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DIÁRIO DO NORDESTE | FORTALEZA, CEARÁ - DOMINGO, 19 DE JUNHO DE 2011                                                                                                                            viva | 3



Quando força e alegria
superam as limitações
ABRAME                                                                                                                                          ENTREVISTA

Mães lutam pelo                                                                                                                                 DRA. CRISTIANE RODRIGUES
tratamento de
crianças portadoras                                                                                                                             Criançascom
de Amiotrofia                                                                                                                                   AMEpodem
Espinhal                                                                                                                                        voltaraolareter
                trofia Muscular Es-                                                                                                             umavidade


A
                pinhal (AME). Ra-
                faela Machado Pin-                                                                                                              qualidade
                to, mãe de Tiago, e
                Fátima Braga, mãe                                                                                                              Qual o objetivo do tratamento      No Programa de Assistência
                de Lucas, jamais                                                                                                               realizadodoAlbertSabin?            Ventilatória Domiciliar (PA-
imaginariam que esse diagnósti-                                                                                                                É, principalmente, manter es-      VD)dohospital,procuramosfa-
co aproximaria suas famílias. Os                                                                                                               sas crianças em casa e bem. Pa-    zer sempre com que as crianças
filhos,ambosportadoresdadoen-                                                                                                                  ra isso, a participação da Abra-   tenhamumbomcuidadoemca-
ça, despertaram nelas uma série                                                                                                                me é de extrema importância,       sa justamente porque é no lar
de sentimentos, porém, nenhum                                                                                                                  pois a ONG é responsável por       onde terão a volta ao convívio
superou a força que encontraram                                                                                                                ajudar especialmente na adap-      com a família e, consequente-
no sorriso e na vontade de viver                                                                                                               tação dos quartos, aquisição e     mente, uma vida melhor. Até
dos meninos.                                                                                                                                   manutenção de equipamentos         mesmo porque, manter um pa-
    “Meu chão se abriu. Os médi-                                                                                                               através de doações.                ciente hospitalizado é muito
cos me disseram que dificilmen-                                                                                                                                                   mais dispendioso para o gover-
teele sobreviveria, ecada dia pa-                                                                                                              Aindapersisteaideiadeque,por       no do que tratá-lo em casa.
ra mim era um desespero. Mas                                                                                                                   não ter cura, esse paciente não
não me conformei. Ao invés dis-                                                                                                                precisasertratado?                 Quaisosresultadosobtidos?
so, juntei todas as forças e lutei                                                                                                             A AME é uma doença grave,          A AME é a doença genética que
para o meu filho viver”, relata                                                                                                                limita bastante a criança e        mais mata antes dos dois anos
Fátima Braga, presidente da As-                                                                                                                transforma totalmente a roti-      de idade, porém, com a evolu-
sociação Brasileira de Amiotro-                                                                                                                na da família. Apesar disso, é     çãodatecnologia,temosconse-
fia Espinhal (ABRAME), cujo fi-                                                                                                                preciso deixar bem claro que       guido aumentar bastante a so-
lho foi diagnosticado aos quatro                                                                                                               nós podemos, sim, fazer não só     brevida desses pacientes. Na
meses de idade.                                                                                                                                com que elas vivam por mais        maioria dos casos do tipo I, as
    Lucas nasceu “nor-                                                                                                                         tempo, mas que nesse tempo,        criançasnãopassavamdosdois
mal”. Somente quan-                                                                                                                            elas tenham uma boa qualida-       anos. Atualmente, temos casos
do a mãe percebeu                                                                                                                              de de vida. Nesse contexto, a      que ultrapassam bastante esse
que ele não realizava                                                                                                                          dedicação dos pais (principal-     tempo, como o de uma garota
todos os movimentos                                                                                                                            mente da mãe) é essencial e        paulistanade19anosquesobre-
típicos de uma criança                                                                                                                         não pode ser substituída.          vive bem com a doença.
de sua idade e quando um
simples engasgo o levou a                                                                                                                                                          * Pediatra e coordenadora do
                                                                                                                                               Qualaimportânciadessascrian-       Programa de Assistência Ventilatória
passar três meses na UTI, foi                                                                                                                  çasseremtratadasnolar?             Domiciliar (H. Albert Sabin)
que a família notou que ha-
via algo errado. Entretanto,
demorou até que o garoto
tivesse o diagnóstico fecha-                                                                                                                   das células-tronco e, posterior-
                                                                                                                                                                                   AME
do,poisosmédicosconside-                                                                                                                       mente, ficando à frente da
raram que ele tinha distrofia                                                                                                                  ABRAME, que ajuda hoje várias
muscular.
    Cinco anos antes, Tiago
foi diagnosticado com AME, a
diferençafoiqueospais,emme-
                                                                                                                                               famílias de crianças com AME e
                                                                                                                                               luta a melhoria do atendimento
                                                                                                                                               público, ainda despreparado
                                                                                                                                               quanto à doença.
                                                                                                                                                                                    Uma
lhorescondiçõesfinanceiras,pu-                                                                                                                    O que elas fazem é tentar que   PARA cada dez mil crianças nas-
deram dar a ele os mais avança-                                                                                                                outras crianças na mesma situa-    cidas vivas é a incidência de AME
dostratamentosnosEstadosUni-                                                                                                                   ção possam ser levadas para ca-    desenvolvida no início da infân-
dos. “Hoje, aos 14 anos, posso                                                                                                                 sa e lá terem uma vida saudável.   cia. No início da idade adulta, a
dizer que o Tiago tem uma vida                                                                                                                 Porém, reconhecem que o ideal      incidência é de uma para cada
normal, com algumas limita-                                                                                                                    seria tratar esse processo logo    cem mil pessoas.
ções, é claro. Mas não dou mole                                                                                                                no diagnóstico. “Talvez se o Lu-
pra ele. Acho que ele tem de ser                                                                                                               cas e muitas outras crianças ti-
exigido mesmo, porque, apesar                                                                                                                  vessem sido atendidos mais ce-        A AME não tem cura e, com
de a doença limitá-lo fisicamen-      sobrevive até os dois anos, pois a                                                    B LUCAS
                                                                                                                            I                  do, não teriam feito traqueosto-   um diagnóstico ainda difícil no
                                                                            FIQUE POR DENTRO                                BRAGA, 9
te,acoisaquetemdemaisperfei-          dificuldade respiratória e de                                                                            miae passadoa vida presasa um      Brasil, os portadores muitas ve-
to é o cérebro. E o cérebro pede      deglutição é bem maior.                                                               anos, é um         respirador”, explica Fátima .      zesnãorecebemaajudanecessá-
para ele ir mais além”, diz a mãe        Já Tiago apresenta o tipo II,      Abrame ajuda no retorno ao lar                  menino                A Dra. Cristiane Rodrigues      ria por parte do governo. Lutas
                                                                                                                            inteligente e
RafaelaMachadoPinto,umadas            emqueasalteraçõessurgemape-                                                           alegre. Centro     ressalta a importância do diag-    isoladas como a da ABRAME fa-
fundadoras e atuantes da ABRA-        nas após os seis meses e no qual      APÓS UM trabalho isolado de luta pelo reco-     das atenções       nóstico precoce, mas confessa      zemtoda a diferença, porém, co-
ME.                                   algumas crianças chegam a sen-        nhecimento da AME e de terem coordenado         da família,        que a maioria dos profissionais    morevelaRafaelaPintoeFátima
    A Miotrofia Espinhal é uma        tar e, mais raramente, a ficar de     o Movitae (Movimento em Prol da Vida) no        está sempre        ainda não é capacitado para le-    Braga, muitos equipamentos
doença genética das células me-       pé. Porfim, a do tipo III ocorre na   Nordeste, atuante em favor da liberação das     sendo              varessescasosadiante,umavez        que tornariam a vida dessas
dularesque geralmentesemani-          adolescência (por volta dos 17        pesquisas com células tronco no Brasil, Fáti-   paparicado         que lutar para que essas crian-    crianças mais confortável não
festa nos primeiros meses de vi-      anos). As alterações são menos        ma Braga e Rafaela Pinto ficaram à frente da    pela mãe           ças não sejam entubadas exige      sãofornecidospeloserviçopúbli-
                                                                                                                            Fátima (à
da.“É caracterizada pelafraque-       graves e menos progressivas.          Associação Brasileira de Amiotrofia (ABRA-      esquerda) e        muita dedicação.Superando as       co. “Além de melhor formação
za e atrofia dos músculos, preju-                                           ME) Nordeste. Com início em 2005, a ONG         pela “tia”         expectativas,Tiagojáestánano-      dos médicos, precisamos de
                                      Históriadeluta
dicandomovimentossimplesco-                                                 lida hoje com crianças em internação domici-    Rafaela (à         na série. Apesar de ter de estar   mais atenção das autoridades”,
moseguraracabeça, sentarean-          O encontro de Fátima e Rafaela        liar, na maioria dependentes de ventilação      direita)           sempre com alguém do lado pa-      completam. o
                                                                                                                            FOTO: ALEX COSTA
dar”, diz a pediatra chefe do Pro-    sedeu em2002, quando Tiago já         mecânica e assistidas pelo Hospital Albert                         ra realizar tarefas simples como
grama          de       Assistência   tinha 5 anos e Lucas, 9 meses.        Sabin / SESA. Como muitas famílias não têm                         virar a página de um livro, faz
                                                                                                                                                                                   MAIS INFORMAÇÕES
Ventilatória Domiciliar (PAVD)        Fátima ainda estava cheia de          condições financeiras, a ABRAME assiste                            curso de inglês e revela o sonho
do Hospital Albert Sabin, Dra.        questionamentos sobre uma             crianças com fraldas e leite, materiais médi-                      de morar fora do país. Rafaela o   C   ASSOCIAÇÃO Brasileira de
Cristiane Rodrigues.                  doença que, apesar de não tão         co- hospitalares, medicamentos (quando em                          apoia e confia no futuro.          Amiotrofia Espinhal (contato: Fátima
    Há três tipos de AME. Segun-      incomum, era e é ainda desco-         falta pelo Sistema Único de Saúde), além de                           Lucasé outro exemplode que      Braga); no site www.abramenordeste.
doa médica,otipo I(omesmo de          nhecida. Encontrou em Rafaela         ajudar na volta das crianças ao lar.                               adoençapodesimsersuperada.         blogspot.com; Fone: (85) 9913.9057
Lucas) pode se desenvolver ain-       uma fonte de esperança. Era sim       Alguns dos projetos de sucesso são: - Cui-                         Aos 9 anos, estuda em casa e se
da no útero da mãe ou nos dois        possível fazer seu filho viver, e     dando de Você que Cuida; - Professor Intine-                       revelagrandetorcedordoForta-
primeirosmesesdevida,sendoo           viver com qualidade.                  rante;- Cuidadoras Intinerantes; e Quando a                        leza. Mesmo com a fala compro-      COMENTE
maiscomumemais grave.Tanto               Ambas viraram ativistas,           UTI é no lar.                                                      metida, se expressar todas as      C viva@diariodonordeste.com.br
que a maioria das crianças não        atuando pela validação do uso                                                                            suas vontades.




                                                                                                                                                                                                                  361769321

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Tratamento e luta de mães por crianças com Amiotrofia Espinhal

  • 1. DIÁRIO DO NORDESTE | FORTALEZA, CEARÁ - DOMINGO, 19 DE JUNHO DE 2011 viva | 3 Quando força e alegria superam as limitações ABRAME ENTREVISTA Mães lutam pelo DRA. CRISTIANE RODRIGUES tratamento de crianças portadoras Criançascom de Amiotrofia AMEpodem Espinhal voltaraolareter trofia Muscular Es- umavidade A pinhal (AME). Ra- faela Machado Pin- qualidade to, mãe de Tiago, e Fátima Braga, mãe Qual o objetivo do tratamento No Programa de Assistência de Lucas, jamais realizadodoAlbertSabin? Ventilatória Domiciliar (PA- imaginariam que esse diagnósti- É, principalmente, manter es- VD)dohospital,procuramosfa- co aproximaria suas famílias. Os sas crianças em casa e bem. Pa- zer sempre com que as crianças filhos,ambosportadoresdadoen- ra isso, a participação da Abra- tenhamumbomcuidadoemca- ça, despertaram nelas uma série me é de extrema importância, sa justamente porque é no lar de sentimentos, porém, nenhum pois a ONG é responsável por onde terão a volta ao convívio superou a força que encontraram ajudar especialmente na adap- com a família e, consequente- no sorriso e na vontade de viver tação dos quartos, aquisição e mente, uma vida melhor. Até dos meninos. manutenção de equipamentos mesmo porque, manter um pa- “Meu chão se abriu. Os médi- através de doações. ciente hospitalizado é muito cos me disseram que dificilmen- mais dispendioso para o gover- teele sobreviveria, ecada dia pa- Aindapersisteaideiadeque,por no do que tratá-lo em casa. ra mim era um desespero. Mas não ter cura, esse paciente não não me conformei. Ao invés dis- precisasertratado? Quaisosresultadosobtidos? so, juntei todas as forças e lutei A AME é uma doença grave, A AME é a doença genética que para o meu filho viver”, relata limita bastante a criança e mais mata antes dos dois anos Fátima Braga, presidente da As- transforma totalmente a roti- de idade, porém, com a evolu- sociação Brasileira de Amiotro- na da família. Apesar disso, é çãodatecnologia,temosconse- fia Espinhal (ABRAME), cujo fi- preciso deixar bem claro que guido aumentar bastante a so- lho foi diagnosticado aos quatro nós podemos, sim, fazer não só brevida desses pacientes. Na meses de idade. com que elas vivam por mais maioria dos casos do tipo I, as Lucas nasceu “nor- tempo, mas que nesse tempo, criançasnãopassavamdosdois mal”. Somente quan- elas tenham uma boa qualida- anos. Atualmente, temos casos do a mãe percebeu de de vida. Nesse contexto, a que ultrapassam bastante esse que ele não realizava dedicação dos pais (principal- tempo, como o de uma garota todos os movimentos mente da mãe) é essencial e paulistanade19anosquesobre- típicos de uma criança não pode ser substituída. vive bem com a doença. de sua idade e quando um simples engasgo o levou a * Pediatra e coordenadora do Qualaimportânciadessascrian- Programa de Assistência Ventilatória passar três meses na UTI, foi çasseremtratadasnolar? Domiciliar (H. Albert Sabin) que a família notou que ha- via algo errado. Entretanto, demorou até que o garoto tivesse o diagnóstico fecha- das células-tronco e, posterior- AME do,poisosmédicosconside- mente, ficando à frente da raram que ele tinha distrofia ABRAME, que ajuda hoje várias muscular. Cinco anos antes, Tiago foi diagnosticado com AME, a diferençafoiqueospais,emme- famílias de crianças com AME e luta a melhoria do atendimento público, ainda despreparado quanto à doença. Uma lhorescondiçõesfinanceiras,pu- O que elas fazem é tentar que PARA cada dez mil crianças nas- deram dar a ele os mais avança- outras crianças na mesma situa- cidas vivas é a incidência de AME dostratamentosnosEstadosUni- ção possam ser levadas para ca- desenvolvida no início da infân- dos. “Hoje, aos 14 anos, posso sa e lá terem uma vida saudável. cia. No início da idade adulta, a dizer que o Tiago tem uma vida Porém, reconhecem que o ideal incidência é de uma para cada normal, com algumas limita- seria tratar esse processo logo cem mil pessoas. ções, é claro. Mas não dou mole no diagnóstico. “Talvez se o Lu- pra ele. Acho que ele tem de ser cas e muitas outras crianças ti- exigido mesmo, porque, apesar vessem sido atendidos mais ce- A AME não tem cura e, com de a doença limitá-lo fisicamen- sobrevive até os dois anos, pois a B LUCAS I do, não teriam feito traqueosto- um diagnóstico ainda difícil no FIQUE POR DENTRO BRAGA, 9 te,acoisaquetemdemaisperfei- dificuldade respiratória e de miae passadoa vida presasa um Brasil, os portadores muitas ve- to é o cérebro. E o cérebro pede deglutição é bem maior. anos, é um respirador”, explica Fátima . zesnãorecebemaajudanecessá- para ele ir mais além”, diz a mãe Já Tiago apresenta o tipo II, Abrame ajuda no retorno ao lar menino A Dra. Cristiane Rodrigues ria por parte do governo. Lutas inteligente e RafaelaMachadoPinto,umadas emqueasalteraçõessurgemape- alegre. Centro ressalta a importância do diag- isoladas como a da ABRAME fa- fundadoras e atuantes da ABRA- nas após os seis meses e no qual APÓS UM trabalho isolado de luta pelo reco- das atenções nóstico precoce, mas confessa zemtoda a diferença, porém, co- ME. algumas crianças chegam a sen- nhecimento da AME e de terem coordenado da família, que a maioria dos profissionais morevelaRafaelaPintoeFátima A Miotrofia Espinhal é uma tar e, mais raramente, a ficar de o Movitae (Movimento em Prol da Vida) no está sempre ainda não é capacitado para le- Braga, muitos equipamentos doença genética das células me- pé. Porfim, a do tipo III ocorre na Nordeste, atuante em favor da liberação das sendo varessescasosadiante,umavez que tornariam a vida dessas dularesque geralmentesemani- adolescência (por volta dos 17 pesquisas com células tronco no Brasil, Fáti- paparicado que lutar para que essas crian- crianças mais confortável não festa nos primeiros meses de vi- anos). As alterações são menos ma Braga e Rafaela Pinto ficaram à frente da pela mãe ças não sejam entubadas exige sãofornecidospeloserviçopúbli- Fátima (à da.“É caracterizada pelafraque- graves e menos progressivas. Associação Brasileira de Amiotrofia (ABRA- esquerda) e muita dedicação.Superando as co. “Além de melhor formação za e atrofia dos músculos, preju- ME) Nordeste. Com início em 2005, a ONG pela “tia” expectativas,Tiagojáestánano- dos médicos, precisamos de Históriadeluta dicandomovimentossimplesco- lida hoje com crianças em internação domici- Rafaela (à na série. Apesar de ter de estar mais atenção das autoridades”, moseguraracabeça, sentarean- O encontro de Fátima e Rafaela liar, na maioria dependentes de ventilação direita) sempre com alguém do lado pa- completam. o FOTO: ALEX COSTA dar”, diz a pediatra chefe do Pro- sedeu em2002, quando Tiago já mecânica e assistidas pelo Hospital Albert ra realizar tarefas simples como grama de Assistência tinha 5 anos e Lucas, 9 meses. Sabin / SESA. Como muitas famílias não têm virar a página de um livro, faz MAIS INFORMAÇÕES Ventilatória Domiciliar (PAVD) Fátima ainda estava cheia de condições financeiras, a ABRAME assiste curso de inglês e revela o sonho do Hospital Albert Sabin, Dra. questionamentos sobre uma crianças com fraldas e leite, materiais médi- de morar fora do país. Rafaela o C ASSOCIAÇÃO Brasileira de Cristiane Rodrigues. doença que, apesar de não tão co- hospitalares, medicamentos (quando em apoia e confia no futuro. Amiotrofia Espinhal (contato: Fátima Há três tipos de AME. Segun- incomum, era e é ainda desco- falta pelo Sistema Único de Saúde), além de Lucasé outro exemplode que Braga); no site www.abramenordeste. doa médica,otipo I(omesmo de nhecida. Encontrou em Rafaela ajudar na volta das crianças ao lar. adoençapodesimsersuperada. blogspot.com; Fone: (85) 9913.9057 Lucas) pode se desenvolver ain- uma fonte de esperança. Era sim Alguns dos projetos de sucesso são: - Cui- Aos 9 anos, estuda em casa e se da no útero da mãe ou nos dois possível fazer seu filho viver, e dando de Você que Cuida; - Professor Intine- revelagrandetorcedordoForta- primeirosmesesdevida,sendoo viver com qualidade. rante;- Cuidadoras Intinerantes; e Quando a leza. Mesmo com a fala compro- COMENTE maiscomumemais grave.Tanto Ambas viraram ativistas, UTI é no lar. metida, se expressar todas as C viva@diariodonordeste.com.br que a maioria das crianças não atuando pela validação do uso suas vontades. 361769321