O documento discute como planejar o processo de ensino-aprendizagem de História de forma a desalienar os alunos e tornar o aprendizado significativo. Sugere começar a partir de problemas atuais vividos pelos alunos ao invés de meramente transmitir conteúdos, e selecionar conteúdos históricos que ajudem a compreender esses problemas. Também discute a importância de definir objetivos, conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais de forma integrada no planejamento.
2. Como começar?
Começar uma aula jogando informações sobre a cabeça dos alunos é
a prática usual nas escolas, mas não faz nenhum sentido. Os alunos
simplesmente não compreendem POR QUE precisam estudar isso.
O que os faraós do Egito tem a ver com seus problemas diários?
Qual a relação entre os nomes das capitanias hereditárias do
século XVI e a “formação de cidadãos críticos e participativos”?
3. Como começar?
Os PCNs e a legislação educacional, toda o conhecimento científico acumulado
sobre educação e mesmo o simples bom senso tem sido jogados no lixo.
Com frequência, a prática escolar tem sido alienada e alienante, contrariando
tudo o que aprendemos na Licenciatura!
Não estamos na escola para formar pequenos historiadores, mas para formar
cidadãos.
Há problemas urgentes que exigem compreensão aprofundada e histórica e
debate organizado. Se não fizermos isso, demagogos vão criar uma inifinidade
de novas disciplinas como “Educação Para o Trânsito”, “Aulas sobre Drogas”,
“Sustentabilidade” etc., como se esses temas não pudessem ser tratados nas
disciplinas existentes.
4. Como começar? Reflita e desaliene-se
Os
conteúdos
tradicionais
podem ser
tratados de
duas
formas:
De forma alienada,
rotineira, como fins
em si mesmos, em
grande quantidade, de
forma expositiva, sem
sentido e sem
aprendizagem alguma
(conteudismo). Alunos
passivos e
desinteressados.
OU
Selecionando-se uma
pequena quantidade de
temas que SIRVAM
como meios para
compreender a
sociedade e o mundo
em que vivemos, tendo
como PONTO DE
PARTIDA problemas
atuais vividos pelos
alunos direta ou
indiretamente.
5. Como começar? Reflita e desaliene-se
Veja um exemplo do que acontece quando começamos pelos conteúdos (como se faz
usualmente, em um ensino alienado com alunos passivos):
“Conteúdos: Causas da Revolução Industrial. Primeira Revolução Industrial
(revolução do ferro e do carvão). Capitalismo liberal. Segunda Revolução
Industrial (revolução do aço e do petróleo). Capitalismo monopolista.
Consequências da revolução industrial.”
“Objetivos: Compreender a Revolução Industrial. Estudar as consequências da
Revolução Industrial. Analisar as consequências da Revolução Industrial.”
Veja bem: para que redigir objetivos e conteúdos se eles são a mesma coisa? Isso já mostra que
se começou de forma errada. É um ensino fechado em si mesmo, alienado.
6. Como começar? Reflita e desaliene-se
Assim, mesmo que você se sinta na obrigação de tratar de temas
tradicionais de Pré-História, Antiga, Medieval, Moderna e
Contemporânea, selecione e recorte conteúdos relevantes para que
os alunos compreendam melhor o mundo em que vivem.
Lembre-se: o livro didático TAMBÉM é um recorte. Seus autores
também fizeram uma seleção. Melhor aprender significativamente a
história do que receber milhares de informações irrelevantes que
serão esquecidas logo a seguir.
Quem está no controle? Você ou o autor do livro didático?
7. O que diz TODA A LITERATURA
ESPECIALIZADA?
O processo de ensino-aprendizagem deve
ter a PRÁTICA SOCIAL como ponto de
partida e ponto de chegada.
8. Como começar? Reflita e desaliene-se
Ao começar um PLANO DE ENSINO E APRENDIZAGEM, você precisa
fazer uma reflexão ou problematização. Ensinar de forma alienada
não leva a lugar algum, mas também não exige reflexão. Ensinar de
forma efetiva e emancipatória exige PARAR PARA PENSAR sobre as
capacidades e as necessidades dos alunos. É isso que permitirá
definir os objetivos e, DEPOIS, selecionar os conteúdos.
9. Como começar? Reflita e desaliene-se
Basta fazer um teste rápido:
O que te ensinaram em oito anos de escola serve agora para compreender a
fundo o que significou a ditadura e quais classes sociais se beneficiaram dela?
Ajudou a compreender os problemas de nossa democracia? Contribuiu para
você entender a situação da América Latina, a crise econômica mundial iniciada
em 2008, o conflito no Oriente Médio, a violência urbana e no campo no Brasil?
Você chegou à faculdade sabendo preparar seminários, analisar criticamente
textos argumentativos e interpretar as intenções do autor, redigir resumos e
organizar seu estudo?
Se a resposta a todas essas questões for SIM, ótimo! Pode imitar os professores
que teve. Se NÃO, você precisa romper com a forma de ensinar que conheceu.
10.
11. Como começar? Reflita e desaliene-se
PARA QUE OS ALUNOS COMPREENDAM...
Desigualdade social/ miséria
Corrupção
Violência contra a mulher
Discriminação/ intolerância religiosa
Racismo
ESTUDEM CONTEÚDOS COMO:
Pré-História; diferentes relações de trabalho
Fim da Ditadura e transição (1974-1992);
República Velha (1889-1930)
mulher no Brasil Colonial; mulher na Idade
Média (Joana D’Arc. Perseguição às Bruxas)
nascimento do Cristianismo; Cruzadas;
Islamismo; heresias medievais
escravidão antiga e moderna e tráfico
negreiro; Colonialismo; Apartheid; nazismo
12. Como começar? Reflita e desaliene-se
INVERSAMENTE, SE PRECISAMOS TRABALHAR
ESTES CONTEÚDOS...
Guerra Fria
Roma Antiga
Brasil Império
...QUE ELES SIRVAM PARA COMPREENDER
COISAS COMO:
compreender características do capitalismo e
do socialismo “real”; conceitos de democracia
e ditadura; problemas da democracia atual
lutas de grupos oprimidos contra grupos
dominantes (ex. luta pela Reforma Agrária);
clientelismo; liberdade religiosa x
discriminação religiosa; diferentes tipos de
relação de trabalho
como se “fabrica” uma nação e seus cidadãos
13. Como começar? Reflita e desaliene-se
Por acaso os alunos já chegam motivados para QUERER aprender
História (ou qualquer outra disciplina escolar)? Pode crer, eles não
saem de casa “loucos de vontade” de decorar datas e nomes de reis
e generais mortos há 500 anos.
Podemos no entanto conquistá-los, prender sua atenção e mobilizar
energias incríveis dos alunos tomando como PONTO DE PARTIDA
questões que tem impacto sobre eles.
Se fizermos isso, os alunos realmente sentirão a necessidade e terão
interesse em compreender processos e conceitos históricos. São os
Conteúdos Conceituais.
14. Como começar? Reflita e desaliene-se
Os alunos já nascem sabendo fazer resumos, seminários? Já
dominam técnicas de estudo antes de chegar à escola? Acredite:
por incrível que pareça, eles não nascem sabendo fazer essas
coisas.
Precisamos ensiná-los. Esses são os Conteúdos Procedimentais.
15. Como começar? Reflita e desaliene-se
Os alunos já vem de casa com as atitudes necessárias ao convívio democrático,
como a empatia, a cooperação, o respeito, a preferência pelo diálogo?
SURPRESA: não, eles não desenvolvem isso naturalmente, como os pelos que
aparecem na puberdade. Pelo contrário, vivendo em uma sociedade marcada
pelo fenômeno da alienação, é comum que cheguem à escola com atitudes
contrárias ao convívio democrático. Precisamos ensinar. São os Conteúdos
Atitudinais.
16. As relações entre as partes do plano
Se eu começo com os conteúdos, eles se tornam os
objetivos.
O que são os meios e o que são os fins?
Síncrese, análise e síntese
17. Síncrese – as ideias iniciais dos alunos
Conhecimentos
prévios
Possuem coerência do ponto
de vista do aluno, não do da
ciência
São estáveis e
resistentes à
mudança
Procuram a UTILIDADE,
mais do que a verdade
São implícitos,
não explícitos
São compartilhados por
outras pessoas (senso
comum)
São construções
pessoais
(espontâneas)
18. Avaliação: não complique!
Se realmente queremos superar a avaliação terminal e praticar uma avaliação
realmente contínua e promotora, integrada ao processo de ensino e aprendizagem, só
precisamos planejar em que momentos iremos privilegiar a coleta e/ou observação da
produção dos alunos para saber o quanto eles atingiram ou não os objetivos do início
do plano. TEMOS DE AVALIAR SE CADA UM DOS OBJETIVOS FOI ATINGIDO. Assim
deveria ser em qualquer planejamento.
Temos insistido nisso, pois o processo avaliativo na prática escolar frequentemente
contraria todo o bom senso, esquecendo os objetivos.
19. Avaliação: não complique!
No entanto, a maioria dos estudantes da licenciatura continua escrevendo uma “frase-
padrão” na parte do plano sobre avaliação, ignorando os objetivos:
“A avaliação será de forma contínua: através da participação individual do aluno
durante as discussões e explicações, na criatividade da atividade proposta (produção de
texto), nas apresentações em grupos com domínio de conteúdo e posturas”.
Mas como se faz então essa avaliação “contínua”?
Como se avalia “participação”, se mesmo no ensino superior apenas 10% da turma faz
perguntas, opina, arrisca hipóteses? Zero para 90% da turma?
Como se avalia essa “criatividade”?
Que “posturas” são avaliadas e como? Por que isso não estava previsto nos objetivos?
No fim das contas, só se avalia conteúdo, pois ele mesmo era o objetivo.