Deus, a missio Dei, cujo alvo e
resultado são a vinda do reino de Deus.
Calvino e a missão
De maneira semelhante à posição de Lutero, Calvino também admitiu que o apostolado foi um ofício
extraordinário, confiado aos primeiros discípulos de Jesus. Zuínglio, porém, achava que o ofício
apostólico continua através da história da igreja, e que Deus chama pessoas e as envia para pregar o
evangelho em diferentes partes do mundo. Todavia, Calvino também demonstrou, em todo o seu trabalho,
certo interesse pela missão, tendo chegado a propor uma teologia essencialmente missionária, sem,
contudo, admitir o emprego da força para cristianizar pessoas, como fizeram agentes missionários
católicos.
Apesar das evidências acima, vários missiólogos católicos chegaram a dizer que os reformadores eram
indiferentes e até hostis à missão. David Bosch cita o cardeal Berlamino que disse: “Hereges jamais
converteram pagãos ou judeus à fé, mas somente perverteram cristãos.” Apesar do rigor da afirmação, este
tipo de pronunciamento parece verdadeiro; porém, isto toma outro sentido quando se reconhece
historicamente que “pouquíssimo aconteceu em termos de empreendimentos missionários durante os
primeiros dois séculos após a Reforma” (D. Bosch). As razões para isto estão relacionadas a vários
fatores: os protestantes inicialmente estavam mais preocupados com a reforma da igreja; não tinham muito
contato com os povos não-cristãos; lutavam pela sua sobrevivência doutrinária, social, política e
econômica, com muitas contendas e dissensões a serem superadas; e necessitavam de tempo para que se
desenvolvesse no protestantismo um movimento missionário monástico próprio.
Apesar desses fatores, a história das missões ou das missões protestantes mostra-nos que esse aparente
desinteresse nem sempre predominou. De fato, houve significativos esforços missionários protestantes
empreendidos a partir do século XVIII. Já se afirmava, no final do século XVII, que o catolicismo
implantara, na América Latina, um cristianismo deformado, razão pela qual começaram a surgir
iniciativas norte-americanas de “transferir para a América Latina os benefícios do ‘sonho americano’ ou
do ‘estilo americano de vida’, cujos componentes são o patriotismo, racismo e protestantismo”.
41
Contribuições para a explosão missionária no século XIX
O século XIX foi chamado o “século das missões”. Várias foram as contribuições para que isso
acontecesse.
Referimo-nos, inicialmente, à influência do despertamento missionário ocorrido entre os irmãos morávios,
sob a liderança do conde Nicolaus Ludwig Von Zinzendorf, grandemente influenciado pelo pietismo. Suas
características principais são: cada missionário deve entregar-se totalmente a Cristo para trabalhar em
qualquer lugar do mundo e com total amor à família humana; cada cristão é um missionário e deve
compartilhar sua fé onde está; cada missionário é um trabalhador e sustenta a si próprio e sua família.
O projeto dos morávios expandiu-se para as Ilhas Virgens (1732), Groenlândia (1733), América do Norte
(1734), Lapônia e América do Sul (1735), África do Sul (1736), América Central (1849) e Alasca (1885).
William Carey, um sapateiro inglês, foi considerado o “pai das missões modernas”, ao iniciar um
empreendimento missionário em 1792. Filho de família humilde, foi influenciado pela cultura de seu pai,
que era professor, obtendo assim certo grau de conhecimento escolar, obtendo, inclusive, o gosto pela
leitura. Descobriu os valores da vida cristã em contato com um amigo e, por intermédio dele, passou a
freqüentar uma Igreja Batista, onde foi recebido pelo batismo. Através de esforços pessoais, fez para si um
mapa detalhado com o nome de diversas regiões, com o caráter e as religiões de seus habitantes. Era a
busca de uma visão mundial da humanidade, um passo para a carreira missionária que viria a seguir.
Ao estudar a Bíblia sob a influência de seus conhecimentos geográficos, William Carey chegou à
conclusão de que a tarefa missionária era tarefa dos cristãos em todas as épocas da história da
humanidade. Foi assim que publicou um estudo sobre a obrigação dos cristãos de empregar meios que
viabilizem a conversão dos pagãos. Foi assim também que Carey, em maio de 1792, pregou diante da
Associação dos Ministros Batistas sobre Isaías 54.2-3. Em outubro do mesmo ano, constituiu a Sociedade
Batista Particular para Propagar o Evangelho entre os Pagãos.
Em 1793, acompanhado do médico John Thomas e contra a vontade da esposa, que a princípio negou-se a
segui-lo, iniciou o trabalho missionário na Índia, em Calcutá, apesar das circunstâncias adversas do lugar.
Graças à sua dedicação à obra missionária e com a ajuda de seus companheiros de missão, imprimiu as
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primeiras Bíblias na linguagem do povo do lugar, com traduções por ele mesmo realizadas. Em 1812,
recebeu a ajuda de Adoniram Judson. Este, depois de um tempo com Carey, seguiu para Mianmar (ex-
Burma), onde lançou as bases de mais um projeto missionário.
David Livingstone, também considerado o herói da Inglaterra vitoriana, desenvolveu um magnífico
trabalho missionário que se estendeu à África a partir de 1840, ligado à Sociedade Missionária Londrina.
Na África, Livingstone viajou 48 mil quilômetros realizando um trabalho missionário que foi além do
convencional, ao descobrir rios, medidas topográficas e cruzar pela primeira vez o lago Tanganica,
fixando sua extensão.
Várias organizações tornaram-se importantes para empreendimentos missionários no mundo: a Sociedade
Missionária Batista, da Inglaterra (1792); a Sociedade Missionária Londrina e Sociedade Missionária da
Igreja (1795); a Sociedade Missionária dos Países Baixos (Holanda, 1797); a Missão da Basiléia (1815);
a Junta Americana de Comissários e Missões Estrangeiras (EUA, 1810); e a Junta Americana
Missionária Batista (1814). Com a expansão colonial do mundo anglo-saxão, percebe-se que o
movimento missionário atingiu escala mundial.
MISSÃO E EVANGELIZAÇÃO na Perspectiva Ecumência
O final do século XIX representa também o começo de uma nova etapa na história das missões. Até a
realização da Conferência de Edimburgo (1910), o principal marco nessa nova etapa da história das
missões, três conferências mundiais aconteceram: em Liverpool, 1860; em Londres, 1888; e em Nova
Iorque, 1900. Em nível continental, também ocorreram conferências missionárias na Ásia, na África e na
América Latina. Todas tiveram um novo enfoque missionário, discutindo temas como: tradução da Bíblia;
ajuda médica; trabalho social; literatura em língua nativa; formação de pessoal em nível nacional,
continental e mundial; lugar e formação da mulher; evangelização de novas regiões; crescimento da igreja;
relação entre os missionários estrangeiros e nacionais; desenvolvimento, auto-sustento e auto-
administração das igrejas; e relação com os governos. Já se percebe um grande interesse pela integralidade
da missão.
Missão Integral: procurando fidelidade à missio Dei
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Missão Integral: procurando fidelidade à missio Dei

  • 1. Missão Integral procurando fidelidade à missio Dei Comissão de Missão Integral da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil 2008
  • 2. 2 Índice Prefácio ......................................................................................................................................................... Introdução ..................................................................................................................................................... Fundamentos Bíblico-Teológicos ................................................................................................................. Gênesis 1-11............................................................................................................................................ Gênesis 12-50.......................................................................................................................................... Êxodo a Josué.......................................................................................................................................... Os Profetas .............................................................................................................................................. Os Escritos .............................................................................................................................................. Os Evangelhos......................................................................................................................................... Atos......................................................................................................................................................... As Epístolas............................................................................................................................................. Apocalipse............................................................................................................................................... Fundamentos Históricos................................................................................................................................ Missão do século I ao século IV ............................................................................................................. Missão na Idade Média ........................................................................................................................... Missão e a Igreja Católica Romana na Idade Moderna .......................................................................... Missão e a Igreja Protestante .................................................................................................................. Missão e evangelização na Perspectiva Ecumência................................................................................ Missão e evangelização no Movimento Evangelical.............................................................................. Ações missionárias no Brasil.................................................................................................................. A história da missão na IPI do Brasil...................................................................................................... Modelos e Desafios....................................................................................................................................... Ministério de Missão...............................................................................................................................
  • 3. 3 Secretaria de Evangelização.............................................................................................................. Secretaria de Pastoral........................................................................................................................ Secretaria de Diaconia ...................................................................................................................... Secretaria de Família......................................................................................................................... Ministério de Educação........................................................................................................................... Secretarias de Educação Teológica e Continuada, Educação Cristã e Educação Secular ................ Secretaria de Música de Liturgia ...................................................................................................... Bibliografia ................................................................................................................................................... Anexos...........................................................................................................................................................
  • 4. 4 Prefácio A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil iniciou um processo de Planejamento Estratégico, em 2006, dando origem ao Projeto Semeando, lançado oficialmente em sua primeira fase no final de 2007, projetando até 2017, quando comemoraremos 500 anos da Reforma Protestante. O Ministério da Missão recebeu o trabalho desenvolvido em 2006, analisando as ações gerais propostas a ele e as específicas das suas quatro Secretarias: Diaconia, Evangelização, Família e Pastoral. A primeira ação geral do Ministério era: Promover a conscientização da igreja sobre a Missão Integral. Levando em conta que o conceito de Missão Integral precisava ser mais bem estudado, visto a grande quantidade de literatura e reflexão disponível no mercado, decidimos nomear uma Comissão de Redação do Texto de “Missão Integral”, composta dos membros do próprio Ministério, bem como dos diretores dos Ministérios da Educação e Comunicação, e de um representante de cada Seminário, tendo como relator o Rev. Dr. Timóteo Carriker, pastor-missionário, cedido pela Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América e há muitos anos trabalhando no Brasil, especialmente como professor em diferentes seminários e com vários livros publicados, diretamente relacionados com o tema da Missão Integral. Ao longo da caminhada, outros irmãos contribuíram com textos mais específicos, cujos nomes são mencionados no índice. Trabalhamos usando o seguinte esquema: Fundamentação Bíblica e Teológica, Fundamentação História, Modelos Atuais (dentro e fora da IPI do Brasil) e Desafios. A idéia é: partindo da Bíblia e da Teologia, analisar nossos modelos atuais de fazer missão e efetuar as mudanças necessárias, diante dos desafios que o presente momento nos apresenta, tendo em mente o lema da Reforma Protestante: “A igreja, porque é reformada, sempre se reforma”. Em cada reunião, percebíamos que áreas que se encaixam no conceito de Missão Integral não estavam sendo analisadas e decidíamos incorporá-las. Quando vimos, o documento já estava um tanto longo, mas temos plena consciência de que pontos fundamentais para o desenvolvimento do conceito ainda precisam ser trabalhados e alguns deles são mencionados no final.
  • 5. 5 Temos entendido que o trabalho da Comissão deverá continuar, especialmente com a chegada das reações e participações de todos os segmentos da IPI do Brasil. Assim, apresentamos o texto à Comissão Executiva da Assembléia Geral, em sua reunião de novembro de 2008, para que, após aprovação, seja disponibilizado a toda a igreja, para ser lido, estudado e discutido, e para receber sugestões a serem encaminhadas ao relator. Cremos que um bom embasamento conceitual nos ajudará na prática missional. Por isso, gastamos um bom tempo na preparação do presente texto. Contamos com a participação de toda a igreja para o seu aprimoramento. Pedimos aos pastores que o estudem nas igrejas locais, presbitérios e sínodos, promovendo consultas, encontros e congressos sobre o tema. No vínculo do Calvário. Rev. Paulo de Melo Cintra Damião Diretor do Ministério da Missão
  • 6. 6 Introdução Não deixei de lhes anunciar todo o plano de Deus (At 20.27). Durante os últimos 20-25 anos, a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB) tem adotado o qualitativo “integral” para descrever a sua compreensão e ação missionária de modo abrangente e inclusivo.1 Esta adoção representa uma preocupação de não restringir as áreas de atuação missionária. Entretanto, até hoje não há uma definição específica nem das atividades nem dos conceitos que esta integralidade “abrange” e “inclui”. A necessidade de afirmar que a missão é integral significa que, na prática, ela não é concebida como tal. De acordo com Valdir Steuernagel, o evangelho não precisa dessa expressão. Ela é utilizada por causa da dureza do coração, em virtude de fatores como nossas divisões ideológicas e nossas barreiras culturais, e porque é preciso ouvir o evangelho como um todo que nos desafia e nos compromete a vivê-lo integralmente, não nos permitindo nos render a uma agenda da missão direcionada pelas exigências do mercado. A afirmação de que a missão é integral serve também para nos trazer à memória que o envolvimento na missão passa pelo crivo do entendimento de que ela é amor que se encarna, que se compadece, que toma a iniciativa da aproximação na perspectiva da graça. Nesse sentido, o outro passa a ser o próximo porque alguém se aproximou dele e assumiu a sua condição de sofredor, sem pedir nada em troca (Lc 10.25-37). Para tanto, temos de estar dispostos a escutar as vozes do mundo amado por Deus, pelo qual enviou seu Filho. Isso é muito significativo, uma vez que vivemos num mundo onde ecoam vozes de dor, sofrimento, opressão, injustiça e falta de solidariedade, expressadas de maneira tão dramática nos lábios e nos corações dos proscritos, e no grito de socorro dos excluídos. 1 Os dicionários definem “integral” positivamente como “total”, “inteiro” e “global”, e negativamente como aquilo “que não sofreu qualquer diminuição ou restrição”. Cf. HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI. Versão 3.0. Lexikon Informática Ltda, 1999; e HOUAISS, Antônio, VILLAR, Mauro de Salles, e DE MELLO FRANCO, Francisco Manuel. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0. Editora Objetiva Ltda, 2001.
  • 7. 7 Nos últimos 3-5 anos, para auxiliar a compreensão da igreja “em missão”, surge também uma reflexão em torno do conceito de missio Dei.2 Os dois discursos, acerca da “missão integral” e acerca da missio Dei, surtem efeitos ligeiramente distintos, mas complementares. O primeiro ajuda a igreja a contemplar quais ministérios ou dimensões faltam à sua ação missionária para que esta reflita “todo o conselho de Deus”. O último, ao distanciar a missão da igreja da missão de Deus, ajuda a igreja a desconstruir e desmistificar os seus projetos, estratégias e metodologias missionários, e a se perguntar novamente como pode adequar a sua missão de tal forma que exerça melhor o papel que Deus deseja para ela. Em ambos os casos, a igreja procura questionar, ampliando ou até eliminando aspectos da sua prática no mundo e na história em que Deus a inseriu. Em ambos os casos, a intenção maior não é de sacralizar a compreensão e empenho atual da igreja e, sim, ousar radicalizá-los para ser sal mais salgado e luz mais brilhante. “Missão” é projeto de Deus. É Ele quem toma a iniciativa de salvar o mundo manchado pelo pecado, separado dele, com o objetivo de estabelecer o seu reino neste mundo e sobre toda a sua criação. Faz parte da concepção de muitos que a missão é da igreja, como se essa, num sentimento de posse, usasse a Deus para a salvação do mundo, quando, na verdade, a missão é de Deus, o qual concede à igreja o privilégio de ser parceira na consecução desse projeto. Sendo assim, podemos afirmar que a missão de Deus tem uma igreja que, segundo David Bosch, passa de remetente para remetida, por estar a serviço de alguém que é maior do que ela.3 A missão de Deus cria e envia a igreja ao mundo, visando à transformação e à salvação do mundo, à implantação definitiva de seu reino de amor, justiça, solidariedade, e paz. “Missão diz respeito às relações entre Deus e o mundo(...) Vocacionada, [a igreja] é co-participante da própria ação de Deus no mundo, que visa salvar e libertar a humanidade. Sua tarefa como enviada é ver, ouvir, chamar, orientar, ajudar e tornar-se solidária como parte do testemunho daquela ação de Deus.”4 Para corrigir a concepção eclesiocêntrica da missão, é necessário avaliar o conceito de missio Dei (missão de Deus). Na missio Dei, o próprio Deus torna a igreja um instrumento privilegiado de sua missão, mas 2 Veja, por exemplo, o documento aprovado pela Assembléia Geral da IPIB em 2005 sobre a Reforma na Educação Teológica da Igreja. Diversos livros recentes ajudam a fomentar a reflexão acerca do conceito de missio Dei, notoriamente: BOSCH, David J. Missão transformadora. Mudanças de paradigmas na teologia de missão. São Leopoldo: Sinodal, 2002. 3 Ibid, 444. 4 Citado por GEORGE, Sherron Kay. “Um Novo Paradigma da Missão para o Século 21. Em Simpósio, vol. 10 (2) ano XXXVII, nº 46, novembro de 2004, p. 17.
  • 8. 8 não a razão da mesma. Moltmann afirmou que não é a igreja que deve cumprir uma missão de salvação do mundo, mas é a missão do Filho e do Espírito Santo mediante o Pai que inclui a igreja. Sendo assim, a igreja não pode ser vista como fundamento da missão, nem como objetivo desta, mas como instrumento. De acordo com Moltmann, “a palavra final da igreja não é a igreja, mas a glória do Pai e do Filho no Espírito da liberdade.”5 Segundo David Bosch, a missão da igreja deverá ser o serviço à missio Dei, ou seja, representar a Deus no mundo e, diante do mundo, apontar para Deus. A missão da igreja e a igreja só podem ser vistas juntas, como instrumentos de Deus, através dos quais Ele realiza a sua missão. Deus não apenas envia e se torna enviado, mas Ele é o próprio conteúdo do envio. Em cada uma das pessoas da Trindade, Deus age por inteiro. Nessa forma de atuação, Deus nos mostra como se faz missão. Dois discursos: missão integral e missio Dei Esta reflexão fará uso destes dois discursos. O último, o conceito de missio Dei, ajuda a definir melhor o conceito de “missão integral” que, por uma questão pedagógica, é o fio condutor desta reflexão. Logo, o propósito desta reflexão é sugerir, de modo amplo e aberto, um conceito e as atividades da “missão integral” da IPIB. Não é nosso propósito fechar o assunto e, sim, procurando um consenso geral, refletir sobre as diversas expressões bíblicas da atuação do povo de Deus frente ao mundo e sugerir passos inclusivos para a IPIB, em continuidade com a história antiga e sua história mais recente, desempenhar com fidelidade e coragem a sua vocação dentro do contexto brasileiro e mundial hoje. O estudo a seguir passa por três momentos: considera fundamentos bíblicos e teológicos; avalia a trajetória histórica da igreja; e pondera diversos modelos e desafios de ação. Este último procede por Ministérios e Secretarias da denominação. 5 Citado por BOSCH, op cit., 453.
  • 9. 9 Fundamentação Bíblico-Teológica Observação introdutória Por um lado, a mera existência da Bíblia como Palavra de Deus já é um profundo dado missionário: Deus se revela ao ser humano com um propósito, isto é, com uma incumbência dada ao ser humao em relação a Deus, à criação e ao seu próximo. Por outro lado e ao mesmo tempo, a Bíblia é também registro da interação e reflexão missiológica pelo povo de Deus da sua fé e da sua incumbência em relação ao mundo. Logo, faz-se necessário ressaltar a riqueza missiológica da Bíblia e reconhecer que sempre a sua interpretação – uma tarefa nunca conclusiva – poderá ser explorada com melhor proveito dentro do contexto do povo de Deus em toda a sua amplitude, diversidade cultural e extensão histórica. Igualmente reconhece-se a limitação da nossa tarefa e a necessidade da manutenção do diálogo sempre aberto entre as Escrituras e o povo de Deus. Mesmo reconhecendo esta limitação, a seguinte reflexão organiza-se em nove partes: 1. A criação no Livro de Gênesis 2. O chamado de Abraão no Livro de Gênesis 3. O nascimento de Israel no Egito, no deserto e no Monte Sinai, no Pentateuco 4. O desenvolvimento, a decadência e a esperança de Israel nos Livros Proféticos 5. O culto e a ética do povo de Deus nos Escritos 6. O papel de Jesus como o “missionário” (enviado) de Deus nos Evangelhos 7. A expansão missionária da igreja no Livro de Atos 8. A vivência da igreja no mundo, nas Epístolas 9. A nova criação no Livro de Apocalipse. É possível desdobrar cada um destes temas e acrescentar outros, mas as principais reflexões missiológicas6 das últimas cinco décadas normalmente incluem estes. Cada um destes temas ajuda a conceituar a missão integral da igreja como se vê a seguir. 6 Além do livro já mencionado de David Bosch, os seguintes estudos são ilustrativos: BLAUW, Johannes. A natureza missionária da igreja. São Paulo: ASTE, 1966; CARRIKER, Timóteo. O caminho missionário de Deus: Uma teologia bíblica de missões, Brasília: Editora Palavra, 2005; SENIOR, Donald e STUHLMUELLER, Carroll. Os fundamentos bíblicos da
  • 10. 10 A criação CUIDADO E BONDADE: Gênesis 1-11 Toda reflexão da Bíblia como Palavra de Deus precisa dar conta da organização canônica geral que começa com a criação e termina com a nova criação. A criação, este mundo e esta história, não só estabelece o palco da atuação de Deus entre o seu povo e todos os povos da terra, mas também forma uma moldura para todo o relato a seguir. Não é pano de fundo de outro enredo “principal” e, sim, origem e propósito finais. No terceiro milênio, mais que nunca, o povo de Deus precisa ponderar a sua “missão” de modo tão abrangente que abrace a criação toda. Tal “tarefa” de todo ser humano precede a tarefa evangelística da igreja, que abraça também a mesma incumbência como parte da sua missão. Antes de termos uma missão como povo de Deus, temos uma incumbência como “gente” e, por isso, a igreja pode e deve procurar se juntar a todos os esforços humanos que procuram o bem-estar ambiental. Eventualmente no Novo Testamento, veremos que o alvo redentor da missão de Deus, na qual a igreja participa, abrange não apenas a humanidade decaída como o meio ambiente todo, do qual a humanidade faz parte. Uma missão “ecológica”7 Os relatos da criação no Livro de Gênesis ensinam que o destino e o bem-estar da criação estão entrelaçados com o destino humano. Descrevem o papel do ser humano, fêmea e macho juntos, como ligado ao cuidado e à ordenação proativos de todas as outras criaturas (capítulo 1) que, para isso, ele próprio deve conhecer (nomeando) minusciosamente (capítulo 2). A história do dilúvio deixa claro que nem a “queda” anulou esta incumbência primordial da humanidade. Portanto, assumimos a nossa humanidade legítima, em parte, na medida em que assumimos esta “missão ecológica” da boa ordenação do nosso meio ambiente, não apenas para o benefício humano, mas, acima de tudo, como a expressão da imagem de Deus e para que toda a criação, na sua beleza e bem-estar, preste glória a Deus (Gênesis 1.27- 31; Salmos 8, 19, 29, 65, 93, 95, 98, 104, 107, 145, 148). Ser “gente” é ser agente no cuidado da criação. Ser povo de Deus é ser agente da redenção da criação. Este é o mundo que o profeta Isaías espera missão. São Paulo: Edições Paulinas, 1987; e VAN ENGEN, Charles Povo missionário, povo de Deus: Por uma definição do papel da igreja local. São Paulo: Vida Nova, 1996. 7 Poderá encontrar uma rica reflexão, repleta de citações extensas de autores sobre o tema, no trabalho de Paulo Damião: http://missao.info/?p=140 e também: http://ceuseterra.com/2007/10/16/uma-perspectiva-crista-da-ecologia/
  • 11. 11 (capítulo 11) e que o Livro de Apocalipse anuncia, um mundo onde a justiça e a eqüidade finalmente estabelecer-se-ão – o lobo e o cordeiro caminham juntos, e o leopardo e o cabrito dormem no mesmo leito – um espaço e um tempo onde o mal e o dano deixam de existir e, finalmente, o conhecimento da glória do Senhor encherá a terra como as águas cobrem o mar. É importante que a igreja mantenha a mira na missão ecológica, tanto na sua origem como no seu alvo final. Quanto a estas observações escatológicas, surge uma dúvida comum: a criação, conforme o relato bíblico, não se destina à destruição? Por que perder tempo com o conservacionismo, se tudo vai virar fumaça? No Novo Testamento, a visão apocalíptica da criação não só pressupõe o seu julgamento (2Pe 3.1-12), como também e ultimamente a sua renovação (2Pe 3.13; Ap 21). Lemos que haverá novos céus e nova terra – não “outros” céus e “outra” terra –, uma visão que serve de paradigma e motivação para a “missão ecológica” da igreja.8 A redenção final da igreja, mesmo por caminhos angusiantes e como a incumbência inicial da humanidade toda, encontra-se intimamente vinculada à sua fidelidade no cuidado da criação (Rm 8.18-25). Uma missão dentro da nossa história e do nosso mundo Tudo isso significa que a esperança da igreja não é uma esperança ultramundana e extrahistórica.9 Uma missiologia que leva a sério o papel criador de Deus, que age dentro da história humana, compreenderá o seu destino também dentro da história e dentro do mundo ainda em construção por Deus. Não fomos criados para fugir deste mundo e do nosso tempo, mas, sim, para redimi-los. Até uma leitura das mais superficiais das Escrituras percebe esta proximidade, iniciativa e propósito de Deus nas atividades humanas. A missão “integral” inclui não só os diversos ministérios da igreja em relação ao seu próximo, mas também integra o mundo todo criado por Deus e a história toda guiada por Deus. A escatologia da missão “integral” é uma escatologia engajada no projeto de Deus para o mundo que ele próprio criou e ainda redimirá.10 A escatologia não é periférica à missão, pois é ela que determinará o caráter otimista ou 8 A visão paradisíaca da linguagem apocalíptica funcionava não para dispensar o povo de Deus da sua responsabilidade e engajmento no aqui e no agora em favor de um lugar e tempo remotos. Ao invés disto, servia de inspiração e paradigma para sua missão dentro da história e mundo presentes. 9 Ao contrário da interpretação superficial de 1 Coríntios 15.19, que desconsidera que a passagem toda depende da confiança na realização por Deus de algo que aconteceu dentro da nossa história e do nosso mundo concretos: a ressurreição de Jesus por via de morte. Em 1 Coríntios 15.19, Paulo denuncia a fé coríntia que tente excluir a morte nesta vida a favor duma “ressurreição” já realizada num plano espiritual e extra-terrestre, uma noção mais gnóstica que bíblica. 10 Nesta reflexão somos forçados a optar entre, por um lado, uma escatologia reformada, que avalia positivamente a ação de Deus na nossa história e no nosso mundo, e, por conseqüência, a viabilidade essencial da incumbência missionária da igreja e, por outro lado, uma escatologia que avalia com pessimismo a viabilidade de tal incumbência e a efetividade da ação redentora
  • 12. 12 pessimista da missão da igreja: ou o engajamento pela força do Espírito na nossa história e no nosso mundo ou a espera passiva e socialmente alheia dum celeste porvir.11 Uma missão cultural Nos relatos da criação, parte importante da “missão ecológica” da humanidade de cuidar da criação é sua incumbência “cultural” (mandato cultural).12 Isto é, cabe ao ser humano não só cuidar da criação, mas também se relacionar bem com o próximo. A sua relação mais íntima entre homem e mulher e a criação de famílias são o auge deste relacionamento e se destacam nos relatos da criação. Tanto é que o relacionamento da igreja com Deus e com Cristo frequentemente recorre para a linguagem da relação comprometida entre homem e mulher. Entretanto, lendo além de Gênesis 1-2, vemos que a incumbência de se relacionar com o próximo de maneira alguma se esgota no casamento, mesmo que aqui se exemplifique melhor. Mas a missão “cultural” abrange toda a organização dos grupos humanos nas suas múltiplas dimensões econômicas, políticas e culturais. Logo, o desenvolvimento da “cultura” como meio de expressar o relacionamento entre os seres humanos faz parte da “missão ecológica”. Convém o crente participar em atividades “seculares” como, por exemplo, grupos de interesse político, cívico, cultural ou educativo? Isto não desvia a sua atenção das atividades da igreja? Estas são perguntas que permanecem na cabeça de muitos membros das nossas igrejas. Por um lado, a resposta é simples e inequivocada: sim, o crente pode e deve participar porque isto compete aos seres humanos (dos quais a igreja participa!). Além disto, é vocação dos crentes que, com a mente renovada no Espírito, são desafiados a serem sal e luz dentro do mundo. É parte da nossa incumbência como povo de Deus, não atividade à parte. Ser enviado por Deus é ser enviado para dentro do nosso mundo e da nossa história. de Deus em Jesus Cristo dentro da nossa história e dentro do nosso mundo. É impossível abraçar as duas posturas simultaneamente. 11 A escatologia não é tanto o discurso sobre as últimas coisas no sentido de eventos que ainda estão por vir e por isso estão grandemente fora da cognição humana. Antes disto, é o estudo das conseqüências últimas do plano eterno de Deus já inaugurado em Cristo Jesus e ainda por ser realizado por Deus mesmo, que convida a igreja a participar desta realização. 12 O teólogo luterano alemão Dietrich Bonhoeffer distingue quatro “mandatos” na criação: do trabalho, do casamento, do governo e da igreja. Abraham Kuyper, teólogo reformado holandês, fala de dois: o mandato cultural e o mandato redentor. Ambos estão antecipando, para além da leitura de Gênesis, o papel missionário da igreja. Preferimos falar da “missão” ou “mandato” do ser humano em Gênesis em relação à criação (“ecológica”) e dentro da criação, em relação ao seu próximo (“cultural”). Somente depois, à medida que se desenvolve, é possível falar duma missão mais específica (“redentora”) em relação aos outros povos.
  • 13. 13 Uma missão ética Boa parte de Gênesis 1-11 fala do fracasso humano em relação à sua incumbência dada por Deus, da mesma forma que boa parte do Antigo Testamento focaliza o fracasso do povo escolhido em relação ao seu papel diante de Deus e diante do mundo. Aliás, em Gênesis 3-11, o fracasso humano aumenta e se intensifica cada vez mais. Esta observação dá muita sobriedade à reflexão a respeito da missão “integral”. É preciso computar o fracasso humano e o fracasso do povo de Deus, quando se contrói uma noção de missão dos dois. Desde o princípio, a missão se revela ultimamente “de Deus”. Por isso, distinguimos missio Dei de missiones ecclesiae. Temos uma incumbência, sim. Entretanto, ela se desenvolve em meio ao fracasso e freqüentemente alheia ao plano de Deus para a sua criação. Se o resultado da presente reflexão for apenas o de parabenizar o bom desempenho institucional da igreja, então teremos fracassado miseravelmente. As exortações dirigidas para o povo de Deus, explicitamente em boa parte do Antigo Testamento (os profetas anteriores e posteriores) e também do Novo Testamento (as Epístolas, Apocalipse 2-3) e implicitamente no restante da Bíblia, exigem de nós sempre uma autocrítica. Com o fracasso humano, surge uma necessidade de reparo e restauração. O Deus que age na história e no mundo é o Deus que resgata e que restaura. Com a queda, já surge uma promessa, ainda que enigmática, de restauração (Gn 3.15). Ao longo das Escrituras, esta promessa de endireitar o mundo e a humanidade caídos e aviltados é ação divina, mas também envolve a participação humana (Gn 12.3). Assim, junto com a queda nasce, em primeiro lugar, a missão salvadora de Deus e, depois e eventualmente, a missão evangelística da igreja. Esta situação de malignidade dum mundo declarado “bom”, “muito bom” e abençoado por Deus (Gn 1.4, 10, 12, 18, 21, 25, 28, 31; 2.3) gera, portanto, a necessidade de retificação. Desde o princípio e fundamental à fé bíblica, existe a preocupação pela ética, pela justiça e pelo endireitamento do mundo em todos os aspectos.
  • 14. 14 O chamado de Abraão e Sara BÊNÇÃO E ELEIÇÃO: Gênesis 12-50 O fracasso cada vez maior do ser humano em Gênesis 1-11 nos prepara para a “solução” de Deus a partir de Gênesis 12. Aqui, lemos a respeito do chamado divino dirigido a um casal, Abraão e Sara, que formou um grande povo, que, por sua vez, irá exerceu um papel fundamental no alcance das nações. Uma missão participativa Há uma observação importante para ampliar a noção de “missão” ao ponto mais integral possível: tanto na incumbência dada ao ser humano na criação quanto na “eleição” de um povo para levar adiante a tarefa inacabada de “bem-fazer” ou “abençoar” o mundo (Gn 1.31; 12.3), ambos os gêneros humanos são inclusos como participantes iguais e igualmente incumbidos. O “homem”, como macho e fêmea, e os ancestrais do povo de Deus, tanto Abraão quanto Sara, recebem a designada “missão” (Gn 1.27; 12.1-3; 17.15-22). Isso implica tanto na luta pela quebra de preconceitos de gênero na sociedade, quanto na capacitação e delegação de autoridade para ambos os gêneros, não para a competição, mas, sim, para a plena participação como parceiros na missão de Deus. Uma missão de abençoar Quanto à incumbência em si, é importante reparar que o alvo inicial da “missão” dada para o povo de Deus13 eleito em Gênesis 12 não se define em termos das penas ou galardões eternos da salvação, mas, sim, em termos de “bênção”.14 A primeira expressão da missão do povo de Deus é “abençoar” os outros povos com a mesma incumbência criativa inicial que a humanidade recebeu de Deus. Logo, embora possamos falar de ecos de “fé” e “justificação” (Gn 15.6), na história de Abraão e Sara, a ênfase parece estar no bem-estar do povo de Deus e, por meio dele, de todos os povos do mundo. Por outro lado, a igreja primitiva entendeu a incumbência de “abençoar” como um tratamento da queda e do pecado (At 3.25, 26) que restabelece nossa devida relação com Deus por meio de Jesus Cristo (Ef 1.3-4). Abençoar, portanto, desemboca na tarefa de anunciar as boas notícias de que, em Jesus, Deus provê o meio definitivo para 13 Os componentes da aliança estabelecidos em Gênesis 12 se repetem para gerações subseqüentes ao longo do relato do livro. 14 A palavra para “abençoar” na língua hebraica, na sua forma verbal piel, significa “delegar ou declarar poder para sucesso, fertilidade e prosperidade” (veja o mesmo uso em Gênesis 1.22, 28 e 2.3).
  • 15. 15 reatar os nossos laços com Ele como seres criados à sua imagem e à sua semelhança. Missão, antes de tudo, é abençoar os povos com as boas novas do cumprimento dos propósitos de Deus em Jesus Cristo. A promessa de abençoar todas as famílias da terra através de Abraão e da sua descendência não é promessa passageira, mas se repete diversas vezes ao longo de todo o Livro de Gênesis, primeiro, para Abraão (Gn 13.14-16; 15.5-7,18; 17.4-8; 18.18; 22.15-18) e, depois, para cada um dos seus descendentes (Gn 26.2-4,24; 28.3-4, 13-14; 35.9-12; 48.16; 49.22). É uma das promessas mais fundamentais de toda a Bíblia porque serve de base para as demais promessas. Tão importante era que o apostólo Paulo considerou-a como o “preanúncio do evangelho” (Gl 3.8). Uma missão litúrgica Outra observação importante: “missão” não é antagônica nem periférica à vida e ao culto do povo de Deus. O culto já aparece na aliança abraâmica como conseqüência final deste trato de Deus com um povo específico (Gn 12.7-8). A missão do povo de Deus leva ao culto a Deus. O culto define o propósito último da missão como a missão dá definição e sentido à vida eclesiástica. A missão da igreja não é mera subdivisão da sua vida e, sim, a sua vocação essencial. “Missão” é algo primordial na definição do povo de Deus, mas não é a sua finalidade última. O culto o é. Uma missão mundial e multicultural A incumbência dada a Abraão e Sara, aos seus descendentes e ao seu descendente mantém, por definição, a participação no povo de Deus sempre abrangente. A “sua” bênção é meio para “abençoar” todas as famílias da terra. Não se cumpre até que povos de todas as etnias, povos e raças sejam incluídos no povo de Deus (Mt 24.14; 28.18-20). Esta caractéristica de missão ganha destaque ao longo das Escrituras, como veremos em seguida. A igreja que limita a abrangência da sua missão ou em termos étnicos ou em termos geográficos não percebeu a natureza mundial e multi-étnica da sua incumbência e se caracteriza mais pelo provincialismo do que pela inclusividade inerente da sua missão.
  • 16. 16 O Egito e o Monte Sinai LIBERTAÇÃO E ALIANÇA: Êxodo – Josué Se o primeiro livro do Pentatêuco relata a chamada (eleição) de um povo para Deus, os outros quatro elaboram a sua formalização (aliança). Aqui lemos de três principais eventos: a libertação da opressão egípcia, a peregrinação no deserto e o estabelecimento da aliança no Monte Sinai. Também lemos de duas grandes instituições deste povo: o culto e a lei. Na libertação, aprendemos que Deus age dentro da história humana, que a justiça é sua marca e que ele age na história tanto através da humanidade quanto poderosa ou independentemente dela. Na peregrinação, aprendemos que seguir Javé significa passar por deserto (no Novo Testamento: tomar a sua cruz), exige fé e dependência de Deus que é o nosso sustento suficiente, e que temos um destino adiante. Na aliança sinaítica, aprendemos que o povo de Deus, mesmo chamado à parte dos outros povos, novamente, como no chamado de Abraão, encontra a sua vocação em favor dos povos: Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel (Êx 19.5-6; cf. 1Pe 2.9) Sua missão seria de obediência total e diária de Deus (como no deserto) que as instituições da lei e do culto elaboram e especificam. Mais uma vez, as instituições do povo de Deus servem a um propósito maior, um propósito “missionário” em favor dos povos e ultimamente um propósito de glorificar a Deus. “Missão” na experiência do êxodo, do deserto e da aliança se caracteriza pela libertação da opressão, pela justiça de Deus, pela ação de Deus na história humana (missio Dei), pela intercessão incessante, pelo culto e pela ética do povo de Deus. Nisto, os conceitos de “missão” elaborados até aqui são reforçados e adiantados. São adiantados especificamente pela emergência e desenvolvimento das instituições da lei e do culto. A lei, por sua vez, abrange toda a vida do povo de Deus, e ainda leva em conta a inclusão do estrangeiro e o tratamento justo dos órfãos e viúvas. Integralidade está no coração do conceito da vivência do povo de
  • 17. 17 Deus. Também o alvo mundial e multi-étnico do culto se estabelece logo no princípio da aliança mosaica pela especificação vocacional dos agentes do culto (sacerdotes) que intercedem a favor de todos os povos (Êxodo 19.5-6; cf. 1 Pedro 2.9). Nisto, entendemos que a integralidade da missão se refere não somente à diversidade de ministérios que a igreja exerce em relação ao mundo. Também implica na amplitude do alvo destes ministérios no alcance de todos os povos, todas as raças, e todos os grupos sociais no mundo todo. O reino JULGAMENTO E MISERICÓRDIA: Os Profetas Se o papel missionário do povo de Deus encontra maior definição no Pentatêuco, nos Profetas15 a ênfase está cada vez mais no seu descumprimento, o subseqüente julgamento de Deus e a promessa da misericórdia e libertação vindouras do Deus justo, poderoso e íntegro. Também, se a figura de Abraão domina o Livro de Gênesis e a figura de Moisés domina o resto do Pentatêuco, é a figura de Davi e do seu “descendente” que recebe mais destaque nos Profetas e nos Escritos. Uma missão de serviço Notório entre as “promessas” é o cumprimento do papel missionário de um “descendente” de Eva (Gn 3.15), de Abraão (Gn 12.7; 13.15; 15.18; 17.7; 22.17), de Moisés (Dt 18.15-18), de Davi (2Sm 7.12-17; Sl 72) e, assim, o cumprimento do mesmo papel do povo de Deus (Is 42.6; 49.6; 51.4). O Servo é um descendente fiel de Deus e servo também é o seu povo. A missão é de serviço e é de seguir o modelo de um Santo, que Deus revelará para cumprir os seus propósitos para todas as nações do mundo. A missão, também, tem a ver com libertação, justiça e eventualmente a remoção das iniqüidades humanas (Is 53). É nos Profetas, especialmente em Isaías, que aprendemos que a missão do povo de Deus, acima de tudo, é seguir a missão do próprio Deus e, assim, cumprir o destino do ser humano, criado à imagem do seu criador, isto é, o destino de ser o seu representante neste mundo e nesta história. 15 Por “Profetas” contemplamos tanto os “anteriores” (às vezes chamados de Livros Históricos) quanto os “posteriores” (comumente dividos em “maiores” e “menores”). A extensão da história relatada, e não do período da sua composição, é desde o final do período dos juízes, percorrendo as diversas monarquias e cativeiros, até o período pós-exílico.
  • 18. 18 Uma missão escatológica Nas Escrituras todas, Deus se revela como o Deus que age dentro e através da história. Repetidas vezes, lemos que o fracasso do povo de Deus não impede o avanço dos propósitos de Deus na história, mesmo que Deus o convide a ser o seu agente de transformação no mundo. Nos profetas, uma das ilustrações mais notórias desta missio Dei é a história de Jonas. A sua desobediência não impede o alcance da misericórdia de Deus para com os ninivitas. E a parábola do verme, que fere a planta que dá sombra para Jonas, ilustra como o povo de Deus se preocupa com coisas mesquinhas e pouco se importa com a vida dos outros, que é de suma importância para Deus. Por trás destas e outras narrativas proféticas está o Deus que avança os seus propósitos, ora por meio do seu povo, ora apesar dele. Uma missão profética No Antigo Testamento, são os Profetas Posteriores que mais destacam a dimensão crítica e denunciadora da missão, tanto que a qualificativa “profética” no meio cristão já adquiriu esta conotação abrasiva. Esta missão é uma faca de dois gumes. Às vezes, a critíca é dirigida à injustiça e à idolatria das nações.16 Mais freqüentemente, é dirigida à injustiça e à idolatria do povo de Deus.17 Quando a injustiça dentro do povo de Deus se manifesta, abafa toda a barulheira do culto (Am 5.23). O culto e a cultura FIDELIDADE E COMUNICAÇÃO: Os Escritos Assim chegamos aos Escritos, comumente negligenciados em relação à sua contribuição missiológica. Aqui, entretanto, destacamos duas lições de tremenda relevância para a idéia de “missão integral”. Uma missão contextualizada Em primeiro lugar, especialmente a literatura sapiencial, mas também os Salmos estabelecem uma postura de abertura e diálogo entre o povo de Deus e o mundo. Isto ocorre pelo freqüente aproveitamento e adaptação de metáforas e ditados estrangeiros dentro deste dois tipos de literatura. Os Escritos oferecem 16 Para a denúncia contra as nações, veja especialmente Jeremias 46-50. 17 Para a denúncia da idolatria entre o povo de Deus, veja, por exemplo, 1 Reis 4.20-25 e a narrativa sobre os profetas de Baal em 1 Reis 18. Para a denúncia da opressão entre o povo de Deus, veja 1 Reis 5.13-18; 9.15-22; Isaías 1.21-23; 7.1-9; 37. 33, 35; Amós 3.8; 9.8-10; Oséias 4.11-14, 17-19; 6.8-10; Isaías 59; Salmo 53.
  • 19. 19 um modelo importante para uma avaliação essencialmente positiva da cultura. Como Deus se encarnou para nos alcançar, a igreja adota uma postura otimista na sua busca de aproveitamento de elementos culturais para conduzir o seu culto e para expressar as verdades da vida diária. Isto é uma importante qualificação da postura de confronto que encontramos freqüentemente nos Profetas. “Missão” implica num diálogo entre igreja e sociedade, não um diálogo que abre mão do senhorio e soberania do único Deus, mas um diálogo que, mesmo assim, busca as verdades num mundo criado por Deus e impressas em todos os povos, por serem criados à imagem e semelhança de Deus, mesmo procedentes de outras religiões. Missão como “diálogo”, embora não abra mão do senhorio do único Deus, mantém uma postura essencialmente evangelística (de boas-novas) de um Deus que se revela ao ser humano dentro do seu contexto e da sua cultura. Logo, não cabe uma postura proselitista (de más-novas) de um Deus que somente se revela dentro da cultura cristã predominante, e não em todas as culturas que, por serem humanas, refletem algo da imagem e semelhança de Deus. Uma missão que chama para o culto Em segundo lugar, os Escritos, em especial os Salmos, nos ensinam que missão envolve poesia e música. Missão e culto, de fato, são dois lados da mesma moeda. A liturgia que agrada a Deus não é aquela que afasta os diversos povos e, sim, a que os atrai. Não só atrai os povos como também a criação toda no louvor e adoração a Deus, Javé. Missão, portanto, não é apenas ir ao encontro das nações (movimento centrífugo), mas também atraí-las ao culto e à adoração a Deus (centrípeto). Assim, somos lembrados que a nossa missão, por mais que ela nos defina, não é última. Último é o culto a Deus. Missão é a maneira de chegar ao que é último, encher a terra com o conhecimento da glória do Senhor. Missão, logo, é o que mais orienta o nosso culto, e o culto a Deus é a razão da nossa missão.
  • 20. 20 Jesus CUMPRIMENTO E MODELO: Os Evangelhos Os escritores do Novo Testamento, a igreja primitiva e nós entendemos que o Servo de Deus é Jesus (At 3.24-26; Rm 15.8-9; Hb 1.1-4). Ele é o cumprimento das promessas feitas por Deus aos pais (Abraão, Moisés e Davi) e modelo para a igreja. Uma missão segundo o cumprimento por Deus (missio Dei) Jesus cumpriu as promessas de Deus a Abraão, a Moisés e a Davi. As promessas a Abraão são de abrangência nacional e internacional, e correspondem aos dois imperativos de ser povo de Deus e de abençoar as nações. Estas promessas se aplicam ao patriarca e à sua descendência, esta última se referindo ao povo de Israel e, também, a um descendente individual, fiel e real, que abençoará todos os povos do mundo. As promessas para Moisés, semelhantemente, assumem as mesmas duas dimensões, externa e interna. Só que a natureza condicional da promessa e a incumbência de obediência por parte do povo de Deus se formalizam através da lei e do culto. A lei e o culto serão duas áreas críticas para avaliar a obediência de Israel. Fracassos nestas duas áreas, através da injustiça moral e social em relação à lei, e através da adoração a outros deuses em relação ao culto, constituíram a decadência de Israel e a quebra da aliança com o Deus Supremo. As promessas a Davi se apresentam como um desdobramento das promessas anteriores. São de natureza qualitativa e quantitativa. Isto é, o reino do descendente de Davi será qualitativamente de justiça e eqüidade, e será eterno. Quantitativamente, as promessas, por um lado, se estreitam através do remanescente até a figura messiânica. Por outro lado, se alargam na medida em que o Israel fiel e o servo fiel e real serão luz para as nações. Desta maneira, as promessas, colocadas lado a lado, de bênção para a nação e bênção para os povos da terra se realizarão.
  • 21. 21 Jesus Cristo cumpriu as promessas de Deus a Abraão18 , a Moisés19 e a Davi20 . Assim, estabeleceu a inauguração duma nova criação, de bênção para todas as nações e do governo de Deus. Uma missão segundo o modelo de Jesus Sua mensagem, seu ministério, sua crucificação e sua ressurreição, todos são paradigmáticos para a missão da igreja (João 20.21). Sua mensagem, que exige arrependimento, oferece perdão e anuncia que o dono deste mundo é Deus, e não os senhores deste mundo, é também a mensagem missionária da igreja (Mc 1.14-15; cf. At 2.38; 3.19, 25-26; 4.12). Seu ministério tríplice, de cura, libertação e proclamação, é o mesmo ministério missionário da igreja (cf. At 2.43; 3.1-10; 5.12-16; 8.7; 9.32-42; 14.3, 8-10; 16.16-19; 28.8-9). Até mesmo a sua crucificação e a sua ressurreição são paradigmáticos para a vida (Rm 5.17; 6.8- 11; 8.11) e para a missão da igreja (1 Coríntios 1.18-25; Colossenses 1.24). Para a igreja, ser criado à imagem e à semelhança de Deus adquire uma dimensão mais específica que a dimensão original para a humanidade toda. Significa imitar ou seguir a Jesus. “Assim como o Pai me enviou, eu vos envio” (Jo 20.21). Urge uma ação missionária da igreja que siga o padrão destes três aspectos do modelo de Jesus: sua mensagem, seu ministério, e sua crucificação e ressurreição. Assim, uma missão integral procura emular, pela presença do Espírito Santo na sua vida, a própria presença de Cristo, e sua missão reflete o cerne do missio Dei, isto é, solus Christus, como o princípio protestante mestre (principium theologiae) dos outros três gritos: sola Scriptura, sola fide e sola gratia. Colocar-se à disposição da missio Dei significa assumir a postura radical de refletir a missio Christi, de novo, na sua mensagem, no seu ministério, e até mesmo na sua crucificação e ressurreição. Consideremos, primeiro, a sua mensagem de arrependimento, perdão e anúncio da chegada do reino de Deus. 18 Mateus 1.1,17; 8.11; Lucas 1.54-55, João 8.56; ver os discursos de Pedro em Atos 3.25-26 e Paulo em Gálatas 3.16. 19 João 1.17, 45 (cf. Deuteronômio 18.15); 3.14-18; 6.32-35; Hebreus 3.1-6; 8.1-2; 9.13-15, 24-25, 27-28; 8.6; 9.15; Romanos 3.31; 10.4; Gálatas 3.24. 20 Os escritores do Novo Testamento afirmam que as promessas para um descendente de Davi, em 2 Samuel 7.12-16 e Salmo 72, foram cumpridas em Jesus. As seguintes passagens são ilustrativas: • Mateus 26.61: constuirá a casa de Deus; • Atos 26.22-23: reinará eternamente; • Mateus 14.33: será para Deus por filho; • Lucas 4.17-19: terá sempre a misericórdia de Deus, i.e, julgará com justiça e eqüidade; • Efésios 1.3: um domínio pelo mundo inteiro; • Mateus 1.1, 17: Filho de Davi.
  • 22. 22 O “reino de Deus” é um conceito teológico central para uma teologia da missão e, conseqüentemente, para o entendimento da missão como sendo integral. Falar em reino de Deus é afirmar que Deus reina e governa a criação e a história. Georg Vicedom define o reino de Deus como sendo o senhorio de Deus. Para Zabatiero, o reino é o projeto histórico de Deus que pretende estabelecer uma sociedade perfeita, sem injustiças ou sofrimentos. O reino é, portanto, o símbolo que expressa a ação de Deus no mundo, hoje e no futuro. Este símbolo é marcado por uma dupla dialética: entre presença e futuridade; e entre ação humana e ação divina. “A simultaneidade de presença e a futuridade do reino de Deus estão numa tensão dialética.”21 Crer que o reino é, a um só tempo, presente e futuro passa pela compreensão de dois aspectos, ou seja, primeiro, que, em Jesus e no seu ministério, o reino entrou para a história e ainda hoje se manifesta no mundo; e, segundo, que o mesmo reino aguarda, na história ou além dela, uma consumação onde alcançará a plenitude. Entretanto, presente e futuro são características formais do reino. O que importa é o que é o reino.22 Há um projeto histórico de Deus para a humanidade e isso se enquadra na reflexão que Zabatiero faz utilizando-se dos textos proféticos de Isaías 11.1-6 e 65.17-25. Quem não deseja uma sociedade perfeita? Nessa perspectiva, esses dois textos trazem no bojo, de forma poética, a utopia de uma sociedade perfeita, marcada pela ausência de sofrimentos, injustiças, etc., descrevendo a forma histórica que o reino de Deus tem como objetivo assumir no seio da humanidade. Um reino com ênfase num relacionamento perfeito entre Deus e as pessoas a quem Ele criou à sua imagem e semelhança (11.1-5); repleto do louvor marcado pela alegria diante da majestade divina (65.17-19); com a ausência de pessoas carentes e oprimidas, as quais terão direito a moradia, trabalho, terra e vida.23 A igreja, por sua vez, enquanto espera a vinda do seu Senhor, desempenhará a sua missão, não sem direção, mas tendo o reino de Deus como seu ponto de referência e seu paradigma.24 Sustentado pelo poder do Espírito Santo, o projeto histórico de Deus será o projeto histórico da igreja. Caberá, portanto, à igreja, como parceira de Deus, com base na sua graça, viabilizar esse projeto para a humanidade, o qual foi inaugurado decisivamente por Jesus Cristo, pois, nele, a utopia se torna topia, ou seja, sonho possível. 21 BRAKEMEIER, G. Reino de Deus e Esperança Apocalíptica. São Leopoldo, Sinodal, 1984, p. 14. 22 FACCIO, Flávio Braga. “Os sinais do reino de Deus na História” em Boletim Teológico – Fraternidade Teológica Latino- Americana. 21. Julho-setembro/1993, p. 18. 23 ZABATIERO, J.P. Tavares. Liberdade e Paixão. Missiologia latino-americana e o Antigo testamento. Londrina: Descoberta, 2000, pp. 153-154. 24 Ibid., p. 156.
  • 23. 23 Ao anunciar e sinalizar o reino de Deus, a igreja apresenta ao mundo um aperitivo daquilo que deve ser a humanidade na perspectiva divina. Freitag se valeu da centralidade do conceito de reino de Deus na mensagem de Jesus para mostrar os sinais que, na história da igreja, indicam os propósitos de Deus, ou seja, como o reinado futuro de Deus exerce influência sobre o presente. Como afirma Cullmann, o “já” do reinado de Deus excede seu “ainda não”.25 Em Jesus Cristo, a utopia do reino começa a se concretizar historicamente. Com Ele, o reino se realiza de forma humanamente perceptível. Há certa dificuldade para se afirmar que, naquele Jesus, sem força, falando de paz, demonstrando poder através do serviço, Deus estabeleceu seu reino no mundo. Jesus mostra, através de sua prática, o modo de ser do reino de Deus. As atitudes de Jesus constituem sinais do reino, pois, através delas, Deus restaura e promove a vida das pessoas. Deus se faz presente na cura dos enfermos, na ressurreição dos mortos e no anúncio do Evangelho aos pobres (Lc 7.18-23). Tendo o reino de Deus como paradigma, a prática cristã deve nos tornar aliados no que Ele já está fazendo, tornando-nos seus instrumentos para a construção de um mundo melhor. Para tanto, precisamos estar atentos à sua maneira de agir na história. Nesse sentido, os sinais do reino como sendo as manifestações da ação divina no mundo precisam se fazer presentes na nossa vida. Nessa perspectiva, a igreja tem a responsabilidade de manifestar o reino por meio da unidade, da diaconia, da solidariedade, da ação social, da ação política e através da pregação do Evangelho. Uma missão universal Jesus também tira qualquer dúvida de que os propósitos de Deus e a incumbência do seu povo somente se realizam quando atingem toda raça, toda classe social e toda etnia neste mundo. Como Jesus quebrava barreiras no exercício do seu ministério, a igreja jamais poderá se contentar com um enfoque no status quo, mas profeticamente segue os passos do seu Senhor ao anunciar que a mesa do banquete escatológico está posta e os excluídos pela sociedade serão os primeiros convidados. Uma missão transformadora Somos enviados segundo o modelo de Cristo (Jo 20.21). Qual foi a vocação missionária de Jesus, então, que imitamos? É uma missão que segue a tradição profética de priorizar os pobres e trazer a justiça de 25 Cf. BOSCH, op cit., p. 603.
  • 24. 24 Deus especialmente aos mais injustiçados (Lc 4.18-19). Acima de tudo, é uma missão de serviço e não de dominação (Jo 13). Esta postura não pode ser ultrapassada quando a igreja contempla a “grande comissão” dada por Jesus (Mt 28.18-20; Lc 24.44-48; At 1.8). Se o for, corre o perigo de se transformar em programa triunfal e conquistador, uma característica que, tragicamente, acompanha a história da igreja e que precisa ser constantemente denunciada. A cruz é mais que um enfeite cristão. É paradigma do nosso discurso (1Co 1.18-25) e da nossa ação. Não só assumimos a via crucis como estilo do discipulado (Mc 8.34-38), mas também aceitamos o sofrimento em prol do evangelho como meio de efetuar o resgate por Deus da sua criação (Rm 8.18-25) e meio pelo qual construimos a igreja (Cl 2.24). Existe uma tensão entre a ênfase no evangelho que prioriza a conversão a partir de uma esperança apenas futura, que não considera a necessidade de edificação de um mundo melhor e mais digno no momento presente, e a que enfatiza um evangelho que não possui vínculo algum com o transcendente, ou seja, sem verticalidade, conversão a Cristo, discipulado e temor. São duas posições extremas. A primeira se preocupa apenas com o que está além mundo, com forte ênfase na salvação futura das almas (salvação eterna), fazendo com que a vida presente se resuma a uma separação do mundo e a uma preparação para o que está por vir, sem nenhuma preocupação com os problemas sociais, políticos, ecológicos, etc. É a dimensão que considera que a vida depois da morte é mais importante do que a vida que vivemos aqui e agora. O outro extremo é o da preocupação exclusiva com os trabalhos de promoção humana e transformação de estruturas sociais, políticas, etc. Em ambos os extremos, falta a compreensão de que uma dimensão sem a outra torna-se excludente e não contempla a dimensão integral do reino de Deus, relacionado a um preceito importante da teologia da missão integral da igreja: “o evangelho todo, para o ser humano todo, para todos os seres humanos.” Alegramo-nos, sim, quando a igreja cresce na sua estatura e no seu alcance. Entretanto, é preciso incentivar a igreja a não se contentar em contar almas, visando apenas o crescimento numérico, mas a entender que a sua tarefa continua durante todo o tempo em que o pecado se manifesta na vida humana, através da opressão, do racismo, das falsas religiões, das estruturas sócio-econômicas injustas, das rupturas familiares, das drogas, da imoralidade e da corrupção.26 Sendo assim, entendemos que a missão se constitui em luta contra o pecado na sua forma mais ampla: o pecado que prende o ser humano no seu egoísmo, no seu individualismo, na sua ganância e na sua alienação. 26 ZABATIERO, ibid., 156.
  • 25. 25 Uma missão de múltiplas interpretações Os evangelhos nos deixam com uma ressalva a respeito da tarefa de interpretar a nossa missão. Quatro testemunhos que refletem as quatro personalidades dos seus quatro autores e as quatro situações das suas comunidades eclesiais não nos permitem falar da nossa tarefa de modo único e 100% consensual. Diversas interpretações não implicam no comprometimento da revelação divina e, sim, estabelecem a necessidade da multiplicidade das nossas visões. Não que não haja concordância e unanimidade substanciais entre os quatro evangelhos, apenas que os sabores distintos de cada um são paradigmáticos para o nosso pensar missiológico. Uma vez reconhecido este papel da existência de quatro evangelhos, reparamos semelhante fenômeno ao longo das Escrituras: diversos relatos da criação, diversos livros de lei, diversos relatos históricos de Israel, diversos livros proféticos, epístolas de diversos autores com suas perspectivas peculiares e diversas intenções e posturas pelo mesmo autor entre suas diversas epístolas. Buscamos a unidade da fé e a concordância. Ao mesmo tempo, englobamos perspectivas que divergem da perspectiva peculiar de qualquer um. Assim, espelhamos a universalidade do alvo missionário de levar todos os povos, raças e nações a cultuar o único Deus. O nascimento da igreja COMPROMISSO E EXPANSÃO: Atos Provavelmente nenhum outro livro bíblico é mais procurado que o livro de Atos como referencial para a missão da igreja. Ele nos conta da expansão da igreja e do seu comprometimento com a fé nascente. Embora seja necessária cautela na aplicação das suas práticas ao nosso tempo, nem por isso deixa de fornecer desafios ao nosso empenho. O livro de Atos nos deixa duas “dialéticas”. Primeiro, se, por um lado, a missão se desenvolve de maneira soberana e sobrenatural – pelo poder do Espírito Santo –; por outro lado e ao mesmo tempo, avança pelo esforço sacrificial, mesmo que falho, do povo de Deus. Segundo, por um lado, no livro de Atos encontramos a igreja toda engajada na proclamação das boas- novas; por outro lado, destaca-se especialmente o papel de alguns vocacionados específicos. Missão como expansão estratégica
  • 26. 26 Por um lado, a missão avança pela atuação do Espírito na vida da igreja e dos apóstolos. Em cada nova fase de expansão, o Espírito se faz presente por meio de sinais e prodígios (2.3-13; 8.15-17; 10.44-45; 18.24-28). E o Espírito possibilita a intrepidez no anúncio do evangelho (4.1-31; 6.5, 10, 55; 12.11-12; 28.31; cf. Ef 6.19; Tt 3.13). Há grande esperança de que o “conhecimento da glória do Senhor”, de fato, no decorrer da história, encherá a terra como “as águas cobrem o mar” (Hc 2.14). E há ênfase na expansão e no estabelecimento constante de novas fronteiras. Nesta expansão em Atos, algumas estratégias começam a se desenvolver. Acima de tudo, destaca-se o papel da oração como a postura normal e mais comum da igreja (1.14, 24; 2.42; 4.23-31; 12.5, 12; 13.3; 14.23). Junto com a pregação, a oração é a atividade mais comum dos apóstolos/missionários (3.1; 6.4, 6; 8.15; 9.11; 10.9; 11.5; 16.13, 16, 25; 21.5; 22.17; 28.8). A recomendação de Paulo para que a igreja ore “em todo o tempo, no Espírito” (Ef 6.18), diante do relato do livro de Atos, só nos parece extraordinária porque não reflete mais a atividade mais comum da igreja. A suprema estratégia da igreja em missão é a oração pela atuação de Deus através do seu ministério. No caso de Atos e das Epístolas, as estratégias conseqüentes da oração incluem o enfoque nas cidades principais do império, a promoção de igrejas autóctones pela transferência rápida do poder decisivo para líderes locais (20.28-31) e a identificação de pessoas “chaves”, como Cornélio, Lídia e outros, para a implantação da igreja. Por outro lado, a missão em Atos avança em meio a perseguição e grande sacrifício (5.17, 40-41; 12.3; 14.14). O último terço do livro inteiro (caps. 21-28), ao mesmo tempo em que relata as “viagens missionárias” de Paulo (caps. 13-20), focaliza o aprisionamento e a defesa de Paulo diante de diversas audiências. A história não é nem somente nem principalmente de poder e glória. É uma saga de muito esforço humano, de lutas, de desistências (13.13) e de portas fechadas (16.6-7). Missão por todos e por alguns vocacionados específicos Enquanto o livro de Atos descreve a igreja toda como uma comunidade missionária, também destaca o papel de algumas pessoas vocacionadas em particular para o avanço do evangelho e o estabelecimento de novas comunidades de fé. Lemos, logo, do papel marcante de Pedro no início desta caminhada (1.15; 2.14; 4.5-13; 5.1-11; 8.14). Freqüentemente, João o acompanha. Também lemos narrativas inspiradoras de Filipe e Estevão (6.8; 8.5). Mas quem acaba predominando na história que Lucas nos traz é o apóstolo Paulo. Surge como principal opositor e se revela como o principal defensor e o maior articulador do
  • 27. 27 movimento. Os Evangelhos e as cartas dos outros apóstolos evidenciam o esforço e o cuidado deles na proclamação do evangelho para o leste e para o sul. E, mesmo que Paulo predomine no livro de Atos, Lucas o descreve como uma pessoa que sabia dividir o trabalho com outros obreiros capazes, tais como Barnabé (13.2), Silas e Judas (15.22), João Marcos (12.25), e Priscila e Áquila (18.2). Mas, pelo testemunho de Paulo, havia mais parceiros ainda (Rm 16). Eram seus amigos, seus parentes e seus co- obreiros. Até mesmo as suas cartas, em sua maioria, ele não as escreve sozinho. A missão envolve mais do que a igreja toda, avançando também por meio de vocacionados específicos, mas o “missionário” nunca trabalha sozinho. Sempre desenvolve o seu ministério no colegiado de uma equipe. Quando a igreja desenvolve o seu ministério por equipes, espelha a própria Trindade. A vida da igreja ACERTOS E DESACERTOS: As Epístolas As Epístolas preenchem uma lacuna deixada pelo livro de Atos ao apresentar-nos a vida diária das igrejas nascentes com seus acertos e desacertos. Os seus problemas e desafios são tão variados quanto o número das cartas e demonstram que contextos diferentes e grupos sociais diferentes exigem tratamento diferenciado. Não existe um “manual” definitivo de “como fazer” a missão da igreja. Ao invés disto, existem instruções de como não fazê-la. Missão como re-comprometimento A mensagem incessante das Epístolas nos deixa sóbrios. Aqui, aprendemos que a missão ocorre em meio a má compreensão, desobediência e necessidade de re-comprometimento. Urge uma postura constante e ousada da igreja para sempre se reformar. Aqui, o anúncio é de salvação e o chamado é para revestir-se do “novo homem”. Enquanto o livro de Atos descreve a igreja em pleno crescimento numérico e de fé, as Epístolas deixam igualmente claro que a igreja precisava constantemente crescer também em sua profundidade e na sua transformação social. De outra sorte, perde as suas qualidades de sal e luz (comparar as cartas às sete igrejas do Apocalipse). Um crescimento integral envolve engajamento no serviço (diaconia) e investimento na educação e capacitação dos seus membros para o exercício dos seus ministérios (Ef 4.12-13)
  • 28. 28 Missão como pastoral O maior missionário da igreja primitiva, Paulo, no livro de Atos, plantava igrejas. Nas suas próprias cartas, desenvolve o trabalho pastoral. Nem menciona a “grande comissão” (mas ver Rm 10.14-15; 2Tm 4.2). O que faz é deixar o modelo do seu ministério, um ministério essencialmente pastoral. Paulo, o grande missionário, escrevia cartas pastorais. Sabia que igrejas fortes, fiéis e engajadas eram o maior segredo da expansão missionária (Ef 3.10; 1Ts 1.6-8). E, por isso, vivia a tensão de se distanciar delas, para permitir o seu próprio desenvolvimento autóctone, e de manter-se próximo delas através das cartas, para corrigi-las e motivá-las na nova vida em Cristo. As igrejas eram a evidência concreta de que a era vindoura de Deus havia sido inaugurada e de que a era do Espírito havia chegado de modo visível. E, por isso, era tão importante a implantação de igrejas sadias e marcadas pela presença do Espírito e pela nova época escatológica inaugurada por Jesus. Missão como carisma (graça) Para Paulo, isto significava que, entre as marcas da igreja, estão ou deveriam estar uma vida pela fé, uma ética conforme os moldes de Deus e, até mesmo, manifestações extraordinárias de Deus (Gl 3.5; 1Co 12, 14). Urge o testemunho de novas comunidades marcadas pelos carismas de Deus, onde todos possuam um papel e ministério, onde a união e a concórdia dominem, e onde a justiça se manifeste nas vidas dos fiéis e, por meio deles, na transformação da sociedade. Missão priorizada O norte da missão sempre é o conhecimento da glória de Deus (Hc 2.14). Este é o alvo final e a igreja precisa sempre mantê-lo na sua mira. Para tanto, possui objetivos penúltimos. Por exemplo, por trás da expansão geográfica da igreja primitiva, estava o princípio de anunciar Cristo “não onde já fora anunciado” (Rm 15.20). Significa priorizar as pessoas, não necessariamente a geografia. Perguntamo-nos: “onde Cristo já não fora anunciado”, entre quais grupos humanos, quais etnias, quais circunstâncias sociais e de que maneira? A resposta varia de acordo com o momento histórico e o lugar social. Para a igreja brasileira, por exemplo, os “confins da terra” (At 1.8) estão, literalmente, naa Oceania Pacífica, a região com mais freqüência em igrejas do mundo inteiro. Logo, a questão não é meramente geográfica, mas saber onde estão os maiores desafios para o evangelho. Não só é possível fazer esta pergunta. Urge fazê-la.
  • 29. 29 A nova criação LUTA E ESPERANÇA: Apocalipse A promessa de bênção para todas as famílias da terra (Gn 12.3) e luz para as nações (Is 42.6; 49.6) é prevista (Lc 13.29) e estabelecida (Rm 15.8) por Jesus. A visão celestial de Apocalipse alimenta o empenho missionário terrestre da igreja. E esta é uma visão de novo céu e nova terra, onde toda a criação celebra a presença de Jesus, o que incentiva a nossa missão ecológica (5.13; 21.1-2; cf. 2Pe 3.13). É uma visão inclusiva de todos os grupos humanos, que alimenta (5.9; 7.9) a missão social e evangelística da igreja. É uma visão de adoração e louvor por todos os povos e toda a criação que motiva a missão litúrgica da igreja. E é uma visão de justiça e retidão, finalmente, transbordantes (15.4; 19.8-11) que enfrenta a constância e multiplicação da opressão e do mal atual, e encoraja a igreja a denunciar estas últimas e incansavelmente sustentar a manifestação das primeiras. A justiça restabelecida. A terra e os céus recriados. E a glória de Deus conhecida massivamente como a extensão e profundidade dos mares! CONCLUSÃO Concluimos a reflexão bíblica e teológica com algumas observações sobre a maneira que lemos as Escrituras. Somos herdeiros de um movimento missionário marcado pela ênfase na fé individual. O Pietismo estreitou a compreensão de reino de Deus ao reduzi-lo demais ao indivíduo. Exemplo disso é o que se refere à tradição de leitura bíblica no protestantismo, marcada pela individualidade. É presunção achar que os textos bíblicos foram escritos especificamente “para mim”. Eles são, na verdade, produção comunitária; ligados à vida de um povo. Esse fator é muito importante no estabelecimento de uma comunidade hermenêutica que estabeleça suas perguntas e preocupações ante o texto bíblico. Essa perspectiva do ser humano enxergar sua relação com Deus como algo essencialmente individual provoca também uma leitura Bíblica des-historizante, ou seja, retira do texto todo e qualquer conteúdo histórico, privilegiando apenas o efeito momentâneo que o texto produz no leitor ou alguma expressão que o permita se identificar com a experiência relatada no texto. Para Zabatiero, em nossa tradição, a leitura da Bíblia passa por um único procedimento que se supõe correto para o seu entendimento, resultando numa leitura do tipo doutrinária, quando se procura afirmar as
  • 30. 30 verdades de fé, e existencial, quando a intenção é a de aplicar tais verdades à vida das pessoas. Nessa maneira de ler a Bíblia, a missão da igreja deixa de ser prioridade. “O conceito de missão que se desenvolveu a partir deste modelo individualista de leitura da Bíblia também foi um projeto individualista: a missão tem a ver com a salvação das almas ou das pessoas, como já se avançou em tempos mais recentes. Salvação, sim, em alguns casos, até se pode usar o termo salvação plena, mas sempre se dirige aos indivíduos. O Evangelho é lido de forma redutiva e, assim, a missão é considerada de forma redutiva – um dos seus aspectos (a salvação de indivíduos) se torna praticamente o único ato missionário eclesiástico.”27 Zabatiero afirma que a partir da missão integral pode-se dizer que é possível o desenvolvimento de uma nova maneira de ler a Bíblia que, segundo ele, se chama modelo dialogal. É uma maneira de ler a Bíblia com o objetivo de edificar consensos; em outras palavras, acordos fraternos sobre como praticar a vontade de Deus na atualidade. Para esse autor, tais consensos devem ser: “Eticamente válidos, pois nem todos os meios são justificados pelos fins – ou nem tudo o que funciona ou que dá prazer é justo, é bom, é santo; cognitivamente verdadeiros, pois nem todas as experiências, doutrinas e conceitos que defendemos passam pelo crivo da Sagrada Escritura; e pessoalmente verídicos; ler a Bíblia em busca de consensos missionais depende de uma estratégia em que os sujeitos da leitura não sejam mais os indivíduos isolados, os especialistas da técnica, mas sejam todos os participantes da comunidade de fé”. Diante de tudo o que foi exposto, compartilhamos com Steuernagel que um dos caminhos para o entendimento da Missão Integral é a de que esta seja “aberta para ser fundamentada nas Escrituras. Aberta para ser guiada pelo Espírito. Aberta para ouvir as questões de vida local e para derramar lágrimas de dor na mais profunda identificação com o sofrimento humano”. 28 Dessa maneira, não será necessário afirmar que a missão é integral, porque, na prática, ela será visualizada e entendida com tal. Por isso, “missão integral é um chamado ao arrependimento; um arrependimento que nos chama de volta ao mundo do Evangelho e no leva adiante para o perdido e o pobre.” 29 Timóteo Carriker Missiólogo e Educador 27 ZABATIERO, J.P. Tavares. “Missão Integral e Leitura da Bíblia” - Reflexões sobre temas da missão integral. Em: www.forumjovemdemissaointegral.org 28 STEUERNAGEL, Valdir R. “Missão Integral”– Reflexões sobre temas da missão integral . Em: www.forumjovemdemissaointegral.org 29 Idem.
  • 31. 31 Fundamentação Histórica É fundamental que, ao fazermos uma reflexão histórica sobre a “missão”, observemos alguns aspectos que foram e têm sido determinantes em seu processo. Consideremos a terminologia usada por certas agências missionárias ou igrejas ao longo da história. O uso do termo “missão” ou “missões” está sempre relacionado à origem da teologia da missão, da ideologia política e até mesmo econômica de missão, adotada pelos agentes de políticas missionárias. Há quem prefira falar e agir em termos de “missões”, com um caráter mais pragmático, para atender a certos interesses institucionais, temporais, de caráter apologético em defesa da fé cristã, ou proselitista, como foi largamente usado por protestantes e católicos para converter judeus (responsabilizados pela crucificação de Jesus) e pagãos. Mas também há os que se referem a “missão” em sentido mais amplo e rico, vendo-a mais como um evento que deve proceder da missio Dei, que não se fragmenta em ações pontuais, institucionais e temporais, em função de determinadas situações, para atender a certos interesses políticos, econômicos ou mesmo religiosos. Fala-se de “missão” e sua história, com um sentido mais ecumênico, nos termos da palavra grega oikoumenē significando “todo o mundo habitado”, que se explica mais em função do Reino de Deus do que em função da igreja enquanto instituição. Segundo Lutero, “missão” não depende de esforços humanos, pois é vista como obra exclusiva de Deus, sendo cada cristão e a igreja um instrumento crucial para a missão. Católicos e protestantes alternaram e ainda alternam o uso dos termos “missão” e “missões” conforme o momento histórico e os interesses envolvidos. do Século I MISSÃO ao Século IV
  • 32. 32 A missão tem sido uma característica própria do cristianismo. Nem todas as religiões históricas (hinduísmo, budismo e outras) realizam a missão de maneira tão explícita e determinada como ocorre no cristianismo. O judaísmo, apesar das recomendações que aparecem no Antigo Testamento, afirmando que a salvação deveria chegar a todos os povos por intermédio dos judeus, não foi uma religião missionária, por excelência. A religião deste povo se difundiu de maneira natural, mais através das relações comerciais, das conquistas militares, dos casamentos mistos, das alianças com outros povos do que por meio de esforços e estratégias específicas de missão. Os judeus sempre estiveram mais preocupados na defesa de sua fé do que em propagá-la, uma vez que sempre estiveram ameaçados pela idolatria adotada por povos vizinhos. Entretanto, no período do Novo Testamento, como fruto da dispersão após o exílio babilônico e por meio das sinagogas, emerge um judaismo um pouco mais “missionário” (Mt 23.15), que começa a alcançar os gentios simpatizantes do monteísmo que chegam a ser conhecidos como “tementes a Deus” (At 10.2,22; 16.14; 18.7). Merecem destaque, porém, as pregações missionárias de Jesus, nos evangelhos. Antes e depois de sua morte, Jesus insiste na missão a ser empreendida aos judeus e a todos os povos, tendo em vista a realização da missio Dei de maneira universal. E, nos Atos dos Apóstolos, percebe-se a determinação dos primeiros missionários cristãos em realizar a missão de maneira universal, através do ministério da igreja, apesar das discussões sobre a prática ou não da circuncisão (conforme se percebe no contraste entre Pedro e Paulo, Igreja de Jerusalém e Igreja de Antioquia). Pode-se mesmo afirmar que o cristianismo dos primeiros séculos é caracterizado pelo exercício da missão. De modo geral, a história nos leva a entender que todos os cristãos se sentiam missionários, protagonistas da mensagem de salvação através de Jesus, apesar de certas distorções na interpretação do significado da pessoa de Cristo como o Salvador da humanidade. Graças a esse tipo de procedimento, percebe-se uma rápida difusão do cristianismo por toda a Grécia, Roma e norte da África. O século I do cristianismo se caracteriza por dois períodos na história da missão: o primeiro (30 a 40 d.C), chamado de período Judaico-Cristão, foi marcado pela influência da Igreja de Jerusalém como o centro propulsor que tenta superar a religião tradicional. Aqui, merece destaque o que ocorreu em Cesaréia, quando Pedro converte o centurião romano, Cornélio, um pagão (At 10). O segundo período (40 a 60 d.C.) tem sido chamado de Pagão-Cristão, pela Igreja Católica, que destaca a Igreja de Antioquia como ponto
  • 33. 33 de partida para a difusão do cristianismo (At 13.1-3). Nesse século I, Paulo é o grande protagonista das viagens missionárias, alcançando, inclusive, Roma e região. Após a morte dos apóstolos, a missão continuou de maneira intensa e rápida, favorecida por fatores sociais, político e culturais existentes no Império Romano: unidade da língua, a paz romana, a difusa esperança de um salvador, facilidade de comunicações, pregação da liberdade dos escravos, entusiasmo missionário dos cristãos e a riqueza de carismas. No ano 313, o imperador Constantino concedeu liberdade de culto devido à rápida difusão do cristianismo no império.30 No ano 379, o imperador Teodósio tornou o cristianismo religião oficial. Isto trouxe, ao mesmo tempo, vantagens e desgraças, pois levou a igreja à acomodação e a usufruir de privilégios que comprometeram moral, espiritual e teologicamente a sua marcha missionária na Idade Antiga e começo da Idade Moderna, quando ocorre, em 1517, o movimento da Reforma Religiosa do século XVI, uma nova fase para a história do cristianismo. MISSÃO na Idade Média A igreja, do ponto de vista histórico, tem considerado, como ação missionária que merece destaque, entre outros, três momentos de sua história, ocorridos no Oriente: as Cruzadas, expedições para libertar os lugares santos (1095-1274); o envio de missões diplomáticas aos povos da Ásia, sobretudo aos mongóis; e o envio de missionários aos povos da Ásia (franciscanos e dominicanos). É bom lembrar que, nesse período, há uma grande expansão do islamismo no Oriente Médio e na África do Norte, onde já havia muitas dioceses organizadas. No início da Idade Média, as “missões” quase sempre foram marcadas por interesses políticos e econômicos, embora mascarados como sendo um empreendimento religioso e missionário. Certas investidas da igreja, tidas como missionárias, chegaram a ser chamadas de “guerras missionárias”, pelo 30 STARK, Rodney.The Rise of Christianity. A Sociologist Reconsiders History. Princeton: Princeton University Press. 1996
  • 34. 34 seu caráter agressivo e freqüentemente brutal. Matar pagão, herege ou apóstata era algo digno de justo reconhecimento e o assassino não seria culpado, mas, sim, merecedor de louvor e honra. Os judeus, por causa da influência de Paulo e Agostinho, às vezes eram tolerados, sendo, contudo, discriminados. Teólogos, como Crisóstomo, proferiam sermões virulentos contra os judeus. Muitos judeus que recusavam a conversão ao cristianismo chegavam a ser ameaçados de execução. Durante a Idade Média, o cristianismo foi levado ao norte da Europa e, daí, para a China e a Rússia. Essa expansão deveu-se a alguns fatores. Entre eles, a constatação de que, em algumas situações, ocorreram conversões em massa de todo um povo ou uma nação, sob a influência de um governante. Essas conversões, embora significativas para a igreja e, aparentemente, positivas, por outro lado, quase sempre trazia algum prejuízo em termos de qualidade, tendo em vista a compreensão do evangelho por parte dos novos conversos. Isto também significa que era preciso que a igreja estivesse devidamente organizada para promover um amplo projeto de educação cristã para os novos seguidores, a fim de que pudessem dar, com segurança, as razões de sua fé. Essas novas conversões em massa, que ocorriam sob a ação de um rei, que bem podia ser o da própria nação, como no caso dos reis da Inglaterra, ou sob a ação de um rei invasor que via no cristianismo um apoio à sua política expansionista, como foi o caso de Carlos Magno, tinham um sentido político e ideológico. Muitas vezes, a função do rei na conversão se limitava apenas a usar o seu prestígio para favorecer à nova fé, embora tenham sido freqüentes os casos em que o rei apelou para a força a fim de levar os seus súditos para as águas do batismo. Houve também situações em que, com o fim de proteger suas fronteiras, um governante enviou missionários a países vizinhos, como ocorreu no caso da proteção prestada a Bonifácio por parte de Carlos Martel. Outro aspecto determinante para o crescimento do cristianismo na Idade Média foi a importância do monasticismo. São freqüentes os casos de monges que abandonavam seus antigos lares em busca de solidão e, assim, tornavam-se, de maneira natural, precursores e fundadores do cristianismo em regiões onde este ainda não havia chegado. Em muitos casos, como ocorreu com monges irlandeses, os que se dirigiam a terras pagãs muitas vezes o faziam conscientes de sua responsabilidade missionária, mas com o propósito primordial de praticar sua obra entre eles como um ato de renúncia. Os franciscanos e os dominicanos, por exemplo, para os quais a tarefa missionária era primordial, a disciplina monástica
  • 35. 35 tornou-se um dos pilares de sua obra. Em toda a história da igreja na Idade Média, os monges foram os que mais se distinguiram na expansão do evangelho. Mesmo quando o cristianismo se impunha pela força e pelas armas, sempre eram os monges quem seguiam os soldados e, com seu trabalho de pregação, procuravam legitimar a mudança de religião com uma sincera conversão. Mas convém ressaltar que os papas e a hierarquia romana nem sempre tiveram com a expansão do cristianismo medieval a preocupação que se poderia supor. Na verdade, antes da missão de Agostinho à Inglaterra, não se tem notícias fidedignas de algum outro caso em que o papa tenha se empenhado em enviar missionários a algum lugar. Embora as Cruzadas tenham recebido de Roma parte de seu impulso inicial, não se pode dizer que seu propósito tenha sido de caráter missionário, de maneira estrita. As ordens de São Francisco e Santo Domingo também não teriam surgido por iniciativa da autoridade de Roma, apesar de sua ligação com o Vaticano, embora seu projeto de trabalho estivesse fundamentalmente voltado para a obediência à autoridade religiosa de Roma. É incontestável, na Idade Média, o grande prestígio, influência e autoridade da Igreja de Roma sobre a humanidade. Mas seu papel na expansão do cristianismo na época não foi tão fundamental como veio a ser na Idade Moderna, certamente diante de um novo desafio para o seu futuro, com o surgimento da Reforma Religiosa do século XVI e das igrejas protestantes. Finalmente, vale destacar o teor e o sentido da mensagem anunciada pelos missionários medievais. De um modo geral, eles se ocupavam em pregar contra os deuses pagãos. Estes eram considerados impotentes, habitados pelo diabo ou seus representantes. Os apelos dos missionários eram no sentido de que as pessoas deixassem os deuses pagãos e caminhassem na direção do Deus verdadeiro, que enviou o seu Filho Jesus Cristo para salvar o mundo. Esta mensagem se fazia acompanhar de um apelo e de uma ameaça: os que não aceitassem o Deus verdadeiro sofreriam os tormentos do fogo eterno. Um argumento geralmente usado pelos missionários medievais era o de que os seguidores do Deus verdadeiro tinham garantida a prosperidade, como se percebe na vida dos fiéis seguidores do cristianismo nos países cristãos. Assim também os missionários se referiam à necessidade dos reis se tornarem cristãos, a fim de que conseguissem a vitória contra seus inimigos nas batalhas. A não aceitação dessa mensagem
  • 36. 36 levava os missionários a fazerem ameaças contra os refratários, constrangendo-os a uma possível aceitação do cristianismo. Esse tipo de pregação dos missionários medievais garantiu êxito para a missão que tinham em mente, tendo em vista que muitos povos aceitaram esse cristianismo e nele permaneceram. Mais do que tudo isso, apesar desses métodos, considerados adequados, naquela época, para a expansão do cristianismo, tal pregação deu origem a outros movimentos missionários, com métodos nem sempre cristãos, embora em nome da fé cristã. e a Igreja Católica Romana MISSÃO na Idade Moderna De acordo com Justo L. Gonzalez, em sua História das Missões, as razões comumente apontadas para justificar a superioridade das missões católicas romanas em relação aos empreendimentos protestantes na Idade Moderna não passariam de conjecturas. Mesmo assim, pode ser que tenham algum sentido como referência histórica. Essas razões seriam: a vantagem geográfica resultante das conquistas de Portugal e Espanha na América e no Sul da África; a vantagem militar e política dos católicos, decorrente das guerras de religião na Europa. A unidade católico-romana, por se tratar de uma massa monolítica que tinha mais facilidade para articulações internas, seria outro fator facilitador. Finalmente, a continuação do trabalho missionário já empreendido desde o século XIII, através das ordens mendicantes, seria um velho impulso motivador para a preservação do ideal de preservação de suas bases. Acrescente-se a isso, também, o trabalho das ordens monásticas, nas quais os monges se esforçaram na expansão do evangelho. No começo do século XVI, depois do chamado “descobrimento da América”, da descoberta do Sul da África e do início do movimento da Reforma Religiosa na Alemanha (1517), inicia-se a evangelização nessas terras recém-descobertas, sob o comando da Igreja Católica Apostólica Romana, conforme decisão do Concílio de Trento, no qual foi organizada a Contra-Reforma para combater o crescimento do protestantismo no mundo.
  • 37. 37 Preocupações tanto religiosas, como o sebastianismo, quanto políticas, como a ganância dos espanhóis e dos portugueses, beneficiaram a expansão do catolicismo nas terras recém-descobertas. Em suas expedições exploratórias e de conquista, sempre levavam sacerdotes. Tais sacerdotes, principalmente os seculares, consideravam-se em missão e entendiam que sua função limitava-se a ministrar às necessidades espirituais dos componentes da expedição. A princípio, os espanhóis, por exemplo, perguntavam-se se era possível converter índios ao cristianismo. Considerando que se tornava comum o aparecimento de ordens religiosas mendicantes, esse fato facilitou a organização de projetos missionários para divulgação do cristianismo. Foi assim que surgiu, com muito vigor missionário, a Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola. Essas ordens se tornaram o principal instrumento do trabalho missionário no Novo Mundo. A Companhia de Jesus Inácio de Loyola recebeu do Papa Paulo III a incumbência de reconquista católica em regiões protestantes e de catequese dos nativos das terras acima referidas. Além da catequese, como estratégia usada para a conversão de nativos (índios) e negros escravos procedentes da África, os seguidores de Inácio de Loyola também fundaram missões, deram ênfase à pregação anti-protestante, realizaram retiros e dedicaram-se ao ensino como instrumentos da reconquista de católicos e conquista de novos adeptos ao catolicismo. A Companhia de Jesus foi, ao mesmo tempo, uma das principais forças de combate ao protestantismo e do movimento da Contra-Reforma. Os nativos da América tiveram muita dificuldade de compreensão da mensagem cristã sob o prisma do catolicismo romano. Além de outras razões, também as práticas consideradas cristãs eram censuráveis: os conquistadores portugueses e espanhóis apoderavam-se das riquezas dos nativos e pregavam que o cristianismo do qual eram portadores anunciava um novo mundo, construído sobre os fundamentos do amor cristão. É a partir do século XVI, portanto, que o processo evangelizador toma novo curso e passa a ser comandado pelas coroas espanhola e portuguesa, também através da concessão, pelo Papa, do direito do padroado real. Pelo padroado, a igreja reconhece a posse das terras descobertas na América, África e Ásia por Portugal e Espanha. Em troca, os reis assumem a tarefa evangelizadora em sentido pleno e a igreja
  • 38. 38 fica sob o controle quase pleno das coroas. Isto significa que o envio de missionários depende da aprovação e manutenção dos governos de Portugal e Espanha. Os missionários católicos perdem, assim, a autonomia profética. Aceitam e toleram as injustiças praticadas contra os nativos e os escravos provenientes da África, condenando-as raramente e com limitações. De qualquer forma, a Idade Moderna tornou-se o período de maior expansão do cristianismo, graças às conquistas e à colonização imposta por nações européias sobre povos dominados. Essas iniciativas missionárias, repetimos, nem sempre estiveram sob a jurisdição direta do papa, mas eram patrocinadas pelas coroas, em virtude do direito do Padroado que o poder religioso de Roma havia concedido aos reis de Espanha e Portugal. É importante ressaltar que grande parte das conversões conseguidas pelo catolicismo resultava de batismos realizados em massa. Muitos índios foram assim batizados para que também se pudesse justificar a declaração de guerra aos mesmos pelos invasores, pois o batismo dava aos indígenas o “status” de “civilizados”. Na história do catolicismo na América, alguns nomes, entre os sacerdotes, merecem destaque: Bartolomeu de las Casas, dominicano, primeiramente foi colonizador, possuiu propriedades; depois, converteu-se em grande defensor dos povos indígenas, tendo influenciado, inclusive, na criação de leis protecionistas na Espanha. Pela sua disposição de proteger os verdadeiros donos da terra, Bartolomeu de las Casas recebeu na Espanha o título de Protetor Geral dos Índios. José de Anchieta, chamado de Apóstolo do Brasil e patrono dos educadores brasileiros, notabilizou-se, também por tornar-se cúmplice na morte de Le Balleur, calvinista condenado à morte por ser protestante. A história diz que Anchieta participou diretamente de seu enforcamento. Pedro Claver, que chegou a ser considerado santo, dedicou sua vida ao atendimento de negros escravos de Cartagena, na Colômbia. Antônio Montesino, dominicano, foi defensor dos índios. Antônio Vieira, jesuíta, lutou contra a escravidão no Brasil, mas, mesmo assim, chegou à conclusão de que o sistema português não funcionaria sem escravos. Antônio de Valdivieso, bispo da Nicarágua, morreu assassinado por defender os indígenas. O envio desses agentes eclesiásticos às colônias foi chamado de “missão”, termo empregado incialmente por Inácio de Loyola, sendo tais agentes chamados de missionários.
  • 39. 39 MISSÃO e a Igreja Protestante A Reforma Religiosa do século XVI (1517) marca o início do protestantismo, a princípio conhecido como luteranismo. Este surgiu como “movimento confessante” dentro da cristandade católica romana ocidental. A Reforma visava corrigir os erros de uma cristandade já existente, sem pretender uma nova forma de cristianismo, conforme está escrito no prefácio da Confissão de Augsburgo (1530). Apesar dessa pretensão inicial, circunstâncias históricas favoreceram o surgimento de igrejas luteranas separadas, com características confessionais muito claras. Lutero e a missão O líder da Reforma chegou mesmo a ser considerado omisso em relação a empreendimentos missionários, embora fiel à ordem missionária encontrada nas Escrituras, segundo a qual a igreja, a palavra de Deus e todo crente batizado são instrumentos cruciais para a missão. Houve quem o achasse possuidor de uma consciência missionária deficiente. Mas também houve quem entendesse que essa “deficiência” de Lutero estava relacionada às muitas tarefas urgentes de sua causa ou ao fato de que ele “simplesmente acreditava que o fim do mundo estava tão próximo que o esforço não valia a pena”. Na verdade, Lutero estava muito preocupado com a sua tarefa de ver a igreja reformada e de ver convertidos os que ainda se mantinham fiéis a velhos costumes e doutrinas controvertidas. Por isso, teria afirmado que a Grande Comissão, conforme aparece nos evangelhos, no sentido de ir por todo o mundo pregando o evangelho, foi dada somente aos apóstolos, não se aplicando aos cristãos de sua época. Segundo Lutero, cada cristão deveria, então, permanecer no lugar em que tinha sido colocado para trabalhar pela causa do evangelho. Apesas disso, em vários momentos, encontramos Lutero pronunciando-se sobre a importância da obra missionária, mostrando, inclusive, que a missão é a tarefa essencial da igreja em todos os tempos. Porém, ele ressalva que somente pode fazer missão uma igreja que está, ela própria, fundamentada e Evangelho. Em nenhum lugar, contudo, o reformador faz da igreja o ponto de partida ou o alvo final da missão, como
  • 40. 40 queria a missiologia do século XIX. Em Lutero, a missão é sempre obra de Deus, a missio Dei, cujo alvo e resultado são a vinda do reino de Deus. Calvino e a missão De maneira semelhante à posição de Lutero, Calvino também admitiu que o apostolado foi um ofício extraordinário, confiado aos primeiros discípulos de Jesus. Zuínglio, porém, achava que o ofício apostólico continua através da história da igreja, e que Deus chama pessoas e as envia para pregar o evangelho em diferentes partes do mundo. Todavia, Calvino também demonstrou, em todo o seu trabalho, certo interesse pela missão, tendo chegado a propor uma teologia essencialmente missionária, sem, contudo, admitir o emprego da força para cristianizar pessoas, como fizeram agentes missionários católicos. Apesar das evidências acima, vários missiólogos católicos chegaram a dizer que os reformadores eram indiferentes e até hostis à missão. David Bosch cita o cardeal Berlamino que disse: “Hereges jamais converteram pagãos ou judeus à fé, mas somente perverteram cristãos.” Apesar do rigor da afirmação, este tipo de pronunciamento parece verdadeiro; porém, isto toma outro sentido quando se reconhece historicamente que “pouquíssimo aconteceu em termos de empreendimentos missionários durante os primeiros dois séculos após a Reforma” (D. Bosch). As razões para isto estão relacionadas a vários fatores: os protestantes inicialmente estavam mais preocupados com a reforma da igreja; não tinham muito contato com os povos não-cristãos; lutavam pela sua sobrevivência doutrinária, social, política e econômica, com muitas contendas e dissensões a serem superadas; e necessitavam de tempo para que se desenvolvesse no protestantismo um movimento missionário monástico próprio. Apesar desses fatores, a história das missões ou das missões protestantes mostra-nos que esse aparente desinteresse nem sempre predominou. De fato, houve significativos esforços missionários protestantes empreendidos a partir do século XVIII. Já se afirmava, no final do século XVII, que o catolicismo implantara, na América Latina, um cristianismo deformado, razão pela qual começaram a surgir iniciativas norte-americanas de “transferir para a América Latina os benefícios do ‘sonho americano’ ou do ‘estilo americano de vida’, cujos componentes são o patriotismo, racismo e protestantismo”.
  • 41. 41 Contribuições para a explosão missionária no século XIX O século XIX foi chamado o “século das missões”. Várias foram as contribuições para que isso acontecesse. Referimo-nos, inicialmente, à influência do despertamento missionário ocorrido entre os irmãos morávios, sob a liderança do conde Nicolaus Ludwig Von Zinzendorf, grandemente influenciado pelo pietismo. Suas características principais são: cada missionário deve entregar-se totalmente a Cristo para trabalhar em qualquer lugar do mundo e com total amor à família humana; cada cristão é um missionário e deve compartilhar sua fé onde está; cada missionário é um trabalhador e sustenta a si próprio e sua família. O projeto dos morávios expandiu-se para as Ilhas Virgens (1732), Groenlândia (1733), América do Norte (1734), Lapônia e América do Sul (1735), África do Sul (1736), América Central (1849) e Alasca (1885). William Carey, um sapateiro inglês, foi considerado o “pai das missões modernas”, ao iniciar um empreendimento missionário em 1792. Filho de família humilde, foi influenciado pela cultura de seu pai, que era professor, obtendo assim certo grau de conhecimento escolar, obtendo, inclusive, o gosto pela leitura. Descobriu os valores da vida cristã em contato com um amigo e, por intermédio dele, passou a freqüentar uma Igreja Batista, onde foi recebido pelo batismo. Através de esforços pessoais, fez para si um mapa detalhado com o nome de diversas regiões, com o caráter e as religiões de seus habitantes. Era a busca de uma visão mundial da humanidade, um passo para a carreira missionária que viria a seguir. Ao estudar a Bíblia sob a influência de seus conhecimentos geográficos, William Carey chegou à conclusão de que a tarefa missionária era tarefa dos cristãos em todas as épocas da história da humanidade. Foi assim que publicou um estudo sobre a obrigação dos cristãos de empregar meios que viabilizem a conversão dos pagãos. Foi assim também que Carey, em maio de 1792, pregou diante da Associação dos Ministros Batistas sobre Isaías 54.2-3. Em outubro do mesmo ano, constituiu a Sociedade Batista Particular para Propagar o Evangelho entre os Pagãos. Em 1793, acompanhado do médico John Thomas e contra a vontade da esposa, que a princípio negou-se a segui-lo, iniciou o trabalho missionário na Índia, em Calcutá, apesar das circunstâncias adversas do lugar. Graças à sua dedicação à obra missionária e com a ajuda de seus companheiros de missão, imprimiu as
  • 42. 42 primeiras Bíblias na linguagem do povo do lugar, com traduções por ele mesmo realizadas. Em 1812, recebeu a ajuda de Adoniram Judson. Este, depois de um tempo com Carey, seguiu para Mianmar (ex- Burma), onde lançou as bases de mais um projeto missionário. David Livingstone, também considerado o herói da Inglaterra vitoriana, desenvolveu um magnífico trabalho missionário que se estendeu à África a partir de 1840, ligado à Sociedade Missionária Londrina. Na África, Livingstone viajou 48 mil quilômetros realizando um trabalho missionário que foi além do convencional, ao descobrir rios, medidas topográficas e cruzar pela primeira vez o lago Tanganica, fixando sua extensão. Várias organizações tornaram-se importantes para empreendimentos missionários no mundo: a Sociedade Missionária Batista, da Inglaterra (1792); a Sociedade Missionária Londrina e Sociedade Missionária da Igreja (1795); a Sociedade Missionária dos Países Baixos (Holanda, 1797); a Missão da Basiléia (1815); a Junta Americana de Comissários e Missões Estrangeiras (EUA, 1810); e a Junta Americana Missionária Batista (1814). Com a expansão colonial do mundo anglo-saxão, percebe-se que o movimento missionário atingiu escala mundial. MISSÃO E EVANGELIZAÇÃO na Perspectiva Ecumência O final do século XIX representa também o começo de uma nova etapa na história das missões. Até a realização da Conferência de Edimburgo (1910), o principal marco nessa nova etapa da história das missões, três conferências mundiais aconteceram: em Liverpool, 1860; em Londres, 1888; e em Nova Iorque, 1900. Em nível continental, também ocorreram conferências missionárias na Ásia, na África e na América Latina. Todas tiveram um novo enfoque missionário, discutindo temas como: tradução da Bíblia; ajuda médica; trabalho social; literatura em língua nativa; formação de pessoal em nível nacional, continental e mundial; lugar e formação da mulher; evangelização de novas regiões; crescimento da igreja; relação entre os missionários estrangeiros e nacionais; desenvolvimento, auto-sustento e auto- administração das igrejas; e relação com os governos. Já se percebe um grande interesse pela integralidade da missão.