Tido como o intelectual de maior influência sobre o ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, Anthony Giddens já escreveu mais de 30 livros. Ele estuda o impacto do desenvolvimento econômico, científico e tecnológico sobre a vida humana no século XX e também as incertezas que cercam a humanidade nessa virada de século, onde a previsão do futuro se perde no terreno das hipóteses.
1. Disciplina: Sociologia do Poder. Pós-graduação:
Sociologia Política. Docente: Prof. Msc. Araré de
Carvalho Júnior
2. Anthony Giddens nasceu
no dia 18 de janeiro de
1938, em Londres.
Tornou-se um sociólogo
renomado por sua Teoria
da estruturação e como pai
da chamada “Terceira Via”.
É considerado por muitos
como o mais importante
sociólogo inglês
contemporâneo.
3. Com a vitória do primeiro-ministro
Tony Blair em 1997 apareceu no
cenário teórico mundial o assim
chamado novo trabalhismo inglês.
Após quase 20 anos de seguidas
derrotas eleitorais, o Partido
Trabalhista reconquistou o eleitor
inglês ao trocar seu antigo discurso
esquerdista por posições mais
flexíveis e realistas, rejeitando idéias
clássicas da velha socialdemocracia e
também do neoliberalismo
econômico. Vitória da "terceira
via", que se lançou como alternativa
moderna de centro-esquerda, com o
argumento de que, no mundo
atual, as tradicionais esquerda e
direita não conseguem apresentar
propostas viáveis.
4. Tido como o intelectual de maior influência sobre o ex-
primeiro-ministro britânico, Tony Blair, Anthony Giddens
já escreveu mais de 30 livros. Ele estuda o impacto do
desenvolvimento econômico, científico e tecnológico sobre
a vida humana no século XX e também as incertezas que
cercam a humanidade nessa virada de século, onde a
previsão do futuro se perde no terreno das hipóteses.
Giddens também detalha em sua extensa obra o ideário da
terceira via e sua preocupação em procurar o sentido das
três grandes revoluções deste final de século: a
globalização, as transformações da intimidade e mudança
do relacionamento do homem com a natureza. A partir
dessas análises, Giddens propõe a elaboração de políticas
que sejam realistas, mas que não deixem de ser radicais;
que não abram mão da solidariedade e da inclusão
social, ideais ameaçados pela visão de mercado, que
estimula o comportamento cada vez mais individualista no
mundo.
5. A Sociedade faz o indivíduo ou o Individuo faz a
Sociedade? Essa é uma das questões mais
instigantes e presente na história da
sociologia, data dos tempos da sua própria origem.
Perguntas que procuram os motivos pelos quais
vivemos em sociedade, ou que tentam desvendar se
há prevalência do individuo sobre o meio social, ou
se há prevalência do meio social sobre o
indivíduo, conferem dinamicidade aos debates em
ciências sociais, tendo em vista que seu caráter
histórico sempre foi marcado de conflito de idéias.
E talvez esteja aí a grande vitalidade das ciências
sociais, e também de certa forma seu grande
„calcanhar de Aquiles‟.
6. Os dois textos que estudamos, Poder Simbólico
de Pierre Bourdieu, e Os Estabelecidos e os
Outsiders de Norbert Elias se inserem no
debate contemporaneamente a cerca das
concepções que predominam a respeito, por
exemplo, das relações entre indivíduo e
sociedade. Esses autores tem uma visão
interessante, pois, para eles é a diferenciação
das partes que gera a unidade do conjunto;
porém, o contrário também é verdadeiro.
7. Os indivíduos pactuam a vida em sociedade, mas
esta, diferentemente do que pregava a tradição
Durkheimiana, não é apenas um somatório daqueles
que a integram; mais que isso, é ela, em múltiplos
sentidos, que dá origem ao indivíduo. Somos nós que
fazemos a sociedade ao mesmo tempo em que somos
humanos porque a sociedade assim nos faz. Essa
interação entre indivíduo não atomistas e sociedade não
exageradamente coercitiva e determinante, é o princípio
do debate contemporâneo a cerca dessa velha temática
sociológica, que remonta desde a criação da sociologia.
8. O sociólogo Inglês, pai da teoria da Terceira Via
Anthony Giddens, se insere neste contexto que
considera a articulação entre sociedade e
indivíduo. Giddens define como seu objetivo
estabelecer uma abordagem das ciências sociais
que se afaste de maneira substancial das tradições
existentes do pensamento social. Deste modo, do
ponto de vista metodológico, realiza uma síntese
entre a sociologia estrutural e o funcionalismo, de
forma que conjugue estrutura e ação numa teoria
só, intitulada de Teoria da Estruturação.
9. Giddens justifica histórica e sociologicamente a
inscrição e pertinência da sua teoria
social, dizendo, por exemplo, que muitos dos
problemas centrais das ciências
sociais, nomeadamente os problemas da análise
institucional, do poder e da mudança social, foram
sendo negligenciados ou parcializados pelas
correntes sociológicas tradicionais. Fazer a ponte e
construir uma teoria social assente em pilares
funcionalistas e estruturalistas, mas também
acionalistas, agregando crítica e criativamente
conceitos de uns e outros, implica o sábio, mas
arriscado, improviso de um pensador
comtemporâneo. Giddens exprime deste modo as
suas inquietações e ambições.
10. Este método de indagação, ou
paradigma, tornou-se proeminente e influente
durante os anos 60 e 70, embora tenha tido
vários antecedentes em períodos anteriores. Na
análise sociológica, o conceito de estrutura, em
variadas formulações, durante muito tempo
ocupou um lugar central , e vários comentaristas
observaram que esse conceito foi um elemento
de importância maior na perspectiva filosófica e
científica geral dos anos 30, importância essa
refletida na influência que o conceito adquiriu em
campos como a matemática, a biologia, a
lingüística e a psicologia.
11. O movimento estruturalista mais
recente, porém, teve pretensões mais
amplas, enfatizando a importância fundamental
de identificar e analisar as “estruturas profundas”
que estão na base e que geram os fenômenos
observáveis, ampliando a abordagem
estruturalista mais amplamente para as ciências
sociais e humanas. Como ampla abordagem
teórica nas ciências sociais, o estruturalismo
pode ser distinguido por sua oposição ao
humanismo, ao historicismo e ao empirismo.
12. É anti-humanista no sentido de que as ações
conscientes e deliberadas de indivíduos e grupos
sociais são amplamente excluídas da análise.
Essa oposição se evidencia na discussão travada
entre Sartre (1960) e Lévi-Strauss (1962). As
investigações metodológicas de Sartre visavam
esclarecer a relação entre condições estruturais e
ações intencionais – os “projetos” – de
indivíduos, bem como a introduzir num
marxismo esclerosado algo da perspectiva
individualista e humanista do existencialismo.
13. O anti-historicismo fica manifesto na obra de
Lévi-Strauss por meio de uma preferência por
pesquisas que busquem descobrir as
características estruturais universais da
sociedade humana e, mais remotamente,
relacionar essas características às estruturas
universais da mente humana.
14. Alguns estruturalistas
marxistas, expressaram uma visão anti-
historicista com particular energia, negando
que o marxismo seja, ou pudesse ser, uma
ciência da história, uma vez que todas as
tentativas de formular explicações históricas
surgem como doutrinas teleológicas e não
como teorias científicas.
15. O estruturalismo é também antiempirista,
em virtude de sua insistência na eficácia
causal de uma estrutura profunda subjacente
à aparência superficial, imediatamente dada
dos eventos. Segundo os estruturalistas os
empiristas erravam ao confundir estrutura
social com relações sociais externas, esse
está condenado a permanecer prisioneiro das
aparências dentro do sistema social
estudado, não havendo possibilidade alguma
de se revelar uma lógica sob a superfície.
16. De qualquer forma a questão que remete as
estruturas sociais, diz respeito primordialmente
em que medida a estrutura social se baseia no
consentimento ou na coerção. Para Marx por
exemplo, cada forma existente de sociedade
(como feudalismo ou capitalismo) se baseava na
coerção exercida pela classe dominante sobre as
classes subordinadas. Entre os teóricos do séc.
XX, a importância do consenso foi enfatizada
energeticamente por Emile Durkheim. A maior
parte dos teóricos sociais acreditava que a
estrutura social baseia-se em parte no consenso
e em parte na coerção.
17. Este ramo de análise em ciências sociais refere-
se a uma orientação metodológica e teórica em
que as consequências de um dado conjunto de
fenômenos empíricos em vez de suas
causas, constituem o centro da atenção analítica.
A palavra tem sido aplicada a toda uma variedade
de abordagens divergentes, mas o elemento que
estas têm em comum é a concentração nas
relações de uma parte da sociedade com outra
e, talvez, com maior frequência, de uma parte da
sociedade com a sociedade inteira.
18. A análise funcional surgiu da tentativa de
usar em análise social noções desenvolvidas
inicialmente na esfera biológica. Esse modo
de raciocínio metodológico teve como
pioneiros Emile Durkheim, na França, e
Hebert Spencer, na Grã-Bretanha. A corrente
durkheimiana foi desenvolvida pelos
antropológos Radclif-Brown e Bronislaw
Malinowisk na Grã-Bretanha, e por Talcott
Parsons, Robert Merton e seus discípulos, nos
Estados Unidos.
19. O funcionalismo dominou a sociologia norte
americana dos anos da guerra até meados da
década de 60, mas desde então se viu submetido
a variados ataques que levaram à perda de seu
anterior predomínio, nunca mais tendo assumido
uma importância maior na Europa.
O funcionalismo é marcado por uma busca
sistemática das consequências sociais de um
dado conjunto de fenômenos deve ser
distinguida de outra noção “prospectiva” nas
ciências sociais: a de propósito.
20. Enquanto esta última se refere a motivações
conscientes de um ou mais agentes, a
primeira é usada para investigar
conseqüências das quais o ator pode não ter
consciência.
21. Alguém executa uma ação quando o que faz
pode ser descrito como intencional. Ações são
conclusões práticas derivadas de intenções e
crenças; “ação” e “racionalidade”
são, portanto, conceitos inter-relacionados. As
teorias sociológicas da ação, desde o tempo de
Max Weber, basearam-se nessa relação para
analisar a ação, seus componentes e seus tipos.
Ações sociais são sempre parte de sistemas mais
amplos e de processos de compreensão
intersubjetiva, o que introduz a questão do papel
do agente (“mediação humana”) nos processos
através dos quais as ações são coordenadas.
22. Aristóteles, em sua Ética a
Nicômaco, observou que a racionalidade de
uma ação residia na conclusão oriunda de
intenções ou normas, e de avaliações tanto
da situação quanto dos meios
disponíveis, para consequências imediatas
em termos de ação.
Um exemplo simples de formação
intencional-racional da vontade é fornecido
pelo imperativo técnico de Kant, o
“imperativo de capacitação”, em que as
intenções se estendem dos fins aos meios.
23. Alguém que deseja fazer algo e sabe como isso
pode ser obtido deve querer obtê-lo através
desses meios. Mesmo os processos complexos
de formação da vontade social, que chegam a
uma decisão como consequência de deliberação
coletiva, podem ser descritos como um processo
de inferência prática.
A conclusão de uma inferência prática é uma
ação. Do ponto de vista do observador, a escolha
de meios disponíveis para determinados fins
explica a ação.
24. A perspectiva do participante, e somente
ela, revela uma relação lógico-semântica
semelhante entre intenções e ações.
A partir desse elementos postos, podemos
começar a pensar a tentativa de realizar uma
aproximação sociológica entre esses pontos
de vistas com diferenças epistemológicas e
ontológicas. Essa empreitada que Giddens
tenta executar na sua Teoria da Estruturação.
25. No Livro A constituição da sociedade, Anthony Giddens
apresenta a sua Teoria da Estruturação, essa teoria é uma
abordagem de caráter crítico. O objetivo de Giddens é
analisar as práticas sociais ordenadas no espaço e no
tempo, e com isso entender como se mantêm estáveis as
relações sociais e a reprodução das práticas sociais.
Dentro de sua visão “prática”, a tarefa da sociologia seria
de "fornecer concepções da atividade social humana e do
agente humano que possam ser colocadas a serviço do
trabalho empírico. A principal preocupação da teoria social
é idêntica a das ciências sociais em geral: a elucidação de
processos concretos da vida social".
26. O centro de análise desta teoria se funda na produção e
reprodução da sociedade. Nos capítulos iniciais de A
Constituição da Sociedade, percebemos que estudar um
sistema social significa estudar as diversas maneiras pelas
quais ele é produzido e reproduzido, interagindo com a
contingência da aplicação das regras e recursos
generativos em contextos impremeditados.
Para atingir seu objetivo Giddens, em a Teoria da
Estruturação procede a uma reavaliação e uma
relativização da separação básica (indivíduo/sociedade)
presente nas teorias sociológicas tradicionais, que
Giddens denomina de consenso ortodoxo (ele se refere,
basicamente, ao funcionalismo e ao estruturalismo).
27. Nesta configuração as práticas sociais são
concebidas como estruturantes e
estruturadas, concepção que se traduz no
teorema da dualidade da estrutura.
O trabalho deste sociólogo britânico pretende ser
uma reconstrução unitária da teoria social uma
vez que, dada a bipolarização da teoria
social, seria chegado o momento para romper
com estas perspectivas dicotómicas dominantes
e aprofundar as tentativas de reconstrução. Neste
sentido a Teoria da Estruturação reconstrói os
temas centrais, criticando os consensos
dominantes.
28. Giddens reavalia as teorias que apresentamos
anteriormente: funcionalista e estruturalista.
Como vimos, para os funcionalistas, o termo
"estrutura" representa a padronização das relações
ou dos fenômenos sociais; a estrutura é externa
aos indivíduos e também exerce coerção social.
Para os estruturalistas, o termo "estrutura" serve
para indicar a padronização das relações sociais
no âmbito de circunstâncias de interações sociais
dentro do tempo-espaço atual e para além desse
contexto. O que importa para Giddes é de como
ocorre a interação entre indivíduo e estrutura.
29. [...] A Teoria da Estruturação estabelece uma
dimensão sintagmática da estrutura - que
representa a padronização das relações sociais
no tempo e no espaço, envolvendo a reprodução
de práticas sociais localizadas - e também
concebe uma dimensão paradigmática da
estrutura - que representa a ordem virtual de
modos de estruturação recursivamente
implicados na reprodução das práticas sociais.
(CANSIAN, Renato in: Teoria da Estruturação.
Artigo. – Universo Online (UOL) Educação).
30. Esta dicotomização tem raízes em várias correntes
sociológicas, designadamente, o interacionismo
simbólico, em que se privilegiava o ator, o sujeito
que agia com intencionalidade, “o subjetivismo”, e
o funcionalismo, o estruturalismo e o neo-
marxismo que davam primazia e prevalência à
estrutura sobre o sujeito, “o objetivismo”. Giddens
destaca o que lhe parece semelhante entre o
funcionalismo de Parsons, ao dizer que “os atores
de Parsons são „drogados‟ culturais”, e o neo-
marxismo de Althusser, ao dizer que “os agentes
de Althusser são „drogados‟ estruturais, de uma
incapacidade ainda mais assombrosa”, ou seja, o
sujeito é o “lugar e a função” que ocupa.
31. No entanto, para sustentar a sua perspectiva
sobre a relação entre ação e estrutura, Giddens
vai ao pensamento original de Marx, em
Grundrisse, e cita as suas palavras: “as
condições e objetivações do processo são elas
próprias igualmente momentos do mesmo e os
seus únicos sujeitos são os indivíduos, mas
indivíduos inseridos em relações mútuas, que
eles igualmente reproduzem e produzem de
novo” (Giddens, 1979, p. 53 e 2000a, p. 10).
Partindo deste pressuposto, Giddens afirma a
relação dialética entre ação e estrutura no
processo histórico de estruturação.
32. A estrutura é considerada dentro do pensamento
giddensiano como um conjunto de regras e recursos
implicados, de modo recursivo, na reprodução social.
Ela é uma ordem virtual de relações transformadoras
que permitem a reprodução das práticas sociais por
dimensões variadas de tempo-espaço.
As regras são elementos normativos e códigos de
significação; e os recursos são de duas ordens:
alocativos (porque derivam do controle de produtos
materiais) e impositivos (porque derivam da
coordenação da atividade dos agentes humanos).
33. O desejo central de Giddens, é destacar que
há uma relativa invariância no espaço e no
tempo, a estrutura; bem como há um reduto
para a agência* do sujeito, a ação. Neste
sentido, a interação entre estas duas
dimensões produz um alto dinamismo nas
sociedades modernas, de modo que a
estruturação da sociedade é processualmente
constituída ao longo do tempo e do espaço.
*Agência em Giddens é um processo que acontece na
continuidade da ação de agentes sociais competentes e
reflexivos. Essencial no conceito de ação é que esta é
fruto da intervenção de agentes autônomos com um
caráter recursivo e reflexivo, controlando não só as
próprias ações, mas também as dos outros atores.
http://www.youtube.com/watch?v=Qy
XIk4yDykI
34. Assim, a reprodução das práticas sociais radica nas
próprias relações humanas que têm lugar em contextos de
interação social. Ao se apoiarem em regras e recursos, os
atores sociais produzem e reproduzem as práticas sociais.
O fluxo constante de ações humanas produz
continuamente, porém, conseqüências que não faziam
parte das intenções dos atores. Conforme Giddens
assinala, "a história humana é criada por atividades
intencionais, mas não constituí um projeto deliberado, ela
se esquiva persistentemente dos esforços para colocá-la
sob direção consciente [...]. Contudo, essas tentativas são
continuamente feitas por seres humanos que agem sob a
ameaça e a promessa de circunstâncias a serem as únicas
criaturas que fazem sua história no conhecimento desse
fato".
35. A estruturação se refere às condições gerando a
continuidade das práticas sociais que são produzidas e
reproduzidas em interação - e os princípios estruturais só
existem à medida que as formas de conduta social são
cronicamente reproduzidas através do tempo e do espaço.
Nesse aspecto, o estudo dos contextos de interação é
inerente à investigação da reprodução social. Giddens
argumenta que o caráter localizado das práticas sociais
raramente pode ser concebido como delimitado pelo
conceito tradicional de sociedade. O autor prefere
empregar o termo regionalização para conceituar a
natureza localizada dos contextos de interação
social, porque tais contextos atravessam sistemas sociais
reconhecidamente distintos.
36. Tendo em vista esta situação limítrofe, a concepção de
história está embasada na própria contingência da
atividade humana. Criada e recriada pelas ações e
atividades intencionais produzidas pelos indivíduos, a
história não é um projeto premeditado, mas sim um
simples resultado de esforços que buscam uma direção
“mais consciente” das atitudes. A relação do tempo e
espaço com a ação humana, neste sentido, simboliza a
dinâmica da vida social. Em Giddens, é na conduta
cotidiana das pessoas, quase sempre sem a preocupação
reformista, que se moldam e se transformam as
sociedades humanas. Interessante notar que esta assertiva
é objeto de críticas por parte de autores contemporâneos:
Giddens não estaria dando a devida atenção aos
impactos da ação coletiva.
37. Deste modo, preocupado com os potenciais
constitutivos da vida social e com a conduta
humana, Giddens observa que não há uma
relação necessária entre o dizer e o fazer, pois o
que resulta de uma ação não é necessariamente
a sua intenção original. Logicamente, a sua
concepção de vida social é episódica e
descontinuísta, recusando a idéia de leis
históricas e a necessariedade da ocorrência de
mudanças. Ao trabalhar com a idéia de
regularidade da conduta social, ressalta que esta
regularidade não é natural, pois não é
mecânica, e também não é habitual, pois é
reflexiva.
38. A Teoria da Estruturação se inscreve num
“amplo movimento de reinterpretação e
síntese” para a construção de novos corpos
teóricos. Giddens tece uma teoria que
pretende dar conta da agência, da
centralidade do agente social reflexivo, da
estrutura e da dinâmica deste processo
através do teorema da dualidade da
estrutura, fazendo-o de uma forma
abrangente entre o voluntarismo e o
determinismo. Tucker sintetiza:
39. “Giddens concebe a relação entre agência e
estrutura como a dualidade da estrutura, na
qual os atores reflexivamente produzem e
reproduzem a vida social. A sua análise social
enfatiza a importância das práticas sociais (as
atividades diárias que reproduzem a
sociedade) e a segurança ontológica (a
confiança e a estabilidade da vida social).”
(Tucker, 1998, p. 76).
40. O que Giddens evidencia é que os agentes, ao
nascerem, surgem em um contexto em que as
estruturas já estão dadas. Entretanto, eles
modificam tais estruturas em um processo
transformador permanente, ao passo que a própria
estrutura também os modifica em contrapartida.
Todas as sociedades têm propriedades
estruturais, ao menos em potência. O que diferencia
as sociedades entre si é a maneira pela qual estas
propriedades vão se expressar historicamente. Não
por menos, se a influência da estrutura nas
sociedades tradicionais era maior, nas sociedades
modernas há o predomínio da ação.
41. Um ponto obscuro mas de demanda importante
na obra de Giddens é a relação entre ação
individual e ação coletiva. Essa por sua vez, por
não possuir muitas pistas na obra de
Giddens, exige um esforço exegético no sentido
de extrair tal relação.
Para Giddens, a democracia é um instrumento de
transformação coletiva. Ao realizar um paralelo
com a democracia, Giddens procura mostrar que
os indivíduos, através de uma mediação, agem
coletivamente no sentido de modificar os
padrões existentes.
42. Essa possibilidade de transformação através da ação
coletiva diz respeito ao fato do indivíduo, enquanto
membro de uma coletividade, ter capacidade de
transformar através de sua ação as coisas, atuando
reflexivamente em uma estrutura. Dando a exata
medida do grau de interferência do indivíduo nas
transformações sociais, segundo Giddens.
Sociologicamente, há duas esferas de atuação dos
indivíduos. Institucionalmente ou particularmente. A
primeira é aquela que acontece, em geral, em contextos
de ausência, na qual os indivíduos agem em consonância
com os sistemas abstratos. A segunda é aquela que
acontece, em geral, no dia-a-dia e em contextos de co-
presença, na qual os indivíduos agem diretamente no
meio social que faz parte e participa.
43. Ao interagir em sistemas abstratos, o sujeito singular
não tem a capacidade de transformação suficiente
para influenciar estes sistemas por si só, de modo
que seria somente por intermédio de uma ação
coletiva igualmente motivada que ele realizaria as
transformações desejadas. A ação coletiva, desta
forma, seria a maneira pela qual o individuo se faz
presente nos sistemas abstratos, reforçando a sua
capacidade transformadora desde que consiga agir
em coletividade. Na dimensão particular, por sua
vez, o indivíduo em sua singularidade tem a
possibilidade de transformar o meio em sua volta
sem o intermédio de uma esfera coletiva.