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Quinta-feira, 6 de setembro, vés-
pera de feriado, período da tar-
de, muitos brasileiros se prepa-
rando para a folga prolongada,
mas os profissionais de saúde
que trabalham com urgência e
emergência seguem o seu calvá-
rio, principalmente aqueles que
optam por trabalhar no Sistema
Único de Saúde (SUS). Nas San-
ta Casas e nos hospitais do SUS
o setor de emergência, os cha-
mados pronto socorros, estão
sempre superlotados. Os leitos
em unidade de terapia intensi-
va, para uma internação de ur-
gência, rotineiramente indispo-
níveis. Mas os profissionais que
fizeram a opção por trabalhar
nessa área, os quais no meio
médico são frequentemente fi-
gurativamente denominados de
“heróis”, estão lá, muitos deles
bem preparados, com formação
inicial de seis anos do curso de
Medicina (essa área não é um
business, lida com salvar as nos-
sas próprias vidas), residência
médica de 3 a 5 anos de dura-
ção, noites mal dormidas longe
da família e amigos, mas muita
esperança.
Esperança é o que move o
brasileiro atualmente. Principal-
mente para quem trabalha no
SUS. Não aguentamos mais ver
doentes sofrendo em macas en-
quanto políticos desviam mi-
lhões de reais, sucatenado a saú-
de pública. Não suportamos
mais ter que escolher qual o
doente que irá utilizar a última
vaga da UTI. Não toleramos
mais a violência espalhada pelo
País, que tem o maior número
absoluto de homicídios do mun-
do, de maneira que qualquer
um de nós, nos próximos minu-
tos, pode ser a próxima vítima.
E o que é pior, muitos desses
profissionais bem formados
aqui estão migrando para ou-
tros países, onde se destacam
profissionalmente. Essa facada
pode renovar as nossas esperan-
ças.
No hospital denominamos a
facada de ferimento por arma
branca, que é um traumatismo
penetrante, que faz parte de
causas externas, especificamen-
te por violência interpessoal. Pa-
ra a Organização Mundial de
Saúde isso é uma doença, co-
nhecida como trauma, respon-
sável no Brasil por mais de
150.000 mortos anualmente, de-
vido principalmente aos homicí-
dios e ao nosso comportamento
irresponsável no trânsito (esse
tem prevenção!). Nos finais de
semana e véspera de feriados
aumenta a incidência dessa
doença, devido principalmente
ao consumo de álcool e drogas
(particularmente considero o ra-
dicalismo político uma overdo-
se). Num hospital do SUS quan-
do chega mais um paciente agu-
damente acometido por essa
doença, todos são tratados de
maneira igual, independente se
é branco ou negro, hetero ou ho-
mosexual, policial ou presidiá-
rio, rico ou pobre. Os bons pro-
fissionais capacitados para isso,
médicos, enfermeiros, técnicos,
fisioterapeutas, nutricionistas, e
outros da área de saúde, carre-
gam isso no seu respectivo códi-
go de ética, que é potencializa-
do com o trabalho em equipe,
em que todos conseguem êxito
ou não, aos que anonimamente
necessitam de um atendimento
de urgência.
Facada no abdome é rotina
nos centros de referência em
trauma. Quando o paciente é
admitido com sinais de profun-
da hemorragia o risco de vida é
alto. Mas quando é atendido nu-
ma Santa Casa com profissio-
nais muito bem capacitados,
com protocolos de condutas pa-
ra as situações graves, que hu-
mildemente controlam a hemor-
ragia e salvam a vítima, é moti-
vo de muito orgulho para quem
acredita no SUS e no Brasil. Ba-
seado em experiência pessoal
adquirida no HC — Unicamp e
informações divulgadas pela mí-
dia é possível prever que o qua-
dro clínico do paciente Jair Mes-
sias Bolsonaro ainda é conside-
ralvemente grave, e inspira cui-
dados. Temos que dar os para-
béns para a equipe da Santa Ca-
sa de Misericórdia de Juiz de Fo-
ra, exemplo para todo o Brasil,
e agradecê-los, pois embora
não seja possível prever o futu-
ro, a boa ação desses profissio-
nais pode ter salvo uma nação
atolada em corrupção.
Aqui em Campinas a nossa
centenária Santa Casa não aten-
de urgências, exceto o Centro
de Tratamento de Queimadu-
ras. Os “heróis” do SUS estão de
plantão diariamente no HC —
Unicamp, Hospital Municipal
Dr. Mário Gatti (onde eu tive a
honra de trabalhar de 2000 a
2006), Hospital da PUC Campi-
nas e Complexo Hospitalar Ou-
ro Verde (pena que não ainda
com capacidade total), que tra-
balham em rede na área do trau-
ma junto com as equipes de pré
hospitalar fixo (unidades de
pronto atendimento) ou móvel
(SAMU, Corpo de Bombeiros e
concessionárias de rodovias).
Temos que seguir o exemplo de
Juiz de Fora. Assim como lá,
nossos heróis não morrem de
overdose.
Foram semanas ricas em notícias
importantes. E não estou falando
de eleições ou candidatos. Se
bem que os candidatos deveriam
se preocupar com isso. (1) O agro-
negócio foi o campeão em fecha-
mento de vagas. (2) O produto in-
dustrializado nacional chega ao
mercado 30% mais caro que os
concorrentes. (3) A Capes vai cor-
tar milhares de bolsas de Pós-Gra-
duação em função do corte de
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Assuntos aparentemente inde-
pendentes e desconexos. Será?
Acho que não. Há um denomina-
dor comum na raiz de tudo isso:
pesquisa.
Os chamados, até há pouco
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ram seu desenvolvimento indus-
trial fortemente apoiado em pes-
quisa, com geração de patentes e
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ram em produtividade. Para isso,
mandaram contingentes de re-
cém-saídos das universidades
buscar formação mais completa
no exterior. Na volta, havia estru-
tura para que pudessem traba-
lhar. No Brasil, desde a criação da
Embrapa, houve interesse na
complementação da formação de
pessoal na área do agronegócio.
E, senhores, qual o setor no qual
o Brasil é realmente competitivo?
Qual o setor que vem bancando
as contas nacionais? O agronegó-
cio. Mera coincidência? Claro que
não!
E agora outra notícia: a Capes,
a principal financiadora da Pós-
Graduação no Brasil, sofre cortes
a ponto de interromper o progra-
ma de formação dos pesquisado-
res que poderiam realizar as pes-
quisas, gerar patentes, criar e
aperfeiçoar processos. Não me pa-
rece muito inteligente da parte do
governo.
Bom, e o problema de fecha-
mento de vagas no agronegócio?
Primeiramente, o negócio é que
não é bom negócio ter muitos em-
pregados no meio rural. Uma le-
gislação trabalhista completamen-
te fora da realidade.
Depois, onde tem se investido
em formação de pesquisadores?
Onde, apesar dos pesares, a pes-
quisa brasileira tem sido reconhe-
cida mundialmente? Na produ-
ção agrícola e pecuária. Há, é cer-
to, outras áreas, como a medicina
e umas poucas outras.
O desenvolvimento tecnológi-
co, com o barateamento das tec-
nologias, mais a dificuldade im-
posta pela legislação, resulta em
demissões na área mais competiti-
va de nossa economia. Também,
no campo, se exige hoje pessoal
cada vez mais qualificado. O agro-
negócio deixou de ser um depósi-
to de mão de obra não qualifica-
da. A solução? Educação e qualifi-
cação, para que este contingente
consiga colocação, desta vez com
salários mais altos.
Entretanto, nem tudo são flo-
res, mesmo nesta área tecnologi-
camente avançada da sociedade
brasileira. Começando pela área
federal, a Embrapa ficou meio fo-
ra de rumo, e sofre necessária
reestruturação. As universidades
formadoras dos quadros de pes-
quisadores padecem de falta crô-
nica de recursos para o desenvol-
vimento de pesquisa de alto nível,
para o que dependem de convê-
nios com instituições do exterior.
O CNPq, um dos principais fi-
nanciadores de pesquisa, tem lan-
çado menos editais de pesquisa, e
os lançados não têm seus valores
corrigidos há tempos. Em São
Paulo, a Fapesp, importantíssima
e fundamental, sobrevive como é
possível. Os institutos de pesqui-
sa como o Agronômico de Campi-
nas, o de Zootecnia, o Biológico,
o de Economia Agrícola, entre ou-
tros, são deixados a morrer de ina-
nição. Falta de responsabilidade
dos governos.
Enfim, o agronegócio que vive
e faz o Brasil viver, é competitivo
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ficado com base na pesquisa do
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comparando, como um cami-
nhão na banguela, na descida,
usando a energia acumulada. Es-
tá tudo bem. Mas, ali na frente
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Nossa liberdade constitucional
de expressão tem limites? Sim.
São os limites da lei e da juris-
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mos ou não, mesmo que, venha-
mos e convenhamos, existam
condenações nitidamente ques-
tionáveis. Independentemente
disso, o importante é que os me-
canismos habituais do Estado
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um patrocínio legal; o ofendi-
do, que tem a liberdade para
mover a ação, e o juiz ou tribu-
nal, que têm a liberdade de con-
vicção motivada para julgar as-
sim ou assado.
Lamento dizer que não in-
ventaram nada melhor que is-
so. Todas as outras alternativas
gozam de uma séria anomalia
genética: invertem uma série de
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dos há séculos em favor justa-
mente da liberdade de expres-
são.
Órgão censor, comitê de críti-
ca, departamento de imprensa
e propaganda, notificação judi-
cial, seja o nome que for, no fun-
do, está a se tutelar a censura
em nome de uns valores da ca-
beça de um juiz, de um partido
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ideologia ou religião. No passa-
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Recentemente, a Alemanha
resolveu seguir por esse cami-
nho pantanoso. Pretende-se,
por via legal, a imposição de
multa administrativa, em valor
crescente, às redes sociais que
veicularem os crimes de notícia
falsa ou de incitamento ao ódio
que não forem deletadas no pra-
zo assinalado pelo "censor" ad-
ministrativo. Uma originalida-
de desnecessária.
Fico a imaginar um exército
de funcionários contratados,
reunido numa sala padrão "tele-
marketing", a vigiar e censurar
mais de dois bilhões de mensa-
gens diárias que passeiam pela
rede mundial de computado-
res. Deve ser inútil, caro e para-
noico. O problema não está em
louvar a estupidez disso tudo.
Mas tão somente o fato de
que, nessa linha de raciocínio, a
definição dos crimes deixa a es-
fera judicial e migra para a esfe-
ra das redes sociais. Em outras
palavras, é o Zuckerberg, e não
mais um magistrado, que dirá
se uma conduta virtual é tipica-
mente penal ou não.
É perfeitamente razoável im-
putar criminalmente uma men-
sagem que incite o assassinato
de minorias ou de opositores
políticos ou que calunie, gratui-
tamente, qualquer pessoa. Con-
tudo, onde fica o lugar da sáti-
ra, sempre tomada a partir de
preconceitos sociais ou de fatos
do imaginário popular?
Onde fica o lugar de uma crí-
tica política ou econômica mais
dura e seca, que tangencie um
excesso retórico, e esteja reple-
ta de verbalismos, de qualificati-
vos pouco elogiosos e ironias
sarcásticas? Onde fica o lugar
de uma posição que seja contrá-
ria, com fundamentos ponderá-
veis, ao aborto, ao casamento
homoerótico, ao estatuto do de-
sarmamento, à poliafetividade,
à manipulação genética e ao
multiverso familiar? Onde fica o
lugar para dizer que existe um
time de futebol sempre aliviado
pelo apito amigo? Vira tudo
fake news?
São hesitações que jamais
deveriam ser respondidas pelos
funcionários do Zuckerberg e,
muito menos, pelas massas en-
sandecidas que são dadas a apa-
gar ou a denunciar tudo aquilo
de que discordam ou, ainda,
por burocratas públicos que te-
nham decorado a cartilha das
“verdades oficiais” do governo
a que pertencem. Em nome da
“tolerância”, por óbvio.
Nessa linha, a mera discor-
dância, exemplificada nas per-
guntas anteriores, seria um dis-
curso de ódio e a exclusão da
mensagem indesejada, da rede
social, seria uma forma bem es-
camoteada de censura. Por is-
so, seja em crimes manifestos
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abuso ou desvio flertam entre
si, é perante os juízes e os tribu-
nais que tais excessos devem
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te, punidos.
Resulta um tanto triste que a
opinião pública e a universida-
de não estejam lá muito dispos-
tos a defender a liberdade de ex-
pressão, quando seu desenho
sai do quadrado dos padrões
politicamente corretos. Até já in-
ventaram curiosas expressões
para não machucar as suscetibi-
lidades infantis de muitos adul-
tos, que se sentem “incomoda-
dos” diante daquelas hesita-
ções: safe space ou trigger war-
ning.
Seria ridículo se não fosse
trágico. Outro dia, um desses
ressentidos pediu que retirasse
uma imagem, composta por mi-
nha face e o título de um artigo,
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de social. Sugeri que fosse pro-
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Coordenação: Marcelo Pereira marcelop@rac.com.br Correio do Leitor leitor@rac.com.br
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I I Ciro Rosolem é vice-presidente de
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Marcelo Knobel, reitor da Unicamp, sobre carta de intenções assinada com a CPFL e a Universidade de Energia Elétrica de Shanghai
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A2 CORREIO POPULARA2 Campinas, quarta-feira, 12 de setembro de 2018

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Profissionais da saúde seguem no SUS apesar dos desafios

  • 1. Quinta-feira, 6 de setembro, vés- pera de feriado, período da tar- de, muitos brasileiros se prepa- rando para a folga prolongada, mas os profissionais de saúde que trabalham com urgência e emergência seguem o seu calvá- rio, principalmente aqueles que optam por trabalhar no Sistema Único de Saúde (SUS). Nas San- ta Casas e nos hospitais do SUS o setor de emergência, os cha- mados pronto socorros, estão sempre superlotados. Os leitos em unidade de terapia intensi- va, para uma internação de ur- gência, rotineiramente indispo- níveis. Mas os profissionais que fizeram a opção por trabalhar nessa área, os quais no meio médico são frequentemente fi- gurativamente denominados de “heróis”, estão lá, muitos deles bem preparados, com formação inicial de seis anos do curso de Medicina (essa área não é um business, lida com salvar as nos- sas próprias vidas), residência médica de 3 a 5 anos de dura- ção, noites mal dormidas longe da família e amigos, mas muita esperança. Esperança é o que move o brasileiro atualmente. Principal- mente para quem trabalha no SUS. Não aguentamos mais ver doentes sofrendo em macas en- quanto políticos desviam mi- lhões de reais, sucatenado a saú- de pública. Não suportamos mais ter que escolher qual o doente que irá utilizar a última vaga da UTI. Não toleramos mais a violência espalhada pelo País, que tem o maior número absoluto de homicídios do mun- do, de maneira que qualquer um de nós, nos próximos minu- tos, pode ser a próxima vítima. E o que é pior, muitos desses profissionais bem formados aqui estão migrando para ou- tros países, onde se destacam profissionalmente. Essa facada pode renovar as nossas esperan- ças. No hospital denominamos a facada de ferimento por arma branca, que é um traumatismo penetrante, que faz parte de causas externas, especificamen- te por violência interpessoal. Pa- ra a Organização Mundial de Saúde isso é uma doença, co- nhecida como trauma, respon- sável no Brasil por mais de 150.000 mortos anualmente, de- vido principalmente aos homicí- dios e ao nosso comportamento irresponsável no trânsito (esse tem prevenção!). Nos finais de semana e véspera de feriados aumenta a incidência dessa doença, devido principalmente ao consumo de álcool e drogas (particularmente considero o ra- dicalismo político uma overdo- se). Num hospital do SUS quan- do chega mais um paciente agu- damente acometido por essa doença, todos são tratados de maneira igual, independente se é branco ou negro, hetero ou ho- mosexual, policial ou presidiá- rio, rico ou pobre. Os bons pro- fissionais capacitados para isso, médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas, nutricionistas, e outros da área de saúde, carre- gam isso no seu respectivo códi- go de ética, que é potencializa- do com o trabalho em equipe, em que todos conseguem êxito ou não, aos que anonimamente necessitam de um atendimento de urgência. Facada no abdome é rotina nos centros de referência em trauma. Quando o paciente é admitido com sinais de profun- da hemorragia o risco de vida é alto. Mas quando é atendido nu- ma Santa Casa com profissio- nais muito bem capacitados, com protocolos de condutas pa- ra as situações graves, que hu- mildemente controlam a hemor- ragia e salvam a vítima, é moti- vo de muito orgulho para quem acredita no SUS e no Brasil. Ba- seado em experiência pessoal adquirida no HC — Unicamp e informações divulgadas pela mí- dia é possível prever que o qua- dro clínico do paciente Jair Mes- sias Bolsonaro ainda é conside- ralvemente grave, e inspira cui- dados. Temos que dar os para- béns para a equipe da Santa Ca- sa de Misericórdia de Juiz de Fo- ra, exemplo para todo o Brasil, e agradecê-los, pois embora não seja possível prever o futu- ro, a boa ação desses profissio- nais pode ter salvo uma nação atolada em corrupção. Aqui em Campinas a nossa centenária Santa Casa não aten- de urgências, exceto o Centro de Tratamento de Queimadu- ras. Os “heróis” do SUS estão de plantão diariamente no HC — Unicamp, Hospital Municipal Dr. Mário Gatti (onde eu tive a honra de trabalhar de 2000 a 2006), Hospital da PUC Campi- nas e Complexo Hospitalar Ou- ro Verde (pena que não ainda com capacidade total), que tra- balham em rede na área do trau- ma junto com as equipes de pré hospitalar fixo (unidades de pronto atendimento) ou móvel (SAMU, Corpo de Bombeiros e concessionárias de rodovias). Temos que seguir o exemplo de Juiz de Fora. Assim como lá, nossos heróis não morrem de overdose. Foram semanas ricas em notícias importantes. E não estou falando de eleições ou candidatos. Se bem que os candidatos deveriam se preocupar com isso. (1) O agro- negócio foi o campeão em fecha- mento de vagas. (2) O produto in- dustrializado nacional chega ao mercado 30% mais caro que os concorrentes. (3) A Capes vai cor- tar milhares de bolsas de Pós-Gra- duação em função do corte de verba. Assuntos aparentemente inde- pendentes e desconexos. Será? Acho que não. Há um denomina- dor comum na raiz de tudo isso: pesquisa. Os chamados, até há pouco tempo, de Tigres Asiáticos tive- ram seu desenvolvimento indus- trial fortemente apoiado em pes- quisa, com geração de patentes e processos industriais, que resulta- ram em produtividade. Para isso, mandaram contingentes de re- cém-saídos das universidades buscar formação mais completa no exterior. Na volta, havia estru- tura para que pudessem traba- lhar. No Brasil, desde a criação da Embrapa, houve interesse na complementação da formação de pessoal na área do agronegócio. E, senhores, qual o setor no qual o Brasil é realmente competitivo? Qual o setor que vem bancando as contas nacionais? O agronegó- cio. Mera coincidência? Claro que não! E agora outra notícia: a Capes, a principal financiadora da Pós- Graduação no Brasil, sofre cortes a ponto de interromper o progra- ma de formação dos pesquisado- res que poderiam realizar as pes- quisas, gerar patentes, criar e aperfeiçoar processos. Não me pa- rece muito inteligente da parte do governo. Bom, e o problema de fecha- mento de vagas no agronegócio? Primeiramente, o negócio é que não é bom negócio ter muitos em- pregados no meio rural. Uma le- gislação trabalhista completamen- te fora da realidade. Depois, onde tem se investido em formação de pesquisadores? Onde, apesar dos pesares, a pes- quisa brasileira tem sido reconhe- cida mundialmente? Na produ- ção agrícola e pecuária. Há, é cer- to, outras áreas, como a medicina e umas poucas outras. O desenvolvimento tecnológi- co, com o barateamento das tec- nologias, mais a dificuldade im- posta pela legislação, resulta em demissões na área mais competiti- va de nossa economia. Também, no campo, se exige hoje pessoal cada vez mais qualificado. O agro- negócio deixou de ser um depósi- to de mão de obra não qualifica- da. A solução? Educação e qualifi- cação, para que este contingente consiga colocação, desta vez com salários mais altos. Entretanto, nem tudo são flo- res, mesmo nesta área tecnologi- camente avançada da sociedade brasileira. Começando pela área federal, a Embrapa ficou meio fo- ra de rumo, e sofre necessária reestruturação. As universidades formadoras dos quadros de pes- quisadores padecem de falta crô- nica de recursos para o desenvol- vimento de pesquisa de alto nível, para o que dependem de convê- nios com instituições do exterior. O CNPq, um dos principais fi- nanciadores de pesquisa, tem lan- çado menos editais de pesquisa, e os lançados não têm seus valores corrigidos há tempos. Em São Paulo, a Fapesp, importantíssima e fundamental, sobrevive como é possível. Os institutos de pesqui- sa como o Agronômico de Campi- nas, o de Zootecnia, o Biológico, o de Economia Agrícola, entre ou- tros, são deixados a morrer de ina- nição. Falta de responsabilidade dos governos. Enfim, o agronegócio que vive e faz o Brasil viver, é competitivo e gera trabalho para pessoal tecni- ficado com base na pesquisa do passado. Estamos vivendo, mal comparando, como um cami- nhão na banguela, na descida, usando a energia acumulada. Es- tá tudo bem. Mas, ali na frente tem subida, como vamos lidar com isso? Opinião Nossa liberdade constitucional de expressão tem limites? Sim. São os limites da lei e da juris- prudência dos tribunais, goste- mos ou não, mesmo que, venha- mos e convenhamos, existam condenações nitidamente ques- tionáveis. Independentemente disso, o importante é que os me- canismos habituais do Estado de Direito funcionem. O ofensor, que tem a liberda- de de se expressar e de escolher um patrocínio legal; o ofendi- do, que tem a liberdade para mover a ação, e o juiz ou tribu- nal, que têm a liberdade de con- vicção motivada para julgar as- sim ou assado. Lamento dizer que não in- ventaram nada melhor que is- so. Todas as outras alternativas gozam de uma séria anomalia genética: invertem uma série de regras e princípios consolida- dos há séculos em favor justa- mente da liberdade de expres- são. Órgão censor, comitê de críti- ca, departamento de imprensa e propaganda, notificação judi- cial, seja o nome que for, no fun- do, está a se tutelar a censura em nome de uns valores da ca- beça de um juiz, de um partido de plantão e mesmo de uma ideologia ou religião. No passa- do, nada disso deu certo. Recentemente, a Alemanha resolveu seguir por esse cami- nho pantanoso. Pretende-se, por via legal, a imposição de multa administrativa, em valor crescente, às redes sociais que veicularem os crimes de notícia falsa ou de incitamento ao ódio que não forem deletadas no pra- zo assinalado pelo "censor" ad- ministrativo. Uma originalida- de desnecessária. Fico a imaginar um exército de funcionários contratados, reunido numa sala padrão "tele- marketing", a vigiar e censurar mais de dois bilhões de mensa- gens diárias que passeiam pela rede mundial de computado- res. Deve ser inútil, caro e para- noico. O problema não está em louvar a estupidez disso tudo. Mas tão somente o fato de que, nessa linha de raciocínio, a definição dos crimes deixa a es- fera judicial e migra para a esfe- ra das redes sociais. Em outras palavras, é o Zuckerberg, e não mais um magistrado, que dirá se uma conduta virtual é tipica- mente penal ou não. É perfeitamente razoável im- putar criminalmente uma men- sagem que incite o assassinato de minorias ou de opositores políticos ou que calunie, gratui- tamente, qualquer pessoa. Con- tudo, onde fica o lugar da sáti- ra, sempre tomada a partir de preconceitos sociais ou de fatos do imaginário popular? Onde fica o lugar de uma crí- tica política ou econômica mais dura e seca, que tangencie um excesso retórico, e esteja reple- ta de verbalismos, de qualificati- vos pouco elogiosos e ironias sarcásticas? Onde fica o lugar de uma posição que seja contrá- ria, com fundamentos ponderá- veis, ao aborto, ao casamento homoerótico, ao estatuto do de- sarmamento, à poliafetividade, à manipulação genética e ao multiverso familiar? Onde fica o lugar para dizer que existe um time de futebol sempre aliviado pelo apito amigo? Vira tudo fake news? São hesitações que jamais deveriam ser respondidas pelos funcionários do Zuckerberg e, muito menos, pelas massas en- sandecidas que são dadas a apa- gar ou a denunciar tudo aquilo de que discordam ou, ainda, por burocratas públicos que te- nham decorado a cartilha das “verdades oficiais” do governo a que pertencem. Em nome da “tolerância”, por óbvio. Nessa linha, a mera discor- dância, exemplificada nas per- guntas anteriores, seria um dis- curso de ódio e a exclusão da mensagem indesejada, da rede social, seria uma forma bem es- camoteada de censura. Por is- so, seja em crimes manifestos ou em zonas cinzentas, em que a liberdade de expressão e seu abuso ou desvio flertam entre si, é perante os juízes e os tribu- nais que tais excessos devem ser conhecidos e, eventualmen- te, punidos. Resulta um tanto triste que a opinião pública e a universida- de não estejam lá muito dispos- tos a defender a liberdade de ex- pressão, quando seu desenho sai do quadrado dos padrões politicamente corretos. Até já in- ventaram curiosas expressões para não machucar as suscetibi- lidades infantis de muitos adul- tos, que se sentem “incomoda- dos” diante daquelas hesita- ções: safe space ou trigger war- ning. Seria ridículo se não fosse trágico. Outro dia, um desses ressentidos pediu que retirasse uma imagem, composta por mi- nha face e o título de um artigo, de minha linha do tempo na re- de social. Sugeri que fosse pro- curar um psicólogo e deixei um recado bem orwelliano, segun- do o qual, “se a liberdade signifi- ca algo, significa também o di- reito a dizer aos demais, de for- ma racional e ponderada, aqui- lo que eles não querem ouvir”. AGRONEGÓCIO Originalidade desnecessária Competitividade e pesquisa Coordenação: Marcelo Pereira marcelop@rac.com.br Correio do Leitor leitor@rac.com.br andré fernandes O exemplo de Juiz de Fora GUSTAVO P. FRAGA I I Prof. Dr. Gustavo P. Fraga é coordenador da disciplina de Cirurgia do Trauma da FCM - Unicamp e Ex-presidente da SBAIT e da Sociedade Panamericana de Trauma CIRO ROSOLEM I I André Gonçalves Fernandes, Ph.D., é professor-pesquisador, membro da Academia Campinense de Letras e do Movimento Magistrados pela Justiça. MEDICINA I I Ciro Rosolem é vice-presidente de Estudos do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e professor titular da Faculdade de Ciências Agrícolas da FCA/Unesp Botucatu “A parceria será benéfica e trará ganho para todos os envolvidos” Marcelo Knobel, reitor da Unicamp, sobre carta de intenções assinada com a CPFL e a Universidade de Energia Elétrica de Shanghai charge opiniao@rac.com.br A2 CORREIO POPULARA2 Campinas, quarta-feira, 12 de setembro de 2018