Every January 25th, in the anniversary of the foundation of São Paulo, we publish a special edition dedicated to the city. In 2015, I suggested we interview regular residents that witnessed historic events that took place in São Paulo’s streets.
In addition to helping conceive and edit the special edition, I also wrote some articles. In this gallery there are two of these: in the first, I interviewed a man that saw the celebrations of São Paulo’s 400th anniversary, in 1954; in the second, I spoke to a couple that took part in the protests of June, 2013, a pivotal moment in the city’s recent history.
2. fe ta
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te
ná
rio
u tinha menos de 3
anos quando entrei
no Estádio do Pa-
caembupelaprimei-
ra vez. Senti o chão
tremer sob a turbu-
lência da multidão.
Quisfugir,masnãopude.Parei
de respirar, ouvi meu coração
aosgolpes,fecheiosolhosqua-
se chorando, e me deixei levar
pela mão que me puxava com
força.Umminutodepois,eues-
queciacompletamenteomedo
eparticipava de uma das maio-
res aventuras que a cidade já
viveu, a comemoração do 4.º
Centenário.”
A memória do evento, em 11
dejulhode1954,foitãointensa,
que é assim, com flashes de ta-
to, cor e som, que Domício Pa-
checo e Silva, hoje advogado de
64anos,recontaaprimeirame-
mória de sua vida.
Oanúnciopublicadonodia8
de julho de 1954 no Estado já
adiantava que os próximos
três dias seriam históricos:
“Tudo pronto para as festas da
cidade em homenagem ao 4.º
Centenário”, que também ho-
menagearia a Revolução de
1932. No dia 9, uma esquadri-
lha da Força Aérea despejaria
30milhõesdetriângulosdepa-
pel prateado. No dia 10, festas
infantisemtodososbairros.E,
no dia 11, o evento que ficaria
marcado como a primeira me-
mória de Pacheco: um grande
circo seria montado no Está-
dio do Pacaembu.
Pachecolembrabemdostam-
boresetrombetasqueacompa-
nharam os trapezistas e palha-
ços. Mas ele conta que o ponto
altoda festaforam os globosda
morte, nos quais motociclistas
executarammanobras“quedei-
xaram todos sem respiração”.
Como recordação, guardou
por muitos anos os triângulos
de papel prateado jogados dos
aviões.“Nojardimdeinfânciae
nosprimeirosanosdocursopri-
mário,euemeuscolegasdeclas-
setrocávamosfigurinhasnore-
creioemuitasvezesnegociáva-
mos as papeletas prateadas,
muitovalorizadasnaquelenos-
so comércio infantil.”
Mesmocomsó3anosnaépo-
ca, a memória é forte. “Acho
queaexplicaçãoésimples:qual
éacriançapequenaquenãogos-
ta de festas de aniversário? De-
vo ter ficado em expectativa ao
aguardar o grande aniversário
da cidade, que em seguida se
revelouo maior,o mais espeta-
cular e o mais festivo aniversá-
rio que já presenciei em toda a
minha vida.”
Alémdisso,háumaligaçãoes-
pecial com o Pacaembu. Seu
avô, de quem herdou o nome,
foio idealizador doestádio. Ele
ainda lembra de ouvir o outro
Domício Pacheco e Silva con-
tar: “De um estalo percebi que
seria possível aproveitar o vale
para servir de campo de espor-
tes e a encosta das montanhas
para as arquibancadas. Evitaria
grandesmovimentaçõesdeter-
ra e dispensaria boa parte das
caríssimas estruturas de con-
creto para as arquibancadas”,
diziaoavô.“Elenãosóacompa-
nhou os levantamentos topo-
gráficoscomodesenhouascur-
vasde nível epreparou, mesmo
não sendo arquiteto, o projeto
preliminar”, lembra o neto.
O presente do avô de Pache-
co à cidade, inaugurado em
1940, foi utilizado em finais de
campeonato, jogos da Copa de
1950, shows e até na visita do
papaBentoXVI,em2007.Hoje,
ésededoMuseudoFutebol,su-
cessodepúbliconacidade.Mas
o futuro é incerto. Desde 2005,
uma liminar veta apresenta-
çõesmusicaisnolocal,apedido
dos moradores do bairro. E,
comainauguraçãodaArenaCo-
rinthians e do Allianz Parque,
do Palmeiras, resta saber qual
vaiser o uso que será dado para
o Pacaembu. / DANIEL TRIELLI
Domício
Pacheco e
Silva. ‘Senti
o chão
tremer sob a
turbulência
da multidão.
Quis fugir’
HÉLVIOROMERO/ESTADÃO
%HermesFileInfo:H-3:20150125:
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 Especial H3
3. JUnho
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caraS
ANTES
VIERAM
MIL
lotamasruaspara
OS
E
virou protestaro o
m uma manhã de 1992,
o analista de sistemas
André Zelenkovas, ho-
je com 41 anos, estava
prestesachegaraoBlo-
coBdoInstitutodeMa-
temática e Estatística
(IME) da USP, para as aulas de
Ciência da Computação. Nem
entrou no prédio. Foi parado
naportaporcolegas,queavisa-
ram de uma passeata na Aveni-
daPaulistaparaexigiroimpea-
chment do presidente Fernan-
doCollor.“Arrumamosumaca-
rona na Brasília de alguém ru-
mo à Paulista.”
Zelenkovas conta que, na
aglomeraçãodemilharesdema-
nifestantes, foi “empurrado
por uma senhora baixinha”,
que fez com que ele perdesse o
equilíbrioepisassenopédamu-
lher. “Só então me dei conta de
queeraaprefeitaLuizaErundi-
na. Mal pude esboçar reação ou
pedir desculpas, veio um segu-
rança de mais de 2 metros de
altura, uma verdadeira parede
demúsculos,eme enxotoudali
como uma mosca. Fui parar na
outra pista da avenida”, conta.
Diasdepois,Zelenkovasesta-
va na aula de álgebra “desespe-
rado para ficar acordado, bri-
gando contra o efeito da feijoa-
da do Crusp (Conjunto Residen-
cial da USP)”, quando um alu-
no entrou na sala e convocou
todos para um comício no Vale
do Anhangabaú. “A professora,
dona Marli, foi muito simpáti-
ca: ‘Vocês estão aqui fazendo o
quê? Vão defender o seu futu-
ro!’”.Elefoie,assim,participou
de dois atos históricos da rede-
mocratização do País. / D.T.
omeçou pe-
queno, mas
com barulho.
Em 6 de junho
de2013,basta-
ram cerca de
mil pessoas para fechar as Ave-
nidasPaulista,23deMaioe9de
Julho. Era o Movimento Passe
Livre (MPL), que queria barrar
a alta da tarifa de ônibus, que
passava de R$ 3 para R$ 3,20.
Alguns encapuzados, os black
blocs,depredavamlojaseincen-
diavam sacos de lixo. A Polícia
Militarrespondeucombombas
de gás e balas de borracha.
Nos dias seguintes vieram
mais protestos. O número de
participantes aumentava, e a
resposta da PM ficava mais in-
tensa. Até que em 13 de junho
houve a repressão mais violen-
ta, na Consolação. “Paulistano
fica refém de bombas e tiros de
borracha”, relatou o Estado.
Nasredessociais,apareciamre-
latos de excessos dos policiais.
A violência da repressão foi
um dos motivos que levaram a
designer Mariana Eller, de 33
anos, e o empresário Eduardo
Suga, de 46, na época namora-
dos e hoje casados, a participar
do ato marcado para o dia 17.
Elesaindanãosabiam,maspar-
ticipariam da maior manifesta-
ção de junho de 2013.
Como muitos dos mais de
50 mil manifestantes (segun-
do a PM) que apareceram no
Largo da Batata no dia 17, Ma-
riana e Eduardo não estavam
ali para defender, necessaria-
mente, o passe livre de ônibus
ou que a tarifa voltasse a R$ 3.
“Meu anseio era por uma mu-
dança na representatividade e
não pela manutenção das tari-
fas, ainda que considerasse is-
so uma reivindicação justa”,
diz Eduardo.
Mariana nunca tinha ido a
umamanifestação. Eduardofoi
aumcomíciopró-Lulaem1989,
naSé.“Mearrependodeterpar-
ticipado da campanha do PT,
mas não das manifestações de
junho de 2013.”
Nodia17 de junho, Marianae
Eduardopegaramometrôlota-
doatéaEstaçãoFariaLima.As-
sim que saíram na rua, viram
queoqueacontecianaqueledia
eradiferente.“Percebemosque
o protesto era muito maior do
que as reivindicações do MPL”,
conta Eduardo. “Quando al-
guém ameaçava quebrar algu-
macoisa,aspessoasaoredorde-
saprovavam”, lembra Mariana.
No fim, a tarifa não aumen-
touem2013eficouemR$3atéo
começo deste ano, quando su-
biuparaR$3,50.Agora,oMovi-
mentoPasseLivreorganizano-
vas manifestações.
Oúnicoatoqueatraiuocasal
desde então foi o organizado
emprolda eleiçãode AécioNe-
ves (PSDB) no segundo turno
doanopassado,naAvenidaPau-
lista. Eles garantem que junho
de 2013 valeu a pena. “Percebe-
mos que, diante de uma mani-
festaçãocomoessa,aclassepo-
lítica treme e a mudança pode
acontecer”,completaEduardo.
/ DANIEL TRIELLI
Mariana e
Eduardo.
‘Nosso anseio
era por
mudança’
HÉLVIOROMERO/ESTADÃO
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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 Especial H7