1. A Sustentabilidade da Sala de Aula
Por Daniela Vieira Costa Menezes
Uma Escola Sustentável é aquela onde toda a
comunidade escolar caminha para o mesmo lugar; as
trajetórias podem ser distintas, mas cada passo busca
o equilíbrio das ações individuais diante das
necessidades coletivas; os passos podem ser discretos
para um mundo de imperfeições, mas tem o poder de se
multiplicarem a partir de cada indivíduo que passa por
ela.
I – A Escola em questão
Era uma vez uma escola. Ela se chamava EMEF Maria Quitéria, e se
localizava no bairro Roselândia, na cidade de Novo Hamburgo/RS. Nessa escola
sempre existiu uma grande preocupação com o meio ambiente e constantemente
os professores promoviam atividades que visavam aprofundar os conhecimentos
de seus alunos sobre a natureza e sobre como cada um – alunos, professores,
funcionários e pais – poderiam preservar a vida.
Mas depois de muitas experiências isoladas, o grupo de professoras desta
escola decidiu que todos seguiriam um mesmo projeto. Cada uma na sua sala de
aula pensaria em uma maneira de juntar informações sobre ecologia com
atividades que estimulassem a curiosidade, o respeito e a preocupação com o
futuro do planeta. Nascia ali o projeto “Escola Sustentável: ecolúdica e amiga da
natureza”. Antes mesmo de ser escrito, este projeto já existia na prática de cada
uma das professoras. Entretanto, após sua organização no papel, parece que
todos começaram a vivenciar a Educação Ambiental em cada canto da escola.
Muitas caixas de leite e garrafas pet foram usadas, de diversas maneiras
possíveis... plantas passaram a enfeitar canteiros onde antes só existia areia e
brita... muitas ideias surgiram, deixando a escola mais colorida e cheia de vida.
O esforço de cada professora se refletiu nas atitudes de seus alunos, afinal
eram eles quem recebiam, lavavam, secavam e armazenavam todo lixo seco que
poderia ser reutilizado; eram eles quem cortavam, colavam, pintavam, encaixavam
e montavam cada novo objeto formado por um material que iria poluir um
pedacinho a mais do nosso mundo; eram eles quem usavam, brincavam ou
apreciavam as maravilhas que foram estimulados a criar; e, principalmente,
continuam sendo eles que levam o que aprenderam para suas famílias, ampliando
o alcance das ações promovidas por aquela escola.
Fazia tempo que não se via a escola tão bonita. E junto com a beleza do
ambiente também estava a alegria entre as pessoas que ali compartilhavam várias
horas dos seus dias. As professoras entenderam que um projeto pode até nascer
da vontade de um, mas só faz sentido se encontra a vontade de outros. Da ação
mais simples ao engajamento mais intenso, todos somos necessários na luta por
um mundo mais saudável. Assim, montar um projeto que fale e pense a
preservação do meio ambiente é pensar que transformando os alunos, podemos
transformar o mundo.
Neste cenário o presente projeto pretende contribuir para o
desenvolvimento de ações e posturas sustentáveis, partindo da sala 5, onde
estudam os alunos do 4º B – Guardiões da Terra e 4º C – Equipe Verde, e se
extendendo para toda a escola.
2. II – Tudo começa na sala de aula: Sequência Didático-Metodológica
As escolas de todos os cantos buscam novas posturas e paradigmas diante
de todas as exigências impostas à educação. Apesar da tendência à decisões
coletivas, documentos de embasamento e projetos compartilhados, é na sala de
aula que a magia do aprender acontece.
Cada professor se instrumentaliza com o que aprendeu de melhor para
conduzir – todos os dias – seus alunos no caminho do saber. O planejamento do
professor deve incluir estratégias pedagógicas que promovam variadas
competências e habilidades em suas turmas. Da introdução de novos conceitos,
aos exercícios de fixação, passando por diferentes vivências coletivas, cada
profissional vai experimentando, observando e inovando até a crianção de uma
rotina que envolva a integração e a identidade da sua turma.
Nesse sentido, investir em ações coletivas nas salas de aula possibilita que
os alunos experimentem a vida democrática, onde todos são responsáveis para o
funcionamento equilibrado da comunidade na qual estão inseridos. A partir da sala
de aula, ano a ano, vamos relacionando as vivências escolares com as vivências
sociais, mostrando que quando cada membro de uma comunidade oferece o seu
melhor para o benefício de todo o grupo, todos são beneficiados.
É possível pautarmos nossa prática pedagógica cotidiana nos princípios
democráticos; enquanto vamos desenvolvendo os conteúdos programados para a
série, podemos dividir com os alunos o protagonismo diante das situações que se
apresentam. Na tomada de decisões e na resolução de conflitos, se
responsabilizamos os alunos durante todo o processo, explicando os fatos,
ouvindo as proposições e opiniões e oferecendo possibilidades de ação dentro
dos princípios da escola, permitimos a internalização das regras e não a aceitação
superficial das mesmas.
Existem situações que o professor precisa atuar de maneira mais firme,
exercitando a sua autoridade, para todas as outras os alunos devem ser
convidados a participar. Desta forma, se espera estender o jogo democrático
realizado na sala de aula para as outras instâncias da escola e da comunidade.
Como a sustentabilidade estará presente em todos os momentos das aulas
do 4º ano B e 4º ano C, os conteúdos relacionados com esta temática surgirão na
medida em que as situações surgirem. Entretanto, será necessário dar um
enfoque ecológico aos conteúdos de ciências (biológicas, químicas e físicas),
história, geografia e literatura e até matemática, artes e educação física, pois não
deixaremos de trabalhar com os conteúdos mínimos nem com as recuperações
paralelas nas áreas de linguagem e matemática.
Cada trimestre terá um mini-projeto específico atendendo a este projeto
principal e ao plano de estudos do 4º ano. No 1º trimestre teremos a introdução do
pensamento sustentável, princípios e conhecimentos científicos acerca da
natureza e do meio ambiente em geral, com ênfase nas relações possíveis entre o
homem e a natureza.
No 2º trimestre estudaremos pontualmente e mais profundamente
questões pertinentes à açõs pedagógico-ambientais, onde os alunos serão
protagonistas de atividades que buscarão a transmissão dos princípios, conceitos
e conteúdos, estudados em sala de aula e em saídas de campo, para as famílias e
para outras salas de aula da escola.
E no 3º trimestre buscaremos avaliar nossas ações do ano, pensando na
continuidade destas ações na vida dos alunos participantes e na realidade da
escola, visando uma auto-análise das transformações internas e externar deste
projeto para todos os envolvidos.
3. Durante o desenvolvimento do ano letivo, dentro das atividades que serão
propostas nos mini-projetos trimestrais, procuraremos:
• Realizar atividades experimentais, valorizando os princípios do saber
científico e da observação;
• Visitar espaços que ajudem os alunos na construção dos conceitos
trabalhados em sala de aula;
• Nos utilizar de diversas representações do mundo e das localidades,
como mapas, esquemas, globo, etc;
• Organizar a história (do aluno, da escola, da cidade, do estado, do país e
do planeta) em linhas do tempo, comparando os acontecimentos e relacionando
este tempo histórico através da análise de causa e efeito;
• Nos aproximar das manifestações da natureza, sobretudo das plantas,
contribuindo para o aumento da área verde da escola, para o embelezamento do
pátio e para a produção e consumo de alimentos orgânicos;
• Substituir progressivamente o pensamento lógico-matemático pautado
na visualização do concreto para uma visão mais abstrata dos cálculos;
• Exercitar a proeficiência da leitura e a interpretação reflexiva de
váriados portadores de textos, buscando relacionar as variações linguísticas para
uma melhor comunicação entre os alunos e deste em outras situações;
• Estimular a livre expressão crítica e criativa, valorizando as
potencialidades e respeitando as diferenças em dinâmicas de grupo pautadas na
linguagem teatral; e
• Registrar atividades no blog da sala através de fotos e textos
(sustentabilidadedasaladeaula.blogspot.com).
III- E depois? Desdobramento possíveis
Estamos vivendo um momento em que precisamos parar com nossas
preocupações individuais e começar a olhar para o nosso cotidiano com os olhos
e mentes voltados para o futuro – nosso e do planeta em que vivemos. Cada dia se
torna mais urgente avaliarmos a situação de todos os ambientes por onde
passamos no que se refere à sua condição de sustentabilidade, ou seja, condições
de vida para os habitantes de hoje e para as futuras gerações.
Não temos como determinar o impacto da ação do professor na vida de
cada aluno, mas sempre podemos investir no respeito, na boa vontade e na
cooperação, buscando sempre Repensar as nossas atitudes para Recusar tudo
que atrapalha a paz, Reduzindo os maus hábitos, Reutilizando as boas ideias e
Reciclando os elogios.
As turmas Guardiões da Terra – 4º B e Equipe Verde – 4º C, da EMEF Maria
Quitéria, estáão no caminho para vivenciar todos os ideais que este projeto
vislumbra, mas os primeiros passos desta caminhada já foram impulsionados.
Vamos seguindo, aprendendo e buscando sempre contagiar todos que estão ao
nosso redor com essa vontade de mudar o mundo nos pequenos passos.
Ainda há muito o que fazer, pois é urgente a necessidade da presença de
uma visão ambiental nas escolas do mundo todo. Para promover a vida pautada em
atitudes sustentáveis precisamos lutar contra o individualismo; para tanto é
importante considerar que a sustentabilidade não diz respeito apenas às questões
de natureza física – como o caminho do lixo e a preservação das espécies, mas
principalmente diz respeito às relações humanas. É na dinâmica das nossas ações
cotidianas que podemos promover um futuro mais saudável para a vida do nosso
planeta e para todos que fazem dele a sua casa.