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Inspiração Gente




Segredos
 de dom
 Pedro I
A arqueóloga Valdirene Ambiel
 exumou o imperador e suas
duas mulheres. O que descobriu
    muda parte da história                                                                             Valdirene, no Monumento
                                                                                                            à Independência: ela




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                  fascínio que vem da infância                                                               investigar o Império
                  e a persistência científica le-
                  varam a arqueóloga Valdi-
                  rene do Carmo Ambiel, 42
                  anos, a rever o capítulo do
Império na história do Brasil. Com requin-
tes de cinema, ela concluiu, em setembro
passado, a exumação dos corpos do primeiro
imperador, dom Pedro, e das suas duas es-
posas, Leopoldina e Amélia. Em operação
sigilosa, para evitar que o patrimônio nacio-
nal corresse risco de roubo ou dano, ela
transportou os restos mortais dos três de madrugada e         medalhas e comendas, mas nenhuma brasileira. Ele foi
sob intensa proteção. As urnas mortuárias, com quase          enterrado como general português. Crânio e face preser-
200 anos cada uma, seguiram do Monumento à Inde-              vados ainda ajudarão Valdirene a revelar como era o
pendência, no bairro do Ipiranga, na capital paulista,        rosto dele – só visto em pinturas. Já se sabe que Pedro
para o Hospital das Clínicas da Universidade de São Pau-      não causou a morte da primeira esposa. Os livros suge-
lo. Como pacientes comuns, os cadáveres passaram por          rem que Leopoldina teria sido empurrada escada abaixo
testes e exames de tomografia. Valdirene analisou tudo,       pelo marido. Não há fraturas ósseas. A mulher não era
fascinada. “Estava realizando um sonho de menina.”            rechonchuda. Seu corpo delgado media até 1,60 metro,
   Quando criança, ela era levada pelo pai, um caminho-       e ela vestia o mesmo traje, em fios de ouro e prata, usado
neiro, para visitar o Monumento e ouvia dele detalhes         na coroação, em 1822. Mas devia estar em uma fase sem
inesquecíveis sobre aqueles personagens. Aos 11 anos,         dinheiro: uma pedra falsa, de resina, enfeitava seus brin-
assistiu à chegada triunfal do caixão lacrado de dona         cos. Aberto o caixão de Amélia, o cheiro de cânfora e
Amélia, trasladado de Portugal. Como a imperatriz esta-       mirra invadiu o local. Única a ter sido mumificada, apre-
ria lá dentro? Que mulher teria sido? As interrogações só     sentava pele, olhos, cílios e cabelos intactos.
encontraram respostas na atual investigação de Valdire-          Valdirene não tem mais a bolsa que bancava o proje-
ne, que foi vista com descrédito pelos cientistas. Eles di-   to. Para se manter até concluir sua tese acadêmica, um
ziam que só haveria pedras ou cinzas, já que Pedro I, se-     documentário e um livro sobre a aventura investigativa,
                                                                                                                                    Foto Júlia Rodrigues




gundo uma das versões oficiais, teria sido cremado.           ela vendeu o carro e passou a fazer restaurações. “Eu me
   As descobertas até agora são robustas: quatro costelas     dedico de corpo e alma, porque amo história”, diz.
quebradas perfuraram o pulmão do imperador, compli-
cando a tuberculose que o matou aos 36 anos. Havia            C o l ab o r o u B i an c a C as t r o

50   CLAUDIA    a b r il 2 0 1 3

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  • 1. Inspiração Gente Segredos de dom Pedro I A arqueóloga Valdirene Ambiel exumou o imperador e suas duas mulheres. O que descobriu muda parte da história Valdirene, no Monumento à Independência: ela O vendeu seu carro para fascínio que vem da infância investigar o Império e a persistência científica le- varam a arqueóloga Valdi- rene do Carmo Ambiel, 42 anos, a rever o capítulo do Império na história do Brasil. Com requin- tes de cinema, ela concluiu, em setembro passado, a exumação dos corpos do primeiro imperador, dom Pedro, e das suas duas es- posas, Leopoldina e Amélia. Em operação sigilosa, para evitar que o patrimônio nacio- nal corresse risco de roubo ou dano, ela transportou os restos mortais dos três de madrugada e medalhas e comendas, mas nenhuma brasileira. Ele foi sob intensa proteção. As urnas mortuárias, com quase enterrado como general português. Crânio e face preser- 200 anos cada uma, seguiram do Monumento à Inde- vados ainda ajudarão Valdirene a revelar como era o pendência, no bairro do Ipiranga, na capital paulista, rosto dele – só visto em pinturas. Já se sabe que Pedro para o Hospital das Clínicas da Universidade de São Pau- não causou a morte da primeira esposa. Os livros suge- lo. Como pacientes comuns, os cadáveres passaram por rem que Leopoldina teria sido empurrada escada abaixo testes e exames de tomografia. Valdirene analisou tudo, pelo marido. Não há fraturas ósseas. A mulher não era fascinada. “Estava realizando um sonho de menina.” rechonchuda. Seu corpo delgado media até 1,60 metro, Quando criança, ela era levada pelo pai, um caminho- e ela vestia o mesmo traje, em fios de ouro e prata, usado neiro, para visitar o Monumento e ouvia dele detalhes na coroação, em 1822. Mas devia estar em uma fase sem inesquecíveis sobre aqueles personagens. Aos 11 anos, dinheiro: uma pedra falsa, de resina, enfeitava seus brin- assistiu à chegada triunfal do caixão lacrado de dona cos. Aberto o caixão de Amélia, o cheiro de cânfora e Amélia, trasladado de Portugal. Como a imperatriz esta- mirra invadiu o local. Única a ter sido mumificada, apre- ria lá dentro? Que mulher teria sido? As interrogações só sentava pele, olhos, cílios e cabelos intactos. encontraram respostas na atual investigação de Valdire- Valdirene não tem mais a bolsa que bancava o proje- ne, que foi vista com descrédito pelos cientistas. Eles di- to. Para se manter até concluir sua tese acadêmica, um ziam que só haveria pedras ou cinzas, já que Pedro I, se- documentário e um livro sobre a aventura investigativa, Foto Júlia Rodrigues gundo uma das versões oficiais, teria sido cremado. ela vendeu o carro e passou a fazer restaurações. “Eu me As descobertas até agora são robustas: quatro costelas dedico de corpo e alma, porque amo história”, diz. quebradas perfuraram o pulmão do imperador, compli- cando a tuberculose que o matou aos 36 anos. Havia C o l ab o r o u B i an c a C as t r o 50 CLAUDIA a b r il 2 0 1 3