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Caderno de
 Histórias
UM PRESENTE DO
 6º ANO 2011
PARA AS CRIANÇAS
DAS SÉRIES INICIAIS
Ficha Técnica

Diretor: Francisco Angel Morales Cano

Gestão pedagógica: Elizabeth Moura de Carvalho Eliazar

Supervisão pedagógica: Fernanda Fátima de Lima Moreira

Professoras responsáveis (texto): Aline França Russo e

Rossana Diva Ferreira Gonçalves

Professora responsável (imagem): Ana Célia Magalhães

Revisora: Juliana Ângelo Gonçalves

Ano: 2011




                            2
Cartinha ao leitor
  Querido leitor,

   No dia em que nossa escola lançou o Projeto Boa Ação,
ficamos pensando em como poderíamos fazer uma boa ação.
Tivemos muitas ideias e, na aula de Produção de Textos,
pensamos em criar este livro para dar de presente para as
crianças das séries iniciais.
   Somos sete turmas de 6º ano e cada turma escreveu duas
pequenas histórias. Agora temos 11 e 12 anos, mas há pouco
tempo tínhamos a sua idade, então sabemos exatamente o que
você está vivendo. Em cada história você encontrará personagens
vivendo situações do dia-a-dia e aprendendo com elas.
   Fizemos os textos com muito carinho. Na verdade, cada um
de nós criou uma narrativa diferente, aí escolhemos a melhor da
sala e, depois, todos os colegas deram sugestões para deixá-la
ainda melhor. As ilustrações também foram feitas por nós!
   Desejamos a você uma boa leitura! Quando terminar, conte
para nós o que achou!
   Abraço,
                       Alunos do 6º ano – 2011.


                              3
Sumário

Apenas Letras ................................................................................................... 7
      Autoria: Amanda Ramos e alunos do 6º ano A1
      Fotografia: David Costa Peixoto
      Tema: fazer as atividades com letra legível

Já fui tímido ................................................................................................... 15
      Autoria: Pedro Parenti Vianna e alunos do 6º ano A2
      Ilustração: João Vítor Rodrigues de Menezes
      Tema: ajudar o colega tímido

Faz bem ser bom ............................................................................................. 20
      Autoria: Ana Luísa Jorge Habib e alunos do 6º ano B1
      Ilustração: Bárbara Meier e Laura Costa Alvarez
      Tema: fazer o bem e ser bom

Manual de Gentileza .................................................................................... 24
      Autoria: Rafaella Araújo de Oliveira e alunos do 6º ano B2
      Ilustração: Matheus Henrique de Vilhena, Rafaella Araújo, Lívia
      Beatriz Soares de Oliveira, Vitória Queiroz Guimarães de
      Almeida, Thiago Comarelli Alves, Paula Magalhães Pinto Braga
      de Lara e Lucas Perez Santos
      Tema: dicas de gentileza

Fique ao meu lado ou fique calado .............................................29
      Autoria: Joana Morais e alunos do 6º ano C1
      Ilustração: Amanda Casal de Castro e Ana Flávia Lima Duque
      Tema: bulling



                                                      4
Não sei estudar direito .......................................................................... 32
      Autoria: Rafael Souza de Abreu e alunos do 6º ano C2
      Ilustração: Marianna Diniz Araújo e Luiza Costa da Fonseca
      Tema: dicas para estudar direito

O ataque dos vírus ......................................................................................... 41
      Autoria:Arthur Del Rio Abreu Rosa e alunos do 6º ano D1
      Ilustração: professora Márcia Bahia Mendes
      Tema: conservação dos livros da biblioteca

Bagunceiro ..................................................................................................... 45
      Autoria: Manuela Cota G. M. Lage e alunos do 6º ano D2
      Ilustração: Manuela Cota e Rafaela Rolim Sant'Ana
      Tema: menino aprende a não ser mais bagunceiro na casa dos
      outros

Fiscalização Matinal: a blitz da mochila .................................... 51
      Autoria: Gabriela Carvalho Lopes e alunos do 6º ano E1
      Ilustração: Alice Sá Fortes Alvares e Fernanda Mendes Gomes
      Tema: organização e cuidado com o material escolar

Aprendendo a falar a verdade ........................................................ 55
      Autoria: Maria Fernanda Coimbra Alves e alunos do 6º ano E2
      Ilustração: Víctor Kenzo Sousa Takahashi e Iara Teixeira Furtado
      Tema: falar a verdade, não mentir

A   superação de Arthur, o bagunceiro.................................................. 59
      Autoria:Lívia Pinheiro de Oliveira, Carolina Mazzieiro Ferreira,
      Letícia Viana Scarpelli Aguiar e alunos do 6º ano F1
      Tema: Aprendendo a não fazer bagunça na sala de aula




                                                     5
Meleca na boca do outro é fofoca ..............................................63
     Autoria: Maria Terra Nadab Leroy e alunos do 6º ano F2
     Ilustração: Paula Costa dos Santos
     Tema: fofoca

Em que posso ajudar? .......................................................................... 67
     Autoria: Clara Sardenberg Gomes Lima e alunos do 6º ano G1
     Ilustração: Amanda Murta de Siqueira Oliveira
     Tema: colaborar com as pessoas

Respeitando as diferenças .................................................................. 69
     Autoria: Marina Sifuentes Moreira e alunos do 6º ano G2
     Ilustração: Isabel Pinheiro Matos
     Tema: ser um bom colega, respeitar a todos




                                             6
Apenas Letras
     ― Desisto, Roberto! Você nunca, nunca, nunca vai ganhar um 10
na minha prova! ― disse a professora.
     ― Mas... ― tentou dizer Roberto.
     ― Esquece! Desisto! Você nunca vai conseguir! Você é um caso
perdido mesmo!
     E aqui estamos nós de novo. Presenciando mais uma das longas e
chatas discussões entre a professora de Português, Jaqueline, e meu
amigo de escola, Roberto. O motivo dos gritos ensurdecedores em
direção a ele? Claro, é só mais uma de suas redações indecifráveis.
Roberto é bom em todas as matérias, parece super inteligente quando
está falando, mas... na hora de receber a prova: que desastre! Perde
pontos por sua letra ilegível.




                                 7
.
      Meu amigo, quer dizer, meu melhor amigo é gente boa. Legal,
divertido, até de vez em quando engraçado. Mas essas qualidades de
Roberto só eram conhecidas por mim. Pela comunidade escolar ele era
“o” estranho, “o” quieto, “o” mudo... E outras coisas mais. Poderia até se
dizer que era desprezado pelos estudantes. Mas se tinha uma coisa que
Roberto era realmente bom?! Ele é um gênio em descobrir pessoas boas
nas almas mais impuras e mais imperfeitas com quem convivemos.
      Um dia eu e meu grande amigo fomos ao pátio; quando tirávamos
nossos lanches da mochila, reparei que Roberto estava triste, sua testa
enrugada, zangado. Já não aguentava mais a ansiedade. Perguntei-lhe:
      ― O que aconteceu?
      ― Nada! ― rapidamente me respondeu.
      Não acreditei em sua resposta, pois a seguir ficou resmungando
baixinho. Novamente, aproveitando a oportunidade, insisti:
      ― Nada? Se não houvesse acontecido nada, não estaria lhe
perguntando! Vamos, conte-me o que aconteceu!
      ― Ah! ― bufou. ― Só estou com raiva, só isso.
      Olhei para ele com meu olhar irônico, eu sabia que ele não gostava
“daquela” minha feição. Nós dois começamos a rir. Qualquer um que
passasse nos chamaria de loucos, mas não nos importávamos.
      ― Você sabe mesmo como animar alguém! ― ele disse.
      ― Muito bem, agora me conte!




                                    8
E Roberto começou a me contar. Novamente era Jaqueline. Mesmo
eu sendo boa aluna, tinha alguma coisa nela que me irritava, talvez
aquele cheiro de biscoitos ou sua mania repugnante por gatos.
       No dia seguinte, quando cheguei à escola, encontrei sentado, de
rosto sorridente: Roberto. O que me parecia bem estranho, pois naquele
exato momento havia dois horários de Português. Sentei-me ao seu
lado.
       ― Bom dia! ― cumprimentei.
       ― Você vai ter uma surpresa!
       Mas seu sorriso sumiu, quando a coordenadora entrou em sala e
disse que não haveria aula, pois Jaqueline estava doente. Peguei meu
livro e fui ler no horário livre. Achei que Roberto queria ficar sozinho; uma
vez ou outra olhava para ele sem perceber. E me deparava com a
mesma cena: ele escrevendo alguma coisa em uma folha e logo depois
arrancando e amassando-a, murmurando xingamentos para si mesmo.
Ao final do 2º horário, notava-se um grande monte de papéis amassados
ao seu lado. Ajudei-o a jogar os papéis no lixo.
       Durante dois dias não tocamos mais nesse assunto. Até que
chegou sexta-feira. Foi a primeira vez em oito meses que notei diferença
na letra de Roberto.



                                     9
― Olá, acho que agora a Jaqueline não vai ter mais tanta
implicância com você, hein? ― eu disse.
      ― É... ― ele me respondeu.
      ― Se continuar assim, talvez suas redações fiquem até melhores
que as minhas!
      E foi aí que o vi sorrir. Mesmo sendo parcial, nunca tinha visto um
sorriso tão sincero como aquele. Ele me perguntou se eu gostaria de ler
seu trabalho. Quando coloquei meus olhos no primeiro parágrafo... não
consegui parar de ler! Sua história era tão fascinante! Nunca tinha lido
coisa igual. Você também não iria acreditar que de uma mente tão
inocente sairia uma história tão criativa. Foi aí que tomei uma única frase
em minha mente, que por acaso me escapou:
      ― Você vai ser escritor!
      ― Anh? ― ele falou, assustado.
      A sala inteira riu. “Droga! ― murmurei. ― Falei tão alto uma ideia
tão absurda! Vou ser motivo de piada ― pensei.”




                                    10
Depois do clima, meu amigo sussurrou para mim:
      ― Você acha mesmo?
      ― O quê?
      Ele me olhou com ironia. Como sou burra. É claro!
      ― Desculpa. ― falei.
      ― Sim ou não? ― novamente ele disse, me perguntando.
      ― Claro que sim! ― continuei. ― Mesmo nós dois tendo 12 anos, é
muito longe a comparação da minha redação com a sua!
      Percebi que o talento literário de Roberto tinha ficado, até então,
escondido de todos, inclusive da professora de Português, já que
ninguém tinha paciência para ficar decifrando sua letra horrorosa. Foi só
melhorar um pouquinho a letra, tornando-a mais ou menos legível, que
pude ver o tamanho de sua criatividade. Mas eu adorava meu amigo e
tinha insistido na leitura, Jaqueline provavelmente ainda consideraria a
letra dele não digna de sua paciência.
      ― Rob, hora da verdade! ― falei com firmeza. ― Você tem muito
talento, acho mesmo que pode virar escritor, mas a letra ainda precisa
melhorar para as pessoas terem gosto em ler o que você escrever. Só
desse jeito que os professores poderão avaliar seus textos e ajudá-lo a
melhorar ainda mais.
      Meu amigo ficou animado, na expectativa, esperando que eu
falasse algo mais, tipo o próximo passo. Mas eu não tinha um plano.
Pensei em algo na hora:
      ― Acho que podemos entrevistar as pessoas da sala que têm as
melhores letras e fazem os trabalhos mais caprichados. Você anotará as
dicas que elas derem em um caderno, tentando segui-las, entendeu?
      Roberto gostou da ideia e, como já tinha trazido de casa um
caderno onde estava treinando sua caligrafia, começamos a colocar em
prática as entrevistas naquele dia mesmo.



                                   11
Veja como ficou (repare que a letra vai melhorando a cada dica):




                                   12
Todo mundo, na sala, ficou empolgado com o caderno do Roberto.
Até algumas pessoas de outras turmas ficaram sabendo e pediram para
ver. Era impressionante! Com uma semana, Roberto tinha escrito quase
45 dicas e, da 10º em diante, a sua letra já tinha melhorado mais do que
eu poderia imaginar.

                 20 ANOS DEPOIS...


                                  13
― No final do ano letivo, Roberto tinha as melhores notas em
Português e, após escrever suas loucas e fascinantes histórias, ao
completar 18 anos ganhou uma vaga na melhor editora da Inglaterra!
     Uma garotinha levantou a mão no fundo da sala.
     ― Pode falar, Laura.
     ― Professora, essa história aconteceu de verdade?
     ― Ah ― suspirei. ― Digamos que sim, Laurinha, digamos que sim.




                                14
JÁ FUI TÍMIDO
      Olá! Meu nome é Ricardo. Tenho 13 anos, sou loiro e tenho olhos
verdes (ou azuis, a diferença é pouca). Estudo no Colégio Santo
Agostinho (CSA). Na minha turma há 25 alunos, dentre eles, os mais
populares são: Clara, Lívia, Bruno, Otávio, Laura e Gabriel.
      Sabe, eu tenho uma queda pela Clara, mas nunca tive coragem de
chamá-la para sair. Ela é alta (mais do que eu, infelizmente...), tem
cabelos pretos e curtos, olhos castanhos e um belo corpo. Usa óculos e
é linda de morrer!




                                 15
Só para constar, sou meio tímido e minhas notas são de média 11
em 12. Só tenho um melhor amigo, o Henrique (ele também é tímido e
sua muito sob pressão).
     Hoje, na aula do professor Fernando, que ensina Matemática, o
Otávio me passou um bilhetinho falando assim:




      Meus olhos brilharam, nunca tinha sido convidado para nada.
Respondi na hora que sim. No recreio, o Otávio me chamou pra ir falar
com as garotas.
      – Não! Estou bem aqui... Precisa não... – falei meio inseguro.
      – Deixa disso! Vamos lá! - e fui puxado à força por ele.
      Conversei com elas quase desmaiando. Para ter uma ideia, falei
besteiras como:
      – De quem eu gosto? Anh... Hum... Eu gosto... de cães, de...
pandas! (...) Ahn? Não foi isso que perguntou? Então... Gosto de... de...
de... Matemática, de jogar xadrez... (...) Ahn? Não foi isso ainda...?
      As meninas começaram a rir. Foi horrível!




                                   16
No dia seguinte, a primeira aula era de Ciências (professor Carlos
Vinícius). Ele pediu pra gente formar quintetos, eu puxei o Henrique e
nós pedimos pra fazer com o Otávio, Bruno e Gabriel; eles concordaram.
O trabalho seria uma apresentação de Power Point; nosso tema foi
Eclipse Solar. Começamos a trabalhar no projeto e a pesquisar os
assuntos no Google. Terminamos com três dias de antecedência.
      No dia da apresentação, eu estava nervoso, minha camisa estava
molhada (a do Henrique estava encharcada, de tanto suor). O Gabriel
falou a introdução do trabalho, depois foi o Bruno, o Otávio, o Henrique
e... chegou a minha vez! Minhas pernas estavam bambas e eu estava da
cor de um tomate maduro. Falei a conclusão do trabalho e errei algumas
vezes, mas eles nem ligaram, mesmo assim todos aplaudiram. Nossa
nota foi 4,0 em 4,0.
      Chegou o dia 26 de abril, sábado. Fui à casa do Otávio, e a gente
conversou, jogou videogame e lanchou. Consegui descobrir que ele vai
mal na escola e que gosta da Lívia. Combinamos de eu ir uma vez por


                                  17
semana na casa dele para ajudá-lo com os estudos. O dia passou
rápido.
     No próximo dia, nosso horário estava assim: Artes (legal!),
Português (normal), Geografia (demorou um século), Ciências (divertido)
e Matemática (minha matéria preferida!). No recreio fiquei conversando
com todos, ou melhor, ouvindo a conversa, mas pelo menos eu estava
lá. Aos poucos fui me soltando e todo dia falava um pouco mais com os
populares; o Henrique também.
     No final do ano, eu olhei em volta e vi que meu colega Guilherme
estava lanchando sozinho. Cheguei até ele e perguntei se ele estava
bem, se não queria vir comigo para lanchar. Ele respondeu:
     – Não! Estou bem aqui... Precisa não...




                                  18
Mas já conhecia o truque, puxei-o pelo braço e ele acabou se
enturmando mais rápido que eu.
     Terminei o ano super feliz. Finalmente, encontrei coragem para
chamar a Clara para sair e ela topou.
     Agora passe a ideia adiante! Olhe em volta e veja se tem um
colega solitário, vá até ele, conheça-o melhor, e chame-o para lanchar
com você no recreio.

                                 ***




                                 19
Faz BEM ser BOM
      Às vezes não fazemos a coisa certa porque temos vergonha de
dizer o que é realmente correto. Se expressar, dizendo sempre a sua
opinião, é fundamental para o crescimento de qualquer ser humano. Por
isso, seja valente nesses casos.
      Além de dizer a sua opinião, é bom seguir sempre os bons
exemplos que fazem o bem. Em todas as suas atitudes, procure
responder para si mesmo: será que essa é realmente a atitude correta?
Se você vir algo de errado acontecendo, defenda o bem!
      Como exemplo dessas situações, veja o que aconteceu com uma
turma de crianças:
      No ano de 2011, no Colégio Santo Agostinho, a turma que mais se
destacava no comportamento era o 5º ano H. Uma turma de alunos
muito inteligentes, que prestavam atenção nas aulas. Conversavam,
como toda turma, porém sabendo a hora e o tom de voz certo.
      Nessa turma havia cinco alunos de notas exemplares: Pedro,
Gabriel, Júlia, Isabela e Luciana. Os alunos mais participativos e
estudiosos do 5º H.
      No meio do ano, um garoto chamado Felipe entrou na turma; os
alunos, curiosos, perguntaram por que ele entrou no colégio no segundo
semestre, e ele respondeu:
      ― Eu fui expulso do meu antigo colégio.




                                 20
Os alunos, surpresos, perguntaram por que tinha sido expulso e
Felipe disse:
     ― Depois que tomei duas bombas, a diretoria já estava irritada
comigo, então foi só eu fazer uma coisinha de nada para o colégio não
me aceitar mais.
     Pedro perguntou curiosíssimo:
     ― Mas o que você fez de tão pouco para isso acontecer?
     Felipe respondeu:
     ― Eu tirei 4,0 em 14,0, na prova. O coordenador veio conversar
comigo e eu zombei da cara dele.
     A turma ficou espantada. Passaram-se semanas e Felipe logo se
entrosou com Gabriel, que achou legal as suas gracinhas. Luciana, que
gostava de Gabriel, acabou entrando na onda junto com Isabela, sua
melhor amiga. Aos poucos a turma foi gostando do modo rebelde e
desleixado de Felipe.
     Pedro e Júlia, que se gostavam, fizeram um trato: não iriam se
deixar levar pelos amigos. Nessa ocasião, Isabela, fuçando nas coisas
de Júlia, viu um desenho com um coração onde se podia ler: Júlia e
Pedro.

                                 21
Isabela arrancou a página da agenda e ameaçou a amiga de
mostrar o desenho a todos se ela não fizesse uma gracinha que
atrapalhasse a aula. Ao mesmo tempo, Gabriel ameaçou Pedro de
contar para a turma que ele vivia grafitando o nome da Júlia no caderno.
     Dois dias depois, Pedro e Júlia fizeram o prometido e perceberam
como era boa a sensação de ver a professora furiosa e todos rindo
deles. Continuaram assim durante meses. A turma saiu do primeiro lugar
em comportamento para o último.
     A professora, cansada das interrupções e brincadeiras,
encaminhou Júlia e Pedro para a diretoria, que lhes deu suspensão.
     Ao chegar à sala, começaram um debate:
     ― Vocês acham que fazer gracinhas é realmente legal? ―
perguntou Júlia.
     ― Acho que já cansei de agir desse jeito... ― falou Luciana.
     ― Agora nossa bagunça está trazendo só resultados ruins... ―
disse Gabriel.
     ― Um garoto qualquer não pode mandar em ninguém. ― disse
Pedro, aumentando o tom de voz para que todos os colegas escutassem
― E ainda tem mais: ele acha que fazendo isso vai ser legal!

                                  22
― É isso mesmo, concordo! ― disse Isabela.
      ― Até agora só a gente que está se dando mal. Quando vai chegar
a hora dele? ― perguntou Júlia.
      Aos poucos, todos entraram no debate, deixando Felipe
envergonhado, porém com uma grande lição. Perceberam que eram a
maioria e não podiam se deixar levar pelos maus exemplos; ao contrário,
tinham que ajudar Felipe a ser como eles.
      Com o passar dos dias, as gracinhas foram acabando e a turma
voltou a se comportar como uma turma melhor.




                                  23
Manual de Gentileza
Como fazer: cumprimentos.
   Quando entrar em uma loja, restaurante, padaria, farmácia, escola,
    etc., dê um oi, olá, bom dia, boa tarde ou boa noite.




   Quando se encontrar com uma pessoa, observe-a e pergunte: você
    está bem?




                                  24
    Lembre-se: não use cumprimentos informais, como “beleza?" com
    idosos ou pessoas de maior hierarquia*, como o chefe de seu pai,
    seus professores, etc.




  E atenção: todos esses exemplos devem ter uma prática diária, pois
essas palavras de cumprimento melhoram o humor das pessoas.


Como fazer: despedidas
       Quando sair de algum local, despeça-se de todos. Isso será muito
        gentil da sua parte. Use palavras como tchau, boa noite, boa tarde
        etc.
       Além dessas palavras, demonstre sua simpatia com um sorriso e
        brilho nos olhos.

                  *Hierarquia: escala de autoridade de um grupo.


                                     25
Como fazer: agradecimentos
  Agradeça às pessoas que o ajudaram e que lhe fizeram o bem
   dizendo obrigado (se você for homem) ou obrigada (se você for
   mulher).

  Faça sua parte praticando gentilezas, sendo educado, dando
   atenção e ouvindo os outros, praticando sempre o bem sem olhar a
   quem.




                               26
Como fazer: na escola
   Dê um bom dia aos funcionários, professores, alunos ou
    colegas, diretores, supervisores...




   Deixe os ambientes iguais ou em melhor estado do que os
    encontrou, sendo gentil com as próximas pessoas que usarão o
    local e facilitando o trabalho das faxineiras.




                             27
   Ofereça ajuda aos professores para apagar o quadro, distribuir folhas.
    Colabore o máximo que você puder!

   Cultive a disciplina, não converse fora de hora nem atrapalhe a aula.
    Participe, preste atenção e traga todo o seu material. Isso é ser
    educado com os professores.




    Resumindo, o importante é fazer o bem e
           contribuir com todos!




                                    28
Fique ao meu lado ou fique calado
     Zoé, uma menina de 9 anos, quase 10, estudava no CSA (Colégio
Santo Agostinho), no 5º ano B. Era uma menina super animada e
engraçada (suas piadas eram divertidas e engraçadas para todos). Ela
sempre tinha sido muito feliz.




     Todo dia Zoé chegava mais cedo na aula e ficava conversando
com os colegas. Um dia apareceu um grupinho da mesma sala dela:
Thiago, Igor, Ana, Suzana e Sebastião, chegaram “se achando”,
cercaram a menina e começaram a xingá-la. As crianças do grupinho
acharam muita graça. Coitada da Zoé! O pior foi      que  os     seus
amigos não a ajudaram e foram embora... Será que estavam com medo?
     Esse grupinho continuou a chateá-la. Depois de um tempo, ela não
era mais a mesma menina alegre de antes, tinha e demonstrava medo.
     Certo dia, a turminha implicou com ela novamente, e ela, já muito
abalada, não deixou que a magoassem, foi à luta e disse:


                                 29
― Já não me magoaram demais?
     Eles responderam:
     ― Olha, gente, é a peidorreira!
     Toda aquela turminha caiu na gargalhada. Zoé, triste, saiu correndo
com lágrimas escorrendo no rosto e foi embora para casa.




     Ao chegar, Zoé contou para seus pais o que estava acontecendo.
Seu pai falou:
     ― Zoé, não podem fazer isso com você, iremos à sua escola.
     Depois da reunião dos pais, Zoé se sentiu mais segura e desse dia
em diante voltou à rodela e contou suas piadas.
     Você deve estar se perguntando:
     ― E o grupinho, cadê?
     Eu respondo: foram suspensos por duas semanas e seus pais
foram convocados para irem a uma reunião na escola.
     O resto da turma ficou com menos medo do grupinho e passou a
apoiar Zoé. Ela ficou mais esperta e, sempre que era importunada,


                                  30
contava à professora. Aos poucos, a brincadeira de mau gosto perdeu
toda a graça e deixaram Zoé em paz.
     O grupinho sofreu por um tempo até decidir pedir desculpas para
Zoé.




     Vocês não vão acreditar, mas Zoé acabou ficando amiga de
algumas crianças daquele grupinho. Se você for quem faz piadinhas sem
graça, olhe a história de Zoé, ela se magoou muito, pare de fazer! Saia
desse grupinho!

          Se você for o caso da Zoé, não esconda isso de
            ninguém, conte, fale! Não tenha medo!


                    Se não se incluir nesses casos,
                   ajude quem precisa de sua ajuda!

                                  31
Não sei estudar direito
     Eduardo é um menino legal, esportivo, nem alto nem baixo. Tem
cabelos e olhos bem pretinhos e a pele morena clara. Tinha tirado boas
notas até o 3º ano. Mas, quando chegou no 4º ano, suas notas foram
caindo, caindo, caindo... e passou de ano com notas bem coladas na
média. Ele começou a se preocupar. Como seria o 5º ano?
     Em uma sexta-feira, sua professora, Rose, disse para a turma que,
na próxima semana, haveria a segunda prova de Português. Eduardo
logo se apavorou, pois, na primeira prova dessa matéria, tinha tirado 6,8
em 12. No final do horário, ele estava chateado e desanimado. Falou
assim com seu melhor amigo:
     ― Tiago, não adianta! Eu estudo e não vou bem nas provas. Acho
que dou azar...
     ― Mas você estuda de verdade? ― perguntou Tiago.
     ― Claro que sim! Você não está acreditando em mim?
     ― Calma! Estou. Mas é quase impossível não ir bem nas provas se
você estiver estudando. Eu mesmo vou mais ou menos nas notas porque
sei que estudo mais ou menos, que fico molengando... Se eu estudasse
mais, claro que iria melhor nas provas!




                                   32
Eduardo ficou refletindo sobre o que o amigo disse. Realmente, não
era justo estudar direitinho e ir mal nas provas... Só tinha uma resposta
possível para este problema: ELE NÃO ESTAVA SABENDO ESTUDAR
DIREITO. Ficou mais animado quando descobriu isso.
      ― Então tem solução! ― pensou. ― É só eu aprender a estudar
certo!
      Curioso, assim que entrou no carro de sua mãe para ir embora,
perguntou:
      ― Mãe, de que matéria você mais gostava?
      ― Quando eu era da sua idade eu adorava Português!
      ― Português! E como é que você estudava?
      ― Eu lembro que pegava textos de revistas e tentava interpretá-los
com perguntas parecidas com as que a professora fazia nas atividades.
Eu também estudava a gramática fazendo esquemas e exercícios. Mas o
principal é que eu sempre gostei de ler. Lia sempre um ou mais capítulos
de um livro antes de dormir e isso aumentou meu vocabulário e
melhorou a minha interpretação e produção de textos.
      ― E a ortografia, você era boa?
      ― Não era ruim demais, mas tinha as dificuldades próprias da
idade... Na minha turma de 5º ano todos os alunos ganharam, no início
do ano, um caderninho em branco, dividido nas letras do alfabeto. Todas
as palavras que a gente errava tínhamos que escrevê-las corretamente
nesse dicionário. Aí eu estudava, tentando decorar a grafia dessas
palavras, e também pedia para outras pessoas fazer ditados para mim.
      ― Ditados? Não era muito chato?
― De jeito nenhum! Era divertido. Sua avó pegava o meu dicionário e,
sem deixar que eu visse, ditava umas 20 palavras mais difíceis. Aí, se eu
fosse bem, ela fazia o que eu pedia para o almoço... Batatas fritas, por
exemplo!



                                   33
Quando chegou no apartamento, Eduardo registrou no seu caderno
de Língua Portuguesa tudo o que a mãe lhe havia dito. Assim que o pai
chegou do trabalho, já foi logo perguntando a ele:
     ― Pai, de que matéria você mais gostava quando tinha a minha
idade?
     ― Ah, eu era um mago da Ciência!
     ― Como você estudava Ciências, pai?
     ― Eu refazia alguns exercícios mandados pelo professor, fazia
esquemas dos assuntos tratados em sala e sempre lia a matéria no livro
da minha turma e em outro livro didático que eu pegava na biblioteca.
     ― Pra que ler outro livro? Não ensinava a mesma coisa?
     ― Ensinava sim a mesma coisa, mas, como tinha sido escrito por
outro autor, era de um jeito um pouco diferente e isso facilitava para
entender. Às vezes um autor escrevia de um jeito mais difícil um ponto
da matéria e o outro de um jeito mais fácil. Então um livro completava o
outro, entendeu?


                                  34
Eduardo pegou o caderno de Ciências e anotou todas as dicas
dadas pelo pai.




     No dia seguinte, a família de Eduardo foi convidada para ir a um
almoço na casa de seus tios. Durante o almoço, o menino fez a pergunta
de sempre ao seu tio.
     ― Tio, de que matéria você mais gostava quando estava no 5º
ano?
     ― Eu adorava Matemática!
     ― E como você estudava essa matéria?
     ― Eu refazia todos os exercícios mandados pelo professor em um
caderno de estudos. E treinava mil e uma vezes a tabuada até sabê-la
de cor! Acho que só soube de cor, todinha, no final do 4º ano. Até lá eu
copiava a tabuada todos os dias, e duas vezes por semana meu pai fazia
um ditado para mim, valendo a sobremesa do jantar!
     Eduardo agradeceu o tio e anotou logo o que ele disse em um
pedaço de papel para não esquecer e depois poder copiar no caderno de



                                  35
Matemática quando chegasse em casa. Depois da sobremesa, a tia foi
lavar a louça, e o sobrinho aproveitou para lhe perguntar:
      ― Tia, de que matéria você mais gostava?
      ― Hum... Eu sempre gostei de História!
      ― E como você estudava?
      ― Eu fazia anotações das aulas dadas pela professora e resumos
dos capítulos do livro no meu caderno. Na minha época, nas provas de
História, caíam vários capítulos do livro e eram muitas páginas para
estudar. Mas como eu ia resumindo aos poucos, cada capítulo por vez,
não ficava trabalho demais para a véspera da avaliação. Quando a
professora anunciava a prova, eu já tinha resumido quase todos os
capítulos e aí era só ler os resumos com calma e pesquisar alguma
coisa.
      ― Pesquisar o quê?
      ― Ah, lá em casa tinha uma coleção de enciclopédias e eu gostava
de ler um pouquinho mais de um ponto da matéria, sobre a biografia de
algum personagem importante da História, essas coisas. Agora, com a
Internet, você pode fazer isso com muito mais facilidade!




                                 36
Eduardo usou o mesmo pedaço de papel para anotar. Foi assistir à
televisão com sua prima, que já tinha 16 anos. No intervalo, perguntou a
ela:
      ― Maria, de que matéria você mais gosta?
      ― Eu amo Geografia! Quer saber como eu estudo, né?
      ― Isso!
      ― Bom, eu faço esquemas dos capítulos, refaço os exercícios e
combino com minha amiga de estudarmos juntas. Aí ela faz tipo que uma
“prova” para mim e eu faço outra para ela, com várias questões, o mais
parecido possível com as provas da fessora de Geo. Cada uma faz a
prova e corrige a da outra. É como brincar de escolinha quando criança,
só que a gente acaba mesmo aprendendo!
      Durante a semana, Eduardo continuou perguntando, mas também
já começou a estudar. Dessa vez, como era prova de Português, seguiu
mais as dicas da mãe.
      A prova de Língua Portuguesa não foi fácil. Eduardo terminou a
avaliação sem ter certeza se tinha ido bem. A professora Rose entregou
as provas corrigidas uma semana depois. Será que ele havia ido bem?
Será que tirou total?
      Não. Não foi dessa vez... Tirou 8,8 em 12.
      Eduardo ficou super triste e com um pouco de raiva.
      ― Tá vendo, Tiago? Dessa vez eu estudei direitinho e nada! Não
adiantou nada!
      Tiago olhou para ele sem entender. Tinha tirado 9,0 em 12, mas
não tinha estudado muito em casa, como sempre.
      Na descida para o recreio, Rose, a professora, passou a mão nos
cabelos pretos de Eduardo e disse com carinho:
      ― Parabéns, Dudu! Gostei de ver sua nota na prova!
      ― Parabéns? Mas eu quase perdi média! ― disse Eduardo
achando que a professora estava ficando doida.




                                  37
― Mas sua nota foi maior que a da sua primeira avaliação de
Português e esta prova foi mais difícil. Com certeza você está estudando
mais, não é?
       Então Eduardo contou tudo, sobre as entrevistas feitas aos
parentes e sobre o seu esforço em estudar.
       ― Dudu, você está no caminho certo! Você começou a se esforçar
agora e não seria justo já tirar um total. Está pensando que é fácil? Não,
não, não é assim que funciona!
       ― Então como é que é?
       ― Bom, você começou bem, melhorou a nota em relação a você
mesmo! Se continuar estudando certo, vai tirar 8,9; depois 9,0; depois
talvez volte para 8,8 se a prova estiver mais difícil... mas você tem que
persistir! Passados uns dois ou três meses, você vai ver! As notas vão
começar a aumentar mais e aí, no final do ano, talvez você consiga um
total!
       ― Só no final do ano? ― reclamou o menino, decepcionado!
       ― É claro! A gente dá um passinho de cada vez rumo ao
aperfeiçoamento. Mas se você persistir, como estou lhe dizendo, valerá
a pena, porque quando chegar no nível das notas perto do total, depois
ficará fácil manter esse nível, pois você já estará acostumado a estudar
direito. Então terá o resto dos anos escolares para aproveitar dessa
conquista! O 6º ano, o 7º, o 8º, o 9º...
       ― Já entendi! Mas o que eu não entendi é como o Tiago vai melhor
do que eu sem estudar! Isso não é justo!
       Eles se sentaram em um banquinho em frente à cantina e
continuaram a conversar.
       ― É justo. Você não está entendendo porque ainda não
compreendeu tudo sobre como estudar. O Tiago realmente não estuda
quase nada em casa, mas estuda bastante na sala.
       ― O quê? Ele fica estudando durante a aula? E você deixa?
       ― Claro que deixo! Todos deveriam fazer assim também! Estudar
não é só em casa! Ele está estudando quando presta atenção na aula,


                                   38
quando participa, quando faz perguntas e expõe suas dúvidas, quando
ajuda os colegas e quando faz bem feito os deveres de casa...
     ― É, realmente, ele faz tudo isso...
     ― E você?
     Eduardo ficou vermelhinho de vergonha, mas respondeu:
     ― Eu às vezes fico distraído, perco partes da explicação, aí fico
com vergonha de dizer que não entendi. Também não costumo ajudar os
colegas, porque faço as atividades com moleza e nunca sou dos
primeiros a terminar... E é verdade que não tenho ligado muito para os
deveres de casa. Tenho feito correndo para ter tempo de brincar.
     ― Viu? Desse jeito você só está estudando 50% direito, que é o
estudo em casa. Os outros 50%, que é o estudo na escola, você está
desaproveitando.



     Eduardo entendeu e ficou danado com ele mesmo por perder tanto
tempo na sala de aula. Decidiu que mudaria de atitude. Seguiu a ideia
que a professora tinha dado no final da conversa: combinar com Tiago
de um ajudar o outro; ele ensinaria o amigo a estudar bem em casa e o
Tiago ficaria de olho para ele prestar atenção durante as aulas.
     E o que aconteceu com o Dudu? Exatamente o que a professora
Rosa previu. Ele começou a subir de nota devagarzinho, às vezes a nota
caia um pouco, mas, com o tempo, foi subindo, subindo, subindo... Tirou
o primeiro 10,0 em 12,0 no final de setembro e o primeiro total em
novembro.




                                  39
Nos outros anos, Eduardo e Tiago continuaram estudando
direitinho, às vezes juntos também. Faziam resumos e esquemas, liam
outros livros didáticos, refaziam exercícios, faziam provas e ditados um
para o outro e até inventaram novas formas de estudar.
       Por exemplo, Eduardo descobriu que era um aluno visual, então
copiava as fórmulas de Matemática, as datas de História, os nomes
complicados de Ciências e os conceitos de Geografia em cartazes e
colava nas paredes do quarto. Era só bater o olho durante umas
semanas, que a matéria entrava em sua mente fácil, fácil!
       Tiago chegou à conclusão que era um aluno auditivo, então
continuou prestando muita atenção nas aulas e lia a matéria em voz alta
ou estudava dando aula para si mesmo, de frente para o espelho. Na
hora da prova, vinha em sua mente sua própria voz, matando a questão!



   Cada um tem um jeito de estudar que dá
mais certo. Mas enquanto não descobrimos
qual é, devemos tentar de vários jeitos,
aprendendo com cada um, várias vezes.

                                  40
O ATAQUE DOS VÍRUS
      No ano de 2137, no planeta Megum, um lugar avançado em
ciências, pesquisadores malucos e maldosos inventaram vírus que levam
os seres humanos a danificar os livros. Um dia lançaram esses vírus no
espaço.
      Os vírus infectaram vários planetas, dentre eles um planeta azul e
redondo perto do Sol. Após a destruição de mais de duzentos mil livros
na Terra, o governo de Megum criou o CVI (Caçadores de Vírus
Intergaláticos).
      A chegada ao novo e misterioso planeta foi fascinante para os
agentes do CVI, pois nunca tinham visto pessoas humanas. Os
caçadores avisaram aos terráqueos quais eram os tipos de vírus e que
doenças causavam:

NUM ACEITUM NAUM
A PESSOA CONTAMINADA POR ESTE
VÍRUS NÃO CUMPRE AS REGRAS DO
EMPRÉSTIMO NA BIBLIOTECA. ELA SE
TORNA AGRESSIVA QUANDO LHE É
COBRADA MULTA PELO ATRASO DO
LIVRO.

                        SEGURUM LIVRUM PARA PROVUM
                        O INDIVÍDUO COM ESTE VÍRUS É EGOÍSTA,
                        NÃO DEVOLVE O LIVRO NO PRAZO CERTO,
                        ACHA QUE SÓ ELE PODE USAR O QUE
                        TODA TURMA VAI PRECISAR PARA AS
                        PROVAS.



                                  41
EGOISTUS
                  OS HUMANOS ATACADOS PELO VÍRUS
                  FURTAM LIVROS E OUTROS MATERIAIS
                  BIBLIOGRÁFICOS QUE SÃO USADOS POR
                  TODOS


LEVUM CAPITULUM
ESTE VÍRUS É MUITO PERIGOSO. O
DOENTE NÃO CONSEGUE CONTROLAR
SUA ÂNSIA DE LEVAR UM OU MAIS
CAPÍTULOS DOS LIVROS PARA CASA.


PREDATORES INVETERATUS
É UM VÍRUS QUE SE ESCONDE EM LUGARES
DE DIFÍCIL ACESSO: ATRÁS DAS ESTANTES,
CANTOS ESCUROS, BANHEIROS ETC. A
PESSOA CONTAMINADA FICA COM UMA
GRANDE VONTADE DE RABISCAR, RASGAR
E RISCAR TODO E QUALQUER LIVRO QUE
ESTIVER AO SEU ALCANCE.

                ESQUECIDUS
                O INDIVÍDUO CONTAMINADO POR ESTE VÍRUS
                RETIRA VÁRIOS LIVROS, REVISTAS E
                APOSTILAS DAS ESTANTES, LÊ ALGUMAS
                PÁGINAS E VAI EMBORA. SÓ QUANDO CHEGA
                EM CASA É QUE SE LEMBRA O QUE FOI
                FAZER NA BIBLIOTECA.


                           42
EXPERIMENTARIUM LIVRUS
ESTE VÍRUS CONTAMINA A PESSOA
DEIXANDO-A COM UMA VONTADE
IRRESISTÍVEL DE PROVAR O GOSTO DOS
LIVROS, MOLHADO A PONTA DOS DEDOS
COM SALIVA PARA MUDAR AS PÁGINAS.


                 CONECTARIUM CELULARIS
                 O DOENTE CONTAMINADO POR ESTE
                 VÍRUS FICA TEIMOSO, INSISTINDO EM
                 FALAR AO CELULAR EM UM AMBIENTE DE
                 LEITURA E SILÊNCIO.



RASURUS
ESTE VÍRUS ATACA O HUMANO PROVOCANDO
NELE UMA PEQUENA AMNÉSIA. ELE SE ESQUECE
QUE O LIVRO NÃO LHE PERTENCE E GRIFA AS
PARTES QUE LHE INTERESSAM.


                   PAPATORUM LIQUIDUM
                   O ATAQUE DESTE VÍRUS FAZ COM QUE O
                   DOENTE ENTRE NA BIBLIOTECA COM
                   COMIDA E BEBIDA, SACIANDO SUA
                   GULODICE EM MEIO AOS LIVROS.




                         43
Por outro lado da história, existia na cidade de Belo Horizonte um
menino chamado Pedro, que tinha 11 anos e era filho da bibliotecária do
colégio e do bancário de Santa Luzia uma cidade vizinha. Morava em um
apartamento no Prado e gostava muito do seu colégio, tanto que,
quando crescesse, queria ser professor.
       Certo dia, precisou fazer uma pesquisa sobre a Gruta de Maquiné e
foi fazer seu trabalho na biblioteca.
       Ao entrar na biblioteca de manhã, começou a sentir algo estranho e
pegou o celular, suas guloseimas, seu lápis e passou o dedo na língua.
Provavelmente tinha pegado alguns tipos de vírus... Ligou para muitas
pessoas, comeu suas guloseimas, rabiscou os livros e passou as
páginas com o dedo molhado de saliva.
       Sua mãe, que estava trabalhando na biblioteca, percebeu a doença
e levou o filho ao médico.
       Na sala de espera do doutor, havia uma televisão que estava ligada
no Jornal Nacional, anunciando sobre cada um dos vírus.
       O diagnóstico do médico foi péssimo: Pedro estava com TODOS os
vírus! Não havia outra solução: seria internado aos cuidados dos agentes
da CVI.
       No hospital, avisaram que era preciso abrir o cérebro dele para
retirar os vírus, utilizando a tecnologia superavançada trazida do planeta
Megum. Ele seria operado naquele mesmo dia.
       Na operação, em apenas duas horas, foram retirados todos os
vírus, exceto Rasurus, que após mais 1h30 foi retirado.
       Pedro foi levado até a sala de recuperação. De repente, o menino
ouviu alguém o chamando, parecia a voz de sua mãe... Estranho...
       ― Pedro, acorde! ― repetia para ele muitas vezes.
       Acordou assustado, depois falou com sua mãe:
       ― Mãe, aprendi uma grande lição: nunca posso estragar nenhum
livro, devo cuidar deles! Jamais vou fazer coisas erradas com os livros!
       Assim acabou a história com uma grande lição: cuide muito bem
dos livros!


                                   44
Bagunceiro
      Gabriel era um menino criativo e simpático. O garoto de 9 anos
tinha olhos claros e, apesar de baixinho, era muito agitado e conseguia
ser a criança mais bagunceira que este mundo já viu! Gabriel estudava
no Colégio Santo Agostinho e estava no 4º ano. Tinha muitos amigos,
como o Ivan, o Pedro, o Júlio, a Luísa e a Helena, todos eles da turma D,
na sala 110.




     Gabriel tinha um problema: ele nunca era convidado a ir à casa de
ninguém! No ano passado, ele havia ido à casa de Pedro, no aniversário
do amigo, junto de todos os seus outros melhores amigos. Lá eles
brincaram de pega-pega, esconde-esconde e de vários jogos de
tabuleiro. Na hora de lanchar, a mãe de Pedro, que estava todo esse
tempo na cozinha, ao sair, berrou o mais alto que pôde:



                                   45
― Ah! O que aconteceu na minha casa?! Oh, Meu Deus!
       ― Bem, mamãe... ― disse Pedro envergonhado.’
       ― Bem nada, mocinho! Eu exijo uma resposta! Isto daqui está uma
bagunça! Quem quebrou o meu vaso? ― perguntou a mãe, brava.
       ― Que bagunça que nada, D. Ana. Assim ficou mais bonito, tá até
parecendo com minha casa! ― falou Gabriel, brincando como sempre.
       D. Ana, vermelha de tanta raiva, contou até 10 e se segurou para
não dar uma bela de uma palmada no safado do Gabriel.
       ― Sabe, mamãe, é que nós guardamos todos os jogos enquanto o
Biel ficava só correndo e atrapalhando e, quando nós terminamos, ele foi
lá e bagunçou tudo de novo e disse que não seria necessário arrumar.
Nós já estávamos perdendo a paciência e...
       ― Quer dizer que a culpa agora é minha?! ― reclamou Biel.
       ― Não, não é isso, Biel! É só que... ― tentou se explicar Pedro.
       ― Olha, D. Ana, o Pedro não teve culpa nenhuma. Tudo isso foi
por causa do Gabriel. ― declarou Luiza, que sempre gostou de Pedro.


                                  46
― Ninguém mais me deixa falar nesta casa! ― gritou Pedro, que
fez com que todos se calassem assustados (Pedro era quieto, educado).
― Foi o Gabriel que quebrou o vaso sim! Ele chutou-o para “deixar o
caminho livre e pegar a Lena”. Ah! Ele também quebrou o regador do
jardim e tá vazando água na mangueira. ― se impôs.
      Silenciosamente, D. Ana saiu do cômodo e se dirigiu a seu quarto.
Na sala, Pedro, Luísa, Gabriel, Ivan, Júlio e Helena engoliram a comida,
pasmos. Aproximadamente vinte minutos depois, D. Ana, séria, voltou
para a sala de visitas:
      ― Gabriel, vá pegar as suas coisas. Sua mãe já está vindo te
buscar.
      O garoto pediu licença, se levantou e dirigiu-se ao quarto de Pedro,
onde começou a organizar as suas coisas. Sua mãe chegou e os dois
seguiram calados por todo o trajeto em silêncio. Quando chegou em
casa, foi direto ligar a televisão e ouviu sua mãe dizer:
      ― Desliga! A partir de agora, serão três meses sem computador,
televisão e sem encontrar os amigos. Ah! Mê dê seu celular!
      Envergonhado, Gabriel obedeceu as ordens da mãe e pensou:
“Que bom que os meus pais são separados, só terei de aguentar isso
quando estiver com a minha mãe...”




                                   47
― E não pense que eu sou boba, que o
castigo vai ser só aqui e na casa de seu pai vai
ser tudo moleza. Eu já conversei com seu pai e
lá será o mesmo esquema ― completou a mãe
Jacqueline, acabando com os sonhos do filho.
     Gabriel realmente passou os três meses
seguintes de castigo e, quando o castigo
acabou, se passaram várias semanas e ele não
foi convidado a ir à casa de nenhum dos
amigos. Achou aquilo estranho, mas não deu
muita bola, até o dia em que Pedro, seu melhor
amigo, entregou o convite de seu próximo
aniversário a todos, menos a ele.
     ― Desculpe, Biel, mas minha mãe me
proibiu de convidar você para ir lá em casa para
sempre ― se justificou Pedro.
     Gabriel ficou muito incomodado. Então
permaneceu calado até o fim do recreio,
quando... ao ouvir a conversa dos outros,
percebeu que eles falavam do bolo de laranja
que a D. Sônia, mãe da Lu, havia feito junto a
eles no domingo. Estranhando aquilo, Biel
resolveu perguntar:
     ― Quando você convidou a gente? Eu não
ouvi!
     ― Você não ouviu porque eu não convidei
você ― revelou a Luciana.
     ― Anh?! Mas por quê?
     ― Eu não queria que você fizesse aquela
bagunça da festa do Pedro lá em casa e minha
mãe me deixasse de castigo por um mês, como
a mãe do Pedro fez com ele! Foi mal, Biel!


                       48
Depois disso, Gabriel se desesperou. Saiu dali calado,
rapidamente, e passou o resto da aula encolhido, atrás de um livro.
Chegou em casa e caiu aos prantos, chorou no colo de sua mãe,
pedindo ajuda. Ela lhe deu um conselho, disse para ele que procurasse,
dos amigos, quem seria o mais compreensivo e conversasse com este.
     No dia seguinte, Gabriel saiu de casa decidido: iria conversar com
Helena.
     ― Oi, Lena... ― disse Biel, meio sem jeito.
     ― Oi, Biel, você tá bem? Eu fiquei preocupada depois de ontem! ―
disse Lena, simpática como sempre (o que fez Biel se sentir aliviado:
havia escolhido a pessoa certa!).
     ― Na verdade, Lena, eu queria conversar. Você pode?
     ― Claro, Biel, pode falar.
     ― Bem, é que primeiro eu queria saber o que eu faço que
incomoda tanto a vocês...?
     ― Olha, você estraga, amassa, bagunça nossas coisas e isso não
é muito legal...
     ― Isso é tão ruim assim?

                                  49
― É.
      Neste momento, Gabriel se lembrou de uma coisa: Helena era a
pessoa que mais recebia convites. Ela poderia ajudá-lo.
      ― Lena, o que você faz para as pessoas gostarem tanto de receber
você em casa?
      ― Bom, para ser uma boa visita, você precisa seguir alguns
princípios: o primeiro diz sobre educação com os donos da casa, o
segundo é sobre ser “pró-social”, ou seja, observar os princípios dos
moradores e agir de acordo com eles...
      ― Mas isso eu tento fazer!
      ― Eu sei, mas você não me deixou terminar! E o terceiro diz que
devemos deixar os lugares por onde passamos em igual ou melhor
estado do que encontramos. Acho melhor você começar a pensar mais
nesse último.
      ― Eu vou. Mas como vou mostrar isso aos outros?
      ― Eu já tenho a solução! Vou chamar vocês para irem a minha
casa no sábado!




     No sábado, eles foram à casa de Helena, e Gabriel realmente
pensou nos princípios de um bom visitante. Os seus amigos ficaram
maravilhados com a mudança de atitude de Biel, que passou a ser tão
convidado quanto Lena e, com isso, foi muito feliz.


                                 50
Fiscalização Matinal
             A blitz da organização
      Chegar da aula é o mesmo que jogar a mochila na sala e cair no
sofá. Afinal, alunos como Izabela, que sempre estão pensando em mais
de uma coisa e vivem com pressa, precisam de um merecido descanso.
     Com quase 9 anos e muita coisa para fazer, Izabela chega em
casa, descansa, almoça e corre para o quarto com o chumbo que chama
de mochila. Abrir a agenda é fácil, difícil mesmo é encontrar a folha de
Geografia e entender quais são as páginas do dever de Matemática. No
dia seguinte, a aluna tem que vencer a timidez e encarar a bronca da
professora.




                                  51
Vida de estudante não é fácil mesmo... e sempre pode complicar.
Há algumas semanas a professora passou a entrar na sala e fazer o que
se pode chamar de “Fiscalização Matinal”. Funciona mais ou menos
assim: ela entra em sala e escreve no quadro, abaixo do relógio que
marca as sete da manhã, que naquele dia tem blitz nas mochilas.
Ninguém pode mexer no material até que a professora passe entre todas
as carteiras fiscalizando. E quando ela chega perto da mochila vermelha
de uma loirinha que costumam chamar de Bela, o bicho pega! É o
momento em que os dois olhinhos castanhos da menina tomam o rumo
do chão e o dedo fino da professora aponta para lhe chamar a atenção.
      Aí é escrito o danado do bilhete na agenda. É o instante em que o
rigor da professora e a paciência da mãe se unem para mostrar o quanto
a capa riscada do livro de Ciências e a folha do trabalho de História... e
todos os outros materiais sem cuidado, perdidos, desorganizados,
rasgados, rabiscados... são importantes. Então a fiscalização, que só
acontecia na escola, é levada para dentro de casa.
     O único modo que Izabela encontrou de manter a ficha limpa foi
obedecer a dupla imbatível. Mas não sabia como... A pessoa mais
organizada que conhecia era a vovó Dóris. Pegou o telefone e ligou para
ela.
     ― Oi, vó!
     ― Oi, Bela!
     ― Ai, vó, help! Na minha agenda tem um monte de bilhetes de
deveres não feitos e materiais esquecidos... Preciso, urgente, ficar tão
organizada como você!
     ― Em primeiro lugar, você precisa saber o que a está
atrapalhando.
     ― Ahn... Deixa eu ver... Acho que é a preguiça... muita preguiça!
     ― Então é fácil! O segredo é não ter mais preguiça. Pense que
guardar a folha no lugar certo ou copiar a agenda corretamente gasta



                                   52
apenas alguns segundos. E você economizará tempo ao não ter que
ficar procurando suas coisas depois.




                   No final da conversa, Bela decidiu
             comprar uma pasta com cavidades para
             cada matéria. A partir daí, sempre que o
             final da aula era anunciado pelo sinal,
             pegava a pasta na mochila, que estava
             com cadernos, livros, tudo no lugar
             certo, e guardava atividades e provas no
             local destinado para cada matéria. Bela
             também aprendeu a anotar o dever na
             agenda na hora em que o visse no
             quadro e com capricho, não em forma
             de rabisco.


                               53
Bela teve que ter paciência com ela mesma, pois nem sempre dava
conta de se organizar, e aceitar puxões de orelha, mas valia tudo para
ter o sorriso da professora ao chegar perto dela.


      E não é que as consequências foram boas? Continuamente, no
início da aula, Bela ganha prêmios por organização. A mãe, coruja, está
muito orgulhosa do desempenho da filha. E Izabela também ficou feliz,
afinal as notas, o cuidado e a organização estão sempre merecendo
elogios. Agora a “Fiscalização Matinal”, que antes era temida, é digna da
expectativa de Bela. E a lição que ela aprendeu serve para todos os
colegas e até mesmo para os adultos, já que na vida há males que vem
para o bem.




                                   54
Aprendendo a falar
            a verdade
      Era uma manhã de outono na cidade de Belo Horizonte. Os alunos
do Colégio Santo Agostinho estavam se preparando para mais um dia de
aula.
      Carla era uma menina muito esperta e curiosa, que adorava ouvir
as histórias de sua avó materna, Rita. Ela tinha 7 anos e seus cabelos
eram avermelhados. Apesar da pouca altura, mostrava ser uma pessoa
determinada e corajosa.
      Aos poucos, o colégio ficava cada vez mais animado. Às 7h10
todos já estavam em suas salas, inclusive Carla e seu melhor amigo,
Júlio. Nesse instante, a porta do 2º ano G se abriu, e a aula de Ensino
Religioso teve início com a chegada da professora Nathalia.
      Nathalia era uma professora querida por todos os estudantes.
Depois da chamada, ela começou a falar:
      ― Crianças, vocês sabem que dia é hoje?
      Na mesma hora Júlio levantou a mão e disse:
      ― Hoje é dia 28 de abril.
      ― Também. Mas o que o torna tão especial é o que celebramos: o
Dia da Boa Ação ― acrescentou Nathalia com brilho nos olhos.
      ― O que é o Dia da Boa Ação, professora? ― perguntou Carla.
      ― É um dia comemorado em todo o mundo, quando as pessoas
são incentivadas a praticar um ato de solidariedade ou gentileza. Vocês
já assistiram ao filme “A corrente do bem”?
      Dos 30 alunos do 2º ano G, 13 já tinham assistido e adorado!


                                  55
― Esse filme foi baseado em um livro que inspirou esse movimento
de Boa Ação. E agora nossa escola vai começar a participar desse
projeto. Querem saber como? ― perguntou a professora.
      Todos disseram que sim!
       ― Hoje nós vamos à biblioteca para ouvir histórias de boas ações
dos alunos do 6º E.
      Ao ouvir essas palavras, os meninos e as meninas começaram a se
levantar, indo formar duas filas.
      Na biblioteca, eles sentaram em quartetos nas mesinhas, ansiosos
para escutar as histórias. No momento seguinte, ouviram vozes e
deduziram ser os adolescentes do 6º E.
      Diferente do que pensavam, os alunos do 6º ano eram muito
simpáticos e atenciosos com os menores. Apesar de que alguns eram
mais tímidos e outros desinibidos, todos eles estavam sorrindo.
      Com um pedido de silêncio da professora Nathalia, os adolescentes
apresentaram-se. Junto com eles estava a professora Aline, que
ensinava Produção de Textos.
      Cada aluno do 6º ano contou uma história, mas a de que todos
mais gostaram foi a relatada por Matheus sobre uma menina chamada
Alice.
      Alice precisou de um apontador e, como não havia trazido o dela,
pediu emprestado o de seu colega Tomás. Sem querer, deixou-o cair e
ele se quebrou. Com medo das consequências, não assumiu a verdade
quando o colega a acusou de ter estragado seu apontador. Alice disse
não ter sido ela, que o objeto já estava quebrado. Mas todos tinham visto
o que acontecera. Alice ficou tida como mentirosa e acabou perdendo a
confiança da turma e uma amizade. Então ela aprendeu a lição, se
arrependeu e, fazendo esforço para sempre dizer a verdade, recuperou a
confiança de todos.




                                   56
Entretidos com as palavras do garoto, Carla levantou a mão e perguntou:
     ― Essa história é verdadeira?
     Feliz com a atenção dos pequenos, Matheus respondeu:
     ― Por que não? A lição dessa história é falar sobre a verdade.
     Entendendo a mensagem, os estudantes do 2º G bateram palmas
para os do 6º E, que ficaram orgulhosos com a alegria das crianças.
     Quando o sinal tocou, os do Infantil foram para as suas próximas
aulas felizes e pensativos.
     Ao final das aulas os meninos do 2º ano começaram a contar para
seus pais o que tinham aprendido naquele dia.




                                  57
Ana Laura, mãe de Carla, estava levando sua filha para a casa de
sua mãe, Rita. Chegando na casa da vovó Ritinha, Carla almoçou, fez o
dever e brincou com seus primos. Parecia uma coincidência, mas
justamente naquele dia ela teve a oportunidade de colocar em prática o
que havia aprendido.




      Sua priminha Roberta, sem querer, rasgou o livro “A Ilha Perdida”
de seu irmão. Com medo de dizer a verdade, ela não contou o que tinha
ocorrido. Quando ele viu as condições de seu livro favorito, chorou
bastante. Vendo o estado do primo, Carla resolveu ensinar a Roberta a
lição da verdade. Então a priminha revelou o que tinha acontecido ao
irmão, prometendo consertar o livro. Todos os outros primos também se
ofereceram para ajudar.
      No final, o livro estava consertado e as crianças testemunharam de
perto a importância da verdade e da coragem de assumir o próprio erro.
      E foi com esses pensamentos que Carla adormeceu.



                                  58
A superação de Arthur, o bagunceiro
      Arthur era um menino de cabelos castanhos e arrepiados, olhos
azuis e um dos mais altos da turma H do 3º ano. Porém, se portava mal
em sala de aula, conversava com seus colegas, atrapalhando-os, não
prestava atenção, não levantava a mão para falar, brincava durante a
aula. Enfim, ele era um menino muito agitado e que tinha sérias
dificuldades na escola.
      A professora já havia chamado a atenção dele várias vezes e de
nada adiantava. A situação acabou nas mãos da diretora da escola.
      ― O que eu faço agora? Meus pais foram chamados na diretoria!
Estou frito! ― pensava Arthur enquanto aguardava o chamado da
diretora.
      ― Dona Manuela e Seu Pedro, podem entrar! ― chamou a
diretora, Dona Estefânia.
      Eles entraram e se sentaram em frente à mesa da diretora. Ela
começou a contar um monte de coisas erradas que ele tinha feito: não
fazia os deveres, conversava demais, criticava... Arthur já estava
cansado de ouvir e com medo da reação de sua mãe e de seu pai. A
reunião terminou e os pais não disseram uma palavra para o filho. O
menino entendeu, então, que pior do que enfrentar a braveza dos pais
era perceber o quanto estavam decepcionados com ele.
      Em casa, Seu Pedro conversou com o filho em tom enérgico e
firme. Disse a ele verdades que doíam, mas que eram para o bem dele.
No final da conversa, Arthur tinha entendido que, se não mudasse de
atitude, corria o risco de não passar de ano ou de ser sempre um aluno
medíocre, que mais tarde podia não conseguir um bom emprego nem se
relacionar bem com seus colegas de trabalho e ainda podia nunca ter
amigos verdadeiros nem conseguir formar uma boa família.
      No dia seguinte, Arthur pediu para falar em particular com sua
professora Cida. Disse a ela tudo o que sentia.



                                 59
― Sabe, Cidinha, eu várias vezes tentei melhorar, mas nunca
consegui. No máximo consigo ficar um dia quieto, mas no outro volto a
ser como sou...
      A professora estava muito emocionada. Pela primeira vez seu
aluno mais difícil estava realmente disposto a mudar.
      ― Arthur, acho que esta é a primeira vez que você quer de verdade
ser melhor. E eu vou ajudá-lo!
      A primeira coisa que a Cida fez foi tirar o aluno do fundo da sala e
colocá-lo sentado na primeira carteira, pertinho dela. Depois, chamou os
três melhores alunos da turma e pediu para o Arthur contar para eles o
que já tinha dito para ela. Todos os três quiseram ajudá-lo também.
Cada um teve uma ideia diferente:
      ― Vamos nos assentar perto de você, dois do seu lado e um atrás.
Assim não deixaremos que converse com ninguém! ― falou Leo.
      ― Sempre que você fizer uma gracinha, virar para o lado ou falar
sem levantar a mão, vamos lhe dar um cutucão e chamar a sua atenção!
― propôs Laurinha.
      ― E se você ficar comportado durante, digamos, uma semana
inteira, pensaremos em uma surpresa para lhe dar! ― exclamou
Fernanda.
      Arthur ficou muito agradecido e combinaram de dar início ao plano
no próximo dia. Na manhã seguinte, cedinho, quando o menino chegou a
sua sala, já encontrou os três novos amigos esperando por ele. Sentou-
se em sua carteira, na frente da sala e não pôde deixar de quase morrer
de rir!
      Na carteira da Fernandinha, estava pregado um bilhete:


                   EI! OLHE PARA FRENTE!


     Na mesa da Laurinha, outro assim:


                                   60
SE VOCÊ ESTIVER LENDO ISSO,

       ESTÁ OLHANDO PARA O LUGAR ERRADO!


     E, atrás, na mesa do Leo, leu a frase:



                A AULA É DO OUTRO LADO!

      Sentiu muita gratidão pelos seus colegas e decidiu ser ainda mais
esforçado. Passou toda a primeira aula prestando atenção e procurou
fazer o mesmo em todas as aulas. Mas como não estava acostumado,
de vez em quando recebia um cutucão do Leo ou um “shhh” das
meninas ao seu lado.
      No final da semana, na sexta-feira, quando chegou na sala, teve
uma surpresa: em cima de sua carteira os colegas tinham colocado o
seu bombom favorito. Ele tinha conseguido! Uma semana inteira de
esforço!
      Nem bem tinha guardado o bombom, chegou na sala D. Estefânia,
a diretora.
      ― Bom dia, alunos!
      ― Bom diaaaaa! ― responderam todos em coro.
      ― Hoje vou lhes fazer uma proposta. Irei, na próxima semana,
passar em todas as salas de 2º ao 5º ano para ver o comportamento dos
alunos e vou premiar a melhor sala com jogos e brinquedos para todos.
O que vocês acham?
      ― Obaaaa! ― gritaram todos novamente.
      Arthur, então, se concentrou mais em ser um aluno disciplinado. No
recreio, estranhou: por onde passava ouvia algum aluno de outra turma

                                   61
rindo e falando que a turma H ia perder por sua culpa. Mas ele não
estava nem ligando, pois sabia que agora dava conta de ser um bom
aluno e que sua turma tinha mais chance de vencer!
      A diretora passou a semana seguinte observando todas as salas e
conversando com as professoras. Na sexta-feira, os alunos foram
reunidos no auditório. Estavam empolgados, esperando o anúncio da D.
Estefânia.
      ― A turma vencedora é... é... o 3º ano H!
      Os alunos da turma H começaram a comemorar.
      ― Arthur! Arthur! Arthur! ― gritavam todos e até três meninos
tentaram levantar o garoto nos ombros.
      O resto dos alunos do auditório estavam em silêncio. Eles haviam
percebido que tinham deixado de se esforçar pensando que qualquer
turma seria melhor que a turma H. Eles não imaginavam que Arthur
poderia surpreender a todos.
      Arthur mal podia acreditar! Ficou tão, mas tão feliz que até demorou
a pegar no sono naquela noite. Para ele essa felicidade valia mais que
aquela falsa que sentia quando fazia as gracinhas e seus colegas riam
ou quando criticava alguém e sentia-se superior. Aquela alegria era
verdadeira e duradoura. E o melhor é que podia ser compartilhada com
seus novos amigos e com seus pais!
      Arthur não se tornou o melhor aluno nem tirava as melhores notas
da sala. Mas foi um bom aluno, com notas acima da média (às vezes até
perto do total!), com amigos verdadeiros, querido pelos colegas e pelas
professoras e muito, muito feliz. Ele nunca mais viu no rosto de seus pais
a decepção que tinha visto naquele dia da reunião com a diretora. Sua
mãe estava sempre contando para as amigas como o filho era esforçado
e amigo de todos e o pai sempre dizia o quanto se orgulhava dele e que
um dia seria um ótimo profissional e pai de família.




                                   62
MELECA NA BOCA DO OUTRO
         É FOFOCA
    Nossa protagonista era uma menina de 10 anos, alta e loira, que se
chamava Popó, quer dizer, Poliana. Estudava em um colégio só de
meninas, com regras rígidas de disciplina. A única aula em que se sentia
livre era a de Educação Física. Nesse momento, todas as alunas se
divertiam muito, jogando queimada, conquista e várias outras
brincadeiras.
    Um dia, entre um jogo e outro da aula de Educação Física, a
professora permitiu que as alunas fossem beber água. Popó foi a
primeira e percebeu que havia uma meleca bem no ralo do bebedouro.
Diante dessa visão, a garota perdeu a sede, mas foi discreta e não gritou
de nojo. Porém Alice, a menina que vinha logo atrás, no momento em
que Popó saiu, também viu a meleca e, fofoqueira que era, deduziu que
a meleca era de Poliana.




                                   63
Foi aí que começou o inferno para nossa protagonista. Alice espalhou
para toda a escola que Popó era uma porca. Nos dias que se seguiram,
ninguém se aproximou da menina, deixando-a magoada, confusa, sem
entender o que se passava.
   Então ela decidiu perguntar a Ângela, companheira desde o primeiro
período.
   ― Ângela, por que ninguém fala comigo?
   ― Ora, Popó, depois do que você fez, nem eu estou muito a fim de
chegar perto de você... ― respondeu Ângela, logo se afastando.
   Popó, então, decidiu procurar Raquel, menina também discreta,
embora muito solitária.
   ― Oi, Raquel! Posso te fazer uma pergunta?
   ― Claro!
   ― Você saberia me dizer por que estão me isolando ultimamente?
   ― Olha, Popó, não sei não, não gosto de conversa fiada...
   ― Mas estamos falando de mim, então não é conversa fiada!


                                  64
― Bem, ouvi por aí que você sujou o bebedouro de meleca. Disseram
que todas as meninas viram a meleca lá...
  ― É claro que viram, pois até eu vi! Acontece que quis ser discreta e
não comentei nada com ninguém e... agora pensam que fui eu... Então é
por isso... Mas quem espalhou essa fofoca?
  ― Ah, isso eu não sei. Mas sabe como é, nem todos são discretos
como nós. A conversa chegou em mim e aqui parou. Principalmente
porque eu não tinha ouvido você nem estava lá na hora.
  ― Obrigada, Raquel.




   Conhecendo a natureza de Alice, Popó logo deduziu quem era a
fofoqueira e foi direto na fonte. Pediu a ajuda da professora para chamar
toda a turma e contou o que tinha acontecido no dia da meleca no
bebedouro.




                                   65
Alice, então, admitiu que não tinha visto quem sujou o bebedouro,
apenas tinha deduzido que era Popó.
   Ninguém nunca soube, afinal, a identidade da porca do bebedouro,
mas, a partir daquele dia, todas aprenderam que as palavras voam
rápido e podem magoar as pessoas. Então é melhor ser sempre
discreto.




                                66
EM QUE POSSO AJUDAR?
      Em uma manhã fria de junho, a professora chegou na sala
carregando pilhas de livros e nenhum aluno se ofereceu para ajudá-la,
mesmo vendo que precisava. Então ela pediu:
      ― Daniel, por favor, você pode me ajudar a carregar esse material?
      O garoto, quando a ouviu dizer isso, foi correndo ajudar. Em
seguida, a aula começou.
      Ao final da aula, ele, seu amigo de sala e seu irmão estavam
subindo a rua para ir para casa quando Daniel parou e disse a seu amigo
Gabriel:
      ― Sabe, achei uma injustiça a professora pedir para eu ajudá-la!
      Ao que o amigo respondeu:
      ― Claro que não, Daniel! Ela estava carregando muitas coisas e
estava certa em pedir ajuda. Se ela tivesse me pedido, eu iria numa boa,
sem nem reclamar!
      O irmão do garoto, escutando tudo, os interrompeu dizendo:
      ― Meninos, parem com essa discussão! Os dois estão errados!
Você, Daniel, por estar reclamando por ela ter lhe pedido, e você,
Gabriel, por estar falando que, se a professora tivesse lhe pedido, você
ia! Os dois, desde a hora que a viram, deveriam ter tido a iniciativa de
ajudá-la. Espero que vocês tenham aprendido e, da próxima vez, façam
isso que eu disse!
      Em casa, Daniel ficou pensativo. Ele não sabia em que podia
ajudar, mas queria ter a iniciativa. À noite, sua mãe estava fazendo o
jantar e ele perguntou se podia ajudá-la:
      ― Mamãe, você precisa de ajuda?
      ― Obrigada, filho, mas já estou acabando... Ah, que tal por a mesa
do jantar? ― respondeu a sua mãe, D. Ana.



                                  67
Em seu quarto, Daniel ficou pensando: Gostei de ajudar... Em que
mais posso colaborar? Pensou em pedir ajuda a seus amigos.




       No dia seguinte, na escola, reuniu-se com seus colegas na hora do
recreio. Daniel falou de seu problema de não saber como ajudar:
       ― Gente! Estou com uma dúvida cruel: não sei como ajudar! ―
exclamou o menino.
       Seu melhor amigo, Gabriel, respondeu:
       ― Eu também fiquei pensando nesse assunto...
       ― Já sei! ― gritou Júlia. ― Podemos perguntar à professora!
       Os colegas gostaram da ideia. O sinal tocou e todos aguardaram
na fila. Quando a professora chegou, as crianças perguntaram em coro:
       ― Joana, como podemos ajudar?
       ― Meus queridos, vocês podem me ajudar a entregar as folhas e
livros, ajudar os colegas quando tiverem dúvidas. Em casa, arrumar a
cama e o quarto, deixando os brinquedos no lugar. ― respondeu a
professora.
       ― Então com pequenas atitudes podemos ajudar! ― concluiu
Daniel.
       A partir desse dia Daniel e seus colegas passaram a ficar atentos
nas oportunidades em casa e na escola para ajudar as pessoas.



                                  68
Respeitando as diferenças
      Em uma cidade grande, havia uma escola chamada
 Primus. Nela tudo era muito bom: os professores, o espaço,
 as aulas, etc. Tudo ia muito bem, mas, no 3º ano E, tinha um
 menino que era rejeitado por sua turma. Por ser baixinho e
 meio gordinho, os outros colegas só sabiam criticá-lo.
 Sempre o excluíam das brincadeiras e ele nunca era
 escolhido nas atividades.
      Esse menino se chamava Jorge. Em todos os recreios
 o garoto andava sozinho, não tinha nenhum amigo com
 quem pudesse compartilhar seus segredos e suas emoções.
 Então, por não ter ninguém, ele decidiu criar um amigo
 imaginário. Os seus colegas zombavam sempre dele e
 começaram a chamá-lo de louco por ficar falando sozinho.
      Jorge ficava muito triste, com todos aqueles
 xingamentos: feio, gordo, baixinho, chato, doido, entre
 outros. E cada vez mais ficava magoado e tímido.
      Sempre tinha pensado que não devia ligar para o que
 os outros pensavam dele, mas aquilo já estava ficando
 insuportável, era demais! Todo dia a mesma coisa, nas aulas
 de Educação Física era o último a ser escolhido para compor
 o time, nas aulas em que a turma fazia grupo sempre ficava
 sozinho. Nunca pensou que algum dia fosse chegar a esse
 ponto, então decidiu tomar providências.




                              69
Na manhã seguinte Jorge foi falar com a professora sobre o que
estava acontecendo, explicou tudo, o seu constrangimento, a sua timidez
e a exclusão.
     A professora Cármen prestou bastante atenção no que ele lhe
disse e explicou que já havia percebido o que estava acontecendo, mas
estava esperando que Jorge viesse falar com ela. E ainda falou que
estava muito feliz com ele por ter se aberto com ela e que ia conversar
com os alunos naquele dia mesmo. O garoto saiu da sala expressando
sua gratidão por meio de um grande e bonito sorriso.
     Como combinado, quando os colegas chegaram à classe de volta
do recreio, a professora anunciou que pegaria um tempo da aula para
uma conversa séria. Todos os meninos, exceto Jorge, se espantaram e
pensaram: aí vem bronca!
     A professora começou a conversa:
     ― Todos já sabemos que ninguém é perfeito, não é?


                                  70
Os alunos responderam em coro “Ééé!” e ela prosseguiu:
      ― Certo. Todos aqui sabem que somos diferentes um dos outros,
ninguém é igual a ninguém. Um é mais gordinho, outro mais magrinho,
uma mais rápida em compreender a matéria, outras mais devagar.
Muitos chamam de defeitos, mas eu chamo de diferença. Temos sempre
que respeitar o diferente, parar de ligar para a aparência e conhecer a
pessoa por dentro.
      Jorge suspirou aliviado. Todos os seus colegas estavam em
silêncio e prestando a maior atenção. Será que perceberam que ela
estava falando dele? A professora continuou:
      ― Eu acho a exclusão uma das coisas mais feias que se pode
fazer com alguém. Antes de dizer ou fazer qualquer coisa, devemos nos
colocar no lugar do outro, imaginar se o que estamos falando estivesse
sendo dito para nós. Eu sei que ficariam muito tristes, então, por favor,
eu peço que respeitem as diferenças de cada um, não só em sala de
aula, mas em todos os lugares. Nunca se esqueçam disso, pois vão
levar para a vida inteira!
      Durante as outras aulas os alunos ficaram calados, refletindo, pois
perceberam que o que estavam fazendo com Jorge era muito errado. No
final da aula, vários pediram desculpas a ele. Daquele dia em diante
todos ficaram amigos dele e fizeram esforço para o conhecerem melhor.
Se arrependeram de tudo o que tinham falado de ruim para o garoto, que
agora era um dos mais queridos da série.
      Passaram-se anos e anos e os alunos não esqueceram o que a
professora Cármen lhes ensinou e, como ela disse, levaram para a vida
inteira.




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Apenas Letras: a história de um amigo

  • 1. Caderno de Histórias UM PRESENTE DO 6º ANO 2011 PARA AS CRIANÇAS DAS SÉRIES INICIAIS
  • 2. Ficha Técnica Diretor: Francisco Angel Morales Cano Gestão pedagógica: Elizabeth Moura de Carvalho Eliazar Supervisão pedagógica: Fernanda Fátima de Lima Moreira Professoras responsáveis (texto): Aline França Russo e Rossana Diva Ferreira Gonçalves Professora responsável (imagem): Ana Célia Magalhães Revisora: Juliana Ângelo Gonçalves Ano: 2011 2
  • 3. Cartinha ao leitor Querido leitor, No dia em que nossa escola lançou o Projeto Boa Ação, ficamos pensando em como poderíamos fazer uma boa ação. Tivemos muitas ideias e, na aula de Produção de Textos, pensamos em criar este livro para dar de presente para as crianças das séries iniciais. Somos sete turmas de 6º ano e cada turma escreveu duas pequenas histórias. Agora temos 11 e 12 anos, mas há pouco tempo tínhamos a sua idade, então sabemos exatamente o que você está vivendo. Em cada história você encontrará personagens vivendo situações do dia-a-dia e aprendendo com elas. Fizemos os textos com muito carinho. Na verdade, cada um de nós criou uma narrativa diferente, aí escolhemos a melhor da sala e, depois, todos os colegas deram sugestões para deixá-la ainda melhor. As ilustrações também foram feitas por nós! Desejamos a você uma boa leitura! Quando terminar, conte para nós o que achou! Abraço, Alunos do 6º ano – 2011. 3
  • 4. Sumário Apenas Letras ................................................................................................... 7 Autoria: Amanda Ramos e alunos do 6º ano A1 Fotografia: David Costa Peixoto Tema: fazer as atividades com letra legível Já fui tímido ................................................................................................... 15 Autoria: Pedro Parenti Vianna e alunos do 6º ano A2 Ilustração: João Vítor Rodrigues de Menezes Tema: ajudar o colega tímido Faz bem ser bom ............................................................................................. 20 Autoria: Ana Luísa Jorge Habib e alunos do 6º ano B1 Ilustração: Bárbara Meier e Laura Costa Alvarez Tema: fazer o bem e ser bom Manual de Gentileza .................................................................................... 24 Autoria: Rafaella Araújo de Oliveira e alunos do 6º ano B2 Ilustração: Matheus Henrique de Vilhena, Rafaella Araújo, Lívia Beatriz Soares de Oliveira, Vitória Queiroz Guimarães de Almeida, Thiago Comarelli Alves, Paula Magalhães Pinto Braga de Lara e Lucas Perez Santos Tema: dicas de gentileza Fique ao meu lado ou fique calado .............................................29 Autoria: Joana Morais e alunos do 6º ano C1 Ilustração: Amanda Casal de Castro e Ana Flávia Lima Duque Tema: bulling 4
  • 5. Não sei estudar direito .......................................................................... 32 Autoria: Rafael Souza de Abreu e alunos do 6º ano C2 Ilustração: Marianna Diniz Araújo e Luiza Costa da Fonseca Tema: dicas para estudar direito O ataque dos vírus ......................................................................................... 41 Autoria:Arthur Del Rio Abreu Rosa e alunos do 6º ano D1 Ilustração: professora Márcia Bahia Mendes Tema: conservação dos livros da biblioteca Bagunceiro ..................................................................................................... 45 Autoria: Manuela Cota G. M. Lage e alunos do 6º ano D2 Ilustração: Manuela Cota e Rafaela Rolim Sant'Ana Tema: menino aprende a não ser mais bagunceiro na casa dos outros Fiscalização Matinal: a blitz da mochila .................................... 51 Autoria: Gabriela Carvalho Lopes e alunos do 6º ano E1 Ilustração: Alice Sá Fortes Alvares e Fernanda Mendes Gomes Tema: organização e cuidado com o material escolar Aprendendo a falar a verdade ........................................................ 55 Autoria: Maria Fernanda Coimbra Alves e alunos do 6º ano E2 Ilustração: Víctor Kenzo Sousa Takahashi e Iara Teixeira Furtado Tema: falar a verdade, não mentir A superação de Arthur, o bagunceiro.................................................. 59 Autoria:Lívia Pinheiro de Oliveira, Carolina Mazzieiro Ferreira, Letícia Viana Scarpelli Aguiar e alunos do 6º ano F1 Tema: Aprendendo a não fazer bagunça na sala de aula 5
  • 6. Meleca na boca do outro é fofoca ..............................................63 Autoria: Maria Terra Nadab Leroy e alunos do 6º ano F2 Ilustração: Paula Costa dos Santos Tema: fofoca Em que posso ajudar? .......................................................................... 67 Autoria: Clara Sardenberg Gomes Lima e alunos do 6º ano G1 Ilustração: Amanda Murta de Siqueira Oliveira Tema: colaborar com as pessoas Respeitando as diferenças .................................................................. 69 Autoria: Marina Sifuentes Moreira e alunos do 6º ano G2 Ilustração: Isabel Pinheiro Matos Tema: ser um bom colega, respeitar a todos 6
  • 7. Apenas Letras ― Desisto, Roberto! Você nunca, nunca, nunca vai ganhar um 10 na minha prova! ― disse a professora. ― Mas... ― tentou dizer Roberto. ― Esquece! Desisto! Você nunca vai conseguir! Você é um caso perdido mesmo! E aqui estamos nós de novo. Presenciando mais uma das longas e chatas discussões entre a professora de Português, Jaqueline, e meu amigo de escola, Roberto. O motivo dos gritos ensurdecedores em direção a ele? Claro, é só mais uma de suas redações indecifráveis. Roberto é bom em todas as matérias, parece super inteligente quando está falando, mas... na hora de receber a prova: que desastre! Perde pontos por sua letra ilegível. 7
  • 8. . Meu amigo, quer dizer, meu melhor amigo é gente boa. Legal, divertido, até de vez em quando engraçado. Mas essas qualidades de Roberto só eram conhecidas por mim. Pela comunidade escolar ele era “o” estranho, “o” quieto, “o” mudo... E outras coisas mais. Poderia até se dizer que era desprezado pelos estudantes. Mas se tinha uma coisa que Roberto era realmente bom?! Ele é um gênio em descobrir pessoas boas nas almas mais impuras e mais imperfeitas com quem convivemos. Um dia eu e meu grande amigo fomos ao pátio; quando tirávamos nossos lanches da mochila, reparei que Roberto estava triste, sua testa enrugada, zangado. Já não aguentava mais a ansiedade. Perguntei-lhe: ― O que aconteceu? ― Nada! ― rapidamente me respondeu. Não acreditei em sua resposta, pois a seguir ficou resmungando baixinho. Novamente, aproveitando a oportunidade, insisti: ― Nada? Se não houvesse acontecido nada, não estaria lhe perguntando! Vamos, conte-me o que aconteceu! ― Ah! ― bufou. ― Só estou com raiva, só isso. Olhei para ele com meu olhar irônico, eu sabia que ele não gostava “daquela” minha feição. Nós dois começamos a rir. Qualquer um que passasse nos chamaria de loucos, mas não nos importávamos. ― Você sabe mesmo como animar alguém! ― ele disse. ― Muito bem, agora me conte! 8
  • 9. E Roberto começou a me contar. Novamente era Jaqueline. Mesmo eu sendo boa aluna, tinha alguma coisa nela que me irritava, talvez aquele cheiro de biscoitos ou sua mania repugnante por gatos. No dia seguinte, quando cheguei à escola, encontrei sentado, de rosto sorridente: Roberto. O que me parecia bem estranho, pois naquele exato momento havia dois horários de Português. Sentei-me ao seu lado. ― Bom dia! ― cumprimentei. ― Você vai ter uma surpresa! Mas seu sorriso sumiu, quando a coordenadora entrou em sala e disse que não haveria aula, pois Jaqueline estava doente. Peguei meu livro e fui ler no horário livre. Achei que Roberto queria ficar sozinho; uma vez ou outra olhava para ele sem perceber. E me deparava com a mesma cena: ele escrevendo alguma coisa em uma folha e logo depois arrancando e amassando-a, murmurando xingamentos para si mesmo. Ao final do 2º horário, notava-se um grande monte de papéis amassados ao seu lado. Ajudei-o a jogar os papéis no lixo. Durante dois dias não tocamos mais nesse assunto. Até que chegou sexta-feira. Foi a primeira vez em oito meses que notei diferença na letra de Roberto. 9
  • 10. ― Olá, acho que agora a Jaqueline não vai ter mais tanta implicância com você, hein? ― eu disse. ― É... ― ele me respondeu. ― Se continuar assim, talvez suas redações fiquem até melhores que as minhas! E foi aí que o vi sorrir. Mesmo sendo parcial, nunca tinha visto um sorriso tão sincero como aquele. Ele me perguntou se eu gostaria de ler seu trabalho. Quando coloquei meus olhos no primeiro parágrafo... não consegui parar de ler! Sua história era tão fascinante! Nunca tinha lido coisa igual. Você também não iria acreditar que de uma mente tão inocente sairia uma história tão criativa. Foi aí que tomei uma única frase em minha mente, que por acaso me escapou: ― Você vai ser escritor! ― Anh? ― ele falou, assustado. A sala inteira riu. “Droga! ― murmurei. ― Falei tão alto uma ideia tão absurda! Vou ser motivo de piada ― pensei.” 10
  • 11. Depois do clima, meu amigo sussurrou para mim: ― Você acha mesmo? ― O quê? Ele me olhou com ironia. Como sou burra. É claro! ― Desculpa. ― falei. ― Sim ou não? ― novamente ele disse, me perguntando. ― Claro que sim! ― continuei. ― Mesmo nós dois tendo 12 anos, é muito longe a comparação da minha redação com a sua! Percebi que o talento literário de Roberto tinha ficado, até então, escondido de todos, inclusive da professora de Português, já que ninguém tinha paciência para ficar decifrando sua letra horrorosa. Foi só melhorar um pouquinho a letra, tornando-a mais ou menos legível, que pude ver o tamanho de sua criatividade. Mas eu adorava meu amigo e tinha insistido na leitura, Jaqueline provavelmente ainda consideraria a letra dele não digna de sua paciência. ― Rob, hora da verdade! ― falei com firmeza. ― Você tem muito talento, acho mesmo que pode virar escritor, mas a letra ainda precisa melhorar para as pessoas terem gosto em ler o que você escrever. Só desse jeito que os professores poderão avaliar seus textos e ajudá-lo a melhorar ainda mais. Meu amigo ficou animado, na expectativa, esperando que eu falasse algo mais, tipo o próximo passo. Mas eu não tinha um plano. Pensei em algo na hora: ― Acho que podemos entrevistar as pessoas da sala que têm as melhores letras e fazem os trabalhos mais caprichados. Você anotará as dicas que elas derem em um caderno, tentando segui-las, entendeu? Roberto gostou da ideia e, como já tinha trazido de casa um caderno onde estava treinando sua caligrafia, começamos a colocar em prática as entrevistas naquele dia mesmo. 11
  • 12. Veja como ficou (repare que a letra vai melhorando a cada dica): 12
  • 13. Todo mundo, na sala, ficou empolgado com o caderno do Roberto. Até algumas pessoas de outras turmas ficaram sabendo e pediram para ver. Era impressionante! Com uma semana, Roberto tinha escrito quase 45 dicas e, da 10º em diante, a sua letra já tinha melhorado mais do que eu poderia imaginar. 20 ANOS DEPOIS... 13
  • 14. ― No final do ano letivo, Roberto tinha as melhores notas em Português e, após escrever suas loucas e fascinantes histórias, ao completar 18 anos ganhou uma vaga na melhor editora da Inglaterra! Uma garotinha levantou a mão no fundo da sala. ― Pode falar, Laura. ― Professora, essa história aconteceu de verdade? ― Ah ― suspirei. ― Digamos que sim, Laurinha, digamos que sim. 14
  • 15. JÁ FUI TÍMIDO Olá! Meu nome é Ricardo. Tenho 13 anos, sou loiro e tenho olhos verdes (ou azuis, a diferença é pouca). Estudo no Colégio Santo Agostinho (CSA). Na minha turma há 25 alunos, dentre eles, os mais populares são: Clara, Lívia, Bruno, Otávio, Laura e Gabriel. Sabe, eu tenho uma queda pela Clara, mas nunca tive coragem de chamá-la para sair. Ela é alta (mais do que eu, infelizmente...), tem cabelos pretos e curtos, olhos castanhos e um belo corpo. Usa óculos e é linda de morrer! 15
  • 16. Só para constar, sou meio tímido e minhas notas são de média 11 em 12. Só tenho um melhor amigo, o Henrique (ele também é tímido e sua muito sob pressão). Hoje, na aula do professor Fernando, que ensina Matemática, o Otávio me passou um bilhetinho falando assim: Meus olhos brilharam, nunca tinha sido convidado para nada. Respondi na hora que sim. No recreio, o Otávio me chamou pra ir falar com as garotas. – Não! Estou bem aqui... Precisa não... – falei meio inseguro. – Deixa disso! Vamos lá! - e fui puxado à força por ele. Conversei com elas quase desmaiando. Para ter uma ideia, falei besteiras como: – De quem eu gosto? Anh... Hum... Eu gosto... de cães, de... pandas! (...) Ahn? Não foi isso que perguntou? Então... Gosto de... de... de... Matemática, de jogar xadrez... (...) Ahn? Não foi isso ainda...? As meninas começaram a rir. Foi horrível! 16
  • 17. No dia seguinte, a primeira aula era de Ciências (professor Carlos Vinícius). Ele pediu pra gente formar quintetos, eu puxei o Henrique e nós pedimos pra fazer com o Otávio, Bruno e Gabriel; eles concordaram. O trabalho seria uma apresentação de Power Point; nosso tema foi Eclipse Solar. Começamos a trabalhar no projeto e a pesquisar os assuntos no Google. Terminamos com três dias de antecedência. No dia da apresentação, eu estava nervoso, minha camisa estava molhada (a do Henrique estava encharcada, de tanto suor). O Gabriel falou a introdução do trabalho, depois foi o Bruno, o Otávio, o Henrique e... chegou a minha vez! Minhas pernas estavam bambas e eu estava da cor de um tomate maduro. Falei a conclusão do trabalho e errei algumas vezes, mas eles nem ligaram, mesmo assim todos aplaudiram. Nossa nota foi 4,0 em 4,0. Chegou o dia 26 de abril, sábado. Fui à casa do Otávio, e a gente conversou, jogou videogame e lanchou. Consegui descobrir que ele vai mal na escola e que gosta da Lívia. Combinamos de eu ir uma vez por 17
  • 18. semana na casa dele para ajudá-lo com os estudos. O dia passou rápido. No próximo dia, nosso horário estava assim: Artes (legal!), Português (normal), Geografia (demorou um século), Ciências (divertido) e Matemática (minha matéria preferida!). No recreio fiquei conversando com todos, ou melhor, ouvindo a conversa, mas pelo menos eu estava lá. Aos poucos fui me soltando e todo dia falava um pouco mais com os populares; o Henrique também. No final do ano, eu olhei em volta e vi que meu colega Guilherme estava lanchando sozinho. Cheguei até ele e perguntei se ele estava bem, se não queria vir comigo para lanchar. Ele respondeu: – Não! Estou bem aqui... Precisa não... 18
  • 19. Mas já conhecia o truque, puxei-o pelo braço e ele acabou se enturmando mais rápido que eu. Terminei o ano super feliz. Finalmente, encontrei coragem para chamar a Clara para sair e ela topou. Agora passe a ideia adiante! Olhe em volta e veja se tem um colega solitário, vá até ele, conheça-o melhor, e chame-o para lanchar com você no recreio. *** 19
  • 20. Faz BEM ser BOM Às vezes não fazemos a coisa certa porque temos vergonha de dizer o que é realmente correto. Se expressar, dizendo sempre a sua opinião, é fundamental para o crescimento de qualquer ser humano. Por isso, seja valente nesses casos. Além de dizer a sua opinião, é bom seguir sempre os bons exemplos que fazem o bem. Em todas as suas atitudes, procure responder para si mesmo: será que essa é realmente a atitude correta? Se você vir algo de errado acontecendo, defenda o bem! Como exemplo dessas situações, veja o que aconteceu com uma turma de crianças: No ano de 2011, no Colégio Santo Agostinho, a turma que mais se destacava no comportamento era o 5º ano H. Uma turma de alunos muito inteligentes, que prestavam atenção nas aulas. Conversavam, como toda turma, porém sabendo a hora e o tom de voz certo. Nessa turma havia cinco alunos de notas exemplares: Pedro, Gabriel, Júlia, Isabela e Luciana. Os alunos mais participativos e estudiosos do 5º H. No meio do ano, um garoto chamado Felipe entrou na turma; os alunos, curiosos, perguntaram por que ele entrou no colégio no segundo semestre, e ele respondeu: ― Eu fui expulso do meu antigo colégio. 20
  • 21. Os alunos, surpresos, perguntaram por que tinha sido expulso e Felipe disse: ― Depois que tomei duas bombas, a diretoria já estava irritada comigo, então foi só eu fazer uma coisinha de nada para o colégio não me aceitar mais. Pedro perguntou curiosíssimo: ― Mas o que você fez de tão pouco para isso acontecer? Felipe respondeu: ― Eu tirei 4,0 em 14,0, na prova. O coordenador veio conversar comigo e eu zombei da cara dele. A turma ficou espantada. Passaram-se semanas e Felipe logo se entrosou com Gabriel, que achou legal as suas gracinhas. Luciana, que gostava de Gabriel, acabou entrando na onda junto com Isabela, sua melhor amiga. Aos poucos a turma foi gostando do modo rebelde e desleixado de Felipe. Pedro e Júlia, que se gostavam, fizeram um trato: não iriam se deixar levar pelos amigos. Nessa ocasião, Isabela, fuçando nas coisas de Júlia, viu um desenho com um coração onde se podia ler: Júlia e Pedro. 21
  • 22. Isabela arrancou a página da agenda e ameaçou a amiga de mostrar o desenho a todos se ela não fizesse uma gracinha que atrapalhasse a aula. Ao mesmo tempo, Gabriel ameaçou Pedro de contar para a turma que ele vivia grafitando o nome da Júlia no caderno. Dois dias depois, Pedro e Júlia fizeram o prometido e perceberam como era boa a sensação de ver a professora furiosa e todos rindo deles. Continuaram assim durante meses. A turma saiu do primeiro lugar em comportamento para o último. A professora, cansada das interrupções e brincadeiras, encaminhou Júlia e Pedro para a diretoria, que lhes deu suspensão. Ao chegar à sala, começaram um debate: ― Vocês acham que fazer gracinhas é realmente legal? ― perguntou Júlia. ― Acho que já cansei de agir desse jeito... ― falou Luciana. ― Agora nossa bagunça está trazendo só resultados ruins... ― disse Gabriel. ― Um garoto qualquer não pode mandar em ninguém. ― disse Pedro, aumentando o tom de voz para que todos os colegas escutassem ― E ainda tem mais: ele acha que fazendo isso vai ser legal! 22
  • 23. ― É isso mesmo, concordo! ― disse Isabela. ― Até agora só a gente que está se dando mal. Quando vai chegar a hora dele? ― perguntou Júlia. Aos poucos, todos entraram no debate, deixando Felipe envergonhado, porém com uma grande lição. Perceberam que eram a maioria e não podiam se deixar levar pelos maus exemplos; ao contrário, tinham que ajudar Felipe a ser como eles. Com o passar dos dias, as gracinhas foram acabando e a turma voltou a se comportar como uma turma melhor. 23
  • 24. Manual de Gentileza Como fazer: cumprimentos.  Quando entrar em uma loja, restaurante, padaria, farmácia, escola, etc., dê um oi, olá, bom dia, boa tarde ou boa noite.  Quando se encontrar com uma pessoa, observe-a e pergunte: você está bem? 24
  • 25. Lembre-se: não use cumprimentos informais, como “beleza?" com idosos ou pessoas de maior hierarquia*, como o chefe de seu pai, seus professores, etc. E atenção: todos esses exemplos devem ter uma prática diária, pois essas palavras de cumprimento melhoram o humor das pessoas. Como fazer: despedidas  Quando sair de algum local, despeça-se de todos. Isso será muito gentil da sua parte. Use palavras como tchau, boa noite, boa tarde etc.  Além dessas palavras, demonstre sua simpatia com um sorriso e brilho nos olhos. *Hierarquia: escala de autoridade de um grupo. 25
  • 26. Como fazer: agradecimentos  Agradeça às pessoas que o ajudaram e que lhe fizeram o bem dizendo obrigado (se você for homem) ou obrigada (se você for mulher).  Faça sua parte praticando gentilezas, sendo educado, dando atenção e ouvindo os outros, praticando sempre o bem sem olhar a quem. 26
  • 27. Como fazer: na escola  Dê um bom dia aos funcionários, professores, alunos ou colegas, diretores, supervisores...  Deixe os ambientes iguais ou em melhor estado do que os encontrou, sendo gentil com as próximas pessoas que usarão o local e facilitando o trabalho das faxineiras. 27
  • 28. Ofereça ajuda aos professores para apagar o quadro, distribuir folhas. Colabore o máximo que você puder!  Cultive a disciplina, não converse fora de hora nem atrapalhe a aula. Participe, preste atenção e traga todo o seu material. Isso é ser educado com os professores. Resumindo, o importante é fazer o bem e contribuir com todos! 28
  • 29. Fique ao meu lado ou fique calado Zoé, uma menina de 9 anos, quase 10, estudava no CSA (Colégio Santo Agostinho), no 5º ano B. Era uma menina super animada e engraçada (suas piadas eram divertidas e engraçadas para todos). Ela sempre tinha sido muito feliz. Todo dia Zoé chegava mais cedo na aula e ficava conversando com os colegas. Um dia apareceu um grupinho da mesma sala dela: Thiago, Igor, Ana, Suzana e Sebastião, chegaram “se achando”, cercaram a menina e começaram a xingá-la. As crianças do grupinho acharam muita graça. Coitada da Zoé! O pior foi que os seus amigos não a ajudaram e foram embora... Será que estavam com medo? Esse grupinho continuou a chateá-la. Depois de um tempo, ela não era mais a mesma menina alegre de antes, tinha e demonstrava medo. Certo dia, a turminha implicou com ela novamente, e ela, já muito abalada, não deixou que a magoassem, foi à luta e disse: 29
  • 30. ― Já não me magoaram demais? Eles responderam: ― Olha, gente, é a peidorreira! Toda aquela turminha caiu na gargalhada. Zoé, triste, saiu correndo com lágrimas escorrendo no rosto e foi embora para casa. Ao chegar, Zoé contou para seus pais o que estava acontecendo. Seu pai falou: ― Zoé, não podem fazer isso com você, iremos à sua escola. Depois da reunião dos pais, Zoé se sentiu mais segura e desse dia em diante voltou à rodela e contou suas piadas. Você deve estar se perguntando: ― E o grupinho, cadê? Eu respondo: foram suspensos por duas semanas e seus pais foram convocados para irem a uma reunião na escola. O resto da turma ficou com menos medo do grupinho e passou a apoiar Zoé. Ela ficou mais esperta e, sempre que era importunada, 30
  • 31. contava à professora. Aos poucos, a brincadeira de mau gosto perdeu toda a graça e deixaram Zoé em paz. O grupinho sofreu por um tempo até decidir pedir desculpas para Zoé. Vocês não vão acreditar, mas Zoé acabou ficando amiga de algumas crianças daquele grupinho. Se você for quem faz piadinhas sem graça, olhe a história de Zoé, ela se magoou muito, pare de fazer! Saia desse grupinho! Se você for o caso da Zoé, não esconda isso de ninguém, conte, fale! Não tenha medo! Se não se incluir nesses casos, ajude quem precisa de sua ajuda! 31
  • 32. Não sei estudar direito Eduardo é um menino legal, esportivo, nem alto nem baixo. Tem cabelos e olhos bem pretinhos e a pele morena clara. Tinha tirado boas notas até o 3º ano. Mas, quando chegou no 4º ano, suas notas foram caindo, caindo, caindo... e passou de ano com notas bem coladas na média. Ele começou a se preocupar. Como seria o 5º ano? Em uma sexta-feira, sua professora, Rose, disse para a turma que, na próxima semana, haveria a segunda prova de Português. Eduardo logo se apavorou, pois, na primeira prova dessa matéria, tinha tirado 6,8 em 12. No final do horário, ele estava chateado e desanimado. Falou assim com seu melhor amigo: ― Tiago, não adianta! Eu estudo e não vou bem nas provas. Acho que dou azar... ― Mas você estuda de verdade? ― perguntou Tiago. ― Claro que sim! Você não está acreditando em mim? ― Calma! Estou. Mas é quase impossível não ir bem nas provas se você estiver estudando. Eu mesmo vou mais ou menos nas notas porque sei que estudo mais ou menos, que fico molengando... Se eu estudasse mais, claro que iria melhor nas provas! 32
  • 33. Eduardo ficou refletindo sobre o que o amigo disse. Realmente, não era justo estudar direitinho e ir mal nas provas... Só tinha uma resposta possível para este problema: ELE NÃO ESTAVA SABENDO ESTUDAR DIREITO. Ficou mais animado quando descobriu isso. ― Então tem solução! ― pensou. ― É só eu aprender a estudar certo! Curioso, assim que entrou no carro de sua mãe para ir embora, perguntou: ― Mãe, de que matéria você mais gostava? ― Quando eu era da sua idade eu adorava Português! ― Português! E como é que você estudava? ― Eu lembro que pegava textos de revistas e tentava interpretá-los com perguntas parecidas com as que a professora fazia nas atividades. Eu também estudava a gramática fazendo esquemas e exercícios. Mas o principal é que eu sempre gostei de ler. Lia sempre um ou mais capítulos de um livro antes de dormir e isso aumentou meu vocabulário e melhorou a minha interpretação e produção de textos. ― E a ortografia, você era boa? ― Não era ruim demais, mas tinha as dificuldades próprias da idade... Na minha turma de 5º ano todos os alunos ganharam, no início do ano, um caderninho em branco, dividido nas letras do alfabeto. Todas as palavras que a gente errava tínhamos que escrevê-las corretamente nesse dicionário. Aí eu estudava, tentando decorar a grafia dessas palavras, e também pedia para outras pessoas fazer ditados para mim. ― Ditados? Não era muito chato? ― De jeito nenhum! Era divertido. Sua avó pegava o meu dicionário e, sem deixar que eu visse, ditava umas 20 palavras mais difíceis. Aí, se eu fosse bem, ela fazia o que eu pedia para o almoço... Batatas fritas, por exemplo! 33
  • 34. Quando chegou no apartamento, Eduardo registrou no seu caderno de Língua Portuguesa tudo o que a mãe lhe havia dito. Assim que o pai chegou do trabalho, já foi logo perguntando a ele: ― Pai, de que matéria você mais gostava quando tinha a minha idade? ― Ah, eu era um mago da Ciência! ― Como você estudava Ciências, pai? ― Eu refazia alguns exercícios mandados pelo professor, fazia esquemas dos assuntos tratados em sala e sempre lia a matéria no livro da minha turma e em outro livro didático que eu pegava na biblioteca. ― Pra que ler outro livro? Não ensinava a mesma coisa? ― Ensinava sim a mesma coisa, mas, como tinha sido escrito por outro autor, era de um jeito um pouco diferente e isso facilitava para entender. Às vezes um autor escrevia de um jeito mais difícil um ponto da matéria e o outro de um jeito mais fácil. Então um livro completava o outro, entendeu? 34
  • 35. Eduardo pegou o caderno de Ciências e anotou todas as dicas dadas pelo pai. No dia seguinte, a família de Eduardo foi convidada para ir a um almoço na casa de seus tios. Durante o almoço, o menino fez a pergunta de sempre ao seu tio. ― Tio, de que matéria você mais gostava quando estava no 5º ano? ― Eu adorava Matemática! ― E como você estudava essa matéria? ― Eu refazia todos os exercícios mandados pelo professor em um caderno de estudos. E treinava mil e uma vezes a tabuada até sabê-la de cor! Acho que só soube de cor, todinha, no final do 4º ano. Até lá eu copiava a tabuada todos os dias, e duas vezes por semana meu pai fazia um ditado para mim, valendo a sobremesa do jantar! Eduardo agradeceu o tio e anotou logo o que ele disse em um pedaço de papel para não esquecer e depois poder copiar no caderno de 35
  • 36. Matemática quando chegasse em casa. Depois da sobremesa, a tia foi lavar a louça, e o sobrinho aproveitou para lhe perguntar: ― Tia, de que matéria você mais gostava? ― Hum... Eu sempre gostei de História! ― E como você estudava? ― Eu fazia anotações das aulas dadas pela professora e resumos dos capítulos do livro no meu caderno. Na minha época, nas provas de História, caíam vários capítulos do livro e eram muitas páginas para estudar. Mas como eu ia resumindo aos poucos, cada capítulo por vez, não ficava trabalho demais para a véspera da avaliação. Quando a professora anunciava a prova, eu já tinha resumido quase todos os capítulos e aí era só ler os resumos com calma e pesquisar alguma coisa. ― Pesquisar o quê? ― Ah, lá em casa tinha uma coleção de enciclopédias e eu gostava de ler um pouquinho mais de um ponto da matéria, sobre a biografia de algum personagem importante da História, essas coisas. Agora, com a Internet, você pode fazer isso com muito mais facilidade! 36
  • 37. Eduardo usou o mesmo pedaço de papel para anotar. Foi assistir à televisão com sua prima, que já tinha 16 anos. No intervalo, perguntou a ela: ― Maria, de que matéria você mais gosta? ― Eu amo Geografia! Quer saber como eu estudo, né? ― Isso! ― Bom, eu faço esquemas dos capítulos, refaço os exercícios e combino com minha amiga de estudarmos juntas. Aí ela faz tipo que uma “prova” para mim e eu faço outra para ela, com várias questões, o mais parecido possível com as provas da fessora de Geo. Cada uma faz a prova e corrige a da outra. É como brincar de escolinha quando criança, só que a gente acaba mesmo aprendendo! Durante a semana, Eduardo continuou perguntando, mas também já começou a estudar. Dessa vez, como era prova de Português, seguiu mais as dicas da mãe. A prova de Língua Portuguesa não foi fácil. Eduardo terminou a avaliação sem ter certeza se tinha ido bem. A professora Rose entregou as provas corrigidas uma semana depois. Será que ele havia ido bem? Será que tirou total? Não. Não foi dessa vez... Tirou 8,8 em 12. Eduardo ficou super triste e com um pouco de raiva. ― Tá vendo, Tiago? Dessa vez eu estudei direitinho e nada! Não adiantou nada! Tiago olhou para ele sem entender. Tinha tirado 9,0 em 12, mas não tinha estudado muito em casa, como sempre. Na descida para o recreio, Rose, a professora, passou a mão nos cabelos pretos de Eduardo e disse com carinho: ― Parabéns, Dudu! Gostei de ver sua nota na prova! ― Parabéns? Mas eu quase perdi média! ― disse Eduardo achando que a professora estava ficando doida. 37
  • 38. ― Mas sua nota foi maior que a da sua primeira avaliação de Português e esta prova foi mais difícil. Com certeza você está estudando mais, não é? Então Eduardo contou tudo, sobre as entrevistas feitas aos parentes e sobre o seu esforço em estudar. ― Dudu, você está no caminho certo! Você começou a se esforçar agora e não seria justo já tirar um total. Está pensando que é fácil? Não, não, não é assim que funciona! ― Então como é que é? ― Bom, você começou bem, melhorou a nota em relação a você mesmo! Se continuar estudando certo, vai tirar 8,9; depois 9,0; depois talvez volte para 8,8 se a prova estiver mais difícil... mas você tem que persistir! Passados uns dois ou três meses, você vai ver! As notas vão começar a aumentar mais e aí, no final do ano, talvez você consiga um total! ― Só no final do ano? ― reclamou o menino, decepcionado! ― É claro! A gente dá um passinho de cada vez rumo ao aperfeiçoamento. Mas se você persistir, como estou lhe dizendo, valerá a pena, porque quando chegar no nível das notas perto do total, depois ficará fácil manter esse nível, pois você já estará acostumado a estudar direito. Então terá o resto dos anos escolares para aproveitar dessa conquista! O 6º ano, o 7º, o 8º, o 9º... ― Já entendi! Mas o que eu não entendi é como o Tiago vai melhor do que eu sem estudar! Isso não é justo! Eles se sentaram em um banquinho em frente à cantina e continuaram a conversar. ― É justo. Você não está entendendo porque ainda não compreendeu tudo sobre como estudar. O Tiago realmente não estuda quase nada em casa, mas estuda bastante na sala. ― O quê? Ele fica estudando durante a aula? E você deixa? ― Claro que deixo! Todos deveriam fazer assim também! Estudar não é só em casa! Ele está estudando quando presta atenção na aula, 38
  • 39. quando participa, quando faz perguntas e expõe suas dúvidas, quando ajuda os colegas e quando faz bem feito os deveres de casa... ― É, realmente, ele faz tudo isso... ― E você? Eduardo ficou vermelhinho de vergonha, mas respondeu: ― Eu às vezes fico distraído, perco partes da explicação, aí fico com vergonha de dizer que não entendi. Também não costumo ajudar os colegas, porque faço as atividades com moleza e nunca sou dos primeiros a terminar... E é verdade que não tenho ligado muito para os deveres de casa. Tenho feito correndo para ter tempo de brincar. ― Viu? Desse jeito você só está estudando 50% direito, que é o estudo em casa. Os outros 50%, que é o estudo na escola, você está desaproveitando. Eduardo entendeu e ficou danado com ele mesmo por perder tanto tempo na sala de aula. Decidiu que mudaria de atitude. Seguiu a ideia que a professora tinha dado no final da conversa: combinar com Tiago de um ajudar o outro; ele ensinaria o amigo a estudar bem em casa e o Tiago ficaria de olho para ele prestar atenção durante as aulas. E o que aconteceu com o Dudu? Exatamente o que a professora Rosa previu. Ele começou a subir de nota devagarzinho, às vezes a nota caia um pouco, mas, com o tempo, foi subindo, subindo, subindo... Tirou o primeiro 10,0 em 12,0 no final de setembro e o primeiro total em novembro. 39
  • 40. Nos outros anos, Eduardo e Tiago continuaram estudando direitinho, às vezes juntos também. Faziam resumos e esquemas, liam outros livros didáticos, refaziam exercícios, faziam provas e ditados um para o outro e até inventaram novas formas de estudar. Por exemplo, Eduardo descobriu que era um aluno visual, então copiava as fórmulas de Matemática, as datas de História, os nomes complicados de Ciências e os conceitos de Geografia em cartazes e colava nas paredes do quarto. Era só bater o olho durante umas semanas, que a matéria entrava em sua mente fácil, fácil! Tiago chegou à conclusão que era um aluno auditivo, então continuou prestando muita atenção nas aulas e lia a matéria em voz alta ou estudava dando aula para si mesmo, de frente para o espelho. Na hora da prova, vinha em sua mente sua própria voz, matando a questão! Cada um tem um jeito de estudar que dá mais certo. Mas enquanto não descobrimos qual é, devemos tentar de vários jeitos, aprendendo com cada um, várias vezes. 40
  • 41. O ATAQUE DOS VÍRUS No ano de 2137, no planeta Megum, um lugar avançado em ciências, pesquisadores malucos e maldosos inventaram vírus que levam os seres humanos a danificar os livros. Um dia lançaram esses vírus no espaço. Os vírus infectaram vários planetas, dentre eles um planeta azul e redondo perto do Sol. Após a destruição de mais de duzentos mil livros na Terra, o governo de Megum criou o CVI (Caçadores de Vírus Intergaláticos). A chegada ao novo e misterioso planeta foi fascinante para os agentes do CVI, pois nunca tinham visto pessoas humanas. Os caçadores avisaram aos terráqueos quais eram os tipos de vírus e que doenças causavam: NUM ACEITUM NAUM A PESSOA CONTAMINADA POR ESTE VÍRUS NÃO CUMPRE AS REGRAS DO EMPRÉSTIMO NA BIBLIOTECA. ELA SE TORNA AGRESSIVA QUANDO LHE É COBRADA MULTA PELO ATRASO DO LIVRO. SEGURUM LIVRUM PARA PROVUM O INDIVÍDUO COM ESTE VÍRUS É EGOÍSTA, NÃO DEVOLVE O LIVRO NO PRAZO CERTO, ACHA QUE SÓ ELE PODE USAR O QUE TODA TURMA VAI PRECISAR PARA AS PROVAS. 41
  • 42. EGOISTUS OS HUMANOS ATACADOS PELO VÍRUS FURTAM LIVROS E OUTROS MATERIAIS BIBLIOGRÁFICOS QUE SÃO USADOS POR TODOS LEVUM CAPITULUM ESTE VÍRUS É MUITO PERIGOSO. O DOENTE NÃO CONSEGUE CONTROLAR SUA ÂNSIA DE LEVAR UM OU MAIS CAPÍTULOS DOS LIVROS PARA CASA. PREDATORES INVETERATUS É UM VÍRUS QUE SE ESCONDE EM LUGARES DE DIFÍCIL ACESSO: ATRÁS DAS ESTANTES, CANTOS ESCUROS, BANHEIROS ETC. A PESSOA CONTAMINADA FICA COM UMA GRANDE VONTADE DE RABISCAR, RASGAR E RISCAR TODO E QUALQUER LIVRO QUE ESTIVER AO SEU ALCANCE. ESQUECIDUS O INDIVÍDUO CONTAMINADO POR ESTE VÍRUS RETIRA VÁRIOS LIVROS, REVISTAS E APOSTILAS DAS ESTANTES, LÊ ALGUMAS PÁGINAS E VAI EMBORA. SÓ QUANDO CHEGA EM CASA É QUE SE LEMBRA O QUE FOI FAZER NA BIBLIOTECA. 42
  • 43. EXPERIMENTARIUM LIVRUS ESTE VÍRUS CONTAMINA A PESSOA DEIXANDO-A COM UMA VONTADE IRRESISTÍVEL DE PROVAR O GOSTO DOS LIVROS, MOLHADO A PONTA DOS DEDOS COM SALIVA PARA MUDAR AS PÁGINAS. CONECTARIUM CELULARIS O DOENTE CONTAMINADO POR ESTE VÍRUS FICA TEIMOSO, INSISTINDO EM FALAR AO CELULAR EM UM AMBIENTE DE LEITURA E SILÊNCIO. RASURUS ESTE VÍRUS ATACA O HUMANO PROVOCANDO NELE UMA PEQUENA AMNÉSIA. ELE SE ESQUECE QUE O LIVRO NÃO LHE PERTENCE E GRIFA AS PARTES QUE LHE INTERESSAM. PAPATORUM LIQUIDUM O ATAQUE DESTE VÍRUS FAZ COM QUE O DOENTE ENTRE NA BIBLIOTECA COM COMIDA E BEBIDA, SACIANDO SUA GULODICE EM MEIO AOS LIVROS. 43
  • 44. Por outro lado da história, existia na cidade de Belo Horizonte um menino chamado Pedro, que tinha 11 anos e era filho da bibliotecária do colégio e do bancário de Santa Luzia uma cidade vizinha. Morava em um apartamento no Prado e gostava muito do seu colégio, tanto que, quando crescesse, queria ser professor. Certo dia, precisou fazer uma pesquisa sobre a Gruta de Maquiné e foi fazer seu trabalho na biblioteca. Ao entrar na biblioteca de manhã, começou a sentir algo estranho e pegou o celular, suas guloseimas, seu lápis e passou o dedo na língua. Provavelmente tinha pegado alguns tipos de vírus... Ligou para muitas pessoas, comeu suas guloseimas, rabiscou os livros e passou as páginas com o dedo molhado de saliva. Sua mãe, que estava trabalhando na biblioteca, percebeu a doença e levou o filho ao médico. Na sala de espera do doutor, havia uma televisão que estava ligada no Jornal Nacional, anunciando sobre cada um dos vírus. O diagnóstico do médico foi péssimo: Pedro estava com TODOS os vírus! Não havia outra solução: seria internado aos cuidados dos agentes da CVI. No hospital, avisaram que era preciso abrir o cérebro dele para retirar os vírus, utilizando a tecnologia superavançada trazida do planeta Megum. Ele seria operado naquele mesmo dia. Na operação, em apenas duas horas, foram retirados todos os vírus, exceto Rasurus, que após mais 1h30 foi retirado. Pedro foi levado até a sala de recuperação. De repente, o menino ouviu alguém o chamando, parecia a voz de sua mãe... Estranho... ― Pedro, acorde! ― repetia para ele muitas vezes. Acordou assustado, depois falou com sua mãe: ― Mãe, aprendi uma grande lição: nunca posso estragar nenhum livro, devo cuidar deles! Jamais vou fazer coisas erradas com os livros! Assim acabou a história com uma grande lição: cuide muito bem dos livros! 44
  • 45. Bagunceiro Gabriel era um menino criativo e simpático. O garoto de 9 anos tinha olhos claros e, apesar de baixinho, era muito agitado e conseguia ser a criança mais bagunceira que este mundo já viu! Gabriel estudava no Colégio Santo Agostinho e estava no 4º ano. Tinha muitos amigos, como o Ivan, o Pedro, o Júlio, a Luísa e a Helena, todos eles da turma D, na sala 110. Gabriel tinha um problema: ele nunca era convidado a ir à casa de ninguém! No ano passado, ele havia ido à casa de Pedro, no aniversário do amigo, junto de todos os seus outros melhores amigos. Lá eles brincaram de pega-pega, esconde-esconde e de vários jogos de tabuleiro. Na hora de lanchar, a mãe de Pedro, que estava todo esse tempo na cozinha, ao sair, berrou o mais alto que pôde: 45
  • 46. ― Ah! O que aconteceu na minha casa?! Oh, Meu Deus! ― Bem, mamãe... ― disse Pedro envergonhado.’ ― Bem nada, mocinho! Eu exijo uma resposta! Isto daqui está uma bagunça! Quem quebrou o meu vaso? ― perguntou a mãe, brava. ― Que bagunça que nada, D. Ana. Assim ficou mais bonito, tá até parecendo com minha casa! ― falou Gabriel, brincando como sempre. D. Ana, vermelha de tanta raiva, contou até 10 e se segurou para não dar uma bela de uma palmada no safado do Gabriel. ― Sabe, mamãe, é que nós guardamos todos os jogos enquanto o Biel ficava só correndo e atrapalhando e, quando nós terminamos, ele foi lá e bagunçou tudo de novo e disse que não seria necessário arrumar. Nós já estávamos perdendo a paciência e... ― Quer dizer que a culpa agora é minha?! ― reclamou Biel. ― Não, não é isso, Biel! É só que... ― tentou se explicar Pedro. ― Olha, D. Ana, o Pedro não teve culpa nenhuma. Tudo isso foi por causa do Gabriel. ― declarou Luiza, que sempre gostou de Pedro. 46
  • 47. ― Ninguém mais me deixa falar nesta casa! ― gritou Pedro, que fez com que todos se calassem assustados (Pedro era quieto, educado). ― Foi o Gabriel que quebrou o vaso sim! Ele chutou-o para “deixar o caminho livre e pegar a Lena”. Ah! Ele também quebrou o regador do jardim e tá vazando água na mangueira. ― se impôs. Silenciosamente, D. Ana saiu do cômodo e se dirigiu a seu quarto. Na sala, Pedro, Luísa, Gabriel, Ivan, Júlio e Helena engoliram a comida, pasmos. Aproximadamente vinte minutos depois, D. Ana, séria, voltou para a sala de visitas: ― Gabriel, vá pegar as suas coisas. Sua mãe já está vindo te buscar. O garoto pediu licença, se levantou e dirigiu-se ao quarto de Pedro, onde começou a organizar as suas coisas. Sua mãe chegou e os dois seguiram calados por todo o trajeto em silêncio. Quando chegou em casa, foi direto ligar a televisão e ouviu sua mãe dizer: ― Desliga! A partir de agora, serão três meses sem computador, televisão e sem encontrar os amigos. Ah! Mê dê seu celular! Envergonhado, Gabriel obedeceu as ordens da mãe e pensou: “Que bom que os meus pais são separados, só terei de aguentar isso quando estiver com a minha mãe...” 47
  • 48. ― E não pense que eu sou boba, que o castigo vai ser só aqui e na casa de seu pai vai ser tudo moleza. Eu já conversei com seu pai e lá será o mesmo esquema ― completou a mãe Jacqueline, acabando com os sonhos do filho. Gabriel realmente passou os três meses seguintes de castigo e, quando o castigo acabou, se passaram várias semanas e ele não foi convidado a ir à casa de nenhum dos amigos. Achou aquilo estranho, mas não deu muita bola, até o dia em que Pedro, seu melhor amigo, entregou o convite de seu próximo aniversário a todos, menos a ele. ― Desculpe, Biel, mas minha mãe me proibiu de convidar você para ir lá em casa para sempre ― se justificou Pedro. Gabriel ficou muito incomodado. Então permaneceu calado até o fim do recreio, quando... ao ouvir a conversa dos outros, percebeu que eles falavam do bolo de laranja que a D. Sônia, mãe da Lu, havia feito junto a eles no domingo. Estranhando aquilo, Biel resolveu perguntar: ― Quando você convidou a gente? Eu não ouvi! ― Você não ouviu porque eu não convidei você ― revelou a Luciana. ― Anh?! Mas por quê? ― Eu não queria que você fizesse aquela bagunça da festa do Pedro lá em casa e minha mãe me deixasse de castigo por um mês, como a mãe do Pedro fez com ele! Foi mal, Biel! 48
  • 49. Depois disso, Gabriel se desesperou. Saiu dali calado, rapidamente, e passou o resto da aula encolhido, atrás de um livro. Chegou em casa e caiu aos prantos, chorou no colo de sua mãe, pedindo ajuda. Ela lhe deu um conselho, disse para ele que procurasse, dos amigos, quem seria o mais compreensivo e conversasse com este. No dia seguinte, Gabriel saiu de casa decidido: iria conversar com Helena. ― Oi, Lena... ― disse Biel, meio sem jeito. ― Oi, Biel, você tá bem? Eu fiquei preocupada depois de ontem! ― disse Lena, simpática como sempre (o que fez Biel se sentir aliviado: havia escolhido a pessoa certa!). ― Na verdade, Lena, eu queria conversar. Você pode? ― Claro, Biel, pode falar. ― Bem, é que primeiro eu queria saber o que eu faço que incomoda tanto a vocês...? ― Olha, você estraga, amassa, bagunça nossas coisas e isso não é muito legal... ― Isso é tão ruim assim? 49
  • 50. ― É. Neste momento, Gabriel se lembrou de uma coisa: Helena era a pessoa que mais recebia convites. Ela poderia ajudá-lo. ― Lena, o que você faz para as pessoas gostarem tanto de receber você em casa? ― Bom, para ser uma boa visita, você precisa seguir alguns princípios: o primeiro diz sobre educação com os donos da casa, o segundo é sobre ser “pró-social”, ou seja, observar os princípios dos moradores e agir de acordo com eles... ― Mas isso eu tento fazer! ― Eu sei, mas você não me deixou terminar! E o terceiro diz que devemos deixar os lugares por onde passamos em igual ou melhor estado do que encontramos. Acho melhor você começar a pensar mais nesse último. ― Eu vou. Mas como vou mostrar isso aos outros? ― Eu já tenho a solução! Vou chamar vocês para irem a minha casa no sábado! No sábado, eles foram à casa de Helena, e Gabriel realmente pensou nos princípios de um bom visitante. Os seus amigos ficaram maravilhados com a mudança de atitude de Biel, que passou a ser tão convidado quanto Lena e, com isso, foi muito feliz. 50
  • 51. Fiscalização Matinal A blitz da organização Chegar da aula é o mesmo que jogar a mochila na sala e cair no sofá. Afinal, alunos como Izabela, que sempre estão pensando em mais de uma coisa e vivem com pressa, precisam de um merecido descanso. Com quase 9 anos e muita coisa para fazer, Izabela chega em casa, descansa, almoça e corre para o quarto com o chumbo que chama de mochila. Abrir a agenda é fácil, difícil mesmo é encontrar a folha de Geografia e entender quais são as páginas do dever de Matemática. No dia seguinte, a aluna tem que vencer a timidez e encarar a bronca da professora. 51
  • 52. Vida de estudante não é fácil mesmo... e sempre pode complicar. Há algumas semanas a professora passou a entrar na sala e fazer o que se pode chamar de “Fiscalização Matinal”. Funciona mais ou menos assim: ela entra em sala e escreve no quadro, abaixo do relógio que marca as sete da manhã, que naquele dia tem blitz nas mochilas. Ninguém pode mexer no material até que a professora passe entre todas as carteiras fiscalizando. E quando ela chega perto da mochila vermelha de uma loirinha que costumam chamar de Bela, o bicho pega! É o momento em que os dois olhinhos castanhos da menina tomam o rumo do chão e o dedo fino da professora aponta para lhe chamar a atenção. Aí é escrito o danado do bilhete na agenda. É o instante em que o rigor da professora e a paciência da mãe se unem para mostrar o quanto a capa riscada do livro de Ciências e a folha do trabalho de História... e todos os outros materiais sem cuidado, perdidos, desorganizados, rasgados, rabiscados... são importantes. Então a fiscalização, que só acontecia na escola, é levada para dentro de casa. O único modo que Izabela encontrou de manter a ficha limpa foi obedecer a dupla imbatível. Mas não sabia como... A pessoa mais organizada que conhecia era a vovó Dóris. Pegou o telefone e ligou para ela. ― Oi, vó! ― Oi, Bela! ― Ai, vó, help! Na minha agenda tem um monte de bilhetes de deveres não feitos e materiais esquecidos... Preciso, urgente, ficar tão organizada como você! ― Em primeiro lugar, você precisa saber o que a está atrapalhando. ― Ahn... Deixa eu ver... Acho que é a preguiça... muita preguiça! ― Então é fácil! O segredo é não ter mais preguiça. Pense que guardar a folha no lugar certo ou copiar a agenda corretamente gasta 52
  • 53. apenas alguns segundos. E você economizará tempo ao não ter que ficar procurando suas coisas depois. No final da conversa, Bela decidiu comprar uma pasta com cavidades para cada matéria. A partir daí, sempre que o final da aula era anunciado pelo sinal, pegava a pasta na mochila, que estava com cadernos, livros, tudo no lugar certo, e guardava atividades e provas no local destinado para cada matéria. Bela também aprendeu a anotar o dever na agenda na hora em que o visse no quadro e com capricho, não em forma de rabisco. 53
  • 54. Bela teve que ter paciência com ela mesma, pois nem sempre dava conta de se organizar, e aceitar puxões de orelha, mas valia tudo para ter o sorriso da professora ao chegar perto dela. E não é que as consequências foram boas? Continuamente, no início da aula, Bela ganha prêmios por organização. A mãe, coruja, está muito orgulhosa do desempenho da filha. E Izabela também ficou feliz, afinal as notas, o cuidado e a organização estão sempre merecendo elogios. Agora a “Fiscalização Matinal”, que antes era temida, é digna da expectativa de Bela. E a lição que ela aprendeu serve para todos os colegas e até mesmo para os adultos, já que na vida há males que vem para o bem. 54
  • 55. Aprendendo a falar a verdade Era uma manhã de outono na cidade de Belo Horizonte. Os alunos do Colégio Santo Agostinho estavam se preparando para mais um dia de aula. Carla era uma menina muito esperta e curiosa, que adorava ouvir as histórias de sua avó materna, Rita. Ela tinha 7 anos e seus cabelos eram avermelhados. Apesar da pouca altura, mostrava ser uma pessoa determinada e corajosa. Aos poucos, o colégio ficava cada vez mais animado. Às 7h10 todos já estavam em suas salas, inclusive Carla e seu melhor amigo, Júlio. Nesse instante, a porta do 2º ano G se abriu, e a aula de Ensino Religioso teve início com a chegada da professora Nathalia. Nathalia era uma professora querida por todos os estudantes. Depois da chamada, ela começou a falar: ― Crianças, vocês sabem que dia é hoje? Na mesma hora Júlio levantou a mão e disse: ― Hoje é dia 28 de abril. ― Também. Mas o que o torna tão especial é o que celebramos: o Dia da Boa Ação ― acrescentou Nathalia com brilho nos olhos. ― O que é o Dia da Boa Ação, professora? ― perguntou Carla. ― É um dia comemorado em todo o mundo, quando as pessoas são incentivadas a praticar um ato de solidariedade ou gentileza. Vocês já assistiram ao filme “A corrente do bem”? Dos 30 alunos do 2º ano G, 13 já tinham assistido e adorado! 55
  • 56. ― Esse filme foi baseado em um livro que inspirou esse movimento de Boa Ação. E agora nossa escola vai começar a participar desse projeto. Querem saber como? ― perguntou a professora. Todos disseram que sim! ― Hoje nós vamos à biblioteca para ouvir histórias de boas ações dos alunos do 6º E. Ao ouvir essas palavras, os meninos e as meninas começaram a se levantar, indo formar duas filas. Na biblioteca, eles sentaram em quartetos nas mesinhas, ansiosos para escutar as histórias. No momento seguinte, ouviram vozes e deduziram ser os adolescentes do 6º E. Diferente do que pensavam, os alunos do 6º ano eram muito simpáticos e atenciosos com os menores. Apesar de que alguns eram mais tímidos e outros desinibidos, todos eles estavam sorrindo. Com um pedido de silêncio da professora Nathalia, os adolescentes apresentaram-se. Junto com eles estava a professora Aline, que ensinava Produção de Textos. Cada aluno do 6º ano contou uma história, mas a de que todos mais gostaram foi a relatada por Matheus sobre uma menina chamada Alice. Alice precisou de um apontador e, como não havia trazido o dela, pediu emprestado o de seu colega Tomás. Sem querer, deixou-o cair e ele se quebrou. Com medo das consequências, não assumiu a verdade quando o colega a acusou de ter estragado seu apontador. Alice disse não ter sido ela, que o objeto já estava quebrado. Mas todos tinham visto o que acontecera. Alice ficou tida como mentirosa e acabou perdendo a confiança da turma e uma amizade. Então ela aprendeu a lição, se arrependeu e, fazendo esforço para sempre dizer a verdade, recuperou a confiança de todos. 56
  • 57. Entretidos com as palavras do garoto, Carla levantou a mão e perguntou: ― Essa história é verdadeira? Feliz com a atenção dos pequenos, Matheus respondeu: ― Por que não? A lição dessa história é falar sobre a verdade. Entendendo a mensagem, os estudantes do 2º G bateram palmas para os do 6º E, que ficaram orgulhosos com a alegria das crianças. Quando o sinal tocou, os do Infantil foram para as suas próximas aulas felizes e pensativos. Ao final das aulas os meninos do 2º ano começaram a contar para seus pais o que tinham aprendido naquele dia. 57
  • 58. Ana Laura, mãe de Carla, estava levando sua filha para a casa de sua mãe, Rita. Chegando na casa da vovó Ritinha, Carla almoçou, fez o dever e brincou com seus primos. Parecia uma coincidência, mas justamente naquele dia ela teve a oportunidade de colocar em prática o que havia aprendido. Sua priminha Roberta, sem querer, rasgou o livro “A Ilha Perdida” de seu irmão. Com medo de dizer a verdade, ela não contou o que tinha ocorrido. Quando ele viu as condições de seu livro favorito, chorou bastante. Vendo o estado do primo, Carla resolveu ensinar a Roberta a lição da verdade. Então a priminha revelou o que tinha acontecido ao irmão, prometendo consertar o livro. Todos os outros primos também se ofereceram para ajudar. No final, o livro estava consertado e as crianças testemunharam de perto a importância da verdade e da coragem de assumir o próprio erro. E foi com esses pensamentos que Carla adormeceu. 58
  • 59. A superação de Arthur, o bagunceiro Arthur era um menino de cabelos castanhos e arrepiados, olhos azuis e um dos mais altos da turma H do 3º ano. Porém, se portava mal em sala de aula, conversava com seus colegas, atrapalhando-os, não prestava atenção, não levantava a mão para falar, brincava durante a aula. Enfim, ele era um menino muito agitado e que tinha sérias dificuldades na escola. A professora já havia chamado a atenção dele várias vezes e de nada adiantava. A situação acabou nas mãos da diretora da escola. ― O que eu faço agora? Meus pais foram chamados na diretoria! Estou frito! ― pensava Arthur enquanto aguardava o chamado da diretora. ― Dona Manuela e Seu Pedro, podem entrar! ― chamou a diretora, Dona Estefânia. Eles entraram e se sentaram em frente à mesa da diretora. Ela começou a contar um monte de coisas erradas que ele tinha feito: não fazia os deveres, conversava demais, criticava... Arthur já estava cansado de ouvir e com medo da reação de sua mãe e de seu pai. A reunião terminou e os pais não disseram uma palavra para o filho. O menino entendeu, então, que pior do que enfrentar a braveza dos pais era perceber o quanto estavam decepcionados com ele. Em casa, Seu Pedro conversou com o filho em tom enérgico e firme. Disse a ele verdades que doíam, mas que eram para o bem dele. No final da conversa, Arthur tinha entendido que, se não mudasse de atitude, corria o risco de não passar de ano ou de ser sempre um aluno medíocre, que mais tarde podia não conseguir um bom emprego nem se relacionar bem com seus colegas de trabalho e ainda podia nunca ter amigos verdadeiros nem conseguir formar uma boa família. No dia seguinte, Arthur pediu para falar em particular com sua professora Cida. Disse a ela tudo o que sentia. 59
  • 60. ― Sabe, Cidinha, eu várias vezes tentei melhorar, mas nunca consegui. No máximo consigo ficar um dia quieto, mas no outro volto a ser como sou... A professora estava muito emocionada. Pela primeira vez seu aluno mais difícil estava realmente disposto a mudar. ― Arthur, acho que esta é a primeira vez que você quer de verdade ser melhor. E eu vou ajudá-lo! A primeira coisa que a Cida fez foi tirar o aluno do fundo da sala e colocá-lo sentado na primeira carteira, pertinho dela. Depois, chamou os três melhores alunos da turma e pediu para o Arthur contar para eles o que já tinha dito para ela. Todos os três quiseram ajudá-lo também. Cada um teve uma ideia diferente: ― Vamos nos assentar perto de você, dois do seu lado e um atrás. Assim não deixaremos que converse com ninguém! ― falou Leo. ― Sempre que você fizer uma gracinha, virar para o lado ou falar sem levantar a mão, vamos lhe dar um cutucão e chamar a sua atenção! ― propôs Laurinha. ― E se você ficar comportado durante, digamos, uma semana inteira, pensaremos em uma surpresa para lhe dar! ― exclamou Fernanda. Arthur ficou muito agradecido e combinaram de dar início ao plano no próximo dia. Na manhã seguinte, cedinho, quando o menino chegou a sua sala, já encontrou os três novos amigos esperando por ele. Sentou- se em sua carteira, na frente da sala e não pôde deixar de quase morrer de rir! Na carteira da Fernandinha, estava pregado um bilhete: EI! OLHE PARA FRENTE! Na mesa da Laurinha, outro assim: 60
  • 61. SE VOCÊ ESTIVER LENDO ISSO, ESTÁ OLHANDO PARA O LUGAR ERRADO! E, atrás, na mesa do Leo, leu a frase: A AULA É DO OUTRO LADO! Sentiu muita gratidão pelos seus colegas e decidiu ser ainda mais esforçado. Passou toda a primeira aula prestando atenção e procurou fazer o mesmo em todas as aulas. Mas como não estava acostumado, de vez em quando recebia um cutucão do Leo ou um “shhh” das meninas ao seu lado. No final da semana, na sexta-feira, quando chegou na sala, teve uma surpresa: em cima de sua carteira os colegas tinham colocado o seu bombom favorito. Ele tinha conseguido! Uma semana inteira de esforço! Nem bem tinha guardado o bombom, chegou na sala D. Estefânia, a diretora. ― Bom dia, alunos! ― Bom diaaaaa! ― responderam todos em coro. ― Hoje vou lhes fazer uma proposta. Irei, na próxima semana, passar em todas as salas de 2º ao 5º ano para ver o comportamento dos alunos e vou premiar a melhor sala com jogos e brinquedos para todos. O que vocês acham? ― Obaaaa! ― gritaram todos novamente. Arthur, então, se concentrou mais em ser um aluno disciplinado. No recreio, estranhou: por onde passava ouvia algum aluno de outra turma 61
  • 62. rindo e falando que a turma H ia perder por sua culpa. Mas ele não estava nem ligando, pois sabia que agora dava conta de ser um bom aluno e que sua turma tinha mais chance de vencer! A diretora passou a semana seguinte observando todas as salas e conversando com as professoras. Na sexta-feira, os alunos foram reunidos no auditório. Estavam empolgados, esperando o anúncio da D. Estefânia. ― A turma vencedora é... é... o 3º ano H! Os alunos da turma H começaram a comemorar. ― Arthur! Arthur! Arthur! ― gritavam todos e até três meninos tentaram levantar o garoto nos ombros. O resto dos alunos do auditório estavam em silêncio. Eles haviam percebido que tinham deixado de se esforçar pensando que qualquer turma seria melhor que a turma H. Eles não imaginavam que Arthur poderia surpreender a todos. Arthur mal podia acreditar! Ficou tão, mas tão feliz que até demorou a pegar no sono naquela noite. Para ele essa felicidade valia mais que aquela falsa que sentia quando fazia as gracinhas e seus colegas riam ou quando criticava alguém e sentia-se superior. Aquela alegria era verdadeira e duradoura. E o melhor é que podia ser compartilhada com seus novos amigos e com seus pais! Arthur não se tornou o melhor aluno nem tirava as melhores notas da sala. Mas foi um bom aluno, com notas acima da média (às vezes até perto do total!), com amigos verdadeiros, querido pelos colegas e pelas professoras e muito, muito feliz. Ele nunca mais viu no rosto de seus pais a decepção que tinha visto naquele dia da reunião com a diretora. Sua mãe estava sempre contando para as amigas como o filho era esforçado e amigo de todos e o pai sempre dizia o quanto se orgulhava dele e que um dia seria um ótimo profissional e pai de família. 62
  • 63. MELECA NA BOCA DO OUTRO É FOFOCA Nossa protagonista era uma menina de 10 anos, alta e loira, que se chamava Popó, quer dizer, Poliana. Estudava em um colégio só de meninas, com regras rígidas de disciplina. A única aula em que se sentia livre era a de Educação Física. Nesse momento, todas as alunas se divertiam muito, jogando queimada, conquista e várias outras brincadeiras. Um dia, entre um jogo e outro da aula de Educação Física, a professora permitiu que as alunas fossem beber água. Popó foi a primeira e percebeu que havia uma meleca bem no ralo do bebedouro. Diante dessa visão, a garota perdeu a sede, mas foi discreta e não gritou de nojo. Porém Alice, a menina que vinha logo atrás, no momento em que Popó saiu, também viu a meleca e, fofoqueira que era, deduziu que a meleca era de Poliana. 63
  • 64. Foi aí que começou o inferno para nossa protagonista. Alice espalhou para toda a escola que Popó era uma porca. Nos dias que se seguiram, ninguém se aproximou da menina, deixando-a magoada, confusa, sem entender o que se passava. Então ela decidiu perguntar a Ângela, companheira desde o primeiro período. ― Ângela, por que ninguém fala comigo? ― Ora, Popó, depois do que você fez, nem eu estou muito a fim de chegar perto de você... ― respondeu Ângela, logo se afastando. Popó, então, decidiu procurar Raquel, menina também discreta, embora muito solitária. ― Oi, Raquel! Posso te fazer uma pergunta? ― Claro! ― Você saberia me dizer por que estão me isolando ultimamente? ― Olha, Popó, não sei não, não gosto de conversa fiada... ― Mas estamos falando de mim, então não é conversa fiada! 64
  • 65. ― Bem, ouvi por aí que você sujou o bebedouro de meleca. Disseram que todas as meninas viram a meleca lá... ― É claro que viram, pois até eu vi! Acontece que quis ser discreta e não comentei nada com ninguém e... agora pensam que fui eu... Então é por isso... Mas quem espalhou essa fofoca? ― Ah, isso eu não sei. Mas sabe como é, nem todos são discretos como nós. A conversa chegou em mim e aqui parou. Principalmente porque eu não tinha ouvido você nem estava lá na hora. ― Obrigada, Raquel. Conhecendo a natureza de Alice, Popó logo deduziu quem era a fofoqueira e foi direto na fonte. Pediu a ajuda da professora para chamar toda a turma e contou o que tinha acontecido no dia da meleca no bebedouro. 65
  • 66. Alice, então, admitiu que não tinha visto quem sujou o bebedouro, apenas tinha deduzido que era Popó. Ninguém nunca soube, afinal, a identidade da porca do bebedouro, mas, a partir daquele dia, todas aprenderam que as palavras voam rápido e podem magoar as pessoas. Então é melhor ser sempre discreto. 66
  • 67. EM QUE POSSO AJUDAR? Em uma manhã fria de junho, a professora chegou na sala carregando pilhas de livros e nenhum aluno se ofereceu para ajudá-la, mesmo vendo que precisava. Então ela pediu: ― Daniel, por favor, você pode me ajudar a carregar esse material? O garoto, quando a ouviu dizer isso, foi correndo ajudar. Em seguida, a aula começou. Ao final da aula, ele, seu amigo de sala e seu irmão estavam subindo a rua para ir para casa quando Daniel parou e disse a seu amigo Gabriel: ― Sabe, achei uma injustiça a professora pedir para eu ajudá-la! Ao que o amigo respondeu: ― Claro que não, Daniel! Ela estava carregando muitas coisas e estava certa em pedir ajuda. Se ela tivesse me pedido, eu iria numa boa, sem nem reclamar! O irmão do garoto, escutando tudo, os interrompeu dizendo: ― Meninos, parem com essa discussão! Os dois estão errados! Você, Daniel, por estar reclamando por ela ter lhe pedido, e você, Gabriel, por estar falando que, se a professora tivesse lhe pedido, você ia! Os dois, desde a hora que a viram, deveriam ter tido a iniciativa de ajudá-la. Espero que vocês tenham aprendido e, da próxima vez, façam isso que eu disse! Em casa, Daniel ficou pensativo. Ele não sabia em que podia ajudar, mas queria ter a iniciativa. À noite, sua mãe estava fazendo o jantar e ele perguntou se podia ajudá-la: ― Mamãe, você precisa de ajuda? ― Obrigada, filho, mas já estou acabando... Ah, que tal por a mesa do jantar? ― respondeu a sua mãe, D. Ana. 67
  • 68. Em seu quarto, Daniel ficou pensando: Gostei de ajudar... Em que mais posso colaborar? Pensou em pedir ajuda a seus amigos. No dia seguinte, na escola, reuniu-se com seus colegas na hora do recreio. Daniel falou de seu problema de não saber como ajudar: ― Gente! Estou com uma dúvida cruel: não sei como ajudar! ― exclamou o menino. Seu melhor amigo, Gabriel, respondeu: ― Eu também fiquei pensando nesse assunto... ― Já sei! ― gritou Júlia. ― Podemos perguntar à professora! Os colegas gostaram da ideia. O sinal tocou e todos aguardaram na fila. Quando a professora chegou, as crianças perguntaram em coro: ― Joana, como podemos ajudar? ― Meus queridos, vocês podem me ajudar a entregar as folhas e livros, ajudar os colegas quando tiverem dúvidas. Em casa, arrumar a cama e o quarto, deixando os brinquedos no lugar. ― respondeu a professora. ― Então com pequenas atitudes podemos ajudar! ― concluiu Daniel. A partir desse dia Daniel e seus colegas passaram a ficar atentos nas oportunidades em casa e na escola para ajudar as pessoas. 68
  • 69. Respeitando as diferenças Em uma cidade grande, havia uma escola chamada Primus. Nela tudo era muito bom: os professores, o espaço, as aulas, etc. Tudo ia muito bem, mas, no 3º ano E, tinha um menino que era rejeitado por sua turma. Por ser baixinho e meio gordinho, os outros colegas só sabiam criticá-lo. Sempre o excluíam das brincadeiras e ele nunca era escolhido nas atividades. Esse menino se chamava Jorge. Em todos os recreios o garoto andava sozinho, não tinha nenhum amigo com quem pudesse compartilhar seus segredos e suas emoções. Então, por não ter ninguém, ele decidiu criar um amigo imaginário. Os seus colegas zombavam sempre dele e começaram a chamá-lo de louco por ficar falando sozinho. Jorge ficava muito triste, com todos aqueles xingamentos: feio, gordo, baixinho, chato, doido, entre outros. E cada vez mais ficava magoado e tímido. Sempre tinha pensado que não devia ligar para o que os outros pensavam dele, mas aquilo já estava ficando insuportável, era demais! Todo dia a mesma coisa, nas aulas de Educação Física era o último a ser escolhido para compor o time, nas aulas em que a turma fazia grupo sempre ficava sozinho. Nunca pensou que algum dia fosse chegar a esse ponto, então decidiu tomar providências. 69
  • 70. Na manhã seguinte Jorge foi falar com a professora sobre o que estava acontecendo, explicou tudo, o seu constrangimento, a sua timidez e a exclusão. A professora Cármen prestou bastante atenção no que ele lhe disse e explicou que já havia percebido o que estava acontecendo, mas estava esperando que Jorge viesse falar com ela. E ainda falou que estava muito feliz com ele por ter se aberto com ela e que ia conversar com os alunos naquele dia mesmo. O garoto saiu da sala expressando sua gratidão por meio de um grande e bonito sorriso. Como combinado, quando os colegas chegaram à classe de volta do recreio, a professora anunciou que pegaria um tempo da aula para uma conversa séria. Todos os meninos, exceto Jorge, se espantaram e pensaram: aí vem bronca! A professora começou a conversa: ― Todos já sabemos que ninguém é perfeito, não é? 70
  • 71. Os alunos responderam em coro “Ééé!” e ela prosseguiu: ― Certo. Todos aqui sabem que somos diferentes um dos outros, ninguém é igual a ninguém. Um é mais gordinho, outro mais magrinho, uma mais rápida em compreender a matéria, outras mais devagar. Muitos chamam de defeitos, mas eu chamo de diferença. Temos sempre que respeitar o diferente, parar de ligar para a aparência e conhecer a pessoa por dentro. Jorge suspirou aliviado. Todos os seus colegas estavam em silêncio e prestando a maior atenção. Será que perceberam que ela estava falando dele? A professora continuou: ― Eu acho a exclusão uma das coisas mais feias que se pode fazer com alguém. Antes de dizer ou fazer qualquer coisa, devemos nos colocar no lugar do outro, imaginar se o que estamos falando estivesse sendo dito para nós. Eu sei que ficariam muito tristes, então, por favor, eu peço que respeitem as diferenças de cada um, não só em sala de aula, mas em todos os lugares. Nunca se esqueçam disso, pois vão levar para a vida inteira! Durante as outras aulas os alunos ficaram calados, refletindo, pois perceberam que o que estavam fazendo com Jorge era muito errado. No final da aula, vários pediram desculpas a ele. Daquele dia em diante todos ficaram amigos dele e fizeram esforço para o conhecerem melhor. Se arrependeram de tudo o que tinham falado de ruim para o garoto, que agora era um dos mais queridos da série. Passaram-se anos e anos e os alunos não esqueceram o que a professora Cármen lhes ensinou e, como ela disse, levaram para a vida inteira. 71
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