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Marco André Lima

                                                                                                             PREFEITURA ENTRA NA BRIGA
                                                                                                             PARA RESGATAR O GOLFINHO
                                                                                                             O sonho de resgatar o que sobrou do histórico Clube do Golfinho para atender à
                                                                                                             comunidade do Pilarzinho e região está próximo de ser concretizado. O imóvel
                                                                                                             foi arrematado por uma imobiliária, mas o Município anunciou que pretende
                                                                                                             desapropriá-lo para construir no local um centro de atendimento à população.
                                                                                                             :: Página 16




                   Do Quintal
 R$ 1,50                                                                                                                       Curitiba, julho de 2011 - Ano I - Número 5




Um jornal a serviço dos moradores da região do Pilarzinho, Mercês, Vista Alegre, Abranches, São Lourenço e Bom Retiro.


DSF


                                                                                                                                                                            » Do Quintal
                                                                                                                                                                              registra Cruz
                                                                                                                                                                              do Pilarzinho
                                                                                                                                                                            O Jornal Do Quintal
                                                                                                                                                                            deu entrada junto à
                                                                                                                                                                            Prefeitura ao processo
                                                                                                                                                                            de registro da Cruz do
                                                                                                                                                                            Pilarzinho como um
                                                                                                                                                                            monumento oficial
                                                                                                                                                                            da cidade. Esse é o
                                                                                                                                                                            primeiro passo para o
                                                                                                                                                                            seu reconhecimento
                                                                                                                                                                            como um patrimônio
                                                                                                                                                                            histórico. :: Pág. 6




Desrespeito aos rios
                                                                                                                                                                            » Assaltantes
                                                                                                                                                                            apavoram
                                                                                                                                                                            comerciantes
                                                                                                                                                                                          :: Pág. 7

  Um dos pontos mais polêmicos do novo Código                                                     tinuam funcionando em terrenos que a Lei aponta
Florestal, em debate no Senado, é a anistia ao des-                                               como áreas de preservação permanentes. E, ape-
                                                                                                                                                                            » São Marcos
matamento que pode fazer com que pelo menos                                                       sar da determinação do Código de 1989, empresas                           une ecologia
29 milhões de hectares de mata nativa deixem de                                                   como a Da Ilha Comércio de Álcool, instalada na                           e fraternidade
ser recuperados. Enquanto isso, em Curitiba, várias                                               Rodovia dos Minérios (foto), continua construin-                                        :: Pág. 3
empresas que se instalaram na beira dos rios con-                                                 do à beira do rio.             :: Páginas 4 e 5



  NO PASSADO, UMA                                                                         Até os anos 1950, onde é hoje o Jardim Schaffer e parte do Bom Retiro, uma Chácara
                                                                                          atraia visitantes de todo o País, por sua organização e tecnologia na criação de gado leiteiro.

  CHÁCARA DO FUTURO
                                                                                          A Chácara Schaffer foi durante décadas o “laboratório” de Francisco, um inovador que sempre
                                                                                          esteve à frente de seu tempo. :: Págs. 8 e 9.
                                                          Reproduções: álbum da família




                                                                                                                                               João de Noronha




Francisco, nos anos 40, com bezerros gêmeos. À esquerda, a última casa em que morou, entre as ruas Santa Cecília e Hugo Simas. À direita, como ela está hoje.
Curitiba, julho de 2011


»2                                                                    Do Quintal

    CARTA AO LEITOR


        Desde a primeira edição do jornal Do
                                                                  Uma festa a ser resgatada
          Quintal temos procurado materializar
          discussões e desejos locais, ou                         Celebração de Nossa Senhora do Pilar
          seja, registrar fatos que correm nos
          bastidores do bairro, nas suas ruas e
                                                                  já foi uma das principais datas da região
          que nem sempre encontram o devido




                                                                  O
          espaço em jornais de abrangência                                                                                                                                    Procissão
                                                                                  dia de Nossa Senhora do                                                                     nos anos 50:
          maior.
                                                                                  Pilar, 15 de agosto, era                                                                    Após a
        Por conta disso, o exercício da escrita e                                 antigamente um dia es-                                                                      celebração
           da narrativa desses fatos inerentes                                    pecial no Pilarzinho, um                                                                    religiosa,
                                                                                                                                                                              começava
           à prática jornalismo, desdobrou-se                     feriado em que as famílias da região e
                                                                                                                                                                              a festança.
           em ações inerentes à condição de                       de várias partes da cidade se reuniam
           moradores e cidadãos. Foi assim                        ao redor da capela em homenagem à
           com a participação na Rede de                          Santa, na Rua São Salvador, e durante
           Desenvolvimento Local, organizada pelo                 todo o dia participavam das celebra-
           Sistema FIEP-Sesi, quando o Do Quintal                 ções e festejos.
           participou ativamente das discussões                       Moradores antigos lembram que as
           em torno das necessidades da região;                   famílias se preparavam com antecedên-
           com a campanha pela recuperação                        cia e, no dia 15, desde cedo, se dirigiam
           do Clube Golfinho, cuja história faz




                                                                                                                                                                      Reprodução Álbum de família.
                                                                  á Capela, que então tinha uma ampla
           parte da memória local e com a Cruz                    área ao redor, que incluía a atual Praça
           do Pilarzinho, monumento histórico
                                                                  Angelina Basso, para abrigar os festejos.
           sob salvaguarda dos moradores que,
                                                                  E após à missa e procissáo, era um dia
           hoje, tentamos oficializar como um
                                                                  inteiro de churrasco, jogos, como os
           patrimônio junto à prefeitura municipal.
                                                                  da argola, tiro ao alvo, toca do coelho,
        Nesta edição, o Do Quintal fala sobre                     leilões de leitões, de costelas de bois, de
          um tema difícil de abordar, dada sua                    prendas oferecidas pelos moradores da
          importância e os desafios que acarreta:                 região. Havia ainda o serviço de alto-
          a preservação de nossos recursos                        -falante, pelo qual os jovens enamora-        Programação
          naturais. Estamos em tempos de                          dos ofereciam mensagens e músicas às
          discussão do novo Código Florestal                      (aos) pretendentes.
                                                                                                                DIA 6 - Início das Novenas da Festa, na Capela Nossa Senhora do
          brasileiro e ao longo da matéria                            Com o tempo e a urbanização da re-        Pilar, às 19h com Terço e Missa. Logo após, jantar dançante no salão
          percebemos que a maior esquizofrenia                    gião, a participação popular diminuiu.        da Igreja São Marcos, convites à venda no valor de R$15,00
          em se falar em Meio Ambiente é que                      A festa foi transferida para o salão da
          ainda nos colocamos fora dele. O código                 Igreja São Marcos. Segundo o Pároco           Dias 7, 8, 9 e 10 - Novenas as 19h na Capela do Pilar com Terço
          fala da extinção de nossas florestas                                                                  e Missa
                                                                  local, padre Carlos Marson, a intenção
          e, consequentemente, aborda nossas                      é reavivar a participação popular nesta       Dia 11 - Procissão luminosa, às 19h saindo da Capela até a Matriz
          águas e nossa fauna, ou seja, a nós                     festa em celebração à Nossa Senhora do        São Marcos. Logo após Noite do Pastel, Mini Pizza e cachorro quente.
          mesmos, como animais que somos.                         Pilar. Por isso, ele chama todos os mo-
                                                                  radores a participar. Agora, em vez de        Dia 12 - Novena de Nossa Senhora do Pilar na Matriz São Marcos,
        O jornal Do Quintal abrange uma das
                                                                                                                às 19h. Logo após Noite do Pastel, Mini- Pizza e Cachorro quente.
           regiões mais altas da cidade, conhecida                um dia, a festividade começa no dia 6 e
           pela sua área verde, com rios, matas e                 prossegue até o dia 14, um domingo. Os        Dia 13 - Novena de Nossa Senhora do Pilar na Matriz São Marcos,
           inúmeros quintais que terminam em                      recursos arrecadados serão utilizados         às 19h. Logo após Noite do Pastel, Mini - Pizza e Cachorro quente.
           fundos de vale. A pergunta que nos                     nas obras sociais da Igreja. Então, além
           fizermos é como o código atual tem sido                da confraternização entre a comunida-         Dia 14 - 8h - Solene Santa Missa seguida da Procissão
                                                                                                                10h - Solene Santa Missa da Crisma, presidida pelo arcebispo
           aplicado e qual o nosso papel, individual,             de e a celebração de Nossa Senhora, os        D. Moacyr José Vitti
           diante da questão.                                     participantes estarão contribuindo na         12h - Tradicional Almoço, com churrasco, risoto, maionese e saladas.
                                                                  ajuda aos mais ncessitados. (DSF)             14h - Show de Prêmios, no salão paroquial.
        Existe um provérbio chinês que diz que
           se todos varressem suas calçadas, no
           final do dia, toda a rua estaria varrida.
           De nada vale um novo código federal
           se o atual ainda não foi devidamente
           aplicado. Talvez, mais que um novo                     O Código Florestal e o Pilarzinho
           código de leis para o Meio Ambiente,
           precisemos de um novo código de                        Rafael Milani Medeiros                                      râmetro? Cabe pontuar aqui que o Brasil, para ser a
           conduta, implementado através de um
                                                                                                                              quinta economia do mundo em 2016 não precisou al-
           sistema educacional verdadeiro, capaz                     Muitas pessoas que vierem a ler este texto nunca         terar o Código, logo preservação não é contrária a de-
           de revelar que se preservarmos o quintal               ouviam falar do Código Florestal antes do recente pro-      senvolvimento. Este país abençoado por Deus tem re-
           de nossa casa, estaremos contribuindo                  jeto de lei que está em análise no Congresso Nacional.      cursos para, além de produzir tudo o que produz hoje,
           para a qualidade de vida no mundo.                     É difícil discutir o Código Florestal, discutir como pre-   desenvolver biotecnologias. Se este setor da economia
                                                                  servar o meio ambiente natural em tempos de busca           depende de tecnologias oriundas de vida e se há mais
                                                                  por sustentabilidade, não é fácil. Encontrar uma fór-       vida dentro de um país, sou um país mais competitivo.
                                                                  mula social que atenda a aspectos econômicos, sociais       Faremos mais dinheiro com as florestas em pé do que
                                                                  e ambientais, para as presentes e futuras gerações, é       sem elas.
                                                                  coisa de gente grande. Uma lei é uma espécie de fór-           Bom, você deve estar se perguntando como isso se
EXPEDIENTE                     Do Quintal                         mula social, onde parâmetros comuns do que é certo e
                                                                  errado são estabelecidos. Dizem que as elites, em espe-
                                                                                                                              aplica no Pilarzinho e bairros do norte de Curitiba? É
                                                                                                                              só pensar na quantidade de córregos, nascentes e coli-
                                                                  cial as econômicas, ditam as regras. É meia verdade. O      nas que temos para este lado. Mesmo essa paisagem já
Propriedade da Editora ETC e Tãao – CNPJ: 12.339.920/0001-18      Código Florestal, por exemplo, foi literalmente ditado      bastante modificada do seu natural, teve alguma coisa
Jornalista Responsável: Ângela Ribeiro DRT 1574                   em 1965. Um ano após o golpe militar. Era uma elite         preservada pelo Código Florestal. Aqui, nos fundos do
                                                                  da força. Digamos que potencialmente as elites intelec-     meu quintal tenho uma legítima Área de Preservação
Diretor de Redação: Douglas de Souza Fernandes
                                                                  tuais do país participaram pouco da elaboração deste        Permanente resguardada pela força da lei e boa vonta-
Projeto gráfico e diagramação: Eduardo Picanço Aguida             texto inicial e que a ferro e fogo o país manteve 20% da    de de seu proprietário (eu). Eu acho isto ótimo, pois
e Paulo Augusto Krüger de Almeida.
                                                                  mata de araucárias, 80% da Amazônia, 30% do cerrado,        vejo que essa paisagem verde do Pilar, além de absur-
Endereço: Rua Professor Ignácio Alves de Souza Filho, 343,        alguma coisa da caatinga e 30 metros em cada margem,        damente agradável, é difícil de ser vista em meio urba-
Pilarzinho, CEP 82110-450.
                                                                  de cada rio brasileiro.                                     no. Percebam que nossos deputados estão agora dis-
Telefones: 3527-0501 e 9892-4606.                                    Bom seria se uma lei fosse o suficiente para preser-     cutindo e votando uma lei que se aplica a toda exten-
E-mails: jornalismo@doquintal.com.br, contato@doquintal.com.br,   var. De lá para cá, o que sobrou dos biomas acima é         são deste país imenso, a todo patrimônio natural que
comercial@doquintal.com.br.
                                                                  bem menos do que pede a lei e bem mais do que os            preservamos e ainda somos obrigados a ver manchetes
Impressão: Editora O Estado do Paraná                             EUA, Europa e Ásia preservaram de sua natureza. Mas         (de primeira página) de casamentos do outro lado do
Tiragem: 10.000 exemplares                                        quem disse que precisamos ter estes países como pa-         mundo.
Curitiba, julho de 2011


                                                                                    Do Quintal                                                                                              »3




Uma ação ecológica e fraterna
Paróquia São Marcos cria campanha que une ajuda aos necessitados e ao meio ambiente



                                        É
                                                   possível com uma ação        da campanha), o participante esta-       que tem a parceria da Associação      levá=lo a um posto próximo de re-
                                                   simples contribuir com       rá dando uma destinação adequada         dos Servos dos Pobres, da Associa-    colhimento. Se não houver, entre
                                                   a preservação ambien-        ao óleo de cozinha, pois se jogado       ção Social São Marcos e do Bocado     em contato com o Disk –coleta,
                                                   tal, resolver um proble-     no ralo ou na terra, esse produto        do Pobre, será usado para as obras    pelo número 3338-4450, que uma
                                        ma doméstico e ao mesmo tempo           irá comprometer os lençóis freáti-       sociais da Paróquia, como a manu-     equipe irá ao local para recolher as
                                        ajudar pessoas carentes ¿ O pároco      cos, e, consequentemente os rios         tenção da Creche Vovó Alfonsa,        garrafas. Empresários que também
                                        da Paróquia São Marcos, no Pilar-       e a água que consumimos (O óleo          auxílio às comunidades carentes,      quiserem manter um ponto de co-
                                        zinho, padre Carlos Donizete Mar-       na água, cria uma película parecida      construção do centro catequético      leta em seu estabelecimento tam-
                                        son está provando que sim. Ele é o      com nata, que impede a oxigeniza-        paroquial e formação dos semina-      bém entre em contato por esse nú-
                                        autor e idealizador do projeto Eco-     ção dela). E, ao mesmo tempo, es-        ristas.                               mero. Outras informações no site
                                        -Solidariedade, que está recolhen-      tará contribuindo com a assistência          Para participar, basta recolher   do projeto: WWW.ecosolidariedade.
                                        do o óleo de fritura usado em resi-     aos mais carentes.                       o óleo utilizado em garrafas pets e   org.br. (DSF)
                                        dências, bares e restaurantes, para
                                        encaminhar a indústrias que produ-       » Campanha
                                        zem o biodísel, um combustível re-         O projeto implantado tem como
                                        novável e biodegradável. Os recur-      base o lema da Campanha da Fra-
                                        sos arrecadados serão utilizados nas    ternidade deste ano, “Fraternidade
                                        obras sociais da paróquia.              e a vida no Planeta”, mas a inten-
                                           Ou seja, ao juntar o óleo utiliza-   ção é manter a ação pelos próximos
Padre Carlos: três ações                do e levar nos postos de coleta (os     anos.
em uma.                                 locais são sinalizados com banners         O valor arrecadado no projeto,



O trabalho social depende de ajuda
                                                                                                                                                                                      João de Noronha




   São várias ações sociais que a Paróquia São Marcos       construir a Creche. Em 19 de março de 1985, aconte-
desenvolve para atender aos mais necessitados. Uma          ceu a primeira reunião para abertura da creche, da qual
delas é a obra Bocado do Pobre, pela qual cerca de 70       participaram os voluntários da região.
famílias recebem uma cesta básica todo mês. Ação tem            Faltam recursos
parceria com o Cras (Centro de Referência da Assis-             No início, a assistência das crianças era feita somen-
tência Social) . Com a parceria, junto com os alimen-       te com recursos da comunidade. Com o tempo, foi feita
tos recolhidos junto à própria comunidade, é possível       parceria com o FAS e posteriormente com a Secreta-
fornecer ás famílias carentes, cobertores, agasalhos, en-   ria de Educação de Curitiba. Hoje, para manter as 106
caminhamento a empregos e outras formas de assistên-        crianças na creche, a instituição recebe uma ajuda per-
cia. Pela proximidade, a ação acaba atendendo famílias      -capita de R$ 235,00, para todos os gastos. Cada família
também do Bracatinga, Vila Nori e até de Almirante          com criança atendida paga uma taxa de R$ 100 reais.
Tamandaré.                                                  Mesmo assim, os voluntários que doam seu tempo para
   Alem disso, há o Clube das Mães Ana Mongolin,            ajudar, têm que fazer malabarismos para poder manter         Creche Vovó Alfonsa: carinho e atenção
que atende a mães carentes, principalmente idosas. Há       a estrutura funcionando e as contas em dia.                  não faltam às crianças, faltam recursos.
também o Centro-Dia de atendimentos de Idosos das               Bernardo Polak, empresário que doa parte de seu
Irmãs de Nossa Senhora de Nagasaki, o trabalho con-         tempo trabalhando como presidente da Creche, diz
junto com as pastorais da Criança e dos Idosos, Cen-        que são 15 funcionárias contratadas para atender às
tro de Educação Infantil Padre Thomaz e Creche Vovó         crianças, e que a diretoria da creche tem dificuldades
Alfonsa.                                                    todo o ano para conseguir pagar corretamente os salá-
   Algumas ações desenvolvidas pela igreja só é possí-      rios e encargos trabalhistas das funcionárias.
vel devido a ajuda de voluntários e de parcerias com o          Há cerca de duas décadas atuando como voluntário
poder público. O caso da Creche Vovó Alfonsa, na Rua        para ajudar a manter a creche, ele defende que a Prefei-
Roberto Gava, 414, é exemplar. Tudo começou nos ini-        tura deveria investir mais nas creches que já estão fun-
cío dos anos 80, quando o pároco da São Marcos era o        cionando – como no caso da Vovó Alfonsa que já tem
padre Giovanne ou João, como ficou conhecido. Preo-         26 anos de serviços prestados à comunidade-, em vez
cupado com a necessidade de atender às crianças ca-         de priorizar somente a criação de novas unidades. Isso
rentes da região, pensou em criar uma creche. Para isso,    daria um maior ânimo a quem já está fazendo o seu tra-
usou os recursos herdados da mãe, Dona Alfonsa, para        balho em prol das crianças. (DSF)
Curitiba, julho de 2011

»4                                                                                    Do Quintal



Lei do bom senso substitui
Código Florestal em Curitiba
                                                                                                            Douglas Fernandes

Indústrias                                                                                                                      drográficas de Curitiba? Expulsare-
                                                                                                                                mos todos os moradores que estão         As áreas de
funcionam                                                                                                                       morando em fundos de vales e nos         preservação
                                                                                                                                entornos de rios e recuperaremos os
em áreas de                                                                                                                     leitos? Isso é inviável. A questão não   permanente
preservação                                                                                                                     é puramente ambiental, ela é sócio-      protegem
                                                                                                                                -ambiental” – alerta.
                                                                                                                                                                         as margens
permanente
                                                                                                                                 » MP tem poucos                         dos rios e
em Curitiba                                                                                                                      técnicos ambientais                     encostas
                                                                                                                                    A maior dificuldade da 1ª Pro-
                                          As instalações
                                          da AmBev                                                                              motoria de Justiça de Proteção Am-
                                                                                                                                                                         dos morros
                                          Curitiba estão                                                                        biental, de acordo com o promotor,
Ângela Ribeiro




A
                                          às margens                                                                            é a quantidade de profissionais dis-
                                          do Barigui.
             lém de avançar nas polí-
             ticas de preservação do
                                                                                                                                poníveis no Ministério Público do        Como é:
                                                                                                                                Paraná. “O Ministério conta com
             Meio Ambiente, o desa-      licenças legais e tem, inclusive, um     irregularidade nas instalações e su-          três a quatro técnicos para atender         Margem dos rios:
             fio do novo Código Flo-     programa de educação ambiental           geriu a necessidade de “bom senso”            aos 399 municípios do estado e uma       Proíbem a extração de
restal será garantir a efetiva punição   no qual atua em parceria com a Se-       no que se refere à aplicação do códi-         autuação ambiental exige parecer         vegetação- nativa ou
aos crimes ambientais. Em Curitiba,      cretaria de Educação do município        go quanto aos limites da mata ciliar:         técnico assinado por um engenhei-        não- em redor de qual-
várias indústrias funcionam em áre-      de Almirante Tamandaré.                  “Tecnicamente as APPs podem va-               ro. Segundo Peters, quando uma           quer curso d’água, den-
as definidas pelo Código como áreas          De acordo com o Instituto Am-        riar a partir de alguns fatores como          empresa é autuada, ela tem um tem-       tro de uma área mínima
de preservação permanente, ou seja,      biental do Paraná – IAP, essas in-       o tipo de solo, de vegetação. No caso         po para se readequar à lei ambiental     de proteção que varia
na beira das principais bacias hidro-    dústrias foram instaladas ao longo       de um solo arenoso precisa de uma             e o Ministério Público tenta resolver    de acordo com a largura
gráficas do município, como os rios      dos rios de Curitiba antes de 1989,      área superior a 30 metros, num solo           o problema através de uma negocia-       dos rios. Naqueles com
Barigui e Belém. A preservação de        quando o quando a área de preser-        argiloso não precisa tanto”. Isso, por-       ção, caso contrário, o caso é ajuizado   menos de 10 metros de
30 metros de área na beira dos rios,     vação era de cinco metros, como          que, segundo Bueno, os 30 metros              e vai parar no Tribunal: “Um caso        largura, a área de pro-
por exemplo, já prevista no antigo       definia o Código de 1965 para rios       de preservação permanentes deter-             pode levar de quatro a cinco anos        teção é de 30 metros,
código, continua sem efetiva aplica-     com menos de 10 metros de largu-         minados pela lei são para evitar que          para ter uma resolução e o meio          e nos rios com mais de
ção graças ao entendimento legal de      ra. Vinte e dois anos depois da revi-    aconteça um processo de erosão na             ambiente não espera” – explica. Por      600 metros de largura,
que tais empresas foram instaladas       são da lei em 1989, essas indústrias     área do rio. Quando questionado,              isso é que o promotor defende a          a área de preservação é
antes do Código de 1989 que alte-        continuam instaladas nos mesmos          no entanto, por que uma parte da              ideia de que o Código Florestal deve     de 500 metros.
rou a então área de proteção perma-      locais, atuando sob licença do IAP       empresa Da Ilha já está praticamen-           ser tratado de forma diferenciada na
nente de cinco para 30 metros.           que atua em parceria com a Secre-        te dentro do rio Barigui, ele afirmou         zona urbana.                             Como fica:
    Quem caminha pela Rodovia            taria Municipal do Meio Ambiente         que era exatamente devido ao alar-                A exemplo do IAP do procedi-
dos Minérios, por exemplo, nos li-       (SMMA). Isso, graças a um entendi-       gamento das margens do rio. Fina-             mento do IAP, a diretora afirmou         O novo código man-
mites entre Curitiba e Almirante         mento legal que garante a essas em-      lizou explicando que o critério tem           que a política tem sido a do “bom        tém os 30 metros, mas
Tamandaré, depara-se diariamen-          presas o direito a permanecerem no       sido a autuação e transferência de            senso”, punindo ou exigindo a mu-        os proprietários que
te com um dos retratos do descaso        local, desde que não representem         empresas que efetivamente apre-               dança apenas de indústrias que re-       não tiverem a área mí-
com a qual uma das principais ba-        um risco ao rio.                         sentam uma ameaça de poluição às              presentem um potencial risco de          nima de preservação
cias hidrográficas de Curitiba é tra-                                             águas.                                        poluição dos rios. “Nós não vamos        terão de recompor a
tada. Ali, uma fábrica da AmBev e a       » Política do bom senso                                                               pedir que essas indústrias saiam         mata ciliar em até 15
empresa Da Ilha Comércio de Álco-           Segundo Reginato Bueno, chefe          » Salto alto                                 porque foram instaladas antes da         metros, além de legali-
ol Ltda, funcionam às margens do         regional do IAP, as empresas tive-           Edson Luiz Peters, promotor de            lei e porque o novo código também        zar suas propriedades
rio Barigui, onde não existe nenhum      ram, inclusive, seu licenciamento re-    Justiça de Proteção Ambiental do              está prevendo uma redução dessa          em órgãos ambientais
resquício de mata ciliar preservada.     novado recentemente, uma vez que         Ministério Público de Curitiba, ex-           área para 15 metros, dependendo          de suas regiões, ou seja
As instalações das empresas são tão      a auditoria realizada no local revelou   plicou que Curitiba não está fora do          da largura do rio”.                      na prefeituras de todo
próximas ao rio que parte do muro        que as empresas fazem o tratamen-        triste contexto ambiental que marca               Uma das imposições do novo           o país.
da empresa de álcool está desaban-       to das afluentes e a devida limpeza      as grandes cidades brasileiras, ape-          Código aprovado pela Câmara Le-
do dentro das águas.                     da água para o descarte. Embora          sar de muitas autoridades do poder            gislativa e sob análise no Senado,
    Procuradas para falar sobre o as-    admita que tanto a distribuidora         público permanecerem no que cha-              no entanto, é a não flexibilização
                                                                                                                                                                         Encostas
sunto, a empresa Da Ilha Comércio        Ambev, quanto a empresa Da Ilha          mou de “salto alto” e com a imagem            das áreas de preservação das ma-
de álcool preferiu não se pronunciar     Comércio de Álcool Ltda estejam          de uma cidade ecológica que ficou             tas ciliares, o que significa a manu-
e assessoria da AmBev informou           instaladas em área de preservação        no passado. Para ele, o rio Barigui,          tenção dos 30 metros para rios até
                                                                                                                                                                         Como é:
que está funcionando com todas as        permanente, o IAP não constatou          por exemplo, é mais um retrato da             10 metros de largura. E, ao contrá-          Estabelece como
                                                                                  precariedade do sistema de sanea-             rio da afirmação da assessoria do        áreas de proteção os
                                                                                  mento básico no país. “O Barigui é            IAP de que o órgão segue orien-          topos de montanhas,
                                                                                  um rio sacrificado porque tem inú-            tação técnica do Sistema Nacional        morros e serras,e áreas
                                                                                  meras indústrias instaladas às suas           do Meio Ambiente que atribui ao          com altitude superior
                                                                                  margens, sem contar os trechos que            município anuência na legislação         1.800 metros de altura.
                                                                                  já estão poluídos por invasões e mo-          no que tange o licenciamento de          Também proíbe a der-
                                                                                  radias em situação de risco”.                 indústrias, o Código Florestal, em       rubada de florestas em
                                                                                      O promotor também defendeu o              seu Artigo 1º, determina que as          áreas de inclinação en-
                                                                                  “bom senso” como principal critério           Áreas de Preservação Permanen-
                                                                                                                                                                         tre 25 e 45 graus.
                                                                                  para a aplicação do Código ambien-            tes devem seguir os limites previs-
                                                                                  tal no meio urbano. Para a autuação           tos no Plano Diretor do município,
                                                                                  de indústrias instaladas nas beiras           respeitados os limites dessa lei. Isso
                                                                                                                                                                         Como fica:
                                                                                  de rios, como no caso do Barigui na           quer dizer que os 30 metros de ter-         Permite o cultivo
                                                                                  Rodovia dos Minérios, é necessária            reno previstos como área de pre-         de algumas culturas e
                                                                                  a realização de uma perícia técni-            servação permanente desde 1989           o pastoreio ( pecuária)
                                                                                  ca no local para a constatação legal          vale, inclusive, na zona urbana. Isso    no topo dos morros ele-
                                                                                  do crime: “O que faremos, punire-             torna qualquer construção à mar-         vados (1.800 metros)
                                                                                  mos todas as indústrias que estão             gem de um rio urbano um crime
                                                                                  instaladas às margens das bacias hi-          ambiental.
Curitiba, julho de 2011

                                                                                                                                                                                            »5
                                                                                Do Quintal



Crimes ambientais
                                                                                                                                                                 Empresas
                                                                                                                                                                 ameaçam
                                                                                                                                                                 rios no Pilarzinho
                                                                                                                                        DSF                          Moradores do Pilarzinho têm
Ângela Ribeiro                                                                                                                                                   procurado os órgãos ambientais




P
                                                                                                                                                                 para denunciar o funcionamento
           ara o advogado ambientalista e
                                                                                                                                                                 de duas empresas que estariam po-
           ex-secretário do Meio Ambien-
                                                                                                                                                                 luindo um córrego da região. Essas
           te do Paraná, Vitório Sorotiuk,
                                                                                                                                                                 empresas têm sido alvo de denún-
           no entanto, se existe o entendi-
                                                                                                                                                                 cias desde 2008 junto à Prefeitu-
mento legal de que as empresas construí-
                                                                                                                                                                 ra Municipal, à Sanepar e ao IAP.
das antes da lei de 1989 não precisam sair
                                                                                                                                                                 Segundo informações da Regional
das margens dos rios, o que os órgãos não
                                                                                                                                                                 Boa Vista da Secretaria do Meio
podem permitir é que continuem cons-
                                                                                                                                                                 Ambiente, as empresas já foram
truindo nessas áreas de preservação per-
                                                                                                                                                                 autuadas pela SMMA por funcio-
manente: “Como é que eles permitem que
                                                                                                                                                                 narem sem licenciamento ambien-
a indústria de álcool, por exemplo, imper-
                                                                                                                                                                 tal. Essa autuação aconteceu em
meabilize mais uma parte do terreno para a
                                                                                                                                                                 agosto de 2010 e tanto o lava-car,
construção de uma nova dependência? Isso
                                                                                                                                                                 quanto a oficina mecânica que
é proibido, trata-se de um crime ambiental”.
                                                                                                                                                                 funcionam à Rua Jornalista Alípio
Sorotiuk denunciou a impermeabilização         As instalações da indústria de álcool estão praticamente dentro das águas do Barigui.
                                                                                                                                                                 Miranda, numa área de manancial,
de uma área do outro lado do rio Barigui,
                                                                                                                                                                 próximo a uma nascente do Rio
para utilizar como estacionamento.
                                                                                                                                                                 Barigui, continuam funcionando
    Vitório Sorotiuk foi advogado da ação
                                                                                                                                                                 sem sequer terem o alvará da Pre-
cível pública impetrada pela Associação
                                                                                                                                                                 feitura. “Elas estão funcionando
de Defesa do Meio Ambiente de Araucá-
                                                                                                                                                                 sem o alvará porque não têm o li-
ria- AMAR, contra o Supermercado Cole-
                                                                                                                                                                 cenciamento específico para em-
tão. A AMAR acusava o supermercado de
                                                                                                                                                                 presas dessa natureza que ofere-
desmatar a mata ciliar nas margens do Rio
                                                                                                                                                                 cem riscos para o meio ambiente,
Belém, no bairro do São Lourenço, para
                                                                                                                                                                 uma vez que lidam com produtos
construir um estacionamento, onde hoje
                                                                                                                                                                 químicos” - informou um funcio-
funciona o Mercadorama. A Justiça deu ga-
                                                                                                                                                                 nário da Regional do Boa Vista
nho de causa à Associação, determinando
                                                                                                                                                                 que não quis se identificar.
que a empresa recomponha 15 metros de
                                                                                                                                                                     Embora a Secretaria afirme que
mata ciliar, indenize o município, em valor
                                                                                                                                                                 não contém provas de que as em-
de mercado, o metro quadrado que ocupa
                                                                                                                                                                 presas estejam poluindo o rio que
da área permanente. A questão é que a ação
                                                                                                                                                                 fica a menos de 30 metros de dis-
foi impetrada em 1997, ou seja, são qua-
                                                                                                                                                                 tância, moradores da região têm
torze anos de espera para que a população
                                               Latas de tintas e óleo poluem as águas de uma nascente do rio Barigui, no Pilarzinho.                             procurado o órgão para denunciar
seja ressarcida por esse crime ambiental. É
                                                                                                                                                                 o problema. Somente no 156 da
que a área ainda está em situação de perícia
                                               com autorização do IAP e da SMMA na              » Código só passou a valer                                       Prefeitura Municipal foram aber-
para levantamento dos valores da indeni-
                                               Rodovia dos Minérios. A Tuiuti teria ha-         em 2000 em Curitiba                                              tos quatro protocolos de denún-
zação. Procurada para falar sobre o caso, a
                                               bite-se da prefeitura desde 1978, quando            O Código Florestal de 1989, em seu Ar-                        cias sem que o caso tenha uma so-
assessoria do Wall Mart, atual proprietária
                                               o código previa uma Área de Preservação         tigo 1º, determina que as Áreas de Preser-                        lução final. (AR)
do Mercadorama, não quis se pronunciar,
afirmando apenas que o prédio, com a área      Permanente de cinco metros. “A univer-          vação Permanentes devem seguir os limites
do estacionamento é alugado.                   sidade chegou a oferecer a transferência        previstos no Plano Diretor do município,
                                               do local para a Prefeitura, caso ela apre-      respeitados os limites dessa lei. E uma das
 » Curitiba sem política
 de ação
                                               sentasse algum projeto, o problema é que
                                               não existe uma política de ação ambiental
                                                                                               imposições do novo Código aprovado pela
                                                                                               Câmara Legislativa e sob análise no Senado                             Assine o
    Vitório Sorotiuk também é advogado,        quanto às Áreas de Preservação Perma-           é a não flexibilização das áreas de preserva-
dessa vez de defesa, da Universidade Tuiu-     nente em Curitiba. Não existe nenhum
                                               critério de ação para o caso dos crimes co-
                                                                                               ção das matas ciliares, inclusive para o meio
                                                                                               urbano.
                                                                                                                                                                      Do Quintal
ti do Paraná que está respondendo a uma
                                               metidos antes da Lei de 1989”.                      Erica Nielke, diretora de pesquisa e mo-
ação civil pública impetrada pelo Minis-
                                                   Sorotiuk lembra que a cidade só co-         nitoramento da Secretaria Municipal do
                                                                                                                                                                    Você que já rece-
tério Público do Paraná no ano de 2010.
A Promotoria de Proteção ao Meio Am-           meçou a atentar aos crimes dessa nature-        Meio Ambiente explicou que somente a                               beu gratuitamente o
                                               za depois de 2000 devido ao número de           partir de 2000 é que esses limites impostos
biente alega que o estacionamento da ins-
                                               processos impetrados por crimes contra          pelo Código começaram a ser obedecidos
                                                                                                                                                                  Do Quintal em sua
tituição de ensino foi construído em uma
área de preservação permanente, ou seja,       o Meio Ambiente na cidade. “O próprio           no Paraná: “Até então, não havia uma políti-                       casa e quer garantir
                                               prédio do Instituto Ambiental do Paraná         ca de preservação de áreas permanentes em
muito próximo ao Rio Barigui. Segundo
                                               fica em cima de uma Área de Preservação         Curitiba, razão pela qual muitas indústrias
                                                                                                                                                                  o seu recebimento
o MP-PR, o estacionamento, no campus
do bairro Mossunguê, em Curitiba, teria        Permanente, além da sede da Associação          estão instaladas nas margens das bacias hi-                        mensal, envie –e-
                                               do Ministério Público. O município pode         drográficas”. Frente ao impasse, a diretora
sido construído sem o licenciamento da
                                               determinar uma política de ação contra          também apontou o “bom senso” como o
                                                                                                                                                                  -mail para contato@
Secretaria Municipal do Meio Ambiente
(SMMA).                                        esses casos de infração anterior à lei, mas     principal critério de ação da Prefeitura de                        doquintal.com.br,
                                               isso não existe em Curitiba” – finalizou.       Curitiba.
    Na ação, o MP-PR pede que a Justi-                                                                                                                            fazendo sua solicita-
ça conceda uma liminar proibindo que a
universidade faça qualquer construção                                                                                                                             ção. Por apenas
no local e, ainda, e as que já foram feitas                                                                                                                       R$ 10,00, você o re-
sejam demolidas. E, segundo informa-
ções da Promotoria de Proteção ao Meio                                                                                                                            ceberá em casa por
Ambiente, a Universidade Tuiuti estaria                                                                                                                           6 meses. Entre em
respondendo ainda a uma outra ação do
Ministério Público pela construção tam-                                                                                                                           contato conosco,
bém irregular de seus prédios no bairro do                                                                                                                        e garanta a leitura
Mossunguê. Ambos os casos ainda estão
em trâmite, em primeira instância.                                                                                                                                mensal do Do Quin-
                                                                                                                                               João de Noronha




    Vitório Sorotiuk afirmou que o Minis-                                                                                                                         tal, o jornal que veste
tério usa de rigor em alguns casos e em
outros não. Segundo ele, a situação da ins-                                                                                                                       a camisa do seu
tituição de ensino denunciada pelo Minis-                                                                                                                         bairro.
tério é a mesma da empresa AmBev e da          A Universidade Tuiuti é uma das empresas acionadas
Cristal empresa de Álcool que funcionam        pelo MP por construir em área de preservação.
Curitiba, julho de 2011

»6
                                                                                   Do Quintal

                                                                                                                             UMA RUA, UMA HISTÓRIA
Do Quintal abre processo                                                                                                     Nosso maior jurista
para tornar Cruz do Pilarzinho                                                                                                   Hugo Simas (foto), que nomeia
                                                                                                                             a rua que começa na confluência
patrimônio histórico de Curitiba                                                                                             com a Albino Silva, no Bom Retiro,
                                                                                                                             e desemboca no início das ruas Ra-
                                                                                                                             poso Tavares e Amauri Lange Silvé-
                                                                                                           João de Noronha
                                                                                                                             rio, no Pilarzinho, é considerado o
Apesar de sua importância                                                                                                    maior jurista paranaense. Mas foi
histórica, ela ainda não é                                                                                                   bem mais que isso. Segundo a Fun-
                                                                                                                             dação que leva seu nome, criada em
cadastrada na Prefeitura                                                                                                     1993 em parceria com a UFPR, “o
                                                                                                                             Dr. Hugo Simas foi um cidadão bri-
                                                                                                                             lhante em todas as atividades que desenvolveu, como farmacêuti-
Angela Ribeiro                                                                                                               co, advogado, promotor de justiça, deputado estadual, redator de




O
                                                                                                                             jornais, bibliotecário, procurador geral do Estado do Paraná, autor
               Jornal Do Quintal deu entrada, no dia                                                                         de obras jurídicas e professor”.
               cinco de julho, junto à Prefeitura Muni-                                                                          Hugo Gutierrez Simas nasceu em Paranaguá, em 23 de outu-
               cipal de Curitiba, ao processo de registro                                                                    bro de 1863. Filho de farmacêutico, seu primeiro curso superior
               da Cruz do Pilarzinho como um monu-                                                                           foi Farmácia, feito no Rio de Janeiro. Após ajudar o pai por 5 anos
mento histórico oficial da cidade. Com data de cons-                                                                         em seu negócio, formou-se em direito no Rio de Janeiro. Advoga-
trução estimada na segunda metade do século XIX, o                                                                           do brilhante na área de Direito Marítimo, voltou ao Paraná, onde
cruzeiro ainda não conta com um registro e permanece                                                                         foi promotor de Antonina e posteriormente Procurador-Geral do
sob a salvaguarda exclusiva dos moradores da região.                                                                         Estado e desembargador do então Superior Tribunal de Justiça.
Isso quer dizer que, apesar de sua importância como                                                                          Entre outras funções, foi professor de Lógica, no Ginásio Parana-
                                                            Na última edição, o Do Quintal contou a história
referencial histórico, a Cruz não existe sequer no mapa                                                                      ense, e de Portuguës e Pedagogia, na Escola Normal de Curitiba.
                                                            da “Cruz quase invisível”.
de monumentos a serem preservados pelo poder mu-                                                                             Ao mesmo tempo passou a militar na imprensa diária, chegando à
nicipal e até mesmo sua limpeza acontece em caráter         sa Senhora do Pilar, cuja placa marca o ano de 1782. A           direção do “Diário da Tarde” e do “Correio do Paraná”.
oficioso.                                                   Fundação Cultural chama atenção para o fato de que o                 Foi um dos fundadores da Universidade Federal do Paraná
   A questão é que a Cruz foi levantada pela população      processo migratório de polacos na região teve início a           (1912), onde lecionou Economia Política e depois Direito Consti-
no meio de duas ruas que se tornariam duas avenidas         partir de 1800.                                                  tucional, emprestando também sua colaboração como bibliotecá-
centrais do bairro do Pilarzinho, a Raposo Tavares e            Na última edição, o jornal Do Quintal contou a his-          rio da nova instituição.
Hugo Simas. Com o crescimento da região, a cruz teve        tória da Cruz do Pilarzinho a partir do depoimento de                Deixou várias obras jurídicas que o consagraram nacionalmen-
de ser afastada e fixada numa calçada onde hoje funcio-     alguns dos moradores antigos do bairro, responsáveis             te entre eles, o “Compëndio de Direito Marítimo” (1938), o “Có-
na um centro comercial que, com suas fachadas, prati-       pela manutenção e preservação do cruzeiro, como o se-            digo Brasileiro do Ar” (1939), e os seu “Processos Acessórios”.
camente, tornou invisível o monumento.                      nhor Edwino José Polak, morto em maio último.                    Um mês antes de morrer, em dezembro de 1941, Hugo Simas fez
   Segundo funcionários da Secretaria Municipal do              Diante de sua invisibilidade e dos riscos de futuras         entrega ao governo do seu anteprojeto do Código de Transportes,
Meio Ambiente, órgão responsável pela manutenção            intervenções no monumento que, ao longo dos anos,                missão que lhe fora confiada pelo ministro Francisco Campos.
de parque, pr aças e monumentos, o serviço de manu-         já sofreu inúmeras alterações, o Do Quintal resolveu             Mas, também enveredou por outras áreas do mundo literário, dei-
tenção vem sendo feita como uma iniciativa do órgão         entrar com solicitação para que a Prefeitura oficialize          xando grande quantidade de conferências e obras variadas, como
que não conta com nenhum registro que, ao menos, dê         o lote onde está a Cruz do Pilarzinho, denominando o             “Agricultura na escola primária” e “O Romance de Amor do Poeta”.
conta de sua existência. Mesmo depois de um levanta-        monumento. Esse é o primeiro passo para o seu reco-              Em 1946, foi homenageado pelos estudantes de direito da UFPR
mento histórico realizado pela Fundação Cultural de         nhecimento como um patrimônio histórico. Caso a po-              que deram o seu nome ao Diretório Acadëmico.
Curitiba que levantou a possibilidade da Cruz do Pilar-     pulação queira acompanhar ou mesmo cobrar o anda-                    Em agosto de 1948, projeto de lei de autoria do vereador An-
zinho ser um monumento construído antes mesmo do            mento do processo, basta ligar para a Prefeitura Muni-           tenor dos Santos, autorizou o Executivo a dar o nome de Desem-
processo de colonização da região. É que ela pode ter       cipal, através do número 3350-8749 e solicitar informa-          bargador Hugo Simas à via até então denominada Avenida Pilar-
sido levantada no período de construção da Igreja Nos-      ções sobre a petição sob o protocolo 50-000101/2011.             zinho. (DSF)




                                             SE VOCÊ BUSCA REFERÊNCIA,                                                                     Diferenciais do EAD Claretiano:

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                                                                                         www.claretiano.edu.br
                            Av. Presidente Getúlio Vargas, 1193 - Rebouças

                      *segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira dos Estudantes de Educação a Distância (ABE-EAD).
Curitiba, julho de 2011


                                                                                 Do Quintal                                                                                                       »7




Sensação
de medo e                                                                    Assaltantes apavoram
impotência
    Um levantamento feito pela
                                                                             comerciantes do Pilarzinho

                                                                             N
Secretaria de Segurança do Es-                                               Douglas Fernandes                                                                                                     DSF
tado revela que no período de       Celso: Mais violência que
                                                                                            ão é preciso ler jor-
janeiro a junho de 2011, houve      em Almirante Tamandaré.                                 nal, ouvir rádio, ver
um aumento no número de as-                                                                 internet ou TV para
saltos à mão armada, durante o      lado dessa região, mas de todos                         saber que o Pilarzinho
dia, nos bairros do Pilarzinho,     os bairros de Curitiba: “A PM            se tornou um dos alvos preferidos
Abranches, Ahú, Vista Alegre        não consegue ser onipresente             dos assaltantes, nos últimos tem-
e Mercês. Segundo o delegado        porque a carência de pessoal             pos. Basta conversar com qualquer
Guilherme Rangel, da Delega-        ainda é muito grande. Foram              comerciante do bairro que ele dirá
cia de Furtos e Roubos, geral-      anos sem investimento em se-             que, se ele próprio não foi, sabe de
mente, esses assaltos são feitos    gurança pública, somente agora           pelo menos uma dúzia de casos de
por jovens entre 18 e 30 anos       houve um concurso para poli-             colegas que foram vítimas de assalto
de idade, com várias passagens      ciais que ainda estão passando           nos últimos meses.
pela polícia. Ele explicou que      por capacitação para depois                  Esse número de casos tem ge-
não se trata de um quadro iso-      irem para as ruas”. (AR)                 rado um clima de insegurança na
                                                                             região. Foi o que a reportagem do
                                                                             Do Quintal constatou ao fazer um            O comércio ao redor da Cruz já virou “freguês dos assaltantantes”.
                                                                             pequeno roteiro a partir de um dos
                                                                             últimos casos. No último dia 20, no             E a filial da Nissei chegou a ser     » Violência
                                                                             meio da tarde, a Lotérica JCS, no           assaltada oito vezes nos últimos             Também na Rua São Salvador,
                                                                             mini-centro comercial da Cruz do            dois anos. A atendente Francielle        um dos alvos constantes é o Posto
                                                                             Pilarzinho, na rua Amauri Lange, foi        da Silva explica que a forma de ação,    São Salvador, que registrou dois
                                                                             alvo de dois homens que entraram            geralmente, é igual. O assaltante se     assaltos em 2 meses. Um pouco
                                                                             armados dando voz de assalto. Os            passa por um freguês, escolhe um         mais além, na divisa com o Abran-
                                                                             assaltantes tentaram quebrar o vidro        produto e quando chega ao caixa,         ches, A Banca, Restaurante e Lan-
                                    Felipe e a mãe:
                                                                             que separa o público das atendentes.        anuncia o assalto.                       chonete também foi assaltada duas
Hélio, do Tissi:                    após a violência, medo e                 Como não conseguiram, assaltaram                Somente no mês de julho foram        vezes recentemente. O último as-
Dois assaltos recentes.             sensação de impotência.                  os clientes que estavam na fila, e fu-      assaltadas a Pizzaria do Hamilton,       salto aconteceu no dia 12 de ju-
                                                                             giram em uma moto. Na fuga, bate-           na Hugo Simas, e o Supermercado          lho, quando os assaltantes levaram
Clima de insegurança                                                         ram o veículo e um deles foi preso.         Tissi, na Avenida Raposo Tavares.        um aparelho de TV, um exposi-
                                                                                 Não se trata de um caso isola-          Segundo o gerente do supermer-
                                                                                                                                                                  tor de cigarros e um computador.
    Para quem já foi vítima de      tão propondo a remunerar esses           do no minicentro comercial do Pi-           cado, Hélio de Paula, os assaltantes
                                                                             larzinho que parece ter se tornado                                                   Mas o caso mais grave conforme
um assalto, além do prejuízo        seguranças na tentativa de obte-                                                     chegaram às 7h30 da noite e rende-
                                                                             um chamariz para assaltantes. As                                                     conta Felipe Gonzatto, filho dos
material, o que fica é a sensa-     rem maior segurança. Gonzatto                                                        ram ele e as caixas. Em seguida, te-
                                                                             farmácias Morifarma e Nissei, que                                                    donos do estabelecimento, foi há
ção de medo e impotência. Fe-       é um deles: “Acho que a maioria                                                      riam levado uma caixa registradora
                                                                             também funcionam no local, são                                                       dois meses quando três margi-
lipe Gonzatto, do A Banca, por      dos comerciantes não se impor-                                                       e cerca de R$ 300,00. Foi o segundo
exemplo, diz que depois do          taria em contribuir com uma              campeãs em casos de assaltos. Celso                                                  nais chegaram num final da tarde,
                                                                                                                         assalto do ano, o primeiro em janei-
ocorrido tem medo de chegar         quantia mensal para a sua segu-          Alves, atendente da Morifarma há            ro, quando levaram cerca de R$ 2         rendendo a ele e os funcionários
à noite em casa. Também não         rança”.                                  três anos, conta que já presenciou          mil. Seguindo pela Amauri Lange, já      na cozinha. Um dos assaltantes fi-
consegue dormir direito, uma            Celso Alves, da Morifarma,           três assaltos. O último foi num do-         próximo da Rua São Salvador, o co-       cou vigiando, enquanto os outros
vez que permanece a sensação        é outro que defende um policia-          mingo de maio, quando os bandi-             mércio de doces Cardoso também           invadiram a casa da família, que
de que tanto ele quanto sua fa-     mento alternativo. “Por que não          dos o renderam no momento em                já virou “freguês” dos assaltantes. A    fica aos fundos do estabelecimen-
mília estão seguros.                contratar policiais aposentados          que a farmácia era aberta, às 7h30.         proprietária, Inês Cardoso, diz que      to. Na casa estava apenas sua mãe,
    E essa sensação de desam-       para nos dar segurança?”- per-           Em seguida, teriam rendido os fun-          foram dois nos últimos dois meses.       que, mesmo sem qualquer reação,
paro diante dos criminosos é        guntou ele, depois de comentar           cionários no banheiro, levando o            Nos últimos dois anos, ela já perdeu     chegou a ser espancada. Na saída,
comum entre as vítimas de as-       que o bairro precisaria de um            que havia no caixa, além de vários          a conta, mas se lembra que chegou a      o trio percebeu a presença de um
salto. O grau de desespero é tão    módulo policial, nos mesmos              produtos. Morador de Almiran-               ser assaltada três vezes seguias pelos   vigia e fugiu, quando um deles foi
grande que a ideia de organizar     moldes do último que foi inau-           te Tamandaré, ele diz que se sente          mesmos bandidos, quando fechou           atropelado, morrendo antes da po-
equipes de guardiões particula-     gurado na região do Bom Reti-            hoje mais seguro onde mora do que           o estabelecimento por alguns dias        lícia chegar. Já a dona do restauran-
res, como forma de reduzir os       ro, nas proximidades da Jardim           onde trabalha. Sua colega Renata            para não ter mais prejuízos.A cerca      te, quase perdeu a visão do olho
riscos diante da impossibilidade    Schaffer, uma área que já conta-         Machado, que mora em Colombo,               de duzentos metros dali, a floricul-     esquerdo e teve o maxilar seria-
do poder público, já surgiu no      ria com ampla segurança parti-           também vítima de três assaltos, tem         tura Ópera Garden também foi as-         mente atingido, tendo que passar
bairro. Muitos comerciantes es-     cular. (DSF)                             a mesma opinião.                            saltada no último mês.                   por várias cirurgias.



Sem registros policiais, casos
não chegam às autoridades                                                            Motivos para anunciar no

                                                                                            Do Quintal
    O aumento no número de assaltos na região é um problema sentido
no dia-a-dia. Porém, muitas vítimas não registram queixa. Em julho do
ano passado, levantamento feito por um grupo de moradores com 93 co-
merciantes do bairro constatou que 50 haviam sido assaltados de janeiro
de 2009 a junho de 2010, vários deles mais de uma vez. Mas, 23 deles não
haviam registrado queixa.
    A falta de registro dificulta a própria ação policial. Os boletins de
ocorrência, quando realizados, são registrados tanto na Delegacia de Fur-       •	 É um jornal com conteúdo, sempre trazendo assuntos de interesse
tos e Roubos quanto na Polícia Militar, o que dificulta uma visão geral do         dos moradores, tratados com seriedade e qualidade jornalística.
número de casos em determinado bairro.                                          •	 São 10 mil exemplares distribuídos criteriosamente entre o comércio,
    A própria Secretaria de Segurança alerta para a importância de que             condomínios, áreas residenciais, instituições públicas e privadas. Ou seja, quem
as vítimas procurem a delegacia mais próxima para fazer o boletim de               anuncia no Do Quintal tem a sua mensagem chegando mensalmente a 10 mil
ocorrência. A Secretaria é responsável pelo geoprocessamento que reúne             residências, ou cerca de 30 mil leitores.
dados de cada região da cidade . A falta de registro é um agravante para a
falta de segurança, uma vez que os dados oficiais acabam não refletindo         •	 Compare com os concorrentes – veja o custo-benefício de seu investimento- e
na realidade local, o que impede uma ação mais ostensiva na região.                seja mais um anunciante do Do Quintal, o jornal que veste a camisa do seu bairro.
    Sérgio Nascimento, do 3º Distrito, geralmente, os meliantes migram
para determinados bairros, na tentativa de fugir de regiões que contam                                            Contatos : Tel: 3527-0501 – 9892-4606
com um policiamento mais ostensivo. (AR)                                                                            E-mail: contato@comercial.com.br
Curitiba, jul

»8                                                                                                                                                                         Do Qu




O laboratório de Francis
Pelas inovações e pioneirismo em várias áreas, Chácara atraiu durante décadas visitantes
                                                    Fotos: João de Noronha
Douglas de Souza Fernandes
                                                                                                                                         Casa principal

O
               bairro Bom Retiro e o Jardim
               Schaffer, no Vista Alegre, hoje
               são uma das regiões mais valo-
                                                                                                                                         foi tombada
               rizadas e com melhor infra-es-
trutura de Curitiba. Há 150 anos, porém, era                                                                                             Após a morte de Francisco Schaffer,
uma área rural praticamente desabitada. Foi                                                                                              em janeiro de 1955, aos 89 anos, a
nessa época, em 1863, que chegou ao local, os                                                                                            propriedade foi dividida entre os
primeiros Schaffer. Anton e um de seus oito fi-                                                                                          seus sete filhos, dois homens e cinco
lhos, Emmanuel, vieram de Romerstadt, uma                                                                                                mulheres, cabendo a maior parte aos
pequena cidade da Moravia, no antigo império                                                                                             dois filhos, Chico e Bruno. Chico fi-
Austro-Húngaro. Chegaram aqui para iniciar                                                                                               cou a parte a leste da Avenida Hugo
uma nova vida, longe da crise que assolava a                                                                                             Simas, menor mas que incluía todas
Europa então. Aqui compraram uma Chácara,                                                                                                as instalações agropecuárias. E Bru-
que anos depois se tornaria exemplo de ma-                                                                                               no com a parte a oeste. Chico loteou
nejo agrícola e pecuário, e que em décadas se-                                                                                           sua propriedade em 1957. A de Bru-
guintes atrairia levas de visitantes do país e do                                                                                        no foi loteada em 1970.
exterior.                                                                                                                                    No Jardim Schaffer, além a rua
    Isso porque, dentre os descendentes de                                                                                               com o nome de Francisco, num dos
Anton, estava Francisco, seu neto, o primeiro                                                                                            bosques da propriedade foi criado,
Schaffer a nascer em Curitiba, um autodidata                                                                                             há 15 anos, o Bosque Alemão, em-
que quando assumiu a área, colocou em prá-                                                                                               bora a Família Schaffer seja de ori-
tica tudo que aprendera por conta própria so-                                                                                            gem austríaca. A principal casa da
bre a agricultura e pecuária. Com uma mente                                                                                              Chácara e a última em que Francis-
irrequieta e antenado com as inovações tecno-                                                                                            co morou foram preservadas. Esta,
lógicas de então, ele fez da Chácara um verda-                                                                                           na confluência das Ruas Santa Cecí-
deiro laboratório de zootecnia e pecuária. E                                                                                             lia e Hugo Simas, abriga hoje o Bar e
tudo que aprendia, ensinava a quem quisesse                                                                                              Restaurante Schimmel.
aprender, atendendo pacientemente todos que                                                                                                  Já a antiga sede, no número de
o procuravam. De autodidata se tornou um             Na casa grande, desapropriada e restaurada nos anos 70, funcionou                   1800 da Hugo Simas, foi desapro-
professor. E com a Chácara Schaffer, deixou          por 37 anos a Escola Internacional. Hoje ela pertence ao grupo Destro.              priada em 1974, na gestão do pre-
um legado de informação às novas gerações.                                                                                               feito Jaime Lerner, que a restaurou e
                                                                                                                                         a alugou para a Escola Internacional
                                                                                                                                         de Curitiba, que funcionou no local


À frente de seu tempo
                                                                                                                                         até outubro do ano passado. Nos
                                                                                                                                         últimos nove anos, somente a edu-
                                                                                                                                         cação infantil funcionava no local,
                                                                                                                                         quando também foi transferida para
                                                                                                                                         a nova sede da instituição na Aveni-
    Francisco Schaffer sempre esteve à frente de     co tempo, além de se tornar o principal produtor                                    da Doutor Eugênio Bertolli, 3900,
seu tempo. Durante toda a sua vida, dedicou-         de leite da cidade, Francisco passou a fornecer                                     em Santa Felicidade.
-se ao estudo da tecnologia voltada à agricultu-     matrizes para produtores de todo o país.                                                Em 2009, o imóvel foi leiloado
ra e criação de animais. Entre outras coisas, foi       Perfeccionista, foi um dos primeiros criadores                                   pela Prefeitura, e arrematado pelo
um dos primeiros do país a utilizar o trator. O      a registrar os animais em livro próprio para es-                                    empresário João Destro, dono do
primeiro ele adquiriu em 1918, um ano depois         tabelecer a genealogia do seu gado. A higiene e a                                   grupo Destro Macroatacado. Atual-
de ter sido lançado nos EUA por Henry Ford.          organização do plantel também eram exemplares,                                      mente uma empresa de segurança
Construiu na Chácara o primeiro silo do Brasil       como atestam depoimentos de quem o visitava.                                        cuida da área. João ainda não anun-
para armazenagem de forragem verde para ali-          » Um professor                                                                     ciou o que pretende instalar no lo-
mentar o gado. Foi o introdutor da raça holande-        E tudo que aprendera por conta própria,                                          cal.
sa no país, revolucionou o comércio de leite no      Francisco não tinha receio de ensinar a outros                                          Da casa, que teve somente a parte
Paraná, sendo um dos primeiros a pasteurizar o       produtores. Para aprender com ele, vinham fi-                                       externa tombada, ainda restam parte
produto e o pioneiro na venda de leite em gar-       lhos de fazendeiros, estudantes e professores de                                    da estrutura montada por Francisco.
rafas em Curitiba, ganhou vários prêmios nacio-      agronomia e zootécnica de várias universidades                                      Como os silos, um dos exemplos de
nais de produtividade agrícola. Tudo isso usan-      brasileiras. E Francisco atendida a todos, expli-                                   suas ações inovadoras na época, e
do como laboratório a Chácara Schaffer.              cando pacientemente como manejar o rebanho,                                         que hoje ficam como um testemu-
    Antes de optar pela produção leiteira, Fran-     evitar e combater doenças, a alimentação ade-       A Chácara foi pioneira no uso   nho de sua importância na área a
cisco experimentou o plantio de videiras para a      quada etc.                                          de máquinas na lavoura.         que dedicou toda sua vida. (DSF)
produção de vinho, mas desistiu por não con-            Para divulgar a qualidade de seus produtos,
seguir produzir um vinho de boa qualidade. Já        Francisco abriu, em 1918, na Rua XV de Novem-
em relação â produção de mel e cereais, o su-        bro, a Leiteria Schaffer, que logo se tornou um
cesso pode ser medido pelas medalhas de ouro         ponto tradicional da cidade. Alguns anos depois,
que ele conquistou nos concursos agrícolas que       vendeu-a para a família Esser, que manteve o
participou.                                          nome, depois alterado para Confeitaria Schaffer
    Mas, o seu principal sonho era dedicar-se a      e que continuaria funcionando até os anos 90.
produção leiteira. E para isso mergulhou nos            Durante décadas, Francisco lutou para criar
estudos a partir de livros importados da Austria     a primeira cooperativa de laticínios de Curitiba.
e Alemanha. Depois viajou à Argentina para co-       Foi uma luta inglória. Ele não pöde ver o seu so-
nhecer o gado local, que considerou melhor para      nho de estabelecer um padrão de qualidade para
a produção de carne do que de leite. Foi então       todo o leite comercializado na cidade. Somente
à Europa, em 1912, onde conheceu a raça da re-       em 1959, os produtores de leite da cidade, prin-
gião Frísia Oriental, na Alemanha, semelhante à      cipalmente dos bairros Boqueirão e Xaxim, cria-
Holandesa, só que mais rústica e mais facilmente     riam a Cooperativa de Laticínos Curitiba (Clac),
aclimatada a Curitiba.                               nos mesmos moldes daquela que Francisco
    Trouxe então as primeiras matrizes. Em pou-      Schaffer havia defendido quase trinta anos antes.
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  • 1. Marco André Lima PREFEITURA ENTRA NA BRIGA PARA RESGATAR O GOLFINHO O sonho de resgatar o que sobrou do histórico Clube do Golfinho para atender à comunidade do Pilarzinho e região está próximo de ser concretizado. O imóvel foi arrematado por uma imobiliária, mas o Município anunciou que pretende desapropriá-lo para construir no local um centro de atendimento à população. :: Página 16 Do Quintal R$ 1,50 Curitiba, julho de 2011 - Ano I - Número 5 Um jornal a serviço dos moradores da região do Pilarzinho, Mercês, Vista Alegre, Abranches, São Lourenço e Bom Retiro. DSF » Do Quintal registra Cruz do Pilarzinho O Jornal Do Quintal deu entrada junto à Prefeitura ao processo de registro da Cruz do Pilarzinho como um monumento oficial da cidade. Esse é o primeiro passo para o seu reconhecimento como um patrimônio histórico. :: Pág. 6 Desrespeito aos rios » Assaltantes apavoram comerciantes :: Pág. 7 Um dos pontos mais polêmicos do novo Código tinuam funcionando em terrenos que a Lei aponta Florestal, em debate no Senado, é a anistia ao des- como áreas de preservação permanentes. E, ape- » São Marcos matamento que pode fazer com que pelo menos sar da determinação do Código de 1989, empresas une ecologia 29 milhões de hectares de mata nativa deixem de como a Da Ilha Comércio de Álcool, instalada na e fraternidade ser recuperados. Enquanto isso, em Curitiba, várias Rodovia dos Minérios (foto), continua construin- :: Pág. 3 empresas que se instalaram na beira dos rios con- do à beira do rio. :: Páginas 4 e 5 NO PASSADO, UMA Até os anos 1950, onde é hoje o Jardim Schaffer e parte do Bom Retiro, uma Chácara atraia visitantes de todo o País, por sua organização e tecnologia na criação de gado leiteiro. CHÁCARA DO FUTURO A Chácara Schaffer foi durante décadas o “laboratório” de Francisco, um inovador que sempre esteve à frente de seu tempo. :: Págs. 8 e 9. Reproduções: álbum da família João de Noronha Francisco, nos anos 40, com bezerros gêmeos. À esquerda, a última casa em que morou, entre as ruas Santa Cecília e Hugo Simas. À direita, como ela está hoje.
  • 2. Curitiba, julho de 2011 »2 Do Quintal CARTA AO LEITOR Desde a primeira edição do jornal Do Uma festa a ser resgatada Quintal temos procurado materializar discussões e desejos locais, ou Celebração de Nossa Senhora do Pilar seja, registrar fatos que correm nos bastidores do bairro, nas suas ruas e já foi uma das principais datas da região que nem sempre encontram o devido O espaço em jornais de abrangência Procissão dia de Nossa Senhora do nos anos 50: maior. Pilar, 15 de agosto, era Após a Por conta disso, o exercício da escrita e antigamente um dia es- celebração da narrativa desses fatos inerentes pecial no Pilarzinho, um religiosa, começava à prática jornalismo, desdobrou-se feriado em que as famílias da região e a festança. em ações inerentes à condição de de várias partes da cidade se reuniam moradores e cidadãos. Foi assim ao redor da capela em homenagem à com a participação na Rede de Santa, na Rua São Salvador, e durante Desenvolvimento Local, organizada pelo todo o dia participavam das celebra- Sistema FIEP-Sesi, quando o Do Quintal ções e festejos. participou ativamente das discussões Moradores antigos lembram que as em torno das necessidades da região; famílias se preparavam com antecedên- com a campanha pela recuperação cia e, no dia 15, desde cedo, se dirigiam do Clube Golfinho, cuja história faz Reprodução Álbum de família. á Capela, que então tinha uma ampla parte da memória local e com a Cruz área ao redor, que incluía a atual Praça do Pilarzinho, monumento histórico Angelina Basso, para abrigar os festejos. sob salvaguarda dos moradores que, E após à missa e procissáo, era um dia hoje, tentamos oficializar como um inteiro de churrasco, jogos, como os patrimônio junto à prefeitura municipal. da argola, tiro ao alvo, toca do coelho, Nesta edição, o Do Quintal fala sobre leilões de leitões, de costelas de bois, de um tema difícil de abordar, dada sua prendas oferecidas pelos moradores da importância e os desafios que acarreta: região. Havia ainda o serviço de alto- a preservação de nossos recursos -falante, pelo qual os jovens enamora- Programação naturais. Estamos em tempos de dos ofereciam mensagens e músicas às discussão do novo Código Florestal (aos) pretendentes. DIA 6 - Início das Novenas da Festa, na Capela Nossa Senhora do brasileiro e ao longo da matéria Com o tempo e a urbanização da re- Pilar, às 19h com Terço e Missa. Logo após, jantar dançante no salão percebemos que a maior esquizofrenia gião, a participação popular diminuiu. da Igreja São Marcos, convites à venda no valor de R$15,00 em se falar em Meio Ambiente é que A festa foi transferida para o salão da ainda nos colocamos fora dele. O código Igreja São Marcos. Segundo o Pároco Dias 7, 8, 9 e 10 - Novenas as 19h na Capela do Pilar com Terço fala da extinção de nossas florestas e Missa local, padre Carlos Marson, a intenção e, consequentemente, aborda nossas é reavivar a participação popular nesta Dia 11 - Procissão luminosa, às 19h saindo da Capela até a Matriz águas e nossa fauna, ou seja, a nós festa em celebração à Nossa Senhora do São Marcos. Logo após Noite do Pastel, Mini Pizza e cachorro quente. mesmos, como animais que somos. Pilar. Por isso, ele chama todos os mo- radores a participar. Agora, em vez de Dia 12 - Novena de Nossa Senhora do Pilar na Matriz São Marcos, O jornal Do Quintal abrange uma das às 19h. Logo após Noite do Pastel, Mini- Pizza e Cachorro quente. regiões mais altas da cidade, conhecida um dia, a festividade começa no dia 6 e pela sua área verde, com rios, matas e prossegue até o dia 14, um domingo. Os Dia 13 - Novena de Nossa Senhora do Pilar na Matriz São Marcos, inúmeros quintais que terminam em recursos arrecadados serão utilizados às 19h. Logo após Noite do Pastel, Mini - Pizza e Cachorro quente. fundos de vale. A pergunta que nos nas obras sociais da Igreja. Então, além fizermos é como o código atual tem sido da confraternização entre a comunida- Dia 14 - 8h - Solene Santa Missa seguida da Procissão 10h - Solene Santa Missa da Crisma, presidida pelo arcebispo aplicado e qual o nosso papel, individual, de e a celebração de Nossa Senhora, os D. Moacyr José Vitti diante da questão. participantes estarão contribuindo na 12h - Tradicional Almoço, com churrasco, risoto, maionese e saladas. ajuda aos mais ncessitados. (DSF) 14h - Show de Prêmios, no salão paroquial. Existe um provérbio chinês que diz que se todos varressem suas calçadas, no final do dia, toda a rua estaria varrida. De nada vale um novo código federal se o atual ainda não foi devidamente aplicado. Talvez, mais que um novo O Código Florestal e o Pilarzinho código de leis para o Meio Ambiente, precisemos de um novo código de Rafael Milani Medeiros râmetro? Cabe pontuar aqui que o Brasil, para ser a conduta, implementado através de um quinta economia do mundo em 2016 não precisou al- sistema educacional verdadeiro, capaz Muitas pessoas que vierem a ler este texto nunca terar o Código, logo preservação não é contrária a de- de revelar que se preservarmos o quintal ouviam falar do Código Florestal antes do recente pro- senvolvimento. Este país abençoado por Deus tem re- de nossa casa, estaremos contribuindo jeto de lei que está em análise no Congresso Nacional. cursos para, além de produzir tudo o que produz hoje, para a qualidade de vida no mundo. É difícil discutir o Código Florestal, discutir como pre- desenvolver biotecnologias. Se este setor da economia servar o meio ambiente natural em tempos de busca depende de tecnologias oriundas de vida e se há mais por sustentabilidade, não é fácil. Encontrar uma fór- vida dentro de um país, sou um país mais competitivo. mula social que atenda a aspectos econômicos, sociais Faremos mais dinheiro com as florestas em pé do que e ambientais, para as presentes e futuras gerações, é sem elas. coisa de gente grande. Uma lei é uma espécie de fór- Bom, você deve estar se perguntando como isso se EXPEDIENTE Do Quintal mula social, onde parâmetros comuns do que é certo e errado são estabelecidos. Dizem que as elites, em espe- aplica no Pilarzinho e bairros do norte de Curitiba? É só pensar na quantidade de córregos, nascentes e coli- cial as econômicas, ditam as regras. É meia verdade. O nas que temos para este lado. Mesmo essa paisagem já Propriedade da Editora ETC e Tãao – CNPJ: 12.339.920/0001-18 Código Florestal, por exemplo, foi literalmente ditado bastante modificada do seu natural, teve alguma coisa Jornalista Responsável: Ângela Ribeiro DRT 1574 em 1965. Um ano após o golpe militar. Era uma elite preservada pelo Código Florestal. Aqui, nos fundos do da força. Digamos que potencialmente as elites intelec- meu quintal tenho uma legítima Área de Preservação Diretor de Redação: Douglas de Souza Fernandes tuais do país participaram pouco da elaboração deste Permanente resguardada pela força da lei e boa vonta- Projeto gráfico e diagramação: Eduardo Picanço Aguida texto inicial e que a ferro e fogo o país manteve 20% da de de seu proprietário (eu). Eu acho isto ótimo, pois e Paulo Augusto Krüger de Almeida. mata de araucárias, 80% da Amazônia, 30% do cerrado, vejo que essa paisagem verde do Pilar, além de absur- Endereço: Rua Professor Ignácio Alves de Souza Filho, 343, alguma coisa da caatinga e 30 metros em cada margem, damente agradável, é difícil de ser vista em meio urba- Pilarzinho, CEP 82110-450. de cada rio brasileiro. no. Percebam que nossos deputados estão agora dis- Telefones: 3527-0501 e 9892-4606. Bom seria se uma lei fosse o suficiente para preser- cutindo e votando uma lei que se aplica a toda exten- E-mails: jornalismo@doquintal.com.br, contato@doquintal.com.br, var. De lá para cá, o que sobrou dos biomas acima é são deste país imenso, a todo patrimônio natural que comercial@doquintal.com.br. bem menos do que pede a lei e bem mais do que os preservamos e ainda somos obrigados a ver manchetes Impressão: Editora O Estado do Paraná EUA, Europa e Ásia preservaram de sua natureza. Mas (de primeira página) de casamentos do outro lado do Tiragem: 10.000 exemplares quem disse que precisamos ter estes países como pa- mundo.
  • 3. Curitiba, julho de 2011 Do Quintal »3 Uma ação ecológica e fraterna Paróquia São Marcos cria campanha que une ajuda aos necessitados e ao meio ambiente É possível com uma ação da campanha), o participante esta- que tem a parceria da Associação levá=lo a um posto próximo de re- simples contribuir com rá dando uma destinação adequada dos Servos dos Pobres, da Associa- colhimento. Se não houver, entre a preservação ambien- ao óleo de cozinha, pois se jogado ção Social São Marcos e do Bocado em contato com o Disk –coleta, tal, resolver um proble- no ralo ou na terra, esse produto do Pobre, será usado para as obras pelo número 3338-4450, que uma ma doméstico e ao mesmo tempo irá comprometer os lençóis freáti- sociais da Paróquia, como a manu- equipe irá ao local para recolher as ajudar pessoas carentes ¿ O pároco cos, e, consequentemente os rios tenção da Creche Vovó Alfonsa, garrafas. Empresários que também da Paróquia São Marcos, no Pilar- e a água que consumimos (O óleo auxílio às comunidades carentes, quiserem manter um ponto de co- zinho, padre Carlos Donizete Mar- na água, cria uma película parecida construção do centro catequético leta em seu estabelecimento tam- son está provando que sim. Ele é o com nata, que impede a oxigeniza- paroquial e formação dos semina- bém entre em contato por esse nú- autor e idealizador do projeto Eco- ção dela). E, ao mesmo tempo, es- ristas. mero. Outras informações no site -Solidariedade, que está recolhen- tará contribuindo com a assistência Para participar, basta recolher do projeto: WWW.ecosolidariedade. do o óleo de fritura usado em resi- aos mais carentes. o óleo utilizado em garrafas pets e org.br. (DSF) dências, bares e restaurantes, para encaminhar a indústrias que produ- » Campanha zem o biodísel, um combustível re- O projeto implantado tem como novável e biodegradável. Os recur- base o lema da Campanha da Fra- sos arrecadados serão utilizados nas ternidade deste ano, “Fraternidade obras sociais da paróquia. e a vida no Planeta”, mas a inten- Ou seja, ao juntar o óleo utiliza- ção é manter a ação pelos próximos Padre Carlos: três ações do e levar nos postos de coleta (os anos. em uma. locais são sinalizados com banners O valor arrecadado no projeto, O trabalho social depende de ajuda João de Noronha São várias ações sociais que a Paróquia São Marcos construir a Creche. Em 19 de março de 1985, aconte- desenvolve para atender aos mais necessitados. Uma ceu a primeira reunião para abertura da creche, da qual delas é a obra Bocado do Pobre, pela qual cerca de 70 participaram os voluntários da região. famílias recebem uma cesta básica todo mês. Ação tem Faltam recursos parceria com o Cras (Centro de Referência da Assis- No início, a assistência das crianças era feita somen- tência Social) . Com a parceria, junto com os alimen- te com recursos da comunidade. Com o tempo, foi feita tos recolhidos junto à própria comunidade, é possível parceria com o FAS e posteriormente com a Secreta- fornecer ás famílias carentes, cobertores, agasalhos, en- ria de Educação de Curitiba. Hoje, para manter as 106 caminhamento a empregos e outras formas de assistên- crianças na creche, a instituição recebe uma ajuda per- cia. Pela proximidade, a ação acaba atendendo famílias -capita de R$ 235,00, para todos os gastos. Cada família também do Bracatinga, Vila Nori e até de Almirante com criança atendida paga uma taxa de R$ 100 reais. Tamandaré. Mesmo assim, os voluntários que doam seu tempo para Alem disso, há o Clube das Mães Ana Mongolin, ajudar, têm que fazer malabarismos para poder manter Creche Vovó Alfonsa: carinho e atenção que atende a mães carentes, principalmente idosas. Há a estrutura funcionando e as contas em dia. não faltam às crianças, faltam recursos. também o Centro-Dia de atendimentos de Idosos das Bernardo Polak, empresário que doa parte de seu Irmãs de Nossa Senhora de Nagasaki, o trabalho con- tempo trabalhando como presidente da Creche, diz junto com as pastorais da Criança e dos Idosos, Cen- que são 15 funcionárias contratadas para atender às tro de Educação Infantil Padre Thomaz e Creche Vovó crianças, e que a diretoria da creche tem dificuldades Alfonsa. todo o ano para conseguir pagar corretamente os salá- Algumas ações desenvolvidas pela igreja só é possí- rios e encargos trabalhistas das funcionárias. vel devido a ajuda de voluntários e de parcerias com o Há cerca de duas décadas atuando como voluntário poder público. O caso da Creche Vovó Alfonsa, na Rua para ajudar a manter a creche, ele defende que a Prefei- Roberto Gava, 414, é exemplar. Tudo começou nos ini- tura deveria investir mais nas creches que já estão fun- cío dos anos 80, quando o pároco da São Marcos era o cionando – como no caso da Vovó Alfonsa que já tem padre Giovanne ou João, como ficou conhecido. Preo- 26 anos de serviços prestados à comunidade-, em vez cupado com a necessidade de atender às crianças ca- de priorizar somente a criação de novas unidades. Isso rentes da região, pensou em criar uma creche. Para isso, daria um maior ânimo a quem já está fazendo o seu tra- usou os recursos herdados da mãe, Dona Alfonsa, para balho em prol das crianças. (DSF)
  • 4. Curitiba, julho de 2011 »4 Do Quintal Lei do bom senso substitui Código Florestal em Curitiba Douglas Fernandes Indústrias drográficas de Curitiba? Expulsare- mos todos os moradores que estão As áreas de funcionam morando em fundos de vales e nos preservação entornos de rios e recuperaremos os em áreas de leitos? Isso é inviável. A questão não permanente preservação é puramente ambiental, ela é sócio- protegem -ambiental” – alerta. as margens permanente » MP tem poucos dos rios e em Curitiba técnicos ambientais encostas A maior dificuldade da 1ª Pro- As instalações da AmBev motoria de Justiça de Proteção Am- dos morros Curitiba estão biental, de acordo com o promotor, Ângela Ribeiro A às margens é a quantidade de profissionais dis- do Barigui. lém de avançar nas polí- ticas de preservação do poníveis no Ministério Público do Como é: Paraná. “O Ministério conta com Meio Ambiente, o desa- licenças legais e tem, inclusive, um irregularidade nas instalações e su- três a quatro técnicos para atender Margem dos rios: fio do novo Código Flo- programa de educação ambiental geriu a necessidade de “bom senso” aos 399 municípios do estado e uma Proíbem a extração de restal será garantir a efetiva punição no qual atua em parceria com a Se- no que se refere à aplicação do códi- autuação ambiental exige parecer vegetação- nativa ou aos crimes ambientais. Em Curitiba, cretaria de Educação do município go quanto aos limites da mata ciliar: técnico assinado por um engenhei- não- em redor de qual- várias indústrias funcionam em áre- de Almirante Tamandaré. “Tecnicamente as APPs podem va- ro. Segundo Peters, quando uma quer curso d’água, den- as definidas pelo Código como áreas De acordo com o Instituto Am- riar a partir de alguns fatores como empresa é autuada, ela tem um tem- tro de uma área mínima de preservação permanente, ou seja, biental do Paraná – IAP, essas in- o tipo de solo, de vegetação. No caso po para se readequar à lei ambiental de proteção que varia na beira das principais bacias hidro- dústrias foram instaladas ao longo de um solo arenoso precisa de uma e o Ministério Público tenta resolver de acordo com a largura gráficas do município, como os rios dos rios de Curitiba antes de 1989, área superior a 30 metros, num solo o problema através de uma negocia- dos rios. Naqueles com Barigui e Belém. A preservação de quando o quando a área de preser- argiloso não precisa tanto”. Isso, por- ção, caso contrário, o caso é ajuizado menos de 10 metros de 30 metros de área na beira dos rios, vação era de cinco metros, como que, segundo Bueno, os 30 metros e vai parar no Tribunal: “Um caso largura, a área de pro- por exemplo, já prevista no antigo definia o Código de 1965 para rios de preservação permanentes deter- pode levar de quatro a cinco anos teção é de 30 metros, código, continua sem efetiva aplica- com menos de 10 metros de largu- minados pela lei são para evitar que para ter uma resolução e o meio e nos rios com mais de ção graças ao entendimento legal de ra. Vinte e dois anos depois da revi- aconteça um processo de erosão na ambiente não espera” – explica. Por 600 metros de largura, que tais empresas foram instaladas são da lei em 1989, essas indústrias área do rio. Quando questionado, isso é que o promotor defende a a área de preservação é antes do Código de 1989 que alte- continuam instaladas nos mesmos no entanto, por que uma parte da ideia de que o Código Florestal deve de 500 metros. rou a então área de proteção perma- locais, atuando sob licença do IAP empresa Da Ilha já está praticamen- ser tratado de forma diferenciada na nente de cinco para 30 metros. que atua em parceria com a Secre- te dentro do rio Barigui, ele afirmou zona urbana. Como fica: Quem caminha pela Rodovia taria Municipal do Meio Ambiente que era exatamente devido ao alar- A exemplo do IAP do procedi- dos Minérios, por exemplo, nos li- (SMMA). Isso, graças a um entendi- gamento das margens do rio. Fina- mento do IAP, a diretora afirmou O novo código man- mites entre Curitiba e Almirante mento legal que garante a essas em- lizou explicando que o critério tem que a política tem sido a do “bom tém os 30 metros, mas Tamandaré, depara-se diariamen- presas o direito a permanecerem no sido a autuação e transferência de senso”, punindo ou exigindo a mu- os proprietários que te com um dos retratos do descaso local, desde que não representem empresas que efetivamente apre- dança apenas de indústrias que re- não tiverem a área mí- com a qual uma das principais ba- um risco ao rio. sentam uma ameaça de poluição às presentem um potencial risco de nima de preservação cias hidrográficas de Curitiba é tra- águas. poluição dos rios. “Nós não vamos terão de recompor a tada. Ali, uma fábrica da AmBev e a » Política do bom senso pedir que essas indústrias saiam mata ciliar em até 15 empresa Da Ilha Comércio de Álco- Segundo Reginato Bueno, chefe » Salto alto porque foram instaladas antes da metros, além de legali- ol Ltda, funcionam às margens do regional do IAP, as empresas tive- Edson Luiz Peters, promotor de lei e porque o novo código também zar suas propriedades rio Barigui, onde não existe nenhum ram, inclusive, seu licenciamento re- Justiça de Proteção Ambiental do está prevendo uma redução dessa em órgãos ambientais resquício de mata ciliar preservada. novado recentemente, uma vez que Ministério Público de Curitiba, ex- área para 15 metros, dependendo de suas regiões, ou seja As instalações das empresas são tão a auditoria realizada no local revelou plicou que Curitiba não está fora do da largura do rio”. na prefeituras de todo próximas ao rio que parte do muro que as empresas fazem o tratamen- triste contexto ambiental que marca Uma das imposições do novo o país. da empresa de álcool está desaban- to das afluentes e a devida limpeza as grandes cidades brasileiras, ape- Código aprovado pela Câmara Le- do dentro das águas. da água para o descarte. Embora sar de muitas autoridades do poder gislativa e sob análise no Senado, Procuradas para falar sobre o as- admita que tanto a distribuidora público permanecerem no que cha- no entanto, é a não flexibilização Encostas sunto, a empresa Da Ilha Comércio Ambev, quanto a empresa Da Ilha mou de “salto alto” e com a imagem das áreas de preservação das ma- de álcool preferiu não se pronunciar Comércio de Álcool Ltda estejam de uma cidade ecológica que ficou tas ciliares, o que significa a manu- e assessoria da AmBev informou instaladas em área de preservação no passado. Para ele, o rio Barigui, tenção dos 30 metros para rios até Como é: que está funcionando com todas as permanente, o IAP não constatou por exemplo, é mais um retrato da 10 metros de largura. E, ao contrá- Estabelece como precariedade do sistema de sanea- rio da afirmação da assessoria do áreas de proteção os mento básico no país. “O Barigui é IAP de que o órgão segue orien- topos de montanhas, um rio sacrificado porque tem inú- tação técnica do Sistema Nacional morros e serras,e áreas meras indústrias instaladas às suas do Meio Ambiente que atribui ao com altitude superior margens, sem contar os trechos que município anuência na legislação 1.800 metros de altura. já estão poluídos por invasões e mo- no que tange o licenciamento de Também proíbe a der- radias em situação de risco”. indústrias, o Código Florestal, em rubada de florestas em O promotor também defendeu o seu Artigo 1º, determina que as áreas de inclinação en- “bom senso” como principal critério Áreas de Preservação Permanen- tre 25 e 45 graus. para a aplicação do Código ambien- tes devem seguir os limites previs- tal no meio urbano. Para a autuação tos no Plano Diretor do município, de indústrias instaladas nas beiras respeitados os limites dessa lei. Isso Como fica: de rios, como no caso do Barigui na quer dizer que os 30 metros de ter- Permite o cultivo Rodovia dos Minérios, é necessária reno previstos como área de pre- de algumas culturas e a realização de uma perícia técni- servação permanente desde 1989 o pastoreio ( pecuária) ca no local para a constatação legal vale, inclusive, na zona urbana. Isso no topo dos morros ele- do crime: “O que faremos, punire- torna qualquer construção à mar- vados (1.800 metros) mos todas as indústrias que estão gem de um rio urbano um crime instaladas às margens das bacias hi- ambiental.
  • 5. Curitiba, julho de 2011 »5 Do Quintal Crimes ambientais Empresas ameaçam rios no Pilarzinho DSF Moradores do Pilarzinho têm Ângela Ribeiro procurado os órgãos ambientais P para denunciar o funcionamento ara o advogado ambientalista e de duas empresas que estariam po- ex-secretário do Meio Ambien- luindo um córrego da região. Essas te do Paraná, Vitório Sorotiuk, empresas têm sido alvo de denún- no entanto, se existe o entendi- cias desde 2008 junto à Prefeitu- mento legal de que as empresas construí- ra Municipal, à Sanepar e ao IAP. das antes da lei de 1989 não precisam sair Segundo informações da Regional das margens dos rios, o que os órgãos não Boa Vista da Secretaria do Meio podem permitir é que continuem cons- Ambiente, as empresas já foram truindo nessas áreas de preservação per- autuadas pela SMMA por funcio- manente: “Como é que eles permitem que narem sem licenciamento ambien- a indústria de álcool, por exemplo, imper- tal. Essa autuação aconteceu em meabilize mais uma parte do terreno para a agosto de 2010 e tanto o lava-car, construção de uma nova dependência? Isso quanto a oficina mecânica que é proibido, trata-se de um crime ambiental”. funcionam à Rua Jornalista Alípio Sorotiuk denunciou a impermeabilização As instalações da indústria de álcool estão praticamente dentro das águas do Barigui. Miranda, numa área de manancial, de uma área do outro lado do rio Barigui, próximo a uma nascente do Rio para utilizar como estacionamento. Barigui, continuam funcionando Vitório Sorotiuk foi advogado da ação sem sequer terem o alvará da Pre- cível pública impetrada pela Associação feitura. “Elas estão funcionando de Defesa do Meio Ambiente de Araucá- sem o alvará porque não têm o li- ria- AMAR, contra o Supermercado Cole- cenciamento específico para em- tão. A AMAR acusava o supermercado de presas dessa natureza que ofere- desmatar a mata ciliar nas margens do Rio cem riscos para o meio ambiente, Belém, no bairro do São Lourenço, para uma vez que lidam com produtos construir um estacionamento, onde hoje químicos” - informou um funcio- funciona o Mercadorama. A Justiça deu ga- nário da Regional do Boa Vista nho de causa à Associação, determinando que não quis se identificar. que a empresa recomponha 15 metros de Embora a Secretaria afirme que mata ciliar, indenize o município, em valor não contém provas de que as em- de mercado, o metro quadrado que ocupa presas estejam poluindo o rio que da área permanente. A questão é que a ação fica a menos de 30 metros de dis- foi impetrada em 1997, ou seja, são qua- tância, moradores da região têm torze anos de espera para que a população Latas de tintas e óleo poluem as águas de uma nascente do rio Barigui, no Pilarzinho. procurado o órgão para denunciar seja ressarcida por esse crime ambiental. É o problema. Somente no 156 da que a área ainda está em situação de perícia com autorização do IAP e da SMMA na » Código só passou a valer Prefeitura Municipal foram aber- para levantamento dos valores da indeni- Rodovia dos Minérios. A Tuiuti teria ha- em 2000 em Curitiba tos quatro protocolos de denún- zação. Procurada para falar sobre o caso, a bite-se da prefeitura desde 1978, quando O Código Florestal de 1989, em seu Ar- cias sem que o caso tenha uma so- assessoria do Wall Mart, atual proprietária o código previa uma Área de Preservação tigo 1º, determina que as Áreas de Preser- lução final. (AR) do Mercadorama, não quis se pronunciar, afirmando apenas que o prédio, com a área Permanente de cinco metros. “A univer- vação Permanentes devem seguir os limites do estacionamento é alugado. sidade chegou a oferecer a transferência previstos no Plano Diretor do município, do local para a Prefeitura, caso ela apre- respeitados os limites dessa lei. E uma das » Curitiba sem política de ação sentasse algum projeto, o problema é que não existe uma política de ação ambiental imposições do novo Código aprovado pela Câmara Legislativa e sob análise no Senado Assine o Vitório Sorotiuk também é advogado, quanto às Áreas de Preservação Perma- é a não flexibilização das áreas de preserva- dessa vez de defesa, da Universidade Tuiu- nente em Curitiba. Não existe nenhum critério de ação para o caso dos crimes co- ção das matas ciliares, inclusive para o meio urbano. Do Quintal ti do Paraná que está respondendo a uma metidos antes da Lei de 1989”. Erica Nielke, diretora de pesquisa e mo- ação civil pública impetrada pelo Minis- Sorotiuk lembra que a cidade só co- nitoramento da Secretaria Municipal do Você que já rece- tério Público do Paraná no ano de 2010. A Promotoria de Proteção ao Meio Am- meçou a atentar aos crimes dessa nature- Meio Ambiente explicou que somente a beu gratuitamente o za depois de 2000 devido ao número de partir de 2000 é que esses limites impostos biente alega que o estacionamento da ins- processos impetrados por crimes contra pelo Código começaram a ser obedecidos Do Quintal em sua tituição de ensino foi construído em uma área de preservação permanente, ou seja, o Meio Ambiente na cidade. “O próprio no Paraná: “Até então, não havia uma políti- casa e quer garantir prédio do Instituto Ambiental do Paraná ca de preservação de áreas permanentes em muito próximo ao Rio Barigui. Segundo fica em cima de uma Área de Preservação Curitiba, razão pela qual muitas indústrias o seu recebimento o MP-PR, o estacionamento, no campus do bairro Mossunguê, em Curitiba, teria Permanente, além da sede da Associação estão instaladas nas margens das bacias hi- mensal, envie –e- do Ministério Público. O município pode drográficas”. Frente ao impasse, a diretora sido construído sem o licenciamento da determinar uma política de ação contra também apontou o “bom senso” como o -mail para contato@ Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA). esses casos de infração anterior à lei, mas principal critério de ação da Prefeitura de doquintal.com.br, isso não existe em Curitiba” – finalizou. Curitiba. Na ação, o MP-PR pede que a Justi- fazendo sua solicita- ça conceda uma liminar proibindo que a universidade faça qualquer construção ção. Por apenas no local e, ainda, e as que já foram feitas R$ 10,00, você o re- sejam demolidas. E, segundo informa- ções da Promotoria de Proteção ao Meio ceberá em casa por Ambiente, a Universidade Tuiuti estaria 6 meses. Entre em respondendo ainda a uma outra ação do Ministério Público pela construção tam- contato conosco, bém irregular de seus prédios no bairro do e garanta a leitura Mossunguê. Ambos os casos ainda estão em trâmite, em primeira instância. mensal do Do Quin- João de Noronha Vitório Sorotiuk afirmou que o Minis- tal, o jornal que veste tério usa de rigor em alguns casos e em outros não. Segundo ele, a situação da ins- a camisa do seu tituição de ensino denunciada pelo Minis- bairro. tério é a mesma da empresa AmBev e da A Universidade Tuiuti é uma das empresas acionadas Cristal empresa de Álcool que funcionam pelo MP por construir em área de preservação.
  • 6. Curitiba, julho de 2011 »6 Do Quintal UMA RUA, UMA HISTÓRIA Do Quintal abre processo Nosso maior jurista para tornar Cruz do Pilarzinho Hugo Simas (foto), que nomeia a rua que começa na confluência patrimônio histórico de Curitiba com a Albino Silva, no Bom Retiro, e desemboca no início das ruas Ra- poso Tavares e Amauri Lange Silvé- João de Noronha rio, no Pilarzinho, é considerado o Apesar de sua importância maior jurista paranaense. Mas foi histórica, ela ainda não é bem mais que isso. Segundo a Fun- dação que leva seu nome, criada em cadastrada na Prefeitura 1993 em parceria com a UFPR, “o Dr. Hugo Simas foi um cidadão bri- lhante em todas as atividades que desenvolveu, como farmacêuti- Angela Ribeiro co, advogado, promotor de justiça, deputado estadual, redator de O jornais, bibliotecário, procurador geral do Estado do Paraná, autor Jornal Do Quintal deu entrada, no dia de obras jurídicas e professor”. cinco de julho, junto à Prefeitura Muni- Hugo Gutierrez Simas nasceu em Paranaguá, em 23 de outu- cipal de Curitiba, ao processo de registro bro de 1863. Filho de farmacêutico, seu primeiro curso superior da Cruz do Pilarzinho como um monu- foi Farmácia, feito no Rio de Janeiro. Após ajudar o pai por 5 anos mento histórico oficial da cidade. Com data de cons- em seu negócio, formou-se em direito no Rio de Janeiro. Advoga- trução estimada na segunda metade do século XIX, o do brilhante na área de Direito Marítimo, voltou ao Paraná, onde cruzeiro ainda não conta com um registro e permanece foi promotor de Antonina e posteriormente Procurador-Geral do sob a salvaguarda exclusiva dos moradores da região. Estado e desembargador do então Superior Tribunal de Justiça. Isso quer dizer que, apesar de sua importância como Entre outras funções, foi professor de Lógica, no Ginásio Parana- Na última edição, o Do Quintal contou a história referencial histórico, a Cruz não existe sequer no mapa ense, e de Portuguës e Pedagogia, na Escola Normal de Curitiba. da “Cruz quase invisível”. de monumentos a serem preservados pelo poder mu- Ao mesmo tempo passou a militar na imprensa diária, chegando à nicipal e até mesmo sua limpeza acontece em caráter sa Senhora do Pilar, cuja placa marca o ano de 1782. A direção do “Diário da Tarde” e do “Correio do Paraná”. oficioso. Fundação Cultural chama atenção para o fato de que o Foi um dos fundadores da Universidade Federal do Paraná A questão é que a Cruz foi levantada pela população processo migratório de polacos na região teve início a (1912), onde lecionou Economia Política e depois Direito Consti- no meio de duas ruas que se tornariam duas avenidas partir de 1800. tucional, emprestando também sua colaboração como bibliotecá- centrais do bairro do Pilarzinho, a Raposo Tavares e Na última edição, o jornal Do Quintal contou a his- rio da nova instituição. Hugo Simas. Com o crescimento da região, a cruz teve tória da Cruz do Pilarzinho a partir do depoimento de Deixou várias obras jurídicas que o consagraram nacionalmen- de ser afastada e fixada numa calçada onde hoje funcio- alguns dos moradores antigos do bairro, responsáveis te entre eles, o “Compëndio de Direito Marítimo” (1938), o “Có- na um centro comercial que, com suas fachadas, prati- pela manutenção e preservação do cruzeiro, como o se- digo Brasileiro do Ar” (1939), e os seu “Processos Acessórios”. camente, tornou invisível o monumento. nhor Edwino José Polak, morto em maio último. Um mês antes de morrer, em dezembro de 1941, Hugo Simas fez Segundo funcionários da Secretaria Municipal do Diante de sua invisibilidade e dos riscos de futuras entrega ao governo do seu anteprojeto do Código de Transportes, Meio Ambiente, órgão responsável pela manutenção intervenções no monumento que, ao longo dos anos, missão que lhe fora confiada pelo ministro Francisco Campos. de parque, pr aças e monumentos, o serviço de manu- já sofreu inúmeras alterações, o Do Quintal resolveu Mas, também enveredou por outras áreas do mundo literário, dei- tenção vem sendo feita como uma iniciativa do órgão entrar com solicitação para que a Prefeitura oficialize xando grande quantidade de conferências e obras variadas, como que não conta com nenhum registro que, ao menos, dê o lote onde está a Cruz do Pilarzinho, denominando o “Agricultura na escola primária” e “O Romance de Amor do Poeta”. conta de sua existência. Mesmo depois de um levanta- monumento. Esse é o primeiro passo para o seu reco- Em 1946, foi homenageado pelos estudantes de direito da UFPR mento histórico realizado pela Fundação Cultural de nhecimento como um patrimônio histórico. Caso a po- que deram o seu nome ao Diretório Acadëmico. Curitiba que levantou a possibilidade da Cruz do Pilar- pulação queira acompanhar ou mesmo cobrar o anda- Em agosto de 1948, projeto de lei de autoria do vereador An- zinho ser um monumento construído antes mesmo do mento do processo, basta ligar para a Prefeitura Muni- tenor dos Santos, autorizou o Executivo a dar o nome de Desem- processo de colonização da região. É que ela pode ter cipal, através do número 3350-8749 e solicitar informa- bargador Hugo Simas à via até então denominada Avenida Pilar- sido levantada no período de construção da Igreja Nos- ções sobre a petição sob o protocolo 50-000101/2011. zinho. (DSF) SE VOCÊ BUSCA REFERÊNCIA, Diferenciais do EAD Claretiano: CHEGOU AO LUGAR CERTO. 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  • 7. Curitiba, julho de 2011 Do Quintal »7 Sensação de medo e Assaltantes apavoram impotência Um levantamento feito pela comerciantes do Pilarzinho N Secretaria de Segurança do Es- Douglas Fernandes DSF tado revela que no período de Celso: Mais violência que ão é preciso ler jor- janeiro a junho de 2011, houve em Almirante Tamandaré. nal, ouvir rádio, ver um aumento no número de as- internet ou TV para saltos à mão armada, durante o lado dessa região, mas de todos saber que o Pilarzinho dia, nos bairros do Pilarzinho, os bairros de Curitiba: “A PM se tornou um dos alvos preferidos Abranches, Ahú, Vista Alegre não consegue ser onipresente dos assaltantes, nos últimos tem- e Mercês. Segundo o delegado porque a carência de pessoal pos. Basta conversar com qualquer Guilherme Rangel, da Delega- ainda é muito grande. Foram comerciante do bairro que ele dirá cia de Furtos e Roubos, geral- anos sem investimento em se- que, se ele próprio não foi, sabe de mente, esses assaltos são feitos gurança pública, somente agora pelo menos uma dúzia de casos de por jovens entre 18 e 30 anos houve um concurso para poli- colegas que foram vítimas de assalto de idade, com várias passagens ciais que ainda estão passando nos últimos meses. pela polícia. Ele explicou que por capacitação para depois Esse número de casos tem ge- não se trata de um quadro iso- irem para as ruas”. (AR) rado um clima de insegurança na região. Foi o que a reportagem do Do Quintal constatou ao fazer um O comércio ao redor da Cruz já virou “freguês dos assaltantantes”. pequeno roteiro a partir de um dos últimos casos. No último dia 20, no E a filial da Nissei chegou a ser » Violência meio da tarde, a Lotérica JCS, no assaltada oito vezes nos últimos Também na Rua São Salvador, mini-centro comercial da Cruz do dois anos. A atendente Francielle um dos alvos constantes é o Posto Pilarzinho, na rua Amauri Lange, foi da Silva explica que a forma de ação, São Salvador, que registrou dois alvo de dois homens que entraram geralmente, é igual. O assaltante se assaltos em 2 meses. Um pouco armados dando voz de assalto. Os passa por um freguês, escolhe um mais além, na divisa com o Abran- assaltantes tentaram quebrar o vidro produto e quando chega ao caixa, ches, A Banca, Restaurante e Lan- Felipe e a mãe: que separa o público das atendentes. anuncia o assalto. chonete também foi assaltada duas Hélio, do Tissi: após a violência, medo e Como não conseguiram, assaltaram Somente no mês de julho foram vezes recentemente. O último as- Dois assaltos recentes. sensação de impotência. os clientes que estavam na fila, e fu- assaltadas a Pizzaria do Hamilton, salto aconteceu no dia 12 de ju- giram em uma moto. Na fuga, bate- na Hugo Simas, e o Supermercado lho, quando os assaltantes levaram Clima de insegurança ram o veículo e um deles foi preso. Tissi, na Avenida Raposo Tavares. um aparelho de TV, um exposi- Não se trata de um caso isola- Segundo o gerente do supermer- tor de cigarros e um computador. Para quem já foi vítima de tão propondo a remunerar esses do no minicentro comercial do Pi- cado, Hélio de Paula, os assaltantes larzinho que parece ter se tornado Mas o caso mais grave conforme um assalto, além do prejuízo seguranças na tentativa de obte- chegaram às 7h30 da noite e rende- um chamariz para assaltantes. As conta Felipe Gonzatto, filho dos material, o que fica é a sensa- rem maior segurança. Gonzatto ram ele e as caixas. Em seguida, te- farmácias Morifarma e Nissei, que donos do estabelecimento, foi há ção de medo e impotência. Fe- é um deles: “Acho que a maioria riam levado uma caixa registradora também funcionam no local, são dois meses quando três margi- lipe Gonzatto, do A Banca, por dos comerciantes não se impor- e cerca de R$ 300,00. Foi o segundo exemplo, diz que depois do taria em contribuir com uma campeãs em casos de assaltos. Celso nais chegaram num final da tarde, assalto do ano, o primeiro em janei- ocorrido tem medo de chegar quantia mensal para a sua segu- Alves, atendente da Morifarma há ro, quando levaram cerca de R$ 2 rendendo a ele e os funcionários à noite em casa. Também não rança”. três anos, conta que já presenciou mil. Seguindo pela Amauri Lange, já na cozinha. Um dos assaltantes fi- consegue dormir direito, uma Celso Alves, da Morifarma, três assaltos. O último foi num do- próximo da Rua São Salvador, o co- cou vigiando, enquanto os outros vez que permanece a sensação é outro que defende um policia- mingo de maio, quando os bandi- mércio de doces Cardoso também invadiram a casa da família, que de que tanto ele quanto sua fa- mento alternativo. “Por que não dos o renderam no momento em já virou “freguês” dos assaltantes. A fica aos fundos do estabelecimen- mília estão seguros. contratar policiais aposentados que a farmácia era aberta, às 7h30. proprietária, Inês Cardoso, diz que to. Na casa estava apenas sua mãe, E essa sensação de desam- para nos dar segurança?”- per- Em seguida, teriam rendido os fun- foram dois nos últimos dois meses. que, mesmo sem qualquer reação, paro diante dos criminosos é guntou ele, depois de comentar cionários no banheiro, levando o Nos últimos dois anos, ela já perdeu chegou a ser espancada. Na saída, comum entre as vítimas de as- que o bairro precisaria de um que havia no caixa, além de vários a conta, mas se lembra que chegou a o trio percebeu a presença de um salto. O grau de desespero é tão módulo policial, nos mesmos produtos. Morador de Almiran- ser assaltada três vezes seguias pelos vigia e fugiu, quando um deles foi grande que a ideia de organizar moldes do último que foi inau- te Tamandaré, ele diz que se sente mesmos bandidos, quando fechou atropelado, morrendo antes da po- equipes de guardiões particula- gurado na região do Bom Reti- hoje mais seguro onde mora do que o estabelecimento por alguns dias lícia chegar. Já a dona do restauran- res, como forma de reduzir os ro, nas proximidades da Jardim onde trabalha. Sua colega Renata para não ter mais prejuízos.A cerca te, quase perdeu a visão do olho riscos diante da impossibilidade Schaffer, uma área que já conta- Machado, que mora em Colombo, de duzentos metros dali, a floricul- esquerdo e teve o maxilar seria- do poder público, já surgiu no ria com ampla segurança parti- também vítima de três assaltos, tem tura Ópera Garden também foi as- mente atingido, tendo que passar bairro. Muitos comerciantes es- cular. (DSF) a mesma opinião. saltada no último mês. por várias cirurgias. Sem registros policiais, casos não chegam às autoridades Motivos para anunciar no Do Quintal O aumento no número de assaltos na região é um problema sentido no dia-a-dia. Porém, muitas vítimas não registram queixa. Em julho do ano passado, levantamento feito por um grupo de moradores com 93 co- merciantes do bairro constatou que 50 haviam sido assaltados de janeiro de 2009 a junho de 2010, vários deles mais de uma vez. Mas, 23 deles não haviam registrado queixa. A falta de registro dificulta a própria ação policial. Os boletins de ocorrência, quando realizados, são registrados tanto na Delegacia de Fur- • É um jornal com conteúdo, sempre trazendo assuntos de interesse tos e Roubos quanto na Polícia Militar, o que dificulta uma visão geral do dos moradores, tratados com seriedade e qualidade jornalística. número de casos em determinado bairro. • São 10 mil exemplares distribuídos criteriosamente entre o comércio, A própria Secretaria de Segurança alerta para a importância de que condomínios, áreas residenciais, instituições públicas e privadas. Ou seja, quem as vítimas procurem a delegacia mais próxima para fazer o boletim de anuncia no Do Quintal tem a sua mensagem chegando mensalmente a 10 mil ocorrência. A Secretaria é responsável pelo geoprocessamento que reúne residências, ou cerca de 30 mil leitores. dados de cada região da cidade . A falta de registro é um agravante para a falta de segurança, uma vez que os dados oficiais acabam não refletindo • Compare com os concorrentes – veja o custo-benefício de seu investimento- e na realidade local, o que impede uma ação mais ostensiva na região. seja mais um anunciante do Do Quintal, o jornal que veste a camisa do seu bairro. Sérgio Nascimento, do 3º Distrito, geralmente, os meliantes migram para determinados bairros, na tentativa de fugir de regiões que contam Contatos : Tel: 3527-0501 – 9892-4606 com um policiamento mais ostensivo. (AR) E-mail: contato@comercial.com.br
  • 8. Curitiba, jul »8 Do Qu O laboratório de Francis Pelas inovações e pioneirismo em várias áreas, Chácara atraiu durante décadas visitantes Fotos: João de Noronha Douglas de Souza Fernandes Casa principal O bairro Bom Retiro e o Jardim Schaffer, no Vista Alegre, hoje são uma das regiões mais valo- foi tombada rizadas e com melhor infra-es- trutura de Curitiba. Há 150 anos, porém, era Após a morte de Francisco Schaffer, uma área rural praticamente desabitada. Foi em janeiro de 1955, aos 89 anos, a nessa época, em 1863, que chegou ao local, os propriedade foi dividida entre os primeiros Schaffer. Anton e um de seus oito fi- seus sete filhos, dois homens e cinco lhos, Emmanuel, vieram de Romerstadt, uma mulheres, cabendo a maior parte aos pequena cidade da Moravia, no antigo império dois filhos, Chico e Bruno. Chico fi- Austro-Húngaro. Chegaram aqui para iniciar cou a parte a leste da Avenida Hugo uma nova vida, longe da crise que assolava a Simas, menor mas que incluía todas Europa então. Aqui compraram uma Chácara, as instalações agropecuárias. E Bru- que anos depois se tornaria exemplo de ma- no com a parte a oeste. Chico loteou nejo agrícola e pecuário, e que em décadas se- sua propriedade em 1957. A de Bru- guintes atrairia levas de visitantes do país e do no foi loteada em 1970. exterior. No Jardim Schaffer, além a rua Isso porque, dentre os descendentes de com o nome de Francisco, num dos Anton, estava Francisco, seu neto, o primeiro bosques da propriedade foi criado, Schaffer a nascer em Curitiba, um autodidata há 15 anos, o Bosque Alemão, em- que quando assumiu a área, colocou em prá- bora a Família Schaffer seja de ori- tica tudo que aprendera por conta própria so- gem austríaca. A principal casa da bre a agricultura e pecuária. Com uma mente Chácara e a última em que Francis- irrequieta e antenado com as inovações tecno- co morou foram preservadas. Esta, lógicas de então, ele fez da Chácara um verda- na confluência das Ruas Santa Cecí- deiro laboratório de zootecnia e pecuária. E lia e Hugo Simas, abriga hoje o Bar e tudo que aprendia, ensinava a quem quisesse Restaurante Schimmel. aprender, atendendo pacientemente todos que Já a antiga sede, no número de o procuravam. De autodidata se tornou um Na casa grande, desapropriada e restaurada nos anos 70, funcionou 1800 da Hugo Simas, foi desapro- professor. E com a Chácara Schaffer, deixou por 37 anos a Escola Internacional. Hoje ela pertence ao grupo Destro. priada em 1974, na gestão do pre- um legado de informação às novas gerações. feito Jaime Lerner, que a restaurou e a alugou para a Escola Internacional de Curitiba, que funcionou no local À frente de seu tempo até outubro do ano passado. Nos últimos nove anos, somente a edu- cação infantil funcionava no local, quando também foi transferida para a nova sede da instituição na Aveni- Francisco Schaffer sempre esteve à frente de co tempo, além de se tornar o principal produtor da Doutor Eugênio Bertolli, 3900, seu tempo. Durante toda a sua vida, dedicou- de leite da cidade, Francisco passou a fornecer em Santa Felicidade. -se ao estudo da tecnologia voltada à agricultu- matrizes para produtores de todo o país. Em 2009, o imóvel foi leiloado ra e criação de animais. Entre outras coisas, foi Perfeccionista, foi um dos primeiros criadores pela Prefeitura, e arrematado pelo um dos primeiros do país a utilizar o trator. O a registrar os animais em livro próprio para es- empresário João Destro, dono do primeiro ele adquiriu em 1918, um ano depois tabelecer a genealogia do seu gado. A higiene e a grupo Destro Macroatacado. Atual- de ter sido lançado nos EUA por Henry Ford. organização do plantel também eram exemplares, mente uma empresa de segurança Construiu na Chácara o primeiro silo do Brasil como atestam depoimentos de quem o visitava. cuida da área. João ainda não anun- para armazenagem de forragem verde para ali- » Um professor ciou o que pretende instalar no lo- mentar o gado. Foi o introdutor da raça holande- E tudo que aprendera por conta própria, cal. sa no país, revolucionou o comércio de leite no Francisco não tinha receio de ensinar a outros Da casa, que teve somente a parte Paraná, sendo um dos primeiros a pasteurizar o produtores. Para aprender com ele, vinham fi- externa tombada, ainda restam parte produto e o pioneiro na venda de leite em gar- lhos de fazendeiros, estudantes e professores de da estrutura montada por Francisco. rafas em Curitiba, ganhou vários prêmios nacio- agronomia e zootécnica de várias universidades Como os silos, um dos exemplos de nais de produtividade agrícola. Tudo isso usan- brasileiras. E Francisco atendida a todos, expli- suas ações inovadoras na época, e do como laboratório a Chácara Schaffer. cando pacientemente como manejar o rebanho, que hoje ficam como um testemu- Antes de optar pela produção leiteira, Fran- evitar e combater doenças, a alimentação ade- A Chácara foi pioneira no uso nho de sua importância na área a cisco experimentou o plantio de videiras para a quada etc. de máquinas na lavoura. que dedicou toda sua vida. (DSF) produção de vinho, mas desistiu por não con- Para divulgar a qualidade de seus produtos, seguir produzir um vinho de boa qualidade. Já Francisco abriu, em 1918, na Rua XV de Novem- em relação â produção de mel e cereais, o su- bro, a Leiteria Schaffer, que logo se tornou um cesso pode ser medido pelas medalhas de ouro ponto tradicional da cidade. Alguns anos depois, que ele conquistou nos concursos agrícolas que vendeu-a para a família Esser, que manteve o participou. nome, depois alterado para Confeitaria Schaffer Mas, o seu principal sonho era dedicar-se a e que continuaria funcionando até os anos 90. produção leiteira. E para isso mergulhou nos Durante décadas, Francisco lutou para criar estudos a partir de livros importados da Austria a primeira cooperativa de laticínios de Curitiba. e Alemanha. Depois viajou à Argentina para co- Foi uma luta inglória. Ele não pöde ver o seu so- nhecer o gado local, que considerou melhor para nho de estabelecer um padrão de qualidade para a produção de carne do que de leite. Foi então todo o leite comercializado na cidade. Somente à Europa, em 1912, onde conheceu a raça da re- em 1959, os produtores de leite da cidade, prin- gião Frísia Oriental, na Alemanha, semelhante à cipalmente dos bairros Boqueirão e Xaxim, cria- Holandesa, só que mais rústica e mais facilmente riam a Cooperativa de Laticínos Curitiba (Clac), aclimatada a Curitiba. nos mesmos moldes daquela que Francisco Trouxe então as primeiras matrizes. Em pou- Schaffer havia defendido quase trinta anos antes.