Este documento discute as bases filosóficas do idealismo e do materialismo, comparando as visões de pensadores como Platão, Aristóteles, Descartes, Marx e Engels. Também aborda a possibilidade de um marxismo ecológico, analisando textos como os Manuscritos Econômico-Filosóficos e A Ideologia Alemã. Por fim, reflete sobre a renovação do marxismo e o ecossocialismo.
Versão enviada desenvolvimento e sustentabilidade em questão análise do desem...
Marxismo, diversidade e ecologia
1. XI ENCONTRO HUMANÍSTICO
DIVERSIDADE
JOSÉ ARNALDO DOS SANTOS RIBEIRO JUNIOR (NEPS/FFLCH/USP)
Marxismo e Diversidade: Teoria, Poder e Ecologia
14 a 18 de novembro de 2011 – São Luís - MA
Centro de Ciências Humanas – UFMA
3. 1 O Idealismo
• Conceito;
• Idealistas importantes: O filósofo Platão (427-348 a.C), o filósofo Aristóteles
(384a.C - 322a.C), o filósofo irlandês George Berkeley (1685-1753) e o filósofo
alemão George W. F. Hegel (1770-1831).
• Platão: os objetos reais são apenas uma representação da ideia;
• Aristóteles: teoria das quatro causas;
• Teoria das quatro causas: causa material (responsável pela matéria de alguma coisa),
a causa formal (responsável pela essência ou natureza da coisa), a causa motriz ou
eficiente (responsável pela presença de uma forma em uma matéria) e a causa final
(responsável pelo motivo e pelo sentido da existência da coisa);
• Exemplo: madeira – cadeira –trabalhador- assento
4. • Causa material (aquilo que alguma coisa é feita) está ligada à causa motriz ou
eficiente (o agente que faz o objeto) ; Em contrapartida a causa formal está ligada à
final, pois os seres são criados com uma finalidade. Assim, é a finalidade que
determina a essência ou natureza da coisa ;
• Consequência: distinção entre a atividade técnica (poiésis) versus atividade ética e
política (práxis)
• a primeira é considerada uma rotina mecânica, em que um trabalhador é uma causa
eficiente que introduz uma forma numa matéria e fabrica um objeto para alguém.
Esse alguém é o usuário e a causa final da fabricação. A práxis, porém, é a atividade
própria dos homens livres, dotados de razão e de vontade de deliberar e escolher
uma ação. Na práxis, o agente, a ação e a finalidade são idênticos e dependem
apenas da força interior ou mental daquele que age. Por isso, a práxis (ética e
política) é superior à poiésis (o trabalho) (CHAUÍ, 2008:11).
5. • História e Filosofia Medieval: solidificação do idealismo platônico e a herança
aristotélica nas figuras de Santo] Agostinho e [São] Tomás de Aquino;
• Se Platão falava que só a ideia era perfeita, em oposição à realidade mundana, o
cristianismo operará sua própria leitura, opondo a perfeição de Deus à imperfeição
do mundo material. Essa leitura de Aristóteles e Platão efetuada pela Igreja na
Idade Media se faz evitando-se outras leituras através da censura, como muito bem
o demonstrou Umberto Eco em O Nome da Rosa. Enfim, com o cristianismo, os
deuses já não habitam mais esse mundo, como na concepção dos pré-socráticos. E,
apesar da acusação de obscurantismo que mais tarde os pensadores modernos
lançarão aos tempos medievais, a dívida que a Ciência e a Filosofia modernas têm
para com a Idade Media é maior do que se admite. Foi na Idade Media, por
exemplo, que teve início a prática de dissecação de cadáveres no ocidente europeu.
Esse fato é de uma importância muito grande e se constituiu numa decorrência
lógica de uma Filosofia que separa corpo e alma. Se a alma não habita mais o
corpo depois de morto, este, como objeto pode ser dissecado anatomicamente.
Afinal, aquilo que o anima (do grego ânima, alma) não está mais presente. O corpo,
matéria, objeto pode então ser dissecado, esquartejado, dividido. O sujeito, o que
faz viver, foi para os céus ou para os infernos e o corpo pode então virar objeto... O
método experimental já estava em prática nos monastérios e universidades católicas
muito antes de Galileu (PORTO-GONÇALVES, 2006a: 32-33).
6. • Contraponto à concepção dos filósofos pré-socráticos (Tales, Anaximandro,
Heráclito, Pitágoras, Parmênides, Zenão, Leucipo, Demócrito): existência de deuses
que habitavam esse mundo material terreno, da natureza (physys) ;
• Redução das quatro causas a duas: a eficiente(o agente que faz o objeto) e a final;
• “A Natureza age de modo inteiramente mecânico”
• Plano físico: “Não existem causas finais na Natureza”
• Berkeley: O idealismo filosófico consiste em demonstrar que a existência das coisas
está condicionada às sensações (POLITZER, 1986);
• Características do idealismo de Hegel: dialética idealista; realidade como
manifestação do Espírito
• Aproximação com o judaico-cristianismo: Deus é o Espírito; a natureza e os homens
são apenas exteriorizações de Deus;
7. 2 O Materialismo
• Conceito;
• Materialistas notáveis: filósofos Epicuro (341 a.C - 270 a.C), Francis Bacon (1561-
1626), René Descartes (1596-1650), Ludwig Feuerbach (1804-1872), Karl Marx
(1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895);
• Epicuro: filosofia antiteleológica ou seja, rejeita todas as explicações naturais
alicerçadas em causas finais, na intenção divina (FOSTER, 2010)
• Bacon: “grande livro da natureza”; fuga da metafísica, da filosofia aristotélica e da
escolástica; ciência experimental (POLITZER, 1986);
• Descartes: embrião do materialismo francês; não sepultou a religião mas criticou
tenazmente o pretenso monopólio da verdade pela Igreja; alcance da verdade via
razão.
• Ludwig Feuerbach: materialismo mecânico, ignorava o desenvolvimento histórico e
era contemplativo.
8. 3 Materialismo marxiano , ciência e indústria
• Principais características do materialismo marxiano: antiteleológico, científico e
dialético;
• Engels (1982: 186): O filisteu entende por materialismo o comer e o beber sem
medida, a cobiça, o prazer da carne, a vida faustosa, a ânsia do dinheiro, a avareza, a
sede do lucro e as especulações na bolsa; numa palavra, todos esses vícios infames
que ele secretamente acalenta; e, por idealismo, a fé na virtude, no amor ao próximo
e, em geral num “mundo melhor” [...]
• Qual a importância de Feuerbach para Marx e Engels?
• O exclusivismo epistemológico da ciência;
• Noção de idolatria: mecanismo de coerção social, de repressão ideológica, que
ofusque o processo de alienação; Ex: Igreja, Estado, mercadoria;
9. • Materialismo e ciência: Engels tinha conhecimento da teoria da evolução de Darwin e dos
conhecimentos químicos de Justus Liebig;
• Evolução em Darwin: processo natural e, portanto, objetivo. [...] A evolução passa a ser
concebida como um processo natural, inexorável e independente da vontade dos homens. Tem
o seu tempo certo, como uma fruta que não pode ser arrancada antes ou depois do tempo
(PORTO-GONÇALVES, 2006: 52).
• Conhecimentos químicos de Liebig: química dos solos e ao crescimento da indústria de
fertilizantes que caracterizou a revolução agrícola entre 1830-1880 (FOSTER, 2010).
• O perigo de um raciocínio metafísico que separa natureza e história;
• Engels (1982: 184): “homem não vive apenas na natureza, mas também na sociedade
humana”
• A concepção ampla de economia em Engels e Marx: engloba não só o desenvolvimento das
forças produtivas, mas também a dimensão política (enquanto luta pelo poder, imposição de
limites) e a base natural (processos ecológicos);
• Existe um Marxismo Ecológico (ALTVATER, 2006)?
10. 4 O prelúdio ecológico de Haeckel
• Ernst Haeckel (1834-1919): Biólogo/Zoólogo;
• Termo Ecologia (do grego oikos, „casa‟; logos, „estudo‟) , livro
Morfologia geral dos organismos (CUNHA, 2006; NUCCI, 2007);
• Dois pólos: antropocentrismo exacerbado e redução do homem;
• Princípio da igualdade biocêntrica;
• Crítica de Löwy (2005) a igualdade biocêntrica;
• Como se enquadra a temática ecológica em Marx e Engels?
11. 5 A possibilidade de um Marxismo Ecológico nos Manuscritos Econômico-Filosóficos
•Caracterização dos Manuscritos Econômico-Filosóficos (1844);
•“O homem vive da Natureza” (MARX, 2006)
•Contraponto a Descartes (2008:60): [homens] “senhores e possuidores da
natureza”;
•Resolução do antagonismo: o comunismo;
•“O homem é diretamente um ser da Natureza” (MARX, 2006:182)
12. 6 Rastreando um marxismo ecológico n’A Ideologia Alemã
• Síntese da Obra: historia das ideias, influencia hegeliana, “filosofia que desce do
céu da terra”, paradigma platônico-aristotélico;
Caracterização do trabalho de Hegel
•Definição do real pela Cultura através dos movimentos de exteriorização e
interiorização do Espírito;
•Revoluciona o conceito de história por três motivos: 1)não pensa a história como
uma sucessão contínua de fatos no tempo; 2)não pensa a história como uma
sucessão de causas e efeitos; 3) pensa a história como processo contraditório
unificado, plenamente racional;
• História como história do Espírito e como reflexão;
•Trabalho filosófico que procura dar conta do conceito de alienação;
•Deus é o espírito e a materialidade é apenas o reflexo das ações de Deus
13. Características da obra de Marx e Engels
•A contradição para Marx e Engels: luta de classes;
•O caráter dialético e materialista do real;
“O homem depende sobretudo da natureza” (Marx e Engels, 2007);
• Oposição entre Natureza e História: realidade e idealidade;
•História Natural e Natureza histórica;
•A insuficiência do materialismo de Feuerbach;
•Instrumentos de produção natural e civilizados;
•O caráter destrutivo das forças produtivas;
14. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS: renovação do Marxismo e Ecossocialismo
•Unidade entre Homem e Natureza (SMITH, 1988);
•Tensão: homem parte da Natureza/Natureza exterior ao homem;
•Caráter destrutivo das forças produtivas (MARX; ENGELS, 2007);
•Externalidades (MARTÍNEZ ALIER, 2007);
•Busca de uma saída filosófica e econômica;
•Crítica das soluções tecnológicas;
•Ampliação do materialismo histórico[-geográfico];
•Cosmovisão materialista da natureza histórica e da história natural
15. REFERÊNCIAS
ALTVATER, Elmar. Existe um marxismo ecológico? In: BORON, A; AMADEO, J;
GONZÁLEZ, S(orgs.). A teoria marxista hoje: problemas e perspectivas. Buenos
Aires: CLACSO: 2006. pp.327-349.
BACON, Francis. Novum Organum ou Verdadeiras Indicações Acerca da
Interpretação da Natureza. Trad. José Aluysio Reis de ANDRADE. 2002. Versão
eletrônica disponível em: www.dominiopublico.gov.br.
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 2ªed. São Paulo: Brasiliense, 2008.
CUNHA, Marlécio Maknamara da Silva. “O caos conceitual-metodológico na educação
ambiental e algumas possíveis origens de seus equívocos”. Ambiente & educação. Vol.
11. 2006. p.75-89.
DESCARTES, René. Discurso do método/Regras para a direção do espírito. São
Paulo: Martin Claret, 2008.
ENGELS, Friedrich. Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã. In: Obras
Escolhidas. Volume 3. São Paulo: Alfa-Omega, 1982.
FOSTER, J. B. A ecologia de Marx: Materialismo e natureza. Trad. Maria Teresa
MACHADO. 2ªed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
KONDER, Leandro. O que é dialética. São Paulo: Brasiliense, 2008
LÖWY, Michael. Ecologia e Socialismo. São Paulo: Cortez, 2005.
MARTÍNEZ ALIER, Juan. O Ecologismo dos Pobres: conflitos ambientais e
linguagens de valoração. Trad. Mauricio WALDMAN. São Paulo: Contexto, 2007.
16. MARX, Karl Heinrich. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Trad. Alex MARINS.
São Paulo: Martin Claret, 2006.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Feuerbach - A Oposição entre
as Cosmovisões Materialista e Idealista. Trad. Frank Müller. São Paulo: Martin Claret,
2007.
NUCCI, João Carlos. “Origem e desenvolvimento da ecologia e da ecologia da
paisagem”. Revista Eletrônica Geografar, Curitiba, v. 2, n. 1, p.77-99, jan./jun. 2007.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Os (des)caminhos do meio ambiente. 14. ed.
São Paulo: Contexto, 2006.
RIBEIRO JUNIOR, J. A. S; ALMEIDA, J. G; TIERS, T. F. S. O vermelho e o verde:
Rastreando um marxismo ecológico n’A Ideologia Alemã. Anais do X Encontro
Humanístico. Núcleo de Humanidades/CCH/UFMA, 2010.
RIBEIRO JUNIOR, J. A. S; ALMEIDA, J. G; TIERS, T. F. S. Existe um Marxismo
Ecológico? Discurso, Natureza e Ideologia da Natureza nos Manuscritos
ECONÔMICO-FILOSÓFICOS de Karl Marx (1844) . Anais do X Encontro
Humanístico. Núcleo de Humanidades/CCH/UFMA, 2010.
SMITH, Neil. Desenvolvimento desigual. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.