A questão atual da sociedade brasileira é de bem compreender sua história, além do carácter anedotário, sarcástico e infanto-juvenil dos livros didáticos, o que nos dá esse tom caricato à narrativa da nossa identidade nacional.
Enfrentar os fatos do passado é condição para se aceitar o presente afim de se estabelecer mudanças fundamentais em nosso destino como Nação. E, me parece que reside aí todo o problema do Brasil no presente pois que com um passado distorcido e confuso procura-se a identidade nacional na caricatura, reduzindo-se sua grandeza de Império à Republiqueta (do tipo Estados Unidos... do Brasil).
Quando a Coroa Portuguesa deixou Lisboa no início do século 19, o Príncipe Dom João VI não tinha planos para voltar, cruzou o Atlântico num ato de audácia que há muito não se via na Europa, talvez desde de Alexandre, O Grande, seguindo-se aí uma sequência de audaciosos Príncipes como Dom Pedro I e Dom Pedro II.
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O Último Rei de Portugal
_ Um príncipe
Audaz
A Audácia de um Príncipe
A questão atual da sociedade brasileira é de bem compreender sua história, além do carácter
anedotário, sarcástico e infanto-juvenil dos livros didáticos, o que nos dá esse tom caricato à
narrativa da nossa identidade nacional.
Enfrentar os fatos do passado é condição para se aceitar o presente afim de se estabelecer
mudanças fundamentais em nosso destino como Nação. E, me parece que reside aí todo o
problema do Brasil no presente pois que com um passado distorcido e confuso procura-se a
identidade nacional na caricatura, reduzindo-se sua grandeza de Império à Republiqueta (do
tipo Estados Unidos... do Brasil).
Quando a Coroa Portuguesa deixou Lisboa no início do século 19, o Príncipe Dom João VI não
tinha planos para voltar, cruzou o Atlântico num ato de audácia que há muito não se via na
Europa, talvez desde de Alexandre, O Grande, seguindo-se aí uma sequência de audaciosos
Príncipes como Dom Pedro I e Dom Pedro II.
Asdecisõesque oPríncipe Regentede Portugal teve que tomarnaquelesdiasque antecederam
a invasão das tropas Napoleônicas foram dramáticas,e tiveram resultados impensáveispara a
sociedade portuguesa da época. Se ficasse seria destruído junto com Portugal e os territórios
portuguesesdoBrasil teriamsidoocupadoporoutraspotências europeias,assim, ficariamsem
país e sem Império. Decidiu, Dom João VI, ficar com o Brasil.
A transferênciadaCoroaPortuguesaparaoRiode Janeiro,emverdade,eraumaconsequência,
digamos, natural dos imensos investimentos que Portugal vinha fazendona construção de seu
Impérioapartirdaera dasnavegaçõesdoséculo16.Ocontrole que oRei portuguêstinhasobre
esse vasto território na América do Sul era surpreendente, devidosuas dimensões colossais, e
foi preciso um esforço muitogrande, assim como, um ato de superpotência para controlá-lo e
mantê-lo sobre seu domínio.
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Do Orinoco ao Rio da Prata
Os conhecimentosque osportuguesestinhamsobre navegaçãoeramnotáveise,portanto,sua
fortaleza era a marinha, a base do controle que exerciam sobre toda a costa Brasileira,
estabelecendo com isso um domínio absoluto, na época, sobre o Atlântico Sul.
É de se aceitarofatode que adefesadaAméricadoSul foi,semdúvida,parte deumaestratégia
conjunta das Coroas Espanhola e Portuguesa, pois que sempre resolveram seus conflitos
diplomaticamente e não se viam como inimigos.
A colonização da América do Sul e do Brasil tinha como pilar estratégico básico a longitude de
60 graus oeste, traçando-se a partir desse Meridiano, a fundação de fortificações e povoados,
desde CiudadGuayanae CiudadBolívar norioOrinocona Venezuela,até Rosário, naArgentina,
no Rio Paraná, passando por Boa Vista em Roraima, Manaus, no Amazonas, Porto Velho em
Rondônia e Cuiabá em Mato Grosso. Como não haviam estradas os rios, Paraná, Paraguai,
Madeira-Mamoré,Amazonas,RioBrancoe RioCaroni e Orinoco,já naVenezuela, seguiamesse
curso de orientação de Sul para o Norte ao longo da longitude de 60 graus oeste.
A partir de Manaus, no Amazonas,a cada, aproximadamente,5graus de distância(555 km),os
portuguesesforamfundandocidade chavesonde osriostributáriosfaziamgrandesbifurcações.
É o caso de Santarém, no Pará (Longitude de 55˚ graus Oeste), tendo ainda as cidades de
Macapá, no Amapá,(longitude de 51 graus- oeste),e Belém, noPará, a 50 graus oeste,ambas
na embocadura do Rio Amazonas. Macapá servia de referência pois que estava justamente na
latitude de 0 graus, ou seja, na passagem da linha do equador.
Se por terra o meridiano de 60 graus oeste serviade eixoorientadorde penetração nosentido
Norte-Sul, unindo os rios já mencionados acima como estradas, pela costa os portugueses
seguiram os mesmos princípios. A cada, aproximadamente 5 graus, fundaram povoados e
fortificações que estavam alinhadas em eixos comuns de longitude. Assim, São Luís, no
Maranhão, a 45 graus oeste, está alinhada com o litoral do Rio de Janeiro, em Angra dos Reis,
também, aproximadamente, no mesmo meridiano de 45 graus. Assim Fortaleza, situou-se no
meridianode 40 graus oeste,Natal,no de 35 graus oeste. A partir de Natal,orientam-se nesse
meridiano, também, JoãoPessoa,Recife e Maceió. Nasequência,Salvadora38 graus, oeste,e
o Portode Vitória,noEspírito Santo, a 40 graus, oeste emparelhando com fortaleza no Ceará.
Comose pode perceber,auniãodas coroas Ibéricasformavaum formidável bastiãoapartir do
eixodomeridianode 60 graus-oeste,porterra,e umarco de navegação por mar desde Buenos
Airesaté afoz doRioOrinoco.Comoasfortificaçõese povoadosestavamorientadosnomesmo
eixo de longitude, então ao subir a costa brasileira, as esquadras ibéricas não só sabiam bem
aonde estavam,como também, sabiamquantotempo se levavapara ir de um ponto ao outro,
bem posicionando flotilhas de patrulhas navais ao longo de todo esse setor.
Como resultado os Espanhóis contiveram, essa gente, na embocadura do Orinoco e os
portugueses na foz do Amazonas, já que a costa do Pará e do Amapá são tremendamente
assoreadas, devido ao excesso de sedimentos carreados pelosrios da bacia Amazônica, o que
impede desembarque de tropas. A oeste os Andes serviam de Muralha natural, a leste a serra
do mar desde o Rio Grande até o sul da Bahia impunham serias dificuldades à penetração
estrangeira. Assim, estava nas mãos da marinha portuguesa o já mencionado controle e
predominância no Atlântico Sul.
A Questão da Independência do Brasil
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Como se pode ver, o Estado Português ao desembarcar no Rio de Janeiro já estava em casa e
nãotinhaplanosde voltar. AsrealidadesdasguerrasNapoleônicasnaEuropa levaramDomJoão
VIe esse atode audáciaque como,já disse ante,hámuitonãose viaentre príncipesna Europa.
Ele não estava disposto a ver ruir os meticulosos planos de defesa do Brasil e afundar numa
guerradonosajuntocomPortugal.Nofinal manteveseuimpérioe zomboude Napoleão,jáque
a França jamais se constituiu num império como o Português ou o Espanhol.
A partirda residênciadoRei firmadanoRiode Janeiro,criou-se umaimensaambiguidade entre
Portugal e o Brasil. Na verdade, o conceito de um Brasil ainda não existia, mas sim de um
Portugal que dodiaparanoite tinhasidoinfladoparaficardotamanhodaAméricadoSul.Numa
tacada certeiraum príncipe audazreverteua roda da fortuna e ganhouum impérioaindamais
poderoso que antes, pois que os recurso do Brasil eram equivalentes a toda a Europa junta,
tornado as questões das guerras napoleônicas irrelevantes.
Essas ambiguidades foram se agravando após as guerras napoleônicas e uma crise se
estabeleceu dentro da coroa portuguesa com partidários do Brasil e de Portugal. Novamente
manobra bem o Príncipe e com audácia, retorna a Portugal, mas sua linha de descendência
direta(acoroa propriamentedito)ficaranoRio.Segue-se,entãoumoutropríncipe,amanobrar
audazmente como tinha feito seu pai.
No entanto, essas ambiguidades tiveram um preço e Dom Pedro I (IV em Portugal) retorna à
Portugal expulsa seu irmão do trono, infelizmente morre e o sucede sua filha. Deve-se notar
aqui que seu filho, Dom Pedro II, ficara no Rio e era o mais legítimo representante da coroa
portuguesae do ImpériodoBrasil.Com a morte de Dom Pedro I, terminapropriamente ditoo
ImpérioPortuguês,que,de novo,ambiguamente,renasce noBrasil.Mil anos de descendência
diretaseminterrupçõesdoprimeiroRei de Portugal vivianoRiode Janeiro,dessaforma pode-
se dizerque acoroaportuguesanuncadeixouoBrasil.E,emrelaçãoaquestãodaindependência
do Brasil, foi muito mais Portugal que se tornou independe da coroa Portuguesa do Brasil do
que o contrário, ambiguamente falando...
Nós somos Portugal; Portugal somos Nós
Como podemos perceber, o Brasil é resultado de uma impressionante trilogia histórica de
príncipesaudazes.Dom PedroII, antes dele DomPedroI e Dom João VI, foram moldadospelo
carácter do Audaz Império Português que pequenino controlava o gigantesco continente Sul-
americano e o Atlântico Sul.
O Brasil nasceu Impérioe era reconhecido pelas cortes europeias do século 19, como legítimo
representante do desaparecido Império Português. Dom Pedro II sabia explorar bem essas
ambiguidades,e quandolhe perguntavamse afinal eraImperadordoBrasil ouRei de Portugal,
dizia ele assim:
_Nós somos Portugal, Portugal somos Nós!
E a questãodo Brasil na era Imperial nãoestava diretamente relacionadaa causas sociais,que
é semdúvidaas preocupaçõesdoBrasil de hoje,mas no século19, a questãoera da formação
do Brasil apartir dessasdeliciosasambiguidadesque tantasensação causavanaEuropaquando
Dom Pedro II viaja por lá, (sempre a negócios...).
O Último Rei de Portugal
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Impensável que essahistóriatãomaravilhosamente e meticulosamente bemcuidadaporDom
Pedro II, Dom Pedro I e Dom João IV acabasse por ter um desfecho melancólico. A Monarquia
Brasileiranãoesgotousuaspossibilidades,estavanoauge quandofoi derrubadapor um ato vil
de traição. Mais impensável,ainda, é analisaro drama que envolveua famíliade Dom Pedro II
a partir do ato desatinado desses generais insurretos e bandidos antipatriotas.
O encarregadode negócioda embaixadabritânicos empenhou-se até aúltimahora para salvar
a vida de Dom PedroII e suafamília.Corria célere pelasruasempoeiradasdoRiode Janeiro do
século19, o nervosismotomou contade todos,carruagens,trolleys,tílburis,arrancavamatoda
velocidade em carreira desembalada desde o Palácio Imperial na região do Porto. Cavalos
empinavamemplenarua 1º de março e a agitação era contagiante.Ochefe de políciafaziade
tudo para manter acalma no centro, havia interditado e isolado toda a área central.
A embaixada Britânica liderava os protestos contra o golpe de Estado, o corpo diplomático
estava todo reunido na mansão do Embaixador em solidariedade a Dom Pedro II. As linhas do
telégrafo estavam congestionadas e cada minuto importava. O Foreign Office em Londres
acompanhava nervosamente os acontecimentos no Brasil. Se os Generais brasileiros e o
embaixadorAmericanoachavamque ogolpe de mãoviriafácil estavamerrados.A cadaminuto
os militaresviamogolpe republicano fracassaremtodasas áreas, não haviam medido bemas
reações e elas eram enérgicas e imensas.
A Rainha Vitória finalmente intervém e convoca o embaixador Americano em Londres para
explicações. O assassinato da família de Dom Pedro II era, em suas palavras, impensável e
trariamconsequênciafunestasparaasrelaçõesentreaGrandBretanhae osEE.UU.Semtitubear
simplesmente ordenou que os Americanos retirassem seus cães (como se referiu ela aos
militares brasileiros) do Palácio Imperial do Rio de Janeiro.
As resistências cresciam minuto a minuto e começaram a deixar os militares brasileiros
extremamente nervosos.OembaixadorAmericanosabiaque se o golpe republicano brasileiro
falhasse suapenetraçãoemtodaaméricalatinateriafracassadoe a MarinhaImperial Brasileira
continuaria a ser uma arma de domínio no Atlântico Sul, como desde de 1500!
Acabar comtudo numatode fuzilariacontraafamíliaImperial pareciasedutoraomaisviolento
dos golpistas, General Floriano Peixoto. Os Almirantes desde Niterói, de sabre em punho
simbolicamente invadiramoPalácioImperial aosempurrõescontrasentinelasdesconcertadas.
Morremos todos juntos, diziam.
Lá dentro,oImperador,jáidoso,estavaatônitoalgumashorasanteserafestejado,reverenciado
e elogiadopelassuasqualidadesde monarcaconstitucional.Eraimpensável e incompreensível
o que estava acontecendo, ali naquele momento.
Finalmente, veio o golpe final na alma de sua majestade que lhe foi confidenciado pelo
Almirantado.OgolpistaFlorianoPeixotohavia,diasantes,entregueosplanosde defesadacosta
brasileiradaMarinha Imperial aoembaixadorAmericano.Ogolpe iamuitoalémparase tornar
uma intervençãomilitar,amarinhaamericanatinhaentrado emáguasdo Brasil e desarmadoo
Império. Aquilo matou o velho Imperador. Após 15 de novembro de 1889 uma a uma as
RepúblicasSul-Americanosforamcaindosobojulgodoimperialismode Washington.Se ogolpe
tivesse falhado,essagente teriasidocontidacomoas CoroasEspanholase Portuguesastinham
feito antes na foz do Orinoco e do Amazonas.
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Pela última vez os Almirantes fizeram alas ao Imperador do Brasil. Abriram-se as portas do
PalácioImperial e acenafoi chocante.Nafrente vinhaDomPedroIIcomaPrincesaIsabel,atrás
a Imperatriz e o Conde D’Eu, depois os filhos.
Chocada a princesa apertou o Braço do pai e exclamou:
_ Papá! Vão nos matar a todos!
Militares fortemente armados e ferozes apontavam fuzis e baionetas contra toda a família de
Dom Pedro II. Um ajudante de ordens foi logo gritando:
_Os homens no primeiro carro, mulheres no segundo, as crianças atrás. Nem um pio e
mantenham as cortinas cerradas e vamos logo com isso! Foi falando e dando coronhadas e
chutes nas portas dos três carros que haviam estacionados na frente do palácio. A cena era
dantesca.
Dom PedroII apertoua mão da filhatentandoacalmá-la.Oconde fezmenção de protestar no
que foi impedido pelo Imperador.
Assim, o séquito real serpenteou vagarosamente do Palácio em direção ao Cais Pharoux,
ladeados pelo Almirantado a pé e de sabre em punho,entoando hinosimperiais. Lentamente,
nas altashoras da noite,desapareciaDomPedroII porde trás da brumadaquelanoite escurae
chuvosa no lento e compassado toc-toc dos cavalinhos.
Na soleira do Palácio Imperial, o encarregado de negócios Britânicos, exclamou:
_Lá se vai o último Rei de Portugal e segundo Imperador do Brasil!
Professor Ricardo Gomes Rodrigues
São Carlos, 7 de setembro de 2017
Veja o vídeo em:
https://youtu.be/g03XgaFbX1s
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https://youtu.be/glI_rQlZSKs
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