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brasileira de início dos anos 2000, no qual foram implementados programas de transferência de
renda – como o Bolsa Família. Com os dados de crescimento, dadas as condições da conjuntura
econômica internacional, pode-se atribuir uma parcela desse crescimento à expansão do mercado
interno, graças ao aumento do poder de compra das classes mais baixas. Além disso, esse consumo
interno possibilitou a rápida recuperação brasileira da crise financeira internacional de 2008.
Referências BibliogrÁficas
FURTADO, C. Desarrollo y Estancamiento en América Latina. Desarrollo Economico. Vol. VI nº
22-23. 1966.
FURTADO, C. Dialética do Desenvolvimento. - 2ª ed. - Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura,
1964.
PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Márcio Bobik. A nova contabilidade social: uma introdução à
macroeconomia. - 3. ed. rev. e atualizada. - São Paulo: Saraiva, 2007.
TAVARES, Maria da Conceição & SERRA, José (1970). Além da Estagnação. In: TAVARES, M. C. Da
Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro: Ensaios sobre Economia Brasileira. 11ª
ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983 [1972].
	
FINANCEIRIZAÇÃO DA LAVOURA
CAUÊ CHIANCA
“As portas são inúmeras, a saída é uma só, mas as possibilidades
de saída são tão numerosas quanto às portas”.
Frans Kafka
RESUMO: Esse textovisademonstraracompreensão, a partirde umaanálise territorial, da utilização
de proteção através de instrumentos financeiros na atividade rural, com intuito de apreender o uso
do território brasileiro e os novos vetores de modernização a partir da ação dos agentes hegemônicos
no campo no período técnico-científico-informacional. No sistema-mundo contemporâneo a
produção agrícola com aporte científico e tecnológico, produzido pelas grandes empresas, depende
reciprocamente, dos instrumentos financeiros como o crédito ou a negociação de contratos de
derivativosparasuaexecução. Essarelaçãodeinterdependênciaentreasesferasfinanceiraeprodutiva
revela o entrelaçamento e a simbiose das variáveis do período: a técnica, ciência e informação. Daí
parte-se em buscar compreender o modo como o produtor rural, independente do seu poder ou
influência, utiliza-se de instrumentos financeiros para tornar a lavoura rentável e, portanto, analisar
o novo uso do território por esses agentes ancorados numa relação de solidariedade organizacional
resultante da financeirização do campo e a integração da lavoura numa lógica verticalizada.
Introdução
Propõe-se aqui, a partir da Geografia e seu sistema de ideias, demonstrar como os agentes
se utilizam de instrumentos para o financiamento e proteção de preço da produção agrícola. A
atividade rural no Brasil vem se desenvolvendo tecnicamente no atual período, no qual a lavoura
conhece uma importante mudança em sua estrutura. Para Milton Santos (1985, pp. 57-58), o fato da
economia se tornar tão dependente da circulação, facilita o processo de unificação de capital. Santos
continua:
falar hoje de um capital fundiário distinto do capital mercantil, do capital industrial ou do capital
bancário (aos quais deveríamos ajuntar o capital tecnológico) pode incorrer na pecha de exagero.
Na verdade, a aceleração da circulação do capital e a terceirização da economia conduziram a que
o banco passasse a ter um papel fundamental na coleta e na redistribuição dos capitais.
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Essa circulação se dá no Sistema Financeiro Nacional que segundo Chianca e Medeiros (2010,
p.12):
é composto por agentes econômicos superavitários (com poupança disponível) e agentes econômicos
deficitários (com carência de capital), (...) e por instituições responsáveis pela captação de recursos,
distribuição e circulação de valores.
Assim, tem-se a preocupação em identificar como se dá fluxo de capitais nessa atividade
produtiva. Em face disso, procurar-se-á apreender a partir da noção de território usado, sinônimo de
espaço geográfico (SANTOS, 1996) as novas dinâmicas que comportam a relação entre a produção
agrícola e sua financeirização.
Milton Santos (1999, p. 10) nos elucida para o fato de que a permissão da instalação das técnicas
de informação, isto é, técnicas que ligam outras técnicas, autorizam a comunicação entre elas e,
desse modo, produzem sistemas. O resultado direto desse conjunto de eventos é a “universalidade
empírica” (SANTOS, 1996, p. 167), na qual todos os eventos passam a ser conhecidos no ecúmeno. O
setor financeiro atual apenas pode se realizar, pois as condições técnicas possibilitam a globalização
financeira.
Segundo Santos e Silveira (2001, pp.120-121), os estabelecimentos agrícolas que não puderam
adotar as novas possibilidades técnicas, financeiras ou organizacionais tornaram-se mais vulneráveis
às oscilações de preço, de crédito e demanda e às novas formas organizacionais do trabalho, o
que frequentemente é fatal aos empresários menores, com menor capacidade de organização, de
técnica e de capital. Esse novo arranjo do real impõe novas interpretações. A lavoura conhece uma
importante mudança em sua estrutura nas últimas décadas.
Território
Ao território não está reservado o papel passivo na produção da história. Dessa forma, o
território não pode faltar nessa análise em relação à identificação da sociedade com o seu lugar.
Tem-se a noção de que a sociedade anima o território e que o território recria a sociedade. Como
nos ensina Santos (1999, p. 7), “O território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas
as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem
plenamente se realiza a partir das manifestações de sua existência”.
A noção de espaço banal, proposta por François Perroux (apud SANTOS, 1996), afirma que a
economia produzia um espaço a partir das escolhas das empresas que elegiam pontos do território
necessários à manutenção de suas atividades. O referido autor diz ainda que o espaço banal
contemplaria todas as instâncias da vida social e não apenas os fluxos econômicos. A ideia de um
espaço banal apreende que todos os agentes são contemplados, ou seja, aqueles que mandam e
aqueles que obedecem, os ricos e os pobres, as pequenas e as grandes atividades.
Desta forma, não podemos ver as finanças circunscritas em si mesmas, mas buscar a relação
entre os diferentes atores sociais que estão imersos no espaço geográfico que se utilizam das técnicas
financeiras para permitir o desenvolvimento da atividade rural e sua respectiva hegemonia e/ou
subordinação. Seguindo a ideia de espaço banal, Milton Santos afirma que este congrega “todos
os capitais, todos os trabalhos, todas as técnicas e formas de organização” (1996, p. 258). Para este
autor, o espaço banal é o mesmo que território usado, vez que o território usado inclui todos os
atores usando o território.
Ao tomar a categoria de território usado, como um híbrido, constituído por sistemas de objetos
e sistemas de ações (SANTOS, 1996), é o intuito analisar como a dinâmica do setor financeiro através
da sua capacidade em abranger os mais diversos segmentos e estruturas da sociedade, impacta na
produção agrícola. No período da globalização existe a tendência a hiper-especialização das coisas e
das funções. A técnicaea tecnologia moderna, concentradas econtroladas pelosatores hegemônicos,
convidam a essa visão fragmentada das coisas. Uma técnica hegemônica tende a hegemonizar os
demais atores. Desse modo, a noção de técnica precisa ser considerada.
Meio Técnico
A noção de técnica, tratada por alguns autores como Jacques Ellul (1954), é apresentada como
um meio, como uma maneira de “servir-se de”, modo único que não é entregue à livre escolha porque
nada é tirado da máquina ou da organização que não se serve dela como deveria. A técnica é por si
mesma um modo de agir. Um uso. Conforme explica Ellul (1954, p. 109) “A técnica não pode ser
considerada em sí mesma, separada de suas condições de existências”.
O entendimento da técnica é central para entender os novos conteúdos do espaço geográfico.
A técnica constitui o espaço banal, assim como ela própria produz um meio (SANTOS, 1996, p. 32).
A técnica é, aqui, entendida no sentido largo do termo, ao tomá-la como um objeto (materialidade)
e como ação (vida social); ambas, objeto e ação, a constituirem o novo meio geográfico. Prossegue
Santos, ao demonstrar que o homem está com a seguinte escolha: ou usar o meio técnico como
deve ser, de acordo com as regras pela técnica imposta, ou não usar, de modo algum; entretanto
é impossível utilizá-la a não ser com as regras técnicas. Como defende Santos (1996, p. 35), não há
separação entre um meio geográfico e um meio técnico; o meio geográfico é o próprio meio técnico,
isto é, a técnica compõe o meio e o cria. “Os instrumentos de trabalho são espaço e criam espaço,
através dos sistemas de ações que os comandam e lhes impõe uma temporalidade” (SILVEIRA, 1999,
p. 25).
Santos (1996, p. 165) aduz ainda que as condições técnicas e políticas ofereceram novos suportes
à circulação do dinheiro. As finanças tornam-se global, transformando-se na principal alavanca
das atividades econômicas internacionais. “O sistema financeiro redescobre fórmulas imaginosas,
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inventa sempre novos instrumentos, multiplica o que chama de derivativos, que são formas sempre
renovadas de oferta dessa mercadoria aos especuladores1
” (SANTOS, 2000, p. 44). Em vista do
tema central deste texto, se faz relevante o entendimento de como se dão as transações nas redes
comerciais, tanto na produção e entrega das mercadorias, quanto de sua respectiva negociação em
bolsa.
DINÂMICA NA BOLSA
Na história do presente as variáveis-chave do período - técnica, ciência e informação - acabam
por criar uma nova forma de regulação da vida social e das formas de produção, resultantes da
dinâmica territorial, formando novas arquiteturas sociais e novas possibilidades de ação no espaço
geográfico. Nesse contexto, é preciso reconhecer esses novos mecanismos da estrutura da economia
que convergem a essas três variáveis e que se cristalizam na economia hegemônica. A pergunta que
se pretende responder, de forma indireta, é quem regula quem?
Os produtores dependem da formação de preços do mercado, entretanto só se formam tais
preços a partir do volume da produção, que por sua vez, depende diretamente da demanda de tais
mercadorias, que surge a partir do consumo familiar. Para clarear essa dinâmica, pode-se utilizar
fluxo circular proposto por Mankiw (2005, p.23):
Diagrama 1: Fluxo circular2
Pretendendo responder a tal indagação (quem regula quem?) é preciso reconhecer os atores.
1 Entende-se como especulador (financeiro) o investidor tomador risco que visa a rápida obtenção de lucros excepcionais de acordo
com as flutuações do mercado.
2 “Este diagrama é uma representação esquemática da organização da economia. As decisões são tomadas por famílias e empresas. As
famílias e as empresas interagem nos mercados de bens e serviços (em que as famílias são compradoras e as empresa vendedoras) e
nos mercados de fatores de produção (em que as empresas são compradoras e as famílias vendedoras). O conjunto interno representa
o fluxo de dinheiro e o conjunto interno representa o fluxo correspondente de insumos e produtos.” (MANKIW, 2005, p. 25).
No contexto financeiro podem ser identificados três perfis de negociação: 1) Hedgers 2) Especulador
3) Arbitrador. A atuação de especuladores, por meio de transações com títulos na bolsa, permite a
negociação de um volume maior de mercadorias3
nesse mercado do que é propriamente plantado
(mercado físico4
). Santos, explica que
a atividade financeira ganhou autonomia, justificando-se a si mesma e ganhando volume muitas vezes
maior que o comércio de mercadorias. Cada vez que se troca 1 dólar de mercadoria, trocam-se 40
dólares no mercado financeiro (1996, p. 166).
Quando se fala em operações dessas commodities no mercado de capitais5
, é preciso que se
entenda como se dá tal processo. No caso do produtor rural, é possível fazer a proteção da safra
do objeto de negociação (mercadoria agropecuária) vendendo um contrato com liquidação
(financeira6
ou física7
) em uma data futura a um preço determinado por ambas as partes (compradora
e vendedora do contrato apregoado).
Esse contrato ou título é denominado, também, de derivativo, que, nada são além de
instrumentos financeiros cuja cotação8
deriva do preço de mercado (ou à vista) de um bem ou
de outro instrumento financeiro. Este mecanismo de liquidação futura revela as expectativas do
mercado quanto ao valor de uma mercadoria ou de um ativo no futuro.
PERFIS DE NEGOCIAÇÃO
O primeiro perfil de negociação faz referência ao Hedge9
da mercadoria, que é atingido quando
o vendedor do contrato (o produtor) assume uma obrigação para liquidação futura. Tal obrigação só
é assumida pelo produtor, para efeito de proteção, quando este detém uma posição ativa (estoque de
mercadoria) de igual volume a ser liquidado, de forma a travar esta operação com um preço definido,
isentando o vendedor do contrato (produtor) da oneração da variação da cotação do ativo objeto10
.
3
Mercadorias, também chamadas de commodities, são ativos físicos agropecuários, minerais ou financeiros (Ouro, Moedas, Soja,
Milho, Boi, Taxas de juros).
4
Mercado físico é considerado, no meio financeiro, como a entrega da mercadoria produzida.
5
Um dos quatro mercados que compõe o mercado financeiro, é o mercado de capital, que possibilita o encontro de agentes econômicos
superavitários e deficitários com o propósito de, na distribuição de valores mobiliários, viabilizar o financiamento e capitalização dos
produtores e empresas. Os outros mercados são: (i) Monetário; (ii) Crédito; e (iii) Câmbio.
6
A liquidação financeira é feita pela diferença financeira. Utilizando-se o preço de referência, no dia do vencimento do contrato,
registra-se um venda para o comprador original e uma compra para o vendedor original. A diferença apurada é liquidada entre as
partes, sem que haja entrega física do ativo negociado.
7
A liquidação física é feita mediante a entrega física do ativo negociado, quando o negócio é liquidado.
8
Entende-se como cotação, no mercado de capitais, o preço estabelecido pelos agentes financeiros no pregão da bolsa.
9
Hedge é a expressão, utilizada no mercado financeiro, para definir proteção do preço de um ativo objeto.
10
É a mercadoria especificada no contrato registrado na Bolsa de Valores, Mercadorias & Futuros (BM&FBOVESPA).
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Fica evidente nesse processo de que existe uma contraparte na negociação tanto do contrato
futuro no mercadodecapitais (compradordocontrato), quanto no físico (compradorda mercadoria).
Nessa dinâmica, a contraparte da operação assume a obrigação de comprar a mercadoria a um preço
previamente determinado em contrato, assumindo uma posição passiva para liquidação futura. Um
produtor rural pode vender um contrato futuro que lhe assegure um preço previamente definido,
e dessa forma, saber de antemão quanto receberá pela sua safra. A contraparte da negociação sabe
antes o quanto pagará pela mercadoria na data da liquidação.
Para se obter o Hedge, o produtor deverá fazer a proteção da quantidade aproximada
do volume de mercadoria que terá disponível na data próxima à colheita. Isso, vez que na bolsa
os contratos de derivativos agropecuários são padronizados e, portanto, negociados com maior
liquidez11
. Como tais títulos são uniformes, atendem às necessidades dos participantes de mercado,
já que são intercambiáveis. A padronização do contrato varia de acordo com o objeto da negociação
(commoditie), em geral, os contratos exigem entrega de múltiplos de uma dada quantidade.
Entretanto, em funçãoda padronização (que buscar minoraroriscode liquidez12
) doscontratos,
pequenos produtores rurais acabam à margem deste mercado por não produzirem a quantidade
mínima suficiente de estoque da mercadoria para viabilizar a operação de Hedge, apesar de sofrerem
influência direta dele na questão da formação de preços.
Assim, os pequenos e médios produtores rurais acabam por não participarem dessas operações
em bolsa, em decorrência de sua marginalização imposta pela própria dinâmica do mercado de
capitais. O segundo perfil de negociação, chamado de especulador – diferente do Hedger – não
tem nenhuma atividade no mercado físico que necessite de proteção. Atua buscando ganhar
o diferencial entre os preços de compra e venda, e, por tal, esta ação especulativa, em bolsa, é
conhecida pela tomada de alto risco, visando à obtenção de rápidos ganhos, através da apregoação de
papéis transacionados no pregão. Este ator toma uma posição no mercado futuro sem uma posição
correspondente no mercado à vista ou físico13
, pois seu objetivo é operar apenas a tendência dos
preços cotados, não contribuindo, assim, para a produção da mercadoria negociada.
O terceiro perfil de negociação, de atores que se utilizam da arbitragem, tem o traço de quem
aproveita a diferença de preços de um mesmo produto (ativo) negociado em mercados diferentes.
Assim como o hedger, o arbitrador não assume risco de mercado14
. Seu objetivo é aproveitar as
discrepâncias no processo de formação de preços dos diversos ativos e mercadorias entre seus
vencimentos. A estratégia deste ator é comprar no mercado em que o preço está mais barato e vender
naquele em que o preço está mais caro, tirando proveito dessa diferença, ou da expectativa futura
11 Segundo Gregory Mankiw (2005, p. 629), “Os economistas usam o termo liquidez para descrever a facilidade com que um ativo pode
ser convertido em meio de troca da economia”.
12 Entende-se por risco de liquidez o grau de dificuldade da venda de um título. Havendo baixa liquidez poderão ocorrer vendas com
perdas no caso de necessidade de honrar pedidos de resgate.
13
A vantagem para o produtor rural em poder saber de antemão quanto receberá pela entrega de sua mercadoria, permite trabalhar
melhor sua margem de lucratividade, assim como o planejamento da lavoura, vez que o contrato lhe garante um preço em uma data
escolhida.
14
Entende-se como risco de mercado a probabilidade de perdas em virtude de oscilações em variáveis econômico-financeiras como
taxa de juros (SELIC), dólar, preço das commodities, inflação, entre outras.
dessa diferença. Assim, lucra um diferencial de compra e venda completamente imune a riscos de
mercado, por saber o valor pelo qual irá comprar e vender. Neste tipo de negociação, nota-se, assim
como no caso anterior, a não contribuição para a produção da mercadoria. Como o hedger não está
propriamente eliminando o risco de variações adversas de preços, mas transferindo esse risco para
outro participante; e o arbitrador também não assume riscos, o único participante do mercado
futuro, que assume o risco é o especulador, que entra no mercado tomando risco em busca de lucro.
A atuação do especulador, abrindo e encerrando posições a todo o momento (day trade15
), faz com
que o volume negociado na bolsa aumente, trazendo liquidez ao mercado.
Os mecanismos de proteção, aqui descritos, podem ser considerados o resultado do
desenvolvimento de novas formas econômicas: não apenas há o desenvolvimento de novas
formas de produção material, há também uma grande expansão das formas de produção não-
material: da saúde, da educação, do lazer, da informação e até mesmo das esperanças. São formas
de consumo não-material que se disseminam sobre o território (SANTOS, 1996, p. 38).
	 Essas novas formas de organização da economia reestruturam a dinâmica do território. Os
diferentes atores que participam da produção agrícola reconhecem esses novos conteúdos e passam
a utilizar desses novos instrumentos na reprodução de suas atividades. De certo modo, o mercado
de capitais passa a regular e a ser, cada vez mais, o protagonista da atividade rural.
Ao se fazer referência ao mercado de capitais, não há possibilidade de descartar o protagonismo
dos atores hegemônicos no entendimento da dinâmica da formação socioespacial brasileira. A
forma como os agentes do circuito superior (SANTOS, 1979) regulam o perfil da demanda e a oferta
de preços, assim como impõe formas de negociar e de produzir, conduz a uma racionalização do
território subordinada ao mercado financeiro.
O preço acaba por se tornar a ponta da cadeia produtiva, independente dos atores, de tal modo
que a formação de preço de mercadorias, através dos seus derivativos (resultado de um circuito
espacial produtivo, seja este qual for) acaba por ditar quem e quanto pode plantar, regula, do mesmo
modo, a propriedade da terra e sua permanência no sistema produtivo nacional, especialmente em
função de o Estado, por vezes, ser o grande mediador, ao dar crédito agrícola e criar uma agenda em
que há apoio para certos de tipos de cultura.
No entanto, partindo do entendimento de que o território é um híbrido, não se pode deixar
de considerar o pequeno e médio produtor rural e sua participação indireta no mercado de capitais.
O que parece oportuno frisar é que se acredita na regulação de preços pelos grandes, por meio do
volume da mercadorias que operam, vez que traçam o perfil da demanda, fazendo com que a ponta
mais frágil, os pequenos e médios produtores, fiquem à mercê de negociações que fogem ao seu
controle.
Contudo, de acordo com o demonstrado no Diagrama 1, a demanda desses grandes atores é
intimamente ligada do consumo familiar, a quem, de forma mais ou menos direta, os grandes atores
são dependentes.
15
Day trade é a expressão utilizada para sinalizar, no mercado de capitais, a abertura e encerramento de uma posição, no mesmo dia,
da mesma quantidade e, no caso do mercado futuro, para o mesmo vencimento.
GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade
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74 75
Referências Bibliográficas
CHIANCA, C. e MEDEIROS, E. Eficiência do Mercado Brasileiro: análise de estratégias que
permitem ao investidor obter retornos maiores que a média do mercado. São Paulo. ESPM [Trabalho
de Conclusão de Curso]. 2010.
ELLUL, J. A Técnica e o Desafio do Século. Tradução: Roland Corbisier. Rio de Janeiro: Editora Paz
e Terra, 1968.
MANKIW, N. Introdução à Economia. Tradução: Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005.
SANTOS, M. Espaço e método. São Paulo: Edusp, 5ª ed, 2008 [1985].
______, M. A Natureza do Espaço - técnica e tempo razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 2ª ed,
1997 [1996].
______, M. Modo de Produção Técnico-Científico e Diferenciação Espacial. In: Revista Território,
ano IV, n°6, jan./jun, 1999.
SANTOS, M. e SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início de século XXI. Rio de
Janeiro: Record, 6ª ed, 2004 [2001].
SILVEIRA, M. L. Um País, Uma Região - Fim de Século e Modernidades na Argentina. São
Paulo: Fapesp/Laboplan, 1999.
A URBE POUSOALEGRENSE EM PLENA
TRANSFORMAÇÃO URBANA – 1880 A 1920
CLEYTON ANTONIO DA COSTA (UNIVAS);
ALEXANDRE MACCHIONE SAES (USP)
RESUMO: O presente artigo visa conhecer a história de Pouso Alegre, localizada no sul de Minas
Gerais,percorrendoadinâmicaqueabarcaesterecortetemporal marcadopordiversastransformações
socioeconômicas. Pautado na pesquisa documental, as fontes são, principalmente, os livros de Atas
da Câmara Municipal de 1880 a 1920. Por meio destes, é feito, primeiramente, a leitura e a coleta
de informações pertinentes. Outras fontes são as obras memorialistas, que captaram a dinâmica
do espaço urbano auxiliando-nos na composição deste panorama em construção e, também, as
fotografias. Com esta pesquisa é possível compreender o discurso de urbanização presente nos
projetos da elite pouso-alegrense do período, quando a cidade se remodela com intuito de reafirmar
a valorização do espaço urbano, como aberturas e construções de novas ruas, a construção e a
inauguração da estação ferroviária (1895), o fornecimento de energia elétrica pela Empresa de Força
e Luz de Pouso Alegre (1905). Acontecimentos estes que expressam esta atenção voltada para o
mundo urbano que é palco das modificações, que expressam a transformação e modernização da
economia neste período de transição.
Introdução
	 O presente artigo visa discutir as transformações urbanas na cidade de Pouso Alegre, Sul
de Minas Gerais, na transição do século XIX para o século XX. Com o intuito de evidenciar estas
modificações no espaço urbano partindo do olhar das obras memorialistas, documentos oficiais e
dos registros iconográficos. Pouso Alegre, constituída na primeira metade do século XIX, era ainda
uma cidade que respondia ao desenvolvimento das atividades de abastecimento. Contudo, em
fins do século XIX, com a chegada da ferrovia, expansão das atividades urbanas, a dinâmica destas
transformações já respondia a novas determinações. Assim, o artigo busca avaliar tais transformações
realizadas no especo urbano, tendo um olhar mais atento por parte do grupo político local da época.
	 Na literatura clássica sobre a história econômica do Brasil, a dinâmica do Sul de Minas na
primeira metade do século XIX foi caracterizada da seguinte forma:

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Financiamento da lavoura brasileira

  • 1. GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino 66 67 brasileira de início dos anos 2000, no qual foram implementados programas de transferência de renda – como o Bolsa Família. Com os dados de crescimento, dadas as condições da conjuntura econômica internacional, pode-se atribuir uma parcela desse crescimento à expansão do mercado interno, graças ao aumento do poder de compra das classes mais baixas. Além disso, esse consumo interno possibilitou a rápida recuperação brasileira da crise financeira internacional de 2008. Referências BibliogrÁficas FURTADO, C. Desarrollo y Estancamiento en América Latina. Desarrollo Economico. Vol. VI nº 22-23. 1966. FURTADO, C. Dialética do Desenvolvimento. - 2ª ed. - Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1964. PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Márcio Bobik. A nova contabilidade social: uma introdução à macroeconomia. - 3. ed. rev. e atualizada. - São Paulo: Saraiva, 2007. TAVARES, Maria da Conceição & SERRA, José (1970). Além da Estagnação. In: TAVARES, M. C. Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro: Ensaios sobre Economia Brasileira. 11ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983 [1972]. FINANCEIRIZAÇÃO DA LAVOURA CAUÊ CHIANCA “As portas são inúmeras, a saída é uma só, mas as possibilidades de saída são tão numerosas quanto às portas”. Frans Kafka RESUMO: Esse textovisademonstraracompreensão, a partirde umaanálise territorial, da utilização de proteção através de instrumentos financeiros na atividade rural, com intuito de apreender o uso do território brasileiro e os novos vetores de modernização a partir da ação dos agentes hegemônicos no campo no período técnico-científico-informacional. No sistema-mundo contemporâneo a produção agrícola com aporte científico e tecnológico, produzido pelas grandes empresas, depende reciprocamente, dos instrumentos financeiros como o crédito ou a negociação de contratos de derivativosparasuaexecução. Essarelaçãodeinterdependênciaentreasesferasfinanceiraeprodutiva revela o entrelaçamento e a simbiose das variáveis do período: a técnica, ciência e informação. Daí parte-se em buscar compreender o modo como o produtor rural, independente do seu poder ou influência, utiliza-se de instrumentos financeiros para tornar a lavoura rentável e, portanto, analisar o novo uso do território por esses agentes ancorados numa relação de solidariedade organizacional resultante da financeirização do campo e a integração da lavoura numa lógica verticalizada. Introdução Propõe-se aqui, a partir da Geografia e seu sistema de ideias, demonstrar como os agentes se utilizam de instrumentos para o financiamento e proteção de preço da produção agrícola. A atividade rural no Brasil vem se desenvolvendo tecnicamente no atual período, no qual a lavoura conhece uma importante mudança em sua estrutura. Para Milton Santos (1985, pp. 57-58), o fato da economia se tornar tão dependente da circulação, facilita o processo de unificação de capital. Santos continua: falar hoje de um capital fundiário distinto do capital mercantil, do capital industrial ou do capital bancário (aos quais deveríamos ajuntar o capital tecnológico) pode incorrer na pecha de exagero. Na verdade, a aceleração da circulação do capital e a terceirização da economia conduziram a que o banco passasse a ter um papel fundamental na coleta e na redistribuição dos capitais.
  • 2. GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino 68 69 Essa circulação se dá no Sistema Financeiro Nacional que segundo Chianca e Medeiros (2010, p.12): é composto por agentes econômicos superavitários (com poupança disponível) e agentes econômicos deficitários (com carência de capital), (...) e por instituições responsáveis pela captação de recursos, distribuição e circulação de valores. Assim, tem-se a preocupação em identificar como se dá fluxo de capitais nessa atividade produtiva. Em face disso, procurar-se-á apreender a partir da noção de território usado, sinônimo de espaço geográfico (SANTOS, 1996) as novas dinâmicas que comportam a relação entre a produção agrícola e sua financeirização. Milton Santos (1999, p. 10) nos elucida para o fato de que a permissão da instalação das técnicas de informação, isto é, técnicas que ligam outras técnicas, autorizam a comunicação entre elas e, desse modo, produzem sistemas. O resultado direto desse conjunto de eventos é a “universalidade empírica” (SANTOS, 1996, p. 167), na qual todos os eventos passam a ser conhecidos no ecúmeno. O setor financeiro atual apenas pode se realizar, pois as condições técnicas possibilitam a globalização financeira. Segundo Santos e Silveira (2001, pp.120-121), os estabelecimentos agrícolas que não puderam adotar as novas possibilidades técnicas, financeiras ou organizacionais tornaram-se mais vulneráveis às oscilações de preço, de crédito e demanda e às novas formas organizacionais do trabalho, o que frequentemente é fatal aos empresários menores, com menor capacidade de organização, de técnica e de capital. Esse novo arranjo do real impõe novas interpretações. A lavoura conhece uma importante mudança em sua estrutura nas últimas décadas. Território Ao território não está reservado o papel passivo na produção da história. Dessa forma, o território não pode faltar nessa análise em relação à identificação da sociedade com o seu lugar. Tem-se a noção de que a sociedade anima o território e que o território recria a sociedade. Como nos ensina Santos (1999, p. 7), “O território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se realiza a partir das manifestações de sua existência”. A noção de espaço banal, proposta por François Perroux (apud SANTOS, 1996), afirma que a economia produzia um espaço a partir das escolhas das empresas que elegiam pontos do território necessários à manutenção de suas atividades. O referido autor diz ainda que o espaço banal contemplaria todas as instâncias da vida social e não apenas os fluxos econômicos. A ideia de um espaço banal apreende que todos os agentes são contemplados, ou seja, aqueles que mandam e aqueles que obedecem, os ricos e os pobres, as pequenas e as grandes atividades. Desta forma, não podemos ver as finanças circunscritas em si mesmas, mas buscar a relação entre os diferentes atores sociais que estão imersos no espaço geográfico que se utilizam das técnicas financeiras para permitir o desenvolvimento da atividade rural e sua respectiva hegemonia e/ou subordinação. Seguindo a ideia de espaço banal, Milton Santos afirma que este congrega “todos os capitais, todos os trabalhos, todas as técnicas e formas de organização” (1996, p. 258). Para este autor, o espaço banal é o mesmo que território usado, vez que o território usado inclui todos os atores usando o território. Ao tomar a categoria de território usado, como um híbrido, constituído por sistemas de objetos e sistemas de ações (SANTOS, 1996), é o intuito analisar como a dinâmica do setor financeiro através da sua capacidade em abranger os mais diversos segmentos e estruturas da sociedade, impacta na produção agrícola. No período da globalização existe a tendência a hiper-especialização das coisas e das funções. A técnicaea tecnologia moderna, concentradas econtroladas pelosatores hegemônicos, convidam a essa visão fragmentada das coisas. Uma técnica hegemônica tende a hegemonizar os demais atores. Desse modo, a noção de técnica precisa ser considerada. Meio Técnico A noção de técnica, tratada por alguns autores como Jacques Ellul (1954), é apresentada como um meio, como uma maneira de “servir-se de”, modo único que não é entregue à livre escolha porque nada é tirado da máquina ou da organização que não se serve dela como deveria. A técnica é por si mesma um modo de agir. Um uso. Conforme explica Ellul (1954, p. 109) “A técnica não pode ser considerada em sí mesma, separada de suas condições de existências”. O entendimento da técnica é central para entender os novos conteúdos do espaço geográfico. A técnica constitui o espaço banal, assim como ela própria produz um meio (SANTOS, 1996, p. 32). A técnica é, aqui, entendida no sentido largo do termo, ao tomá-la como um objeto (materialidade) e como ação (vida social); ambas, objeto e ação, a constituirem o novo meio geográfico. Prossegue Santos, ao demonstrar que o homem está com a seguinte escolha: ou usar o meio técnico como deve ser, de acordo com as regras pela técnica imposta, ou não usar, de modo algum; entretanto é impossível utilizá-la a não ser com as regras técnicas. Como defende Santos (1996, p. 35), não há separação entre um meio geográfico e um meio técnico; o meio geográfico é o próprio meio técnico, isto é, a técnica compõe o meio e o cria. “Os instrumentos de trabalho são espaço e criam espaço, através dos sistemas de ações que os comandam e lhes impõe uma temporalidade” (SILVEIRA, 1999, p. 25). Santos (1996, p. 165) aduz ainda que as condições técnicas e políticas ofereceram novos suportes à circulação do dinheiro. As finanças tornam-se global, transformando-se na principal alavanca das atividades econômicas internacionais. “O sistema financeiro redescobre fórmulas imaginosas,
  • 3. GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino 70 71 inventa sempre novos instrumentos, multiplica o que chama de derivativos, que são formas sempre renovadas de oferta dessa mercadoria aos especuladores1 ” (SANTOS, 2000, p. 44). Em vista do tema central deste texto, se faz relevante o entendimento de como se dão as transações nas redes comerciais, tanto na produção e entrega das mercadorias, quanto de sua respectiva negociação em bolsa. DINÂMICA NA BOLSA Na história do presente as variáveis-chave do período - técnica, ciência e informação - acabam por criar uma nova forma de regulação da vida social e das formas de produção, resultantes da dinâmica territorial, formando novas arquiteturas sociais e novas possibilidades de ação no espaço geográfico. Nesse contexto, é preciso reconhecer esses novos mecanismos da estrutura da economia que convergem a essas três variáveis e que se cristalizam na economia hegemônica. A pergunta que se pretende responder, de forma indireta, é quem regula quem? Os produtores dependem da formação de preços do mercado, entretanto só se formam tais preços a partir do volume da produção, que por sua vez, depende diretamente da demanda de tais mercadorias, que surge a partir do consumo familiar. Para clarear essa dinâmica, pode-se utilizar fluxo circular proposto por Mankiw (2005, p.23): Diagrama 1: Fluxo circular2 Pretendendo responder a tal indagação (quem regula quem?) é preciso reconhecer os atores. 1 Entende-se como especulador (financeiro) o investidor tomador risco que visa a rápida obtenção de lucros excepcionais de acordo com as flutuações do mercado. 2 “Este diagrama é uma representação esquemática da organização da economia. As decisões são tomadas por famílias e empresas. As famílias e as empresas interagem nos mercados de bens e serviços (em que as famílias são compradoras e as empresa vendedoras) e nos mercados de fatores de produção (em que as empresas são compradoras e as famílias vendedoras). O conjunto interno representa o fluxo de dinheiro e o conjunto interno representa o fluxo correspondente de insumos e produtos.” (MANKIW, 2005, p. 25). No contexto financeiro podem ser identificados três perfis de negociação: 1) Hedgers 2) Especulador 3) Arbitrador. A atuação de especuladores, por meio de transações com títulos na bolsa, permite a negociação de um volume maior de mercadorias3 nesse mercado do que é propriamente plantado (mercado físico4 ). Santos, explica que a atividade financeira ganhou autonomia, justificando-se a si mesma e ganhando volume muitas vezes maior que o comércio de mercadorias. Cada vez que se troca 1 dólar de mercadoria, trocam-se 40 dólares no mercado financeiro (1996, p. 166). Quando se fala em operações dessas commodities no mercado de capitais5 , é preciso que se entenda como se dá tal processo. No caso do produtor rural, é possível fazer a proteção da safra do objeto de negociação (mercadoria agropecuária) vendendo um contrato com liquidação (financeira6 ou física7 ) em uma data futura a um preço determinado por ambas as partes (compradora e vendedora do contrato apregoado). Esse contrato ou título é denominado, também, de derivativo, que, nada são além de instrumentos financeiros cuja cotação8 deriva do preço de mercado (ou à vista) de um bem ou de outro instrumento financeiro. Este mecanismo de liquidação futura revela as expectativas do mercado quanto ao valor de uma mercadoria ou de um ativo no futuro. PERFIS DE NEGOCIAÇÃO O primeiro perfil de negociação faz referência ao Hedge9 da mercadoria, que é atingido quando o vendedor do contrato (o produtor) assume uma obrigação para liquidação futura. Tal obrigação só é assumida pelo produtor, para efeito de proteção, quando este detém uma posição ativa (estoque de mercadoria) de igual volume a ser liquidado, de forma a travar esta operação com um preço definido, isentando o vendedor do contrato (produtor) da oneração da variação da cotação do ativo objeto10 . 3 Mercadorias, também chamadas de commodities, são ativos físicos agropecuários, minerais ou financeiros (Ouro, Moedas, Soja, Milho, Boi, Taxas de juros). 4 Mercado físico é considerado, no meio financeiro, como a entrega da mercadoria produzida. 5 Um dos quatro mercados que compõe o mercado financeiro, é o mercado de capital, que possibilita o encontro de agentes econômicos superavitários e deficitários com o propósito de, na distribuição de valores mobiliários, viabilizar o financiamento e capitalização dos produtores e empresas. Os outros mercados são: (i) Monetário; (ii) Crédito; e (iii) Câmbio. 6 A liquidação financeira é feita pela diferença financeira. Utilizando-se o preço de referência, no dia do vencimento do contrato, registra-se um venda para o comprador original e uma compra para o vendedor original. A diferença apurada é liquidada entre as partes, sem que haja entrega física do ativo negociado. 7 A liquidação física é feita mediante a entrega física do ativo negociado, quando o negócio é liquidado. 8 Entende-se como cotação, no mercado de capitais, o preço estabelecido pelos agentes financeiros no pregão da bolsa. 9 Hedge é a expressão, utilizada no mercado financeiro, para definir proteção do preço de um ativo objeto. 10 É a mercadoria especificada no contrato registrado na Bolsa de Valores, Mercadorias & Futuros (BM&FBOVESPA).
  • 4. GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino 72 73 Fica evidente nesse processo de que existe uma contraparte na negociação tanto do contrato futuro no mercadodecapitais (compradordocontrato), quanto no físico (compradorda mercadoria). Nessa dinâmica, a contraparte da operação assume a obrigação de comprar a mercadoria a um preço previamente determinado em contrato, assumindo uma posição passiva para liquidação futura. Um produtor rural pode vender um contrato futuro que lhe assegure um preço previamente definido, e dessa forma, saber de antemão quanto receberá pela sua safra. A contraparte da negociação sabe antes o quanto pagará pela mercadoria na data da liquidação. Para se obter o Hedge, o produtor deverá fazer a proteção da quantidade aproximada do volume de mercadoria que terá disponível na data próxima à colheita. Isso, vez que na bolsa os contratos de derivativos agropecuários são padronizados e, portanto, negociados com maior liquidez11 . Como tais títulos são uniformes, atendem às necessidades dos participantes de mercado, já que são intercambiáveis. A padronização do contrato varia de acordo com o objeto da negociação (commoditie), em geral, os contratos exigem entrega de múltiplos de uma dada quantidade. Entretanto, em funçãoda padronização (que buscar minoraroriscode liquidez12 ) doscontratos, pequenos produtores rurais acabam à margem deste mercado por não produzirem a quantidade mínima suficiente de estoque da mercadoria para viabilizar a operação de Hedge, apesar de sofrerem influência direta dele na questão da formação de preços. Assim, os pequenos e médios produtores rurais acabam por não participarem dessas operações em bolsa, em decorrência de sua marginalização imposta pela própria dinâmica do mercado de capitais. O segundo perfil de negociação, chamado de especulador – diferente do Hedger – não tem nenhuma atividade no mercado físico que necessite de proteção. Atua buscando ganhar o diferencial entre os preços de compra e venda, e, por tal, esta ação especulativa, em bolsa, é conhecida pela tomada de alto risco, visando à obtenção de rápidos ganhos, através da apregoação de papéis transacionados no pregão. Este ator toma uma posição no mercado futuro sem uma posição correspondente no mercado à vista ou físico13 , pois seu objetivo é operar apenas a tendência dos preços cotados, não contribuindo, assim, para a produção da mercadoria negociada. O terceiro perfil de negociação, de atores que se utilizam da arbitragem, tem o traço de quem aproveita a diferença de preços de um mesmo produto (ativo) negociado em mercados diferentes. Assim como o hedger, o arbitrador não assume risco de mercado14 . Seu objetivo é aproveitar as discrepâncias no processo de formação de preços dos diversos ativos e mercadorias entre seus vencimentos. A estratégia deste ator é comprar no mercado em que o preço está mais barato e vender naquele em que o preço está mais caro, tirando proveito dessa diferença, ou da expectativa futura 11 Segundo Gregory Mankiw (2005, p. 629), “Os economistas usam o termo liquidez para descrever a facilidade com que um ativo pode ser convertido em meio de troca da economia”. 12 Entende-se por risco de liquidez o grau de dificuldade da venda de um título. Havendo baixa liquidez poderão ocorrer vendas com perdas no caso de necessidade de honrar pedidos de resgate. 13 A vantagem para o produtor rural em poder saber de antemão quanto receberá pela entrega de sua mercadoria, permite trabalhar melhor sua margem de lucratividade, assim como o planejamento da lavoura, vez que o contrato lhe garante um preço em uma data escolhida. 14 Entende-se como risco de mercado a probabilidade de perdas em virtude de oscilações em variáveis econômico-financeiras como taxa de juros (SELIC), dólar, preço das commodities, inflação, entre outras. dessa diferença. Assim, lucra um diferencial de compra e venda completamente imune a riscos de mercado, por saber o valor pelo qual irá comprar e vender. Neste tipo de negociação, nota-se, assim como no caso anterior, a não contribuição para a produção da mercadoria. Como o hedger não está propriamente eliminando o risco de variações adversas de preços, mas transferindo esse risco para outro participante; e o arbitrador também não assume riscos, o único participante do mercado futuro, que assume o risco é o especulador, que entra no mercado tomando risco em busca de lucro. A atuação do especulador, abrindo e encerrando posições a todo o momento (day trade15 ), faz com que o volume negociado na bolsa aumente, trazendo liquidez ao mercado. Os mecanismos de proteção, aqui descritos, podem ser considerados o resultado do desenvolvimento de novas formas econômicas: não apenas há o desenvolvimento de novas formas de produção material, há também uma grande expansão das formas de produção não- material: da saúde, da educação, do lazer, da informação e até mesmo das esperanças. São formas de consumo não-material que se disseminam sobre o território (SANTOS, 1996, p. 38). Essas novas formas de organização da economia reestruturam a dinâmica do território. Os diferentes atores que participam da produção agrícola reconhecem esses novos conteúdos e passam a utilizar desses novos instrumentos na reprodução de suas atividades. De certo modo, o mercado de capitais passa a regular e a ser, cada vez mais, o protagonista da atividade rural. Ao se fazer referência ao mercado de capitais, não há possibilidade de descartar o protagonismo dos atores hegemônicos no entendimento da dinâmica da formação socioespacial brasileira. A forma como os agentes do circuito superior (SANTOS, 1979) regulam o perfil da demanda e a oferta de preços, assim como impõe formas de negociar e de produzir, conduz a uma racionalização do território subordinada ao mercado financeiro. O preço acaba por se tornar a ponta da cadeia produtiva, independente dos atores, de tal modo que a formação de preço de mercadorias, através dos seus derivativos (resultado de um circuito espacial produtivo, seja este qual for) acaba por ditar quem e quanto pode plantar, regula, do mesmo modo, a propriedade da terra e sua permanência no sistema produtivo nacional, especialmente em função de o Estado, por vezes, ser o grande mediador, ao dar crédito agrícola e criar uma agenda em que há apoio para certos de tipos de cultura. No entanto, partindo do entendimento de que o território é um híbrido, não se pode deixar de considerar o pequeno e médio produtor rural e sua participação indireta no mercado de capitais. O que parece oportuno frisar é que se acredita na regulação de preços pelos grandes, por meio do volume da mercadorias que operam, vez que traçam o perfil da demanda, fazendo com que a ponta mais frágil, os pequenos e médios produtores, fiquem à mercê de negociações que fogem ao seu controle. Contudo, de acordo com o demonstrado no Diagrama 1, a demanda desses grandes atores é intimamente ligada do consumo familiar, a quem, de forma mais ou menos direta, os grandes atores são dependentes. 15 Day trade é a expressão utilizada para sinalizar, no mercado de capitais, a abertura e encerramento de uma posição, no mesmo dia, da mesma quantidade e, no caso do mercado futuro, para o mesmo vencimento.
  • 5. GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade GT Populações,Espaços, Economia e Territorialidade I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino I Simpósio de Espaço, Sociabilidade e Ensino 74 75 Referências Bibliográficas CHIANCA, C. e MEDEIROS, E. Eficiência do Mercado Brasileiro: análise de estratégias que permitem ao investidor obter retornos maiores que a média do mercado. São Paulo. ESPM [Trabalho de Conclusão de Curso]. 2010. ELLUL, J. A Técnica e o Desafio do Século. Tradução: Roland Corbisier. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1968. MANKIW, N. Introdução à Economia. Tradução: Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. SANTOS, M. Espaço e método. São Paulo: Edusp, 5ª ed, 2008 [1985]. ______, M. A Natureza do Espaço - técnica e tempo razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 2ª ed, 1997 [1996]. ______, M. Modo de Produção Técnico-Científico e Diferenciação Espacial. In: Revista Território, ano IV, n°6, jan./jun, 1999. SANTOS, M. e SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início de século XXI. Rio de Janeiro: Record, 6ª ed, 2004 [2001]. SILVEIRA, M. L. Um País, Uma Região - Fim de Século e Modernidades na Argentina. São Paulo: Fapesp/Laboplan, 1999. A URBE POUSOALEGRENSE EM PLENA TRANSFORMAÇÃO URBANA – 1880 A 1920 CLEYTON ANTONIO DA COSTA (UNIVAS); ALEXANDRE MACCHIONE SAES (USP) RESUMO: O presente artigo visa conhecer a história de Pouso Alegre, localizada no sul de Minas Gerais,percorrendoadinâmicaqueabarcaesterecortetemporal marcadopordiversastransformações socioeconômicas. Pautado na pesquisa documental, as fontes são, principalmente, os livros de Atas da Câmara Municipal de 1880 a 1920. Por meio destes, é feito, primeiramente, a leitura e a coleta de informações pertinentes. Outras fontes são as obras memorialistas, que captaram a dinâmica do espaço urbano auxiliando-nos na composição deste panorama em construção e, também, as fotografias. Com esta pesquisa é possível compreender o discurso de urbanização presente nos projetos da elite pouso-alegrense do período, quando a cidade se remodela com intuito de reafirmar a valorização do espaço urbano, como aberturas e construções de novas ruas, a construção e a inauguração da estação ferroviária (1895), o fornecimento de energia elétrica pela Empresa de Força e Luz de Pouso Alegre (1905). Acontecimentos estes que expressam esta atenção voltada para o mundo urbano que é palco das modificações, que expressam a transformação e modernização da economia neste período de transição. Introdução O presente artigo visa discutir as transformações urbanas na cidade de Pouso Alegre, Sul de Minas Gerais, na transição do século XIX para o século XX. Com o intuito de evidenciar estas modificações no espaço urbano partindo do olhar das obras memorialistas, documentos oficiais e dos registros iconográficos. Pouso Alegre, constituída na primeira metade do século XIX, era ainda uma cidade que respondia ao desenvolvimento das atividades de abastecimento. Contudo, em fins do século XIX, com a chegada da ferrovia, expansão das atividades urbanas, a dinâmica destas transformações já respondia a novas determinações. Assim, o artigo busca avaliar tais transformações realizadas no especo urbano, tendo um olhar mais atento por parte do grupo político local da época. Na literatura clássica sobre a história econômica do Brasil, a dinâmica do Sul de Minas na primeira metade do século XIX foi caracterizada da seguinte forma: