Uma elefoa difiícil de esquecer cartunista chiquinha
1. 16 ●
ELA O GLOBO Sábado, 12 de novembro de 2011
.
Imagens de divulgação
A CARTUNISTA
GAÚCHA Chiquinha
posa em frente
a um mamífero da
família de sua fofa
personagem, a
Elefoa Cor-de-Rosa
Uma elefoa difícil ‘Uma patada com carinho’, primeiro livro de
cartuns da gaúcha Chiquinha, traz histórias
estreladas por uma paquiderme cor-de-rosa,
de esquecer Télio Navega grama “Chaves” e publicou seus quadrinhos de
personagem que leva para os
quadrinhos os dilemas da autora
como repórter de cultura do “Jornal do Co-
Q
telio@oglobo.com.br humor corrosivo no “Le Monde Diplomatique”, mércio”, em Porto Alegre, Chiquinha resolveu
“O Estado de S. Paulo”, “Caros Amigos”, “Folha dar um passo maior na carreira de cartunista e
ualquer semelhança física de S. Paulo”, “Vip”, “F” e “Mad”. lançar, hoje, no Festival Internacional de Qua-
com a filha do Seu Madruga — Comecei a assinar Chiquinha meio sem drinhos de Belo Horizonte, seu primeiro livro
parece ter ficado para trás na querer, achava meu nome real, Fabiane, muito solo: “Uma patada com carinho” (Leya/Barba
vida de Fabiane Bento Lan- sisudo para uma cartunista — conta, por e-mail Negra). A estrela desta leva inédita de histórias
gona. Mas o apelido de Chi- ao ELA, a bem-humorada gaúcha de 27 anos. — ácidas sobre o universo feminino é a Elefoa Cor-
quinha, que a cartunista gaú- Também tinha a ideia de que seria divertido ter de-Rosa, uma gordinha neurótica que a autora
cha “ganhou” na adolescên- uma dupla identidade. Coisas que a gente criou há cinco anos, ainda na faculdade. E,
cia, ficou. Sim, pois é, pois é, decide, assim sem querer, quando jovem, e que segundo ela, não passa de “uma sensível e
pois é! A Fabiane assumiu o depois não tem mais volta. formosa paquiderme que vive às voltas com o
nome da personagem do pro- Formada em jornalismo e com experiência mal sem perder a esperança no que é bom”.
— A Elefoa tava daquele jeito, abandonada,
jogada para lá. Os suplementos dos jornais nos
quais passei a publicar (“Folha de S. Paulo” e
“Diário de Pernambuco”, durante quatro e dois
anos, respectivamente), a meu ver, não tinham
o perfil do personagem, então acabei enga-
vetando a coitada. Quando surgiu o convite
para o livro, achei ótimo, porque pude resgatar
a Elefoa do completo abandono — explica
Chiquinha, que levou consigo, na mala para a
capital mineira, mais um gibi, a revista in-
dependente e bilíngue “Bananas”, produzida a
quatro mãos com a amiga carioca Cynthia
Bonacossa (“Golden Shower”).
Água do Guaíba pode
explicar o bom humor
● Chiquinha é natural da mesma Porto Alegre
que nos apresentou a Edgar Vasques e des-
pachou para o Rio de Janeiro o desenhista
resmungão Allan Sieber. “Talvez seja algo na
água do Guaíba. Gásp!”, diz ela, confessando
que o mais difícil é sobreviver como cartunista
nesse mundo de Marlboro. E Chiquinha não tem
vergonha em admitir que faz uso de sua Elefoa
para expor suas angústias femininas.
— É verdade que sempre tenho que res-
ponder a perguntas referentes a gênero. É bom
ou ruim ser mulher? Ou o que você acha de ficar
menstruada? — responde, com bom humor, a
jovem cartunista, revelada pelo colega de pro-
fissão Ota, em 2005, na coluna “Abre Alas”, do
“Jornal do Brasil”. — Compreendo esse tipo de
estranhamento. Imagino que uma mulher es-
tivadora ou mesmo motorista de caminhão
deva passar por algo parecido.
E entrega a misteriosa fórmula que tem
consagrado seu tipo de quadrinho cáustico no
“selvagem mundo do humor gráfico”, como
alardeia o fã Allan Sieber no prefácio de “Uma
patada com carinho”:
— Resolvi mais ou menos assim: já que essa
é uma realidade que se apresenta de forma tão
explícita, tomei como ponto de partida de-
sovar todo esse tipo de questão na Elefoa Cor-
de-Rosa. Ela fala de tudo isso por mim. Ri e
chora desse universo tão peculiar que causa,
ainda nos dias de hoje, estranhamento aos
homens. Gostei de tentar desvendá-lo através
dessa personagem. Foi divertido, apesar de
ser um recorte dentro do tipo de quadrinho
que gosto de fazer. ■