O documento apresenta um estudo sobre o uso da Biodanza como instrumento para o desenvolvimento saudável de crianças. Discute a obra do criador da Biodanza, Rolando Toro, e teorias de cientistas sobre o desenvolvimento infantil. A pesquisa foi realizada com um grupo de 7 crianças entre 7-12 anos, e conclui que a Biodanza pode contribuir para a integração afetiva, expressão da criatividade e autonomia das crianças, além de promover sua saúde física e emocional.

1. MONOGRAFIA APRESENTADA A ASSOSSIAÇÃO
ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO
DO RIO DE JANEIRO E APROVADA PELA
COMISSÃO JULGADORA FORMADA
PELOS DIDATAS
______________________
Kátia Maria Thereza Alves da Silva
Facilitadora Didata International
Biocentric Foundation - Reg RJ 9722
Orientadora
______________________
Eliana Almeida
Facilitadora Didata International
Biocentric Foundation - Reg RJ 9717
______________________
Gladys Trindade de Araújo
Facilitadora Didata International
Biocentric Foundation - Reg RJ 9719
Visto e permitido a impressão.
Rio de Janeiro, 10 de dezembro 2004.
______________________
Antônio José Sarpe
Diretor da Associação Escola
de Biodanza do Rio de Janeiro
International Biocentric Foundation
Reg nº 8515

2. À minha mãe Marisa Tavares,
ao meu pai Atenolindo Tavares,
e a todos os Mestres e Educadores
que de alguma forma me ajudaram nessa vitória

3. Aos meus alunos,
Beatriz, Brenda, Eduardo, Juliany, Letícia, Lucas e Rafael,
pela grande oportunidade de aprender com emoção e afetividade
a Biodanza que existe dentro de cada um de vocês.
Aos meus pais, Marisa e Tavares, meu irmão Paulo Sérgio,
e meus avós Hermes e Judith, pelo amor, proteção e carinho. À minha mãe muito agradeço seu
incentivo e a sua grande colaboração carinhosa e afetiva na confecção e montagem dessa
monografia e do início do meu trabalho com biodanza.
Aos meus afilhados Isadora Tavares e Nathan por estarem vivos com saúde.
Aos meus terapeutas Celina e Paulo Botelho e amigos do grupo de terapia, Geraldo Majela,
Claudia Barbero, Ana Lourdes, Marcio e Mariana que tanto investiram e incentivaram apostando
em mim e na minha saúde, acompanharam esse caminho com apoio, afeto e continente.
À Orientadora, Supervisora e facilitadora Kátia Alves que me conheceu aos 17 anos e hoje pode
aplaudir mais uma história.
A Gladys Trindade pela atenção afetiva.
A todos os meus amigos, perto e distantes que fazem parte da minha vida, da minha história e que
de alguma forma estão junto comigo nessa trilha da Biodanza acreditando em mim, no meu
trabalho, no que sou, no que penso, no que sinto e no que faço.

4. Apresentação
A Biodanza é um sistema no qual os movimentos e as cerimônias de encontro
acompanhado de música e canto induzem vivências capazes de modificar o organismo e a
existência humana em diversos níveis: imunológico, homeostático, afetivo-motor e
existencial.
As vivências fazem parte da metodologia feita por Rolando Toro, o criador da
Biodanza.
As Vivências são divididas em 5 linhas segundo o modelo teórico, e escolhidas
de acordo com a coerência metodológica do que o grupo apresenta de dados para serem
priorizados e trabalhados dentro do Sistema Biodanza.
A Biodanza com criança trabalha como profilaxia das neuroses e manutenção
da saúde.
Através de aulas com uma metodologia específica elaborada pelo criador
(Rolando Toro), a biodanza desenvolve os potenciais da criança para atingir maiores níveis
de integração da sua identidade.
A criança é convidada a fazer movimentos lúdicos, criativos, afetivos e de
integração com o grupo e com ela mesma, facilitando assim o contato com seu próprio eu e
com a vivência em grupo.
As aulas são regulares mantendo um processo progressivo de crescimento e
desenvolvimento.
Crianças que demonstram hiperatividade começam regular seu ritmo orgânico e
fluir em seus movimentos, assim como as que demonstram movimentos mais lentos.
Biodanza é um sistema de integração afetiva, renovação orgânica e
reaprendizagem das funções originárias de vida.
O prefixo ―Bio‖ deriva do termo Bios que significa vida. A palavra ―Dança‖ na
concepção Francesa significa movimento integrado, pleno de sentido. A atmosfera,
segundo Toro, estava formada: ―Biodanza, dança da vida‖.
Compreender Biodanza somente cognitivamente, é impossível. Somente
vivenciando-a, podemos abarcar seu verdadeiro significado.
A Biodanza é um sistema de desenvolvimento humano, voltado para expressão
e fortalecimento da identidade, ponto de partida e base das noções que construímos acerca
de nós mesmos.

5. Mediante exercícios semi-estruturados, integrados à música e à presença do
outro, realizados em um contexto de integração grupal, são possibilitadas vivências que,
pouco a pouco, expressam, com maior intensidade e totalidade, o instante vivido, de um
mundo vivido ―(Dilthey, 1978).
A Biodanza, como sistema de conhecimento, vem de uma profunda meditação
(percepção ampliada) a respeito da vida e do estudo das Ciências Naturais e Humanas, além
da filosofia, da Arte e da Tradição, criada por RolandoToro.
O trabalho de Biodanza utiliza músicas selecionadas que desencadeiam
movimentos de acordo com a proposta da aula.
A Biodanza é um sistema onde o cuidado é com o Ser na sua totalidade, com a
verdade, o bem e a beleza e seu desenvolvimento interior.
O estudo está estruturado em 2 capítulos:
O primeiro capítulo fala da Obra de Rolando Toro, o criador da Biodanza.
No segundo capítulo, estão outros cientistas que pesquisaram o mundo infantil com os
quais se faz um paralelo com a teoria de Rolando Toro.

6. RESUMO
O estudo objetivou demonstrar que a Biodanza pode ser usada como
instrumento para o desenvolvimento e manutenção da saúde afetiva e orgânica nas crianças.
A pesquisa utilizada foi do tipo explicativo onde se justificam os motivos que
esclarecem as razões pelas quais a Biodanza pode contribuir para uma vida saudável e feliz
no público infantil.
A conclusão se refere aos efeitos orgânicos e psicológicos da Biodanza
objetivado no grupo motivo da pesquisa

7. ABSTRACT
The goal of this study is demonstrate that Biodanza can be use as an instrument
to develop e maintain the emotional and organic health of children.
The research we used was a kind of explanation where we justify the reason
that can make clear why Biodanza can help to a health life in children.
The conclusion makes reference to psychological and organic effests of Biodanza in the
group that motivated the research.

8. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO - O PROBLEMA ................................................................ 01
Objetivos ..................................................................................... 03
Delimitação do estudo .............................................................. 03
Relevância do estudo ............................................................... 03
CAPÍTULO I
A OBRA DE ROLANDO TORO..................................................................04
Modelo teórico ..........................................................................04
Nomenclatura ............................................................................06
CAPÍTULO II
CECILIA LUZZI.............................................................................................08
CAPÍTULO III
A CONTRIBUIÇÃO DOS CIENTISTAS SOCIAIS ...................................09
Jean Piaget ................................................................................09
Renée A. Spitz ............................................................................10
Eric Berne ...................................................................................11
Julian de Ajuriaguerra .................................................................13
Wallon ..........................................................................................14
Donald Winnicott ........................................................................15
CAPÍTULO III
METODOLOGIA ............................................................................................16
CONCLUSÃO ...............................................................................................17
Efeitos orgânicos e psicológicos da Biodanza no grupo da
pesquisa.......... .....................................................................16
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................21
ANEXOS ........................................................................................................22
A- Quadro das Protovivências..............................................22
B- Desenhos dos alunos......................................................23

9. Introdução - O Problema
Conhecendo a criança em sua totalidade; nas suas predisposições peculiares e
originais, podemos colaborar no seu desenvolvimento psicobiológico e assim proporcionar
uma aprendizagem saudável.
Inúmeros fatores sociais, como: deficientes condições de experiência motora e
psicomotora, condições de privação sensorial, a inexistência de experiência lúdica,
desajustamentos emocionais, envolvimento simbólico pobre, reduzida interação lingüística
com o adulto, inadequado envolvimento afetivo, etc., podem impedir o desenvolvimento da
criança e originar problemas de inadaptação social que começa sofisticar-se, a partir da
entrada na escola. Percebo, que a Biodanza a partir daí, inicia a sua utilidade no exercício
para continuidade do desenvolvimento biopsicosocial.
Este planeta é o lugar de brincar da criança, e nada, nem os valores dos adultos,
nem os (pré) conceitos existentes de ―crescimento‖ da nossa cultura social, deveria
interferir em seus assuntos lúdicos.
Deste modo a criança é um geniozinho feliz, capaz de aprender qualquer coisa,
e até mesmo desenvolver as chamadas capacidades psíquicas, como o superdotado e os que
expressam suas habilidades sensoriais, tais como clarividência, clariaudiência, etc. que são
considerados quase sempre como anomalia rara.
Tradicionalmente, começamos bem cedo a impedir o maravilhoso plano da
Natureza, pois até o ato de nascer é artificializado. Redirecionamos para as crianças, os
nossos medos, impedimentos e patologia. As crianças não tem saída, são obrigadas a seguir
o padrão que os adultos lhes impõe, com seus conceitos e pré-conceitos. A evolução natural
fica inteiramente prejudicada.
A Biodanza mostra um caminho para a recuperação e resgate da extraordinária
capacidade da inteligência criativa e afetiva, estruturada no ser humano geneticamente. É
um desafio a quase todas as noções que temos quanto à educação das crianças. Faz
reconsiderar a nós próprios, no crescente movimento que evidencia o nosso sonho de
alcançar nossa capacidade total.
Quando redescobrimos o plano da Natureza, o Princípio Biocêntrico da
Biodanza que demonstra a sacralidade da vida, os ecofatores, a vitalidade, criatividade,
afetividade, sexualidade e transcendência, linhas que se baseia a Biodanza, vemos que é
possível atingir a saúde plena do indivíduo, (corpo, mente e espírito), numa visão
profilática começando na infância, (que é a proposta da Biodanza com criança), colocando
em questão um plano biológico para o desenvolvimento da inteligência afetiva descoberta
pelo criador, Rolando Toro.
Um código genético que nos pertence e que ignoramos, danificamos ou destruímos.

10. Nosso cérebro é capaz de executar atos surpreendentes, mas seu
desenvolvimento está baseado na formação de um conhecimento pela criança do mundo tal
como ele é.
A infância é uma antítese entre a intencionalidade do plano biológico que
impulsiona a criança a partir do seu interior, e o mundo externo que nega este processo.
Quando comecei a fazer este trabalho tinha uma noção bem clara sobre esta
grande possibilidade e a eficácia da Biodanza.
Aprofundando meu conhecimento no que educadores, pais e adultos em geral,
são capazes de fazer, impedindo o crescimento saudável da criança para se tornar um adulto
feliz, emocionalmente e organicamente estruturado para desfrutar e se autorealizar na vida,
com todo o potencial que um ser humano é dotado pelo simples fato de nascer,
desenvolvendo a cada ciclo vital sua força interna, seu poder pessoal, quase desisti. Minha
determinação e a admiração que sinto pelo sistema Biodanza impulsionou minha
capacidade de levar adiante o meu objetivo de desenvolver o que aprendi nos três anos de
formação e expandir também com as crianças, sementes do adulto.
E só por acreditar que é possível refazer a base da saúde infantil, usando a
teoria e vivência que propõe Rolando Toro quando criou o sistema Biodanza, é que pude
reorganizar a mim mesma, trabalhando com seriedade minha autonomia e identidade.
No mesmo momento que comecei a fazer a Monografia, fui convidada para um
trabalho Social para crianças com Câncer na Casa Ronald Mc Donald, onde eles
comprovam até 70% de possibilidade de cura. E ouvi de uma coordenadora do Projeto,
Heleonora Tostes, no primeiro contato: ―- Aqui tratamos com vida, e acreditamos até em
milagres‖. Aqui começa então realmente meu trabalho, dar mais saúde as crianças e fazer o
primeiro trabalho de Biodanza para criança com câncer.
Esta Monografia possui, além de todo o conteúdo teórico, muito exercício
vivencial que realizei começando a prática da Biodanza com 16 anos.
É com esta proposta Contemporânea e Inovadora que apresento aqui a todos
que se disponibilizem a aprender com nossos ―mestres da infância‖ um caminho de resgate
a si mesmo, passeando por trilhas que nunca findam, mas que nos inserem em todos os
sistemas vivos do Planeta, fazendo-nos desfrutar de muita alegria e emoção, sendo seres
realmente humanos e saudáveis.
Daí por que se pode formular a seguinte questão:
- Até que ponto a Biodanza pode ajudar no desenvolvimento saudável de uma
criança?
A resposta a tal pergunta será delineada no decorrer deste estudo.

11. Objetivos
Objetivo geral
Demonstrar que a Biodanza pode ser um instrumento para a saúde afetiva e
orgânica nas crianças para uma vida saudável e feliz.
Objetivos específicos
• Integrar a afetividade entre os participantes do grupo
• Integrar a criança ao seu mundo e ao mundo adulto
• Potencializar o nível de saúde.
• Expressar a postura crítica e a criatividade, ousando se contrapor a
estereótipos e padrões rígidos de ordem estética, social e cultural.
• Desenvolver a autonomia, possibilitando a dúvida e o erro encarando-os
como possível descoberta para novos caminhos.
Delimitação do Estudo
Considerando que a Biodanza, como a vida, tem um aspecto muito amplo nas
características de aplicações e extensões, o presente estudo está delimitado a uma pesquisa
realizada em um grupo particular, misto, de 07 crianças na faixa etária de 07 a 12 anos,
localizado na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Acresce-se que os pais das referidas crianças freqüentam grupos regulares de
Biodanza e ainda se utilizam outras terapias, o que, sem dúvida, funciona como estímulo às
referidas crianças, para sua efetiva participação no grupo.
Relevância do Estudo
Admitindo-se que a Biodanza é um sistema Educacional que pode melhorar a
qualidade de vida da humanidade, é de extrema relevância a sua aplicação já a partir da
infância. Isto porque os potenciais ainda não foram bloqueados pelos parâmetros culturais,
podendo desabrochar em toda sua plenitude.
Desta feita, pode-se dar uma contribuição mais significativa para uma
sociedade saudável com enriquecimento de relações afetivas.

13. Capítulo I
A Obra de Rolando Toro
Criador do sistema Biodanza, antropólogo, poeta e pintor chileno. Membro
docente do Centro de Estudos de antropologia Médica da Escola de Medicina da
Universidade de Santiago do Chile. Quando iniciou seus primeiros trabalhos de dança,
nessa oportunidade com pacientes do Hospital Psiquiátrico da dita Universidade. Rolando
Toro com o objetivo de induzir harmonia e tranqüilidade nos pacientes psiquiátricos,
propôs danças harmoniosas e lentas com olhos fechados. A observação revelou que estes
exercícios teriam efeitos contraproducentes, pois conduziam com facilidade os enfermos a
estados regressivos. E, nestes casos, as alucinações e delírios se acentuavam e podiam durar
vários dias.
Em sessões seguintes, sugeriu danças euforizantes a partir de ritmos alegres que
estimulavam a motricidade. O resultado foi um notável aumento do juízo da realidade e o
desaparecimento dos delírios e alucinações.
Estas experiências iniciais constituíram a base para a construção do modelo
teórico operativo em que foram localizados em um pólo os exercícios de regressão e em
outro pólo o reforço da identidade.
Ambos os conjuntos de exercícios apresentam respostas neurovegetativas
específicas.
Modelo Teórico
Um modelo teórico é uma imagem mental que se compara com a realidade.
O modelo teórico de Biodanza foi inspirado nas experiências clínicas com
pacientes psiquiátricos.
Segundo Rolando Toro sua abordagem consistia em incluir a atividade corporal
e estimular as emoções através da dança e do encontro humano.
Ambos os conjuntos de exercícios apresentam respostas neurovegetativas
específicas:
• Exercícios euforizantes que estimulam a identidade davam respostas
simpático – adrenérgicas.
• Exercícios de regressão, em câmera lenta, induziam respostas parassimpático
– colinérgicos.

14. IDENTIDADE ———————REGRESSÃO
Exercícios euforizantes Exercícios lentos
Atividade Simpático Atividade Parassimpático
Adrenérgicas Colinérgica
Partindo desta experiência, Rolando Toro concluiu que para cada distúrbio,
deveria se ter uma adequação dos estímulos musicais e dos exercícios.
Em alguns casos poderiam ser utilizadas músicas que reforçam a identidade e a
consciência de realidade (ritmos euforizantes), porém em outros casos, a música facilita
estados de regressão que proporcionam a reparentalização e diminuem a ansiedade.
Ao longo do processo, Rolando Toro foi aperfeiçoamento o modelo teórico
com novas experiências que facilitam sua aplicação em outras áreas: criança, adolescentes,
idosos, grupos familiares, educação.
O modelo teórico de Biodanza tem experimentado modificações ao longo dos
anos, em confrontação com a realidade. Foram ajustados termos e descobertas novas
relações entre emoção e saúde. Porém conserva sua estrutura original.
Através dos tempos tem sido possível registrar, com precisão, as respostas
neurovegetativas, as modificações comportamentais e as trocas de estilo de vida. Tem-se
realizado medições do rendimento psicomotor, neurovegetativo, endócrino e imunológico.
IMAGEM DO MODELO TEÓRICO DA BIODANZA
PRINCÍPIO DE
VIDA CÓSMICA
INTEGRACION
FILOGENIA
CONSCIÊNCIA REGRESSÃO
FUSION
INCONSCIENTE
VITAL
INCO
NSCIE
NTE
COLETIVO
INCONSCIENTE
PERSONAL
Extraído de TORO, R. Biodanza. São Paulo: Editora Olavobrás/EPB, 2002 p. 75

15. Nomenclatura do Modelo Teórico
Potencial Genético
Cada indivíduo possui um potencial genético (Filogênese) que constitui o
conjunto de características únicas, chamado ―identidade‖. No momento da fecundação,
quando se unem os gametas do pai e da mãe, determina-se à identidade biológica que se
expressará através da vida (ontogênese). Este programa genético é único em cada indivíduo
e não se repete, exceto nos gêmeos univitelinos, ou através de clonagem (de animais).
Consciência Intensificada de si mesmo
É a consciência de estar vivo, que permite tomar contato com a própria
identidade. Essa consciência amplia a percepção do mundo e das coisas essenciais.
A consciência de estar vivo é o primeiro ato de identidade. O ponto em que se
encontra a vivência é a consciência, é o instante de ―sentir-se vivo‖.
Regressão - Fusão
O estado de regressão é uma volta psicobiológica ao período pré-natal, o da primeira
infância.
A regressão é possibilitada em Biodanza mediante exercícios especiais. A pessoa
perde os limites corporais, diminui a vigilância e se abandona a um estado sinestésico, semelhante
ao do bebê dentro do útero.
Durante este estado se reeditam algumas funções fisiológicas da primeira infância. Há
um forte predomínio “trofotópico” (parassimpático-vagal).
Ao sair do estado de regressão e recuperar a percepção do mundo externo, pode
induzir-se a “reparentalização”, com exercícios específicos em pessoas que sofrem de abandono e
carência afetiva na infância, o retorno do transe se caracteriza por um estado de “expansão da
consciência” e o sentimento de profundo “renascimento”.
Transe
Passagem do estado de vigília normal ao estado de regressão. Transe=transitar,
passar de um estado de consciência a outro, o transe tem um efeito reparador e integrador.
Transtase: passagem de um nível inferior a um nível superior de desenvolvimento.
Ascensão a um novo nível de integração dentro da rampa evolutiva.
Homeostase: equilíbrio dinâmico

16. Sistema de Integração Orgânica
Estruturas fisiológicas que asseguram a unidade do organismo
Sistema-Integrador-Adaptativo-Límbico hipotalâmico
(neurotransmissores)

Mecanismos de correlação intraorgânica

Sistema Endócrino Sistema imunológico
Protovivência
Vivências ligadas ao instinto e às primeiras experiências de amor e contato.
O quadro das protovivência constitui o anexo A
Cinco linhas de expressão do Potencial Humano (Vivências)
Vitalidade
Sexualidade
Criatividade
Afetividade
Transcendência
Estas linhas diferenciadas de expressão do potencial humano são de base genética.
As diferentes linhas de potencial humano se influenciam entre si, aumentando reciprocamente a
força de seus potenciais.
Ecofatores
Fatores ambientais que estimulam ou inibem o desenvolvimento dos potenciais
humanos.
Ecofatores humanos
Os ecofatores humanos possuem efeitos sobre cada conjunto de potencial. Os
ecofatores humanos podem ser tóxicos ou nutritivos, estimulantes ou inibidores.

18. Capítulo II
Cecilia Luzzi
Cecilia Luzzi Professora Titular Didata da International Biocentric Foundation
foi a primeira pessoa a implementar a especialidade de Biodanza para crianças.
Durante muitos anos vem aplicando e dando cursos para crianças normais e
com dificuldades específicas. Desenvolveu técnicas de reabilitação para crianças e
adolescentes com dificuldades escolares como desatenção, timidez e agressividade, e
transtornos graves como Autismo, Síndrome de Down, deficiência sensorial e transtornos
motores.
Cecilia criou a metodologia de Biodanza para crianças para constituir um aporte
extraordinário dentro do sistema Biodanza guiada pelo Princípio Biocêntrico, que centra
sua atenção na conexão com a vida.
Através de cuidadosa investigação selecionou exercícios e jogos mais eficazes e
as músicas de maior poder deflagrador para criança.
Cecilia Luzzi considera em cada criança sua capacidade e seu nível de
amadurecimento permitindo a expressão espontânea da sua criatividade e afetividade.
Assim as danças e jogos de Biodanza exercem um efeito reparador capaz de reforçar a
identidade das crianças e estimular o prazer de viver.

20. CapítuloIII
A Contribuição
dos Cientistas Sociais
Em se tratando
de crianças, alguns teóricos fundamentam a prática da Biodanza, fornecendo valiosas
contribuições para o aprofundamento do conhecimento sobre o Mundo Infantil:
Jean Piaget
Grande destaque tem o trabalho de psicologia genética de Jean Piaget. É um
dos maiores psicólogos da atualidade, não só pela vastidão do seu trabalho experimental,
mas também pela fundamentação interdisciplinar que o caracteriza. Inicialmente zoólogo,
mais tarde filósofo e lógico. Piaget tornou-se o psicólogo genético mais controverso e
distinto da atualidade.
Interessando-se desde logo estudo da estrutura e gênese da inteligência na
criança. Piaget também designado cientista somático, imprime aos seus trabalhos uma ótica
biológica e evolutiva.
É, em psicologia o autor contemporâneo com mais trabalho experimental
publicados e alia a este fato ser, para além de biólogo notável um dos mais significativos
expoentes da lógica e do estruturalismo.
Como biólogo, percebeu o erro da psicologia em começar seu estudo, partindo
do ser humano adulto e indo a direção à criança, levando para a pesquisa os preconceitos e
pontos de vista de uma lógica já desenvolvida.
“Postula, que não devemos partir de um organismo já
completamente formado, se quisermos compreende-lo.
Devemos iniciar nossa pesquisa pelo começo da vida e
deixar que a criatura se mostre a nós enquanto cresce”.
(1)
Piaget descobriu que a criança podia construir seu próprio conhecimento
intelectual para interpretar e responder fisicamente ao mundo. Concluiu que a criança é
motivada internamente, que tem uma intencionalidade não volitiva e que é assim que faz as
interações físicas necessárias com o mundo. Piaget chamou os resultados de estrutura do
conhecimento infantil. Notou que a criança passa por estágios de desenvolvimento
definidos na evolução da inteligência, paralelos ao crescimento físico.
Os estágios de desenvolvimento das operações intelectuais surgem, com Jean
Piaget, e segundo ele seguindo uma continuidade. Cada estágio é uma fase necessária à
formação da seguinte. É bom lembrar que o

21. envolvimento sócio-econômico e sócio-cultural poderá acelerar ou retardar a
evolução dos períodos de desenvolvimento mental.
Em seu trabalho, Piaget tratou de uma área bem delimitada do
desenvolvimento, principalmente do estudo de como a cognição (percepção, memória,
solução de problemas) evolui a partir da ação motora. Sua atenção concentrou-se mais no
que ele chama de estruturas psicológicas, do que no funcionamento psicológico. Imagina as
estruturas psicológicas como elementos constitutivos das funções mentais. O conflito de
forças não é virtualmente ausente de seu sistema. Precisamente devido a essa ênfase, o
trabalho de Piaget obteve dados que complementam as descobertas de psicanalistas sobre o
desenvolvimento da criança.
“Piaget está fundamentalmente interessado na área
cognitiva da psique e em suas seqüências de
desenvolvimento; mas ele ressalta que as três estruturas
fundamentais da psique – cuja existência ele reconhece
sucessivamente na ação motora, na percepção e na
ação racional – operam também no domínio do
desenvolvimento afetivo”. (2)
RENÉE A. SPITZ
―Todo corpo que não é acariciado começa morrer‖.
Aplicando o método de observação direta ao trabalho de Sigmund Freud, Renée
A. Spitz pesquisador do Mundo Infantil principalmente do período pré-verbal iniciou suas
investigações sistemáticas em psicologia psicanalítica infantil em 1935. Utilizou vários
métodos de exploração, servindo-se da observação direta.
Sua abordagem também é de natureza interdisciplinar. Apresentou um quadro
amplo e contínuo sobre a gênese das primeiras relações e de seus elementos componentes,
dos seus estágios sucessivos observados no desenvolvimento normal e, também de seus
distúrbios, no decurso do primeiro ano de vida do ser humano.
Em seu livro ― O primeiro ano de vida ― esclarece como essas relações
garantem a sobrevivência e como contribuem para o desenvolvimento psíquico e somático
da personalidade. Assim se refere:
―... todas as relações sociais são adquiridas na relação mãe-filho”. O papel do
afeto na relação mãe e filho

22. A capacidade do ser humano para estabelecer relações
sociais é adquirida na relação mãe e filho. É através
desse relacionamento que se estabelece o modelo para
todas as relações humanas posteriores.” (3)”.
Julga-se oportuno fazer, aqui, uma analogia da Biodanza com o argumento
deste referido cientista Social.
A Biodanza colabora e muito nesta relação tão importante, através das
protovivências, no resgate das forças dos instintos e reeducação de funções originárias de
vida, nas cinco linhas de vivência da Biodanza, explicados no quadro a seguir:
RELAÇÃO DAS PROTOVIVÊNCIAS DA BIODANZA COM AS LINHAS
DE VIVÊNCIA, EMOÇÕES E SENTIMENTOS ASSOCIADOS.
Spitz (1945) oferece uma abordagem que lança luz sobre uma série de fenômenos da vida
humana. Mostra que o progresso livre no estabelecimento de relações objetais é um pré-
requisito do desenvolvimento e funcionamento normais da psique - uma condição
necessária, mas não suficiente, ainda em seu experimento de privação sensorial no bebê
observou que a ausência da mãe equivale à carência emocional. Isto leva à deterioração

23. progressiva, envolvendo toda a criança. Tal deterioração manifesta-se
primeiramente pela interrupção do desenvolvimento psicológico da criança; iniciam-se
então, disfunções, psicológicas paralelas a mudanças somáticas. No estágio seguinte, isso
acarreta uma predisposição crescente à infecção e finalmente quando a privação emocional
continua no segundo ano de vida, leva a uma taxa extremamente alta de mortalidade.
O criador da Biodanza corrobora com esta teoria quando diz: ―Todo corpo que
não é acariciado começa morrer. O contato é uma fonte de saúde e é a ação terapêutica mais
importante. Encontrar os caminhos para que todas as pessoas tenham acesso às carícias,
das crianças aos anciãos, é a única revolução que tem sentido.‖
Spitz demonstra que alguns distúrbios da primeira
infância sejam eles afetos psicogênicos ou condições
psicossomáticas, apresentam uma semelhança notável
com distúrbios que estamos habituados a encontrar
também em adultos. (4)
Ele acredita ser bem provável que o distúrbio psicogênico infantil precoce crie
uma predisposição para o desenvolvimento subseqüente de patologia.
“Estudos clínicos e experimentais tanto quanto
observações de Anna Freud (1958) John Bowlby (
1953), Putnam et all(1948 ), Margareth Mahler ( 1960
), Berta Bornstein (1953), Lebovici e Mc Dougall
(1960), apóiam esta probabilidade estudada por
Spitz.‖ (5)
É lícito supor, então, que tal abordagem abre horizontes tanto no campo da
prevenção como na área da terapia de alguns distúrbios da criança e do adulto e confirma a
possibilidade da ação da Biodanza como profilaxia das neurose no adulto e na prevenção
das mesmas na criança.
ERIC BERNE
É bom destacar a Teoria da Análise Transacional de Eric Berne (médico
psiquiatra do Exército em S. Francisco na Califórnia).
Berne era criativo, inquieto e dinâmico e em seu trabalho descontraído descobre
o fenômeno intuição, o que despertou o interesse desse jovem psiquiatra e em 1945 iniciou
suas pesquisas científicas a respeito, que culminou com uma série de artigos sobre o tema.
Berne descobre que as condições ideais para que ocorra a intuição

24. são as concentrações, a atenção dirigida, a receptividade, o estado de alerta.
A Biodanza também é compatível com a visão de Berne, quando da vivência na
linha de vitalidade “dança do tigre” que trabalha na criança o ímpeto vital, a atenção,
leveza e sutileza dos movimentos.
A partir daí, Berne percebeu que a psicanálise poderia ser dinamizada
substituindo a neutralidade do psicanalista por um compromisso explícito de sua parte para
com o seu cliente, por uma comunicação mais rica e mais completa com o mesmo. Berne
então criou a sua própria escola a de Análise Transacional cujo primeiro instrumento ele
denominou Estados do Ego. Utilizou este termo para indicar cada uma das diferentes
realidades psicológicas. Há três tipos de estados do ego: Pai, Adulto e Criança, que são
manifestações dos órgãos psíquicos correspondentes. Aqui interessa mais precisamente o
Estado do Ego Criança que é um conjunto de sentimentos, atitudes e padrões de
comportamento que são segundo seu criador E. Berne, relíquias da própria infância do
indivíduo.
O estado do ego Criança reproduz o estado do ego da Criança real. Uma pessoa
―está em sua Criança‖ quando pensa, sente, fala ou age como o fazia em sua infância. O
estado do ego criança é componente biológico da personalidade.
Mais uma vez considera-se que a Biodanza é eficaz no resgate da criança que
existe dentro de cada um de nós, chamadas por Rolando de criança divina.
“Berne postula que a psicopatologia reside, na maior
parte dos casos, no Estado Ego Criança‖. (6)
Aí fica a questão: Por que não tornar as crianças mais saudáveis? O estado de
ego Criança do indivíduo é potencialmente capaz de contribuir à personalidade total da
maneira exata com que uma criança verdadeira é capaz de contribuir à vida de uma família.
Quando a criança em Biodanza, experiência os seus sentidos, o seu corpo, os
seus sentimentos, e o uso que pode fazer do seu intelecto, ela recupera uma postura sadia
frente à vida. Certamente sua vida adulta terá melhor qualidade.
JULIAN DE AJURIAGUERRA
“A criança é o seu corpo“. (7)
Assim diz Ajuriaguerra, neuropsiquiatra infantil mundialmente conhecido pelos
seus trabalhos no âmbito da neurofisiologia e neuropsiquiatra infantil.
Para Ajuriaguerra, evolução da criança é sinônimo de consciência.

25. e conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo. É com o seu corpo, diz
este autor, que a criança elabora todas as suas experiências vitais e organiza toda a sua
personalidade. Sem dúvida alguma é um dos autores que melhor reúne e aglutina os
conceitos-chave essenciais para o conhecimento do corpo na educação e todos com
fundamento experimental!
No plano descritivo diz, Julian de Ajuriaguerra em seu Manual de
Psicopatologia Infantil que os diversos autores que se debruçaram sobre o crescimento
tentaram, por meio de cortes sucessivos, fixar momentaneamente este processo diacrônico
contínuo com a finalidade de isolar estágios, etapas, níveis sincrônicos que se prestassem
melhor a um estudo estático. Agindo deste modo, e apesar da riqueza destes trabalhos
segundo este neuropsiquiatra infantil a permanência do crescimento corre o risco de ser
esquecida em favor do estudo destas etapas isoladas. Para ele, o que é importante no
crescimento não é a etapa em si, mas a passagem de uma etapa a outra, isto é, o movimento
maturativo. Diz ainda: ―Se as estruturas neuroanatômicas dependem em grande parte do
equipamento inato, as condutas dependem estreitamente do ambiente no qual evolui o bebê.
Isto explica que é difícil de distinguir, na organização funcional da criança, entre o não-
adquirido e o adquirido. A separação arbitrária e simplista entre o inato e o adquirido realça
mais um jogo especulativo do que uma atitude realmente científica.
Mais uma vez trago a saber que a Biodanza utiliza vivências para estimular o
sentir do corpo.
WALLON
A partir de observações de crianças, estudos longitudinais e investigações por
faixas etárias, Wallon estudou o desenvolvimento da criança, inicialmente na interação
entre o equipamento motor e a afetividade do recém nascido, depois entre a criança e o
campo social.
Wallon situa-se metodologicamente no materialismo dialético e assume pela
primeira vez em psicologia este método de pensamento. Materialista, quando situa a
natureza como realidade que existe independente da consciência humana. Dialético, quando
parte do princípio de que a natureza não é uma acumulação acidental de objetos, mas o
resultado de múltiplas relações, condicionamentos e movimentos. Ele vai mais longe
quando diz: ―as leis do pensamento não podem nascer ou clarificar-se senão pelo seu
incessante ajustamento às leis do Universo‖.
Wallon descreve uma série de estágios que correspondem a um estado
transitório de equilíbrio, mergulhando suas raízes no passado, mas entendendo-se também
sobre o futuro.
As contradições vividas pela criança provocam crises devido a remanejamentos que
permitem o acesso a um novo estágio. Os trabalhos de Wallon conservam todo o seu valor
pela primazia que concedeu a dois eixos

26. de referência: o da afetividade-emotividade e o eixo do equilíbrio tônico-motor.
Aqui também fica claro o valor de praticar e incentivar a biodanza com
crianças, para desenvolver afetividade:
―Através da afetividade nos identificamos com outras
pessoas e somos capazes de compreende-las, amá-las e
protege-las‖ (8)
É em particular a Wallon que se deve à noção de diálogo tônico verdadeiro
troca pré-verbal entre a criança e as pessoas à sua volta.
DONALD WINNICOTT
Outro teórico em que concentrei minha apreciação e atenção é Winnicott, em
função de iniciar seu auto-conhecimento, junto com sua profissão de pediatra. Estas duas
experiências foram marcantes em sua atuação.
Winnicott, psicanalista inglês de formação pediátrica sempre ocupou um lugar
original no campo da psicanálise infantil.
Winnicott é um teórico do desenvolvimento do ser humano. A partir de sua
experiência com crianças pequenas, constatou que boa parte dos problemas emocionais
parecia encontrar sua origem nas etapas do desenvolvimento. Sua obra não é extensa,
porém possui muitas idéias originais.
Em suas obras diz que, os problemas psicológicos se iniciam com o vínculo
entre recém-nascido e a mãe. Tudo depende da mãe ser ou não adequada, de poder se
aproximar do bebê, sustentá-lo, personalizá-lo e ajudá-lo a amadurecer.
Para ele, a criança nasce indefesa e desorganizada, porém em condições de
desenvolvimento. À mãe cabe oferecer suporte adequado para que as condições inatas se
desenvolva adequadamente.
Através do tocar, acalentar, embalar, o bebe terá a existência no corpo - EU
SOU. A localização do self no corpo se dá gradualmente na relação do bebê com a mãe
suficientemente boa.
―A afetividade é a expressão da identidade. Os
transtornos da auto-estima impedem as expressões
naturais da afetividade como o amor, o altruísmo, a
amizade e a maternidade‖. (9)
Na falha da mãe adequada, desenvolve-se a atividade mental do

27. bebê. Bebê e mãe se desconhecendo levam à quebra no desenvolvimento do
bebê. Para evitar a angústia, o bebê se adapta e acomoda-se ao que a mãe lhe oferece.
Fabrica uma proteção para substituir o que lhe falta. Iniciam-se então os processos
neuróticos...
Inúmeros outros pesquisadores sejam eles filósofos, médicos, psicólogos,
antropólogos, etc. enriquecem a nossa visão de homem no mundo desde o seu nascimento.
Porém falar de todos é impossível.
Para este trabalho fico por aqui, deixando claro que os estudos não param e com certeza
vão continuar sempre, porque quanto mais aprendemos e experimentamos mais
descobrimos que ainda é pouco. O ser humano é infinito de possibilidades...

28. Capítulo III
Metodologia
A estruturação das sessões de Biodanza para criança segue o que é feito para
adultos com algumas pequenas diferenças respondendo sempre as pautas do modelo teórico da
Biodanza apresentando uma seqüência a partir da observação do grupo em um gradativo
aprofundamento, baseada nas linhas de vivência:

Vitalidade: movimento
Criatividade: expressão
Sexualidade: integração
Afetividade: nutrição
Transcendência: harmonia
A sessão de Biodanza para criança dura em média cinqüenta minutos, com freqüência
de uma vez por semana.
Periodicamente, realiza-se uma sessão do grupo com os respectivos pais.
O programa básico contem exercícios que seguem basicamente um catálogo de
músicas especialmente selecionadas para cada vivência de acordo com uma criteriosa
metodologia de semântica musical de Biodanza. Tais informações são acessíveis apenas aos
profissionais habilitados da área.
Tem como objetivo central à integração.
Seus objetivos parciais são também formas de integração:

Integração Motora
Integração Afetivo-motora
Integração sensitivo-motora
Integração afetivo-sexual
Integração erótico-transcendente
Tais objetivos são definidos de acordo com o nível de evolução do grupo. Os
exercícios são sempre “ecofatores positivos”
As consignas são formas de explicar o exercício proposto. Quando necessário é dado
o modelo da vivência. São claras, simples e se relacionam com a vida cotidiana.
A regulação da pulsação Identidade-regressão é progressiva seguindo e reforçando a
harmonia do sistema neurovegetativo.
O relato de vivência não se realiza nem durante nem no fim da aula, e sim na sessão
seguinte, pois a racionalização imediata neutraliza o efeito das vivências. O sentido dos relatos é
sobretudo expressar os sentimentos, emoções e demais efeitos também da sua vida cotidiana
depois da última sessão.

29. CONCLUSÃO
Fazer uma conclusão do trabalho de Biodanza, ora em andamento, não é difícil,
porém interminável. A cada dia me surpreendo com a precisa forma de retorno que se vem
observando nas crianças.
A proposta da Biodanza está centrada na ―vivência‖ através da emoção, música
e movimento, e oferece um novo horizonte para unir experiência e conhecimento.
Rolando Toro, chama a Biodanza de uma nova inteligência - ―a inteligência do
coração e do amor‖.
A ação da Biodanza mobiliza o sistema neuromotor, os circuitos cardio-
respiratórios, neuroendrócrinos, imunológicos e emocionais. A totalidade do organismo é
ativada para gerar processos adaptativos e integrativos.
Os exercícios que propõem a Biodanza reforçam a segurança em si mesmo,
aumentam a determinação e a intencionalidade dos movimentos.
Com o tempo da freqüência nas aulas, é notória a grande eficácia do sistema,
regulando o sistema orgânico das crianças.
Crianças mais ativas diminuem seu ritmo e se entregam a movimentos mais
lentos.
Crianças mais lentas, demonstram mais vigor, expressividade e movimento.
EFEITOS ORGÂNICOS E PSICOLÓGICOS DA BIODANZA
NO GRUPO DA PESQUISA
Auto-regulação
Reforço do equilíbrio neurovegetativo mediante exercícios que estimulam
alternadamente o sistema simpático-adrenérgico e o parassimpático-colinégico.
Em seus depoimentos as crianças falam de sua
descoberta do corpo e cada um com seu jeito sabem
exemplificar o que entendem e sentem dizendo que: “...
é como um carro que na aula vai desacelerando e
depois voltam a acelerar para voltar a correr” R. (12)
Renovação biológica
Otimização da homeostase mediante a indução de estados de regressão e transe.
Exercícios que ativam as funções trofotrópicas (reparação biológica)
Depoimento da mãe de dois alunos L.- (7)

30. e B. - (10) consolida a nutrição, quando me revela que os
filhos chegam em casa sem fome, no dia da aula diferente
dos outros dias da semana.
Reparentalização
Reimpressão do argumento de vida em substituição ao argumento de morte. Ela se
produz em casos de carência afetiva.
Os novos programas afetivos se realizam em estados de semitranse.
A integração que reflete em casa afetividade, nutrição, cuidado e carinho:
Depoimento da mãe de J. (10): “- quando ela chegou
em casa depois da aula me perguntou o que ela achava
que ela tinha de melhor em si, e respondi que muitas
coisas, ela respondeu que ela sabe que tem muitas
coisas boas mais queria que ela dissesse uma que ela
era muito boa, a melhor, depois perguntou do seu
corpo, brincaram um pouco com o corpo, ela tirou a
roupa, o que não havia feito antes, e dormiu com a mão
no meu peito”. Vivência dada nessa aula: dar e
receber o melhor de si.
Harmonia
Substitui-se o esquema de estresse pelo de harmonia. Isto significa uma troca
radical do estilo de vida. Reforço e facilitação de ―vivências positivas‖.
J. (10) “- ...uma emosão tão grande que eu nunca centi,
e uma alegria que também nunca centi. E como diz uma
música da Pitty eu fiquei em cintonia com a música.
obs: eu nunca pensei que biodança fosse tão legal. Não
ligue para os erros de portugues.” Anexo 1
Expressão da identidade
Fortalecimento da expressão da identidade, mediante danças de expressão da
emoção, danças de auto-afirmação, regressão e etapas pré-natal e infantis.
Depoimentos de pais demonstram que promove a expressão, todos

31. verbalizam e mostram a cada semana o prazer de estarem fazendo as aulas. Mostram-se
também mais falantes e expressivos. Falam os pais.
Diferenciação
Desenvolvimento das potencialidades individuais mediante exercícios de
expressão e criatividade.
Integração Corporal
Integração da personalidade sensitivo-motor, sensorio-motor e ideo-motor.
Exercícios de fluidez, equilíbrio, elasticidade, eutonia, leveza, expressividade. Promove a
integração.
Os pais contam que quando chegam em casa, pedem a
eles para fazerem os exercícios com eles. Um aluno,
conta à mãe, que nunca se adaptou em nenhuma outra
técnica já experimentada antes, sempre diz para os pais
ser muito legal tudo que faz na aula e repete os
movimentos com eles. L. (7)
Vinculação com feed-back
Aprendizagem de técnicas de comunicação e encontro com feed-back. Ensaio e
reforço de novas condutas de contato e comunicação mediante danças de encontro,
sincronização em dupla e danças de amor.
Como facilitadora, é fácil observar o desenvolvimento
do afeto entre as crianças que se abraçam e se tocam
com carinho, cuidado e proteção. O que vai favorecer
essa conduta em seu mundo, na sua vida.
Contato e carícias
O contato tem efeito sobre o desenvolvimento.
• Revalorização corporal e aumento da auto-estima.
• Reorganização da libido
• Desrepressão, dissolução das couraças defensivas.
• Integração afetiva
• Reconhecimento da própria identidade
• Acesso às vias de transcendência. Consciência ecológica.
A síntese de tais observações e respectivos depoimentos leva à

32. demonstração dos efeitos, na prática, da Biodanza. Mas precisarei de tempo
para confirmar que deve começar na criança como prevenção das neuroses.
O que aprendi com a teoria de Jean Piaget, que não devemos partir de um
organismo já completamente formado, se quisermos compreendê-lo. Devemos iniciar nossa
pesquisa pelo começo da vida e deixar que a criatura se mostre a nós enquanto cresce.
Piaget descobriu que a criança podia construir seu próprio conhecimento para
interpretar e responder fisicamente ao mundo. Concluiu que a criança é motivada
internamente, que tem uma intencionalidade não volitiva e que é assim que faz as
interações necessárias com o mundo.
Estou completamente convencida disso, pela experiência que tenho tido com as
crianças no grupo que estou trabalhando e ainda, elas respondem mais rapidamente que os
adultos porque estão menos condicionadas e ainda são muito mais sensíveis. Logo a
biodanza vai atuar muito e com resultados rápidos como aconteceu com uma das minhas
alunas que me disse ao telefone: ―estou feliz por ter te conhecido‖. O que mostrava o
vínculo construído comigo enquanto facilitadora de biodanza.
Estou certa de que o caminho de estudos, investigação e pesquisa continuarão
sempre, mas o que descobri ate agora me deixa consciente de que quero continuar
trabalhando com ―BIODANZA COM CRIANÇAS‖.

33. BIBLIOGRAFIA
SPITZ, A René. O primeiro Ano de vida. São Paulo: Editora Martins Fontes,
1988.
BERNE, Eric. Análise Transacional em psicoterapia. Rio de Janeiro: Editora
Sumos Editorial, 1988.
PEARCE, C Joseph. A Criança mágica. Rio de Janeiro: Editora F. Alves, 1987.
FONSECA, V. Escola, escola, quem és tu? Porto Alegre: Editora Artes Médicas,
1987.
KERTËSZ, Roberto. Análise Transacional ao vivo. São Paulo: Editora Sumos
Editorial, 1985.
MARCELLI, Ajuriaguerra. Manual de Psicopatologia Infantil. São Paulo: Editora
Artes Médicas, 1985.
LUZI, Cecília. Apostila de formação de Biodanza com criança, Santiago, Chile,
1999.
ROCHA, Orlando. Palestra Modelo Teórico, transcrição por Denizis Henriques,
Rio de Janeiro, 1999.
TORO, Rolando. Apostila de Afetividade, Curso de formação Docente,
Santiago, Chile, 1990.
TORO, Rolando. Apostila de Criatividade, Curso de formação Docente,
Santiago, Chile, 1990.
TORO, Rolando. Apostila de Modelo Teórico, Curso de formação Docente,
Santiago, Chile, 1990.
TORO, Rolando. Apostila de Vitalidade, Curso de formação Docente, Santiago,
Chile, 1990.
TORO, Rolando. Apostila de Contato e Carícia, Curso de formação Docente,
Santiago, Chile, 1990.
TORO, Rolando. Apostila de Princípio Biocêntrico, Curso de formação
Docente, Santiago, Chile, 1990.
WAISMANN, Carla C. Educação Biocêntrica Tecendo a vida. Rio de Janeiro,
1990.
WAIBLINGER, Angela. A Grande mãe e a criança Divina. São Paulo, 1986.