1. Boletim de Lutas e Resistencia do Coletivo Libertário Trinca - ano 1, nº 1, 1º de Maio de 2009
“Tudo que tranca, trinca!” contato: coletivotrinca@riseup.net / coletivotrinca.wordpress.com
Crise capitalista e fascismo nas costas dos trabalhadores
Nada temos a comemorar neste 1º de Maio
Neste primeiro de maio, nada temos a as pessoas, ao invés de culpar o sistema,
comemorar. O capitalismo, desde que procuram bodes expiatórios e se apegam
começou a automatizar em larga escala ingenuamente à “defesa da ordem” a
a produção substituindo o trabalho hu- qualquer custo.
mano, gerou uma crise sem precedentes, Enquanto isso, as centrais sindicais e
a qual mantinha sob controle através de partidos de “esquerda” estão muito mais
injeções de “bolhas de ar” de dinheiro preocupados em fazer palanque para as
fictício, que arrebentaram agora. Esta eleições do ano que vem, atacam este
crise mal começou. Para o sistema pro- ou aquele governo mas não o sistema -
longar sua existência e reerguer seus lu- porque têm interesse em gerir a máquina e
cros, os gestores necessitam intensificar ascender socialmente. Usam os sindicatos
a exploração sobre nós trabalhadores, e movimentos sociais com essa finalidade.
a repressão e o controle social. A cada Querem na verdade administrar a crise e se
dia, mais pessoas são demitidas, direitos trabalhistas e sociais alçar a postos de comando, criando aparelhos de poder e cargos
retirados, os salários rebaixados, os preços de tudo sobem e de tecnocratas. Correm a criar mais e mais centrais sindicais,
nosso trabalho é intensificado. Pessoas são despejadas como só para receber a grana do imposto sindical. Contribuem para
coisas, os pobres reprimidos, os movimentos sociais persegui- todo este processo e jogam o mesmo jogo do sistema e das
dos. Somos vigiados e controlados o tempo todo por câmeras classes dominantes. Hoje, como sempre, colocam palanques
e mecanismos tecnológicos. As pessoas se sentem apáticas e e fazem shows espetaculosos com sorteios de carros e anest-
cansadas pelo excesso de trabalho, e a cada dia a barbárie e esiando as pessoas, reproduzindo as hierarquias e nos reduz-
violência geradas pela miséria crescem. Os governos todos se indo à condição de meros espectadores passivos do espetáculo
tornaram vazios e ocos, porque as decisões são tomadas por dos profissionais da luta e especialistas em poder. Eles não nos
conselhos de empresas e tecnocratas vitalícios, quase em seg- representam, nem a ninguém!
redo. Há cada vez mais uma fachada de democracia animada
por políticos-vedetes que encenam muito bem como bons
artistas, que esconde a ditadura dos tecnocratas e empre- O que é o Coletivo Libertário Trinca?
sas – que de fato tomam as decisões e escrevem o texto do Somos um coletivo de engajamento nas lutas sociais, que fo-
espetáculo por detrás. Assim, o sistema e os loucos que o menta a formação política, ação cultural e mídias alternativas,
conduzem nos levam para a barbárie, nos sacrificando para cuja união se dá pela necessidade de reconstruir, sem atre-
salvar a “Santa Economia”. lamento a partidos políticos, governos, empresas ou cargos,
Os meios de comunicação, como porta-vozes oficiais do a luta social. Este Coletivo se formou pela constituição de
sistema, contribuem ao criar uma cortina de fumaça, usam a uma rede de solidariedade entre estudantes, bancários, pro-
fessores, artistas, etc., e se consolida como uma alternativa de
barbárie social como justificativa para legitimar a repressão
organização autônoma de nós trabalhadores. Nossos princí-
em nome da “segurança” e tentam nos aterrorizar, esconden-
pios são o classismo, anticapitalismo, a solidariedade de
do que a verdadeira causa da crise é a exploração do trabalho
classe, a defesa da auto-organização da nossa luta com auto-
e a lógica do sistema que está falido. Não mencionam que nomia e independência de classe em relação ao estado, parti-
muitas empresas se aproveitam da crise, para mandar embo- dos, empresas e instituições. Defendemos a horizontalidade
ra muitos trabalhadores sem os mínimos direitos, com o aval e democracia direta contra o burocratismo e a hierarquização
do Governo. Ao contrário, eles ocultam isso e jogam areia dentro dos movimentos sociais e sindicais, bem como a ação
em nossos olhos, usando os Datenas da vida, desviando a direta, como alternativa à via parlamentar e ao cretinismo
atenção para a novela cretina dos escândalos de corrupção eleitoreiro-institucional que só atrela os movimentos sociais
(como se esse sistema pudesse não ser corrupto) e o circo à lógica do Capital. Para conhecer melhor nosso coletivo:
dos horrores dos crimes hediondos, desencadeando uma http://coletivotrinca.wordpress.com
perigosa onda moralista e fascista de ressentimento, onde
2. Ou agimos ou estamos todos ferrados!
Reconstruir a luta social primeiro
- Como solução ao desem- profissionais da luta com seus cargos - Liberdade para o povo Palestino!
prego, redução de jornada e Fundos de Pensão, candidatos a Todo apoio aos refugiados palestinos
sem redução de salário! futuros patrões! no Brasil!
Que as máquinas sirvam - Abaixo a lógica de empresa nas es- - Coletivização e autogestão: Todo
para o que deveriam – colas! Por uma educação autogerida apoio às ocupações de terras e em-
proporcionar tempo livre, e pela comunidade escolar e desvin- presas falidas pela crise e, recursos
não desemprego! culada dos ditames do mercado de sociais para produção que satisfaçam
- Chega de aumentos de trabalho e empresas! Abaixo grades e necessidades básicas, sob controle
preços, de ônibus, de gás, ener- repressão nas escolas! coletivo dos trabalhadores.
gia! Que as empresas paguem a - Ações de apoio mútuo comunitárias - Unificação das lutas sociais em
crise, não nós! e coletivas contra a crise! datas e ações conjuntas! Construção
- Fora atrelamento sindical ao do poder popular!
- Solidariedade para com as lutas
governo, partidos políticos e dos trabalhadores de todos os países! - Pela Superação do Capitalismo e da
abaixo o imposto sindical! Abaixo xenofobias e racismos! ditadura do dinheiro, da mercadoria
- Por um sindicalismo autônomo e e das empresas - a reconstrução da
- Liberdade e asilo político para o
independente, horizontal, desburo- solidariedade de classe e um novo
escritor italiano Cesare Battisti, um
cratizado e organizado a partir dos projeto Socialista libertário, contra a
preso político no Brasil!
locais de trabalho! Fora burocratas barbárie que se alastra!
Redução da jornada, um debate escamoteado
A maior contradição do capitalismo é que este desenvolve em 3 horas diárias, e o
a tecnologia e aumenta a produtividade de forma galopante, próprio economista bur-
mas continua nos forçando a trabalhar cada vez mais, além guês Keynes pensava que
de desempregar em massa e destruir o meio ambiente. Isso no ano 2000 os trabalha-
ocorre porque a finalidade da produção não é satisfazer ne- dores ingleses estariam
cessidades humanas, mas produzir “mercadoria”, bens para trabalhando 15 horas se-
serem vendidos, e gerar mais dinheiro. Não se produz sapa- manais. Em 1968, alguns
tos, mas “valor”. Assim, a produtividade pode dobrar, e nós grupos em luta reivin-
continuamos como antes a ser forçados a trabalhar 8 horas dicavam a automação
por dia ou mais. O tempo de trabalho pago a nós trabalha- e a jornada de 10 horas
dores diminui, e aumenta o tempo não pago que fica para os semanais. O próprio
patrões como lucro maior. Albert Einstein, em um artigo, di- presidente do IPEA já
zia que o capital é uma imensa máquina de desperdício de tra- afirmou, que a produtivi-
balho. Em alguns setores, a produtividade aumentou dezenas dade do Brasil permitiria
de vezes no século XX. Na agricultura, ela aumentou mais de as 12 horas semanais de
16 vezes. No século XIX, quando os operários reivindicavam trabalho! Enquanto isso,
a jornada de 8 horas, eram chamados de preguiçosos e dizia- estamos trabalhando 40,
se que a economia dos países iria se arruinar, pois as jornadas 50, 60 horas, com 2 a 3 empregos e ganhando mal. Pois é,
iam de 12 a 18 horas – e não se arruinou com a jornada de estamos sendo enganados! Enquanto isso as centrais sindic-
8 horas. Hoje, enquanto a produtividade aumenta cada vez ais falam na mesquinharia de reduzir a jornada de 44 para 40
mais, a jornada está aumentando, além da intensidade do tra- horas - pura demagogia de quem não quer colocar em jogo o
balho e as doenças de trabalho! sistema, pois tem algo a perder. Uma sociedade emancipada
As sociedades “primitivas” tribais, sem nenhuma automação e de tempo livre permitiria o nosso livre desenvolvimento
trabalhavam apenas o necessário, indo de 2 a 4 horas diárias. como seres humanos, da arte, da cultura, e que as pessoas
Em 1890 Paul Lafargue calculava que se poderia abastecer absorvessem as tarefas de administração da produção e da
toda a França com 3 horas de trabalho diário. Na revolta de política – ou seja, o fim dos gestores, burocratas e políticos
1918, os operários alemães reivindicavam a redução para 6 profissionais. Já deu para perceber que tem gente que não se
horas diárias. Em 1920, o matemático Bertrand Russel cal- interessa mesmo por isso, porque enquanto muitos trabalham,
culava que na Inglaterra seria possível manter bom nível de uns poucos tomam as decisões e se apropriam do nosso tra-
vida, acabando com a miséria, desemprego e exploração, com balho. Chega de exploração e opressão. Chega de morte lenta
uma jornada de 4 horas diárias. Estatísticas de 1938 falavam pela imposição de trabalho. Nós reivindicamos a vida!
Em memória de Augusto Spies, Michael Schuvah, Oscar Neebe, Adolfo Fisher, Louis Lingg, Samuel Fielden, Gerge Engel, Albert Parson, os
“oito de Chicago”, operários que foram enforcados em 1887, por reivindicar a jornada de 8 horas – estão em nossa memória.