1. TRIGO, João Ribeiro & COSTA, Jorge Adelino. Liderança nas Organizações
Educativas: Direção por Valores. Ensaio: Aval. Pol. Públ. Educ., Rio de Janeiro, v.
16, nº 61, p. 561 a 582, out./ dez. 2008.
Eduardo Vieira Corrêa1
Texto bem escrito, claro e cientificamente bem postado, destinado àqueles
que exercem cargos de liderança nas instituições educacionais, aborda a temática
da liderança, ao mesmo tempo velha e nova. Velha porque é vasta a literatura que
trata do assunto nas teorias de Administração de Empresas e Sociologia das
Organizações e nova porque, só recentemente, as organizações educacionais
iniciaram discussões sobre liderança e gestão buscando modelos já existentes nas
empresas visando adequá-las às organizações educativas. Nesse ínterim, o artigo
abordara competentemente a questão da liderança a partir das Ciências das
Organizações. Para tanto, é alicerçado em fontes teóricas de respeito, tais como:
Perrenoud (liderança Profissional), Whitaker (liderança como chave para o
crescimento e desenvolvimento institucional) e Marçal Grilo, Ministro da Educação
de Portugal (três condições para uma escola de qualidade: projeto, liderança forte e
estabilidade do corpo docente), dentre outros.
O que é liderança? Quais tipos existem? Qual modelo de liderança nas
organizações inspira as organizações educativas? Essas questões – pertinentes na
atualidade – motivaram João Ribeiro Trigo (Diretor do Colégio do Rosário/
Portugal) e Jorge Adelino Costa (Doutor em Ciências da Educação e Professor da
Universidade de Aveiro/ Portugal) a investigar a vasta literatura produzida sobre
Teoria das Organizações. Dentre os diversos modelos encontrados destacaram
um, cuja abordagem teórica aproxima-se do ideal para as organizações educativas:
Direção por Valores (liderança estratégica baseada em valores). Defendem a
proposta porque ela abarca princípios reflexivos, desenvolvendo conceitos e
apontando caminhos para melhoria dos níveis de eficácia nas instituições
educacionais.
1
Aluno do curso de Pós-Graduação em Supervisão Pedagógica e Formação de Professores com acesso ao
Mestrado Europeu em Ciências da Educação, Faculdade Mário Schenberg. Resenha elaborada nas aulas de
a a
Supervisão Organizacional e Liderança, ministradas pela docente Prof . Dr Miriam Pascoal.
2. O texto aponta para uma certeza: vivemos nas organizações. Adota a
clássica definição de Etzioni como ponto de partida para explicitar o sentido do
conceito. Na íntegra, temos que “as organizações são unidades sociais (ou
agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas a fim de
atingir objetivos específicos” (Trigo & Costa: 2008, 563).
Os autores, de maneira didática e organizada, abordam a escola como
organização educativa. Destacam a evolução histórica dos movimentos sobre
Direção por Valores iniciados na década de 90 nos EUA e Espanha e a busca de
referenciais teóricos na Sociologia das Organizações e nas teorias de
Administração.
A abordagem de diferentes tipos de liderança nas organizações educativas,
antes mesmo de defender a tese da liderança humanista por valores (Direção por
Valores), facilita a compreensão dos motivos expressos para a escolha do modelo
que, ora, ocupa substancial parte do texto. Liderança convencional, pós-
convencional, dissonante, ressonante, transformacional, moral, colegial,
pedagógica e polifônica constituem exemplos dos tipos destrinchados no artigo.
Com efeito, todos os tipos são encontrados nas diversas organizações e buscam a
modificação de comportamentos e a melhoria das relações interpessoais. Contudo,
é na Direção por Valores que encontram guarita para suas convicções.
Pós-convencional, participativa, democrática e dialógica, a Direção por
Valores prima pelo respeito ao fator humano nas relações interpessoais, aspecto
primordial da liderança neste viés. Não obstante, busca a simplificação, orientação
e a eficácia na medida em que trabalha a complexidade das relações humanas
dando sentido ao SER e ao AGIR a partir da construção de uma Cultura
Organizacional e da identificação dos valores intrínsecos aos membros de uma
organização educativa.
Trigo e Costa deixam claro que, diferente de outros tipos de liderança que
buscam a eficiência, a Direção por Valores busca a autonomia, a criatividade, o
diálogo como forma de resolução de conflitos e tomada de decisões, enfim, a
eficácia. Propõem o modelo eutópico triaxial como referência de empresa “boa para
se trabalhar” onde os valores éticos perfazem o centro da tríade ladeados pelos
valores práxicos (prática) e valores poiéticos (emocionais e criativos).
3. Por fim, finalizam o texto de maneira apaixonada e, de certa maneira,
esperançosos, na medida em que depositam neste modelo a crença de que uma
organização educativa onde exista uma cultura organizacional clara e objetiva,
onde todos partilhem valores éticos definidos, possam, de algum modo, contribuir
para a construção de pessoas mais dignas, realizadas pessoal e profissionalmente
em meio à reconstrução complexa e incessante do caos social.
Humanista, democrática e dialógica, percebemos que a liderança por
valores, na atualidade, não somente é desejada como necessária. Em meio à crise
de valores que vivenciamos, tal proposta nos permite vislumbrar um futuro melhor e
voltado para as pessoas e não para as mercadorias do capitalismo consumista
desenfreado. Quem somos? Para onde vamos? Tais perguntas nos colocam numa
situação de reflexão frente ao mundo no qual vivemos e este artigo, de maneira
primorosa, nos ajuda a pensar uma escola melhor, com pessoas melhores e com
uma gestão mais eficaz e dirigida por valores.