1. O documento discute as visões de diversos pensadores sobre a natureza humana e origens da violência, incluindo se é inata ou produto do ambiente. 2. Alguns teorizam que a violência surgiu com a propriedade privada e sociedades, enquanto outros acreditam que os seres humanos eram originalmente não violentos. 3. Há debates sobre os papéis da frustração, agressividade e organização social no desenvolvimento da violência entre os humanos.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
A superação da escalada da violência e das guerras no mundo
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A SUPERAÇÃO DA ESCALADA DA VIOLÊNCIA E DAS GUERRAS NO
MUNDO
Fernando Alcoforado*
Vivemos em um mundo que tem como uma das suas características principais a
violência praticada pelo homem contra seus semelhantes. A percepção de muita gente é
a de que a violência representa o predomínio do instinto animal que possuímos sobre os
valores da civilização. Isto explicaria a escalada da criminalidade e das guerras em todas
as épocas em todo o mundo. O debate sobre a violência coloca na ordem do dia a
questão sobre a natureza humana cujo tema foi tratado por eminentes pensadores como
Raymond Aron (filósofo e sociólogo francês), Henry Bergson (filósofo e diplomata
francês), Hannah Arendt (filósofa alemã), Sigmund Freud (austríaco, neurologista e
fundador da Psicanálise), Carl Rogers (norte-americano precursor da psicologia
humanista), Thomas Hobbes (cientista político, filósofo e matemático inglês), Jean-
Jaques Rousseau (escritor e filósofo suíço) e Karl Marx (economista, filósofo,
historiador e cientista político alemão), entre outros. Há milênios cientistas e filósofos
levantam a seguinte questão: a natureza humana é inata ou é produto do ambiente ou de
ambos? É determinada geneticamente ou pela sociedade onde vive o ser humano ou por
ambos?
Por que o mundo se torna mais violento a cada ano? Não apenas se verifica um aumento
do número de conflitos armados no globo, como as próprias pessoas estão mais
violentas. Uma simples desavença de trânsito pode terminar em morte. Pessoas calmas,
sociáveis e aparentemente normais transformam-se, de uma hora para a outra, em
criminosos frios e implacáveis. Qual a explicação para isso? Não é incomum a
afirmativa de que desde que o mundo é mundo, sempre existiu a violência entre os seres
humanos. Será difícil encontrar alguém hoje que não acredite nesta afirmativa. E, no
entanto, ela é falsa. Nos primórdios da humanidade não havia a violência que se
manifesta hoje nas relações entre os indivíduos e entre as comunidades humanas e
estados nações.
Nenhum ser humano, nenhum povo daquele tempo longínquo teria tido a ideia de
agredir um seu semelhante. Nem sequer, eles seriam capazes de, por exemplo, de anexar
terras do seu vizinho contra a sua vontade, por meio da força bruta. É difícil tentar
estabelecer um paralelo entre o modo de vida dos seres humanos daquela época com a
humanidade de hoje. Naquela época, o viver em paz e harmonia com os seus
semelhantes era para os seres humanos algo tão natural como respirar, comer e dormir.
Seres humanos já viveram na Terra, sem se ofenderem ou se maltratarem uns aos
outros, muito menos guerrearem entre si. Isso, contudo, foi há muito, muito tempo.
Nenhum registro dessa época chegou até o presente e, por isso, é suposto que esta
situação não tenha existido.
Segundo Raymond Aron (1962), à medida que a vida do homem se organiza em
famílias e em bandos, menos prováveis nos poderiam parecer as condutas propriamente
belicosas. A maior parte dos animais luta, mas são raras as espécies que praticam a
guerra, entendida como ação coletiva e organizada (ARON, Raymond. Paz e Guerra
entre as nações. Editora Universidade de Brasília, 1962). Aron afirma que a guerra é o
choque de condutas organizadas, uma prova de força entre “equipes”, cada uma das
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quais pretendendo levar a melhor sobre a outra mediante a multiplicação do vigor de
cada combatente pela disciplina do conjunto. Neste sentido, a guerra não pode ser
anterior à formação de equipes, fenômeno social que implica na existência da sociedade.
Vamos encontrar na Suméria a primeira prova da existência de tropas com treinamento
militar.
O homo sapiens surgiu há cerca de 600.000 anos. A revolução neolítica, a agricultura
regular e a criação de animais datam de uns 10.000 anos. As civilizações ou sociedades
complexas surgiram há cerca de 6.000 anos. Isto significa dizer que o período
denominado histórico representa um centésimo da duração total da existência da
humanidade no planeta Terra. Segundo Aron, nenhum antropólogo encontrou jamais
qualquer prova de que os homens tivessem elaborado uma organização ou uma tática de
combate antes da idade Idade do Bronze (3300 a.C. a 1300-700 a.C.). Não surpreende,
pois, que os primeiros indícios incontestáveis dos exércitos e da guerra datem da Idade
do Bronze que é um período da civilização no qual ocorreu o desenvolvimento desta
liga metálica resultante da mistura de cobre com estanho.
Assim como para os primeiros seres humanos seria inconcebível a ideia de causar
qualquer dano ao seu semelhante, hoje, soa como ilusão, fantasia, a ideia de um mundo
sem conflitos, por considerarmos a violência como uma característica própria do ser
humano. Pode-se especular se não teria havido uma fase intermediária entre os muitos
milênios durante os quais o homem viveu sob a ameaça das feras e o período, bem mais
curto, em que a ameaça a sua segurança passou a se originar em outros homens. Seria
uma época em que os homens possuíam meios técnicos suficientes para a defesa contra
as feras e sem engajamento na busca das riquezas e nas lutas de classes, nas conquistas
e nos domínios. Está demonstrado que sociedades pequenas, sem instrumentos
metálicos, isoladas, ainda não mostram traços característicos das sociedades belicosas.
Raymond Aron afirma em sua obra acima citada que os biólogos chamam de
agressividade a propensão de um animal a atacar outro da mesma espécie ou espécie
diferente. Na maior parte das espécies (mas não em todas) os indivíduos lutam entre sí.
Alguns não são agressivos (isto é, não tomam a iniciativa do ataque), mas se defendem
quando são atacados. Entre os primatas, o homem se situa na parte inferior da escala de
agressividade. Enquanto animal, é relativamente combativo. Em outras palavras, basta
um estímulo pouco intenso para levá-lo a desencadear a agressão.
Segundo Aron, entre os vertebrados superiores, os grupos frequentemente manifestam
agressividade com respeito a indivíduos que não pertencem à sua coletividade. Na
espécie humana, porém, as manifestações de agressividade são inseparáveis da vida
coletiva. Mesmo quando se trata da reação de um indivíduo contra outro, a
agressividade é influenciada, de muitos modos, pelo contexto social. O surgimento de
uma existência propriamente social não foi a única causa das novas dimensões que
assumiu o fenômeno da agressividade: a frustação e a inadaptação resultantes da reação
agressiva constituem o fato mais importante nas relações humanas.
Aron é defensor da tese de que a frustação é uma experiência psíquica, revelada pela
consciência. Todos os indivíduos sentem frustações desde a infância. A frustação é
antes de mais nada a experiência de uma privação, isto é, um bem desejado e não
alcançado, uma opressão sentida penosamente. A cadeia de causalidade que leva às
emoções ou aos atos de agressividade se origina sempre em um fenômeno externo. Não
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há prova fisiológica que haja uma incitação espontânea à luta, originada no próprio
organismo do indivíduo. A agressão física e a vontade de destruir não constituem a
única reação possível à frustração. A dificuldade em manter a paz está mais relacionada
à humanidade do homem do que à sua animalidade. O homem é o único ser capaz de
preferir a revolta à humilhação, e a verdade à vida.
Henry Bergson, por sua vez, afirma que a origem da violência e da guerra é a existência
da propriedade, individual ou coletiva, e como a humanidade está predestinada à
propriedade, pela sua estrutura, a violência e a guerra seria natural (BERGSON, Henry.
Les Deux Sources de la Morale et de la Religion. French & European Pubns, 1976). Os
povos que temem a falta de alimentos e das matérias-primas de que necessitam se
julgam ameaçados pela fome ou o desemprego, são capazes de tudo. Para sobreviver,
estão prontos a atacar. Assim nascem as guerras autênticas, ajustadas à sua essência.
Hannah Arendt abordou a questão da violência em sua obra On Violence publicado pela
Harvest Book em 1970 na qual discute, especialmente com Niezstche e Bergson, acerca
do que ela chama da justificação biológica da violência. Estes pensadores atribuem ao
poder uma dimensão expansionista natural e uma necessidade interna de crescer. A ação
violenta, neste contexto, é explicada como uma estratégia para conceder ao poder novo
vigor e estabilidade. Arendt contesta esta posição, afirmando que “nada poderia ser
teoricamente mais perigoso do que a tradição do pensamento organicista em assuntos
políticos, por meio da qual poder e violência são interpretados em termos biológicos.
Arendt sustenta que nem a violência nem o poder são fenômenos naturais, isto é, uma
manifestação do processo vital, eles pertencem ao âmbito político dos negócios
humanos, cuja qualidade essencialmente humana é garantida pela faculdade do homem
para agir, a habilidade para começar algo novo. Arendt descarta as metáforas orgânicas
da violência como doença da sociedade. A desnaturalização do fenômeno da violência
em Hannah Arendt é sua recusa em associar o processo histórico com a luta pela
sobrevivência e a morte violenta no reino animal e de abrir mão do significado da
política enquanto determinação do humano. Arendt refuta afirmações como a de Wright
Mills de que toda política é uma luta pelo poder e de que a forma básica de poder é a
violência, de Max Weber de que o domínio do homem pelo homem é baseado nos
meios de violência legítima ou de Bertrand de Jouvenel de que a guerra apresenta-se
como uma atividade que pertence à essência dos Estados.
Freud enfatiza em sua obra os aspectos destrutivos do homem. Fica evidenciada a
necessidade, colocada por Freud, no sentido de controlar e de coibir o indivíduo, devido
ao perigo que ele poderia representar para a sociedade, o que o leva a concluir que o
homem, por ele preconizado, não é, socialmente falando, muito digno de confiança.
Segundo Freud, a sociedade civilizada está perpetuamente ameaçada pela desintegração
por causa dessa hostilidade primária dos homens entre si. A cultura tem de recorrer a
todo reforço possível a fim de erigir barreiras contra o instinto agressivo dos homens.
Diante de um ser tão hostil e desintegrador, nada mais natural do que a sociedade fazer
uso do seu poder de coerção (Ver o artigo de Sonia Maria Lima de Gusmão sob o título
A natureza humana segundo Freud e Rogers postado no website
<http://www.rogeriana.com/sonia/natureza.htm>).
No artigo acima citado, constata-se que, em Carl Rogers observa-se o oposto da visão
de Freud, pois ele acredita que é justamente em um contexto coercitivo, onde o
indivíduo não pode expandir-se, ou melhor, atualizar o seu potencial, que o torna hostil
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ou antissocial. Caso contrário, nada temos a temer, pois, seu comportamento tenderá a
ser construtivo. Rogers observa que, quando o homem é, verdadeiramente, livre para
tornar-se o que ele é no mais fundo de seu ser, quando é livre para agir conforme sua
natureza, como um ser capaz de perceber as coisas que o cercam, então ele, nitidamente,
se encaminha para a globalidade e a integração. A concepção de uma visão ingênua da
natureza humana atribuída a Rogers encontra-se bem longe da verdade porque ele tinha
consciência de que para se defender e movido por medos intensos, indivíduos podem e,
de fato, se comportam de modo incrivelmente destrutivo, imaturo, regressivo,
antissocial e nocivo.
Hobbes tem como tese central sobre a conduta humana, que todos os seres humanos são
egoístas e estão dispostos a usar os outros em seu próprio benefício. Hobbes fala da
“guerra de todos contra todos”, à luta permanente que se desencadearia se os homens
não vivessem em segurança e tivessem que depender por completo dos seus próprios
recursos. Hobbes procura mostrar que não pode haver sociedade sem governo e sem as
sanções da lei. Haveria apenas indivíduos antagônicos entre si. Hobbes compara a vida
humana a uma corrida, em que temos que supor que não há outro objetivo nem outro
prêmio a não ser o de conseguir chegar em primeiro lugar. A competição – o desejo de
superar o outro – é parte da trama de nossas vidas: ou queremos alcançar algo à custa
dos outros, ou queremos defender aquilo que já conquistamos (Ver o artigo de Roger
Trigg sob o título A Natureza Humana em Hobbes postado no website <http://qualia-
esob.blogspot.com.br/2008/03/natureza-humana-em-hobbes.html>).
A ideia central no pensamento de Rousseau se fundamenta na convicção da bondade
natural do homem. Segundo Rousseau, os percalços da socialização afastaram o homem
de si próprio lançando-o contra o seu semelhante. É nesse processo de transformação
que o homem se degenera. Porque ele abandona seus instintos naturais passando a usar
a justiça no lugar da piedade. Os sentimentos naturais levam os homens a servirem o
interesse comum, enquanto que a razão impele ao egoísmo. Para ser virtuoso basta que
o homem siga os sentimentos naturais mais do que a razão. Para Rousseau, a
socialização é a causa da desnaturação do homem, e o melhor caminho para a sua
degradação. A comunhão com a natureza é a única forma de preservação da verdadeira
essência do homem. (Ver o artigo de Dalva de Fatima Fulgeri sob o título Conceito de
natureza em Rousseau postado no website
<http://www.paradigmas.com.br/parad12/p12.6.htm>). J.J. Rousseau pensava que as
guerras surgem, ou pelo menos se ampliam, com a expansão das coletividades e que a
desigualdade de classe e a propriedade individual estão ligadas às guerras de conquista e
ao domínio pelos guerreiros. Não poderia ser diferente, uma vez que as unidades
políticas foram forjadas para o combate e o preço da vitória foi sempre a terra, escravos
e metais preciosos.
Para Marx, o que caracteriza o homem não é apenas a racionalidade, mas o fato de ser o
artífice do seu próprio desenvolvimento. Os seres humanos são capazes de mudar o
mundo ao seu redor e, fazendo isso, mudam a si mesmos. (Ver o artigo A Natureza do
Homem Segundo Karl Marx postado no website
<http://nomosofia.blogspot.com.br/2011/10/natureza-do-homem-segundo-karl-
marx.html>). Marx apresentou uma definição da essência da natureza humana nos
Manuscritos Filosóficos, caracterizando os seres humanos como atividade livre e
consciente, em contraste com a natureza do animal. (Ver o artigo de Nildo Viana sob o
título A Renovação da Psicanálise por Erich Fromm postado no website
<http://br.monografias.com/trabalhos914/renovacao-psicanalise-fromm/renovacao-psicanalise-
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fromm.shtml>). Marx afirma que os conflitos sociais resultam da divisão da sociedade em
classes com o surgimento da propriedade privada em substituição à propriedade coletiva
dos meios de produção imperante nas sociedades primitivas.
Pelo exposto, constata-se que Aron defende a tese de que a agressividade é influenciada,
de muitos modos, pelo contexto social, Bergson, afirma que a origem da violência e da
guerra é a existência da propriedade, individual ou coletiva, Arendt sustenta que nem a
violência nem o poder são fenômenos naturais, isto é, uma manifestação do processo
vital os quais pertencem ao âmbito político dos negócios humanos, Freud e Hobbes
convergem em seus pensamentos ao considerar os instintos agressivos do homem e a
necessidade da coerção para reprimi-los. A visão pessimista de Freud e Hobbes é
contraposta à de Carl Rogers que afirma que apenas em um contexto coercitivo o
homem se torna hostil ou antissocial e que se não há coerção ele tenderá a ser
construtivo. Rousseau tem como ideia central a convicção da bondade natural do
homem e de que a sociedade é que o degenera lançando-o contra o seu semelhante.
Marx afirma que o homem é artífice do seu próprio desenvolvimento e que os seres
humanos são capazes de mudar o mundo ao seu redor e, fazendo isso, mudam a si
mesmos. Em síntese, fica bastante claro que a existência de uma sociedade baseada na
justiça social, antítese do desumano sistema capitalista em vigor, pode fazer com que os
seres humanos tenham comportamento construtivo e sejam capazes de mudar o mundo
ao seu redor e, ao fazer isso, mudar a si mesmos. Esta é a forma de combater a violência
que contribui cada vez mais para a desintegração social do mundo em que vivemos.
Para fazer com que os seres humanos tenham comportamento construtivo e sejam
capazes de mudar o mundo ao seu redor, é preciso educá-los. Kant, o filósofo, assim
compreende a educação: desenvolver no indivíduo toda a perfeição de que ele é
suscetível, Tal é o fim da educação. Pestalozzi, o pedagogo consumado, diz: educar é
desenvolver progressivamente as faculdades espirituais do homem. John Locke, grande
preceptor, se expressa desta maneira sobre o assunto: educar é fazer Espíritos retos,
dispostos, a todo o momento, a não praticarem coisa alguma que não seja conforme à
dignidade e à excelência de uma criatura sensata. Lessing, autoridade não menos ilustre,
compara a obra da educação à obra da revelação, e diz: a educação determina e acelera
o progresso e o aperfeiçoamento do homem.
O combate à violência no mundo só será vitorioso com a educação de todos os seres
humanos em todos os quadrantes da Terra a fim de que, por este intermédio, adquiram a
consciência do mundo em que vivem, se organizem em cada país e em todo o mundo,
para realizarem as mudanças políticas, econômicas e sociais necessárias à eliminação
das desigualdades sociais e dos entraves ao desenvolvimento político, econômico,
social e ambiental em seus respectivos países. Paralelamente ao esforço de educação de
todos os seres humanos, é preciso que a humanidade seja dotada o mais urgentemente
possível de instrumentos necessários a ter o controle de seu destino e colocar em prática
uma governança democrática do mundo. Este é o único meio de sobrevivência da
espécie humana e de sustar a decadência da humanidade que se manifesta na violência
desenfreada como a que ocorre no momento entre israelenses e palestinos na Faixa de
Gaza. Não existe nenhum outro meio capaz de assegurar os interesses da humanidade e
de todas as nações, de todas as formas de vida e das gerações futuras.
Uma governança democrática do mundo não substituiria os governos de cada nação.
Seu papel seria o de construir a governabilidade da economia e do meio ambiente global
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e a manutenção da paz mundial. Por seu intermédio, seria perseguida a defesa dos
interesses gerais do planeta. Ela zelaria no sentido de cada Estado respeitar os direitos
de cada cidadão do mundo buscando impedir a propagação dos riscos sistêmicos
mundiais de natureza econômica e ambiental. Ele evitaria o império de um só e a
anarquia de todos como ocorre no momento. Uma governança com essas características
só pode resultar do consenso entre todos os povos e nações do mundo. A preservação da
paz é a primeira missão de toda nova forma de governança mundial.
Amanhã, quem vai governar o mundo? Ninguém, provavelmente, se nada for feito para
construir uma governança global. E este é o pior cenário. No entanto, as crises
econômica, financeira, ecológica, social e política mundial e o desenvolvimento de
atividades ilegais e criminosas de hoje mostram a urgência de uma governança mundial.
A humanidade tem de entender que tem tudo a ganhar se unindo em torno de uma
governança democrática no mundo representativa dos interesses das nações, incluindo a
mais poderosa, controlando o mundo em sua totalidade, no tempo e no espaço.
A nova ordem mundial a ser edificada deve organizar não apenas as relações entre os
homens na face da Terra, mas também suas relações com a natureza. É preciso,
portanto, que seja elaborado um contrato social planetário que possibilite o
desenvolvimento econômico e social e o uso racional dos recursos da natureza em
benefício de toda a humanidade. A edificação de uma nova ordem mundial baseada
nesses princípios é urgente. Esse governo vai existir um dia mesmo que aconteça após
um gigantesco desastre econômico ou ambiental. É urgente pensar nisso para sustar a
violência e as guerras que proliferam em todo o mundo.
Fernando Alcoforado, 74, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.