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Geração Canguru: Algumas Tendências que Orientam o Consumo Jovem e Modificam
o Ciclo de Vida Familiar
Autoria: Patrícia Aparecida Ferreira, Daniel Carvalho de Rezende, Cléria Donizete da Silva Lourenço
Resumo
O estudo procurou compreender quais são as motivações para que os jovens adultos da classe
média, já inseridos no mercado de trabalho, permaneçam na casa de seus pais (fenômeno
denominado pela mídia de geração canguru) e o que isso representa para o campo do
consumo. Por meio de um estudo qualitativo que consistiu de entrevistas com jovens adultos
de uma cidade do interior de Minas Gerais foram identificadas categorias de análise sob a
perspectiva da grounded theory: fatores responsáveis pelo prolongamento da permanência
dos jovens adultos na casa dos pais; a postura dos pais; a decisão de sair da casa dos pais; o
significado do consumo; o consumismo; produtos e serviços que são prioridades de consumo.
O estudo revelou diferentes motivações para o prolongamento da vida na casa dos pais.
Destaca-se, no entanto, a dimensão pragmática e individualista da nova geração. Os pais, em
sua maioria, também parecem não cobrar dos filhos a sua emancipação e independência,
como ocorria nas gerações anteriores. O comportamento de consumo dos jovens cangurus
revela grande propensão à compra de produtos supérfluos, destacando-se também a influência
que eles exercem no consumo familiar. O conhecimento da dinâmica das novas famílias
destaca-se, portanto, como um elemento altamente relevante para as estratégias de marketing.
1 INTRODUÇÃO
No cenário das transformações da sociedade contemporânea, a família desponta como
um campo privilegiado de mudanças, onde novos processos se colocam em curso.
Transformações sociais, econômicas e demográficas apontam para uma crescente
diversificação da família e dos arranjos familiares, o que conseqüentemente resulta em novas
opções de vida conjunta entre as pessoas. É neste sentido de transformações, que o espaço
familiar apresenta-se como uma área de grande interesse no estudo do comportamento do
consumidor. Além disso, as famílias, como unidades consumidoras, são as principais usuárias
e compradoras de muitos produtos, além de influenciar nas atitudes e comportamento dos
indivíduos (BLACKWELL et al., 2005).
Entre as novas tendências familiares, no contexto brasileiro, observa-se um
crescimento do número de jovens adultos da classe média que trabalham e prolongam o
tempo de permanência na casa dos pais, fenômeno denominado pela mídia e por alguns
estudiosos de “geração canguru” (HENRIQUES et al., 2004). Esse comportamento refere-se a
uma convivência familiar prolongada em que os filhos, jovens adultos, apesar de aptos para
uma vida independente fora dos limites da casa dos pais, optam pela permanência. Segundo
Henriques et al. (2004), o adiamento da separação da família é um reflexo da conjugação de
fatores intra-familiares – ambivalência de sentimentos em relação a partida e a perda dos
papéis conquistados – com extra-familiares - fruto de um contexto social fortemente marcado
por instabilidade e incerteza.
No Brasil, esse novo modelo familiar começou a ser estudado apenas nos últimos
anos, enquanto que em alguns países, como Itália, França e Argentina ele já vem sendo
pesquisado desde o início dos anos 90. Por ser um fenômeno sociológico, alguns estágios do
ciclo de vida da família, que são importantes indicadores de comportamento do consumo,
podem ser alterados. Diante disso, contextualiza-se a questão central deste trabalho, que
procurou compreender quais são as motivações para que os jovens adultos da classe média já
inseridos no mercado de trabalho permaneçam na casa de seus pais, e o que isso representa
para o campo do consumo.
2
Partindo desse recorte analítico, a primeira parte deste artigo articula alguns conceitos
pertinentes à família como unidade consumidora e questões que envolvem o fenômeno da
geração canguru e seus impactos no ciclo de vida familiar. Na segunda parte, apresentam-se
as categorias analisadas sob a perspectiva da grounded theory, geradas com base nos dados
coletados em uma pesquisa qualitativa realizada com jovens adultos de uma cidade do interior
mineiro.
2 A FAMÍLIA COMO UMA UNIDADE CONSUMIDORA
A família tem sido tema de estudo para diversos campos do conhecimento,
abrangendo diferentes pontos de vista e com um debate interdisciplinar que mostra o quão
grande é a gama de abordagens possíveis para a compreensão deste fenômeno cultural, social,
econômico e político (SILVA et al., 2004).
De um modo geral, a família é compreendida como uma construção social, formada a
partir da relação entre indivíduos e sociedade, caracterizada por uma variedade de formas, que
segundo Saraiva Jr e Taschner (2006), podem ser classificadas em ciclos de vida tradicionais
ou modernizados. Para Petrini e Alcântara (2002), a família constitui o fundamento da
sociedade, ou seja, um recurso sem o qual a sociedade, da forma como está organizada
atualmente, entraria em colapso, caso fosse obrigada a assumir tarefas que, via de regra, são
desempenhadas de forma melhor e a menor custo pela instituição família. Através da
proteção, da promoção, do acolhimento, da integração e das respostas que oferece às
necessidades de seus membros, a família favorece o desenvolvimento da sociedade.
Contudo, a sociedade não é estática e permanece sempre em um processo contínuo de
mudança. Para Touraine (1994), na modernidade, quase todas as sociedades são penetradas
por novas formas de produção, de consumo e de comunicação. Nesse sentido, Cioffi (1998)
destaca algumas alterações sofridas pelas famílias na sociedade moderna. Segundo a autora,
na modernidade, a família hierarquizada cede terreno para uma família onde as relações são
mais igualitárias (ou menos hierárquicas), valorizando as opções e a vida pessoal de seus
membros, o privado e o subjetivo em detrimento aos valores tradicionais e patriarcais. Além
disso, observam-se novas configurações familiares que se associam a dimensões como o
individualismo, que é um valor característico das sociedades capitalistas. Na verdade, a
modernidade tem como seus ícones principais uma cultura de consumo e uma tendência a
comportamentos cada vez mais individualistas (SLATER, 2002; CAMPBELL, 1989).
Silva et al. (2004) também salientam que a família como parte integrante da sociedade
em transformação (nível macro) passa por um processo de transformação (nível micro), cujas
mudanças, nos dois níveis, viabilizam o surgimento de novos modelos de família, distintos
dos propalados modelos tradicionais. Para Sales e Vasconcelos (2007), fatores econômicos,
sociais e culturais contribuíram de forma decisiva para as alterações na estrutura familiar, e os
diversos modelos existentes estão fundamentados na igualdade, individualidade e liberdade.
Reagindo aos condicionamentos externos e ao mesmo tempo adaptando-se a eles, a
família encontra sempre novas formas de estruturação que, de alguma maneira, a
reconstituem. Dessa forma, a realidade da família moderna enquanto construção social
apresenta novos arranjos familiares que são resultados contextuais da inovação que busca
legitimar a pluralidade e a flexibilidade adstrita à sociedade contemporânea.
Além disso, vale ressaltar a influência da variável “tempo”, que faz com que as
famílias se diferenciem estruturalmente. Para Fonseca (2005), a idéia de “ciclo de vida” é
subsidiária da dimensão temporal das relações familiares, que de um modo geral
contextualiza três grandes fases: formação inicial (em geral, por casamento), expansão (com
nascimento dos filhos) e declínio (quando os filhos adultos saem para estabelecer seus
próprios núcleos e a velha geração é deixada com “o ninho vazio”). Já Blackwell et al. (2005)
3
englobam no ciclo de vida padrões familiares que vão além do casamento, ter filhos e sair de
casa, acrescentando, assim, estágios, como a perda do(a) esposo(a) e a aposentaria.
De acordo com Hill (1970) e Stampfl (1978), o ciclo de vida familiar é uma
abordagem interdisciplinar para o estudo da família e tem sido empregada em diversas áreas,
tais como Psicologia, Sociologia, Economia e Marketing. Considerando o consumo como
uma referência para se pensar a sociedade contemporânea (ROCHA et al., 1999) e as famílias
como as principais unidades consumidoras (BLACKWELL et al., 2005), observa-se a
relevância que os vários estágios do ciclo de vida familiar assumem quanto à definição e
compreensão dos padrões de consumo dos indivíduos e das famílias e de como eles se alteram
ao longo do tempo (BLACKWELL et al., 2005).
As famílias como unidades consumidoras são as principais usuárias e compradoras de
muitos produtos, além de influenciar nas atitudes e comportamento dos indivíduos. Diante
desse contexto, o ciclo de vida familiar apresenta-se como um importante indicador do
comportamento de consumo, uma vez que muitas mudanças estão mais associadas com as
alterações na estrutura familiar (como casamento, nascimento dos filhos, separação e saída
dos filhos de casa) do que com o processo de envelhecimento (SARAIVA JR; TASCHNER,
2006).
Nesse mesmo sentido, Béllon et al. (2001) consideram o ciclo de vida familiar como
uma variável sociodemográfica que pode ser utilizada como uma medida de segmentação de
mercado. Para esses autores, a influência exercida pelo ciclo de vida das famílias pode ser
identificada em muitos produtos e serviços e varia conforme o contexto cultural de cada país.
Saraiva Jr e Taschner (2006) também ilustram a influência das dimensões culturais de cada
país sobre a instituição ‘família’. Para estes autores, em culturas individualizadas, como a
norte-americana, os filhos são educados a tornarem-se independentes o mais cedo possível,
espera-se que cada um cuide de si mesmo e de sua família imediata; já em culturas
coletivistas as crianças crescem mais próximas de outros familiares e se tornam mais
dependentes de um grupo.
Para Cioffi (1998) existe uma relação estreita entre arranjos familiares, ciclo de vida
familiar e condições de vida das famílias. De um modo bem geral, a autora apresenta os
principais arranjos familiares existentes no contexto brasileiro e sua combinação com ciclos
de vida, contemplando, assim, os alguns estágios como: casal com filhos; casal sem filhos;
chefe sem cônjuge com filhos e pessoas morando sozinhas.
De acordo com Cioffi (1998), as famílias formadas por casal com filhos correspondem
à situação típica de organização da família brasileira. Neste caso, identificam-se três fases:
jovem, adulta e velha. A presença de filhos com pouca idade residentes no domicílio,
característica do primeiro estágio do ciclo vital sugere formas de organização específicas da
família, tanto em termos de sua capacidade econômica e inserção no mercado de trabalho,
como quanto à organização das tarefas domésticas. Nesta fase jovem do ciclo, a família tende
a organizar-se predominantemente em torno do chefe a quem cabe a responsabilidade pelo
sustento familiar. Já na fase adulta, altera-se, obviamente, a distribuição dos filhos segundo
faixa etária, com maior concentração entre 7 e 17 anos, o que, por sua vez, contribui para
alterar a organização familiar com vistas aos mecanismos utilizados para a satisfação das
necessidades materiais da família adulta. Em comparação com as famílias situadas no ciclo
vital jovem, a idade mais elevada dos filhos pode contribuir para liberar a cônjuge para o
mercado de trabalho. Na fase velha, os filhos apresentam faixa de idade superior aos 18 anos,
podendo participar do mercado de trabalho. Caso haja essa participação no mercado de
trabalho, alterações na composição da renda familiar poderão ocorrer e até mesmo reduzir a
participação do chefe e do cônjuge.
4
Por outro lado, Blackwell et al. (1995) destacam que os indivíduos não precisam
necessariamente passar por cada um dos estágios do ciclo, podendo pular múltiplos estágios
baseados nas suas escolhas de vida. Segundo Fonseca (1995), hoje em dia, o ciclo familiar
baseado na nuclearização das famílias (pai, mãe e filhos vivendo juntos) não é nada evidente,
visto que, muitas vezes, o nascimento de netos precede o casamento de seus pais ou a
formação de um novo núcleo. Além disso, em época de desemprego, há uma tendência
crescente, em todas as classes, de filhos adultos voltarem para a casa dos pais em momentos
difíceis, seguidos de um divórcio ou a perda de emprego.
Com relação às influências familiares, Petrini e Alcântara (2002) salientam que na
família não se transmite apenas a vida, mas o seu significado, o conjunto de valores e critérios
de orientação da conduta, que levam o indivíduo a perceber a existência como digna de ser
vivida, em vista de uma participação positiva na realidade social. Transpondo essa relação
para o consumo, justifica-se a consideração feita por Cunha (2004) de que a família apresenta-
se como uma importante organização de compra de produtos de consumo na sociedade,
sendo, constantemente, alvo de apelos promocionais. Cunha (2004) também ressalta que o
comportamento de compra da família é um processo coletivo e os participantes não se limitam
à simples busca de informações, valendo-se também da troca de opiniões e participação ativa.
Apresentadas as questões que envolvem a família como unidade consumidora e um
espaço em constante transformação, incorporam-se as orientações de Strauber (2005) para
discutir a juventude como uma de suas categorias, gerada no centro de tais transformações e
protagonista de muitos alvos de consumo. Nesse sentido, discutir-se-á na próxima seção um
fenômeno que assola as classes médias urbanas - a geração canguru -, que representa jovens
que adiam a saída da casa de seus pais e que compõem um nicho de consumidores com alto
poder aquisitivo.
3 GERAÇÃO CANGURU: ALGUMAS QUESTÕES QUE ENVOLVEM FAMÍLIA E
CONSUMO
A sociedade contemporânea é marcada por profundas mudanças na instituição
familiar, que resultaram em muitos desafios, bem como novas configurações. Acompanhando
este processo, aparece a juventude, que segundo Strauber (2005), pode ser considerada uma
constante protagonista do mundo capitalista por ser sempre cortejada pela mídia, disputada
pelo comércio, cultivada em estufa pela escolarização, estendida e afastada do contato com
modelos tradicionais, e que assimila, assim, estilos de vida moldados por essas agências de
socialização. Complementando essa visão, Henriques et al. (2004) também salientam que a
juventude, maleável e plástica por excelência, é o objeto preferido da cultura de mercado,
orientando a produção de muitos bens.
Perante esse contexto, Ferreira (2004) destaca o mercado jovem como um segmento
que apresenta um grande potencial de consumo, cujas características comportamentais estão
em constante evolução. No entanto, para se compreender a juventude em suas múltiplas
determinações e expressões, ela deve ser pensada como um “fenômeno plural” intimamente
ligado às condições materiais e simbólicas do meio (BARBIANI, 2007; STRAUBER, 2005).
Nessa perspectiva, em que a juventude confirma-se sob uma diversidade cultural e não
como uma categoria unívoca, a geração canguru insere-se como um recorte desse contexto
social. A geração canguru – assim nomeada pela mídia por sua analogia com o mamífero
marsupial australiano, cuja fêmea abriga os filhos em uma bolsa ventral – distingue-se da
geração de seus pais, pelo adiamento da saída da casa paterna e pelo conseqüente
prolongamento da convivência familiar (HENRIQUES et al., 2004). Além disso, a geração
canguru é um fenômeno inerente às famílias de classe média e abarca jovens adultos de
ambos os sexos.
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Para Carrano (2001), o fenômeno social intitulado de geração canguru incorpora
jovens que moram com os pais e que não vêem perspectivas de sair de casa, mesmo com a
união conjugal ou gravidez, evidenciando, assim, um quadro de restrição voluntária à
autonomia. Nesse sentido, Henriques et al. (2004) nomeiam esse universo como uma
categoria de jovens/adultos, que apesar de terem alcançado uma faixa etária identificada com
a conclusão dos estudos de graduação universitária e estarem aptos para uma vida
profissional, em alguns casos, até mesmo com independência financeira, preferem continuar
vivendo com pais, o que os leva a uma situação de dependência.
Comparada à geração de seus pais, os jovens “cangurus” adotam um comportamento
totalmente contrário (HENRIQUES et al., 2004; FICHTNER, 2004; LOPES, 1999), visto que
retardam ao máximo a sua autonomia e a independência familiar, enquanto seus antecedentes
travaram verdadeiras lutas, quebraram regras, saíram da casa de seus pais no intuito de
conquistarem os ideais libertários, sexuais e ideológicos que permeavam o universo jovem
dos anos 50/60. Por outro lado, a geração canguru deve ser compreendida como um fruto
desse movimento exercido pela “geração paz e amor”. Ao romper com alguns valores
tradicionais da época, dentre eles a centralização e a hierarquia, a geração anos 60 semeou um
novo projeto de vida familiar, com mais diálogo, igualdade, liberdade sexual, que são alguns
dos fatores essenciais para que os jovens “cangurus” permaneçam na casa de seus pais.
Para Henriques et al. (2006) e Rezende (2004), a geração canguru apresenta-se como
um fenômeno sociológico freqüente nos estratos médios e superiores da sociedade, que se
justifica devido ao quadro de relativa abundância que estas possuem, o que tende a inibir
assim motivações econômicas para uma vida melhor, que são bastante comuns em classes
sociais menos favorecidas.
Já Azevedo (2007) alerta que o simples fato de uma pessoa morar com o pai ou com a
mãe não faz com que ela se enquadre no rótulo "geração canguru". Entre as características
que envolvem a geração canguru, Henriques et al. (2004) destacam, com base em uma
pesquisa realizada como jovens adultos do Rio de Janeiro, alguns fatores intra-familiares e
extra-familiares que explicam o prolongamento da permanência dos jovens adultos na casa
paterna. Para compreender esses fatores, esses autores remetem a alguns elementos
constitutivos do indivíduo contemporâneo, tais como: a incerteza, a instabilidade, o
imediatismo e a insegurança. Com relação aos fatores extra-familiares, o mundo do trabalho
aparece como cerne dessa discussão. Questões como investimento constante na vida
profissional, dificuldade de inserção no mercado do trabalho, desemprego, avanço da
tecnologia e globalização orientam o dia-a-dia dos jovens adultos, além de serem
profundamente marcados por relações de instabilidade e insegurança.
Diante dessas colocações, verifica-se que os jovens dessa geração não são frutos do
acaso, mas, pelo contrário, seu comportamento é decorrente de um mercado cada vez mais
competitivo (DURAN, 2007). Por outro lado, a família aparece como uma instância
mediadora entre esse domínio do mercado e o indivíduo, assumindo, assim, um espaço de
mutualidade, amizade e apoio.
Desse modo, a família comparece como o locus de encontro das condições materiais e
simbólicas de coexistência dos jovens e mediadora do trânsito privado-público-privado, que é
permeável tanto por convocatórias locais quanto globais (BARBIANI, 2007). Como
conseqüência, observa-se uma horizontalização nas relações familiares ou até mesmo uma
neutralização da hierarquia, que segundo Henriques et al. (2004) representa uma abertura ao
diálogo, posturas de companheirismo, ausência de limites, liberdade entre outros.
Além disso, Henriques et al. (2004) e Camarano (2003) destacam outros elementos
que contribuem para a permanência dos filhos na casa dos pais: o pouco valor dado à
independência individual; a diminuição dos conflitos geracionais ou a sua neutralização,
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ambivalência dos pais no que no que concerne à saída dos filhos de casa; a permissão para o
sexo na casa dos pais; o conforto e o padrão de vida usufruídos na convivência familiar; o
adiamento do casamento percebido nos dias atuais; as transformações ocorridas nos
compromissos afetivos entre os pares (menos exigências e expectativas) entre outros.
Para compreender melhor essa protelação da convivência familiar, Henriques et al.
(2004) demonstram essa questão sob o enfoque dos pais. Segundo esses autores, a saída dos
filhos tende a ser um momento delicado no ciclo de vida familiar, uma vez que a experiência
do “ninho vazio” é um fator sobrecarregado de carga emocional para a família, podendo até
fragilizar o vínculo conjugal do casal. Portanto, a partir dessa realidade, os jovens adultos, ao
adiarem a saída de casa, assumem o papel de guardiões da relação de seus pais, orientando-os
também para um estilo jovem de vida.
Por outro lado, autores como Fichtner (2004), Strauber (2005) e Henriques et al.
(2006) salientam que a permanência dos filhos adultos na casa dos pais pode afirmar-se como
uma atitude de não-enfrentamento da dura realidade fora dos domínios da família, inibindo a
sua independência. Além disso, a maioria por não contribuírem com orçamento familiar,
pagando apenas as contas pessoais, retarda a idéia de responsabilidade. Dessa forma, ser
jovem contemporâneo significa entrar na vida adulta cada vez mais tardiamente, o que
demarca uma profunda alteração no modelo de socialização e aprendizagem dos papéis
adultos.
Sendo os “jovens cangurus” uma referência da juventude, torna-se necessário
apresentar alguns pontos de mediação entre esses atores sociais e a categoria consumo. Nesse
sentido, como qualquer outra categoria jovem, a geração canguru é dominada pelo fetiche do
consumo, sendo considerada um mercado atrativo para as empresas. Por não contribuírem
com as despesas familiares, eles também compõem um nicho de consumidores com alto poder
aquisitivo.
Diante da oferta cultural contemporânea, o consumo, como categoria, modula as
sociabilidades juvenis e apresenta-se como uma nova forma do “ser coletivo”, dotado de
sentidos de pertencimento e identidade (BARBIANI, 2007). Reforçando essa idéia, um estudo
feito por Faith Popcorn (1997), citado por Ferreira (2004), indica algumas tendências que
orientam o consumo jovem no mundo moderno, tais como: consumismo descarado;
preferência por produtos de marcas; paixão por tecnologia; busca de entretenimento,
estimulação e movimentação; experiência e aprendizado intermináveis; mobilidade (viagens);
participação e observação de esportes.
Retornando ao universo da geração canguru, Mendonça (2006) destaca que os filhos
adultos ao viverem com os pais, podem modificar o estilo de vida e o consumo da classe
média. A colocação desse autor se justifica, uma vez que a permanência dos filhos promove
na família alguns valores associados à idéia de juventude. Deste modo, “o ser e o estar jovem”
que representam o desejo, a emotividade e a experiência de um tempo circular, podem afetar
nas decisões de consumo. Além disso, os jovens adultos podem influenciar nas decisões de
compras dos seus pais, por terem opiniões mais atualizadas e mais conhecimento sobre alguns
produtos, principalmente no que se refere à compra de bens duráveis.
Dessa forma, torna-se relevante o estudo dos “jovens cangurus” sob a perspectiva do
comportamento do consumidor, uma vez que suas necessidades, desejos e motivações podem
ser influenciadas pelo prolongamento da convivência familiar. Além disso, a geração canguru
é capaz de modificar alguns estágios do ciclo de vida familiar, pois o adiamento da saída dos
filhos da casa paterna posterga eventos como o casamento, amplia a fase do ninho cheio e
adia o estágio do ninho vazio, interferindo nas atividades de consumo da família.
4 METODOLOGIA
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Diante das colocações feitas sobre a geração canguru como um novo modelo familiar,
observa-se que esta começou a ser estudada no Brasil apenas nos últimos anos e que os
poucos trabalhos divulgados se fundamentam basicamente num enfoque psicológico e
sociológico. Dessa forma, o estudo se propôs a compreender, de modo exploratório, esse
fenômeno sob a perspectiva do comportamento do consumidor.
Por ser um fenômeno ainda pouco explorado, as orientações metodológicas a serem
adotadas requerem muita cautela e delicadeza por parte do investigador. O método de
pesquisa escolhido foi o da grounded theory, conhecido também como teoria fundamentada.
Essa opção metodológica se justifica, visto que a grounded theory é um tipo de pesquisa
interpretativa, particularmente sensível a contextos e que permite a compreensão do sentido
de determinadas situações, indo, portanto, ao encontro dos objetivos da pesquisa (YUNES;
SZYMANSKI, 2005).
Para Cassiani et al. (2006), a teoria fundamentada nos dados constitui-se como uma
abordagem indutiva, voltada para a produção de teoria que é extraída do mundo empírico.
Nesse sentido, observa-se que os conceitos teóricos emergem dos dados e não são impostos a
eles. Como qualquer outra abordagem metodológica, a grounded theory caracteriza-se como
um método sistemático de coletar, organizar e analisar dados. Seguindo-se ao princípio, de
que neste método, a teoria é construída a partir de comportamentos, palavras e ações daqueles
que estão sendo pesquisados (SANTOS; PINTO, 2007), utilizou-se a entrevista com roteiro
semi-estruturado para a coleta de dados. O roteiro continha questões abertas padronizadas, no
entanto, as respostas ficaram a critério do entrevistado. Além disso, a entrevista semi-
estruturada não impediu os entrevistadores de pesquisarem temas que não estavam em seus
roteiros.
Com relação à escolha dos entrevistados, utilizou-se a amostragem por julgamento,
que segundo Malhotra (2001) consiste numa forma de amostragem não-probabilística por
conveniência em que os elementos da população são selecionados com base no julgamento do
pesquisador. Dessa forma, o critério utilizado para a seleção desses entrevistados
compreendeu jovens adultos que se enquadravam em alguns padrões que orientam a geração
canguru. Ao todo foram entrevistados quatorze jovens adultos da cidade de Lavras, no interior
de Minas Gerais. Com relação aos elementos que os levam a pertencer à geração canguru,
verificou-se que todos apresentaram: estado civil solteiro; estrato social médio; curso superior
completo; faixa etária entre 23 a 30 anos; inserção no mercado de trabalho e/ou realização de
pós-graduação stricto-sensu (mestrado e doutorado) financiados por alguma agência de
fomento; residentes com os pais; nível renda compatível para sair da casa dos pais; não
contribuintes com as despesas da casa. Foram entrevistados oito mulheres e seis homens.
As entrevistas foram gravadas, transcritas, lidas, codificadas e analisadas conforme a
orientação de Strauss e Corbin (1990) sobre a grounded theory. Conforme relata esses
autores, a grounded theory se propõe a construir uma teoria, quando um fenômeno social é
insuficientemente explicado pelas teorias formais existentes. Dessa forma, a teoria ao ser
construída representa um conjunto “bem desenvolvido” de categorias (temas, conceitos) que
são sistematicamente inter-relacionadas através de proposições de relação para formar um
modelo teórico capaz de explicar – de maneira plausível – o fenômeno social estudado.
Após a leitura sistemática de todas as entrevistas, os pesquisadores procuraram
identificar as propriedades e as dimensões dos códigos (o que existe ou não em comum na
fala dos entrevistados). Esses códigos foram comparados e agrupados conforme as suas
similaridades e diferenças conceituais, formando, assim, as categorias, que posteriormente
foram inter-relacionadas para explicar o fenômeno estudado.
Integradas as categorias, uma teoria substantiva sobre o comportamento dos
consumidores jovens cangurus foi delimitada conforme o contexto social estudado. Além
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disso, vale ressaltar que esta teoria fundamentada não foi necessariamente construída
exclusivamente a partir dos dados coletados. Nesse sentido, incorporaram-se algumas
colocações feitas por Strauss e Corbin (1990), de que caso haja referências teóricas existentes
que pareçam ser adequadas ao fenômeno que está sob investigação, elas não só podem, como
devem ser utilizadas, refinadas, modificadas, adaptadas através da justa(ou contra) posição
das observações feitas no campo.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As duas categorias identificadas fundamentam-se basicamente na questão do
prolongamento da convivência familiar e do consumo dos jovens cangurus. Na categoria
convivência familiar foram identificadas subcategorias, como os fatores responsáveis pelo
prolongamento da permanência dos jovens adultos na casa dos pais; a postura dos pais; a
decisão de sair da casa dos pais. Já na categoria consumo dos jovens cangurus foram
identificadas as seguintes subcategorias: o significado do consumo; o consumismo; produtos
e serviços que são prioridades de consumo.
5.1 Prolongamento da convivência familiar
Conforme já relatado, são diversos os fatores responsáveis pelo prolongamento da
permanência dos jovens adultos na casa dos pais. Esses fatores englobam tanto elementos
intra-familiares como os extra-familiares (HENRIQUES et al., 2006). Os entrevistados
reconheceram como esses elementos: o afeto e a convivência familiar (intra-familiares); a
comodidade, a mordomia, a economia, o padrão de vida, a segurança financeira e a carreira
profissional (extra-familiares). Dentre todos esses elementos, observou-se que os extra-
familiares familiares foram os mais constantes nos depoimentos.
No sentido de comodidade e mordomia, verificou-se que os entrevistados
relacionaram esses atributos com a isenção de prática das tarefas domésticas (lavar, passar,
arrumar, cozinhar, etc.); boa alimentação; pagamento de despesas domésticas; entre outros.
(...) eu tenho tudo aqui... por exemplo, eu tenho... comida, tenho roupa lavada... tenho luz,
telefone, tenho tudo. (Entrevistado 3)
(...) o almoço é diferente, a comida... o que tem na geladeira... a empregada... tudo é diferente... o
carro, quando eu morava sozinha eu não tinha (Entrevistado 6)
A economia de despesas domésticas e a segurança financeira também despontaram
como fatores que justificam a opção dos entrevistados de morar com pais.
Vou continuar quieto aqui, pelo menos assim, não pago água, luz, não pago telefone... só
mantenho as minhas contas mesmo.(Entrevistado 9)
Se eu fizer uma conta e não tiver dinheiro pra pagar, se me apertar, eu tenho onde socorrer. Não
penso duas vezes, vou pedir ajuda por meu pai. (Entrevistado 5)
Para os entrevistados, a comodidade, a mordomia, a economia de despesas domésticas
e a segurança financeira proporcionadas pelos pais também ajudam de maneira decisiva na
manutenção do padrão de vida e na progressão na carreira profissional.
Ter que pagar empregada, pagar luz e dividir supermercado... ah não! O meu padrão de vida é
mantido por eu não ter que assumir essas responsabilidades... O dinheiro seria mais contado né...
não poderia assim ir em tudo enquanto é festa, eu não poderia ir, tinha que selecionar!
(Entrevistado 5)
Uma coisa que eu deveria lagar é o carro... eu não vou podê ir nele trabalhar todo dia... – Ahm –
então isso gera um déficit pra mim (Entrevistado 9)
Diante dessas colocações, fica evidente que caso eles deixassem a casa dos pais, com a
atual renda obtida, poderiam até mesmo comprometer o padrão de consumo de itens básicos,
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tais como moradia e transporte. Itens supérfluos, como o entretenimento, também estariam
sujeitos a alterações.
Quanto à carreira profissional, os entrevistados destacam que o fato de morarem com
os pais possibilita maior disponibilidade para cuidar de suas atividades: trabalho e/ou estudo.
Além disso, por serem “isentos” das despesas domésticas, sobram mais recursos financeiros
para investirem no lado profissional.
(...) o tempo que eu gastaria preocupando com as minhas roupas, com alimentação e com uma
série de coisas que eu deixo por conta da minha mãe... Eu consigo investir em mim. Eu consigo
ficar o tempo todo, praticamente das oito da manhã até as dez da noite me dedicando na minha
vida profissional. Sem preocupar com outras coisas. (Entrevistado 7)
Dá uma retaguarda. Interessante pra gente poder crescer profissionalmente né. (Entrevistado 13)
Com relação aos fatores intra-familiares, os entrevistados destacaram apenas dois
elementos: o afeto e a convivência familiar. Para alguns entrevistados, o afeto e a convivência
foram identificados como os aspectos essenciais para a protelação da saída da casa dos pais.
Já outros perceberam os elementos extra-familiares como os mais decisivos.
Eu acho que em primeiro lugar, o carinho, o afeto da família, o apoio é muito importante. Em
segundo lugar vem as outras facilidades aí: o meu conforto, a economia... (Entrevistado 1)
(...) é muito boa... Lá em casa , eu sou filha única, então assim, é um pelos dois, e ao contrário...
sempre a nossa família... Então a gente sempre foi muito unido, tá junto pra qualquer situação, a
convivência lá em casa graças a Deus é excelente (Entrevistada 10)
(...) lado emocional não me prende não. Eu até tenho a pretensão de ir embora. Entendeu... não
me prende não. Por enquanto mesmo é só pela comodidade e pelo lado financeiro mesmo
(Entrevistado 4)
Por outro lado, a convivência familiar também foi interpretada por alguns
entrevistados com uma conotação negativa, significando conflito e restrição à liberdade.
(...) no meu caso, os meus pais estão ficando mais velhos, eu acho que vai piorando, sabe... Eu
acho que vai ficando cada vez mais distante, a cabeça da gente vai batendo mais diferente ainda...
Eu to sentido isso demais, completamente diferente o modo que eles pensam, que agem, querem as
coisas, eu quero de outro jeito. (Entrevistado 12)
(...) dormi fora de casa? Eu não tenho isso, porque meus pais são bem assim... não é antiquado...
mas eles acham assim, que deve dar satisfação enquanto morar em casa... Meu pai tem uma coisa
assim: “que enquanto cê morar aqui embaixo do meu teto, você ainda me deve satisfação... Tem
que obedecer, eu acho que eu posso ter trinta, quarenta anos...(Entrevistado 4)
Eu acho que é muito limitado. Eu não tenho muita privacidade, acaba que meu quarto hoje é
minha casa, mesmo assim não tenho total privacidade dentro daquele espaço. Eu acho que você
exigir muito, isso é uma falta de respeito com a situação. (Entrevistado 7)
Diante dessas colocações, observa-se que o sentido dado pelos entrevistados à
liberdade difere-se do descrito na pesquisa conduzida por Henriques et al. (2006), que
incorpora ideais libertários, tais como a igualdade e a privacidade. Esse quadro se justifica,
pois o locus desta pesquisa representa uma cidade do interior, cujos valores tendem a ser
conservadores (“respeitando os padrões normais da família”, “conservadores”; “exigir
muito, isso é uma falta de respeito com a situação”; “você ter um limite na sua vida”). Já a
pesquisa de Henriques et al. (2006) foi conduzida em uma capital, onde as famílias são mais
propensas a aderir aos valores propagados pela modernidade.
Além disso, alguns entrevistados ressaltaram que por morarem com os pais, eles
tiveram que assumir alguns compromissos e responsabilidades familiares, que acabam
comprometendo as suas atividades e sobrecarregando o seu dia-a-dia.
(...) meu avô mora com a gente, então é assim... chegou o dia de receber... os dois benefícios,
tanto do meu avô por parte de pai, como por parte de mãe é eu que recebo, aí eu tenho que ir no
10
banco receber. Levar eles nos médicos. Então são certas tarefas que viraram obrigação(...)
(Entrevistado 5)
Eu faço tudo lá em casa, né... Sou eu que vou ao banco pra pode pagar água, luz, telefone. O
dinheiro é do meu pai, mais eu é que vou pagar... Eu que levo as minhas avós ao médico. Precisa
fazer alguma coisa...precisa comprar um remédio, sou eu que vou. (Entrevistado 4)
Apresentados os fatores que os entrevistados identificaram como influenciadores na
postergação da saída da casa de seus pais, verificou-se que, apesar de alguns resultarem em
limitações como a privacidade, a liberdade e os compromissos, a maioria concebeu esse fato
de forma positiva.
(...) me beneficia, pensando no lado financeiro... o lado pessoal me prejudica, porque eu não
tenho tanta liberdade, quanto eu gostaria... mais o lado financeiro é bem melhor, porque dá pra
fazer um pé de meia bem legal, enquanto eu ainda estiver com eles ainda (Entrevistado 4)
(...) você consegue manter seu dinheiro, gastar seu dinheiro só com você, você fica mais
realizado... vamos dizer assim. Você compra mais as coisas pra você, mais fácil. (Entrevistado 9)
Eu acho que as duas coisas. Eu acho que me prejudica por um lado, pois tenho menos liberdade,
menos independência... Mas por outro me ajuda muito, porque eu mantenho um nível de vida que
eu não ia conseguir sozinha (Entrevistado 6)
Perante esses depoimentos, observa-se que a avaliação feita pelos entrevistados quanto
à situação de morarem com os pais resultou em um equilíbrio, apresentando tanto benefícios
quanto prejuízos. De modo geral, os fatores extra-familiares tiveram um peso maior na
avaliação, correspondendo, assim, aos benefícios. Partindo dessa avaliação, observa-se que o
significado dado à família tende a ser muito mais um espaço privado a serviço desses
indivíduos, do que um local de reciprocidade e afeto. Assim, a família, para esses
entrevistados, distancia-se do sentido encontrado na pesquisa de Henriques et al. (2004), que
a coloca como uma mediadora entre o material e o emocional. Uma possível justificativa para
essa divergência de significado, reside no fato de que as relações na família dos entrevistados
desta pesquisa não parecem ser tão horizontalizadas quanto aquelas pesquisadas por
Henriques et al. (2004) e que, portanto, elas ainda conservam os padrões de hierarquia e
autoridade.
Por outro lado, os entrevistados perceberam como pontos negativos nessa avaliação
questões que estão relacionadas à liberdade e a independência. Apesar de um dos princípios
da geração canguru corresponder à entrada na vida adulta cada vez mais tardiamente,
observou-se que os entrevistados desta pesquisa vêem isso com preocupação e, em alguns
casos, já se pensam até em romper os cordões umbilicais, no intuito de alcançarem total
autonomia para suas vidas.
(... ) eu sinto como se eu tivesse morando de favor, porque de 18 anos até hoje, já fazem 11 anos.
Então, eu acho que você exigir mais privacidade, exigir mais espaço é difícil, apesar de que você
acaba fazendo isso por intuição. Por isso eu acho que aos trinta anos, eu não posso demorar, por
exemplo, ter o luxo de demorar mais três ou quatro anos que eu vou tá com quase quarenta...
(Entrevistado 7)
(...) eu acho que se eu tivesse que pagar, a minha responsabilidade seria bem maior. Eu acho que
eu saberia melhor dividir o meu dinheiro, empregar melhor o dinheiro. Ia aumentar a minha
responsabilidade com o dinheiro que eu ganho, não ia ser só coisas pra mim (Entrevistado 9)
No entanto, os entrevistados consideram que essa saída da casa dos pais deve ser algo
planejado para que não comprometa o padrão de vida e o vínculo familiar. Além disso, eles
também salientam a estabilidade profissional como um dos critérios.
(...) eu estou planejando a saída pra o choque não ser tão forte. Então, planejar direitinho...
depois olhar um lugar, uma casa, um apartamento. Preparar esse apartamento pra que eu possa
sair... Pra não pegá e ser duma vez, ser aqueles filhos rebeldes... (Entrevistado 7)
Quando eu tiver condições de me sustentar de maneira que eu viva bem. Igual eu falei antes, sair
pra passar dificuldade eu não vou. (...) (Entrevistado 9)
11
Os entrevistados também ressaltaram a postura de seus pais com relação à postergação
da saída de casa. Fundamentado nos depoimentos dos filhos, observa-se dois grupos
diferentes de pais. No primeiro grupo, o prolongamento da convivência com os filhos é
tratado de forma positiva, principalmente, porque eles temem a experiência do ninho vazio.
Isso se justifica, visto que a maioria dos jovens entrevistados são filhos únicos ou são os
últimos a permaneceram em casa (os irmãos são casados ou residentes em outras cidades),
estreitando, assim, os laços afetivos.
Eu acredito que eles ficam satisfeitos, porque em casa somos três filhos e eu sou último né... É a
rapa do taxo. Então sendo o último filho, a vontade deles é que o filho fique por perto, né ? Para
que tenha mais gente na casa, mais gente na família (Entrevistado 1)
Adoram. Só de cogitar de sair de casa, minha mãe, por exemplo, já fica toda chorosa né... E é isso
que é o meu medo. O problema é que eles gostam demais. Como eu disse também, a hora que fala
de sair, já fica aquela coisa, aquela agonia dentro de casa. (Entrevistado 7)
Sinceramente eles nunca chegaram pra mim e falaram: “que dia que você vai sair”. Nunca. Eles
nunca falaram nada, eu acho que por eles eu não sairia nunca. (riso) Porque se eu sair, vai ficar
quem? Sou filho único. (Entrevistado 9)
Já o segundo grupo de pais, que representa a minoria, percebe a convivência familiar
como algo positivo, mas não ficam protelando a saída dos filhos, uma vez que o adiamento
desta pode comprometer as responsabilidades da fase adulta deles. Além disso, os
entrevistados ressaltam que essas preocupações partem mais dos pais, que são mais racionais,
enquanto as mães não participam tanto dessa cobrança.
Eles sempre falam: “tá passando da hora de você casar”. Eu acho que vem dessa questão: por
eles serem mais velhos, eles acham um absurdo eu tá com vinte e três anos e nem noiva sou
ainda... Minha mãe fica mais neutra, mais meu pai dá a maior força pra eu casar. .(Entrevistado
12)
A minha mãe gosta, mas meu pai diz assim: “que não vê a hora deu arrumar um emprego e sair
da barra dele”. Mas também eu acho que fala da boca pra fora também. É mais um incentivo pra
mim. Não é pra eu sair de casa não. Não tem disso. Mas ele fica aflito, porque o medo dele é que
eu não aprenda a morar fora, me virá sozinha. (Entrevistada 5)
Retomando a questão da saída da casa dos pais, os entrevistados também interpretam o
tradicionalismo como um empecilho para tomar essa decisão. Para os entrevistados, o
tradicionalismo é tido como alguns valores e condutas peculiares de cidade do interior, e que
não são tão presentes nos grandes centros.
Por exemplo, nos grandes centros, às vezes, você até trabalhando num lugar que é bem distante
da sua casa, aí você vai e opta pela liberdade, independência... Aqui a gente é muito acomodado.
Realmente por ser cidade pequena a gente é muito acomodado. E tem aquela coisa, às vezes, você
sai de casa, parece que as pessoas já falam: “alá... deve ter brigado em casa, porque não tá
casado e tá morando sozinho”. Qual que é o porquê disso?! Eu acho que por ser cidade pequena
a gente acomoda muito, é muito fácil você ficar morando ali dentro de casa e não criar conflito.
Mais pra você não ter muito essas coisas, você acaba optando por ficar... (Entrevistado 7)
Igual, se fosse capital, eu já estaria fora que você. Eu acho que isso tem fundamento. Eu acho que
o interior é mais família, acolhe mais as pessoas (...) (Entrevistado 9)
Ah influencia. Por exemplo, se eu morasse em São Paulo, não sei, no Rio. alguma coisa assim...
Se os meus pais morasse longe do meu trabalho, é lógico que eu procuraria um lugar mais perto,
entendeu. Colocaria lá no papel o que ficaria mais barato e mudaria. (...) (Entrevistado 3)
Vale ressaltar que o tradicionalismo como um empecilho para a saída dos jovens
adultos da casa dos pais justifica-se no contexto dessa pesquisa principalmente por se tratar de
uma cidade do interior mineiro. No entanto, em outros contextos esse fator pode não se
justificar, visto que na sociedade contemporânea o adiamento da saída da casa dos pais pode
ser explicado também pela instabilidade e insegurança que assolam o mercado do trabalho.
Além disso, a geração canguru é um fenômeno que assola a classe média independente do
12
porte da cidade. Ao se comparar a geração atual com a de seus pais, levanta-se a questão de
que os jovens cangurus podem ser fruto dos ideais da geração anos 60, visto que os pais dão
todo apoio à carreira profissional de seus filhos no intuito de que estes não enfrentem os
mesmos obstáculos por eles já vivenciados.
5.2 O consumo da geração canguru
Na categoria “consumo da geração canguru” foram identificadas algumas
subcategorias que ajudam a compreender o comportamento desse universo, tais como: o
significado do consumo; consumismo; produtos e serviços que são prioridades de consumo.
Com relação ao significado do consumo para os entrevistados, observou-se uma
diversidade de conotações: liberdade, prazer, realização, necessidade, refúgio e satisfação.
Porque tem aquela questão assim, eu ter o meu dinheiro pra mim. Aquela questão, eu vou aonde
eu quero, faço o que eu quero... Tem aquele sentido de liberdade, né. Muitas vezes de extravasar
alguma coisa também, né....De poder escolher o que eu quero, de poder fazer o que eu quero...
(Entrevistado 5)
Eu consumo assim,o básico, o que eu preciso, eu compro. Se eu não preciso, eu não compro.
(Entrevistado 4)
(...) eu acho que toda mulher gosta de sair pra comprar.. Eu gosto! Pra mim é um passa tempo,
adoro ir em lojas, ver vitrines, experimentar. (Entrevistado 10)
O meu estado emocional tem muita influência sim. As vezes quando você tá muito triste ou tá
muito feliz a tendência de consumo é maior. As vezes você ta desanimada, vai numa loja e olha
uma coisa, olha outra e acaba que você vai empolgando ou então ás vezes também eu estou muito
feliz, muito animada, aí é outro fator que influencia também. (Entrevistado 2)
(...) ah eu quero um celular que saiu agora, é uma coisa que vai fazer feliz, então porque que
você não vai comprar? Você tem comprar. Vai morrer com o seu dinheiro, pra que?! Não você
tem que comprar... (Entrevistado 9)
Evidencia-se a função do consumo no “culto ao eu”, uma maneira de auto-afirmação e
de liberdade para construir sua própria identidade, que é característica da sociedade moderna
(GIDDENS, 1991).
Os entrevistados também se auto-avaliaram quanto à questão do consumismo e, nesse
sentido, verificou-se a presença de dois segmentos: aqueles que se consideram consumistas e
os que não se vêem como praticantes desse tipo de comportamento.
(...) na minha sapateira, essa semana, tinha oitenta pares de sapato... Tirei assim, uns dez para
dar pra alguém, porque a gente sempre cisma com alguns, né. Mas eu tenho essa mania de
consumismo. (Entrevistada 10)
Minha mãe fala que o meu problema é que eu gosto de tudo. Não tem uma coisa que eu falo : Ah!.
Não gosto disso. Então se eu for numa loja de sapato, eu compro sapato, se eu for numa de roupa,
eu compro roupa, se eu for numa de bijuteria, eu compro bijuteria e se eu for numa de
maquiagem, eu compro também... Então eu gosto de muita coisa(Entrevistada 3)
Eu sou totalmente consumista, acabei de ver isso hoje. Porque eu acabo de comprar uma coisa, eu
já tenho vontade de comprar outra. Eu sou insaciável. Cada hora que surge uma coisa nova que
não tem nada haver (...) (Entrevistado 3)
Eu gosto de comprar, eu fico feliz. Gosto de comprar as coisas que eu desejo há muito tempo.
Mais eu acho que eu sou controlada. Eu acho que eu tenho bastante controle. Não fico gastando
com coisa supérflua, coisas de marca. Não vou porque os outros tão usando, não fico comprando
muito o que eu não estou precisando. Principalmente agora que a gente ganha o dinheiro e sabe o
tanto que é difícil. (Entrevistado 12)
(...) quando eu penso numa pessoa consumista, eu penso naquela pessoa meio que desenfreada,
isso é meu modo de pensar. Eu não sou. Então, eu acho que eu não sou consumista (...)
(Entrevistado 5)
Fica evidente nos relatos dos entrevistados que se declararam consumistas, que eles
têm uma propensão a compra compulsiva. No entanto, esta propensão não chega a gerar
13
conseqüências negativas, visto que estes jovens afirmam conseguir exercer o auto-controle e
dimensionar as compras conforme a sua renda, não gerando dívidas. O consumismo também
é um elemento importante na sociedade moderna, em que ganha espaço uma postura de defesa
do consumo ao reconhecer que as necessidades do consumidor são, em princípio, ilimitadas e
insaciáveis (CROSS, 1993 ; SLATER, 2002). No entanto, vale ressaltar que outros
entrevistados são muito ponderados em suas compras, conseguindo poupar uma boa parte de
suas receitas.
Às vezes eu fico querendo alguma coisa, morrendo de vontade comprar. Mas eu não compro,
pensando no futuro, de medo. A gente não sabe o que pode acontecer. Eu posso ficar doente, meus
pais podem ficar doente. Então a gente pode precisar depois .(Entrevistado 4)
(...)eu anoto tudo que eu gasto, pra eu acompanhar, pra ver no quê que eu gasto. Só que eu acho
que eu não gasto muito não. (Entrevistado 8).
Com relação aos produtos e serviços prioritários no consumo dos jovens cangurus
entrevistados, verificou-se que os itens mais presentes nos depoimentos foram: vestuário,
produtos eletrônicos, veículos, cursos de pós-graduação, estética, lazer, entretenimento,
turismo e academia.
(...) até o momento já fiz investimento na carreira, investimentos profissionais... (Entrevistado 1)
(...) eu gosto muito de viajar, para lazer... Quase todo final de semana eu viajo...(Entrevistado 14)
(...) prioridade, o que eu não fico sem é a gasolina do meu carro pra ser sincera. Fora isso, só a
academia. (Entrevistada 4)
(...) fim de semana, eu não abro mão do meu barzinho. Eu ralo a semana inteira, cansado, o que
me distrai, o que me diverte, no fim de semana, é isso. (Entrevistado 9)
O investimento na carreira, de cunho mais racional, divide espaço no consumo da
geração canguru com um comportamento de consumo hedonista e imediatista (Ferreira,
2004), em que a juventude tem que ser aproveitada em sua plenitude.
O fator tempo também foi percebido como um elemento que tem poder decisivo de
compra. A falta de tempo foi interpretada como um fator resultante das diversas atividades
(profissionais, pessoais, etc) exercidas pelos indivíduos na sociedade contemporânea.
Transpondo esse atributo para o campo do consumo, verifica-se que este limita a freqüência
de compra, agiliza as decisões de compra e incentiva as compras online.
Por eu não ter tanto tempo, quando sobra um tempinho, eu prefiro dar prioridade naquelas coisas
que eu tenho que fazer. As outras obrigações . E o consumo fica em segundo plano. (Entrevistado
5)
O tempo é bem corrido. Por isso eu compro muito pela internet, eu acho mais rápido que você
sair pra comprar, pra ficar olhando. Na internet, você olha tudo, consulta preços em vários
lugares ao mesmo tempo (Entrevistado 8)
Entre os fatores responsáveis pelo prolongamento da permanência dos jovens
cangurus na casa dos pais, observou-se que em vários depoimentos, os entrevistados
justificaram o seu nível de consumo pela ausência de contribuição financeira com as despesas
mensais da família. Desse modo, a economia constitui um fator extra-familiar de alta
relevância para a geração canguru.
(...) em casa, eu não tenho praticamente despesa nenhuma, eu usufruo de tudo o que a casa
proporciona né de... de desde a alimentação até outros recursos..., água, luz, telefone e sem... sem
despesas (Entrevistado 1)
Os entrevistados ainda acrescentam que essa ausência de contribuição é apoiada pelos
pais, uma vez que eles se sentem na obrigação de arcar com todos os gastos mensais da
residência. Em alguns casos, observou-se que além dos gastos residenciais, os pais também
14
contribuem com algumas despesas pessoais dos filhos, principalmente a internet, telefone
celular e gasolina.
(...) meu celular é junto com a conta de telefone fixo. Aí quando eu mudei de plano eu combinei
com o meu pai de pagar metade e ele a metade. Só que depois de uns seis meses ele já começou a
não aceitar mais... (Entrevistada 2)
Ele tem aquele cartão da Petrobrás, ele que fez. Eu não pedi e ainda foi fez um cartão pra mim,
colocou a fatura pra chegar no nome dele e . Eu tenho um cartão no meu nome, aí eu abasteço,
passo no meu cartão e a fatura chega pra ele. Então é ele que paga. (Entrevistada 5)
Alguns entrevistados se sentem incomodados com essa situação, visto que por terem
renda própria, gostariam de estar contribuindo com as despesas familiares. Além disso,
acreditam que essa falta de contribuição financeira dificulta o aprendizado para atingir a
maturidade. Já outros não vêem essa preocupação e interpretam essa situação como muito
cômoda. Por outro lado, os entrevistados consideram-se como moderados nas despesas
familiares, adotando, assim, algumas medidas econômicas. Ao mesmo tempo, eles também
salientam a disponibilidade para estarem contribuindo caso seja necessário.
Pelo fato de contribuírem pouco com as despesas familiares, os jovens cangurus
entrevistados compõem um nicho de consumidores com alto poder aquisitivo. Portanto,
mesmo que a renda deles não atinja patamares tão elevados, o padrão de consumo de certas
categorias de produtos é relativamente muito maior, quando comparados aos jovens adultos
que já estão casados ou que têm residência própria.
(...) o consumo é muito maior. Eu acho que se eu tivesse morando sozinho, eu taria naquela vida
limitada: dinheiro pra comer, dinheiro para morar....Sabe? Por isso meu consumo hoje é dez
vezes maior do que se eu tivesse morando sozinho. (Entrevistado 7)
Você deixa de pagar suas contas do dia a dia, e tem mais dinheiro pra outro tipo de consumo,
como lazer ou mesmo coisa mais supérflua. (Entrevistado 8)
Neste sentido, o consumo desses jovens cangurus tende ser egocêntrico e remete a
questões ligadas à liberdade. Portanto, se por um lado morar com os pais reduz a liberdade
pessoal, por outro, aumenta a independência e o potencial de consumo.
Se sobra mais dinheiro, eu consigo poupar mais e consigo investir em mim (Entrevistado 1)
(...) que a gente ganha fica tudo pra gente. Praticamente, pra você poder investir em você. Então
fica mais independente nesse ponto. (Entrevistado 13)
Além de terem um padrão de consumo maior, os jovens cangurus entrevistados
ressaltaram o seu poder de influência nas decisões de compra da família. Conforme consta
nos relatos, as influências são exercidas tanto no âmbito de bens básicos de consumo quanto
nos duráveis. Destaca-se que a permanência dos jovens adultos na casa dos pais afeta não
somente o seu consumo individual, mas também as decisões de consumo familiares, o que
pode categorizar as famílias nessa situação como uma nova categoria no ciclo de vida
familiar.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a geração canguru como um fenômeno que está associado à sociedade
contemporânea, observou-se nesse trabalho que os jovens adultos pertencentes a esse universo
se inserem no crescente processo de individualização propagado pela modernidade. Neste
sentido, o prolongamento da saída da casa dos pais contextualiza-se como uma demanda
individual, em que fatores como a comodidade, o conforto, a segurança financeira, um bom
padrão de vida, a progressão na carreira profissional são tidos como prioridades.
O estudo revelou diferentes motivações para o prolongamento da vida na casa dos
pais. Destaca-se, no entanto, a dimensão pragmática e individualista da nova geração que
visualiza a permanência com os pais como uma possibilidade de economizar, investir na
15
carreira ou manter um nível de consumo desejado. Os pais, em sua maioria, também parecem
não cobrar dos filhos a sua emancipação e independência, como ocorria nas gerações
anteriores. O fato de terem poucos filhos pode ser um fator explicador, visto que o apego
tende a ser maior e o peso dos filhos nas despesas da família tende a ser menor. É interessante
notar que essa nova prática, ao contrário de tempos passados, parece transcorrer sem grandes
conflitos entre pais e filhos, o que é raro na evolução das gerações.
O comportamento de consumo da geração canguru revela grande propensão à compra
de produtos supérfluos, embora o investimento na carreira e a poupança também apareçam na
distribuição dos gastos. Os filhos também exercem grande influência na compras da família.
Isso indica que o conhecimento da dinâmica das novas famílias pode servir como um
indicador altamente relevante para as estratégias de marketing. No entanto, esse fenômeno
parece ser motivado por fatores diversos, o que aumenta a importância da construção de uma
escala, baseada nas categorias emergentes, que permita identificar possíveis segmentos
diferentes dentro do rótulo “geração canguru”.
Embora a temática aqui proposta não tenha recebido tratamento exaustivo por parte
dos autores, acredita-se que suas idéias possam contribuir tanto para prática quanto para a
academia nos estudos sobre comportamento do consumidor. Com relação ao sentido prático,
espera-se que as categorias aqui identificadas possam ser utilizadas pelas empresas em suas
estratégias de segmentação. Já no campo acadêmico, as reflexões aqui apresentadas servem de
fundamentos para a criação de uma escala e realização de surveys em cidades de porte
diverso. Além disso, novos estudos em profundidade também poderão ser conduzidos,
mostrando principalmente o impacto que a geração canguru exerce sobre os ciclos de vida
familiares e os padrões de consumo. Estudos conduzidos com os pais também aparecem como
uma alternativa importante na agenda de pesquisa.
Recomenda-se atenção às colocações feitas por Henriques et al. (2004), que descreve
a experiência de uma geração como uma experiência social vivida em um determinado
momento histórico, cujas marcas afetam as percepções de mundo e de sociedade desses
indivíduos. Assim, a geração canguru deve ser compreendida como resultado das
configurações sociais contemporâneas com muitas extensões a serem desvendadas.
A relevância do estudo recai ainda no fato do mesmo ter sido realizado em uma cidade
do interior, o que revela uma realidade que pode ser distinta dos grandes centros, onde grande
parte dos estudos de marketing têm sido conduzidos.
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SOUZA, C. Z. V. Juventude e contemporaneidade: possibilidades e limites. Ultima década,
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Geração Canguru: Tendências que Modificam o Consumo Familiar

  • 1. 1 Geração Canguru: Algumas Tendências que Orientam o Consumo Jovem e Modificam o Ciclo de Vida Familiar Autoria: Patrícia Aparecida Ferreira, Daniel Carvalho de Rezende, Cléria Donizete da Silva Lourenço Resumo O estudo procurou compreender quais são as motivações para que os jovens adultos da classe média, já inseridos no mercado de trabalho, permaneçam na casa de seus pais (fenômeno denominado pela mídia de geração canguru) e o que isso representa para o campo do consumo. Por meio de um estudo qualitativo que consistiu de entrevistas com jovens adultos de uma cidade do interior de Minas Gerais foram identificadas categorias de análise sob a perspectiva da grounded theory: fatores responsáveis pelo prolongamento da permanência dos jovens adultos na casa dos pais; a postura dos pais; a decisão de sair da casa dos pais; o significado do consumo; o consumismo; produtos e serviços que são prioridades de consumo. O estudo revelou diferentes motivações para o prolongamento da vida na casa dos pais. Destaca-se, no entanto, a dimensão pragmática e individualista da nova geração. Os pais, em sua maioria, também parecem não cobrar dos filhos a sua emancipação e independência, como ocorria nas gerações anteriores. O comportamento de consumo dos jovens cangurus revela grande propensão à compra de produtos supérfluos, destacando-se também a influência que eles exercem no consumo familiar. O conhecimento da dinâmica das novas famílias destaca-se, portanto, como um elemento altamente relevante para as estratégias de marketing. 1 INTRODUÇÃO No cenário das transformações da sociedade contemporânea, a família desponta como um campo privilegiado de mudanças, onde novos processos se colocam em curso. Transformações sociais, econômicas e demográficas apontam para uma crescente diversificação da família e dos arranjos familiares, o que conseqüentemente resulta em novas opções de vida conjunta entre as pessoas. É neste sentido de transformações, que o espaço familiar apresenta-se como uma área de grande interesse no estudo do comportamento do consumidor. Além disso, as famílias, como unidades consumidoras, são as principais usuárias e compradoras de muitos produtos, além de influenciar nas atitudes e comportamento dos indivíduos (BLACKWELL et al., 2005). Entre as novas tendências familiares, no contexto brasileiro, observa-se um crescimento do número de jovens adultos da classe média que trabalham e prolongam o tempo de permanência na casa dos pais, fenômeno denominado pela mídia e por alguns estudiosos de “geração canguru” (HENRIQUES et al., 2004). Esse comportamento refere-se a uma convivência familiar prolongada em que os filhos, jovens adultos, apesar de aptos para uma vida independente fora dos limites da casa dos pais, optam pela permanência. Segundo Henriques et al. (2004), o adiamento da separação da família é um reflexo da conjugação de fatores intra-familiares – ambivalência de sentimentos em relação a partida e a perda dos papéis conquistados – com extra-familiares - fruto de um contexto social fortemente marcado por instabilidade e incerteza. No Brasil, esse novo modelo familiar começou a ser estudado apenas nos últimos anos, enquanto que em alguns países, como Itália, França e Argentina ele já vem sendo pesquisado desde o início dos anos 90. Por ser um fenômeno sociológico, alguns estágios do ciclo de vida da família, que são importantes indicadores de comportamento do consumo, podem ser alterados. Diante disso, contextualiza-se a questão central deste trabalho, que procurou compreender quais são as motivações para que os jovens adultos da classe média já inseridos no mercado de trabalho permaneçam na casa de seus pais, e o que isso representa para o campo do consumo.
  • 2. 2 Partindo desse recorte analítico, a primeira parte deste artigo articula alguns conceitos pertinentes à família como unidade consumidora e questões que envolvem o fenômeno da geração canguru e seus impactos no ciclo de vida familiar. Na segunda parte, apresentam-se as categorias analisadas sob a perspectiva da grounded theory, geradas com base nos dados coletados em uma pesquisa qualitativa realizada com jovens adultos de uma cidade do interior mineiro. 2 A FAMÍLIA COMO UMA UNIDADE CONSUMIDORA A família tem sido tema de estudo para diversos campos do conhecimento, abrangendo diferentes pontos de vista e com um debate interdisciplinar que mostra o quão grande é a gama de abordagens possíveis para a compreensão deste fenômeno cultural, social, econômico e político (SILVA et al., 2004). De um modo geral, a família é compreendida como uma construção social, formada a partir da relação entre indivíduos e sociedade, caracterizada por uma variedade de formas, que segundo Saraiva Jr e Taschner (2006), podem ser classificadas em ciclos de vida tradicionais ou modernizados. Para Petrini e Alcântara (2002), a família constitui o fundamento da sociedade, ou seja, um recurso sem o qual a sociedade, da forma como está organizada atualmente, entraria em colapso, caso fosse obrigada a assumir tarefas que, via de regra, são desempenhadas de forma melhor e a menor custo pela instituição família. Através da proteção, da promoção, do acolhimento, da integração e das respostas que oferece às necessidades de seus membros, a família favorece o desenvolvimento da sociedade. Contudo, a sociedade não é estática e permanece sempre em um processo contínuo de mudança. Para Touraine (1994), na modernidade, quase todas as sociedades são penetradas por novas formas de produção, de consumo e de comunicação. Nesse sentido, Cioffi (1998) destaca algumas alterações sofridas pelas famílias na sociedade moderna. Segundo a autora, na modernidade, a família hierarquizada cede terreno para uma família onde as relações são mais igualitárias (ou menos hierárquicas), valorizando as opções e a vida pessoal de seus membros, o privado e o subjetivo em detrimento aos valores tradicionais e patriarcais. Além disso, observam-se novas configurações familiares que se associam a dimensões como o individualismo, que é um valor característico das sociedades capitalistas. Na verdade, a modernidade tem como seus ícones principais uma cultura de consumo e uma tendência a comportamentos cada vez mais individualistas (SLATER, 2002; CAMPBELL, 1989). Silva et al. (2004) também salientam que a família como parte integrante da sociedade em transformação (nível macro) passa por um processo de transformação (nível micro), cujas mudanças, nos dois níveis, viabilizam o surgimento de novos modelos de família, distintos dos propalados modelos tradicionais. Para Sales e Vasconcelos (2007), fatores econômicos, sociais e culturais contribuíram de forma decisiva para as alterações na estrutura familiar, e os diversos modelos existentes estão fundamentados na igualdade, individualidade e liberdade. Reagindo aos condicionamentos externos e ao mesmo tempo adaptando-se a eles, a família encontra sempre novas formas de estruturação que, de alguma maneira, a reconstituem. Dessa forma, a realidade da família moderna enquanto construção social apresenta novos arranjos familiares que são resultados contextuais da inovação que busca legitimar a pluralidade e a flexibilidade adstrita à sociedade contemporânea. Além disso, vale ressaltar a influência da variável “tempo”, que faz com que as famílias se diferenciem estruturalmente. Para Fonseca (2005), a idéia de “ciclo de vida” é subsidiária da dimensão temporal das relações familiares, que de um modo geral contextualiza três grandes fases: formação inicial (em geral, por casamento), expansão (com nascimento dos filhos) e declínio (quando os filhos adultos saem para estabelecer seus próprios núcleos e a velha geração é deixada com “o ninho vazio”). Já Blackwell et al. (2005)
  • 3. 3 englobam no ciclo de vida padrões familiares que vão além do casamento, ter filhos e sair de casa, acrescentando, assim, estágios, como a perda do(a) esposo(a) e a aposentaria. De acordo com Hill (1970) e Stampfl (1978), o ciclo de vida familiar é uma abordagem interdisciplinar para o estudo da família e tem sido empregada em diversas áreas, tais como Psicologia, Sociologia, Economia e Marketing. Considerando o consumo como uma referência para se pensar a sociedade contemporânea (ROCHA et al., 1999) e as famílias como as principais unidades consumidoras (BLACKWELL et al., 2005), observa-se a relevância que os vários estágios do ciclo de vida familiar assumem quanto à definição e compreensão dos padrões de consumo dos indivíduos e das famílias e de como eles se alteram ao longo do tempo (BLACKWELL et al., 2005). As famílias como unidades consumidoras são as principais usuárias e compradoras de muitos produtos, além de influenciar nas atitudes e comportamento dos indivíduos. Diante desse contexto, o ciclo de vida familiar apresenta-se como um importante indicador do comportamento de consumo, uma vez que muitas mudanças estão mais associadas com as alterações na estrutura familiar (como casamento, nascimento dos filhos, separação e saída dos filhos de casa) do que com o processo de envelhecimento (SARAIVA JR; TASCHNER, 2006). Nesse mesmo sentido, Béllon et al. (2001) consideram o ciclo de vida familiar como uma variável sociodemográfica que pode ser utilizada como uma medida de segmentação de mercado. Para esses autores, a influência exercida pelo ciclo de vida das famílias pode ser identificada em muitos produtos e serviços e varia conforme o contexto cultural de cada país. Saraiva Jr e Taschner (2006) também ilustram a influência das dimensões culturais de cada país sobre a instituição ‘família’. Para estes autores, em culturas individualizadas, como a norte-americana, os filhos são educados a tornarem-se independentes o mais cedo possível, espera-se que cada um cuide de si mesmo e de sua família imediata; já em culturas coletivistas as crianças crescem mais próximas de outros familiares e se tornam mais dependentes de um grupo. Para Cioffi (1998) existe uma relação estreita entre arranjos familiares, ciclo de vida familiar e condições de vida das famílias. De um modo bem geral, a autora apresenta os principais arranjos familiares existentes no contexto brasileiro e sua combinação com ciclos de vida, contemplando, assim, os alguns estágios como: casal com filhos; casal sem filhos; chefe sem cônjuge com filhos e pessoas morando sozinhas. De acordo com Cioffi (1998), as famílias formadas por casal com filhos correspondem à situação típica de organização da família brasileira. Neste caso, identificam-se três fases: jovem, adulta e velha. A presença de filhos com pouca idade residentes no domicílio, característica do primeiro estágio do ciclo vital sugere formas de organização específicas da família, tanto em termos de sua capacidade econômica e inserção no mercado de trabalho, como quanto à organização das tarefas domésticas. Nesta fase jovem do ciclo, a família tende a organizar-se predominantemente em torno do chefe a quem cabe a responsabilidade pelo sustento familiar. Já na fase adulta, altera-se, obviamente, a distribuição dos filhos segundo faixa etária, com maior concentração entre 7 e 17 anos, o que, por sua vez, contribui para alterar a organização familiar com vistas aos mecanismos utilizados para a satisfação das necessidades materiais da família adulta. Em comparação com as famílias situadas no ciclo vital jovem, a idade mais elevada dos filhos pode contribuir para liberar a cônjuge para o mercado de trabalho. Na fase velha, os filhos apresentam faixa de idade superior aos 18 anos, podendo participar do mercado de trabalho. Caso haja essa participação no mercado de trabalho, alterações na composição da renda familiar poderão ocorrer e até mesmo reduzir a participação do chefe e do cônjuge.
  • 4. 4 Por outro lado, Blackwell et al. (1995) destacam que os indivíduos não precisam necessariamente passar por cada um dos estágios do ciclo, podendo pular múltiplos estágios baseados nas suas escolhas de vida. Segundo Fonseca (1995), hoje em dia, o ciclo familiar baseado na nuclearização das famílias (pai, mãe e filhos vivendo juntos) não é nada evidente, visto que, muitas vezes, o nascimento de netos precede o casamento de seus pais ou a formação de um novo núcleo. Além disso, em época de desemprego, há uma tendência crescente, em todas as classes, de filhos adultos voltarem para a casa dos pais em momentos difíceis, seguidos de um divórcio ou a perda de emprego. Com relação às influências familiares, Petrini e Alcântara (2002) salientam que na família não se transmite apenas a vida, mas o seu significado, o conjunto de valores e critérios de orientação da conduta, que levam o indivíduo a perceber a existência como digna de ser vivida, em vista de uma participação positiva na realidade social. Transpondo essa relação para o consumo, justifica-se a consideração feita por Cunha (2004) de que a família apresenta- se como uma importante organização de compra de produtos de consumo na sociedade, sendo, constantemente, alvo de apelos promocionais. Cunha (2004) também ressalta que o comportamento de compra da família é um processo coletivo e os participantes não se limitam à simples busca de informações, valendo-se também da troca de opiniões e participação ativa. Apresentadas as questões que envolvem a família como unidade consumidora e um espaço em constante transformação, incorporam-se as orientações de Strauber (2005) para discutir a juventude como uma de suas categorias, gerada no centro de tais transformações e protagonista de muitos alvos de consumo. Nesse sentido, discutir-se-á na próxima seção um fenômeno que assola as classes médias urbanas - a geração canguru -, que representa jovens que adiam a saída da casa de seus pais e que compõem um nicho de consumidores com alto poder aquisitivo. 3 GERAÇÃO CANGURU: ALGUMAS QUESTÕES QUE ENVOLVEM FAMÍLIA E CONSUMO A sociedade contemporânea é marcada por profundas mudanças na instituição familiar, que resultaram em muitos desafios, bem como novas configurações. Acompanhando este processo, aparece a juventude, que segundo Strauber (2005), pode ser considerada uma constante protagonista do mundo capitalista por ser sempre cortejada pela mídia, disputada pelo comércio, cultivada em estufa pela escolarização, estendida e afastada do contato com modelos tradicionais, e que assimila, assim, estilos de vida moldados por essas agências de socialização. Complementando essa visão, Henriques et al. (2004) também salientam que a juventude, maleável e plástica por excelência, é o objeto preferido da cultura de mercado, orientando a produção de muitos bens. Perante esse contexto, Ferreira (2004) destaca o mercado jovem como um segmento que apresenta um grande potencial de consumo, cujas características comportamentais estão em constante evolução. No entanto, para se compreender a juventude em suas múltiplas determinações e expressões, ela deve ser pensada como um “fenômeno plural” intimamente ligado às condições materiais e simbólicas do meio (BARBIANI, 2007; STRAUBER, 2005). Nessa perspectiva, em que a juventude confirma-se sob uma diversidade cultural e não como uma categoria unívoca, a geração canguru insere-se como um recorte desse contexto social. A geração canguru – assim nomeada pela mídia por sua analogia com o mamífero marsupial australiano, cuja fêmea abriga os filhos em uma bolsa ventral – distingue-se da geração de seus pais, pelo adiamento da saída da casa paterna e pelo conseqüente prolongamento da convivência familiar (HENRIQUES et al., 2004). Além disso, a geração canguru é um fenômeno inerente às famílias de classe média e abarca jovens adultos de ambos os sexos.
  • 5. 5 Para Carrano (2001), o fenômeno social intitulado de geração canguru incorpora jovens que moram com os pais e que não vêem perspectivas de sair de casa, mesmo com a união conjugal ou gravidez, evidenciando, assim, um quadro de restrição voluntária à autonomia. Nesse sentido, Henriques et al. (2004) nomeiam esse universo como uma categoria de jovens/adultos, que apesar de terem alcançado uma faixa etária identificada com a conclusão dos estudos de graduação universitária e estarem aptos para uma vida profissional, em alguns casos, até mesmo com independência financeira, preferem continuar vivendo com pais, o que os leva a uma situação de dependência. Comparada à geração de seus pais, os jovens “cangurus” adotam um comportamento totalmente contrário (HENRIQUES et al., 2004; FICHTNER, 2004; LOPES, 1999), visto que retardam ao máximo a sua autonomia e a independência familiar, enquanto seus antecedentes travaram verdadeiras lutas, quebraram regras, saíram da casa de seus pais no intuito de conquistarem os ideais libertários, sexuais e ideológicos que permeavam o universo jovem dos anos 50/60. Por outro lado, a geração canguru deve ser compreendida como um fruto desse movimento exercido pela “geração paz e amor”. Ao romper com alguns valores tradicionais da época, dentre eles a centralização e a hierarquia, a geração anos 60 semeou um novo projeto de vida familiar, com mais diálogo, igualdade, liberdade sexual, que são alguns dos fatores essenciais para que os jovens “cangurus” permaneçam na casa de seus pais. Para Henriques et al. (2006) e Rezende (2004), a geração canguru apresenta-se como um fenômeno sociológico freqüente nos estratos médios e superiores da sociedade, que se justifica devido ao quadro de relativa abundância que estas possuem, o que tende a inibir assim motivações econômicas para uma vida melhor, que são bastante comuns em classes sociais menos favorecidas. Já Azevedo (2007) alerta que o simples fato de uma pessoa morar com o pai ou com a mãe não faz com que ela se enquadre no rótulo "geração canguru". Entre as características que envolvem a geração canguru, Henriques et al. (2004) destacam, com base em uma pesquisa realizada como jovens adultos do Rio de Janeiro, alguns fatores intra-familiares e extra-familiares que explicam o prolongamento da permanência dos jovens adultos na casa paterna. Para compreender esses fatores, esses autores remetem a alguns elementos constitutivos do indivíduo contemporâneo, tais como: a incerteza, a instabilidade, o imediatismo e a insegurança. Com relação aos fatores extra-familiares, o mundo do trabalho aparece como cerne dessa discussão. Questões como investimento constante na vida profissional, dificuldade de inserção no mercado do trabalho, desemprego, avanço da tecnologia e globalização orientam o dia-a-dia dos jovens adultos, além de serem profundamente marcados por relações de instabilidade e insegurança. Diante dessas colocações, verifica-se que os jovens dessa geração não são frutos do acaso, mas, pelo contrário, seu comportamento é decorrente de um mercado cada vez mais competitivo (DURAN, 2007). Por outro lado, a família aparece como uma instância mediadora entre esse domínio do mercado e o indivíduo, assumindo, assim, um espaço de mutualidade, amizade e apoio. Desse modo, a família comparece como o locus de encontro das condições materiais e simbólicas de coexistência dos jovens e mediadora do trânsito privado-público-privado, que é permeável tanto por convocatórias locais quanto globais (BARBIANI, 2007). Como conseqüência, observa-se uma horizontalização nas relações familiares ou até mesmo uma neutralização da hierarquia, que segundo Henriques et al. (2004) representa uma abertura ao diálogo, posturas de companheirismo, ausência de limites, liberdade entre outros. Além disso, Henriques et al. (2004) e Camarano (2003) destacam outros elementos que contribuem para a permanência dos filhos na casa dos pais: o pouco valor dado à independência individual; a diminuição dos conflitos geracionais ou a sua neutralização,
  • 6. 6 ambivalência dos pais no que no que concerne à saída dos filhos de casa; a permissão para o sexo na casa dos pais; o conforto e o padrão de vida usufruídos na convivência familiar; o adiamento do casamento percebido nos dias atuais; as transformações ocorridas nos compromissos afetivos entre os pares (menos exigências e expectativas) entre outros. Para compreender melhor essa protelação da convivência familiar, Henriques et al. (2004) demonstram essa questão sob o enfoque dos pais. Segundo esses autores, a saída dos filhos tende a ser um momento delicado no ciclo de vida familiar, uma vez que a experiência do “ninho vazio” é um fator sobrecarregado de carga emocional para a família, podendo até fragilizar o vínculo conjugal do casal. Portanto, a partir dessa realidade, os jovens adultos, ao adiarem a saída de casa, assumem o papel de guardiões da relação de seus pais, orientando-os também para um estilo jovem de vida. Por outro lado, autores como Fichtner (2004), Strauber (2005) e Henriques et al. (2006) salientam que a permanência dos filhos adultos na casa dos pais pode afirmar-se como uma atitude de não-enfrentamento da dura realidade fora dos domínios da família, inibindo a sua independência. Além disso, a maioria por não contribuírem com orçamento familiar, pagando apenas as contas pessoais, retarda a idéia de responsabilidade. Dessa forma, ser jovem contemporâneo significa entrar na vida adulta cada vez mais tardiamente, o que demarca uma profunda alteração no modelo de socialização e aprendizagem dos papéis adultos. Sendo os “jovens cangurus” uma referência da juventude, torna-se necessário apresentar alguns pontos de mediação entre esses atores sociais e a categoria consumo. Nesse sentido, como qualquer outra categoria jovem, a geração canguru é dominada pelo fetiche do consumo, sendo considerada um mercado atrativo para as empresas. Por não contribuírem com as despesas familiares, eles também compõem um nicho de consumidores com alto poder aquisitivo. Diante da oferta cultural contemporânea, o consumo, como categoria, modula as sociabilidades juvenis e apresenta-se como uma nova forma do “ser coletivo”, dotado de sentidos de pertencimento e identidade (BARBIANI, 2007). Reforçando essa idéia, um estudo feito por Faith Popcorn (1997), citado por Ferreira (2004), indica algumas tendências que orientam o consumo jovem no mundo moderno, tais como: consumismo descarado; preferência por produtos de marcas; paixão por tecnologia; busca de entretenimento, estimulação e movimentação; experiência e aprendizado intermináveis; mobilidade (viagens); participação e observação de esportes. Retornando ao universo da geração canguru, Mendonça (2006) destaca que os filhos adultos ao viverem com os pais, podem modificar o estilo de vida e o consumo da classe média. A colocação desse autor se justifica, uma vez que a permanência dos filhos promove na família alguns valores associados à idéia de juventude. Deste modo, “o ser e o estar jovem” que representam o desejo, a emotividade e a experiência de um tempo circular, podem afetar nas decisões de consumo. Além disso, os jovens adultos podem influenciar nas decisões de compras dos seus pais, por terem opiniões mais atualizadas e mais conhecimento sobre alguns produtos, principalmente no que se refere à compra de bens duráveis. Dessa forma, torna-se relevante o estudo dos “jovens cangurus” sob a perspectiva do comportamento do consumidor, uma vez que suas necessidades, desejos e motivações podem ser influenciadas pelo prolongamento da convivência familiar. Além disso, a geração canguru é capaz de modificar alguns estágios do ciclo de vida familiar, pois o adiamento da saída dos filhos da casa paterna posterga eventos como o casamento, amplia a fase do ninho cheio e adia o estágio do ninho vazio, interferindo nas atividades de consumo da família. 4 METODOLOGIA
  • 7. 7 Diante das colocações feitas sobre a geração canguru como um novo modelo familiar, observa-se que esta começou a ser estudada no Brasil apenas nos últimos anos e que os poucos trabalhos divulgados se fundamentam basicamente num enfoque psicológico e sociológico. Dessa forma, o estudo se propôs a compreender, de modo exploratório, esse fenômeno sob a perspectiva do comportamento do consumidor. Por ser um fenômeno ainda pouco explorado, as orientações metodológicas a serem adotadas requerem muita cautela e delicadeza por parte do investigador. O método de pesquisa escolhido foi o da grounded theory, conhecido também como teoria fundamentada. Essa opção metodológica se justifica, visto que a grounded theory é um tipo de pesquisa interpretativa, particularmente sensível a contextos e que permite a compreensão do sentido de determinadas situações, indo, portanto, ao encontro dos objetivos da pesquisa (YUNES; SZYMANSKI, 2005). Para Cassiani et al. (2006), a teoria fundamentada nos dados constitui-se como uma abordagem indutiva, voltada para a produção de teoria que é extraída do mundo empírico. Nesse sentido, observa-se que os conceitos teóricos emergem dos dados e não são impostos a eles. Como qualquer outra abordagem metodológica, a grounded theory caracteriza-se como um método sistemático de coletar, organizar e analisar dados. Seguindo-se ao princípio, de que neste método, a teoria é construída a partir de comportamentos, palavras e ações daqueles que estão sendo pesquisados (SANTOS; PINTO, 2007), utilizou-se a entrevista com roteiro semi-estruturado para a coleta de dados. O roteiro continha questões abertas padronizadas, no entanto, as respostas ficaram a critério do entrevistado. Além disso, a entrevista semi- estruturada não impediu os entrevistadores de pesquisarem temas que não estavam em seus roteiros. Com relação à escolha dos entrevistados, utilizou-se a amostragem por julgamento, que segundo Malhotra (2001) consiste numa forma de amostragem não-probabilística por conveniência em que os elementos da população são selecionados com base no julgamento do pesquisador. Dessa forma, o critério utilizado para a seleção desses entrevistados compreendeu jovens adultos que se enquadravam em alguns padrões que orientam a geração canguru. Ao todo foram entrevistados quatorze jovens adultos da cidade de Lavras, no interior de Minas Gerais. Com relação aos elementos que os levam a pertencer à geração canguru, verificou-se que todos apresentaram: estado civil solteiro; estrato social médio; curso superior completo; faixa etária entre 23 a 30 anos; inserção no mercado de trabalho e/ou realização de pós-graduação stricto-sensu (mestrado e doutorado) financiados por alguma agência de fomento; residentes com os pais; nível renda compatível para sair da casa dos pais; não contribuintes com as despesas da casa. Foram entrevistados oito mulheres e seis homens. As entrevistas foram gravadas, transcritas, lidas, codificadas e analisadas conforme a orientação de Strauss e Corbin (1990) sobre a grounded theory. Conforme relata esses autores, a grounded theory se propõe a construir uma teoria, quando um fenômeno social é insuficientemente explicado pelas teorias formais existentes. Dessa forma, a teoria ao ser construída representa um conjunto “bem desenvolvido” de categorias (temas, conceitos) que são sistematicamente inter-relacionadas através de proposições de relação para formar um modelo teórico capaz de explicar – de maneira plausível – o fenômeno social estudado. Após a leitura sistemática de todas as entrevistas, os pesquisadores procuraram identificar as propriedades e as dimensões dos códigos (o que existe ou não em comum na fala dos entrevistados). Esses códigos foram comparados e agrupados conforme as suas similaridades e diferenças conceituais, formando, assim, as categorias, que posteriormente foram inter-relacionadas para explicar o fenômeno estudado. Integradas as categorias, uma teoria substantiva sobre o comportamento dos consumidores jovens cangurus foi delimitada conforme o contexto social estudado. Além
  • 8. 8 disso, vale ressaltar que esta teoria fundamentada não foi necessariamente construída exclusivamente a partir dos dados coletados. Nesse sentido, incorporaram-se algumas colocações feitas por Strauss e Corbin (1990), de que caso haja referências teóricas existentes que pareçam ser adequadas ao fenômeno que está sob investigação, elas não só podem, como devem ser utilizadas, refinadas, modificadas, adaptadas através da justa(ou contra) posição das observações feitas no campo. 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO As duas categorias identificadas fundamentam-se basicamente na questão do prolongamento da convivência familiar e do consumo dos jovens cangurus. Na categoria convivência familiar foram identificadas subcategorias, como os fatores responsáveis pelo prolongamento da permanência dos jovens adultos na casa dos pais; a postura dos pais; a decisão de sair da casa dos pais. Já na categoria consumo dos jovens cangurus foram identificadas as seguintes subcategorias: o significado do consumo; o consumismo; produtos e serviços que são prioridades de consumo. 5.1 Prolongamento da convivência familiar Conforme já relatado, são diversos os fatores responsáveis pelo prolongamento da permanência dos jovens adultos na casa dos pais. Esses fatores englobam tanto elementos intra-familiares como os extra-familiares (HENRIQUES et al., 2006). Os entrevistados reconheceram como esses elementos: o afeto e a convivência familiar (intra-familiares); a comodidade, a mordomia, a economia, o padrão de vida, a segurança financeira e a carreira profissional (extra-familiares). Dentre todos esses elementos, observou-se que os extra- familiares familiares foram os mais constantes nos depoimentos. No sentido de comodidade e mordomia, verificou-se que os entrevistados relacionaram esses atributos com a isenção de prática das tarefas domésticas (lavar, passar, arrumar, cozinhar, etc.); boa alimentação; pagamento de despesas domésticas; entre outros. (...) eu tenho tudo aqui... por exemplo, eu tenho... comida, tenho roupa lavada... tenho luz, telefone, tenho tudo. (Entrevistado 3) (...) o almoço é diferente, a comida... o que tem na geladeira... a empregada... tudo é diferente... o carro, quando eu morava sozinha eu não tinha (Entrevistado 6) A economia de despesas domésticas e a segurança financeira também despontaram como fatores que justificam a opção dos entrevistados de morar com pais. Vou continuar quieto aqui, pelo menos assim, não pago água, luz, não pago telefone... só mantenho as minhas contas mesmo.(Entrevistado 9) Se eu fizer uma conta e não tiver dinheiro pra pagar, se me apertar, eu tenho onde socorrer. Não penso duas vezes, vou pedir ajuda por meu pai. (Entrevistado 5) Para os entrevistados, a comodidade, a mordomia, a economia de despesas domésticas e a segurança financeira proporcionadas pelos pais também ajudam de maneira decisiva na manutenção do padrão de vida e na progressão na carreira profissional. Ter que pagar empregada, pagar luz e dividir supermercado... ah não! O meu padrão de vida é mantido por eu não ter que assumir essas responsabilidades... O dinheiro seria mais contado né... não poderia assim ir em tudo enquanto é festa, eu não poderia ir, tinha que selecionar! (Entrevistado 5) Uma coisa que eu deveria lagar é o carro... eu não vou podê ir nele trabalhar todo dia... – Ahm – então isso gera um déficit pra mim (Entrevistado 9) Diante dessas colocações, fica evidente que caso eles deixassem a casa dos pais, com a atual renda obtida, poderiam até mesmo comprometer o padrão de consumo de itens básicos,
  • 9. 9 tais como moradia e transporte. Itens supérfluos, como o entretenimento, também estariam sujeitos a alterações. Quanto à carreira profissional, os entrevistados destacam que o fato de morarem com os pais possibilita maior disponibilidade para cuidar de suas atividades: trabalho e/ou estudo. Além disso, por serem “isentos” das despesas domésticas, sobram mais recursos financeiros para investirem no lado profissional. (...) o tempo que eu gastaria preocupando com as minhas roupas, com alimentação e com uma série de coisas que eu deixo por conta da minha mãe... Eu consigo investir em mim. Eu consigo ficar o tempo todo, praticamente das oito da manhã até as dez da noite me dedicando na minha vida profissional. Sem preocupar com outras coisas. (Entrevistado 7) Dá uma retaguarda. Interessante pra gente poder crescer profissionalmente né. (Entrevistado 13) Com relação aos fatores intra-familiares, os entrevistados destacaram apenas dois elementos: o afeto e a convivência familiar. Para alguns entrevistados, o afeto e a convivência foram identificados como os aspectos essenciais para a protelação da saída da casa dos pais. Já outros perceberam os elementos extra-familiares como os mais decisivos. Eu acho que em primeiro lugar, o carinho, o afeto da família, o apoio é muito importante. Em segundo lugar vem as outras facilidades aí: o meu conforto, a economia... (Entrevistado 1) (...) é muito boa... Lá em casa , eu sou filha única, então assim, é um pelos dois, e ao contrário... sempre a nossa família... Então a gente sempre foi muito unido, tá junto pra qualquer situação, a convivência lá em casa graças a Deus é excelente (Entrevistada 10) (...) lado emocional não me prende não. Eu até tenho a pretensão de ir embora. Entendeu... não me prende não. Por enquanto mesmo é só pela comodidade e pelo lado financeiro mesmo (Entrevistado 4) Por outro lado, a convivência familiar também foi interpretada por alguns entrevistados com uma conotação negativa, significando conflito e restrição à liberdade. (...) no meu caso, os meus pais estão ficando mais velhos, eu acho que vai piorando, sabe... Eu acho que vai ficando cada vez mais distante, a cabeça da gente vai batendo mais diferente ainda... Eu to sentido isso demais, completamente diferente o modo que eles pensam, que agem, querem as coisas, eu quero de outro jeito. (Entrevistado 12) (...) dormi fora de casa? Eu não tenho isso, porque meus pais são bem assim... não é antiquado... mas eles acham assim, que deve dar satisfação enquanto morar em casa... Meu pai tem uma coisa assim: “que enquanto cê morar aqui embaixo do meu teto, você ainda me deve satisfação... Tem que obedecer, eu acho que eu posso ter trinta, quarenta anos...(Entrevistado 4) Eu acho que é muito limitado. Eu não tenho muita privacidade, acaba que meu quarto hoje é minha casa, mesmo assim não tenho total privacidade dentro daquele espaço. Eu acho que você exigir muito, isso é uma falta de respeito com a situação. (Entrevistado 7) Diante dessas colocações, observa-se que o sentido dado pelos entrevistados à liberdade difere-se do descrito na pesquisa conduzida por Henriques et al. (2006), que incorpora ideais libertários, tais como a igualdade e a privacidade. Esse quadro se justifica, pois o locus desta pesquisa representa uma cidade do interior, cujos valores tendem a ser conservadores (“respeitando os padrões normais da família”, “conservadores”; “exigir muito, isso é uma falta de respeito com a situação”; “você ter um limite na sua vida”). Já a pesquisa de Henriques et al. (2006) foi conduzida em uma capital, onde as famílias são mais propensas a aderir aos valores propagados pela modernidade. Além disso, alguns entrevistados ressaltaram que por morarem com os pais, eles tiveram que assumir alguns compromissos e responsabilidades familiares, que acabam comprometendo as suas atividades e sobrecarregando o seu dia-a-dia. (...) meu avô mora com a gente, então é assim... chegou o dia de receber... os dois benefícios, tanto do meu avô por parte de pai, como por parte de mãe é eu que recebo, aí eu tenho que ir no
  • 10. 10 banco receber. Levar eles nos médicos. Então são certas tarefas que viraram obrigação(...) (Entrevistado 5) Eu faço tudo lá em casa, né... Sou eu que vou ao banco pra pode pagar água, luz, telefone. O dinheiro é do meu pai, mais eu é que vou pagar... Eu que levo as minhas avós ao médico. Precisa fazer alguma coisa...precisa comprar um remédio, sou eu que vou. (Entrevistado 4) Apresentados os fatores que os entrevistados identificaram como influenciadores na postergação da saída da casa de seus pais, verificou-se que, apesar de alguns resultarem em limitações como a privacidade, a liberdade e os compromissos, a maioria concebeu esse fato de forma positiva. (...) me beneficia, pensando no lado financeiro... o lado pessoal me prejudica, porque eu não tenho tanta liberdade, quanto eu gostaria... mais o lado financeiro é bem melhor, porque dá pra fazer um pé de meia bem legal, enquanto eu ainda estiver com eles ainda (Entrevistado 4) (...) você consegue manter seu dinheiro, gastar seu dinheiro só com você, você fica mais realizado... vamos dizer assim. Você compra mais as coisas pra você, mais fácil. (Entrevistado 9) Eu acho que as duas coisas. Eu acho que me prejudica por um lado, pois tenho menos liberdade, menos independência... Mas por outro me ajuda muito, porque eu mantenho um nível de vida que eu não ia conseguir sozinha (Entrevistado 6) Perante esses depoimentos, observa-se que a avaliação feita pelos entrevistados quanto à situação de morarem com os pais resultou em um equilíbrio, apresentando tanto benefícios quanto prejuízos. De modo geral, os fatores extra-familiares tiveram um peso maior na avaliação, correspondendo, assim, aos benefícios. Partindo dessa avaliação, observa-se que o significado dado à família tende a ser muito mais um espaço privado a serviço desses indivíduos, do que um local de reciprocidade e afeto. Assim, a família, para esses entrevistados, distancia-se do sentido encontrado na pesquisa de Henriques et al. (2004), que a coloca como uma mediadora entre o material e o emocional. Uma possível justificativa para essa divergência de significado, reside no fato de que as relações na família dos entrevistados desta pesquisa não parecem ser tão horizontalizadas quanto aquelas pesquisadas por Henriques et al. (2004) e que, portanto, elas ainda conservam os padrões de hierarquia e autoridade. Por outro lado, os entrevistados perceberam como pontos negativos nessa avaliação questões que estão relacionadas à liberdade e a independência. Apesar de um dos princípios da geração canguru corresponder à entrada na vida adulta cada vez mais tardiamente, observou-se que os entrevistados desta pesquisa vêem isso com preocupação e, em alguns casos, já se pensam até em romper os cordões umbilicais, no intuito de alcançarem total autonomia para suas vidas. (... ) eu sinto como se eu tivesse morando de favor, porque de 18 anos até hoje, já fazem 11 anos. Então, eu acho que você exigir mais privacidade, exigir mais espaço é difícil, apesar de que você acaba fazendo isso por intuição. Por isso eu acho que aos trinta anos, eu não posso demorar, por exemplo, ter o luxo de demorar mais três ou quatro anos que eu vou tá com quase quarenta... (Entrevistado 7) (...) eu acho que se eu tivesse que pagar, a minha responsabilidade seria bem maior. Eu acho que eu saberia melhor dividir o meu dinheiro, empregar melhor o dinheiro. Ia aumentar a minha responsabilidade com o dinheiro que eu ganho, não ia ser só coisas pra mim (Entrevistado 9) No entanto, os entrevistados consideram que essa saída da casa dos pais deve ser algo planejado para que não comprometa o padrão de vida e o vínculo familiar. Além disso, eles também salientam a estabilidade profissional como um dos critérios. (...) eu estou planejando a saída pra o choque não ser tão forte. Então, planejar direitinho... depois olhar um lugar, uma casa, um apartamento. Preparar esse apartamento pra que eu possa sair... Pra não pegá e ser duma vez, ser aqueles filhos rebeldes... (Entrevistado 7) Quando eu tiver condições de me sustentar de maneira que eu viva bem. Igual eu falei antes, sair pra passar dificuldade eu não vou. (...) (Entrevistado 9)
  • 11. 11 Os entrevistados também ressaltaram a postura de seus pais com relação à postergação da saída de casa. Fundamentado nos depoimentos dos filhos, observa-se dois grupos diferentes de pais. No primeiro grupo, o prolongamento da convivência com os filhos é tratado de forma positiva, principalmente, porque eles temem a experiência do ninho vazio. Isso se justifica, visto que a maioria dos jovens entrevistados são filhos únicos ou são os últimos a permaneceram em casa (os irmãos são casados ou residentes em outras cidades), estreitando, assim, os laços afetivos. Eu acredito que eles ficam satisfeitos, porque em casa somos três filhos e eu sou último né... É a rapa do taxo. Então sendo o último filho, a vontade deles é que o filho fique por perto, né ? Para que tenha mais gente na casa, mais gente na família (Entrevistado 1) Adoram. Só de cogitar de sair de casa, minha mãe, por exemplo, já fica toda chorosa né... E é isso que é o meu medo. O problema é que eles gostam demais. Como eu disse também, a hora que fala de sair, já fica aquela coisa, aquela agonia dentro de casa. (Entrevistado 7) Sinceramente eles nunca chegaram pra mim e falaram: “que dia que você vai sair”. Nunca. Eles nunca falaram nada, eu acho que por eles eu não sairia nunca. (riso) Porque se eu sair, vai ficar quem? Sou filho único. (Entrevistado 9) Já o segundo grupo de pais, que representa a minoria, percebe a convivência familiar como algo positivo, mas não ficam protelando a saída dos filhos, uma vez que o adiamento desta pode comprometer as responsabilidades da fase adulta deles. Além disso, os entrevistados ressaltam que essas preocupações partem mais dos pais, que são mais racionais, enquanto as mães não participam tanto dessa cobrança. Eles sempre falam: “tá passando da hora de você casar”. Eu acho que vem dessa questão: por eles serem mais velhos, eles acham um absurdo eu tá com vinte e três anos e nem noiva sou ainda... Minha mãe fica mais neutra, mais meu pai dá a maior força pra eu casar. .(Entrevistado 12) A minha mãe gosta, mas meu pai diz assim: “que não vê a hora deu arrumar um emprego e sair da barra dele”. Mas também eu acho que fala da boca pra fora também. É mais um incentivo pra mim. Não é pra eu sair de casa não. Não tem disso. Mas ele fica aflito, porque o medo dele é que eu não aprenda a morar fora, me virá sozinha. (Entrevistada 5) Retomando a questão da saída da casa dos pais, os entrevistados também interpretam o tradicionalismo como um empecilho para tomar essa decisão. Para os entrevistados, o tradicionalismo é tido como alguns valores e condutas peculiares de cidade do interior, e que não são tão presentes nos grandes centros. Por exemplo, nos grandes centros, às vezes, você até trabalhando num lugar que é bem distante da sua casa, aí você vai e opta pela liberdade, independência... Aqui a gente é muito acomodado. Realmente por ser cidade pequena a gente é muito acomodado. E tem aquela coisa, às vezes, você sai de casa, parece que as pessoas já falam: “alá... deve ter brigado em casa, porque não tá casado e tá morando sozinho”. Qual que é o porquê disso?! Eu acho que por ser cidade pequena a gente acomoda muito, é muito fácil você ficar morando ali dentro de casa e não criar conflito. Mais pra você não ter muito essas coisas, você acaba optando por ficar... (Entrevistado 7) Igual, se fosse capital, eu já estaria fora que você. Eu acho que isso tem fundamento. Eu acho que o interior é mais família, acolhe mais as pessoas (...) (Entrevistado 9) Ah influencia. Por exemplo, se eu morasse em São Paulo, não sei, no Rio. alguma coisa assim... Se os meus pais morasse longe do meu trabalho, é lógico que eu procuraria um lugar mais perto, entendeu. Colocaria lá no papel o que ficaria mais barato e mudaria. (...) (Entrevistado 3) Vale ressaltar que o tradicionalismo como um empecilho para a saída dos jovens adultos da casa dos pais justifica-se no contexto dessa pesquisa principalmente por se tratar de uma cidade do interior mineiro. No entanto, em outros contextos esse fator pode não se justificar, visto que na sociedade contemporânea o adiamento da saída da casa dos pais pode ser explicado também pela instabilidade e insegurança que assolam o mercado do trabalho. Além disso, a geração canguru é um fenômeno que assola a classe média independente do
  • 12. 12 porte da cidade. Ao se comparar a geração atual com a de seus pais, levanta-se a questão de que os jovens cangurus podem ser fruto dos ideais da geração anos 60, visto que os pais dão todo apoio à carreira profissional de seus filhos no intuito de que estes não enfrentem os mesmos obstáculos por eles já vivenciados. 5.2 O consumo da geração canguru Na categoria “consumo da geração canguru” foram identificadas algumas subcategorias que ajudam a compreender o comportamento desse universo, tais como: o significado do consumo; consumismo; produtos e serviços que são prioridades de consumo. Com relação ao significado do consumo para os entrevistados, observou-se uma diversidade de conotações: liberdade, prazer, realização, necessidade, refúgio e satisfação. Porque tem aquela questão assim, eu ter o meu dinheiro pra mim. Aquela questão, eu vou aonde eu quero, faço o que eu quero... Tem aquele sentido de liberdade, né. Muitas vezes de extravasar alguma coisa também, né....De poder escolher o que eu quero, de poder fazer o que eu quero... (Entrevistado 5) Eu consumo assim,o básico, o que eu preciso, eu compro. Se eu não preciso, eu não compro. (Entrevistado 4) (...) eu acho que toda mulher gosta de sair pra comprar.. Eu gosto! Pra mim é um passa tempo, adoro ir em lojas, ver vitrines, experimentar. (Entrevistado 10) O meu estado emocional tem muita influência sim. As vezes quando você tá muito triste ou tá muito feliz a tendência de consumo é maior. As vezes você ta desanimada, vai numa loja e olha uma coisa, olha outra e acaba que você vai empolgando ou então ás vezes também eu estou muito feliz, muito animada, aí é outro fator que influencia também. (Entrevistado 2) (...) ah eu quero um celular que saiu agora, é uma coisa que vai fazer feliz, então porque que você não vai comprar? Você tem comprar. Vai morrer com o seu dinheiro, pra que?! Não você tem que comprar... (Entrevistado 9) Evidencia-se a função do consumo no “culto ao eu”, uma maneira de auto-afirmação e de liberdade para construir sua própria identidade, que é característica da sociedade moderna (GIDDENS, 1991). Os entrevistados também se auto-avaliaram quanto à questão do consumismo e, nesse sentido, verificou-se a presença de dois segmentos: aqueles que se consideram consumistas e os que não se vêem como praticantes desse tipo de comportamento. (...) na minha sapateira, essa semana, tinha oitenta pares de sapato... Tirei assim, uns dez para dar pra alguém, porque a gente sempre cisma com alguns, né. Mas eu tenho essa mania de consumismo. (Entrevistada 10) Minha mãe fala que o meu problema é que eu gosto de tudo. Não tem uma coisa que eu falo : Ah!. Não gosto disso. Então se eu for numa loja de sapato, eu compro sapato, se eu for numa de roupa, eu compro roupa, se eu for numa de bijuteria, eu compro bijuteria e se eu for numa de maquiagem, eu compro também... Então eu gosto de muita coisa(Entrevistada 3) Eu sou totalmente consumista, acabei de ver isso hoje. Porque eu acabo de comprar uma coisa, eu já tenho vontade de comprar outra. Eu sou insaciável. Cada hora que surge uma coisa nova que não tem nada haver (...) (Entrevistado 3) Eu gosto de comprar, eu fico feliz. Gosto de comprar as coisas que eu desejo há muito tempo. Mais eu acho que eu sou controlada. Eu acho que eu tenho bastante controle. Não fico gastando com coisa supérflua, coisas de marca. Não vou porque os outros tão usando, não fico comprando muito o que eu não estou precisando. Principalmente agora que a gente ganha o dinheiro e sabe o tanto que é difícil. (Entrevistado 12) (...) quando eu penso numa pessoa consumista, eu penso naquela pessoa meio que desenfreada, isso é meu modo de pensar. Eu não sou. Então, eu acho que eu não sou consumista (...) (Entrevistado 5) Fica evidente nos relatos dos entrevistados que se declararam consumistas, que eles têm uma propensão a compra compulsiva. No entanto, esta propensão não chega a gerar
  • 13. 13 conseqüências negativas, visto que estes jovens afirmam conseguir exercer o auto-controle e dimensionar as compras conforme a sua renda, não gerando dívidas. O consumismo também é um elemento importante na sociedade moderna, em que ganha espaço uma postura de defesa do consumo ao reconhecer que as necessidades do consumidor são, em princípio, ilimitadas e insaciáveis (CROSS, 1993 ; SLATER, 2002). No entanto, vale ressaltar que outros entrevistados são muito ponderados em suas compras, conseguindo poupar uma boa parte de suas receitas. Às vezes eu fico querendo alguma coisa, morrendo de vontade comprar. Mas eu não compro, pensando no futuro, de medo. A gente não sabe o que pode acontecer. Eu posso ficar doente, meus pais podem ficar doente. Então a gente pode precisar depois .(Entrevistado 4) (...)eu anoto tudo que eu gasto, pra eu acompanhar, pra ver no quê que eu gasto. Só que eu acho que eu não gasto muito não. (Entrevistado 8). Com relação aos produtos e serviços prioritários no consumo dos jovens cangurus entrevistados, verificou-se que os itens mais presentes nos depoimentos foram: vestuário, produtos eletrônicos, veículos, cursos de pós-graduação, estética, lazer, entretenimento, turismo e academia. (...) até o momento já fiz investimento na carreira, investimentos profissionais... (Entrevistado 1) (...) eu gosto muito de viajar, para lazer... Quase todo final de semana eu viajo...(Entrevistado 14) (...) prioridade, o que eu não fico sem é a gasolina do meu carro pra ser sincera. Fora isso, só a academia. (Entrevistada 4) (...) fim de semana, eu não abro mão do meu barzinho. Eu ralo a semana inteira, cansado, o que me distrai, o que me diverte, no fim de semana, é isso. (Entrevistado 9) O investimento na carreira, de cunho mais racional, divide espaço no consumo da geração canguru com um comportamento de consumo hedonista e imediatista (Ferreira, 2004), em que a juventude tem que ser aproveitada em sua plenitude. O fator tempo também foi percebido como um elemento que tem poder decisivo de compra. A falta de tempo foi interpretada como um fator resultante das diversas atividades (profissionais, pessoais, etc) exercidas pelos indivíduos na sociedade contemporânea. Transpondo esse atributo para o campo do consumo, verifica-se que este limita a freqüência de compra, agiliza as decisões de compra e incentiva as compras online. Por eu não ter tanto tempo, quando sobra um tempinho, eu prefiro dar prioridade naquelas coisas que eu tenho que fazer. As outras obrigações . E o consumo fica em segundo plano. (Entrevistado 5) O tempo é bem corrido. Por isso eu compro muito pela internet, eu acho mais rápido que você sair pra comprar, pra ficar olhando. Na internet, você olha tudo, consulta preços em vários lugares ao mesmo tempo (Entrevistado 8) Entre os fatores responsáveis pelo prolongamento da permanência dos jovens cangurus na casa dos pais, observou-se que em vários depoimentos, os entrevistados justificaram o seu nível de consumo pela ausência de contribuição financeira com as despesas mensais da família. Desse modo, a economia constitui um fator extra-familiar de alta relevância para a geração canguru. (...) em casa, eu não tenho praticamente despesa nenhuma, eu usufruo de tudo o que a casa proporciona né de... de desde a alimentação até outros recursos..., água, luz, telefone e sem... sem despesas (Entrevistado 1) Os entrevistados ainda acrescentam que essa ausência de contribuição é apoiada pelos pais, uma vez que eles se sentem na obrigação de arcar com todos os gastos mensais da residência. Em alguns casos, observou-se que além dos gastos residenciais, os pais também
  • 14. 14 contribuem com algumas despesas pessoais dos filhos, principalmente a internet, telefone celular e gasolina. (...) meu celular é junto com a conta de telefone fixo. Aí quando eu mudei de plano eu combinei com o meu pai de pagar metade e ele a metade. Só que depois de uns seis meses ele já começou a não aceitar mais... (Entrevistada 2) Ele tem aquele cartão da Petrobrás, ele que fez. Eu não pedi e ainda foi fez um cartão pra mim, colocou a fatura pra chegar no nome dele e . Eu tenho um cartão no meu nome, aí eu abasteço, passo no meu cartão e a fatura chega pra ele. Então é ele que paga. (Entrevistada 5) Alguns entrevistados se sentem incomodados com essa situação, visto que por terem renda própria, gostariam de estar contribuindo com as despesas familiares. Além disso, acreditam que essa falta de contribuição financeira dificulta o aprendizado para atingir a maturidade. Já outros não vêem essa preocupação e interpretam essa situação como muito cômoda. Por outro lado, os entrevistados consideram-se como moderados nas despesas familiares, adotando, assim, algumas medidas econômicas. Ao mesmo tempo, eles também salientam a disponibilidade para estarem contribuindo caso seja necessário. Pelo fato de contribuírem pouco com as despesas familiares, os jovens cangurus entrevistados compõem um nicho de consumidores com alto poder aquisitivo. Portanto, mesmo que a renda deles não atinja patamares tão elevados, o padrão de consumo de certas categorias de produtos é relativamente muito maior, quando comparados aos jovens adultos que já estão casados ou que têm residência própria. (...) o consumo é muito maior. Eu acho que se eu tivesse morando sozinho, eu taria naquela vida limitada: dinheiro pra comer, dinheiro para morar....Sabe? Por isso meu consumo hoje é dez vezes maior do que se eu tivesse morando sozinho. (Entrevistado 7) Você deixa de pagar suas contas do dia a dia, e tem mais dinheiro pra outro tipo de consumo, como lazer ou mesmo coisa mais supérflua. (Entrevistado 8) Neste sentido, o consumo desses jovens cangurus tende ser egocêntrico e remete a questões ligadas à liberdade. Portanto, se por um lado morar com os pais reduz a liberdade pessoal, por outro, aumenta a independência e o potencial de consumo. Se sobra mais dinheiro, eu consigo poupar mais e consigo investir em mim (Entrevistado 1) (...) que a gente ganha fica tudo pra gente. Praticamente, pra você poder investir em você. Então fica mais independente nesse ponto. (Entrevistado 13) Além de terem um padrão de consumo maior, os jovens cangurus entrevistados ressaltaram o seu poder de influência nas decisões de compra da família. Conforme consta nos relatos, as influências são exercidas tanto no âmbito de bens básicos de consumo quanto nos duráveis. Destaca-se que a permanência dos jovens adultos na casa dos pais afeta não somente o seu consumo individual, mas também as decisões de consumo familiares, o que pode categorizar as famílias nessa situação como uma nova categoria no ciclo de vida familiar. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a geração canguru como um fenômeno que está associado à sociedade contemporânea, observou-se nesse trabalho que os jovens adultos pertencentes a esse universo se inserem no crescente processo de individualização propagado pela modernidade. Neste sentido, o prolongamento da saída da casa dos pais contextualiza-se como uma demanda individual, em que fatores como a comodidade, o conforto, a segurança financeira, um bom padrão de vida, a progressão na carreira profissional são tidos como prioridades. O estudo revelou diferentes motivações para o prolongamento da vida na casa dos pais. Destaca-se, no entanto, a dimensão pragmática e individualista da nova geração que visualiza a permanência com os pais como uma possibilidade de economizar, investir na
  • 15. 15 carreira ou manter um nível de consumo desejado. Os pais, em sua maioria, também parecem não cobrar dos filhos a sua emancipação e independência, como ocorria nas gerações anteriores. O fato de terem poucos filhos pode ser um fator explicador, visto que o apego tende a ser maior e o peso dos filhos nas despesas da família tende a ser menor. É interessante notar que essa nova prática, ao contrário de tempos passados, parece transcorrer sem grandes conflitos entre pais e filhos, o que é raro na evolução das gerações. O comportamento de consumo da geração canguru revela grande propensão à compra de produtos supérfluos, embora o investimento na carreira e a poupança também apareçam na distribuição dos gastos. Os filhos também exercem grande influência na compras da família. Isso indica que o conhecimento da dinâmica das novas famílias pode servir como um indicador altamente relevante para as estratégias de marketing. No entanto, esse fenômeno parece ser motivado por fatores diversos, o que aumenta a importância da construção de uma escala, baseada nas categorias emergentes, que permita identificar possíveis segmentos diferentes dentro do rótulo “geração canguru”. Embora a temática aqui proposta não tenha recebido tratamento exaustivo por parte dos autores, acredita-se que suas idéias possam contribuir tanto para prática quanto para a academia nos estudos sobre comportamento do consumidor. Com relação ao sentido prático, espera-se que as categorias aqui identificadas possam ser utilizadas pelas empresas em suas estratégias de segmentação. Já no campo acadêmico, as reflexões aqui apresentadas servem de fundamentos para a criação de uma escala e realização de surveys em cidades de porte diverso. Além disso, novos estudos em profundidade também poderão ser conduzidos, mostrando principalmente o impacto que a geração canguru exerce sobre os ciclos de vida familiares e os padrões de consumo. Estudos conduzidos com os pais também aparecem como uma alternativa importante na agenda de pesquisa. Recomenda-se atenção às colocações feitas por Henriques et al. (2004), que descreve a experiência de uma geração como uma experiência social vivida em um determinado momento histórico, cujas marcas afetam as percepções de mundo e de sociedade desses indivíduos. Assim, a geração canguru deve ser compreendida como resultado das configurações sociais contemporâneas com muitas extensões a serem desvendadas. A relevância do estudo recai ainda no fato do mesmo ter sido realizado em uma cidade do interior, o que revela uma realidade que pode ser distinta dos grandes centros, onde grande parte dos estudos de marketing têm sido conduzidos. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, M. Filhinhos da mamãe, e daí? Disponível em: <http://www.familiafeliz.com.br/novidades/novidadesid.asp>. Acesso em: 17 de out. 2007 BARBIANI, R. Mapeando o discurso teórico latino-americano sobre juventude (s): a unidade da diversidade. Revista Virtual Textos & Contextos, n.7, jul.2007. BLACKWELL, R. D.; MINIARD, P.; ENGEL, J. F. Comportamento do consumidor. 9 ed. São Paulo: Thompson, 2005. p. 195-219 BÉLLON, I. R.; VELA, M. R.; MANZANO, J. A. A family life cycle model adapted to the Spanish environment. European Journal of Marketing, v. 35, p. 612-38, 2001. CAMARANO, A. A.; PAZINATO, M. T.; KANSO, S.; VIANA, C. A transição para a vida adulta: novos ou velhos desafios? Boletim de Mercado - conjuntura e análise, Rio de Janeiro, v. 21, p. 53-66, 2003. CAMPBELL, C. The romantic ethic and the spirit of modern consumerism. Oxford: Blackwell, 1989.
  • 16. 16 CARRANO, P. C. R. Jovens na cidade. Revista Trabalho e Sociedade, ano 1, n.1, 2001. Mercado de trabalho. Conjuntura e análise, n. 21, Brasília, IPEA, p. 53-66, 2003. CASSIANI, S. de B.; CALIRI, M.H.L.; PELÁ, N.T.R. A teoria fundamentada nos dados como abordagem da pesquisa interpretativa. Rev.Latino-Am. Enfermagem, v. 4, n. 3, p. 75- 88, dez 1996. CIOFFI, S. Famílias metropolitanas: arranjos familiares e condições de vida. IN: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS DA ABEP, 11, Campinas, Anais..., Campinas, 1998. CROSS, G. Time and money: the making of consumer culture. Londres: Routledge, 1993. CUNHA, R. de A. N. As estratégias utilizadas pelos membros de famílias para influenciar o processo de compra familiar. In: ENANPAD, 28, Curitiba, Anais..., ANPAD: Curitiba, 2004. DURAN, S. Jovens moram com os pais para investir na carreira. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/opovo/brasil/619781.html.>Acesso em 10 de out. 2007 FERREIRA, A. C. A. S. O comportamento do consumidor jovem. In: Semead, 6 , Anais..., São Paulo, 2004. FICHTNER, M. Casa, roupa lavada e a comidinha da mãe. Revista Época, seção família, ed. de 27/09/04. FONSECA, C. Concepções de família e práticas de intervenção: uma contribuição antropológica. Saúde e Sociedade, v. 14, n. 2, p. 50-59, maio/ago, 2005. GIDDENS, A. Modernity and self-identity: self and society in the late modern age. Cambridge: Polity Press, 1991. HENRIQUES, C. R.; JABLONSKI, B.; CARNEIRO, T.F. A “geração canguru”: algumas questões sobre o prolongamento da convivência familiar. Revista Psisco, v. 35, 2, p. 195-205, 2004. HENRIQUES, C. R; CARNEIRO, T.F.; MAGALHÃES, A. S. Trabalho e família: o prolongamento da convivência familiar em questão. Paidéia, v.16, n.35, p.327-336, 2006. HILL, R. Family development in three generations. Cambridge, MA: Schenkman Publishing Company, Inc, 1970 LOPES, C.F. Geração Canguru. Galileu, São Paulo, n. 95, jun., p.47-48, 1999. MALHOTRA, N. Pesquisa de Marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. 720 p. MENDONÇA, M. Mordomia na casa dos pais. Revista Época, seção família, ed. de 27/09/04 PETRINI, J. C.; ALCANTÂRA. A família em mudança. Revista da UCSal, v. 2, n. 2, p.125-140, 2002 REZENDE, M. A. Sem conflito de gerações. Revista Época, seção família, ed. de 27/09/04. ROCHA, E.; BLAJBERG, C.; OUCHI, C.; BALLVÉ, F.; SOARES, J.; VELLIA, L.; LEITE, M.. Cultura e consumo: um roteiro de estudos e pesquisas. In: ENANPAD, 25, Anais..., ANPAD: Campinas, 2001. 1 CD-ROM SALES, L. M.; VASCONCELOS, M. C. A família na contemporaneidade e a mediação familiar. Disponível em: <www. conpedi.org>. Acesso em: 18 de dez. 2007 SARAIVA JUNIOR, F.I. ; TASCHNER, G.B. Construindo um modelo brasileiro de ciclo de vida familiar para segmentação de mercado. In: ENANPAD, 30, Salvador, Anais..., ANPAD: Salvador, 2006. 1 CD-ROM SANTOS, L.L.S.; PINTO, M.R. Fenomenologia, interacionismo simbólico e grounded theory: um possível arcabouço epistemológico-metodológico interpretacionista para a pesquisa em administração. In: ENANPAD, 31, Rio de Janeiro, Anais..., ANPAD: Rio de Janeiro, 2007. 1 CD-ROM
  • 17. 17 SILVA, H. C. C.; LIMA, M. A. C.; FONSECA, M. C.; MARTINS, M. C. Família mineira no final do século XX:estruturação ainda em processo. In: SEMINÁRIO SOBRE ECONOMIA BRASILEIRA, 11., 2004, Diamantina-MG. Anais... Minas Gerais, 2004. CD-ROM. SLATER, D. Cultura do consumo e modernidade. São Paulo: Nobel, 2002. SOUZA, C. Z. V. Juventude e contemporaneidade: possibilidades e limites. Ultima década, n. 20, p.47-69, 2004. STAMPFL, R. W. The consumer life cycle. Journal of Consumer Affairs, v.12, p. 209-217, 1978. STRAUBER, K. Weber e os desafios da juventude e da família contemporânea. Família, Saúde e Desenvolvimento, v.7, n.2, p.181-191, maio/ago. 2005 STRAUSS, A.; CORBIN, J. Basic of qualitative research: grounded theory, procedures and techniques. London: Sage, 1990. 270p. TOURAINE, A. Critica da Modernidade. Petrópolis:Vozes, 1994. YUNES, M. A. M.; SZYMANSKI. Entrevista reflexiva & grounded theory: estratégias metodológicas para compreensão da resiliência em famílias. Revista Interamericana de Psicologia, v. 39, n.3, 2005.