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Literário, sem frescuras!
                                           1664-
                                      ISSN 1664-5243




                               ESPECIAL
                               VARAL DO
                               LIVRO




                      2013—
  Ano 3 - Setembro de 2013—Edição no. 17B
Varal do Brasil, literário sem frescuras!




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Varal do Brasil, literário sem frescuras!




                                                                                      ®




                                                                         1664-
                                                                    ISSN 1664-5243




                        LITERÁRIO, SEM FRESCURAS


                               Genebra, outono de 2012
                       No. 17B - ESPECIAL VARAL DO LIVRO

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                  EXPEDIENTE
Revista Literária VARAL DO BRASIL

                           1664-
NO. 17B- Genebra - CH ISSN 1664-5243

Especial Varal do Livro
Copyright Vários Autores
O Varal do Brasil é promovido, organizado e realizado
por Jacqueline Aisenman
Site do VARAL: www.varaldobrasil.com
Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com
Textos: Vários Autores
Coluna: Sarah Venturim Lasso
Ilustrações: Vários Autores
Foto capa: © Yuri Arcurs - Fotolia com

Foto contracapa: © Jacqueline Aisenman
Muitas imagens encontramos na internet sem ter o                    Há livros escritos
nome do autor citado. Se for uma foto ou um dese-                   para evitar espaços
nho seu, envie um e-mail para nós e teremos o maior                 vazios na estante.
prazer em divulgar o seu talento.
Revisão parcial de cada autor                                       Carlos Drummond
                                                                    de Andrade
Revisão geral VARAL DO BRASIL
Composição e diagramação:
Jacqueline Aisenman
A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A re-
vista está gratuitamente para download em seus site
e blog.
                                                                       O saber a gente
                                                                       aprende com os mes-
Se você deseja parƟcipar do VARAL DO BRASIL NO. 18                     tres e os livros. A sa-
envie seus textos até 10 de outubro de 2012 para: va-                  bedoria, se aprende
                                                                       é com a vida e com
raldobrasil@gmail.com , Tema Livre
                                                                       os humildes.
O tema da edição no. 19 será sobre o Planeta Terra,                    Cora Coralina
sobre a vida, a natureza, os animais, o ser humano.
Declare o seu amor pelo Planeta!
Para janeiro, inscrições até 30 de novembro


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O livro está para todo leitor e para todo escritor como o alimento está para aquele que tem
fome e sede: ele sacia.
Também é o livro a chave que abre portas antes talvez nem sequer imaginadas. Através de
personagens, de palavras, viajamos e conhecemos mundos inteiros tanto quanto nos atuali-
zamos sobre o mundo em que vivemos.
O livro, já há tanto tempo companheiro de jornada em minha vida, me fez ser quem eu sou.
E por isto que fosse apenas, eu já lhe seria agradecida pois me considero uma pessoa feliz.
Mas os livros fizeram mais por mim: me levaram para perto de pessoas maravilhosas que
leem e escrevem. Pessoas estas que têm feito parte do Varal há quase três anos circulando
pelo vasto mundo virtual.
Conheço uma expressão que é “rato de biblioteca”.
E quando penso nesta expressão duas pessoas
em particular vêm à minha cabeça e coração: mi-
nha mãe, que lia tudo o que caía em suas mãos,
de revistas à livros que incansavelmente ela devo-
rava! E minha amiga de infância, Marilene Remor
Mattar, por muitos anos dedicada funcionária e di-
retora da Biblioteca Pública da cidade de Laguna,
Santa Catarina. E é graças a ela, posso dizer com
orgulho, que aquele recinto dedicado aos livros e
aos leitores funcionou tão bem durante tantos
anos. Marilene lutou contra monstros, moinhos de
vento e ideologias para manter aberta a “sua” ama-
da biblioteca.
Hoje chegaram também os livros eletrônicos. Não os menosprezemos, eles já estão presen-
tes e estão conseguindo um lugar pela internet e nas “estantes” virtuais dos internautas. É o
futuro coabitando com aquele que sempre, ou desde tanto tempo que quase sempre, existiu.
Ficaríamos aqui a falar de livros, de sua origem, de seus objetivos, do que eles proporcio-
nam e aqui teríamos não uma revista, mas um “livro”. Ou talvez mais de um, talvez mesmo
vários volumes, pois que o assunto é vasto, caloroso, desperta paixões e discussões amisto-
sas.
Deixemos quem aceitou o convite com a palavra. Falemos de livro!
Jacqueline Aisenman
Editora-Chefe Varal do Brasil



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•   Almandrade                                    •      Lénia Aguiar
•   Ana Esther                                    •      Leonilda Yvonneti Spina
•   Ana Maria Rosa Moreira                        •      Luiz Carlos Amorim
•   Ana Rosenrot                                  •      Ly Sabas
•   Anair Weirich                                 •      Magno Oliveira
•   Angela Xavier                                 •      Márcia Maranhão de Conti
•   Anna Back                                     •      Marcos Toledo
•   Arlete Trentini dos Santos                    •      Maria Heloísa Fernandes
•   Audelina de Jesus Macieira                    •      Maria Luíza Falcão
•   Betty Silberstein                             •      Marluce Alves F. Portugaels
•   Carlos Lúcio Gonjijo                          •      Norália de Mello Castro
•   César S. Farias                               •      Odenir Ferro
•   Cléo Reis                                     •      Oliveira Caruso
•   Clevane Pessoa                                •      Pedro Diniz de A. Franco
•   Cristina Mascarenhas da Silva                 •      Priscila Ferraz
•   Daniel C. B. Ciarlini                         •      Raimundo Candido T. Filho
•   Devi Dasi                                     •      Roberto Armorizzi
•   Dhiogo José Caetano                           •      Sandra Nascimento
•   Dinorá Couto Cançado                          •      Sarah Venturini Lasso
•   Dulce Couto                                   •      Sheila Ferreira Kuno
•   Elise Schiffer                                •      Silvio Parise
•   Felipe Cattapan                               •      Sonia Nogueira
•   Gildo Oliveira                                •      Valdeck Almeida de Jesus
•   Ivone Vebber                                  •      Vinícius Leal M. da Silva
•   Jacqueline Aisenman                           •      Vó Fia
•   José Alberto de Souza                         •      Walnélia Corrêa Pederneiras
•   Josselene Marques                             •      Weslley Almeida
•   Lariel Frota                                  •      Wilton Porto


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                            almandrade2@hotmail.com




LIVROS DE MADEIRA


“O livro é uma extensão da memória e da imaginação.”
Jorge Luis Borges


Pedaços de madeira, amostras de diversas espécies, enta-
lhados em forma de livros, organizados como uma pequena
biblioteca. Que fan-tástica imaginação deste colecionador de
madeiras!... o médico Antonio Berenguer. Que feliz idéia de
associar madeira!... livro e biblioteca. Aliás, árvores, papel,
livro, biblioteca não são associações estranhas. Uma flo-
resta encadernada e catalogada. A cada colecionador sua ob-
sessão e sua singularidade. O homem e suas aventuras em
nome do saber: quantos segredos e quantas curiosidades.
Quanta riqueza. “Riquezas do Brasil”, exploradas pelo vício
do homem de destruir tudo o que se encontra a sua disposi-
ção, como se ele fosse o dono absoluto e não parte deste
deslumbrante meio ambiente. Mais do que uma coleção, este
jardim de livros guardado em armários é um documento pre-
cioso de um patrimônio: Madeiras de um País.


Por Almandrade
(artista plástico, poeta e arquiteto)




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            pelicanaesther@hotmail.com




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 LEITURA: UMA VIAGEM                             em nosso quarto, sentada em nossa
                                                 cama, a falar com voz meiga, tão dife-
 NO TEMPO E NO ESPAÇO                            rente da voz que ralhava conosco por
  Uma história de Leitura                        qualquer razão. Havia ainda a magia
                                                 do cenário: o quarto comprido envolto
                                                 na penumbra; o rosto da contadora ilu-
 Por Ana Maria Rosa Moreira                      minado pela chama fraca do candeeiro
                                                 a gás; nossas sombras se projetando
  menina.espian@hotmail.com
                                                 fantasmagóricas na parede; o calorzi-
                                                 nho das colchas de retalhos; o eco das
      Outro dia participei de um curso           vozes dos bichos noturnos ressoando
de leitura para professores. Uma das             no silêncio do aposento...
atividades propostas foi que produzís-                 Mais tarde, vieram outras histó-
semos um texto contando nossa histó-             rias que falavam de tesouros enterra-
ria de leitura. Fiquei sem saber por on-         dos, de almas penadas, de serpentes
de começar. Começava falando do fas-             com olhos de fogo e de seres encanta-
cínio pela palavra escrita? Começava             dos da mata: saci, caipora, lobiso-
pelos primeiros livros que li? Ou imita-         mem... Outras eram relatos de viagens
va Paulo Freire no texto "A importância          cheias de perigosas enchentes, traves-
do ato de Ler" e falava primeiro da lei-         sias em rios caudalosos, perdas de ga-
tura do mundo? De repente, veio-me a             do... Essas eram histórias masculinas.
inspiração: eu começaria pelas primei-           Eram contadas pelos homens. Os con-
ras histórias que ouvira quando crian-           tadores eram meus tios, os vizinhos, os
ça.                                              ciganos e os boiadeiros que arrancha-
       Acho que tudo começou com as              vam em nossa fazenda e, logicamente,
histórias contadas por minha mãe e por           meu pai. Eu adorava essas histórias,
Betinha, a irmã que me criou. De vez             pois eram os próprios personagens (os
em quando, elas cediam às nossas sú-             heróis) que as narravam.
plicas e faziam uma noite de contação                   Meu pai era um experiente con-
de histórias. Até hoje, recordo-me de            tador dessas "histórias reais." Ele co-
algumas: A Festa no Céu com aquela               meçou a vida – ainda menino – como
cena linda de Nossa Senhora enviando             tropeiro. Com orgulho, nos falava que
anjos para remendarem o casco do ja-             vendia farinha, no lombo dos burros,
buti; uma do coelho que conseguiu se-            nas cidades do Recôncavo. Só mais
lar e montar uma onça e assim ganhar             tarde, ele se tornaria fazendeiro e ex-
uma aposta; outra de uma menininha               pandiria suas andanças por todo o ser-
que foi raptada por um velho malvado             tão da Bahia e até o estado de Goiás.
e ficou presa em seu surrão por muitos           Lá, ele comprava e vendia boiadas com
anos. Essa era contada por minha mãe.            dinheiro vivo ou com a força de sua pa-
Ela imitava, pesarosa, a vozinha da              lavra de honra – palavra de rei – como
menina cantando de dentro do saco                dizia em suas narrativas.
preto em cada porta onde o velhote
pedia esmolas "Surrão triste, surrão de
morrer / Minhas continhas de ouro que
no rio deixei"... Realmente era uma
história muito triste, apesar do final fe-
liz. Mas eu achava linda a voz de minha
mãe contando histórias. Era bom tê-la



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Varal do Brasil, literário sem frescuras!



      Suas histórias deixaram em mim              eram raros lá na roça.
a imagem nostálgica de cidades como                      Se conseguia um papel desses,
Ibotirama, Lençóis, Correntina... Mara-           recortava figuras de bois, de pessoas e
gogipe, Cachoeira, São Félix... Essas             principalmente de patos (os mais fáceis
últimas imantadas pela magia do mar e             de desenharem para mim). Sentada no
das enchentes. Elas eram o cenário de             chão, enfileirava essa bicharada nas
seus "causos" dos velhos tempos de                paredes do corredor e ficava o dia in-
tropeiro. Eu os escutava de olhos arre-           teiro brincando. Os adultos achavam
galados imaginando como seriam as                 engraçado uma menina conversar com
ruas calçadas, a feira livre e, principal-        figuras de papel. Eles não sabiam, nem
mente, um "mundaréu de água verdi-                eu – pois só descobri ao escrever estas
nha" – o mar. Muitos anos depois, co-             palavras – que aquelas paredes com
nheci algumas delas, e em todas, senti            figurinhas de papel eram os meus pri-
aquele sentimento meio esquisito de               meiros livros. Eu estava criando minhas
"déjà vu" – quase uma saudade.
                                                  primeiras narrativas. Acho que ali nas-
      Essas histórias masculinas eram             ceu o meu desejo de ser "a dona da
contadas ao pé da fogueira acesa na               história”.
malhada, território de homens e de
                                                         Contudo, um belo dia, (Eu devia
animais. Nós, as mulheres, nos sentá-             ter uns cinco anos.) Betinha chegou em
vamos nos bancos do avarandado. Mi-               casa com uma grande novidade: uma
nha mãe ficava um pouco ressabiada                sacolinha cheia de livros. Eram peque-
quando um grupo maior de boiadeiros               nos e traziam, na capa, desenhos de
estava pernoitando na fazenda e prefe-            traços fortes como se fossem feitos a
ria manter as filhas à certa distância            carvão. O vizinho (tio Nonô) que em-
desses homens rústicos. Ainda posso               prestou os livrinhos, explicara que
relembrar a lua cheia no céu, os sons             eram vendidos na feira; ficavam enfilei-
peculiares dos animais na mata, o gado            rados num cordão; eram chamados de
ruminando no curral, as perneiras e gi-           "cordel" justamente por isso. Naquela
bões de couro pendurados. Mesmo                   tarde, minha irmã sentou-se na sala de
agora, ainda posso sentir o cheiro dos            visitas e leu para uma audiência em-
cigarros de palha, dos couros suados e            basbacada, uma história em versos que
do esterco de boi misturados ao perfu-
                                                  parecia uma música. Escutei-a tão des-
me do velame – cheiros agrestes –                 lumbrada, que até hoje me recordo de
sensuais perfumes em minha memória
                                                  sua primeira estrofe. Era assim:
de mulher.
      Foi assim que nasceu a minha
paixão pelas histórias. Porém, para
gostar de ler, é preciso amar o papel e,                      "Eu vou contar uma história
principalmente, a palavra escrita. Estes
eu viria a amar depois, cada um a seu                         De um pavão misterioso
tempo, apesar de certas condições ad-                         Que levantou voo da Grécia
versas.
                                                              Com um rapaz corajoso
       Digo adversas porque em minha
                                                              Raptando uma condessa
casa não havia livros. Exceto o intocá-
vel livro didático de minhas irmãs, que                       Filha de um conde orgulhoso."
ia da primeira à quinta série e era pas-
sado de uma para a outra, até mesmo
papel impresso, estampado, ou colorido


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                                                 tempo de avistar o bicho afastando-se
                                                 do castelo; ia com a cauda aberta em
                                                 leque, repleta de luzes acesas e tão co-
                                                 loridas como as penas de pavão
                                                        Aquelas    estranhas      palavras
                                                 "aeroplano"...     "pavão-misterioso"...
                                                 "água-furtada"... "castelo"... "Grécia"...
                                                 tão sonoras, tão belas, lançaram sobre
                                                 mim sua magia encantatória. Eu as fi-
                                                 cava repetindo baixinho com medo de
                                                 que elas voltassem ao seu esconderijo
                                                 secreto – dentro do livro – antes que
      E sua capa era tão linda: um pa-           pudesse decifrá-las. Quando Betinha
vão imperial com a calda aberta. O de-           disse "e foram felizes para sempre",
senho era feito com uns traços grossos           saltei das asas do pavão misterioso e
como se tivessem usado um carvão pa-             deixei de ser condessa. Agora eu era,
ra desenhar. Acho que o enredo era               outra vez, uma menina da roça – uma
mais ou menos esse: Havia num país               nova menina... Havia descoberto uma
distante, chamado Grécia, uma jovem              coisa fantástica, uma coisa maravilho-
condessa de rara beleza. Ela vivia tran-         sa: as histórias moravam dentro dos
cafiada no castelo de seu ciumento pai.          livros!!!
Apenas uma vez por ano, no dia do seu                  Depois daquela tarde, minha irmã
aniversário, o conde lhe permitia mos-           vivia agarrada aos livrinhos, porém ra-
trar-se à janela do salão de festas on-          ramente lia uma história para nós. A
de, é claro, jamais aconteciam festas.           cruel mágica lia, silenciosa, só com os
O pai não dava um baile para comemo-             olhos. Não adiantava eu, choramingan-
rar o aniversário da filha desde que ela         do ajoelhada ao pé de sua cadeira, im-
deixara de ser criança para tornar-se            plorar por uma história. Então, ficava
uma belíssima mulher. Esse aconteci-             em pé atrás de suas costas, com o pes-
mento trazia àquela cidade grega, ra-            cocinho espichado, tentando inutilmen-
pazes do mundo inteiro, atraídos pela            te, decifrar aqueles caracteres ne-
possibilidade de contemplar uma lenda            gros ... Ela se irritava e me obrigava a
- a mais bela mulher do mundo. No                voltar ao cavalo-de-pau, às caçadas de
aniversário de dezoito anos, um jovem            lagartixa, ou ao quizungue pendurado
que a conhecia por uma fotografia -              no pé-de-laranjeira. Eu que fosse cres-
presente de viagem do irmão mais ve-             cer e aprender a ler!
lho - passou o dia inteiro, olhando a
                                                        Não demorou muito, fui para a
mocinha apaixonadamente. No final da
                                                 escola. Era uma sala de aula na fazen-
tarde, ela lhe deu um sorriso, e ele te-
                                                 da de meu tio. Era a minha vez de
ve certeza de que fora escolhido; ela se
                                                 aprender a ler. Logo, logo, estaria len-
apaixonara por ele. Então, o jovem alu-
                                                 do histórias. Doce ilusão! Passei um
gou um sobrado próximo ao palácio e,
                                                 ano inteiro naquela classe multiseriada
na água-furtada, mandou um enge-
                                                 tentando aprender o "abecê". Só
nheiro construir – secretamente – um
                                                 aprendi as letrinhas da primeira fila.
aeroplano em forma de pavão. Passado
                                                 Acho que a inexperiência da professora
um ano, na noite do aniversário da
                                                 leiga, a superlotação da sala e a insipi-
condessinha, o pássaro levantou vôo, e
                                                 dez do "abecedário" contribuíram bas-
o moço bonito raptou a donzela. O pai,
                                                 tante para esse meu fracasso.
desesperado, nada pode fazer; só teve


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      No ano seguinte, meus pais se             minúsculo e de poucas páginas; dentro
mudaram para a cidade de Santo Este-            dele, havia uma historinha com alguns
vão, que fica a mais ou menos 220 km            desenhos sem graça e pouquíssimas
da capital, Salvador. Deixaram a fazen-         palavras. Ao chegar em casa, li a
da para "dar estudo aos filhos”. Meu            'história" da plantinha carnívora em
pai não conseguiu nenhuma vaga no               trinta segundos. Muitas vezes li e reli
"grupo escolar". É, naquele tempo, só           essa história; tentava encontrar algum
havia ali uma única escola primária -           significado nela. Não tendo conseguido,
respeitadíssima pelo profissionalismo           guardei o livrinho como um objeto co-
dos mestres e pelo ensino de qualidade          mum – uma lembrança da professora
- o Grupo Escolar D. Pedro I. Ali estu-         Lu. Por que será que aquela mestra
davam os filhos das famílias gradas do          que me fez saltar uma série não imagi-
lugar, misturados a um número menor             nava que eu poderia ler uma história?
de crianças oriundas da classe popular.               Esse desencontro com a leitura
       Enquanto aguardávamos uma va-            continuaria durante toda a minha vida
ga, fomos matriculados – somente os             escolar: ora histórias sem graça, ora
mais novos – "na banca da professora            nenhum livro. Mas, por minha própria
Nade". Minhas irmãs de nove e de doze           conta, continuava lendo os cordéis de
anos seriam preparadas para cursarem            minha irmã. Gostava especialmente de
a terceira série; eu, com oito anos, e          um que narrava uma história de amor
meu irmão com seis, nos prepararía-             entre uma princesa e um ladrão ple-
mos para a primeira série. Nessa banca          beu. Até hoje me lembro de que Renê
supervisionada pela professora Nade –           enfrentou três perigos terríveis: a mal-
delegada escolar do município – apren-          dição da Medusa, o Minotauro e o Dra-
di a ler "soletrado"; saí sabendo escre-        gão-de-sete-cabeças; tudo isso para
ver o meu nome completo e mais um               pegar a rosa azul num jardim, levá-la
saberzinho matemático de soma e de              até o castelo e, assim, salvar a vida de
subtração.                                      sua amada – a bela princesa Nazidir.
       Após esse período preparatório,
fomos para a escola regular. Minha                     No meio do quinto ano, comecei
professora, recém-contratada pelo Es-           a ler contos de fadas. Tomava os livros
tado, era a mesma da banca – a doce             emprestados de algumas colegas. Era
professora Ridalva – sobrinha de pro-           um encantamento a cada livro. Eu mer-
fessora Nade. Não demorou muito, co-            gulhava naquelas páginas repletas de
mecei a ler (os livros didáticos) com           palavras novas e de figuras deslum-
desenvoltura. Graças a essa aptidão,            brantes, cujas formas e cores só co-
passava de ano sempre com boas no-              nhecia em sonhos. Através dessas his-
tas; tirei o primeiro lugar no terceiro         tórias, viajei em caravanas, atravessei
ano; dele pulei diretamente para o              desertos de areia no lombo de camelos,
quinto ano, o último do antigo curso            dormi em tendas coloridas, hospedei-
primário. Por causa desse feito, ganhei         me em suntuosos palácios... conheci
um presente de minha saudosa profes-            um "novo mundo" - o Oriente.
sora Maria Lúcia Lobo. Fiquei radiante;
nunca havia ganhado um presente; era                 Creio que foi mais ou menos nes-
um livro de histórias, o meu primeiro           sa época que desbanquei os outros
livro de histórias.                             contadores de histórias e passei a ser a
                                                contadora oficial da família.
      Mas assim que desembrulhei a
caixinha, veio a decepção: era um livro


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       O meu reino era o quarto cheio de        tas tardes lá no alto da mangueira – es-
camas, onde se acomodavam todas as              condida – saboreando o romance entre
crianças a minha volta. Na sala ficavam         o rapaz bonito e a mocinha; esses esta-
os adultos: meus pais e minhas irmãs;           vam sempre combatendo um vilão ou
às vezes, também os noivos e outras             vilã que, geralmente, formava o terceiro
visitas. Relembro – com emoção e ale-           vértice do triângulo amoroso.
gria – o orgulho que sentia quando um                  Essas revistas eram proibidas por
deles me interrompia, lá de longe, para         alguns pais, temerosos de que suas mo-
corrigir um pequeno desvio da história          cinhas despertassem cedo demais para
original. Era tão bom contar histórias!         o amor. Minha mãe as odiava; atribuía a
Melhor ainda quando, no meio de uma             elas perigos terríveis; seriam "a nossa
narrativa, eu escutava o silêncio vindo         perdição". Aliás, esse ódio era extensivo
lá da sala de visitas. Todos estavam me         aos romances. Ela, assim como todos os
ouvindo! Até meu pai! Era a glória. Era,        ditadores, temia os livros e até ameaça-
em êxtase, que eu concluía aquela his-          va atirá-los ao fogo Não aprendeu a ler,
tória.                                          porém sabia que os romances narram
      Já no ginásio, comecei a tomar            histórias de amor. Como era possível
emprestado as revistas de Walt Disney.          alguém, que não conhecia nada do uni-
Foi um novo deslumbramento. Aquele              verso da leitura, intuir que a palavra es-
era um outro mundo: as histórias dividi-        crita possui mágica e poder libertador, é
das em quadrinhos; a ausência da voz            uma pergunta que me faço até hoje. Mi-
do narrador; as palavras escritas em            nha mãe temia (creio eu) que esse po-
balões; os personagens eram bichos              der, aliado ao poder do amor – ambos
que agiam como se fossem pessoas...             revolucionários – pudesse nos libertar
Apaixonei-me pelos personagens "do              do peso esmagador de seu matriarcado.
bem" como Pateta, Lobinho, Vovó Do-                    Mais tarde, com o crescente aces-
nalda, Professor Pardal... e, principal-        so aos aparelhos de televisão e o
mente, pelo desventurado Pato Donald,           "boom" das telenovelas, as fotonovelas,
paixão mantida até hoje. Também me              assim como as radionovelas, foram aos
apaixonei (Vou confessar em segredo)            poucos deixando de existir; eram tidas
pelos personagens "do mal". Torcia para         como "cafonas" e sem nenhum valor.
os Irmãos Metralha e Mancha Negra te-           Eu, imitando as outras garotas, destruí
rem sucesso em seus assaltos ao mu-             a pequena coleção que salvara da ira de
quirana do Tio Patinhas. Também gosta-          minha mãe. Só depois, quando já esta-
va da bruxa Madame Mim e do Lobo                va cursando a faculdade de Letras, fi-
Mau; este tão desajeitado em sua eter-          quei sabendo que algumas das histórias,
na perseguição aos Três Porquinhos.             tão lindas, que havia lido na adolescên-
       Não demorou muito, comecei a ler         cia, eram adaptações de clássicos da li-
revistas para moças e senhoras: Capri-          teratura universal: Romeu e Julieta,
cho, Sétimo Céu, Contigo, Grande Ho-            Tristão e Isolda, O Corcunda de Notre
tel. Elas veiculavam pequenas reporta-          Dame, O Morro do Ventos Uivantes, Or-
gens sobre os atores dos cinemas fran-          gulho e Preconceito. Hoje, arrependo-
cês e italiano, comentários sobre os fil-       me de não tê-las guardado. Seriam pre-
mes, algumas propagandas de perfumes            ciosas relíquias!
e produtos de beleza; mas o recheio            Entre os quinze e os dezoito
principal, o que as fazia serem disputa- anos, enquanto fazia o curso secundá-
das pelas adolescentes, quase a tapas, rio, atual ensino médio, comecei a ler
eram as deliciosas histórias de amor em romances.
quadrinhos: as fotonovelas. Passei mui-


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      A pequena biblioteca do Colégio             ajei por outros países. Num deles, vi a
Municipal de Santo Estevão possuía co-            fantástica Macondo de Gabriel Garcia
leções completas de José de Alencar,              Marques varrida por "cem anos de soli-
Jorge Amado, Graciliano Ramos e José              dão". Depois, fui chamada a um reino
Lins do Rêgo, além de algumas outras              distante e presenciei uma reunião de
obras de autores nacionais e estrangei-           cavaleiros na "Távora redonda". Eu era
ros. Os romances podiam ser lidos na              uma bela princesa, assim como Guine-
salinha onde funcionava a biblioteca ou           vere, dividida entre dois amores: o rei
podiam ser levados para casa por até              Arthur e o primeiro cavaleiro, Lancelo-
quinze dias. Fiz meu cartãozinho e, com           te. Naquele salão, contemplei com re-
esse passaporte, comecei a viajar pelo            verência a lendária espada Excalibur,
Brasil e pelo mundo. Lendo José de                escutei a harpa do Merlin e vi o Santo
Alencar, fui ao Rio de Janeiro do século          Graal ser trazido à mesa por uma pre-
XIX: andei de carruagem; fui transpor-            sença invisível e, depois, misteriosa-
tada em luxuosas liteiras; exibi-me no            mente, desaparecer.
Passeio Público; freqüentei teatros lota-                Outras vezes, saí navegando pe-
dos; participei de saraus; valsei nos             los mares e oceanos. Acompanhei as
bailes entre belas damas e elegantes              aventuras do capitão Nemo; tive medo
cavalheiros...                                    de Mobi Dick; naveguei durante dias e
      Voltei à Bahia e, guiada pela mão           dias num pequeno barco acompanhan-
de Jorge Amado, saí perambulando pe-              do o peixe, "o velho e o mar"... Certa
las ruas ensolaradas de Salvador; fui             vez, tomei emprestado um livro de no-
conhecer os malandros, as prostitutas,            me “Xogum, as sementes do dragão”.
os marinheiros, os vagabundos, os ca-             Então, embarquei num navio Holandês
pitães de areia. Na companhia desses              o “Erasmus” e cheguei a um misterioso
personagens, comi peixe frito no Mer-             país em pleno século XVI. Era a terra
cado Modelo; experimentei cachaça nos             do sol nascente: o Japão. Lugar gover-
botecos do Pelourinho; tomei banho de             nado pelos senhores feudais e seus
mar na Ribeira; passei uma tarde em               exércitos de samurais. Foi ali que acon-
Itapoã; frequentei o curso de arte-               teceu o belo romance entre o inglês,
culinária de Dona Flor; naveguei em               piloto do Erasmus, e uma senhora da
jangadas pela Baía de Todos os Santos             nobreza, esposa de um perigoso guer-
e quase morri afogada junto com Guma              reiro samurai. Acompanhando esse par,
naquela perigosa noite de tempestade.             aprendi sonoras palavras: tufão, concu-
Em Ilhéus, temi os jagunços; escapei              bina, travesseirar, galera, suserano,
de tocaias; colhi cacau; dancei no Bai-           vassalo, xogum... Lembro, ainda, algu-
taclan usando salto alto e cinta-liga;            mas da língua japonesa: “bushido”,
comi os quitutes de Gabriela...                   “sepuku”, ”tai-fun”, “isogi” (isógue),
                                                  “konnichiwa”... Estive ainda em guerras
      Depois parti para o sul do País e
                                                  sangrentas. Numa delas, acompanhei
ouvi "o tempo e o vento" movimentan-
                                                  uma história de amor para descobrir
do a roca da velha Bibiana. Ali, com os
                                                  “por quem os sinos dobram”; noutra,
bravos gaúchos de Érico Veríssimo, ca-
                                                  levei um soco no plexo solar ao saber
valguei pelos pampas; pernoitei nas co-
                                                  qual era “a escolha de Sofia". Essa his-
xilhas abrigada do minuano apenas pelo
                                                  tória, misteriosamente, feriu minha al-
poncho; temi as guerras e, feito louca,
                                                  ma... Por isso não tenho coragem de
me deixei seduzir pelos Rodrigos: um
                                                  terminar o livro nem de assistir ao filme
certo capitão e o doutor, seu bisneto...
                                                  homônimo.
      Tempos depois, saí do Brasil e vi-


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Varal do Brasil, literário sem frescuras!



      É... os livros não proporcionam            me pelo poeta Manoel Bandeira. Ele en-
apenas viagens agradáveis, não. Há               sinou-me a poesia do cotidiano e dos
viagens que nos levam para dentro de             objetos "trouvés" ...Mas foi com a poe-
nós mesmos e podem ser assim...                  sia da infância e da “vida que poderia
cheias de dor...                                 ter sido” que ele tornou-se para mim
                                                 uma "estrela da vida inteira". O poeta
       Quando li esses últimos livros de
                                                 pernambucano que "engoliu um piano e
que falei, já estava cursando a faculda-
                                                 ficou com as teclas de fora", aos pou-
de de Letras. Continuava lendo por mi-
                                                 cos, foi se tornando uma espécie de
nha própria conta e por indicações de
                                                 amigo que eu houvesse conhecido em
leitores mais experientes. Os professo-
                                                 minha infância de menina solitária.
res de Literatura, nos primeiros semes-
tres, conduziram-me ao universo dos                    Paralelamente, fui conhecendo,
poemas. Ah, com esses era preciso                nas aulas de Língua Portuguesa, dois
mais sensibilidade e paciência do que            tipos de texto pelos quais mantenho
com as histórias...                              eterna e crescente fascinação: a crôni-
                                                 ca com sua linguagem ágil, irreverência
                                                 e humor; o conto com sua intensidade
                                                 dramática e beleza poética reveladas
                                                 em poucas páginas e, às vezes, em
                                                 poucas linhas.
                                                        Foi, ainda, estudando Literatura
                                                 que voltei ao sertão. Dessa vez, pisei o
                                                 chão esturricado da caatinga e vi cria-
                                                 turas de "vidas secas" à procura da ter-
                                                 ra prometida. Estive em São Bernardo
                                                 tentando entender a rudeza de Paulo
                                                 Honório. Depois acompanhei o fasci-
                                                 nante rapaz (Ou seria a moça?) conhe-
                                                 cida como Diadorim; em sua compa-
                                                 nhia, adentrei as veredas do "grande
                                                 sertão" e escutei o jagunço Riobaldo
                                                 falar sobre um pacto com o tinhoso; e
       No começo, não conseguia perce-           ainda posso ouvi-lo dizer "O sertão é
ber-lhes a mensagem cifrada, as figu-            aqui mesmo, dentro da gente; o sertão
ras de linguagem, conforme nos solici-           está em toda parte".
tavam nas análises. Lia, relia e ficava
                                                       Ainda "pelejando" no sertão, co-
em meu canto estranhando-lhes a so-
                                                 nheci as plantações de cana e os enge-
noridade, a multiplicidade de sentidos,
                                                 nhos de açúcar da Paraíba; num deles
o significado inesperado de uma pala-
                                                 encontrei um "menino de engenho";
vra... tão conhecida e ao mesmo tempo
                                                 achei que éramos parecidos. Ambos
tão nova. Aos poucos comecei a gostar
                                                 crescemos vagando pelos arredores da
de vários poetas. Gostava principal-
                                                 fazenda a remoer pensamentos. Muito
mente dos românticos Álvares de Aze-
                                                 do que o menino viu e sentiu eu tam-
vedo e Gonçalves Dias.
                                                 bém vi e senti do mesmo modo. Esta é
     Nos semestres mais adiantados,              uma das mágicas da palavra escrita: o
estudamos literatura moderna e, então,           outro, aquele que está ali nos livros,
me emocionei com Cecília Meireles,               somos nós mesmos.
Fernando Pessoa, Carlos Drummond de
                                                                                        )
Andrade e, definitivamente, apaixonei-

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        Creio que esses últimos romances
de que falei, os romances sertanistas, fo-
ram muito importantes para eu valorizar
a linguagem de minha gente, a minha lin-
guagem, sempre pontuada por palavras
fortes, impregnadas pelo sotaque nordes-
tino. Pude também compreender que os
rendeiros, os ciganos, os loucos da minha
infância, os homens, as mulheres, as cri-
anças que conheci ou de quem ouvi con-
tar, estão aqui – dentro de mim – espe-
rando eu lhes dar voz e contar suas histó-
rias...
      Penso, ainda, que através da leitu-
ra, pude me reconhecer: sou mulher nor-
destina, gente da terra com o umbigo en-
terrado na porteira do curral. Agora, final-
mente, me orgulho de minha origem e
percebo a beleza de tudo que vivi em mi-
nha infância de "menina de fazenda".
        E, para encerrar declaro definitiva-                      Participar do Varal? Sim-
mente: amo os livros; amo a poesia; amo                           ples!
as palavras. E amo, sobretudo, a palavra                          Entre em contato pelo e-
escrita e respeito seu poder de constru-
                                                                  mail
ir... e de destruir mundos.
                                                                  varaldobrasil@gmail.com

                           (maio de 1997)




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Do Papiro ao Papel Manu-
                                                  A MANUFATURA
faturado
Artigo (reprodução) http://
                                                  O papel como conhecemos surgiu na
www.usp.br/ De outubro de 2002, por               China no início do século 2, através de
Cinderela Caldeira                                um oficial da corte chinesa, a partir do
                                                  córtex de plantas, tecidos velhos e fra-
                                                  gmentos de rede de pesca. A técnica
                                                  baseava-se no cozimento de fibras do
                                                  líber - casca interior de certas árvores
O livro tem aproximadamente seis mil              e arbustos - estendidas por martelos
anos de história para ser contada. O              de madeira até se formar uma fina ca-
homem utilizou os mais diferentes ti-             mada de fibras. Posteriormente, as fi-
pos de materiais para registrar a sua             bras eram misturadas com água em
                                                  uma caixa de madeira até se transfor-
passagem pelo planeta e difundir seus
                                                  mar numa pasta. Mas a invenção levou
conhecimentos e experiências.                     muito tempo até chegar ao Ocidente.
                                                  O papel é considerado o principal su-
Os sumérios guardavam suas informa-               porte para divulgação das informações
ções em tijolo de barro. Os indianos              e conhecimento
                                                  humano. Dados históricos mostram
faziam seus livros em folhas de pal-
                                                  que o papel foi muito difundido entre
meiras. Os maias e os astecas, antes              os árabes, e que foram eles os respon-
do descobrimento das Américas, escre-             sáveis pela instalação da primeira fá-
viam os livros em um material macio               brica de papel na cidade de Játiva, Es-
existente entre a casca das árvores e a           panha, em 1150 após a invasão da Pe-
madeira. Os romanos escreviam em                  nínsula Ibérica.
tábuas de madeira cobertas com cera.
                                                  No final da Idade Média, a importância
Os egípcios desenvolveram a tecnolo-              do papel cresceu com a expansão do
gia do papiro, uma planta encontrada              comércio europeu e tornou-se produto
às margens do rio Nilo, suas fibras uni-          essencial para a administração pública
das em tiras serviam como superfície              e para a divulgação literária.
resistente para a escrita hieróglifa. Os
                                                  Johann Gutenberg inventou o processo
rolos com os manuscritos chegavam a               de impressão com caracteres móveis -
20 metros de comprimento. O desen-                a tipografia. Nascido, em 1397, da ci-
volvimento do papiro deu-se em 2200               dade de Mogúncia, Alemanha, traba-
a.C e a palavra papiryrus, em latim,              lhava na Casa da Moeda onde apren-
                                                  deu a arte de trabalhos em metal. Em
deu origem a palavra papel.
                                                  1428, Gutenbergparte para Estrasbur-
                                                  go, onde fez as primeiras tentativas de
Nesse processo de evolução surgiu o               impressão.
pergaminho feito geralmente da pele               Segundo dados históricos, em 1442,
de carneiro, que tornava os manuscri-             foi impresso o primeiro exemplar em
tos enormes, e para cada livro era ne-            uma prensa. Em 1448 volta à sua ci-
cessária a morte de vários animais.               dade natal, e dá início a uma



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sociedade comercial com Johann Fust e             Ainda de acordo com os dados apura-
fundam a 'Fábrica de Livros' - nome               dos, o grau de escolaridade mantém
original Werk der Buchei. Entre as pro-           influência decisiva para a leitura. O
duções está a conhecida Bíblia de Gu-
                                                  grupo de pessoas que mais compra li-
tenberg de 42 linhas.
                                                  vros no País possui nível médio de es-
A partir daí o mundo não seria mais o             colaridade.
mesmo. A partir do século 19, aumen-
ta a oferta de papel para impressão de
livros e jornais, além das inovações              A LEITURA
tecnológicas no processo de fabrica-              Plínio Martins Filho, presidente
ção. O papel passa a ser feito de uma             da Editora da USP e professor no curso
pasta de madeira, em 1845. Aliado à               de Editoração da Escola de Comunica-
produção industrial de pasta mecânica             ções e Artes (ECA), diz que o consumo
e química de madeira - celulose - o pa-           de livros no Brasil só não é maior por
pel deixa de ser artigo de luxo e torna-          uma questão de hábito. "Uma das cau-
se mais barato.                                   sas da falta de hábito é que a leitura
As histórias, poesias, contos, cálculos           tem que disputar espaço com outras
matemáticos, ideias e ideais poderiam,            formas de entretenimento. As grandes
a partir de agora, percorrer mares e              editoras do Brasil surgiram junto com
terras e chegar ás mãos de povos que              o rádio e a televisão que, de alguma
                                                  forma, são meios de lazer baratos e de
seus autores jamais imaginariam.
                                                  fácil acesso."
                                                  Segundo ele, a distribuição e a divul-
Mas desenvolver o hábito da leitura é             gação de livros no Brasil são precárias.
um desafio a ser enfrentado. Fundada              Não há verba para se fazer divulgação
em 1946, a Câmara Brasileira do Li-               de livros pela televisão, que é uma mí-
vro é uma das iniciativas criadas com a           dia cara. E os jornais tratam como as-
                                                  sunto de final de semana. "Um exem-
missão de desenvolver a leitura no Pa-
                                                  plo disso é que na França a venda de
ís e difundir a produção editorial brasi-         jornais aumenta no dia em que são pu-
leira. A CBL, uma entidade sem fins               blicadas resenhas. No Brasil as rese-
lucrativos que reúne editores, livreiros          nhas são publicadas nos dias em que
e distribuidores, realizou em 2000 uma            se vende mais jornais", afirma ele
pesquisa em todo o País para avaliar a
indústria do livro nacional.

Segundo a pesquisa, há no País cerca
de 26 milhões de leitores, e 12 milhões
de compradores são das classes B e C.
Sendo que 60% têm mais de 30 anos,
e 53% são moradores da Região Su-
deste. Da população alfabetizada com
mais de 14 anos, 30% leu pelo menos
um livro nos últimos três meses.




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                                                    asm@folha.com.br




                                                                Nunca pensei em escrever, quando diziam
             Minha Paixão                                que eu “levava jeito”, desconversava; escrever um
                                                         livro era algo sagrado demais para uma simples
                Por Ana Rosenrot                         mortal como eu.Mas graças ao apoio de uma pro-
                                                         fessora especial, a Dona Jussara, criei coragem e
                                                         comecei a escrever meus primeiros contos − que
       Nasci numa casa sem livros, mas possivel-         depois se tornaram muitos −, crônicas e poesias.
mente trouxe essa paixão de outra existência, pois       Arrisquei mostrá-las a algumas pessoas, fui elogi-
desde sempre vivia admirando os mais diversos            ada, criticada, censurada pelos meus pais, que ti-
volumes, achava-os lindos, mesmo antes de                nham preconceito contra escritores – que não ga-
aprender a ler.                                          nharão dinheiro e serão tratados como loucos − ,
      Alfabetizei-me sozinha, aos quatro anos,           apesar de tudo, não desisti, escrever é como um
recolhendo recortes de jornais velhos, copiando as       vício, quando você começa a libertar seus senti-
palavras, pedindo para alguém lê-las para mim e          mentos não há mais como prendê-los.
depois as repetia incansavelmente até aprendê-las.             Quando li pela primeira vez um trabalho
       Comecei minha coleção de tesouros – que           meu impresso, parecia tão irreal, era minha essên-
hoje enchem estantes e mais estantes − quando ia         cia que estava ali, revelada ao mundo; entendi
às feiras da cidade; enquanto as outras crianças         naquele instante o que sente cada autor ao conce-
choravam pedindo brinquedos ou doces – o que             ber um livro, ele é seu filho, seu amante, sua al-
era considerado normal – eu, a esquisita, pedia          ma, é você de verdade.
livros – ilustrados, brilhantes, lindos – e passava             É muito difícil, até irritante, aventurar-se no
horas tocando, sentindo, devorando cada letra de         mundo literário num país como o Brasil, onde os
minhas preciosidades.                                    livros ainda são considerados elitistas, onde é pre-
       Na escola encontrei meu templo: a bibliote-       ciso estar na moda para ser lido e as chances para
ca. Suas estantes repletas, pulsantes, em cada titu-     os novos escritores são muito pequenas. Mas não
lo havia um mundo novo que a mim se revelava.            devemos desistir, apesar de muitos dizerem que
      Não sei, nem poderia contar, quantos livros        devido à era tecnológica eles entrarão em extin-
li em trinta e poucos anos de vida, não poderia          ção, os livros foram responsáveis pelo desenvol-
também contar sobre o que falava a maioria, pois         vimento da civilização e dificuldades à parte, eles
os absorvi de tal forma que passaram a fazer parte       sempre serão importantes para nós, leitores e es-
da minha própria história. Mas alguns foram es-          critores.
peciais, às vezes consigo lembrar melhor de um                  Não posso, nem quero, prever o amanhã
fato pelo livro que estava lendo na ocasião do que       dos livros e acho que ninguém pode, só sei que
pelo fato em si.                                         eles estarão sempre ao meu lado.
       Os livros sempre foram meus melhores                     E como eu poderia sobreviver sem a minha
amigos, minha companhia fiel das horas difíceis,         paixão?
meu amor e ódio; tenho sempre um livro por per-
to, mesmo quando não estou com tempo para ler,
pois somente o contato, a familiaridade, me traz
uma incrível sensação de paz e segurança.


                                                 www.varaldobrasil.com                                            19
Varal do Brasil, literário sem frescuras!




                                         anair_weirich@yahoo.com.br




                                                    do seu peso,
PESO QUE NÃO
                                                    elas amenizam
PESA
                                                    no peso da recompensa.
                                                    E quem pensa
                                                    que palavras não pesam,
Por Anair Weirch                                    não pensa.


                                                    É... as palavras pesam!...
O peso das palavras                                 Mas as letras dançam
é a cruz que carrego...                             ao som dos meus passos,
e me nego a negá-la!                                e os sonhos me levam.
                                                    As palavras?
Pesada cruz de letras.                              Estas, já não pesam!
Arrastada...
incompreendida...
Quiçá, de causa perdida,                            Poesia premiada com o pri-
                                                    meiro lugar no Concurso Na-
mas me apraz carregá-la!
                                                    cional de Poesias da Editora
                                                    Taba Cultural
Meus braços, esfolados                              Rio de Janeiro – 2005
das palavras,
doloridos por seu peso,
as transportam com enle-
vo.


Na ânsia pelo alívio


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                                          xavier.arr@gmail.com




                                                      dem personagem e ator, na escrita confun-
     VIDA DE ESCRITOR                                 dem o autor e sua obra. Acham que o texto é
                                                      autobiográfico, que é real, que você viveu
             Por Angela Xavier                        linha por linha do que está escrito.
                                                             Tenho alguns poemas classificados
                                                      como eróticos e/ou sensuais e já ouvi mui-
        Escrever é um ato de coragem. Eu              tos comentários desse tipo, com ar de admi-
diria isso e acrescentaria: escrever é para           ração e até certa malícia: Nossa você fez
os fortes! Pessoas fracas, que não perse-             isso? Você fez aquilo? Curiosamente, o
veram e que costumam recuar ao primeiro               texto se referia à leitura de uma reportagem
obstáculo, não deveriam escrever, muito me-           estampada numa revista masculina. Outros
nos publicar.                                         questionam: para quem você escreveu is-
A princípio, alguém perguntaria: escrever pa-         so? Não passa pela cabeça deles que nem
ra que, se ninguém lê? E isso é uma verda-            sempre falamos sobre nós, sobre o que vive-
de que, ao mesmo tempo, nos remete a um               mos ou fazemos. Nossa imaginação é quem
paradoxo: a produção editorial brasileira so-         vai guiar o que escrevemos e com ela segui-
mente em 2010, segundo dados da Câmara                mos rotas inesperadas!
Brasileira do Livro, totalizou 55 mil títulos, o
equivalente a 210 obras por dia útil, em to-                 Matamos muitos leões por dia, sacrifi-
dos os gêneros. Para onde vão esses livros?           camos momentos de folga, viajamos, partici-
        Os meus estão aqui, enquanto eu en-           pamos de feiras literárias, antologias, con-
gendro mil e uma estratégias para que che-            cursos. Assumimos os custos de toda essa
guem aos leitores. Leitores que nem são               movimentação cultural, não sem antes
meus ainda, mas que terei que conquistar.             passar por uma verdadeira maratona, que é
Esse é o maior desafio de quem publica um             a produção de um livro, desde você ter a
livro e por isso, requer coragem.                     ideia, escrever os textos, selecioná-los, gra-
        O camarada tem que ser muito ma-              var em arquivo ou CD, escolher a editora (e
cho como diria meu pai, para deixar registra-         nesse ponto temos que ser criteriosos, pois
do num livro seu pensamento sobre seja lá o           existem muitos picaretas no mercado), solici-
que for. Sempre haverá alguém disposto a              tar orçamento, fechar o contrato, decidir
discordar, achar aquilo piegas ou ficar tecen-        quem vai prefaciar, fazer a apresentação da
do considerações sobre o porquê do autor se           obra, elaborar os textos das dedicatórias, os
pronunciar desta ou daquela forma, em que             agradecimentos, as orelhas (direita e esquer-
momento e em que circunstâncias aquilo                da) e o texto da contracapa.
aconteceu. Assim como nas novelas confun-


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        Importante nessa etapa que o autor             mação de poesias ou alguém que toque mu-
tenha uma biografia atualizada. Caso não               sica instrumental.
possua, deve elaborá-la, citando os livros                     Se quiser que seu livro chegue ao
que publicou, os prêmios recebidos e os des-           consumidor final acompanhado de um mar-
taques de sua carreira. Acompanha a biogra-            cador de páginas, você deve contratar os
fia uma foto atualizada do autor. Procuro es-          serviços de uma gráfica e arcar com mais
colher uma foto em que esteja bem produzi-             essa despesa. Também deve providenciar a
da, logicamente. Mesmo assim, quando me                confecção de um banner, em tamanho pa-
veem no dia a dia, sem produção e eu mos-              drão, que ficará exposto no local do evento,
tro o livro, ao ver a foto inevitavelmente ouço        com pelo menos 15 dias de antecedência,
essa frase: Nossa, como você está diferen-             para chamar a atenção do público em geral,
te! Diferente é elogio? Se for, tá valendo!            que pode até trazer mais gente para o seu
        Mas se alguém pensa que a maratona             evento, se o que você divulgar for convincen-
acabou, que nada! Está só começando! De-               te.
pois de concluído o processo de produção, vem o                Muitos escritores se decepcionam
lançamento e aí preparem os bolsos, pois os            com a quantidade de livros vendidos no dia
custos são altíssimos! Algumas editoras opor-          do lançamento. Nesse ponto não é bom criar
tunizam ao escritor o lançamento do livro em           expectativas. Tem muita gente que compare-
eventos literários nacionais importantes (como         ce, serve-se do buffet, te abraça, dá os pa-
bienais, entre outros). O custo de um lança-           rabéns e vai embora. Demonstrou considera-
mento desse porte inclui despesas de via-              ção por você? Demonstrou! Era obrigada a
gem e estadia por conta do autor. Algumas              comprar o livro? Não era! Então, porque a
editoras cobram para expor o livro nesse tipo          decepção? Numa outra oportunidade essa
de evento (costumam até fazer pacotes pro-             pessoa poderá comprar o livro e até indicá-lo
mocionais). Outras oferecem o serviço gra-             a alguém que se interesse por aquele gênero
tuitamente, desde que o escritor feche o con-          literário, caso ela não tenha se interessado.
trato da produção do livro com eles.                           Tem quem goste de poesia e quem
        Recentemente lancei meu livro na Bie-          não goste. Poesia vende? Poesia não ven-
nal de São Paulo e posso dizer que, nada se com-       de? São questionamentos que se ouvem aos
para a emoção da primeira vez que tocamos              montes. Eu digo: sempre haverá espaço pa-
em nosso livro, finalmente pronto! É como              ra o que é bom.
um filho que acaba de nascer, mas você ain-                    Vida de escritor não é fácil. Para enca-
da não viu a cara que ele vai ter, entende?            rar tudo isso tem que ter paixão, determina-
Receber miolo, capa e vistar autorizando a             ção e coragem. Viver é assumir riscos. O
impressão, não é a mesma coisa! Agora,                 máximo que pode acontecer é você perder
poder vê-lo num estande, sendo exposto nu-             tempo, dinheiro e ficar com estoque enca-
ma das maiores feiras literárias do mundo, é           lhado. Mas se não tentar, nunca vai saber.
uma sensação tão incrível que fica difícil tra-
duzir em palavras! Muito bom!!!
        Depois do lançamento na Bienal (que
já confere um certo status à sua obra) é ho-
ra de lançarmos em nosso município e, de-
pendendo do local que escolhermos (se for
uma livraria da moda, dessas bacanas que
existem nos shoppings), só para fazer o lan-
çamento e deixar o livro à venda, arcarmos
com cerca de 40 a 50% do preço de capa.
        Definido o local, vem a organização do
cerimonial, providenciar convites, entregá-
los, contratar buffet (caso esteja nos seus
planos servir um coquetel), providenciar uma
atração cultural, que pode ser canto, decla-


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  23 de Abril – Dia Internacional do Livro


O Dia Internacional do Livro e dos Direitos Autorais,
23 de abril, é comemorado para estimular a reflexão
sobre a leitura, a indústria de livros e a propriedade
intelectual (direito sobre a criação de obras científicas,
artísticas e literárias).

A data foi instituída em 1995, pela Unesco – organiza-
ção voltada para a Educação, Ciência e Cultura, que
integra as Organização das Nações Unidas. A escolha
do Dia do Livro não foi aleatória: em 23 de abril de
1616 faleceram Cervantes e Shakespeare, dois desta-
ques da literatura universal.

O Dia do Livro é, portanto, uma oportunidade de ren-
der uma homenagem mundial ao livro e aos seus au-
tores, motivar a descoberta do prazer da leitura e re-
conhecer a contribuição dos escritores para o progres-
so social e cultural. A ideia dessa celebração surgiu na
Catalunha (Espanha), onde, nessa data, tradicional-
mente, dá-se uma rosa ao comprador de um livro.



              Fonte: hƩp://a-informacao.blogspot.ch/




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                                         veranai@yahoo.com.br




                                                       Que ensinaram, a alçar voo através de
                 O Livro                               páginas
                                                       Lentamente viradas, guardando emoções
                                                       surgidas.
               Por Anna Back                           Onde letras, figuras e sons, convidam
                                                       A transcender-se do aqui, do agora, da
                                                       vida...


                                                       Livro é sonho, é busca, é querer mais e
Instrumento ímpar no mundo há,
                                                       mais.
Como um mestre a soprar no ouvido.
                                                       Mágica, encantamento, sensações...
Se fechado, instiga a curiosidade...
                                                       Quem escreve um livro, gera um filho queri-
Se aberto, doa-se em respostas ao eco                  do!
emitido.
                                                       Na ansiedade da aceitação, vive a quimera,
De banho, de pano, em quadrinhos,                      um pouco doída,
colorido...
                                                       No propósito de mostrar ao mundo, sua cria,
Preto e branco, palpável, em braile, virtual!          gerada,
Assim se apresenta nosso amigo livro,                  De peito e alma abertos, extrai e expõe
Científico, religioso, único, de enciclopédia,         Seu âmago, sua alma, o que diz seu
De estudo, poético, lazer ou informal.                 coração,

Poucas coisas se comparam a ele na vida                Nem sempre razão, mas pura emoção,
da gente!                                              Solta, livre ao vento, ou em casulo, contida.
                                                       Todo livro, traz escancarada, a intenção do
Quem esqueceu o primeiro contato, o                    autor.
enamorar-se?                                           Seja ciência, informação, poesia, devaneio...
As primeiras leituras feitas ou no colo,               Lazer, história, de cunho religioso, social...
ouvidas,
                                                       Foi feliz quem ao escrever, lançou mão
De pais ou avós, irmãos, tias, pessoas
                                                       De vontade, desprendimento, material...
queridas,



                                              www.varaldobrasil.com                                     24
Varal do Brasil, literário sem frescuras!




E soube sutilmente penetrar no interesse e atenção
De quem o leu, o compreendeu e se sentiu tocado
  No profundo do seu EU, seu ser, seu coração!
   Li livros incríveis, inteligentes, que marcaram
   Momentos, encontros, fatos, pra toda a vida.
      Leituras furtivas, secretas, proibidas...
 Outros fúteis, equivocados, vazios de propósitos.
 Às vezes, parei pra pensar tamanha capacidade
   De autores fantásticos, imaginações férteis,
 Leitura agradável, envolvente, capaz de prender,
  Aprisionar almas no enlevo das belas palavras
Sutilmente escritas pra sempre, na vida da gente.
Escrevo fragmentos, quem sabe um dia, reunidos,
     Se tornem um livro, sonho acalentado...
   Mas serei feliz, se com meu querer escrever,
  Ter tocado a emoção, ter sido bálsamo, ânimo
  Pra algum coração desanimado, triste, recaído!




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       arletesan@terra.com.br




           NASCIMENTO

           Por Arlete Trentini dos Santos



           PEGA LAPIS E PAPEL
           RISCA RABISCA OU
           TECLA AQUI, DELETA ALI
           É IDÉIA SURGINDO

           OS PENSAMENTOS CRIANDO VIDA
           RETROCEDEMOS
           OU AVANÇAMOS NO TEMPO.
           VIAJAMOS, VAGAMOS...

           FRIO OU CALOR
           RIQUEZA OU POBREZA
           PRATO FARTO OU SOBREMESA
           COLOCAMOS A NOBRE MESA.
           IMAGINAÇÃO COLORIDA
           ÀS VEZES ATÉ DOLORIDA
           NASCE ASSIM, LOGO EM SEGUIDA
            A CRIA GANHANDO VIDA

           UMA EDITORA SE HABILITA
           E FAZ ASSIM NOSSA ESCRITA
           GANHAR VIDA NO PAPEL
           DE UM PARTO BEM DEMORADO
           POR MUITOS ELABORADO
           NASCEU ENFIM O ESPERADO...


            O LIVRO




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                                                       linamacieira@hotmail.com




O livro e sua Magia



Por Audelina de Jesus Macieira



    Um livro é mais que um livro, ele é um professor e ao mesmo tempo é aluno, ele é
um sonho encantado e também é um sonho realizado, um livro é uma passagem secreta
para o prazer e para o conhecimento. Um livro é capaz te fazer flutuar e te fazer pensar
que é um passarinho livre para ir longe batendo suas assas até o infinito. Quando se es-
creve um livro é algo especial, é uma criação, escrever exige dedicação e horas de muita
emoção, paciência e criatividade. Ao escrever imaginamos ser um ser em construção, po-
demos construir um mundo próprio que vai invadir a vida do leitor que pode se apaixonar,
rir ou chorar, este encantamento começa a cada letra, a cada palavra que formando frases
descreve o que autor está vivenciando naquele instante.

      Como autora de poesias e histórias eu me torno várias entidades, sou tudo e sou
nada, um cachorro, um amante, uma árvore, uma luz, um sentimento, uma razão, uma
certeza, qualquer pessoa ou coisa. Sou eu mesma e sou quem eu represento em cada
sentimento de ódio ou de dor, de alegria ou de amor, sou eu o tempo todo nas dores que
não são minhas e sendo minhas talvez, sou assim interprete das coisas da vida como já
havia dito antes em versos do poema Vida.” Vida que queres que eu seja, um homem,
uma mulher , uma flor, uma semente, uma cor ou uma figura de gente. Sou eu amada?
Sou eu ódio em carne viva, sou caminho desta estrada, sou vida e vida e mais nada.”



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Um livro representa para mim múltiplos sentimentos de ensinamentos que ficarão na vitória
do mocinho contra o bandido, na derrota da bruxa, na descoberta da felicidade por crianças
encantadas, na luta constante do bem contra o mal, e ai entendemos o quanto é bom lê e o
quanto é bom para o escritor saber que alguém leu o seu livro. Pois sabemos o quanto um
livro leva tempo para ficar pronto, a preocupação com cada palavra com cada frase, buscar
uma editora que compartilhe suas ideias, e ainda vê as ilustrações e todos os detalhes, as-
sim o livro vai se apresentando aos poucos e se formando como um ser que tem vida. Todo
livro é especial para quem lê e especial para quem escreve, quem escreve ta preocupado
em ofertar com o seu livro emoções, causar indignação se for o caso e em outros aspectos
até fazer dormir aquele que lê.

        Um livro é um amigo, um irmão, um mensageiro e às vezes até lhe diz mais que pa-
lavras lhe ensina a viver. Quando eu li um livro pela primeira vez eu tinha sete anos e até
hoje me lembro da emoção que me causou, eu ria muito com aquelas palavras novas que
estavam ali, era um livro de histórias infantis Ali Baba e os quarenta ladrões, muito bom, e
daí não parei mais, li muitos livros, li Carlos Drummond e Jorge Amando entre outros escri-
tores e me apaixonei, ao Chegar a Faculdade , percebi o quanto toda aquela leitura era im-
portante na minha vida, a leitura é uma bagagem que levamos dentro de nós, e nos dá su-
porte para adquirir conhecimento de mundo. As dificuldades existem para quem escreve um
livro, pois as editoras não estão, mas valorizando os jovens poetas ou jovens escritores, na
verdade temos que custear nossos livros para que ele enfim chegue às mãos de leitores e
assim divulgar este trabalho tão maravilhoso que é escrever, contudo espero com esperança
vê as letras de minhas poesias se espalhar por terras distantes e mesmo que de forma tími-
da fazer alguém ri ou chorar , dormir e sonhar.




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                                                 beƩyescritora@silber.com.br




                                        O LIVRO
                                                                             Por Betty Silberstein


       Até chegar ao nosso atualíssimo e-book, muitos materiais foram usados como supor-
tes para a escrita: ossos, bronze, cerâmica, conchas, bambu. Alguns dos antigos mais co-
nhecidos foram a tabuleta de argila escrita em língua suméria (2400 - 2200 a.C.) e o Livro
dos Mortos (Egito), em papiro (em torno do ano 1000 a.C.). A seda, na China, foi também
uma base para a escrita, feita com pincéis. Na Índia, foram utilizadas folhas de palmeiras
secas.
       A partir do momento que a escrita foi transposta para o papel, transformado em livro,
podemos perceber que sua história é de inovações técnicas, as quais o ser humano só teve
a ganhar, já que com isso foi aperfeiçoada a qualidade de conservação do texto, o acesso
à informação passou a atingir um número crescente de pessoas, sem contar a portabilidade
e o custo de produção. A partir do primeiro livro impresso (1455) a Bíblia, em latim, com a
prensa de tipos móveis reutilizáveis, inventada por Gutenberg, o sonho atemporal de escri-
tores do mundo inteiro passou a se concretizar: o livro popularizou-se definitivamente, tor-
nando-se mais acessível pela redução enorme dos custos da produção em série.
      Não me parece que as coisas mudaram muito para o escritor desde os primórdios
dos tempos até os dias de hoje.
       A tarefa de criar um conteúdo passível de ser transformado em livro continua sendo
tarefa do autor, que dedica horas, dias, meses a fio pensando, escrevendo, reescrevendo
mil e uma vezes até que seus originais cheguem às mãos de uma editora. Se um leigo no
assunto acredita ser esta a parte mais difícil para a publicação de um livro... engana-se re-
dondamente: por incrível que pareça, esta é a parte mais fácil para o escritor, cuja via cru-
cis se inicia a partir do momento que este sonhador está com seu manuscrito debaixo do
braço, peregrinando de editora em editora para ver se alguma se interessa em publicá-lo.
       SE isso acontecer... maravilha! Tirou a sorte grande. Caso contrário, terá que bancar
mesmo seus escritos. Entretanto, mesmo resolvendo esta primeira etapa (de uma maneira
ou outra), ainda falta um belo marketing em cima do produto, uma inteligente estratégia de
divulgação e distribuição e uma dose cavalar de paciência para acertos de contas com li-
vreiros e distribuidoras de livro e quem sabe receber algum dinheiro por todo o trabalho.



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       É... realmente um longo caminho, mas posso dizer com conhecimento de causa que
VALE A PENA! Ao segurar nas mãos seu “baby impresso” é uma sensação indescritível. Só
comparada à alegria e orgulho de alguém ter lido seus textos, ter elogiado e reconhecer seu
trabalho.
        Por isso, acho sensacional o Varal do Brasil dedicar um número todinho a esse tema
tão difícil, mas superinteressante, para dar força, ânimo e quiçá algumas dicas para os novos
(e os não tão novos assim) escritores de plantão.
       Que aproveitemos bastante esse número especial do Varal, que trata de um importan-
te produto intelectual e de consumo dos dias de hoje: este “poço sem fundo” de informação,
conhecimento e sabedoria, que é o LIVRO!




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                                     carlosluciogonƟjo@terra.com.br




                                                que representa significativa glória num
Palavras jogadas ao léu                         país em que as editores não investem
                                                nem apostam em novos autores (digo
                                                isso no tocante ao ato de se fazer co-
      Por Carlos Lúcio Gontijo                  nhecido, uma vez que existe gente com
                                                idade avançada e sem qualquer trabalho
                                                editado), obrigando aos que pretendem
      Não me perguntem aonde ir para            tirar a sua obra da gaveta, em tempo de
encontrar leitores, pois nunca soube. As        democrática ditadura de intensa propa-
bibliotecas estão sempre vazias, as li-         gação do grotesco ou, no mínimo, de
vrarias repletas de autores estrangeiros        valor cultural duvidoso, que por sua vez
e livros de autoajuda, enquanto a litera-       leva adultos, adolescentes e crianças a
tura brasileira sobrevive com a simples         dançarem na boquinha da garrafa. Infe-
e costumeira citação de grandes auto-           lizmente, entre nós, o esmero tecnológi-
res, que verdadeiramente também são             co da imagem digital chegou às
muito pouco lidos. Não entendo também           “nossas” televisões antes de as mesmas
de busca de recursos para se editarem           implantarem qualidade em sua rede de
livros, porque nunca obtive sucesso             programação.
nessa empreitada, consciente de que a
política cultural brasileira só favorece             Se eu fosse tangido pela busca de
aos que se acham sob os holofotes da            fama e sucesso não estaria me moven-
mídia, o que determina fluxo volumoso           do para editar o meu 15º livro (POESIA
de recursos para as mesmíssimas cele-           DE ROMANCE E OUTROS VERSOS) nem
bridades e famosos de sempre. Todavia,          disposto a investir quantia, para mim
em torno desse assunto, as discussões           volumosa, em meu site, que está no ar
se prendem mais ao calor obscurantista          desde 5 de junho de 2007. Uma vez
do fogaréu das vaidades que à luz da            que, hoje, o que determina notoriedade
real busca de soluções.                         são a inventiva e o comportamento es-
                                                drúxulo ou completamente anômalo e
      Houve um tempo em que concur-             contrário aos chamados bons costumes,
sos literários lançavam novos talentos,         tratados como desnecessários ditames
mas hoje eles só servem para propiciar          ultrapassados.
alguma pequena edição ao ganhador, o


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     A dilapidação promovida ao senso           depois de tão longa caminhada. Só me
comum que norteia a convivência em              resta mesmo impor-me alguns sacrifí-
sociedade vem exatamente dos órgãos             cios em nome do invisível, do que não
que deveriam atuar em sua defesa. Os            se vê: a energia imaterial do halo da
poderes Executivo, Legislativo e Judici-        alegria de efetivar o exercício de um
ário se consideram (e se põem) acima            dom, ainda que as palavras me pare-
da nação brasileira, que sabiamente os          çam jogadas ao léu.
julga pelo produto final que a ela é
apresentado. Vem daí a generalização                 Enfim, sou brasileiro comum. Faço
da reclamação popular, pois quando              parte desse povo, que apesar dos go-
uma prestação de serviço não é satisfa-         vernantes e dos podres poderes, conse-
tória o consumidor recorre ao PROCON            gue sobreviver e driblar as pedras ati-
contra a loja vendedora ou a fábrica            radas em seu caminho. Termino então
produtora, não lhe sendo exigida a indi-        repetindo reflexão de Sigmund Freud,
cação de nomes – ao produtor da mer-            grande explorador da alma humana:
cadoria defeituosa cabe, se assim o de-         “Mas posso me dar por satisfeito. O tra-
sejar, a descoberta do funcionário res-         balho é minha fortuna”.
ponsável pela ocorrência! Ou seja, a
má prestação de serviço advinda da
ação dos Três Poderes é problema rela-
tivo a todos aqueles que o integram.
Cabe a cada um deles e mais especifi-
camente aos que se nos apresentam
como a parte boa, reclamando da cons-
tante acusação generalizada, agirem
em prol da devida apuração. Afinal, não
se trata de seres inanimados; não são
maçãs sadias enfiadas, involuntaria-
mente, em saco de aniagem em meio a
frutos putrefatos...

      Em ambiente assim perverso, no
qual os que deveriam dar o exemplo
insistem em não dá-lo, assisto ao coti-
diano crescimento da cultura do levar
vantagem em tudo, que vai levando a
tudo de roldão. Para onde olho eu vejo
podridão: é político com dinheiro na cu-
eca, na meia, no porta-malas, no banco
do carro; são favorecimentos e desvios
de recursos públicos em montante ini-
maginável, mas que pode ser dimensio-
nado pela paisagem de abissais carên-
cias sociais que nos rodeia.

      Quem sou eu, pequeno escriba,
para perder o fio da meada, abandonar
a literatura menor que realizo (mas que
é a minha vida) à beira do caminho,


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                           cesarsf@ymail.com




Independente, e por que não?                      ta" consideram como requisito impres-
                                                  cindível, a diplomação acadêmica ou
                                                  frequência em oficinas literárias que
Por César S. Farias                               ensinam o autor a escrever. São pon-
                                                  tos de vista que, á meu ver, devem ser
                                                  respeitados mas não aplicados como
        Nem todos os escritores conse-            verdade absoluta. Se você, mesmo
guem um contrato com alguma editora               sem possuir os atributos que chamam
disposta a valorizar o seu trabalho,              a atenção da indústria literária, acredi-
com possibilidades de lucros razoáveis            ta nas suas ideias e em sua capacidade
para ambas as partes. A estes, que não            de cativar leitores, deve cedo ou tarde
estão dispostos a permanecerem por                tomar uma atitude para ganhar um lu-
tempo indefinido batendo em portas e              gar ao sol.
mais portas de editoras, resta hoje o
caminho independente da auto publica-                   Eventos como a Feira do Livro de
ção. Felizmente, com o advento da in-             Porto Alegre permitem, ao contrário da
ternet e o progresso dos recursos de              maioria dos encontros literários do pa-
computação, o monopólio da impressão              ís, um espaço aos escritores indepen-
saiu das mãos de umas poucas empre-               dentes, que investem em seu próprio
sas que abasteciam o pequeno merca-               trabalho para mostrarem às pessoas
do de leitores do nosso país. É possí-            que existe vida inteligente fora das edi-
vel, com critérios e dedicação, chegar-           toras. A coletânea de contos "O Grande
se a um resultado final que permita ao            Pajé", lançada oficialmente na 57ª edi-
escritor concretizar a montagem da sua            ção     do     evento,    propõe      um
obra para apresentá-la ao julgamento              olhar reflexivo ao consumo da maco-
crítico do leitor. Dessa forma, consegue          nha, erva sagrada para vários tribos
ele formar, gradativamente o seu pró-             indígenas, e a impune violência contra
prio público.                                     os animais em nossa sociedade atual.
                                                  Certamente, as abordagens polêmicas
       Entre os fatores que contribuem            da obra, não colocam-na entre as pre-
decisivamente para a aceitação da obra            feridas do grande público, contudo, o
no mercado editorial convencional, está           autor faz dela mais um grito de alerta
a temática da obra. As ideias propos-             sobre o desrespeito às culturas e for-
tas, aliadas a uma hábil narrativa, ga-           mas de vida diferentes da nossa.
rantem a simpatia ou não dos fabrican-
tes de livros. Muitos "doutores da escri-


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                    cleoreispoema@hotmail.com




    LIVROS

Por Cléo Reis

Emano minhas leituras pelo Universo
Brisa e Sol abraçam ideias iluminando a
Vida

De um banco qualquer ou do meu tra-
vesseiro,
sob o manto celestial bordado de luzes,
abraçada à Natura que dentro de mim re-
pousa,
silentes Autores e letras entrelaçadas
 por inspiradoras Brisas rodeiam-me
 na mudez da escrivaninha transcendental

Livros são Pontes-
perene arco-íris Universal
levando-me a profundezas de
reflexões revigorantes

Ameno exercício espiritual
Novas roupagens,
 róseas, florescentes
para minha alma
em sublimações e completudes.




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                                                hana.haruko2@gmail.com




UM DIA DE LIVROS, MUITOS LIVROS E ÁRVORES

Por Clevane Pessoa de Araújo Lopes


Jacqueline Aisenman de azul, e sua árvore, Terezinha, observada por Rogério Salgado e
por mim, (Clevane Pessoa), no Jardim dos Poetas-Lagoa do Nado, em 31 de maio de
2012.Salgado e eu .
 Marco Llobus marcara para 31 de maio, a segunda edição do Jardim dos Poetaspoetas
que passaram pela Lagoa do Nado (*)em Saraus de Poesia , os que fizeram parte do his-
tórico processo ...
A premiada prosadora e poeta Norália de Castro Mello estava nos primórdios da organiza-
ção, em Brumadinho, de um lançamento- do Varal do Brasil-2, onde estamos na qualida-
de de coautoras e organizada por Jacqueline Aisenman a qual lançaria também seu pró-
prio novo livro, "Briga de Foice", pela
Design Editora , de Jaguará do Sul/SC, um belo trabalho editorial. Jacqueline também é
catarinense-e mora há anos, em Genebra. Norália sonhava em reunir aqui, os coautores
mineiros.
Queria sobretudo, oferecer a Jacqueline a grande oportunidade de conhecer Inhotim
(**).Mas as negociações se arrastavam, graças aos valores -e ela então, investiu potenci-
almente na Prefeitura de Brumadinho, onde hoje reside, que cedeu-lhe a Casa da Cultura-
para a recepção de 01 de junho, hospedagem aos poetas e prosadores, várias benesses.
A Secretaria de Cultura e Turismo entrou no esquema produtivo-e Norália pode contar
com Juliana Brasil, Regina Esméria, Maria Lúcia Guedes, Maria Carmen de Souza, que se
empenharam na decoração e na degustação de acepipes tipicamente mineiros juninos.
Segundo comentários dos autores e convidados, foi uma grande confraternização-
continuada em Inhotim e depois no Restaurante D. Carmita, com os lançamentos das an-
tologias citas e livros dos presentes.



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Bem, então, no Dia 31, aqui em Belo Hori-           conteúdo.
zonte, começamos a recepção à Jacqueline,
                                                    Bem, esse prólogo longo , mas necessário
que seria homenageada junto com Diovva-             ao registro de nossa história de poetas, nos
ni Mendonça (leia-se Paz e Poesia ***) , no         leva agora, à Lagoa do Nado.
Sarau da Lagoa do Nado, no Restaurante D.
Preta, reduto de poetas ,artistas e pessoas         Lá, além do mini tour pelo pulmão verde e
da Paz, a convite de Claudio Marcio Barbo-          suas águas, com passagem pela exposição
sa , produtor cultural e poeta, que faz parte       a céu aberto da obra enraizada de Mestre
da família que administra o D. Preta prepa-         Thibau., Jacqueline e nós, poetas convida-
ram um substancial prato mineiríssimo, o            dos , fomos levados para plantar nossa ár-
Feijão Tropeiro .                                   vore no Jardim da Poesia.
                                                    Quando saí de casa, sabendo que cada ár-
                                                    vore poderia ser madrinha ou afilhada do
                                                    poeta e o poeta escolheria o nome de sua
                                                    árvore, pensei em achegar-me a uma que
                                                    desse muitas flores , para dar-lhe o nome de
                                                    minha mãe, que adorava o verde. Eu anda-
                                                    va daqui e dali, mas fui atraída por um ce-
                                                    dro. Mesmo ele apresentando uma praga
                                                    branca. Não consegui afastar-me das lindas
Foi organizada uma mesa de livros , para a          folhas oblongas e acetinadas. Então, pensei:
degustação da mente e do espírito, por que          vou dar-lhe o nome de Máximo, pois meu
não, do coração? Jacqueline recebeu as              avô ,paraibano, trovador, cordelista e jorna-
"Palmas Barrocas" - alusivas à arte sacra           lista, repentista sonetista, que ensinou-me a
mineira, uma criação da artista de Sabará-          metrificar e amar a poesia ainda no seu co-
uma das mais antigas cidades mineiras- Dir-         lo, não obstante árvore do gênero feminino
léia Neves Peixoto e que são parcimoniosa-          na gramática, mas comum dos dois na es-
mente distribuídas pelo grupo de Poetas Pe-         pécie, Cedro sempre vai lembrar-me o gêne-
la Paz e pela Poesia., grupo que realiza o          ro masculino.
Paz e Poesia em Belo Horizonte.
No D. Preta, , esperamos a chegada de No-
rália, que chegou com sua filha Daniela.
Desse momento, participaram os poetas e
artistas de Belo Horizonte, Marco Llobus,
Neuza ladeira Rodrigo Starling, Iara Abreu,
Maria Moreira, Adão Rodrigues, Fátima
Sampaio, Rogério Salgado, Claudio Márcio
Barbosa , Serginho BH (fundo musical ao
violão) e eu. Coautoras de outros Estados e
cidades estiveram no congraçamento: Yara
Darin, Maria Clara Machado,e, com Norália
e Daniela, também artista, chegou a alegre
Madhu Maretiori, que lançou seu encanta-
dor "Em Nome de Gaia"- minilivro de grande


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Varal do Brasil, literário sem frescuras!



Desejei muita sorte ao meu cedro-que cresça           2:alegria e honra).
o máximo, seja o máximo-sobrenome de vo-
vô, Luiz Máximo de Araújo -pensei .
Depois de curtir a árvore que me escolheu,
fui circular e quando Jacqueline Aisenman foi
batizar a sua, ela disse-me;-Terezinha, o no-
me de minha mãe.
Fiquei literalmente arrepiada .Claro que o
prenome da santinha de Lisieux é muito co-
mum, mas eu, que vivo na memória e no
imaginário, escritora que sou, logo pensei : -
Mamãe, que adorava o pai, deu-lhe lugar.
E assim , toda vez que for ao jardim de nós,
Poetas, no CC Lagoa do nado, vou acarinhar
essas duas árvores: pela amiga distante, em
outro país, Jacqueline Aisenman e cultura o
nome materno de ambas, e o d e vovô, meu
mago iniciador que revelou-me a POIESIS,
como soi ser, com autoria, orgulho e ale-
gria ::Terezinha e Máximo.
Mais tarde, já em casa, li um texto maravilho-
so, em Varal Antológico 2 de Jaqueline Ai-
senman ,denominado Pintura Ingênua, onde
ela abre ao leitor o grande amor por seu
pai ("Meu pai, sentado na cozinha, palpitava
a vida, dava palpites em tudo"), onde a mãe
amada entreaparece, figura de fundo e de
palco ,indispensável( "Ou ia pelos braços
queridos de minha mãe, braços cheios de
alma") .



Realmente , esse plantio para mim, transcen-
deu os objetivos lindos desse jardim de árvo-
res: permitiu-me a sagrada memória familiar
vir bailar conosco por entre as mudinhas es-
perançosas...



Clevane Pessoa de Araújo Lopes
                                                          Fotos: Clevane Pessoa
(A Jacqueline Aisenman, agradecendo o con-
vite para ser e estar em Varal Antológico 2)



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Varal do Brasil, literário sem frescuras!




O dia 29 de outubro foi escolhido para ser o “Dia Na-
cional do Livro” por ser a data de aniversário da fun-
dação da Biblioteca Nacional, que nasceu com a
transferência da Real Biblioteca portuguesa para o
Brasil.
Seu acervo de 60 mil peças, entre livros, manuscri-
tos, mapas, moedas, medalhas, etc., ficava acomo-
dado nas salas do Hospital da Ordem Terceira do
Carmo, no Rio de Janeiro.
A biblioteca foi transferida em 29 de outubro de 1810
e essa passou a ser a data oficial de sua fundação.


                Fonte: http://www.joildo.net/




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                                                  cris_mascarenhas07@hotmail.com




                                                  às vezes ásperas,
A caminhada “solitária”
                                                  Longas histórias, doces versos, amargos dra-
Por Cristina Mascarenhas da Silva                 mas.
Foi preciso muitos solitários amanheceres
para descobrir
                                                  E de folha em folha, verbo em verbo,
Que não era com aqueles que dividi festas e
bebidas                                           Conheci o significado deste amigo de milhões
                                                  de dizeres,
Com quem poderia contar nos pores de sol
mais tristes....                                  Que me acalenta, me faz lutar,
                                                  Amigo Livro,
                                                  Contigo já estive no Hades, em Roma, no
Caminhei por horizontes sem esperança de
                                                  Grande Sertão,
um fiel amigo,
Quando mal sabia que em dias quentes de
verão o colocava no colo,                         Vivi amores, colecionei dores, voltei a ser cri-
Para protegê-lo guardava num cantinho             ança,
quente de minha bolsa.                            Quis ter uma Bisa Bia, observei um Fantásti-
                                                  co Mistério,
                                                  Criminei Capitu, torci por Aurélia.
Quando as lágrimas rolavam pela minha face,
                                                  Roubei alguns dos seus junto com Liesel na
Eu o retirava do canto mais secreto de meu
                                                  Alemanha Nazista...
armário,
E o acariciava levemente desvendando cada
centímetro seu,                                   Desvendei o mundo pensando que estava só.
Ele me respondia com palavras doces,



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  • 2. Varal do Brasil, literário sem frescuras! www.varaldobrasil.com 2
  • 3. Varal do Brasil, literário sem frescuras! ® 1664- ISSN 1664-5243 LITERÁRIO, SEM FRESCURAS Genebra, outono de 2012 No. 17B - ESPECIAL VARAL DO LIVRO bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyeb eneogguaenejuebehadddddddddddddddddddddddddddmnheeƩpamƟngnrihssssssssssssssssssner rrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrr rrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehadddddddddddddddddddddddddddmnhee ƩpamƟngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmmmmmmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhu yuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehadddddd dddddddddddddddddddddmnheeƩpamƟngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkk kkkkkbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb bbmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmh hhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajud yebeneogguaenejuebehadddddddddddddddddddddddddddmnheeƩpamƟngnrihssssssssssssssssss nerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb www.varaldobrasil.com 3
  • 4. Varal do Brasil, literário sem frescuras! EXPEDIENTE Revista Literária VARAL DO BRASIL 1664- NO. 17B- Genebra - CH ISSN 1664-5243 Especial Varal do Livro Copyright Vários Autores O Varal do Brasil é promovido, organizado e realizado por Jacqueline Aisenman Site do VARAL: www.varaldobrasil.com Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com Textos: Vários Autores Coluna: Sarah Venturim Lasso Ilustrações: Vários Autores Foto capa: © Yuri Arcurs - Fotolia com Foto contracapa: © Jacqueline Aisenman Muitas imagens encontramos na internet sem ter o Há livros escritos nome do autor citado. Se for uma foto ou um dese- para evitar espaços nho seu, envie um e-mail para nós e teremos o maior vazios na estante. prazer em divulgar o seu talento. Revisão parcial de cada autor Carlos Drummond de Andrade Revisão geral VARAL DO BRASIL Composição e diagramação: Jacqueline Aisenman A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A re- vista está gratuitamente para download em seus site e blog. O saber a gente aprende com os mes- Se você deseja parƟcipar do VARAL DO BRASIL NO. 18 tres e os livros. A sa- envie seus textos até 10 de outubro de 2012 para: va- bedoria, se aprende é com a vida e com raldobrasil@gmail.com , Tema Livre os humildes. O tema da edição no. 19 será sobre o Planeta Terra, Cora Coralina sobre a vida, a natureza, os animais, o ser humano. Declare o seu amor pelo Planeta! Para janeiro, inscrições até 30 de novembro www.varaldobrasil.com 4
  • 5. Varal do Brasil, literário sem frescuras! O livro está para todo leitor e para todo escritor como o alimento está para aquele que tem fome e sede: ele sacia. Também é o livro a chave que abre portas antes talvez nem sequer imaginadas. Através de personagens, de palavras, viajamos e conhecemos mundos inteiros tanto quanto nos atuali- zamos sobre o mundo em que vivemos. O livro, já há tanto tempo companheiro de jornada em minha vida, me fez ser quem eu sou. E por isto que fosse apenas, eu já lhe seria agradecida pois me considero uma pessoa feliz. Mas os livros fizeram mais por mim: me levaram para perto de pessoas maravilhosas que leem e escrevem. Pessoas estas que têm feito parte do Varal há quase três anos circulando pelo vasto mundo virtual. Conheço uma expressão que é “rato de biblioteca”. E quando penso nesta expressão duas pessoas em particular vêm à minha cabeça e coração: mi- nha mãe, que lia tudo o que caía em suas mãos, de revistas à livros que incansavelmente ela devo- rava! E minha amiga de infância, Marilene Remor Mattar, por muitos anos dedicada funcionária e di- retora da Biblioteca Pública da cidade de Laguna, Santa Catarina. E é graças a ela, posso dizer com orgulho, que aquele recinto dedicado aos livros e aos leitores funcionou tão bem durante tantos anos. Marilene lutou contra monstros, moinhos de vento e ideologias para manter aberta a “sua” ama- da biblioteca. Hoje chegaram também os livros eletrônicos. Não os menosprezemos, eles já estão presen- tes e estão conseguindo um lugar pela internet e nas “estantes” virtuais dos internautas. É o futuro coabitando com aquele que sempre, ou desde tanto tempo que quase sempre, existiu. Ficaríamos aqui a falar de livros, de sua origem, de seus objetivos, do que eles proporcio- nam e aqui teríamos não uma revista, mas um “livro”. Ou talvez mais de um, talvez mesmo vários volumes, pois que o assunto é vasto, caloroso, desperta paixões e discussões amisto- sas. Deixemos quem aceitou o convite com a palavra. Falemos de livro! Jacqueline Aisenman Editora-Chefe Varal do Brasil www.varaldobrasil.com 5
  • 6. Varal do Brasil, literário sem frescuras! • Almandrade • Lénia Aguiar • Ana Esther • Leonilda Yvonneti Spina • Ana Maria Rosa Moreira • Luiz Carlos Amorim • Ana Rosenrot • Ly Sabas • Anair Weirich • Magno Oliveira • Angela Xavier • Márcia Maranhão de Conti • Anna Back • Marcos Toledo • Arlete Trentini dos Santos • Maria Heloísa Fernandes • Audelina de Jesus Macieira • Maria Luíza Falcão • Betty Silberstein • Marluce Alves F. Portugaels • Carlos Lúcio Gonjijo • Norália de Mello Castro • César S. Farias • Odenir Ferro • Cléo Reis • Oliveira Caruso • Clevane Pessoa • Pedro Diniz de A. Franco • Cristina Mascarenhas da Silva • Priscila Ferraz • Daniel C. B. Ciarlini • Raimundo Candido T. Filho • Devi Dasi • Roberto Armorizzi • Dhiogo José Caetano • Sandra Nascimento • Dinorá Couto Cançado • Sarah Venturini Lasso • Dulce Couto • Sheila Ferreira Kuno • Elise Schiffer • Silvio Parise • Felipe Cattapan • Sonia Nogueira • Gildo Oliveira • Valdeck Almeida de Jesus • Ivone Vebber • Vinícius Leal M. da Silva • Jacqueline Aisenman • Vó Fia • José Alberto de Souza • Walnélia Corrêa Pederneiras • Josselene Marques • Weslley Almeida • Lariel Frota • Wilton Porto www.varaldobrasil.com 6
  • 7. Varal do Brasil, literário sem frescuras! almandrade2@hotmail.com LIVROS DE MADEIRA “O livro é uma extensão da memória e da imaginação.” Jorge Luis Borges Pedaços de madeira, amostras de diversas espécies, enta- lhados em forma de livros, organizados como uma pequena biblioteca. Que fan-tástica imaginação deste colecionador de madeiras!... o médico Antonio Berenguer. Que feliz idéia de associar madeira!... livro e biblioteca. Aliás, árvores, papel, livro, biblioteca não são associações estranhas. Uma flo- resta encadernada e catalogada. A cada colecionador sua ob- sessão e sua singularidade. O homem e suas aventuras em nome do saber: quantos segredos e quantas curiosidades. Quanta riqueza. “Riquezas do Brasil”, exploradas pelo vício do homem de destruir tudo o que se encontra a sua disposi- ção, como se ele fosse o dono absoluto e não parte deste deslumbrante meio ambiente. Mais do que uma coleção, este jardim de livros guardado em armários é um documento pre- cioso de um patrimônio: Madeiras de um País. Por Almandrade (artista plástico, poeta e arquiteto) www.varaldobrasil.com 7
  • 8. Varal do Brasil, literário sem frescuras! pelicanaesther@hotmail.com www.varaldobrasil.com 8
  • 9. Varal do Brasil, literário sem frescuras! LEITURA: UMA VIAGEM em nosso quarto, sentada em nossa cama, a falar com voz meiga, tão dife- NO TEMPO E NO ESPAÇO rente da voz que ralhava conosco por Uma história de Leitura qualquer razão. Havia ainda a magia do cenário: o quarto comprido envolto na penumbra; o rosto da contadora ilu- Por Ana Maria Rosa Moreira minado pela chama fraca do candeeiro a gás; nossas sombras se projetando menina.espian@hotmail.com fantasmagóricas na parede; o calorzi- nho das colchas de retalhos; o eco das Outro dia participei de um curso vozes dos bichos noturnos ressoando de leitura para professores. Uma das no silêncio do aposento... atividades propostas foi que produzís- Mais tarde, vieram outras histó- semos um texto contando nossa histó- rias que falavam de tesouros enterra- ria de leitura. Fiquei sem saber por on- dos, de almas penadas, de serpentes de começar. Começava falando do fas- com olhos de fogo e de seres encanta- cínio pela palavra escrita? Começava dos da mata: saci, caipora, lobiso- pelos primeiros livros que li? Ou imita- mem... Outras eram relatos de viagens va Paulo Freire no texto "A importância cheias de perigosas enchentes, traves- do ato de Ler" e falava primeiro da lei- sias em rios caudalosos, perdas de ga- tura do mundo? De repente, veio-me a do... Essas eram histórias masculinas. inspiração: eu começaria pelas primei- Eram contadas pelos homens. Os con- ras histórias que ouvira quando crian- tadores eram meus tios, os vizinhos, os ça. ciganos e os boiadeiros que arrancha- Acho que tudo começou com as vam em nossa fazenda e, logicamente, histórias contadas por minha mãe e por meu pai. Eu adorava essas histórias, Betinha, a irmã que me criou. De vez pois eram os próprios personagens (os em quando, elas cediam às nossas sú- heróis) que as narravam. plicas e faziam uma noite de contação Meu pai era um experiente con- de histórias. Até hoje, recordo-me de tador dessas "histórias reais." Ele co- algumas: A Festa no Céu com aquela meçou a vida – ainda menino – como cena linda de Nossa Senhora enviando tropeiro. Com orgulho, nos falava que anjos para remendarem o casco do ja- vendia farinha, no lombo dos burros, buti; uma do coelho que conseguiu se- nas cidades do Recôncavo. Só mais lar e montar uma onça e assim ganhar tarde, ele se tornaria fazendeiro e ex- uma aposta; outra de uma menininha pandiria suas andanças por todo o ser- que foi raptada por um velho malvado tão da Bahia e até o estado de Goiás. e ficou presa em seu surrão por muitos Lá, ele comprava e vendia boiadas com anos. Essa era contada por minha mãe. dinheiro vivo ou com a força de sua pa- Ela imitava, pesarosa, a vozinha da lavra de honra – palavra de rei – como menina cantando de dentro do saco dizia em suas narrativas. preto em cada porta onde o velhote pedia esmolas "Surrão triste, surrão de morrer / Minhas continhas de ouro que no rio deixei"... Realmente era uma história muito triste, apesar do final fe- liz. Mas eu achava linda a voz de minha mãe contando histórias. Era bom tê-la www.varaldobrasil.com 9
  • 10. Varal do Brasil, literário sem frescuras! Suas histórias deixaram em mim eram raros lá na roça. a imagem nostálgica de cidades como Se conseguia um papel desses, Ibotirama, Lençóis, Correntina... Mara- recortava figuras de bois, de pessoas e gogipe, Cachoeira, São Félix... Essas principalmente de patos (os mais fáceis últimas imantadas pela magia do mar e de desenharem para mim). Sentada no das enchentes. Elas eram o cenário de chão, enfileirava essa bicharada nas seus "causos" dos velhos tempos de paredes do corredor e ficava o dia in- tropeiro. Eu os escutava de olhos arre- teiro brincando. Os adultos achavam galados imaginando como seriam as engraçado uma menina conversar com ruas calçadas, a feira livre e, principal- figuras de papel. Eles não sabiam, nem mente, um "mundaréu de água verdi- eu – pois só descobri ao escrever estas nha" – o mar. Muitos anos depois, co- palavras – que aquelas paredes com nheci algumas delas, e em todas, senti figurinhas de papel eram os meus pri- aquele sentimento meio esquisito de meiros livros. Eu estava criando minhas "déjà vu" – quase uma saudade. primeiras narrativas. Acho que ali nas- Essas histórias masculinas eram ceu o meu desejo de ser "a dona da contadas ao pé da fogueira acesa na história”. malhada, território de homens e de Contudo, um belo dia, (Eu devia animais. Nós, as mulheres, nos sentá- ter uns cinco anos.) Betinha chegou em vamos nos bancos do avarandado. Mi- casa com uma grande novidade: uma nha mãe ficava um pouco ressabiada sacolinha cheia de livros. Eram peque- quando um grupo maior de boiadeiros nos e traziam, na capa, desenhos de estava pernoitando na fazenda e prefe- traços fortes como se fossem feitos a ria manter as filhas à certa distância carvão. O vizinho (tio Nonô) que em- desses homens rústicos. Ainda posso prestou os livrinhos, explicara que relembrar a lua cheia no céu, os sons eram vendidos na feira; ficavam enfilei- peculiares dos animais na mata, o gado rados num cordão; eram chamados de ruminando no curral, as perneiras e gi- "cordel" justamente por isso. Naquela bões de couro pendurados. Mesmo tarde, minha irmã sentou-se na sala de agora, ainda posso sentir o cheiro dos visitas e leu para uma audiência em- cigarros de palha, dos couros suados e basbacada, uma história em versos que do esterco de boi misturados ao perfu- parecia uma música. Escutei-a tão des- me do velame – cheiros agrestes – lumbrada, que até hoje me recordo de sensuais perfumes em minha memória sua primeira estrofe. Era assim: de mulher. Foi assim que nasceu a minha paixão pelas histórias. Porém, para gostar de ler, é preciso amar o papel e, "Eu vou contar uma história principalmente, a palavra escrita. Estes eu viria a amar depois, cada um a seu De um pavão misterioso tempo, apesar de certas condições ad- Que levantou voo da Grécia versas. Com um rapaz corajoso Digo adversas porque em minha Raptando uma condessa casa não havia livros. Exceto o intocá- vel livro didático de minhas irmãs, que Filha de um conde orgulhoso." ia da primeira à quinta série e era pas- sado de uma para a outra, até mesmo papel impresso, estampado, ou colorido www.varaldobrasil.com 10
  • 11. Varal do Brasil, literário sem frescuras! tempo de avistar o bicho afastando-se do castelo; ia com a cauda aberta em leque, repleta de luzes acesas e tão co- loridas como as penas de pavão Aquelas estranhas palavras "aeroplano"... "pavão-misterioso"... "água-furtada"... "castelo"... "Grécia"... tão sonoras, tão belas, lançaram sobre mim sua magia encantatória. Eu as fi- cava repetindo baixinho com medo de que elas voltassem ao seu esconderijo secreto – dentro do livro – antes que E sua capa era tão linda: um pa- pudesse decifrá-las. Quando Betinha vão imperial com a calda aberta. O de- disse "e foram felizes para sempre", senho era feito com uns traços grossos saltei das asas do pavão misterioso e como se tivessem usado um carvão pa- deixei de ser condessa. Agora eu era, ra desenhar. Acho que o enredo era outra vez, uma menina da roça – uma mais ou menos esse: Havia num país nova menina... Havia descoberto uma distante, chamado Grécia, uma jovem coisa fantástica, uma coisa maravilho- condessa de rara beleza. Ela vivia tran- sa: as histórias moravam dentro dos cafiada no castelo de seu ciumento pai. livros!!! Apenas uma vez por ano, no dia do seu Depois daquela tarde, minha irmã aniversário, o conde lhe permitia mos- vivia agarrada aos livrinhos, porém ra- trar-se à janela do salão de festas on- ramente lia uma história para nós. A de, é claro, jamais aconteciam festas. cruel mágica lia, silenciosa, só com os O pai não dava um baile para comemo- olhos. Não adiantava eu, choramingan- rar o aniversário da filha desde que ela do ajoelhada ao pé de sua cadeira, im- deixara de ser criança para tornar-se plorar por uma história. Então, ficava uma belíssima mulher. Esse aconteci- em pé atrás de suas costas, com o pes- mento trazia àquela cidade grega, ra- cocinho espichado, tentando inutilmen- pazes do mundo inteiro, atraídos pela te, decifrar aqueles caracteres ne- possibilidade de contemplar uma lenda gros ... Ela se irritava e me obrigava a - a mais bela mulher do mundo. No voltar ao cavalo-de-pau, às caçadas de aniversário de dezoito anos, um jovem lagartixa, ou ao quizungue pendurado que a conhecia por uma fotografia - no pé-de-laranjeira. Eu que fosse cres- presente de viagem do irmão mais ve- cer e aprender a ler! lho - passou o dia inteiro, olhando a Não demorou muito, fui para a mocinha apaixonadamente. No final da escola. Era uma sala de aula na fazen- tarde, ela lhe deu um sorriso, e ele te- da de meu tio. Era a minha vez de ve certeza de que fora escolhido; ela se aprender a ler. Logo, logo, estaria len- apaixonara por ele. Então, o jovem alu- do histórias. Doce ilusão! Passei um gou um sobrado próximo ao palácio e, ano inteiro naquela classe multiseriada na água-furtada, mandou um enge- tentando aprender o "abecê". Só nheiro construir – secretamente – um aprendi as letrinhas da primeira fila. aeroplano em forma de pavão. Passado Acho que a inexperiência da professora um ano, na noite do aniversário da leiga, a superlotação da sala e a insipi- condessinha, o pássaro levantou vôo, e dez do "abecedário" contribuíram bas- o moço bonito raptou a donzela. O pai, tante para esse meu fracasso. desesperado, nada pode fazer; só teve www.varaldobrasil.com 11
  • 12. Varal do Brasil, literário sem frescuras! No ano seguinte, meus pais se minúsculo e de poucas páginas; dentro mudaram para a cidade de Santo Este- dele, havia uma historinha com alguns vão, que fica a mais ou menos 220 km desenhos sem graça e pouquíssimas da capital, Salvador. Deixaram a fazen- palavras. Ao chegar em casa, li a da para "dar estudo aos filhos”. Meu 'história" da plantinha carnívora em pai não conseguiu nenhuma vaga no trinta segundos. Muitas vezes li e reli "grupo escolar". É, naquele tempo, só essa história; tentava encontrar algum havia ali uma única escola primária - significado nela. Não tendo conseguido, respeitadíssima pelo profissionalismo guardei o livrinho como um objeto co- dos mestres e pelo ensino de qualidade mum – uma lembrança da professora - o Grupo Escolar D. Pedro I. Ali estu- Lu. Por que será que aquela mestra davam os filhos das famílias gradas do que me fez saltar uma série não imagi- lugar, misturados a um número menor nava que eu poderia ler uma história? de crianças oriundas da classe popular. Esse desencontro com a leitura Enquanto aguardávamos uma va- continuaria durante toda a minha vida ga, fomos matriculados – somente os escolar: ora histórias sem graça, ora mais novos – "na banca da professora nenhum livro. Mas, por minha própria Nade". Minhas irmãs de nove e de doze conta, continuava lendo os cordéis de anos seriam preparadas para cursarem minha irmã. Gostava especialmente de a terceira série; eu, com oito anos, e um que narrava uma história de amor meu irmão com seis, nos prepararía- entre uma princesa e um ladrão ple- mos para a primeira série. Nessa banca beu. Até hoje me lembro de que Renê supervisionada pela professora Nade – enfrentou três perigos terríveis: a mal- delegada escolar do município – apren- dição da Medusa, o Minotauro e o Dra- di a ler "soletrado"; saí sabendo escre- gão-de-sete-cabeças; tudo isso para ver o meu nome completo e mais um pegar a rosa azul num jardim, levá-la saberzinho matemático de soma e de até o castelo e, assim, salvar a vida de subtração. sua amada – a bela princesa Nazidir. Após esse período preparatório, fomos para a escola regular. Minha No meio do quinto ano, comecei professora, recém-contratada pelo Es- a ler contos de fadas. Tomava os livros tado, era a mesma da banca – a doce emprestados de algumas colegas. Era professora Ridalva – sobrinha de pro- um encantamento a cada livro. Eu mer- fessora Nade. Não demorou muito, co- gulhava naquelas páginas repletas de mecei a ler (os livros didáticos) com palavras novas e de figuras deslum- desenvoltura. Graças a essa aptidão, brantes, cujas formas e cores só co- passava de ano sempre com boas no- nhecia em sonhos. Através dessas his- tas; tirei o primeiro lugar no terceiro tórias, viajei em caravanas, atravessei ano; dele pulei diretamente para o desertos de areia no lombo de camelos, quinto ano, o último do antigo curso dormi em tendas coloridas, hospedei- primário. Por causa desse feito, ganhei me em suntuosos palácios... conheci um presente de minha saudosa profes- um "novo mundo" - o Oriente. sora Maria Lúcia Lobo. Fiquei radiante; nunca havia ganhado um presente; era Creio que foi mais ou menos nes- um livro de histórias, o meu primeiro sa época que desbanquei os outros livro de histórias. contadores de histórias e passei a ser a contadora oficial da família. Mas assim que desembrulhei a caixinha, veio a decepção: era um livro www.varaldobrasil.com 12
  • 13. Varal do Brasil, literário sem frescuras! O meu reino era o quarto cheio de tas tardes lá no alto da mangueira – es- camas, onde se acomodavam todas as condida – saboreando o romance entre crianças a minha volta. Na sala ficavam o rapaz bonito e a mocinha; esses esta- os adultos: meus pais e minhas irmãs; vam sempre combatendo um vilão ou às vezes, também os noivos e outras vilã que, geralmente, formava o terceiro visitas. Relembro – com emoção e ale- vértice do triângulo amoroso. gria – o orgulho que sentia quando um Essas revistas eram proibidas por deles me interrompia, lá de longe, para alguns pais, temerosos de que suas mo- corrigir um pequeno desvio da história cinhas despertassem cedo demais para original. Era tão bom contar histórias! o amor. Minha mãe as odiava; atribuía a Melhor ainda quando, no meio de uma elas perigos terríveis; seriam "a nossa narrativa, eu escutava o silêncio vindo perdição". Aliás, esse ódio era extensivo lá da sala de visitas. Todos estavam me aos romances. Ela, assim como todos os ouvindo! Até meu pai! Era a glória. Era, ditadores, temia os livros e até ameaça- em êxtase, que eu concluía aquela his- va atirá-los ao fogo Não aprendeu a ler, tória. porém sabia que os romances narram Já no ginásio, comecei a tomar histórias de amor. Como era possível emprestado as revistas de Walt Disney. alguém, que não conhecia nada do uni- Foi um novo deslumbramento. Aquele verso da leitura, intuir que a palavra es- era um outro mundo: as histórias dividi- crita possui mágica e poder libertador, é das em quadrinhos; a ausência da voz uma pergunta que me faço até hoje. Mi- do narrador; as palavras escritas em nha mãe temia (creio eu) que esse po- balões; os personagens eram bichos der, aliado ao poder do amor – ambos que agiam como se fossem pessoas... revolucionários – pudesse nos libertar Apaixonei-me pelos personagens "do do peso esmagador de seu matriarcado. bem" como Pateta, Lobinho, Vovó Do- Mais tarde, com o crescente aces- nalda, Professor Pardal... e, principal- so aos aparelhos de televisão e o mente, pelo desventurado Pato Donald, "boom" das telenovelas, as fotonovelas, paixão mantida até hoje. Também me assim como as radionovelas, foram aos apaixonei (Vou confessar em segredo) poucos deixando de existir; eram tidas pelos personagens "do mal". Torcia para como "cafonas" e sem nenhum valor. os Irmãos Metralha e Mancha Negra te- Eu, imitando as outras garotas, destruí rem sucesso em seus assaltos ao mu- a pequena coleção que salvara da ira de quirana do Tio Patinhas. Também gosta- minha mãe. Só depois, quando já esta- va da bruxa Madame Mim e do Lobo va cursando a faculdade de Letras, fi- Mau; este tão desajeitado em sua eter- quei sabendo que algumas das histórias, na perseguição aos Três Porquinhos. tão lindas, que havia lido na adolescên- Não demorou muito, comecei a ler cia, eram adaptações de clássicos da li- revistas para moças e senhoras: Capri- teratura universal: Romeu e Julieta, cho, Sétimo Céu, Contigo, Grande Ho- Tristão e Isolda, O Corcunda de Notre tel. Elas veiculavam pequenas reporta- Dame, O Morro do Ventos Uivantes, Or- gens sobre os atores dos cinemas fran- gulho e Preconceito. Hoje, arrependo- cês e italiano, comentários sobre os fil- me de não tê-las guardado. Seriam pre- mes, algumas propagandas de perfumes ciosas relíquias! e produtos de beleza; mas o recheio Entre os quinze e os dezoito principal, o que as fazia serem disputa- anos, enquanto fazia o curso secundá- das pelas adolescentes, quase a tapas, rio, atual ensino médio, comecei a ler eram as deliciosas histórias de amor em romances. quadrinhos: as fotonovelas. Passei mui- www.varaldobrasil.com 13
  • 14. Varal do Brasil, literário sem frescuras! A pequena biblioteca do Colégio ajei por outros países. Num deles, vi a Municipal de Santo Estevão possuía co- fantástica Macondo de Gabriel Garcia leções completas de José de Alencar, Marques varrida por "cem anos de soli- Jorge Amado, Graciliano Ramos e José dão". Depois, fui chamada a um reino Lins do Rêgo, além de algumas outras distante e presenciei uma reunião de obras de autores nacionais e estrangei- cavaleiros na "Távora redonda". Eu era ros. Os romances podiam ser lidos na uma bela princesa, assim como Guine- salinha onde funcionava a biblioteca ou vere, dividida entre dois amores: o rei podiam ser levados para casa por até Arthur e o primeiro cavaleiro, Lancelo- quinze dias. Fiz meu cartãozinho e, com te. Naquele salão, contemplei com re- esse passaporte, comecei a viajar pelo verência a lendária espada Excalibur, Brasil e pelo mundo. Lendo José de escutei a harpa do Merlin e vi o Santo Alencar, fui ao Rio de Janeiro do século Graal ser trazido à mesa por uma pre- XIX: andei de carruagem; fui transpor- sença invisível e, depois, misteriosa- tada em luxuosas liteiras; exibi-me no mente, desaparecer. Passeio Público; freqüentei teatros lota- Outras vezes, saí navegando pe- dos; participei de saraus; valsei nos los mares e oceanos. Acompanhei as bailes entre belas damas e elegantes aventuras do capitão Nemo; tive medo cavalheiros... de Mobi Dick; naveguei durante dias e Voltei à Bahia e, guiada pela mão dias num pequeno barco acompanhan- de Jorge Amado, saí perambulando pe- do o peixe, "o velho e o mar"... Certa las ruas ensolaradas de Salvador; fui vez, tomei emprestado um livro de no- conhecer os malandros, as prostitutas, me “Xogum, as sementes do dragão”. os marinheiros, os vagabundos, os ca- Então, embarquei num navio Holandês pitães de areia. Na companhia desses o “Erasmus” e cheguei a um misterioso personagens, comi peixe frito no Mer- país em pleno século XVI. Era a terra cado Modelo; experimentei cachaça nos do sol nascente: o Japão. Lugar gover- botecos do Pelourinho; tomei banho de nado pelos senhores feudais e seus mar na Ribeira; passei uma tarde em exércitos de samurais. Foi ali que acon- Itapoã; frequentei o curso de arte- teceu o belo romance entre o inglês, culinária de Dona Flor; naveguei em piloto do Erasmus, e uma senhora da jangadas pela Baía de Todos os Santos nobreza, esposa de um perigoso guer- e quase morri afogada junto com Guma reiro samurai. Acompanhando esse par, naquela perigosa noite de tempestade. aprendi sonoras palavras: tufão, concu- Em Ilhéus, temi os jagunços; escapei bina, travesseirar, galera, suserano, de tocaias; colhi cacau; dancei no Bai- vassalo, xogum... Lembro, ainda, algu- taclan usando salto alto e cinta-liga; mas da língua japonesa: “bushido”, comi os quitutes de Gabriela... “sepuku”, ”tai-fun”, “isogi” (isógue), “konnichiwa”... Estive ainda em guerras Depois parti para o sul do País e sangrentas. Numa delas, acompanhei ouvi "o tempo e o vento" movimentan- uma história de amor para descobrir do a roca da velha Bibiana. Ali, com os “por quem os sinos dobram”; noutra, bravos gaúchos de Érico Veríssimo, ca- levei um soco no plexo solar ao saber valguei pelos pampas; pernoitei nas co- qual era “a escolha de Sofia". Essa his- xilhas abrigada do minuano apenas pelo tória, misteriosamente, feriu minha al- poncho; temi as guerras e, feito louca, ma... Por isso não tenho coragem de me deixei seduzir pelos Rodrigos: um terminar o livro nem de assistir ao filme certo capitão e o doutor, seu bisneto... homônimo. Tempos depois, saí do Brasil e vi- www.varaldobrasil.com 14
  • 15. Varal do Brasil, literário sem frescuras! É... os livros não proporcionam me pelo poeta Manoel Bandeira. Ele en- apenas viagens agradáveis, não. Há sinou-me a poesia do cotidiano e dos viagens que nos levam para dentro de objetos "trouvés" ...Mas foi com a poe- nós mesmos e podem ser assim... sia da infância e da “vida que poderia cheias de dor... ter sido” que ele tornou-se para mim uma "estrela da vida inteira". O poeta Quando li esses últimos livros de pernambucano que "engoliu um piano e que falei, já estava cursando a faculda- ficou com as teclas de fora", aos pou- de de Letras. Continuava lendo por mi- cos, foi se tornando uma espécie de nha própria conta e por indicações de amigo que eu houvesse conhecido em leitores mais experientes. Os professo- minha infância de menina solitária. res de Literatura, nos primeiros semes- tres, conduziram-me ao universo dos Paralelamente, fui conhecendo, poemas. Ah, com esses era preciso nas aulas de Língua Portuguesa, dois mais sensibilidade e paciência do que tipos de texto pelos quais mantenho com as histórias... eterna e crescente fascinação: a crôni- ca com sua linguagem ágil, irreverência e humor; o conto com sua intensidade dramática e beleza poética reveladas em poucas páginas e, às vezes, em poucas linhas. Foi, ainda, estudando Literatura que voltei ao sertão. Dessa vez, pisei o chão esturricado da caatinga e vi cria- turas de "vidas secas" à procura da ter- ra prometida. Estive em São Bernardo tentando entender a rudeza de Paulo Honório. Depois acompanhei o fasci- nante rapaz (Ou seria a moça?) conhe- cida como Diadorim; em sua compa- nhia, adentrei as veredas do "grande sertão" e escutei o jagunço Riobaldo falar sobre um pacto com o tinhoso; e No começo, não conseguia perce- ainda posso ouvi-lo dizer "O sertão é ber-lhes a mensagem cifrada, as figu- aqui mesmo, dentro da gente; o sertão ras de linguagem, conforme nos solici- está em toda parte". tavam nas análises. Lia, relia e ficava Ainda "pelejando" no sertão, co- em meu canto estranhando-lhes a so- nheci as plantações de cana e os enge- noridade, a multiplicidade de sentidos, nhos de açúcar da Paraíba; num deles o significado inesperado de uma pala- encontrei um "menino de engenho"; vra... tão conhecida e ao mesmo tempo achei que éramos parecidos. Ambos tão nova. Aos poucos comecei a gostar crescemos vagando pelos arredores da de vários poetas. Gostava principal- fazenda a remoer pensamentos. Muito mente dos românticos Álvares de Aze- do que o menino viu e sentiu eu tam- vedo e Gonçalves Dias. bém vi e senti do mesmo modo. Esta é Nos semestres mais adiantados, uma das mágicas da palavra escrita: o estudamos literatura moderna e, então, outro, aquele que está ali nos livros, me emocionei com Cecília Meireles, somos nós mesmos. Fernando Pessoa, Carlos Drummond de ) Andrade e, definitivamente, apaixonei- www.varaldobrasil.com 15
  • 16. Varal do Brasil, literário sem frescuras! Creio que esses últimos romances de que falei, os romances sertanistas, fo- ram muito importantes para eu valorizar a linguagem de minha gente, a minha lin- guagem, sempre pontuada por palavras fortes, impregnadas pelo sotaque nordes- tino. Pude também compreender que os rendeiros, os ciganos, os loucos da minha infância, os homens, as mulheres, as cri- anças que conheci ou de quem ouvi con- tar, estão aqui – dentro de mim – espe- rando eu lhes dar voz e contar suas histó- rias... Penso, ainda, que através da leitu- ra, pude me reconhecer: sou mulher nor- destina, gente da terra com o umbigo en- terrado na porteira do curral. Agora, final- mente, me orgulho de minha origem e percebo a beleza de tudo que vivi em mi- nha infância de "menina de fazenda". E, para encerrar declaro definitiva- Participar do Varal? Sim- mente: amo os livros; amo a poesia; amo ples! as palavras. E amo, sobretudo, a palavra Entre em contato pelo e- escrita e respeito seu poder de constru- mail ir... e de destruir mundos. varaldobrasil@gmail.com (maio de 1997) www.varaldobrasil.com 16
  • 17. Varal do Brasil, literário sem frescuras! Do Papiro ao Papel Manu- A MANUFATURA faturado Artigo (reprodução) http:// O papel como conhecemos surgiu na www.usp.br/ De outubro de 2002, por China no início do século 2, através de Cinderela Caldeira um oficial da corte chinesa, a partir do córtex de plantas, tecidos velhos e fra- gmentos de rede de pesca. A técnica baseava-se no cozimento de fibras do líber - casca interior de certas árvores O livro tem aproximadamente seis mil e arbustos - estendidas por martelos anos de história para ser contada. O de madeira até se formar uma fina ca- homem utilizou os mais diferentes ti- mada de fibras. Posteriormente, as fi- pos de materiais para registrar a sua bras eram misturadas com água em uma caixa de madeira até se transfor- passagem pelo planeta e difundir seus mar numa pasta. Mas a invenção levou conhecimentos e experiências. muito tempo até chegar ao Ocidente. O papel é considerado o principal su- Os sumérios guardavam suas informa- porte para divulgação das informações ções em tijolo de barro. Os indianos e conhecimento humano. Dados históricos mostram faziam seus livros em folhas de pal- que o papel foi muito difundido entre meiras. Os maias e os astecas, antes os árabes, e que foram eles os respon- do descobrimento das Américas, escre- sáveis pela instalação da primeira fá- viam os livros em um material macio brica de papel na cidade de Játiva, Es- existente entre a casca das árvores e a panha, em 1150 após a invasão da Pe- madeira. Os romanos escreviam em nínsula Ibérica. tábuas de madeira cobertas com cera. No final da Idade Média, a importância Os egípcios desenvolveram a tecnolo- do papel cresceu com a expansão do gia do papiro, uma planta encontrada comércio europeu e tornou-se produto às margens do rio Nilo, suas fibras uni- essencial para a administração pública das em tiras serviam como superfície e para a divulgação literária. resistente para a escrita hieróglifa. Os Johann Gutenberg inventou o processo rolos com os manuscritos chegavam a de impressão com caracteres móveis - 20 metros de comprimento. O desen- a tipografia. Nascido, em 1397, da ci- volvimento do papiro deu-se em 2200 dade de Mogúncia, Alemanha, traba- a.C e a palavra papiryrus, em latim, lhava na Casa da Moeda onde apren- deu a arte de trabalhos em metal. Em deu origem a palavra papel. 1428, Gutenbergparte para Estrasbur- go, onde fez as primeiras tentativas de Nesse processo de evolução surgiu o impressão. pergaminho feito geralmente da pele Segundo dados históricos, em 1442, de carneiro, que tornava os manuscri- foi impresso o primeiro exemplar em tos enormes, e para cada livro era ne- uma prensa. Em 1448 volta à sua ci- cessária a morte de vários animais. dade natal, e dá início a uma www.varaldobrasil.com 17
  • 18. Varal do Brasil, literário sem frescuras! sociedade comercial com Johann Fust e Ainda de acordo com os dados apura- fundam a 'Fábrica de Livros' - nome dos, o grau de escolaridade mantém original Werk der Buchei. Entre as pro- influência decisiva para a leitura. O duções está a conhecida Bíblia de Gu- grupo de pessoas que mais compra li- tenberg de 42 linhas. vros no País possui nível médio de es- A partir daí o mundo não seria mais o colaridade. mesmo. A partir do século 19, aumen- ta a oferta de papel para impressão de livros e jornais, além das inovações A LEITURA tecnológicas no processo de fabrica- Plínio Martins Filho, presidente ção. O papel passa a ser feito de uma da Editora da USP e professor no curso pasta de madeira, em 1845. Aliado à de Editoração da Escola de Comunica- produção industrial de pasta mecânica ções e Artes (ECA), diz que o consumo e química de madeira - celulose - o pa- de livros no Brasil só não é maior por pel deixa de ser artigo de luxo e torna- uma questão de hábito. "Uma das cau- se mais barato. sas da falta de hábito é que a leitura As histórias, poesias, contos, cálculos tem que disputar espaço com outras matemáticos, ideias e ideais poderiam, formas de entretenimento. As grandes a partir de agora, percorrer mares e editoras do Brasil surgiram junto com terras e chegar ás mãos de povos que o rádio e a televisão que, de alguma forma, são meios de lazer baratos e de seus autores jamais imaginariam. fácil acesso." Segundo ele, a distribuição e a divul- Mas desenvolver o hábito da leitura é gação de livros no Brasil são precárias. um desafio a ser enfrentado. Fundada Não há verba para se fazer divulgação em 1946, a Câmara Brasileira do Li- de livros pela televisão, que é uma mí- vro é uma das iniciativas criadas com a dia cara. E os jornais tratam como as- sunto de final de semana. "Um exem- missão de desenvolver a leitura no Pa- plo disso é que na França a venda de ís e difundir a produção editorial brasi- jornais aumenta no dia em que são pu- leira. A CBL, uma entidade sem fins blicadas resenhas. No Brasil as rese- lucrativos que reúne editores, livreiros nhas são publicadas nos dias em que e distribuidores, realizou em 2000 uma se vende mais jornais", afirma ele pesquisa em todo o País para avaliar a indústria do livro nacional. Segundo a pesquisa, há no País cerca de 26 milhões de leitores, e 12 milhões de compradores são das classes B e C. Sendo que 60% têm mais de 30 anos, e 53% são moradores da Região Su- deste. Da população alfabetizada com mais de 14 anos, 30% leu pelo menos um livro nos últimos três meses. www.varaldobrasil.com 18
  • 19. Varal do Brasil, literário sem frescuras! asm@folha.com.br Nunca pensei em escrever, quando diziam Minha Paixão que eu “levava jeito”, desconversava; escrever um livro era algo sagrado demais para uma simples Por Ana Rosenrot mortal como eu.Mas graças ao apoio de uma pro- fessora especial, a Dona Jussara, criei coragem e comecei a escrever meus primeiros contos − que Nasci numa casa sem livros, mas possivel- depois se tornaram muitos −, crônicas e poesias. mente trouxe essa paixão de outra existência, pois Arrisquei mostrá-las a algumas pessoas, fui elogi- desde sempre vivia admirando os mais diversos ada, criticada, censurada pelos meus pais, que ti- volumes, achava-os lindos, mesmo antes de nham preconceito contra escritores – que não ga- aprender a ler. nharão dinheiro e serão tratados como loucos − , Alfabetizei-me sozinha, aos quatro anos, apesar de tudo, não desisti, escrever é como um recolhendo recortes de jornais velhos, copiando as vício, quando você começa a libertar seus senti- palavras, pedindo para alguém lê-las para mim e mentos não há mais como prendê-los. depois as repetia incansavelmente até aprendê-las. Quando li pela primeira vez um trabalho Comecei minha coleção de tesouros – que meu impresso, parecia tão irreal, era minha essên- hoje enchem estantes e mais estantes − quando ia cia que estava ali, revelada ao mundo; entendi às feiras da cidade; enquanto as outras crianças naquele instante o que sente cada autor ao conce- choravam pedindo brinquedos ou doces – o que ber um livro, ele é seu filho, seu amante, sua al- era considerado normal – eu, a esquisita, pedia ma, é você de verdade. livros – ilustrados, brilhantes, lindos – e passava É muito difícil, até irritante, aventurar-se no horas tocando, sentindo, devorando cada letra de mundo literário num país como o Brasil, onde os minhas preciosidades. livros ainda são considerados elitistas, onde é pre- Na escola encontrei meu templo: a bibliote- ciso estar na moda para ser lido e as chances para ca. Suas estantes repletas, pulsantes, em cada titu- os novos escritores são muito pequenas. Mas não lo havia um mundo novo que a mim se revelava. devemos desistir, apesar de muitos dizerem que Não sei, nem poderia contar, quantos livros devido à era tecnológica eles entrarão em extin- li em trinta e poucos anos de vida, não poderia ção, os livros foram responsáveis pelo desenvol- também contar sobre o que falava a maioria, pois vimento da civilização e dificuldades à parte, eles os absorvi de tal forma que passaram a fazer parte sempre serão importantes para nós, leitores e es- da minha própria história. Mas alguns foram es- critores. peciais, às vezes consigo lembrar melhor de um Não posso, nem quero, prever o amanhã fato pelo livro que estava lendo na ocasião do que dos livros e acho que ninguém pode, só sei que pelo fato em si. eles estarão sempre ao meu lado. Os livros sempre foram meus melhores E como eu poderia sobreviver sem a minha amigos, minha companhia fiel das horas difíceis, paixão? meu amor e ódio; tenho sempre um livro por per- to, mesmo quando não estou com tempo para ler, pois somente o contato, a familiaridade, me traz uma incrível sensação de paz e segurança. www.varaldobrasil.com 19
  • 20. Varal do Brasil, literário sem frescuras! anair_weirich@yahoo.com.br do seu peso, PESO QUE NÃO elas amenizam PESA no peso da recompensa. E quem pensa que palavras não pesam, Por Anair Weirch não pensa. É... as palavras pesam!... O peso das palavras Mas as letras dançam é a cruz que carrego... ao som dos meus passos, e me nego a negá-la! e os sonhos me levam. As palavras? Pesada cruz de letras. Estas, já não pesam! Arrastada... incompreendida... Quiçá, de causa perdida, Poesia premiada com o pri- meiro lugar no Concurso Na- mas me apraz carregá-la! cional de Poesias da Editora Taba Cultural Meus braços, esfolados Rio de Janeiro – 2005 das palavras, doloridos por seu peso, as transportam com enle- vo. Na ânsia pelo alívio www.varaldobrasil.com 20
  • 21. Varal do Brasil, literário sem frescuras! xavier.arr@gmail.com dem personagem e ator, na escrita confun- VIDA DE ESCRITOR dem o autor e sua obra. Acham que o texto é autobiográfico, que é real, que você viveu Por Angela Xavier linha por linha do que está escrito. Tenho alguns poemas classificados como eróticos e/ou sensuais e já ouvi mui- Escrever é um ato de coragem. Eu tos comentários desse tipo, com ar de admi- diria isso e acrescentaria: escrever é para ração e até certa malícia: Nossa você fez os fortes! Pessoas fracas, que não perse- isso? Você fez aquilo? Curiosamente, o veram e que costumam recuar ao primeiro texto se referia à leitura de uma reportagem obstáculo, não deveriam escrever, muito me- estampada numa revista masculina. Outros nos publicar. questionam: para quem você escreveu is- A princípio, alguém perguntaria: escrever pa- so? Não passa pela cabeça deles que nem ra que, se ninguém lê? E isso é uma verda- sempre falamos sobre nós, sobre o que vive- de que, ao mesmo tempo, nos remete a um mos ou fazemos. Nossa imaginação é quem paradoxo: a produção editorial brasileira so- vai guiar o que escrevemos e com ela segui- mente em 2010, segundo dados da Câmara mos rotas inesperadas! Brasileira do Livro, totalizou 55 mil títulos, o equivalente a 210 obras por dia útil, em to- Matamos muitos leões por dia, sacrifi- dos os gêneros. Para onde vão esses livros? camos momentos de folga, viajamos, partici- Os meus estão aqui, enquanto eu en- pamos de feiras literárias, antologias, con- gendro mil e uma estratégias para que che- cursos. Assumimos os custos de toda essa guem aos leitores. Leitores que nem são movimentação cultural, não sem antes meus ainda, mas que terei que conquistar. passar por uma verdadeira maratona, que é Esse é o maior desafio de quem publica um a produção de um livro, desde você ter a livro e por isso, requer coragem. ideia, escrever os textos, selecioná-los, gra- O camarada tem que ser muito ma- var em arquivo ou CD, escolher a editora (e cho como diria meu pai, para deixar registra- nesse ponto temos que ser criteriosos, pois do num livro seu pensamento sobre seja lá o existem muitos picaretas no mercado), solici- que for. Sempre haverá alguém disposto a tar orçamento, fechar o contrato, decidir discordar, achar aquilo piegas ou ficar tecen- quem vai prefaciar, fazer a apresentação da do considerações sobre o porquê do autor se obra, elaborar os textos das dedicatórias, os pronunciar desta ou daquela forma, em que agradecimentos, as orelhas (direita e esquer- momento e em que circunstâncias aquilo da) e o texto da contracapa. aconteceu. Assim como nas novelas confun- www.varaldobrasil.com 21
  • 22. Varal do Brasil, literário sem frescuras! Importante nessa etapa que o autor mação de poesias ou alguém que toque mu- tenha uma biografia atualizada. Caso não sica instrumental. possua, deve elaborá-la, citando os livros Se quiser que seu livro chegue ao que publicou, os prêmios recebidos e os des- consumidor final acompanhado de um mar- taques de sua carreira. Acompanha a biogra- cador de páginas, você deve contratar os fia uma foto atualizada do autor. Procuro es- serviços de uma gráfica e arcar com mais colher uma foto em que esteja bem produzi- essa despesa. Também deve providenciar a da, logicamente. Mesmo assim, quando me confecção de um banner, em tamanho pa- veem no dia a dia, sem produção e eu mos- drão, que ficará exposto no local do evento, tro o livro, ao ver a foto inevitavelmente ouço com pelo menos 15 dias de antecedência, essa frase: Nossa, como você está diferen- para chamar a atenção do público em geral, te! Diferente é elogio? Se for, tá valendo! que pode até trazer mais gente para o seu Mas se alguém pensa que a maratona evento, se o que você divulgar for convincen- acabou, que nada! Está só começando! De- te. pois de concluído o processo de produção, vem o Muitos escritores se decepcionam lançamento e aí preparem os bolsos, pois os com a quantidade de livros vendidos no dia custos são altíssimos! Algumas editoras opor- do lançamento. Nesse ponto não é bom criar tunizam ao escritor o lançamento do livro em expectativas. Tem muita gente que compare- eventos literários nacionais importantes (como ce, serve-se do buffet, te abraça, dá os pa- bienais, entre outros). O custo de um lança- rabéns e vai embora. Demonstrou considera- mento desse porte inclui despesas de via- ção por você? Demonstrou! Era obrigada a gem e estadia por conta do autor. Algumas comprar o livro? Não era! Então, porque a editoras cobram para expor o livro nesse tipo decepção? Numa outra oportunidade essa de evento (costumam até fazer pacotes pro- pessoa poderá comprar o livro e até indicá-lo mocionais). Outras oferecem o serviço gra- a alguém que se interesse por aquele gênero tuitamente, desde que o escritor feche o con- literário, caso ela não tenha se interessado. trato da produção do livro com eles. Tem quem goste de poesia e quem Recentemente lancei meu livro na Bie- não goste. Poesia vende? Poesia não ven- nal de São Paulo e posso dizer que, nada se com- de? São questionamentos que se ouvem aos para a emoção da primeira vez que tocamos montes. Eu digo: sempre haverá espaço pa- em nosso livro, finalmente pronto! É como ra o que é bom. um filho que acaba de nascer, mas você ain- Vida de escritor não é fácil. Para enca- da não viu a cara que ele vai ter, entende? rar tudo isso tem que ter paixão, determina- Receber miolo, capa e vistar autorizando a ção e coragem. Viver é assumir riscos. O impressão, não é a mesma coisa! Agora, máximo que pode acontecer é você perder poder vê-lo num estande, sendo exposto nu- tempo, dinheiro e ficar com estoque enca- ma das maiores feiras literárias do mundo, é lhado. Mas se não tentar, nunca vai saber. uma sensação tão incrível que fica difícil tra- duzir em palavras! Muito bom!!! Depois do lançamento na Bienal (que já confere um certo status à sua obra) é ho- ra de lançarmos em nosso município e, de- pendendo do local que escolhermos (se for uma livraria da moda, dessas bacanas que existem nos shoppings), só para fazer o lan- çamento e deixar o livro à venda, arcarmos com cerca de 40 a 50% do preço de capa. Definido o local, vem a organização do cerimonial, providenciar convites, entregá- los, contratar buffet (caso esteja nos seus planos servir um coquetel), providenciar uma atração cultural, que pode ser canto, decla- www.varaldobrasil.com 22
  • 23. Varal do Brasil, literário sem frescuras! 23 de Abril – Dia Internacional do Livro O Dia Internacional do Livro e dos Direitos Autorais, 23 de abril, é comemorado para estimular a reflexão sobre a leitura, a indústria de livros e a propriedade intelectual (direito sobre a criação de obras científicas, artísticas e literárias). A data foi instituída em 1995, pela Unesco – organiza- ção voltada para a Educação, Ciência e Cultura, que integra as Organização das Nações Unidas. A escolha do Dia do Livro não foi aleatória: em 23 de abril de 1616 faleceram Cervantes e Shakespeare, dois desta- ques da literatura universal. O Dia do Livro é, portanto, uma oportunidade de ren- der uma homenagem mundial ao livro e aos seus au- tores, motivar a descoberta do prazer da leitura e re- conhecer a contribuição dos escritores para o progres- so social e cultural. A ideia dessa celebração surgiu na Catalunha (Espanha), onde, nessa data, tradicional- mente, dá-se uma rosa ao comprador de um livro. Fonte: hƩp://a-informacao.blogspot.ch/ www.varaldobrasil.com 23
  • 24. Varal do Brasil, literário sem frescuras! veranai@yahoo.com.br Que ensinaram, a alçar voo através de O Livro páginas Lentamente viradas, guardando emoções surgidas. Por Anna Back Onde letras, figuras e sons, convidam A transcender-se do aqui, do agora, da vida... Livro é sonho, é busca, é querer mais e Instrumento ímpar no mundo há, mais. Como um mestre a soprar no ouvido. Mágica, encantamento, sensações... Se fechado, instiga a curiosidade... Quem escreve um livro, gera um filho queri- Se aberto, doa-se em respostas ao eco do! emitido. Na ansiedade da aceitação, vive a quimera, De banho, de pano, em quadrinhos, um pouco doída, colorido... No propósito de mostrar ao mundo, sua cria, Preto e branco, palpável, em braile, virtual! gerada, Assim se apresenta nosso amigo livro, De peito e alma abertos, extrai e expõe Científico, religioso, único, de enciclopédia, Seu âmago, sua alma, o que diz seu De estudo, poético, lazer ou informal. coração, Poucas coisas se comparam a ele na vida Nem sempre razão, mas pura emoção, da gente! Solta, livre ao vento, ou em casulo, contida. Todo livro, traz escancarada, a intenção do Quem esqueceu o primeiro contato, o autor. enamorar-se? Seja ciência, informação, poesia, devaneio... As primeiras leituras feitas ou no colo, Lazer, história, de cunho religioso, social... ouvidas, Foi feliz quem ao escrever, lançou mão De pais ou avós, irmãos, tias, pessoas De vontade, desprendimento, material... queridas, www.varaldobrasil.com 24
  • 25. Varal do Brasil, literário sem frescuras! E soube sutilmente penetrar no interesse e atenção De quem o leu, o compreendeu e se sentiu tocado No profundo do seu EU, seu ser, seu coração! Li livros incríveis, inteligentes, que marcaram Momentos, encontros, fatos, pra toda a vida. Leituras furtivas, secretas, proibidas... Outros fúteis, equivocados, vazios de propósitos. Às vezes, parei pra pensar tamanha capacidade De autores fantásticos, imaginações férteis, Leitura agradável, envolvente, capaz de prender, Aprisionar almas no enlevo das belas palavras Sutilmente escritas pra sempre, na vida da gente. Escrevo fragmentos, quem sabe um dia, reunidos, Se tornem um livro, sonho acalentado... Mas serei feliz, se com meu querer escrever, Ter tocado a emoção, ter sido bálsamo, ânimo Pra algum coração desanimado, triste, recaído! www.varaldobrasil.com 25
  • 26. Varal do Brasil, literário sem frescuras! arletesan@terra.com.br NASCIMENTO Por Arlete Trentini dos Santos PEGA LAPIS E PAPEL RISCA RABISCA OU TECLA AQUI, DELETA ALI É IDÉIA SURGINDO OS PENSAMENTOS CRIANDO VIDA RETROCEDEMOS OU AVANÇAMOS NO TEMPO. VIAJAMOS, VAGAMOS... FRIO OU CALOR RIQUEZA OU POBREZA PRATO FARTO OU SOBREMESA COLOCAMOS A NOBRE MESA. IMAGINAÇÃO COLORIDA ÀS VEZES ATÉ DOLORIDA NASCE ASSIM, LOGO EM SEGUIDA A CRIA GANHANDO VIDA UMA EDITORA SE HABILITA E FAZ ASSIM NOSSA ESCRITA GANHAR VIDA NO PAPEL DE UM PARTO BEM DEMORADO POR MUITOS ELABORADO NASCEU ENFIM O ESPERADO... O LIVRO www.varaldobrasil.com 26
  • 27. Varal do Brasil, literário sem frescuras! linamacieira@hotmail.com O livro e sua Magia Por Audelina de Jesus Macieira Um livro é mais que um livro, ele é um professor e ao mesmo tempo é aluno, ele é um sonho encantado e também é um sonho realizado, um livro é uma passagem secreta para o prazer e para o conhecimento. Um livro é capaz te fazer flutuar e te fazer pensar que é um passarinho livre para ir longe batendo suas assas até o infinito. Quando se es- creve um livro é algo especial, é uma criação, escrever exige dedicação e horas de muita emoção, paciência e criatividade. Ao escrever imaginamos ser um ser em construção, po- demos construir um mundo próprio que vai invadir a vida do leitor que pode se apaixonar, rir ou chorar, este encantamento começa a cada letra, a cada palavra que formando frases descreve o que autor está vivenciando naquele instante. Como autora de poesias e histórias eu me torno várias entidades, sou tudo e sou nada, um cachorro, um amante, uma árvore, uma luz, um sentimento, uma razão, uma certeza, qualquer pessoa ou coisa. Sou eu mesma e sou quem eu represento em cada sentimento de ódio ou de dor, de alegria ou de amor, sou eu o tempo todo nas dores que não são minhas e sendo minhas talvez, sou assim interprete das coisas da vida como já havia dito antes em versos do poema Vida.” Vida que queres que eu seja, um homem, uma mulher , uma flor, uma semente, uma cor ou uma figura de gente. Sou eu amada? Sou eu ódio em carne viva, sou caminho desta estrada, sou vida e vida e mais nada.” www.varaldobrasil.com 27
  • 28. Varal do Brasil, literário sem frescuras! Um livro representa para mim múltiplos sentimentos de ensinamentos que ficarão na vitória do mocinho contra o bandido, na derrota da bruxa, na descoberta da felicidade por crianças encantadas, na luta constante do bem contra o mal, e ai entendemos o quanto é bom lê e o quanto é bom para o escritor saber que alguém leu o seu livro. Pois sabemos o quanto um livro leva tempo para ficar pronto, a preocupação com cada palavra com cada frase, buscar uma editora que compartilhe suas ideias, e ainda vê as ilustrações e todos os detalhes, as- sim o livro vai se apresentando aos poucos e se formando como um ser que tem vida. Todo livro é especial para quem lê e especial para quem escreve, quem escreve ta preocupado em ofertar com o seu livro emoções, causar indignação se for o caso e em outros aspectos até fazer dormir aquele que lê. Um livro é um amigo, um irmão, um mensageiro e às vezes até lhe diz mais que pa- lavras lhe ensina a viver. Quando eu li um livro pela primeira vez eu tinha sete anos e até hoje me lembro da emoção que me causou, eu ria muito com aquelas palavras novas que estavam ali, era um livro de histórias infantis Ali Baba e os quarenta ladrões, muito bom, e daí não parei mais, li muitos livros, li Carlos Drummond e Jorge Amando entre outros escri- tores e me apaixonei, ao Chegar a Faculdade , percebi o quanto toda aquela leitura era im- portante na minha vida, a leitura é uma bagagem que levamos dentro de nós, e nos dá su- porte para adquirir conhecimento de mundo. As dificuldades existem para quem escreve um livro, pois as editoras não estão, mas valorizando os jovens poetas ou jovens escritores, na verdade temos que custear nossos livros para que ele enfim chegue às mãos de leitores e assim divulgar este trabalho tão maravilhoso que é escrever, contudo espero com esperança vê as letras de minhas poesias se espalhar por terras distantes e mesmo que de forma tími- da fazer alguém ri ou chorar , dormir e sonhar. www.varaldobrasil.com 28
  • 29. Varal do Brasil, literário sem frescuras! beƩyescritora@silber.com.br O LIVRO Por Betty Silberstein Até chegar ao nosso atualíssimo e-book, muitos materiais foram usados como supor- tes para a escrita: ossos, bronze, cerâmica, conchas, bambu. Alguns dos antigos mais co- nhecidos foram a tabuleta de argila escrita em língua suméria (2400 - 2200 a.C.) e o Livro dos Mortos (Egito), em papiro (em torno do ano 1000 a.C.). A seda, na China, foi também uma base para a escrita, feita com pincéis. Na Índia, foram utilizadas folhas de palmeiras secas. A partir do momento que a escrita foi transposta para o papel, transformado em livro, podemos perceber que sua história é de inovações técnicas, as quais o ser humano só teve a ganhar, já que com isso foi aperfeiçoada a qualidade de conservação do texto, o acesso à informação passou a atingir um número crescente de pessoas, sem contar a portabilidade e o custo de produção. A partir do primeiro livro impresso (1455) a Bíblia, em latim, com a prensa de tipos móveis reutilizáveis, inventada por Gutenberg, o sonho atemporal de escri- tores do mundo inteiro passou a se concretizar: o livro popularizou-se definitivamente, tor- nando-se mais acessível pela redução enorme dos custos da produção em série. Não me parece que as coisas mudaram muito para o escritor desde os primórdios dos tempos até os dias de hoje. A tarefa de criar um conteúdo passível de ser transformado em livro continua sendo tarefa do autor, que dedica horas, dias, meses a fio pensando, escrevendo, reescrevendo mil e uma vezes até que seus originais cheguem às mãos de uma editora. Se um leigo no assunto acredita ser esta a parte mais difícil para a publicação de um livro... engana-se re- dondamente: por incrível que pareça, esta é a parte mais fácil para o escritor, cuja via cru- cis se inicia a partir do momento que este sonhador está com seu manuscrito debaixo do braço, peregrinando de editora em editora para ver se alguma se interessa em publicá-lo. SE isso acontecer... maravilha! Tirou a sorte grande. Caso contrário, terá que bancar mesmo seus escritos. Entretanto, mesmo resolvendo esta primeira etapa (de uma maneira ou outra), ainda falta um belo marketing em cima do produto, uma inteligente estratégia de divulgação e distribuição e uma dose cavalar de paciência para acertos de contas com li- vreiros e distribuidoras de livro e quem sabe receber algum dinheiro por todo o trabalho. www.varaldobrasil.com 29
  • 30. Varal do Brasil, literário sem frescuras! É... realmente um longo caminho, mas posso dizer com conhecimento de causa que VALE A PENA! Ao segurar nas mãos seu “baby impresso” é uma sensação indescritível. Só comparada à alegria e orgulho de alguém ter lido seus textos, ter elogiado e reconhecer seu trabalho. Por isso, acho sensacional o Varal do Brasil dedicar um número todinho a esse tema tão difícil, mas superinteressante, para dar força, ânimo e quiçá algumas dicas para os novos (e os não tão novos assim) escritores de plantão. Que aproveitemos bastante esse número especial do Varal, que trata de um importan- te produto intelectual e de consumo dos dias de hoje: este “poço sem fundo” de informação, conhecimento e sabedoria, que é o LIVRO! www.varaldobrasil.com 30
  • 31. Varal do Brasil, literário sem frescuras! carlosluciogonƟjo@terra.com.br que representa significativa glória num Palavras jogadas ao léu país em que as editores não investem nem apostam em novos autores (digo isso no tocante ao ato de se fazer co- Por Carlos Lúcio Gontijo nhecido, uma vez que existe gente com idade avançada e sem qualquer trabalho editado), obrigando aos que pretendem Não me perguntem aonde ir para tirar a sua obra da gaveta, em tempo de encontrar leitores, pois nunca soube. As democrática ditadura de intensa propa- bibliotecas estão sempre vazias, as li- gação do grotesco ou, no mínimo, de vrarias repletas de autores estrangeiros valor cultural duvidoso, que por sua vez e livros de autoajuda, enquanto a litera- leva adultos, adolescentes e crianças a tura brasileira sobrevive com a simples dançarem na boquinha da garrafa. Infe- e costumeira citação de grandes auto- lizmente, entre nós, o esmero tecnológi- res, que verdadeiramente também são co da imagem digital chegou às muito pouco lidos. Não entendo também “nossas” televisões antes de as mesmas de busca de recursos para se editarem implantarem qualidade em sua rede de livros, porque nunca obtive sucesso programação. nessa empreitada, consciente de que a política cultural brasileira só favorece Se eu fosse tangido pela busca de aos que se acham sob os holofotes da fama e sucesso não estaria me moven- mídia, o que determina fluxo volumoso do para editar o meu 15º livro (POESIA de recursos para as mesmíssimas cele- DE ROMANCE E OUTROS VERSOS) nem bridades e famosos de sempre. Todavia, disposto a investir quantia, para mim em torno desse assunto, as discussões volumosa, em meu site, que está no ar se prendem mais ao calor obscurantista desde 5 de junho de 2007. Uma vez do fogaréu das vaidades que à luz da que, hoje, o que determina notoriedade real busca de soluções. são a inventiva e o comportamento es- drúxulo ou completamente anômalo e Houve um tempo em que concur- contrário aos chamados bons costumes, sos literários lançavam novos talentos, tratados como desnecessários ditames mas hoje eles só servem para propiciar ultrapassados. alguma pequena edição ao ganhador, o www.varaldobrasil.com 31
  • 32. Varal do Brasil, literário sem frescuras! A dilapidação promovida ao senso depois de tão longa caminhada. Só me comum que norteia a convivência em resta mesmo impor-me alguns sacrifí- sociedade vem exatamente dos órgãos cios em nome do invisível, do que não que deveriam atuar em sua defesa. Os se vê: a energia imaterial do halo da poderes Executivo, Legislativo e Judici- alegria de efetivar o exercício de um ário se consideram (e se põem) acima dom, ainda que as palavras me pare- da nação brasileira, que sabiamente os çam jogadas ao léu. julga pelo produto final que a ela é apresentado. Vem daí a generalização Enfim, sou brasileiro comum. Faço da reclamação popular, pois quando parte desse povo, que apesar dos go- uma prestação de serviço não é satisfa- vernantes e dos podres poderes, conse- tória o consumidor recorre ao PROCON gue sobreviver e driblar as pedras ati- contra a loja vendedora ou a fábrica radas em seu caminho. Termino então produtora, não lhe sendo exigida a indi- repetindo reflexão de Sigmund Freud, cação de nomes – ao produtor da mer- grande explorador da alma humana: cadoria defeituosa cabe, se assim o de- “Mas posso me dar por satisfeito. O tra- sejar, a descoberta do funcionário res- balho é minha fortuna”. ponsável pela ocorrência! Ou seja, a má prestação de serviço advinda da ação dos Três Poderes é problema rela- tivo a todos aqueles que o integram. Cabe a cada um deles e mais especifi- camente aos que se nos apresentam como a parte boa, reclamando da cons- tante acusação generalizada, agirem em prol da devida apuração. Afinal, não se trata de seres inanimados; não são maçãs sadias enfiadas, involuntaria- mente, em saco de aniagem em meio a frutos putrefatos... Em ambiente assim perverso, no qual os que deveriam dar o exemplo insistem em não dá-lo, assisto ao coti- diano crescimento da cultura do levar vantagem em tudo, que vai levando a tudo de roldão. Para onde olho eu vejo podridão: é político com dinheiro na cu- eca, na meia, no porta-malas, no banco do carro; são favorecimentos e desvios de recursos públicos em montante ini- maginável, mas que pode ser dimensio- nado pela paisagem de abissais carên- cias sociais que nos rodeia. Quem sou eu, pequeno escriba, para perder o fio da meada, abandonar a literatura menor que realizo (mas que é a minha vida) à beira do caminho, www.varaldobrasil.com 32
  • 33. Varal do Brasil, literário sem frescuras! cesarsf@ymail.com Independente, e por que não? ta" consideram como requisito impres- cindível, a diplomação acadêmica ou frequência em oficinas literárias que Por César S. Farias ensinam o autor a escrever. São pon- tos de vista que, á meu ver, devem ser respeitados mas não aplicados como Nem todos os escritores conse- verdade absoluta. Se você, mesmo guem um contrato com alguma editora sem possuir os atributos que chamam disposta a valorizar o seu trabalho, a atenção da indústria literária, acredi- com possibilidades de lucros razoáveis ta nas suas ideias e em sua capacidade para ambas as partes. A estes, que não de cativar leitores, deve cedo ou tarde estão dispostos a permanecerem por tomar uma atitude para ganhar um lu- tempo indefinido batendo em portas e gar ao sol. mais portas de editoras, resta hoje o caminho independente da auto publica- Eventos como a Feira do Livro de ção. Felizmente, com o advento da in- Porto Alegre permitem, ao contrário da ternet e o progresso dos recursos de maioria dos encontros literários do pa- computação, o monopólio da impressão ís, um espaço aos escritores indepen- saiu das mãos de umas poucas empre- dentes, que investem em seu próprio sas que abasteciam o pequeno merca- trabalho para mostrarem às pessoas do de leitores do nosso país. É possí- que existe vida inteligente fora das edi- vel, com critérios e dedicação, chegar- toras. A coletânea de contos "O Grande se a um resultado final que permita ao Pajé", lançada oficialmente na 57ª edi- escritor concretizar a montagem da sua ção do evento, propõe um obra para apresentá-la ao julgamento olhar reflexivo ao consumo da maco- crítico do leitor. Dessa forma, consegue nha, erva sagrada para vários tribos ele formar, gradativamente o seu pró- indígenas, e a impune violência contra prio público. os animais em nossa sociedade atual. Certamente, as abordagens polêmicas Entre os fatores que contribuem da obra, não colocam-na entre as pre- decisivamente para a aceitação da obra feridas do grande público, contudo, o no mercado editorial convencional, está autor faz dela mais um grito de alerta a temática da obra. As ideias propos- sobre o desrespeito às culturas e for- tas, aliadas a uma hábil narrativa, ga- mas de vida diferentes da nossa. rantem a simpatia ou não dos fabrican- tes de livros. Muitos "doutores da escri- www.varaldobrasil.com 33
  • 34. Varal do Brasil, literário sem frescuras! cleoreispoema@hotmail.com LIVROS Por Cléo Reis Emano minhas leituras pelo Universo Brisa e Sol abraçam ideias iluminando a Vida De um banco qualquer ou do meu tra- vesseiro, sob o manto celestial bordado de luzes, abraçada à Natura que dentro de mim re- pousa, silentes Autores e letras entrelaçadas por inspiradoras Brisas rodeiam-me na mudez da escrivaninha transcendental Livros são Pontes- perene arco-íris Universal levando-me a profundezas de reflexões revigorantes Ameno exercício espiritual Novas roupagens, róseas, florescentes para minha alma em sublimações e completudes. www.varaldobrasil.com 34
  • 35. Varal do Brasil, literário sem frescuras! hana.haruko2@gmail.com UM DIA DE LIVROS, MUITOS LIVROS E ÁRVORES Por Clevane Pessoa de Araújo Lopes Jacqueline Aisenman de azul, e sua árvore, Terezinha, observada por Rogério Salgado e por mim, (Clevane Pessoa), no Jardim dos Poetas-Lagoa do Nado, em 31 de maio de 2012.Salgado e eu . Marco Llobus marcara para 31 de maio, a segunda edição do Jardim dos Poetaspoetas que passaram pela Lagoa do Nado (*)em Saraus de Poesia , os que fizeram parte do his- tórico processo ... A premiada prosadora e poeta Norália de Castro Mello estava nos primórdios da organiza- ção, em Brumadinho, de um lançamento- do Varal do Brasil-2, onde estamos na qualida- de de coautoras e organizada por Jacqueline Aisenman a qual lançaria também seu pró- prio novo livro, "Briga de Foice", pela Design Editora , de Jaguará do Sul/SC, um belo trabalho editorial. Jacqueline também é catarinense-e mora há anos, em Genebra. Norália sonhava em reunir aqui, os coautores mineiros. Queria sobretudo, oferecer a Jacqueline a grande oportunidade de conhecer Inhotim (**).Mas as negociações se arrastavam, graças aos valores -e ela então, investiu potenci- almente na Prefeitura de Brumadinho, onde hoje reside, que cedeu-lhe a Casa da Cultura- para a recepção de 01 de junho, hospedagem aos poetas e prosadores, várias benesses. A Secretaria de Cultura e Turismo entrou no esquema produtivo-e Norália pode contar com Juliana Brasil, Regina Esméria, Maria Lúcia Guedes, Maria Carmen de Souza, que se empenharam na decoração e na degustação de acepipes tipicamente mineiros juninos. Segundo comentários dos autores e convidados, foi uma grande confraternização- continuada em Inhotim e depois no Restaurante D. Carmita, com os lançamentos das an- tologias citas e livros dos presentes. www.varaldobrasil.com 35
  • 36. Varal do Brasil, literário sem frescuras! Bem, então, no Dia 31, aqui em Belo Hori- conteúdo. zonte, começamos a recepção à Jacqueline, Bem, esse prólogo longo , mas necessário que seria homenageada junto com Diovva- ao registro de nossa história de poetas, nos ni Mendonça (leia-se Paz e Poesia ***) , no leva agora, à Lagoa do Nado. Sarau da Lagoa do Nado, no Restaurante D. Preta, reduto de poetas ,artistas e pessoas Lá, além do mini tour pelo pulmão verde e da Paz, a convite de Claudio Marcio Barbo- suas águas, com passagem pela exposição sa , produtor cultural e poeta, que faz parte a céu aberto da obra enraizada de Mestre da família que administra o D. Preta prepa- Thibau., Jacqueline e nós, poetas convida- ram um substancial prato mineiríssimo, o dos , fomos levados para plantar nossa ár- Feijão Tropeiro . vore no Jardim da Poesia. Quando saí de casa, sabendo que cada ár- vore poderia ser madrinha ou afilhada do poeta e o poeta escolheria o nome de sua árvore, pensei em achegar-me a uma que desse muitas flores , para dar-lhe o nome de minha mãe, que adorava o verde. Eu anda- va daqui e dali, mas fui atraída por um ce- dro. Mesmo ele apresentando uma praga branca. Não consegui afastar-me das lindas Foi organizada uma mesa de livros , para a folhas oblongas e acetinadas. Então, pensei: degustação da mente e do espírito, por que vou dar-lhe o nome de Máximo, pois meu não, do coração? Jacqueline recebeu as avô ,paraibano, trovador, cordelista e jorna- "Palmas Barrocas" - alusivas à arte sacra lista, repentista sonetista, que ensinou-me a mineira, uma criação da artista de Sabará- metrificar e amar a poesia ainda no seu co- uma das mais antigas cidades mineiras- Dir- lo, não obstante árvore do gênero feminino léia Neves Peixoto e que são parcimoniosa- na gramática, mas comum dos dois na es- mente distribuídas pelo grupo de Poetas Pe- pécie, Cedro sempre vai lembrar-me o gêne- la Paz e pela Poesia., grupo que realiza o ro masculino. Paz e Poesia em Belo Horizonte. No D. Preta, , esperamos a chegada de No- rália, que chegou com sua filha Daniela. Desse momento, participaram os poetas e artistas de Belo Horizonte, Marco Llobus, Neuza ladeira Rodrigo Starling, Iara Abreu, Maria Moreira, Adão Rodrigues, Fátima Sampaio, Rogério Salgado, Claudio Márcio Barbosa , Serginho BH (fundo musical ao violão) e eu. Coautoras de outros Estados e cidades estiveram no congraçamento: Yara Darin, Maria Clara Machado,e, com Norália e Daniela, também artista, chegou a alegre Madhu Maretiori, que lançou seu encanta- dor "Em Nome de Gaia"- minilivro de grande www.varaldobrasil.com 36
  • 37. Varal do Brasil, literário sem frescuras! Desejei muita sorte ao meu cedro-que cresça 2:alegria e honra). o máximo, seja o máximo-sobrenome de vo- vô, Luiz Máximo de Araújo -pensei . Depois de curtir a árvore que me escolheu, fui circular e quando Jacqueline Aisenman foi batizar a sua, ela disse-me;-Terezinha, o no- me de minha mãe. Fiquei literalmente arrepiada .Claro que o prenome da santinha de Lisieux é muito co- mum, mas eu, que vivo na memória e no imaginário, escritora que sou, logo pensei : - Mamãe, que adorava o pai, deu-lhe lugar. E assim , toda vez que for ao jardim de nós, Poetas, no CC Lagoa do nado, vou acarinhar essas duas árvores: pela amiga distante, em outro país, Jacqueline Aisenman e cultura o nome materno de ambas, e o d e vovô, meu mago iniciador que revelou-me a POIESIS, como soi ser, com autoria, orgulho e ale- gria ::Terezinha e Máximo. Mais tarde, já em casa, li um texto maravilho- so, em Varal Antológico 2 de Jaqueline Ai- senman ,denominado Pintura Ingênua, onde ela abre ao leitor o grande amor por seu pai ("Meu pai, sentado na cozinha, palpitava a vida, dava palpites em tudo"), onde a mãe amada entreaparece, figura de fundo e de palco ,indispensável( "Ou ia pelos braços queridos de minha mãe, braços cheios de alma") . Realmente , esse plantio para mim, transcen- deu os objetivos lindos desse jardim de árvo- res: permitiu-me a sagrada memória familiar vir bailar conosco por entre as mudinhas es- perançosas... Clevane Pessoa de Araújo Lopes Fotos: Clevane Pessoa (A Jacqueline Aisenman, agradecendo o con- vite para ser e estar em Varal Antológico 2) www.varaldobrasil.com 37
  • 38. Varal do Brasil, literário sem frescuras! O dia 29 de outubro foi escolhido para ser o “Dia Na- cional do Livro” por ser a data de aniversário da fun- dação da Biblioteca Nacional, que nasceu com a transferência da Real Biblioteca portuguesa para o Brasil. Seu acervo de 60 mil peças, entre livros, manuscri- tos, mapas, moedas, medalhas, etc., ficava acomo- dado nas salas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, no Rio de Janeiro. A biblioteca foi transferida em 29 de outubro de 1810 e essa passou a ser a data oficial de sua fundação. Fonte: http://www.joildo.net/ www.varaldobrasil.com 38
  • 39. Varal do Brasil, literário sem frescuras! cris_mascarenhas07@hotmail.com às vezes ásperas, A caminhada “solitária” Longas histórias, doces versos, amargos dra- Por Cristina Mascarenhas da Silva mas. Foi preciso muitos solitários amanheceres para descobrir E de folha em folha, verbo em verbo, Que não era com aqueles que dividi festas e bebidas Conheci o significado deste amigo de milhões de dizeres, Com quem poderia contar nos pores de sol mais tristes.... Que me acalenta, me faz lutar, Amigo Livro, Contigo já estive no Hades, em Roma, no Caminhei por horizontes sem esperança de Grande Sertão, um fiel amigo, Quando mal sabia que em dias quentes de verão o colocava no colo, Vivi amores, colecionei dores, voltei a ser cri- Para protegê-lo guardava num cantinho ança, quente de minha bolsa. Quis ter uma Bisa Bia, observei um Fantásti- co Mistério, Criminei Capitu, torci por Aurélia. Quando as lágrimas rolavam pela minha face, Roubei alguns dos seus junto com Liesel na Eu o retirava do canto mais secreto de meu Alemanha Nazista... armário, E o acariciava levemente desvendando cada centímetro seu, Desvendei o mundo pensando que estava só. Ele me respondia com palavras doces, www.varaldobrasil.com 39