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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                            64
              (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 8,
               intitulado Os mantenedores do velho mundo)




                         Mestres e gurus

Todos são mestres uns dos outros enquanto se polinizam mutuamente

Há também os que – por fora dos sistemas formais de ensino – ainda se
intitulam (ou são por alguém intitulados de) mestres ou gurus. Alguns são
ordenados para tanto, quer dizer, têm reconhecida, sempre por uma
organização hierárquica, sua capacidade de reproduzir uma determinada
ordem top down. E querem então imprimi-lo, emprenhá-lo, ou seja,
enxertar suas idéias-implante em você, para que você se torne também um
transmissor desse “vírus”.
É claro que existem outras interpretações do papel do mestre. Osho, por
exemplo, tentando explicar a correta intolerância de Krishnamurti com os
que se anunciam ou eram anunciados como mestres ou gurus, coloca uma
outra perspectiva ao dizer que “um mestre não o ensina, ele simplesmente
torna o seu ser disponível para você e espera que você também faça o
mesmo”. E aí vem a justificativa: “A menos que algum raio do além entre
em seu ser, a menos que você prove algo do transcendental, até mesmo o
desejo de ser liberado não aparecerá em você. Um mestre não lhe dá a
liberação, ele cria um desejo apaixonado pela liberação”. A justificativa é
que “será muito difícil, quase impossível, fazer isso por conta própria” (12).

Mas quem disse que isso teria que ser feito “por contra própria”? Ao tentar
justificar sua crítica a Krishnamurti, Osho enveredou por um viés psicológico
individual. Ele não teria se curado do trauma de ter sido “educado por
pessoas muito autoritárias... professores, talvez, mas não mestres”. Então
Osho afirma que tudo isso “foi demais [para Krishnamurti] e ele não pode
esquecê-los e não pôde perdoá-los” (13). No fundo, tudo isso soa mais
como uma tentativa de salvar uma função pretérita, resgatar um papel
arcaico que, em alguma época, funcionou de fato assim como ele, Osho,
diz, porém em mundos de baixa conectividade social.

Já foi dito aqui que na medida em que vida humana e convivência social se
aproximam (nos mundos altamente conectados) somos obrigados a mudar
nossas interpretações. E que isso entra em choque com as tradições
espirituais que diziam que quando o discípulo está preparado o mestre
aparece. De certo modo é justo o contrário: o discípulo desaparece quando
desaparece a escola (quer dizer o ensinamento) e com ele vai-se também o
mestre.

Isso – para alguns – é um escândalo. Nos Highly Connected Worlds quem
lhe reconhece é o simbionte social, se você se sintonizar suficientemente
com a rede-mãe. Não é um representante da tradição, não é um membro
de uma casta sacerdotal ou de alguma hierarquia docente, nem mesmo um
indivíduo que despertou antes de você – a não ser que essa pessoa (uma
pessoa) seja a porta para que você possa entrar em outros mundos. Mas
neste caso essa pessoa – eis o ponto! – pode ser qualquer pessoa que
esteja conectada a esses mundos onde você quer entrar.

Se alguém pudesse recuar antes (e o que seria antes?) daquela noite dos
tempos em que a rede-mãe começou a rodar programas verticalizadores e
pudesse dizer como uma comunidade conseguia entrar em sintonia com o
simbionte natural (que talvez se confundisse – em sociedades de parceria,
pré-patriarcais, quem sabe em algum momento do Neolítico – com a rede-



                                      2
mãe: síntese simbolizada na figura da grande mãe ou da deusa), talvez
pudesse nos sugerir algum processo para reinventarmos tal sintonia com o
simbionte social (o superorganismo humano). Mas, fosse qual fosse, sua
resposta seria enxame (múltiplos caminhos em efervescência) e não
indivíduo no caminho em busca da unidade perdida ou da sua origem
celeste.

Não vale fazer recuar a noite dos tempos em que surgiram os sistemas
míticos-sacerdotais-hierárquicos-autocráticos para colocá-los na origem de
tudo com o fito de transformar a origem terrestre do humano em uma
origem celeste. Essa operação ideológica, urdida por esses mesmos
sistemas, legitima o mestre como um veículo, um emissário, um
representante da suposta origem celeste (ainda quando existam mestres
que reneguem tudo isso).

No enxame você já é um mestre, todos são mestres uns dos outros
enquanto não apenas buscam, mas se polinizam mutuamente e isso quer
dizer que não existe um, não existe aquele mestre.

Mestres – como ensinadores – são mantenedores do velho mundo. Mesmo
quando recusam tal papel, eles abrem caminho para os codificadores de
doutrinas, aqueles cavadores de sulcos para fazer escorrer por eles as
coisas que ainda virão.




                                    3
Notas

(12) OSHO (Bhagwan Shree Rajneesh) (1978). A revolução: conversas sobre Kabir.
São Paulo: Academia de Inteligência, 2008.

(13) Idem.




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Mestres e gurus nos mundos conectados

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 64 (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 8, intitulado Os mantenedores do velho mundo) Mestres e gurus Todos são mestres uns dos outros enquanto se polinizam mutuamente Há também os que – por fora dos sistemas formais de ensino – ainda se intitulam (ou são por alguém intitulados de) mestres ou gurus. Alguns são ordenados para tanto, quer dizer, têm reconhecida, sempre por uma organização hierárquica, sua capacidade de reproduzir uma determinada ordem top down. E querem então imprimi-lo, emprenhá-lo, ou seja, enxertar suas idéias-implante em você, para que você se torne também um transmissor desse “vírus”.
  • 2. É claro que existem outras interpretações do papel do mestre. Osho, por exemplo, tentando explicar a correta intolerância de Krishnamurti com os que se anunciam ou eram anunciados como mestres ou gurus, coloca uma outra perspectiva ao dizer que “um mestre não o ensina, ele simplesmente torna o seu ser disponível para você e espera que você também faça o mesmo”. E aí vem a justificativa: “A menos que algum raio do além entre em seu ser, a menos que você prove algo do transcendental, até mesmo o desejo de ser liberado não aparecerá em você. Um mestre não lhe dá a liberação, ele cria um desejo apaixonado pela liberação”. A justificativa é que “será muito difícil, quase impossível, fazer isso por conta própria” (12). Mas quem disse que isso teria que ser feito “por contra própria”? Ao tentar justificar sua crítica a Krishnamurti, Osho enveredou por um viés psicológico individual. Ele não teria se curado do trauma de ter sido “educado por pessoas muito autoritárias... professores, talvez, mas não mestres”. Então Osho afirma que tudo isso “foi demais [para Krishnamurti] e ele não pode esquecê-los e não pôde perdoá-los” (13). No fundo, tudo isso soa mais como uma tentativa de salvar uma função pretérita, resgatar um papel arcaico que, em alguma época, funcionou de fato assim como ele, Osho, diz, porém em mundos de baixa conectividade social. Já foi dito aqui que na medida em que vida humana e convivência social se aproximam (nos mundos altamente conectados) somos obrigados a mudar nossas interpretações. E que isso entra em choque com as tradições espirituais que diziam que quando o discípulo está preparado o mestre aparece. De certo modo é justo o contrário: o discípulo desaparece quando desaparece a escola (quer dizer o ensinamento) e com ele vai-se também o mestre. Isso – para alguns – é um escândalo. Nos Highly Connected Worlds quem lhe reconhece é o simbionte social, se você se sintonizar suficientemente com a rede-mãe. Não é um representante da tradição, não é um membro de uma casta sacerdotal ou de alguma hierarquia docente, nem mesmo um indivíduo que despertou antes de você – a não ser que essa pessoa (uma pessoa) seja a porta para que você possa entrar em outros mundos. Mas neste caso essa pessoa – eis o ponto! – pode ser qualquer pessoa que esteja conectada a esses mundos onde você quer entrar. Se alguém pudesse recuar antes (e o que seria antes?) daquela noite dos tempos em que a rede-mãe começou a rodar programas verticalizadores e pudesse dizer como uma comunidade conseguia entrar em sintonia com o simbionte natural (que talvez se confundisse – em sociedades de parceria, pré-patriarcais, quem sabe em algum momento do Neolítico – com a rede- 2
  • 3. mãe: síntese simbolizada na figura da grande mãe ou da deusa), talvez pudesse nos sugerir algum processo para reinventarmos tal sintonia com o simbionte social (o superorganismo humano). Mas, fosse qual fosse, sua resposta seria enxame (múltiplos caminhos em efervescência) e não indivíduo no caminho em busca da unidade perdida ou da sua origem celeste. Não vale fazer recuar a noite dos tempos em que surgiram os sistemas míticos-sacerdotais-hierárquicos-autocráticos para colocá-los na origem de tudo com o fito de transformar a origem terrestre do humano em uma origem celeste. Essa operação ideológica, urdida por esses mesmos sistemas, legitima o mestre como um veículo, um emissário, um representante da suposta origem celeste (ainda quando existam mestres que reneguem tudo isso). No enxame você já é um mestre, todos são mestres uns dos outros enquanto não apenas buscam, mas se polinizam mutuamente e isso quer dizer que não existe um, não existe aquele mestre. Mestres – como ensinadores – são mantenedores do velho mundo. Mesmo quando recusam tal papel, eles abrem caminho para os codificadores de doutrinas, aqueles cavadores de sulcos para fazer escorrer por eles as coisas que ainda virão. 3
  • 4. Notas (12) OSHO (Bhagwan Shree Rajneesh) (1978). A revolução: conversas sobre Kabir. São Paulo: Academia de Inteligência, 2008. (13) Idem. 4