Gostaria de partilhar convosco uma reflexão sobre as cargas horárias contínuas dos profissionais da saúde e da segurança.
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[Júlio Santos] O excesso de horas dos profissionais de saúde e agentes da segurança
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O excesso de horas dos profissionais de saúde e agentes da
segurança
Gostaria de partilhar convosco uma reflexão sobre as cargas horárias contínuas dos
profissionais da saúde e da segurança.
Recentemente estive internado. Muito graças ao meu subsistema de saúde foi-me
proporcionado o acesso a um hospital privado.
Pude no entanto constatar que nesse estabelecimento hospitalar (actualmente uma
referência no sector) os profissionais de saúde, em particular os enfermeiros e auxiliares,
efectuam cargas horárias que alternam entre as 12 e as 15 horas diárias de serviço contínuo,
em vários dias seguidos.
Não tenho qualquer razão de queixa quanto à forma como fui tratado. Aliás, aproveito para
deixar aqui um louvor a esses profissionais, são uns heróis, pois custa a crer como será
humanamente possível manter um sorriso e uma palavra de apoio desde o inicio do turno
até ao seu final, 15 horas depois.
Todavia, é minha convicção que esta carga horária afectará em muito o discernimento e a
concentração necessárias para se um destes profissionais for confrontado com um problema
grave; daqueles em que a solução tem de surgir numa fracção de segundo. Nesse caso, é
possível que surjam as negligências, sempre difíceis de provar neste sector.
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O excesso de horas dos profissionais de saúde e agentes da
segurança
Por muito treinados que estejam, por muito capacitados sejam, são humanos! E o ser humano
tem limites.
Outra constatação que efectuei é que na maioria dos casos deixou de ser uma preocupação o
uso das luvas de protecção; mesmo quando existe a necessidade de manusear matéria
orgânica como p.e., o sangue que como se sabe pode transmitir doenças crónicas. Será por
uma questão de redução de custos? Ou por excesso de confiança dos profissionais?
No entanto, não são só os profissionais de saúde a efectuar longos turnos durante vários dias.
Esta também é uma das irregularidades que encontramos nas escalas dos Agentes da PSP, dos
Militares da GNR, dos Inspectores da PJ, dos Bombeiros e dos Agentes de Segurança Privada.
A exemplo dos profissionais de saúde, nos casos agora mencionados o discernimento e a
capacidade de reacção também são vitais para um cabal desempenho das missões que estão
atribuídas aos profissionais da segurança.
Certamente existem estudos que comprovam que o excesso de horas em dias contínuos é um
dos motivos de alguma da violência policial que ainda se vê referida em relatórios
internacionais; como também será de algumas das falhas de procedimentos perante situações
de risco. No caso dos Inspectores da PJ o raciocínio, tão importante na investigação criminal,
será também tolhido pelo cansaço do excesso de horas de turno.
Todos sabemos que as profissões supracitadas têm, necessidades e períodos de trabalho que
têm de ser pontualmente prolongados, são os chamados “ossos do ofício”. O aqui referimos
são condições diferentes. É o facto dos profissionais destes sectores de actividade
efectuarem, continuadamente, escalas de mais de 12 horas em diversos dias seguidos.
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O excesso de horas dos profissionais de saúde e agentes da
segurança
As situações mais graves que conhecemos são dos Bombeiros. No caso dos Voluntários pode
acontecer que depois de uma noite de piquete no quartel (ainda que nem sempre com saídas
em serviço), vão directos cumprir um horário de 8 horas nos seus empregos e, em alguns
casos, ainda vão, dentro das mesmas 24h, fazer um turno no CODU ou nas ambulâncias do
INEM.
Esta forma de preencher escalas é inseparável de factores que servem quase todos os
intervenientes:
• No caso das entidades patronais, conseguem, com menos mão-de-obra, efectuar o mesmo
serviço, ainda que correndo os riscos próprios dessa decisão;
• Aos profissionais, o acumular de horas diárias permite folgas maiores, mas que não
representam exactamente um maior descanso, dado que essas folgas, na maioria dos casos,
são aproveitadas para desempenhar outras actividades profissionais que complementam
salários auferidos.
Ou seja, parece que todos ganham, mas não! Há os que podem perder! O cidadão comum que
espera e necessita que estes profissionais estejam sempre no pleno das suas faculdades
quando estão de serviço e isso nem sempre acontece.
Do ponto de vista político-social (que recusamos discutir aqui), esta parece ser uma situação
aceite e do agrado de todos, mas fica sempre a questão:
• Estará garantida a segurança e o bem-estar dos que precisam destes profissionais, quando
estes estão sujeitos a estas cargas horárias?
Júlio Santos
Desde 1985 ligado à segurança. Inicialmente na comercialização de equipamentos de prevenção
de riscos elétricos. Posteriormente especializa-se em monitorização e operação de sistemas de
segurança integrados e organização de Centrais de Segurança. Para partilhar, com os
profissionais do setor, os conhecimentos adquiridos, cria e gere desde 2006 o primeiro site, sem
fins lucrativos e/ou comerciais, sobre Segurança Patrimonial da internet com origem em
Portugal. Participa com artigos de opinião em diversas publicações do setor.
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