Mecanismos de construção de género na inclusão e participação digital: O caso do telem
1. Lisboa, 4 de Novembro de 2011
Sessão 2: As TIC do ponto de vista de género
Mecanismos de construção de Género na
Inclusão e Participação Digital.
O Caso do Telemóvel
Carla Ganito, Universidade Católica Portuguesa
2. Objectivos
• Compreender as questões de género
em articulação com a mobilidade ;
• Tornar visível - Igualdade de acesso
não é igualdade de uso ou de
inclusão;
• Identificar diferenças nos usos e
contextos (entre mulheres em
diferentes etapas da vida);
• Avaliar o potencial do telemóvel
como ferramenta de inclusão digital
para as mulheres
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3. Objectivos
• Realçar a família como contexto
sócio-cultural;
• Identificar as negociações que
ocorrem em redes tecno-sociais cada
vez mais complexas;
• Avançar um relato mais complexo das
práticas de género, sem reforçar
oposições binárias (homens vs.
mulheres)
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4. Dados quantitativos
• 893 inquéritos realizados em espaços
públicos de acesso à Internet e em
centros de emprego e formação
profissional
• Amostra de 441 mulheres:
– População desfavorecida – 58.3%
apresentavam baixos rendimentos;
– Baixo índice de educação formal;
– População jovem – 56.7% abaixo dos 30
anos;
– Elevado nível de desemprego.
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5. Dados Qualitativos
• 134 entrevistas semi-estruturadas a
67 pares familiares;
• Seleccionamos 82 mulheres
– Visão centrada nas mulheres (na sua
experiência e na sua voz);
– Biografia do telemóvel na trajectória de
vida das mulheres;
– A grande maioria encontrava-se em idade
activa (+ velha 90 anos);
– A maioria está ligada a serviços
indiferenciados;
– 47.6% afirmam usar regularmente a
Internet (Dessas 54.6% tem usos
diversificados)
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6. Perfis de Utilização
• Clivagem entre:
– Mulheres mais velhas com níveis de
escolaridade baixos a apresentar pouca
ou nenhuma inclusão digital
– Mulheres mais novas e com níveis
educativos mais elevados a apresentar
práticas digitais diversificadas e
regulares;
• Os avanços geracionais não resolvem
a inclusão digital das mulheres. A
análise das etapas de vida torna
visível os constrangimentos de
género.
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7. O fim do estereótipo da
incompetência tecnológica
• O telemóvel é o meio mais ubíquo entre
as mulheres inquiridas (99.5%) –
ultrapassando a televisão e o telefone
fixo;
• iPhones e Smartphones – 16.4%;
• A portabilidade e mobilidade são
valorizadas – 77.3%
• Grande autonomia – 54.1% aprenderam
a usar a Internet sozinhas;
• O telemóvel é o meio mais difícil de
abandonar – para 72.5% seria difícil
deixar de ter
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8. O fim do estereótipo da
incompetência tecnológica
• Este [telemóvel] é novo. Mas parece que já é assim um mini-computador.
Ora bem, eu já uso as mensagens, a agenda e o calendário. Ah, e o rádio, a
câmara de vídeo. Já aqui há qualquer coisa. Fotografia. Internet, não. Aqui
também tem, mas não utilizo. Cada dia encontramos uma diferença. Gosto
de descobrir, com muito medo, mas gosto. Quando tenho dúvidas,
pergunto. Eu tinha medo do rato do computador… (45 anos, 3º ciclo, toma
conta de idosos).
• Eu até já ando com o carregador, porque já não consigo viver sem ele (35
anos, ensino secundário, escriturária)
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9. A voz das mulheres
• Trajectórias de vida marcadas por
constrangimentos de género: opções de
educação, acesso à tecnologia, tempo e
espaços;
• Embora nem sempre dominem ou
compreendam a tecnologia reconhecem
o seu papel como motor de
desenvolvimento – são a porta de
entrada para o seio familiar;
• Agência no uso do telemóvel
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10. A voz das mulheres - tempo
Eu confesso que o que eu tenho não é
dificuldade, é falta de tempo. Eu falo isso sempre
para os meninos. Quando vejo que está sendo
uma coisa muito moderna, eu corro atrás para
não ficar no tempo porque você acaba parando
no tempo. Eu acho que hoje em dias as pessoas
não podem parar no tempo. Saiu uma coisa
nova, ela tem mesmo que buscar aquilo e tentar
mexer porque você só aprende mexendo. E os
filhos não têm paciência de ensinar aos pais.
Então, assim, a gente pega e de vez em quando a
gente vai e vê “como é que funciona isso?”
(42 anos, escolaridade básica, esteticista).
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11. A voz das mulheres – papel na família
Em 1990. Eu tive um tijolo e custava uma fortuna.
Quando o meu filho nasceu a minha mãe
falou, "você está sempre na rua e é bom você
ter”..., ela me deu também pensando no neto...“é
bom você estar conectada com o teu filho, com a
babysitter”, como eu não tinha família tinha que
depender muito de babysitter. Eu lembro que o
pessoal me olhava feio porque tocava o telefone
e todo mundo, tipo, "o que é isso?" Pouca gente
tinha porque era muito caro, nem todos os
lugares tinham rede, era uma coisa que
realmente estava começando
(47 anos, jornalista, ensino superior, utilizadora
assídua da internet).
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12. A voz das mulheres - Agência
Muitas vezes eu estou trabalhando e odeio estar
todo mundo tocando, tocando, tocando. Eu acho
bom você perguntar "posso te ligar?", entendeu?
Ou deixar um recado, "vou chegar tal hora", uma
coisa que não precisa ligar para falar, e eu vejo
quando eu posso. Eu acho isso bom, eu gosto
disso. Eu acho que até é educado. Mas também
não gosto de tratar de coisas pessoais por
SMS, isso eu já não acho educado. Quando você
não tem coragem de falar com uma pessoa você
usa. Eu acho que todos os meios tem que ser
usado com deve, não usar de maneira errada e
utilizar para outras coisas”
(47 anos, jornalista, ensino superior, utilizadora
assídua da internet).
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13. A voz das mulheres
• O telemóvel é particularmente
importante para as mulheres mais velhas
– Menores barreiras de acesso;
– Menos requisitos de competências;
– Percepção imediata de valor acrescentado:
falar com amigos e família; segurança;
autonomia;
• Para além da televisão o telemóvel é o
único meio tecnológico nas suas vidas;
• Usos menos diversificados;
• Ferramenta de comunicação inter-
geracional
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14. A voz das mulheres
• Através do telemóvel, principalmente para a
família porque a minha mãe e os meus avós não
mexem em computadores muito frequentemente.
Com os amigos é mais através de email,
mensagens instantâneas e por SMS.
(23 anos, estudante universitária, utilizadora
assídua da internet).
• Sei que faz imensas coisas que eu não utilizo,
estou a ficar velhinha e nunca utilizei. Sei que dá
para gravar mp3, que tira foto, dá para filmar,
essas coisas, essencialmente dá para telefonar
(42 anos, secretária, uso assíduo do computador
e da Internet).
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15. Conclusões
• O telemóvel é uma fonte de:
– Poder = Controle;
– Autonomia;
– Flexibilidade para gerir um estilo de vida complexo;
– Acrescenta valor às suas vidas (não é um gadget);
– Segurança e conforto emocional
• A importância aumenta para as mulheres que não sabem usar
um computador ou que não têm acesso facilitado;
• As experiências variam de acordo com a etapa da vida;
• O telemóvel encerra um enorme potencial para melhorar a
vida das mulheres especialmente do segmento das mais
velhas
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16. Conclusões
• O telemóvel é já parte intrínseca da vida das mulheres mas é
ainda necessário:
– Uma prática contínua de inclusão e incentivo à participação (nº
reduzido de smartphones);
– Desenvolvimento de conteúdos e serviços para além do discurso
hegemónico da dominação masculina das tecnologias (+ do que fazer
telemóveis cor-de-rosa);
– A posse não se traduz numa verdadeira participação e sentimento de
inclusão (+ interpelação dos vários segmentos femininos e
reconhecimento das diferenças)
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17. Agradeço a atenção.
PowerPoint disponível no site do
Projeto Inclusão e Participação Digital
http://digital_inclusion.up.pt
Carla Ganito, carla.ganito@ucp.pt