SlideShare a Scribd company logo
1 of 34
Download to read offline
Hidrologia Estatística 
Capítulo 
14 
s variáveis hidrológicas como chuva e vazão têm como característica básica 
uma grande variabilidade no tempo. Para analisar a vazão de um rio ou a 
precipitação em um local ou região, incluindo a sua variabilidade temporal, é 
necessário utilizar alguns valores estatísticos que resumem, em grande parte, o 
comportamento hidrológico do rio ou da bacia. Entre as estatísticas mais importantes 
estão a média, a média mensal, a variância, os mínimos e máximos. 
A média 
A vazão ou precipitação média é a média de toda a série de vazões ou precipitações 
registradas, e é muito importante na avaliação da disponibilidade hídrica total de uma 
bacia. 
Σ 
x 
i = = 1 
n 
x 
n 
i 
A vazão média específica é a vazão média dividida pela 
área de drenagem da bacia. 
As vazões médias mensais representam o valor médio 
da vazão para cada mês do ano, e são importantes para 
analisar a sazonalidade de um rio. A figura ao lado 
apresenta um gráfico das vazões médias mensais do rio 
Cuiabá na seção da cidade de Cuiabá, com base nos 
dados de 1967 a 1999. 
A 
Figura 14. 1 : Vazões médias por mês do ano no rio Cuiabá, em Cuiabá.
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
Observa-se nesta figura que há uma sazonalidade marcada, com estiagem no inverno e 
vazões altas no verão. As maiores vazões mensais médias ocorrem em Fevereiro e as 
menores em Agosto, o que é conseqüência direta da sazonalidade das chuvas, que 
ocorrem de forma concentrada no período de verão. 
A mediana 
A mediana é o valor que é superado em 50% dos pontos da amostra. A média e a 
mediana podem ter valores relativamente próximos, porém não iguais. 
A mediana pode ser obtida organizando os n valores xi da amostra em ordem 
crescente. 
Sendo k x com k = 1 a n, os valores de x organizados em ordem decrescente, a 
mediana é obtida por: 
17 2 
p Mediana = x com 1 
2 
1 
+ 
− 
= 
n 
p se n for ímpar; 
e 
+1 + 
= p p x x 
Mediana se n for par. 
2 
O desvio padrão 
O desvio padrão é uma medida de dispersão dos valores de uma amostra em torno da 
média. O desvio padrão é dado por: 
( x − 
x 
) 
1 
1 
2 
− 
= 
Σ 
= 
n 
s 
n 
i 
i 
o quadrado do desvio padrão s2 é chamada variância da amostra. 
O coeficiente de variação 
O coeficiente de variação é uma relação entre o desvio padrão e a média. O coeficiente 
de variação é uma medida da variabilidade dos valores em torno da média, 
relativamente à própria média.
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
17 3 
s 
x 
cv = 
E X EMP LO 
1) O seguinte conjunto de valores apresenta a chuva anual ocorrida em uma 
cidade ao longo de 30 anos. Calcule a média, o desvio padrão e o coeficiente 
de variação destes dados. 
ano P (mm) ano P (mm) ano P (mm) 
1954 1671 1964 2024 1974 1357 
1955 1485 1965 1305 1975 2023 
1956 1766 1966 1644 1976 1390 
1957 1565 1967 1908 1977 1641 
1958 2082 1968 1913 1978 1585 
1959 1370 1969 1485 1979 1526 
1960 1926 1970 1693 1980 1962 
1961 2042 1971 1313 1981 1672 
1962 1691 1972 1567 1982 1404 
1963 1491 1973 1493 1983 1352 
A média é de 1645,1 mm por ano, o desvio padrão é de 241,9 mm por ano e o coeficiente de variação 
é de 0,15. 
O coeficiente de assimetria 
O coeficiente de assimetria é um valor que caracteriza o quanto uma amostra de dados 
é assimétrica com relação à média. Uma amostra é simétrica com relação à média se o 
histograma dos dados revela o mesmo comportamento de ambos os lados da média. 
( x x 
) 
3 
n 
i 1 
3 
i 
n s 
G 
× 
− 
= 
Σ 
= 
A assimetria é chamada positiva quando o valor de G é positivo e a assimetria é 
negativa quando o valor de G é negativo. Algumas variáveis importantes na hidrologia, 
como as vazões máximas anuais em rios, apresentam uma assimetria positiva.
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
Assimetria Valor de G Exemplo de histograma 
Nula 0 ou próximo 
17 4 
de zero 
Positiva G > 0 
Negativa G < 0 
O cálculo da assimetria de uma amostra é um pouco mais complexo do que o da 
média e do desvio padrão. A maior parte das calculadoras simples não permite calcular 
diretamente o coeficiente de assimetria. No programa Excel a função chamada 
“Distorção” permite calcular o coeficiente de assimetria. 
Quartis e quantis 
Quantis separam a amostra de forma semelhante à mediana, porém em intervalos 
diferentes. Enquanto a mediana separa a amostra em dois grupos, com 50% dos dados 
com valores inferiores e 50% dos dados com valores superiores à mediana, os quartis e 
os quantis divdem a amostra em grupos de tamanhos diferentes. O primeiro Quartil é 
o valor que separa a amostra em dois grupos em que 25% dos pontos tem valor 
inferior ao quartil e 75% tem valor superior ao quartil. O terceiro Quartil é o valor que 
separa a amostra em dois grupos em que 75% dos pontos tem valor inferior ao quartil 
e 25% tem valor superior ao quartil. Já o segundo quartil é a própria mediana. 
Além dos três quartis, que separam a amostra em quatro, podem ser definidos quantis 
arbitrários, que dividem a amostra arbitrariamente em frações diferentes. Por exemplo,
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
o quantil 90 % divide a amostra em dois grupos. O primeiro (90% dos dados) tem 
valores inferiores ao quantil 90% e o segundo (10% dos dados) tem valores superiores 
ao quantil 90%. 
No programa Excel é possível obter os quantis desejados usando uma função 
denominada Percentil. 
A curva de permanência 
A curva de permanência é equivalente a um histograma de freqüências acumuladas 
relativas das vazões de um rio em um determinado local. A elaboração da curva de 
permanência é uma das análises estatísticas mais simples e mais importantes na 
hidrologia. A curva de permanência auxilia na análise dos dados de vazão com relação 
a perguntas como as destacadas a seguir. 
• O rio tem uma vazão aproximadamente constante ou extremamente variável 
entre os extremos máximo e mínimo? 
• Qual é a porcentagem do tempo em que o rio apresenta vazões em 
17 5 
determinada faixa? 
• Qual é a porcentagem do tempo em que um rio tem vazão suficiente para 
atender determinada demanda? 
A curva de permanência expressa a relação entre a vazão e a freqüência com que esta 
vazão é superada ou igualada. A curva de permanência pode ser elaborada a partir de 
dados diários ou dados mensais de vazão. 
Na prática, a curva de permanência é relativamente fácil de obter, desde que existam 
dados de vazão. Usando a planilha de cálculo Excel, por exemplo, a curva de 
permanência pode ser gerada calculando os valores dos quantis de 1% a 99%, usando a 
função Percentil. O percentil 1% corresponde à vazão que é superada 99% do tempo, 
o percentil 10% corresponde à vazão que é superada em 90% do tempo. 
A Figura 14. 2 apresenta o hidrograma de vazões diárias do rio Taquari, em Muçum 
(RS), e a curva de permanência que corresponde aos mesmos dados apresentados no 
hidrograma. Observa-se que a vazão de 1000 m3.s-1 é igualada ou superada em menos 
de 10% do tempo. Apesar de apresentar picos de cheias com 7000 m3.s-1 ou mais, na 
maior parte do tempo as vazões do rio Taquari neste local são bastante inferiores a 500 
m3.s-1. 
Para destacar mais a faixa de vazões mais baixas a curva de permanência é apresentada 
com eixo vertical logarítmico, como mostra a Figura 14. 3.
Figura 14. 2: Hidrograma de vazões diárias do rio Taquari em Muçum (RS) e a curva de permanência correspondente. 
Figura 14. 3: Curva de permanência do rio Taquari em Muçum com eixo das vazões logarítmico para dar destaque à faixa de vazões 
mais baixas. 
Alguns pontos da curva de permanência recebem atenção especial: 
• A vazão que é superada em 50% do tempo (mediana das vazões) é a chamada 
Q50.
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
• A vazão que é superada em 90% do tempo é chamada de Q90 e é utilizada 
como referência para legislação na área de Meio Ambiente e de Recursos 
Hídricos em muitos Estados do Brasil. 
• A vazão que é superada em 95% do tempo é chamada de Q95 e é utilizada para 
definir a Energia Assegurada de uma usina hidrelétrica. 
E X EMP LO 
2) Os dados de vazão do rio Descoberto em Santo Antônio do Descoberto 
(GO) foram organizados na forma de uma curva de permanência, como 
mostra a figura abaixo. Um empreendedor solicita outorga de 2,5 m3.s-1 num 
ponto próximo no mesmo rio. Considerando que a legislação permite outorgar 
apenas 20% da Q90 a cada solicitante, responda: é possível atender a 
solicitação? 
Observa-se na curva de permanência que a vazão Q90 é de 7 m3.s-,1 aproximadamente. Portanto a 
máxima vazão que pode ser outorgada para um usuário individual neste ponto corresponde a: 
17 7 
max Q 0,2 7 1,4m s− = × = × 
3 1 
Como o empreendedor solicitou 2,5 m3.s-,1 não é possível atender sua solicitação. 
A curva de permanência também é útil para diferenciar o comportamento de rios e 
para avaliar o efeito de modificações como desmatamento, reflorestamento, 
construção de reservatórios e extração de água para uso consuntivo.
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
A Figura 14. 4 apresenta as curvas de permanência dos rios Cuiabá, em Cuiabá (MT), e 
Taquari, em Coxim (MS), baseadas nos dados de vazão diária de 1980 a 1984. As duas 
bacias tem áreas de drenagem de tamanho semelhante. A bacia do rio Cuiabá tem, 
aproximadamente, 22.000 km2, e a do rio Taquari cerca de 27.000 km2. O relevo e a 
precipitação média anual são semelhantes. A vazão média do rio Cuiabá é de 438 m3.s-1 
neste período, enquanto a vazão média do rio Taquari é de 436 m3.s-1, ou seja, são 
praticamente idênticas. Entretanto, observa-se que as vazões mínimas são mais altas no 
rio Taquari do que no rio Cuiabá e as vazões máximas são maiores no rio Cuiabá. 
O rio Cuiabá apresenta maior variabilidade das vazões, que se alternam rapidamente 
entre situações de baixa e de alta vazão, enquanto o rio Taquari permanece mais tempo 
com vazões próximas da média. Esta diferença ocorre basicamente porque a geologia 
da bacia do rio Taquari favorece mais a infiltração da água no solo, e esta água chega ao 
rio apenas após um longo período em que fica armazenada no subsolo. A vazão do rio 
Taquari é naturalmente regularizada pelos aqüíferos existentes na bacia, enquanto que 
na bacia do rio Cuiabá este efeito não é tão importante. 
Figura 14. 4: Comparação entre as curvas de permanência dos rios Taquari (MS) e Cuiabá (MT). 
A Figura 14. 5 apresenta as curvas de permanência de vazão afluente (entrada) e 
efluente (saída) do reservatório de Três Marias, no rio São Francisco (MG). Este 
reservatório tem um grande volume e uma grande capacidade de regularização, 
permitindo reter grande parte das vazões altas que ocorrem durante o período do 
verão, aumentando a disponibilidade de água no período de estiagem. Como resultado 
observa-se que a vazão Q90 é alterada de 148 m3.s-1 para 379 m3.s-1 pelo efeito de 
regularização do reservatório, enquanto a vazão Q95 é alterada de 120 m3.s-1 para 335 
m3.s-1. 
17 8
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
Figura 14. 5: Curvas de permanência de vazão afluente e efluente do reservatório de Três Marias, no rio São Francisco (MG). 
Portanto o efeito da regularização da vazão sobre a curva de permanência é torná-la 
mais horizontal, com valores mais próximos da mediana durante a maior parte do 
tempo. 
Séries temporais 
A vazão de um rio é uma variável que se modifica de forma contínua no tempo, e pode 
ser representada em um hidrograma, que é o gráfico que relaciona os valores de vazão 
com o tempo, como na Figura 14. 6. 
Diversas análises estatísticas de dados hidrológicos são realizadas de forma mais 
conveniente sobre valores discretos no tempo, ao contrário das seqüências contínuas. 
A partir de uma seqüência contínua de vazões é possível identificar séries temporais de 
valores discretos, como, por exemplo, as vazões médias anuais, as vazões máximas 
anuais e as vazões mínimas anuais, conforme representado na Figura 14. 7 e na Tabela 
14. 1. 
As séries discretas que são obtidas a partir da observação de alguns anos de dados de 
vazão são tratadas como amostras do comportamento de um rio ou de uma bacia. A 
população, neste caso, seriam todos os anos de existência de um rio. A vazão é 
considerada uma variável aleatória porque depende de fenômenos climáticos 
complexos e de difícil previsibilidade a partir de um certo horizonte. 
17 9
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
Figura 14. 6: As vazões variam continuamente no tempo (linha) mas a partir dos dados de vazão é possível gerar séries temporais 
discretas, como as médias, máximas (triângulos) e mínimas (círculos) anuais (adaptado de Dingman, 2002). 
Figura 14. 7: Gráfico das séries discretas de médias, mínimas e máximas anuais. 
18 0
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
Tabela 14. 1: Valores das séries temporais discretas de vazões médias, mínimas e máximas anuais relativos à figura anterior. 
Ano Vazão média anual Vazão mínima anual Vazão máxima anual 
1990 95 57 132 
1991 93 69 126 
1992 72 48 100 
1993 86 60 113 
1994 56 29 80 
1995 73 53 88 
1996 96 68 132 
Risco, probabilidade e tempo de retorno 
Séries temporais discretas são convenientes para avaliar riscos em hidrologia. Risco é 
muitas vezes entendido como um sinônimo de probabilidade, mas em hidrologia é 
mais adequado considerar o risco como a probabilidade de ocorrência de um evento 
multiplicada pelos prejuízos que se espera da ocorrência deste evento. 
Projetos de estruturas hidráulicas sempre são elaborados admitindo probabilidades de 
falha. Por exemplo, as pontes de uma estrada são projetadas com uma altura tal que a 
probabilidade de ocorrência de uma cheia que atinja a ponte seja de apenas 1% num 
ano qualquer. Isto ocorre porque é muito caro dimensionar as pontes para a maior 
vazão possível, por isso admite-se uma probabilidade, ou risco, de que a estrutura falhe. 
Isto significa que podem ocorrer vazões maiores do que a vazão adotada no 
dimensionamento. 
A probabilidade admitida pode ser maior ou menor, dependendo do tipo de estrutura. 
A probabilidade admitida para a falha de uma estrutura hidráulica é menor se a falha 
desta estrutura provocar grandes prejuízos econômicos ou mortes de pessoas. Assim, a 
probabilidade de falha admitida para um dique de proteção de uma cidade é a 
probabilidade de que ocorra uma cheia em que o nível da água supere o nível de 
proteção do dique. Diques que protegem grandes cidades deveriam ser construídos 
admitindo uma probabilidade menor de falha do que diques de proteção de pequenas 
áreas agrícolas. A Tabela 14. 2 apresenta o tempo de retorno em anos adotado, 
normalmente, para diferentes tipos de estrutura. 
18 1
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
Tabela 14. 2: Tempo de retorno adotado para diferentes estruturas, de acordo com o risco associado. 
Estrutura TR (anos) 
Bueiros de estradas pouco movimentadas 5 a 10 
Bueiros de estradas muito movimentadas 50 a 100 
Pontes 50 a 100 
Diques de proteção de cidades 50 a 200 
Drenagem pluvial 2 a 10 
Grandes barragens (vertedor) 10.000 
Pequenas barragens 100 
O risco também pode estar relacionado a situações de vazões mínimas. Por exemplo, 
considere uma cidade que utilize a água de um rio para abastecimento da população. 
Dependendo do tamanho da população e das características do rio, existe um sério 
risco de que, num ano qualquer, ocorram alguns dias em que a vazão do rio é inferior à 
vazão necessária para abastecer a população. 
No caso da análise de vazões máximas, são úteis os conceitos de probabilidade de 
excedência e de tempo de retorno de uma dada vazão. A probabilidade anual de excedência 
de uma determinada vazão é a probabilidade que esta vazão venha a ser igualada ou 
superada num ano qualquer. O tempo de retorno desta vazão é o intervalo médio de 
tempo, em anos, que decorre entre duas ocorrências subseqüentes de uma vazão maior 
ou igual. O tempo de retorno é o inverso da probabilidade de excedência como 
expresso na seguinte equação: 
18 2 
P 
TR 
1 
= (14.1) 
onde TR é o tempo de retorno em anos e P é a probabilidade de ocorrer um evento 
igual ou superior em um ano qualquer. No caso de vazões mínimas, P refere-se à 
probabilidade de ocorrer um evento com vazão igual ou inferior. 
A equação acima indica que a probabilidade de ocorrência de uma cheia de 10 anos de 
tempo de retorno, ou mais, num ano qualquer é de 0,1 (ou 10%). 
A vazão máxima de 10 anos de tempo de retorno (TR = 10 anos) é excedida em média 
1 vez a cada dez anos. Isto não significa que 2 cheias de TR = 10 anos não possam 
ocorrem em 2 anos seguidos. Também não significa que não possam ocorrer 20 anos 
seguidos sem vazões iguais ou maiores do que a cheia de TR=10 anos. 
Existem duas formas de atribuir probabilidades e tempos de retorno às vazões 
máximas e mínimas: métodos empíricos e métodos analíticos.
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
Probabilidades empíricas podem ser estimadas a partir da observação das variáveis 
aleatórias. Por exemplo, a probabilidade de que uma moeda caia com a face “cara” 
virada para cima é de 50%. Esta probabilidade pode ser estimada empiricamente 
lançando a moeda 100 vezes e contando quantas vezes cada uma das faces fica voltada 
para cima. 
O problema das probabilidades empíricas é que quando o tamanho da amostra é 
pequeno, a estimativa tende a ser muito incerta. Suponha, por exemplo, que apenas 6 
lançamentos sejam feitos para estimar a probabilidade de que uma moeda caia com a 
face “cara” voltada para cima. É possível que seja estimada uma probabilidade muito 
diferente de 50%. 
Para contornar este problema é comum supor que os dados hidrológicos sejam 
aleatórios e que sigam uma determinada distribuição de probabilidade analítica, como a 
distribuição normal, por exemplo. Esta metodologia analítica permite explorar melhor 
as amostras relativamente pequenas de dados hidrológicos, como se descreve na 
seqüência deste capítulo. 
Chuvas anuais e a distribuição normal 
O total de chuva que cai ao longo de um ano pode ser considerado uma variável 
aleatória com distribuição aproximadamente normal. Esta suposição permite explorar 
melhor amostras relativamente pequenas, com apenas 20 anos, por exemplo. 
A distribuição normal é descrita em qualquer livro introdutório de estatística e se aplica 
a muitos tipos de informações da natureza. Um gráfico da função densidade de 
probabilidade da distribuição normal tem uma forma de sino e é simétrica com relação 
à média, que é o valor central. A forma em sino indica que existe uma probabilidade 
maior de ocorrerem valores próximos à média do que nos extremos mínimo e 
máximo. 
A função densidade de probabilidade (PDF) da distribuição normal é uma expressão 
que depende de dois parâmetros: a média e o desvio padrão da população, conforme a 
equação seguinte: 
18 3 
( ) 
 
  
 
 
  
 
 
  
 
 − 
  
 
1 
× − × 
× × 
= 
2 
2 
exp 
2 
1 
μ 
x 
x 
x 
x 
x 
f x 
s 
p s 
(14.2) 
onde μx é a média da população e sx é o desvio padrão da população. Para o caso mais 
simples, em que a média da população é zero e o desvio padrão igual a 1, a expressão 
acima fica simplifcada:
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
 
1 2 z 
( ) × − 
 
18 4 
 
 
× 
= 
2 
exp 
2 
f z z 
p 
(14.3) 
onde z é uma variável aleatória com média zero e desvio padrão igual a 1. 
O gráfico desta última é apresentado na Figura 14. 8. A área total sob a curva é igual a 
1. A área hachurada representa a probabilidade de ocorrência de um valor maior do 
que z (figura de cima) ou menor do que z (figura de baixo). 
A área sob a curva pode ser calculada por integração analítica, mas resulta numa série 
infinita. Por este motivo, as aplicações práticas são mais comuns na forma de tabelas 
que relacionam o valor de z com a probabilidade de ocorrer um valor maior do que z 
ou menor do que z. Existem, também, tabelas que fornecem valores da área entre 0 e 
z, ou de –z a z. 
No final do capítulo é apresentada uma tabela de probabilidades da distribuição 
normal. No programa Excel é possível obter os valores das probabilidades utilizando a 
função DIST.NORMP(z), que dá a probabilidade de ocorrer um valor inferior a z. 
Lembrando a relação entre probabilidades e tempos de retorno, é interessante saber os 
valores de z que correspondem a alguns valores específicos de probabilidade, como 0,1 
0,01 e 0,001. Estes valores correspondem aos tempos de retorno de 10, 100 e 1000 
anos. No final do capítulo é apresentada uma tabela de probabilidades da distribuição 
normal, indicando os valores de z correspondentes aos tempos de retorno de 2 a 10000 
anos. 
Figura 14. 8: Gráfico da distribuição normal (na figura superior é indicada a área hachurada que representa a probabilidade de ocorrer 
um valor maior do que z; e na figura inferior é indicada a área hachurada que representa a probabilidade de ocorrer um valor menor do 
que z).
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
Uma variável aleatória x com média μx e desvio padrão sx pode ser transformada em 
uma variável aleatória z, com média zero e desvio padrão igual a 1 pela transformação 
abaixo: 
= (14.4) 
18 5 
− μ 
x x 
x 
z 
s 
Esta transformação pode ser utilizada para estimar a probabilidade associada a um 
determinado evento hidrológico em que a variável segue uma distribuição normal. 
Considere, por exemplo, a chuva anual em um determinado local. Anos com chuva 
próxima da média são relativamente freqüentes, enquanto anos muito chuvosos ou 
muito secos são menos freqüentes. Em muitos locais as chuvas anuais seguem, 
aproximadamente uma distribuição normal, como mostra a Figura 14. 9. 
Figura 14. 9: Histograma de freqüências de chuvas anuais no posto pluviométrico localizado em Lamounier, MG. 
A probabilidade de ocorrência de chuvas anuais superiores a 2000 mm, por exemplo, 
pode ser estimada a partir da análise dos dados de n anos, e da suposição de que os 
dados seguem uma distribuição normal. 
E X EMP LOS 
3) As chuvas anuais no posto pluviométrico localizado em Lamounier, em Minas 
Gerais (Código 02045005) seguem, aproximadamente, uma distribuição
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
normal, com média igual a 1433 mm e desvio padrão igual a 299 mm. Qual é a 
probabilidade de ocorrer um ano com chuva total superior a 2000 mm? 
Considerando que a média e o desvio padrão da amostra disponível sejam boas aproximações da média 
e do desvio padrão da população, pode se estimar o valor da variável reduzida z para o valor de 2000 
mm: 
1,896 
18 6 
2000 1433 
299 
= 
− 
= 
− 
μ 
x x x 
@ 
− 
= 
s 
z 
x 
x 
s 
de acordo com a Tabela A, no final do capítulo, a probabilidade de ocorrência de um valor maior do 
que z=1,896 é de aproximadamente 0,0287 (valor correspondente a z=1,9). Portanto, a 
probabilidade de ocorrer um ano com chuva total superior a 2000 mm é de, aproximadamente, 
2,87%. O tempo de retorno correspondente é de pouco menos de 35 anos. Isto significa que, em média, 
um ano a cada 35 apresenta chuva total superior a 2000 mm neste local. 
4) As chuvas anuais no posto pluviométrico localizado em Lamounier, em Minas 
Gerais (Código 02045005) seguem, aproximadamente, uma distribuição 
normal, com média igual a 1433 mm e desvio padrão igual a 299 mm. Qual é a 
probabilidade de ocorrer um ano com chuva total inferior a 550 mm? 
A distribuição normal é simétrica. A probabilidade de ocorrer um valor superior a z é igual à 
probabilidade de ocorrer um valor inferior a –z. Assim, 
2,95 
550 1433 
299 
= − 
− 
= 
− 
μ 
x x x 
@ 
− 
= 
s 
z 
x 
x 
s 
de acordo com a Tabela A, no final do capítulo, a probabilidade de ocorrência de um valor maior do 
que z=2,95está entre 0,0012 e 0,0019. Portanto, a probabilidade de ocorrer um ano com chuva total 
superior a 2000 mm é de, aproximadamente, 0,15%. O tempo de retorno correspondente é de pouco 
menos de 666 anos. Isto significa que, em média, um ano a cada 666 apresenta chuva total inferior a 
550 mm neste local. 
Vazões máximas 
Selecionando apenas as vazões máximas de cada ano em um determinado local, é 
obtida a série de vazões máximas deste local e é possível realizar análises estatísticas 
relacionando vazão com probabilidade. As séries de vazões disponíveis na maior parte 
dos locais (postos fluviométricos) são relativamente curtas, não superando algumas 
dezenas de anos.
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
Distribuição empírica 
Analisando as vazões do rio Cuiabá no período de 1984 a 1992, por exemplo, 
podemos selecionar de cada ano apenas o valor da maior vazão, e analisar apenas as 
vazões máximas (Tabela 14. 3). Reorganizando as vazões máximas para uma ordem 
decrescente, podemos atribuir uma probabilidade de excedência empírica a cada uma 
das vazões máximas da série, utilizando a fórmula de Weibull: 
P (14.5) 
18 7 
m 
+1 
= 
N 
onde N é o tamanho da amostra (número de anos); e m é a ordem da vazão (para a 
maior vazão m=1 e para a menor vazão m=N). O resultado é apresentado na Tabela 
14. 4. 
Figura 14. 10: Série de vazões do rio Cuiabá em Cuiabá, de 1984 ao final de 1991, evidenciando a vazão máxima de cada ano.
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
18 8 
Tabela 14. 3: Vazões máximas anuais entre 1984 e 1991. 
Ano Q máx 
1984 1796.8 
1985 1492.0 
1986 1565.0 
1987 1812.0 
1988 2218.0 
1989 2190.0 
1990 1445.0 
1991 1747.0 
Tabela 14. 4: Vazões máximas reorganizadas em ordem decrescente, com ordem e probabilidade empírica associada. 
Ano Vazão (m3/s) Ordem Probabilidade TR (anos) 
1988 2218.0 1 0.11 9.0 
1989 2190.0 2 0.22 4.5 
1987 1812.0 3 0.33 3.0 
1984 1796.8 4 0.44 2.3 
1991 1747.0 5 0.56 1.8 
1986 1565.0 6 0.67 1.5 
1985 1492.0 7 0.78 1.3 
1990 1445.0 8 0.89 1.1 
O problema da estimativa empírica de probabilidades é que não é possível extrapolar a 
estimativa para tempos de retorno maiores. Por exemplo, se é necessário estimar a 
vazão máxima de 100 anos de tempo de retorno, mas existem apenas 18 anos de dados 
observados, as probabilidades empíricas permitem estimar vazões máximas de TR 
próximo de 18 anos. 
Distribuição normal 
Para extrapolar as estimativas de vazão máxima é necessário supor que as vazões 
máximas anuais seguem uma distribuição de probabilidades conhecida, como no caso 
das chuvas anuais. 
Vazões máximas segundo uma distribuição normal podem ser estimadas por: 
x = x + K × s (14.6) 
onde x é a vazão máxima para uma dada probabilidade; x é a média das vazões 
máximas anuais; e s é o desvio padrão das vazões máximas anuais. O valor de K é 
obtido de tabelas de distribuição normal (equivalente ao z nas tabelas A e B ao final do 
capítulo).
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
Infelizmente, porém, as vazões máximas não seguem a distribuição normal. 
Histogramas de vazões máximas anuais tendem a apresentar uma forte assimetria 
positiva (longa cauda na direção dos maiores valores), o que invalida o uso da 
distribuição normal (Figura 14. 11). 
Figura 14. 11: Comparação entre um histograma de vazões máximas observadas do rio Cuiabá em Cuiabá entre 1967 e 1999 e a 
distribuição normal. 
Para superar este problema existem outras distribuições de probabilidade que são, 
normalmente, utilizadas para a análise de vazões máximas. A mais simples destas 
distribuições é a denominada log-normal. Nesta distribuição a suposição é que os 
logaritmos das vazões seguem uma distribuição normal. 
18 9 
Distribuição log-normal 
A distribuição normal parte da equação: 
( ) ( ) x x x K slog log = log + × (14.7) 
onde log(x) é o logaritmo da vazão máxima; log(x) é a média dos logaritmos das 
vazões máximas anuais observadas; slogx é o desvio padrão dos logaritmos das vazões 
máximas anuais observadas. O valor de K é obtido das tabelas A e B do final do 
capítulo (K é equivalente a z dado nas tabelas). 
Se o objetivo da análise é determinar a vazão de 100 anos de tempo de retorno em um 
determinado local, por exemplo, a seqüência de etapas para a estimativa supondo que 
os dados correspondem a uma distribuição log-normal é a seguinte: 
• Obter vazões máximas de N anos
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
• Calcular os logaritmos das vazões máximas 
• Calcular a média e o desvio padrão dos logaritmos das vazões máximas 
• Obter o valor de z para a probabilidade correspondente ao tempo de retorno 
19 0 
de 100 anos 
• Obter o valor do logaritmo da vazão de tempo de retorno de 100 anos a partir 
da equação 14.7. 
• Obter o valor da vazão através da função inversa do logaritmo. 
Esta seqüência de etapas fica mais clara na aplicação em um exemplo. 
E X EMP LO 
5) As vazões máximas anuais do rio Guaporé no posto fluviométrico Linha 
Colombo são apresentadas na tabela abaixo. Utilize a distribuição log-normal 
para estimar a vazão máxima com 100 anos de tempo de retorno. 
ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA 
1940 953 1950 1192 1960 falha 1970 365 1980 653 1990 falha 
1941 1171 1951 356 1961 718 1971 671 1981 537 1991 falha 
1942 723 1952 246 1962 503 1972 1785 1982 945 1992 falha 
1943 267 1953 1093 1963 falha 1973 726 1983 1650 1993 1115 
1944 646 1954 840 1964 457 1974 397 1984 1165 1995 639 
1945 365 1955 622 1965 915 1975 480 1985 888 
1946 1359 1956 falha 1966 742 1976 falha 1986 728 
1947 411 1957 598 1967 840 1977 673 1987 809 
1948 480 1958 646 1968 331 1978 760 1988 945 
1949 365 1959 953 1969 320 1979 780 1989 1380 
Este exemplo apresenta uma situação muito comum na análise de dados hidrológicos: as falhas. As 
falhas são períodos em que não houve observação. As falhas são desconsideradas na análise, assim o 
tamanho da amostra é N=48. Utilizando logaritmos de base decimal, a média dos logaritmos das 
vazoes máximas é 2,831 e o desvio padrão é 0,206. Para o tempo de retorno de 100 anos a 
probabilidade de excedência é igual a 0,01. Na tabela B, ao final do capítulo, pode-se obter o valor de 
z correspondente (z=2,326). A vazão máxima de TR=100 anos é obtida por: 
x x 
s 
z 
− 
@ 
2,831 
0,206 
2,326 
− 
@ 
x 
x = 2,326 × 0,206 + 2,831 = 3,31
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
19 1 
10 2041 3,31 Q = = 
Portanto, a vazão máxima de 100 anos de tempo de retorno é 2041 m3/s. 
Este procedimento pode ser repetido para outros valores de TR, e o resultado pode ser apresentado na 
forma de um gráfico, relacionando vazão com tempo de retorno, como na figura a seguir. Nesta figura 
fica claro, também, que a suposição de uma distribuição log-normal é muito mais adequada do que a 
suposição de uma distribuição normal. 
As vazões máximas estimadas com as probabilidades empíricas são mostradas pelos pontos, a 
distribuioção normal é apresentada como a linha pontilhada e a linha contínua mostra vazões máximas 
estimadas com a distribuição log-normal. 
Distribuição Log-Pearson Tipo III 
A distribuição Log-Pearson Tipo III pode ser descrita por três parâmetros: a média, o 
desvio padrão e o coeficiente de assimetria. 
A equação utilizada para estimar a vazão máxima é igual à utilizada na distribuição Log- 
Normal, entretanto o valor de K é obtido de outra tabela. 
( ) ( ) x x x K slog log = log + ×
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
onde K depende do coeficiente de assimetria dos dados e pode ser obtido na tabela C, 
no final do capítulo. 
Distribuição de Gumbel 
A probabilidade de que uma determinada vazão venha a ser igualada ou excedida em 
um ano qualquer pode ser estimada usando a distribuição de Gumbel, de acordo com a 
equação: 
− − = − (14.8) 
b e P 1 e 
onde P é a probabilidade; e é a base dos logaritmos naturais e b é dado por: 
(x x 0 45 s) 
b = × − + , 
× 
 
 
19 2 
1 
× 
, 
0 7797 s 
(14.9) 
onde x é a vazão máxima; x é a média das vazões máximas anuais; e s é o desvio 
padrão das vazões máximas anuais. 
A distribuição de Gumbel é também chamada de Distribuição de Valores Extremos do 
tipo 1, e é amplamente utilizada em análise estatística de eventos extremos. Uma 
vantagem desta distribuição é que não é necessário utilizar tabelas de probabilidades. 
A vazão para um dado tempo de retorno TR (em anos) pode ser obtida por uma 
forma inversa da equação 14.8: 
   
   
 
 
 
 
 
 
TR 
− 
= − × + × 
TR 1 
x x s 0,45 0,7797 ln ln 
Vazões mínimas 
A análise de vazões mínimas é semelhante à análise de vazões máximas, exceto pelo 
fato que no caso das vazões mínimas o interesse é pela probabilidade de ocorrência de 
vazões iguais ou menores do que um determinado limite. 
No caso da análise utilizando probabilidades empíricas, esta diferença implica em que 
os valores de vazão devem ser organizados em ordem crescente, ao contrário da 
ordem decrescente utilizada no caso das vazões máximas. 
Normalmente, as análises estatísticas de vazões mínimas são realizadas sobre as vazões 
mínimas de 7 dias, 15 dias ou 30 dias de duração. Neste caso, para cada ano do registro
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
histórico encontra-se a vazão mínima média de D dias (médias móveis de D dias). O 
restante do procedimento de análise é semelhante ao apresentado aqui. 
Uma vazão mínima obtida por análise estatística muito utilizada como vazão de 
referência mínima é a Q7,10, ou 7Q10, que vem a ser a vazão média de 7 dias de duração 
com tempo de retorno de 10 anos. 
Distribuição normal 
A aplicação da análise estatística usando a distribuição normal para vazões mínimas é 
analisada através de um exemplo. 
E X EMP LO 
6) A tabela abaixo apresenta as vazões mínimas anuais observadas no rio Piquiri, 
no município de Iporã (PR). Considerando que os dados seguem uma 
distribuição normal, determine a vazão mínima de 5 anos de tempo de retorno. 
A distribuição normal se ajusta bem aos dados observados? 
19 3 
ano 
Vazão 
mínima 
1980 202 
1981 128.6 
1982 111.4 
1983 269 
1984 158.2 
1985 77.5 
1986 77.5 
1987 166 
1988 70 
1989 219.6 
1990 221.8 
1991 111.4 
1992 204.2 
1993 196 
1994 172 
1995 130.4 
1996 121.6 
1997 198 
1998 320.6 
1999 101.2 
2000 118.2 
2001 213 
Os valores de vazão mínima são reorganizados em ordem crescente e a probabilidade empírica 
para cada valor é calculada. A seguir é calculada a média e o desvio padrão do conjunto de 
dados.
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
19 4 
ano ordem probabilidade 
TR 
empírico 
Vazão 
mínima 
1988 1 0.04 23.0 70 
1985 2 0.09 11.5 77.5 
1986 3 0.13 7.7 77.5 
1999 4 0.17 5.8 101.2 
1982 5 0.22 4.6 111.4 
1991 6 0.26 3.8 111.4 
2000 7 0.30 3.3 118.2 
1996 8 0.35 2.9 121.6 
1981 9 0.39 2.6 128.6 
1995 10 0.43 2.3 130.4 
1984 11 0.48 2.1 158.2 
1987 12 0.52 1.9 166 
1994 13 0.57 1.8 172 
1993 14 0.61 1.6 196 
1997 15 0.65 1.5 198 
1980 16 0.70 1.4 202 
1992 17 0.74 1.4 204.2 
2001 18 0.78 1.3 213 
1989 19 0.83 1.2 219.6 
1990 20 0.87 1.2 221.8 
1983 21 0.91 1.1 269 
1998 22 0.96 1.0 320.6 
Média = 163 
Desvio padrão = 65.2 
Os valores da vazão para diferentes tempos de retorno são calculados por: 
Q Q S K Q = − × 
Onde K é o valor da tabela da distribuição normal para as probabilidades (veja tabela B ao final 
do capítulo). 
Tempo 
de 
retorno K Q 
2 0 163.1 
5 0.842 108.2 
10 1.282 79.5 
50 2.054 29.2 
100 2.326 11.5 
Na figura abaixo vê-se que o ajuste da distribuição normal não é muito bom para estes dados. A 
vazão mínima com tempo de retorno de 5 anos é estimada em 108 m3/s.
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
 
 
1 
 
 
 
1 1 A ×  
l B 
19 5 
350 
300 
250 
200 
150 
100 
50 
0 
1.0 10.0 100.0 
Tempo de retorno (anos) 
Vazão mínima (m3/s) . 
Distribuição Weibull 
Uma distribuição de freqüências teórica mais adequada para a estimativa de vazões 
mínimas de alto tempo de retorno é a distribuição de Weibull (veja em Naghettini e 
Pinto, 2007). 
Na análise de vazões mínimas usando a distribuição de Weibull é usada a mesma 
equação: 
x = x + K × S (14.10) 
e o valor de K é obtido por: 
( ) ( ) 
 
 
 
 
 
 
−  
 
 
 
 
 
1 
= + × − − 1 
T 
K A B 1 
1 
l 
l l ln (14.11) 
onde 
T é o tempo de retorno em anos e 
( ) (l ) 
l 
 
 
 
 
= − G + (14.12)
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
1 
l (14.13) 
l = para − 1,0 £ G £ 2 (14.14) 
+ × + × + × + × 
19 6 
e 
( ) 
2 
 
2 1 
1 
2 
 
 
B 1 
− 
 
 
 
 
 
+ G −  
 
 
 
= G + 
l l 
onde 
4 
4 
3 
3 
1 
2 
0 1 2 H H G H G H G H G 
onde 
H0 = 0,2777757913 
H1 = 0,3132617714 
H2 = 0,0575670910 
H3 = -0,0013038566 
H4 = -0,0081523408 
e onde G é o coeficiente de assimetria; e onde G(.) é a função Gama, que é uma 
generalização da função fatorial para números reais não inteiros. 
Uma dificuldade da aplicação da distribuição de Weibul é a necessidade de calcular o 
valor da função Gama. O valor da função Gama é dada por: 
¥ 
( ) ∫ 
− − G = × 
w 1 xw x e dx 
0 
O programa Excel permite calcular o valor do logaritmo da função gama através da 
função LnGama(x). 
E X EMP LO 
7) Refaça o exemplo anterior usando a distribuição de Weibull. 
Os valores da média e desvio padrão são os mesmos calculados antes: 
Média = 163
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
Desvio padrão = 65.2 
Além disso é calculado o coeficiente de assimetria. Usando a função do Excel (Distorção(x)) o 
valor encontrado é 
G=0,5662 
A partir destes dados é calculado o valor de l = 2,116 
Usando a função do Excel LnGama(x) são calculados os valores de B(l) e A(l). 
B(l)=2,2726 
A(l)=0,2599 
E com estes valores são calculados os termos K para cada tempo de retorno T em anos, conforme 
a tabela abaixo: 
19 7 
TR Kt Vazão Weibull 
2 -0.10153 156.5 
5 -0.89405 104.8 
10 -1.22803 83.0 
25 -1.51140 64.6 
50 -1.65317 55.3 
100 -1.75422 48.7 
A figura a seguir mostra os resultados comparados à distribuição empírica e à distribuição normal. 
Observa-se que a distribuição de Weibull se adequa mais para a estimativa de vazões mínimas do que 
a distribuição normal, especialmente para tempos de retorno altos, quando a distribuição normal tende a 
valores negativos, o que é fisicamente impossível, já que as vazões mínimas são limitadas a valores 
maiores do que zero.
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
A distribuição binomial 
A distribuição de probabilidades binomial é adequada para avaliar o número (x) de 
ocorrências de um dado evento em N tentativas. 
As seguintes condições devem existir para que seja válida a distribuição binomial: 1) 
são realizadas N tentativas; 2) em cada tentativa o evento pode ocorrer ou não, sendo 
que a probabilidade de que o evento ocorra é dada por P enquanto a probabilidade de 
que o evento não ocorra é dada por 1-P ; 3) a probabilidade de ocorrência do evento 
numa tentativa qualquer é constante e as tentativas são independentes, isto é, a 
ocorrência ou não do evento na tentativa anterior não altera a probabilidade de 
ocorrência atual. 
Estas propriedades ficam mais claras considerando o exemplo de um dado de seis 
faces. A probabilidade de obter um “seis” num lançamento qualquer é de 1/6. A 
probabilidade de não obter um “seis” num lançamento qualquer é de 5/6. Se um dado 
é lançado uma vez, resultando em um “seis”, isto não altera a probabilidade de obter 
um “seis” no lançamento seguinte. 
De acordo com a probabilidade binomial, a probabilidade de que um evento ocorra x 
vezes em N tentativas, é dada pela equação 14.15. 
! 
P X x − × × − 
( ) (14.15) 
19 8 
N 
= = 1 
( ) 
( ) x N x 
x P P 
× − 
! ! 
x N x 
Nesta equação Px(X=x) é a probabilidade de que o evento ocorra x vezes em N 
tentativas. P é a probabilidade que o evento ocorra numa tentativa qualquer e (1-P) é a 
probabilidade que o evento não ocorra numa tentativa qualquer. 
E X EMP LOS 
8) Calcule a probabilidade de obter exatamente 5 “coroas” em 10 lançamentos de 
uma moeda. 
Neste caso x =5 e N=10. A probabilidade de obter “coroa” num lançamento qualquer é de 50%, ou 
1/2. A probabilidade de obter exatamente 5 “coroas” pode ser calculada pela equação 14.15. 
10! 
( ) 
0,246 
1 
2 
 
× 1 
− 1 
2 
5! 10 5 ! 
( 5) 
5 10 5 
 
=  
 
 
 
 
× 
 
× − 
= = 
− 
P X x
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
Portanto, a probabilidade de obter exatamente 5 “coroas” em 10 lançamentos é de 24,6%. 
9) A probabilidade da vazão de 10 anos de tempo de retorno seja igualada ou 
excedida num ano qualquer é de 10%. Qual é a probabilidade que ocorram 
duas cheias iguais ou superiores à cheia de TR = 10 anos em dois anos 
seguidos? 
Neste caso x =2 e N=2. A probabilidade de ocorrer a cheia num ano qualquer é de 10%, ou 1/10. 
A probabilidade de ocorrer exatamente 2 cheias em 2 anos pode ser calculada pela equação 14.15. 
 
=  
 
19 9 
2! 
( ) 
0,01 
1 
10 
1 
10 
 
× 1 
− 1 
10 
2! 2 2 ! 
( 2) 
2 2 2 2 
 
=  
 
 
 
 
 
 
× 
 
× − 
= = 
− 
P X x 
Portanto, a probabilidade de ocorrerem exatamente 2 cheias em 2 anos é 1%. 
10) A probabilidade da vazão de 10 anos de tempo de retorno seja igualada ou 
excedida num ano qualquer é de 10%. Qual é a probabilidade que ocorra pelo 
menos uma cheia desta magnitude (ou superior) ao longo de um período de 5 
anos? 
Este problema poderia ser resolvido somando a probabilidade de ocorrência de 1 única vazão com estas 
características ao longo dos 5 anos com a probabilidade de ocorrência de 2 vazões, e assim por diante 
para 3, 4 e 5 casos. Porém, neste caso, a melhor forma de resolver o problema é pensar qual é a 
probabilidade de que não ocorra nenhuma vazão igual ou superior ao longo dos 5 anos, que poderá ser 
chamada de P(x=0). A probabilidade de que ocorra pelo menos uma cheia será dada por 1-P(x=0). 
Sendo assim, calculamos primeiramente a probabilidade com x =0 e N=5. 
5! 
( ) 
0 5 0 
1 
10 
1 
1 
10 
0! 5 0 ! 
( 0) 
− 
 
 
 
 
− ×  
 
× 
 
× − 
P X = = x 
0,59 
9 
10 
( 0) 1 
 
 
5 
=  
 
P X = = × x 
Portanto, a probabilidade de não ocorrer nenhuma vazão igual ou superior a vazão com TR=10 anos 
ao longo de 5 anos é de 59%. Isto significa que a probabilidade de ocorrer pelo menos uma vazão assim 
é de 41%.
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
Tabelas de distribuições de probabilidades 
Tabela A: Probabilidade de ocorrer um valor maior do que Z, considerando uma distribuição 
normal com média zero e desvio padrão igual a 1. 
Z Probabilidade 
0.0 0.5000 
0.1 0.4602 
0.2 0.4207 
0.3 0.3821 
0.4 0.3446 
0.5 0.3085 
0.6 0.2743 
0.7 0.2420 
0.8 0.2119 
0.9 0.1841 
1.0 0.1587 
1.1 0.1357 
1.2 0.1151 
1.3 0.0968 
1.4 0.0808 
1.5 0.0668 
1.6 0.0548 
1.7 0.0446 
1.8 0.0359 
1.9 0.0287 
2.0 0.0228 
2.1 0.0179 
2.2 0.0139 
2.3 0.0107 
2.4 0.0082 
2.5 0.0062 
2.6 0.0047 
2.7 0.0035 
2.8 0.0026 
2.9 0.0019 
3.0 0.0013 
20 0
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
Tabela B: Probabilidade de ocorrer um valor maior do que z, considerando uma distribuição 
normal com média zero e desvio padrão igual a 1. 
20 1 
z Probabilidade TR 
0.000 0.5 2 
0.842 0.2 5 
1.282 0.1 10 
1.751 0.04 25 
2.054 0.02 50 
2.326 0.01 100 
2.878 0.002 500 
3.090 0.001 1000 
3.719 0.0001 10000 
Tabela C: Valores de K para estimativa de vazões máximas usando a distribuição Log-Pearson 
Tipo III (os valores do coeficiente de assimetria estão na primeira coluna e os valores de K estão 
na região cinza escuro da tabela). 
Tempo de retorno / Probabilidade 
2 5 10 25 50 100 
Coeficiente de assimetria 0,5 0,2 0,1 0,04 0,02 0,01 
1,4 -0,225 0,705 1,337 2,128 2,706 3,271 
1,0 -0,164 0,758 1,340 2,043 2,542 3,022 
0,6 -0,099 0,800 1,328 1,939 2,359 2,755 
0,2 -0,033 0,830 1,301 1,818 2,159 2,472 
0,0 0,000 0,842 1,282 1,751 2,054 2,326 
-0,2 0,033 0,850 1,258 1,680 1,945 2,178 
-0,6 0,099 0,857 1,200 1,528 1,720 1,880 
-1,0 0,164 0,852 1,128 1,366 1,492 1,588 
-1,4 0,225 0,832 1,041 1,198 1,270 1,318 
Leituras adicionais 
Os métodos de estimativa de vazões máximas apresentados neste texto são 
relativamente simples e a forma de apresentação é resumida. Para realizar análises de 
vazões máximas mais rigorosas normalmente é necessário testar três ou mais 
distribuições de probabilidade teóricas, e avaliar qual é a distribuição que melhor se 
adequa aos dados. Livros sobre hidrologia estatística existem em grande número, 
principalmente em língua inglesa. Um livro dedicado exclusivamente a este tema em 
língua portuguesa, denominado Hidrologia Estatística, foi lançado recentemente no
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
Brasil, e pode ser obtido gratuitamente através da Companhia de Pesquisas de 
Recursos Minerais (CPRM), impresso ou em formato pdf (http://www.cprm.gov.br). 
A leitura deste livro permitirá ao leitor aprofundar o conhecimento introduzido neste 
capítulo. 
20 2 
Exercícios 
1) Uma análise de 40 anos de dados revelou que a chuva média anual em um 
local na bacia do rio Uruguai é de 1800 mm e o desvio padrão é de 350 mm. 
Considerando que a chuva anual neste local tem uma distribuição normal, qual 
é a chuva anual de um ano muito seco, com tempo de retorno de 10 anos? 
2) O que é a curva de permanência? 
3) Qual é a porcentagem do tempo em que é superada ou igualada a vazão Q90? 
4) Se um rio intermitente passa mais da metade do tempo completamente seco, 
qual é a sua Q80? 
5) É correto afirmar que a vazão Q90 é sempre inferior a Q95 em qualquer ponto 
de qualquer rio? E o inverso? 
6) É correto dizer que a vazão Q95 é igual à soma das vazões Q40 e Q55? Explique. 
7) Qual é o efeito de um reservatório sobre a curva de permanência de vazões de 
um rio? 
8) Considerando a idéia de risco como a probabilidade de ocorrência de um 
evento associada aos prejuízos potenciais decorrentes deste evento, avalie qual 
é a pior situação: 
a. Uma cidade protegida por um dique dimensionado para a cheia de 100 
anos de tempo retorno. Caso a cheia supere o dique, serão inundados 
2 bairros, com prejuízo total estimado em 800 milhões de reais. 
b. Uma ponte dimensionada para a cheia de 25 anos de tempo de 
retorno. Caso a cheia atinja a ponte esta será destruída. A construção 
de uma nova ponte e a interrupção temporária do tráfego totalizam 
um prejuízo de 75 milhões de reais. 
9) A tabela abaixo apresenta as vazões máximas do rio Xingu, em Altamira (PA), 
de 1971 a 1990. Estime a vazão máxima de 50 anos de tempo de retorno 
considerando válida a distribuição log-normal. Compare as estimativas usando 
a distribuição de Gumbel e a distribuição Log-Pearson tipo III.
I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 
20 3 
Ano Vazão máxima (m3/s) 
1971 15633 
1972 19116 
1973 22121 
1974 30160 
1975 22969 
1976 16773 
1977 21520 
1978 28655 
1979 24994 
1980 32330 
1981 17794 
1982 31210 
1983 19056 
1984 22422 
1985 26338 
1986 23718 
1987 20198 
1988 21881 
1989 23970 
1990 24354 
10) Calcule a vazão Q7,10 do rio Xingu em Altamira (PA) usando os dados da tabela 
abaixo. Use a distribuição de Weibull e compare com a estimativa usando a 
distribuição empírica. 
Ano Mínimas 7 dias (m3/s) 
1971 554 
1972 608 
1973 1048 
1974 1106 
1975 663 
1976 646 
1977 1017 
1978 1317 
1979 1229 
1980 1008 
1981 904 
1982 1244 
1983 1001 
1984 1249 
1985 1181 
1986 1348 
1987 964 
1988 994
W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 
11) Na cidade de Porto Amnésia um apresentador de televisão defende a remoção 
do dique que protege a cidade das cheias do rio Goiaba. Ele argumenta 
afirmando que o dique foi dimensionado para a cheia de 50 anos, e que há 65 
anos não ocorre na cidade nenhuma cheia que justificaria a construção de 
qualquer dique. Analise as idéias do apresentador. Calcule qual é a 
probabilidade de que não ocorra nenhuma cheia de tempo de retorno igual ou 
superior a 50 anos ao longo de um período de 65 anos. 
12) Na mesma cidade um arquiteto propõe a substituição de 2000 metros do dique 
por uma estrutura composta por peças móveis removíveis de 10 m de 
comprimento. Quando estas peças são expostas à pressão da água equivalente 
a que ocorreria durante uma cheia, a probabilidade de falha (para cada uma) é 
de 0,01 %. Qual é a probabilidade de que, durante uma cheia, pelo menos uma 
das peças venha a falhar? 
13) Por que as vazões mínimas são calculadas com médias de 7 dias ou de 30 dias 
e as vazões máximas são calculadas com valores instantâneos ou de média 
diária? 
20 4

More Related Content

What's hot (20)

Precipitação
PrecipitaçãoPrecipitação
Precipitação
 
Hidraúlica agrícola
Hidraúlica agrícolaHidraúlica agrícola
Hidraúlica agrícola
 
Aula de Hidrologia 03
Aula de Hidrologia 03Aula de Hidrologia 03
Aula de Hidrologia 03
 
Aula04 precipitação
Aula04   precipitaçãoAula04   precipitação
Aula04 precipitação
 
Aula 11 hidrologia estatistica
Aula 11   hidrologia estatisticaAula 11   hidrologia estatistica
Aula 11 hidrologia estatistica
 
Apostila de Hidrologia (Profa. Ticiana Studart) - Capítulo 12: Regularização ...
Apostila de Hidrologia (Profa. Ticiana Studart) - Capítulo 12: Regularização ...Apostila de Hidrologia (Profa. Ticiana Studart) - Capítulo 12: Regularização ...
Apostila de Hidrologia (Profa. Ticiana Studart) - Capítulo 12: Regularização ...
 
Hidráulica de Canais
Hidráulica de CanaisHidráulica de Canais
Hidráulica de Canais
 
Hidrologia aula introdutória
Hidrologia   aula introdutóriaHidrologia   aula introdutória
Hidrologia aula introdutória
 
Evaporaçã..
Evaporaçã..Evaporaçã..
Evaporaçã..
 
Drenagem urbana
Drenagem urbanaDrenagem urbana
Drenagem urbana
 
Estudo de demandas do sistema de abastecimento de água
Estudo de demandas do sistema de abastecimento de águaEstudo de demandas do sistema de abastecimento de água
Estudo de demandas do sistema de abastecimento de água
 
Bacia Hidrográfica
Bacia HidrográficaBacia Hidrográfica
Bacia Hidrográfica
 
Hidrologia aula 02
Hidrologia aula 02Hidrologia aula 02
Hidrologia aula 02
 
Saneamento - captação
Saneamento - captaçãoSaneamento - captação
Saneamento - captação
 
Regularização de Vazões (Parte I)
Regularização de Vazões (Parte I)Regularização de Vazões (Parte I)
Regularização de Vazões (Parte I)
 
Definição..
Definição..Definição..
Definição..
 
Exercicios resolvidos de_hidraulica
Exercicios resolvidos de_hidraulicaExercicios resolvidos de_hidraulica
Exercicios resolvidos de_hidraulica
 
Hidrologia+estatística
Hidrologia+estatísticaHidrologia+estatística
Hidrologia+estatística
 
Perdas de cargas em tubulações
Perdas de cargas em tubulaçõesPerdas de cargas em tubulações
Perdas de cargas em tubulações
 
8 permanencia de vazao
8 permanencia de vazao8 permanencia de vazao
8 permanencia de vazao
 

Viewers also liked

Manual de hidrologia básica (1)
Manual de hidrologia básica (1)Manual de hidrologia básica (1)
Manual de hidrologia básica (1)Grazi Ruas
 
Calculo da vazao projeto 2015.2
Calculo da vazao projeto 2015.2Calculo da vazao projeto 2015.2
Calculo da vazao projeto 2015.2marcosrei85
 
Introducao hidrologia
Introducao hidrologiaIntroducao hidrologia
Introducao hidrologiaCleide Soares
 
Engenharia hidraulica r. j. houghtalen 4ª ed
Engenharia hidraulica   r. j. houghtalen 4ª edEngenharia hidraulica   r. j. houghtalen 4ª ed
Engenharia hidraulica r. j. houghtalen 4ª edGabriel Reis
 
Probabilidades exercicios
Probabilidades  exerciciosProbabilidades  exercicios
Probabilidades exerciciosCidinha Santos
 
Apostila manual de hidraulica azevedo netto
Apostila manual de hidraulica azevedo nettoApostila manual de hidraulica azevedo netto
Apostila manual de hidraulica azevedo nettoHigo Rafael
 
O mito da "Super-Tecnologia da Informação e Comunicação: os problemas e desaf...
O mito da "Super-Tecnologia da Informação e Comunicação: os problemas e desaf...O mito da "Super-Tecnologia da Informação e Comunicação: os problemas e desaf...
O mito da "Super-Tecnologia da Informação e Comunicação: os problemas e desaf...Naira Michelle Alves Pereira
 
Raciocínio baseado em casos
Raciocínio baseado em casosRaciocínio baseado em casos
Raciocínio baseado em casosPatrick Peyneau
 
Pedagogia arte-el salvador
Pedagogia arte-el salvadorPedagogia arte-el salvador
Pedagogia arte-el salvadorccesv
 
Sistemas para Internet FMU
Sistemas para Internet FMUSistemas para Internet FMU
Sistemas para Internet FMUFMU - Oficial
 
Comunicação em rede (2)
Comunicação em rede (2)Comunicação em rede (2)
Comunicação em rede (2)Yasmin Buriti
 
Atelier de escrita de Natal
Atelier de escrita de Natal Atelier de escrita de Natal
Atelier de escrita de Natal Ana Paula Santos
 

Viewers also liked (20)

Manual de hidrologia básica (1)
Manual de hidrologia básica (1)Manual de hidrologia básica (1)
Manual de hidrologia básica (1)
 
Pluviometria
PluviometriaPluviometria
Pluviometria
 
Calculo da vazao projeto 2015.2
Calculo da vazao projeto 2015.2Calculo da vazao projeto 2015.2
Calculo da vazao projeto 2015.2
 
Ave
AveAve
Ave
 
Introducao hidrologia
Introducao hidrologiaIntroducao hidrologia
Introducao hidrologia
 
Engenharia hidraulica r. j. houghtalen 4ª ed
Engenharia hidraulica   r. j. houghtalen 4ª edEngenharia hidraulica   r. j. houghtalen 4ª ed
Engenharia hidraulica r. j. houghtalen 4ª ed
 
Probabilidades exercicios
Probabilidades  exerciciosProbabilidades  exercicios
Probabilidades exercicios
 
Apostila manual de hidraulica azevedo netto
Apostila manual de hidraulica azevedo nettoApostila manual de hidraulica azevedo netto
Apostila manual de hidraulica azevedo netto
 
O mito da "Super-Tecnologia da Informação e Comunicação: os problemas e desaf...
O mito da "Super-Tecnologia da Informação e Comunicação: os problemas e desaf...O mito da "Super-Tecnologia da Informação e Comunicação: os problemas e desaf...
O mito da "Super-Tecnologia da Informação e Comunicação: os problemas e desaf...
 
Case e-Sergipe
Case e-SergipeCase e-Sergipe
Case e-Sergipe
 
Super agosto 2012
Super agosto 2012Super agosto 2012
Super agosto 2012
 
Tecno Assistiva
Tecno AssistivaTecno Assistiva
Tecno Assistiva
 
Raciocínio baseado em casos
Raciocínio baseado em casosRaciocínio baseado em casos
Raciocínio baseado em casos
 
Pedagogia arte-el salvador
Pedagogia arte-el salvadorPedagogia arte-el salvador
Pedagogia arte-el salvador
 
Sistemas para Internet FMU
Sistemas para Internet FMUSistemas para Internet FMU
Sistemas para Internet FMU
 
Estatística
EstatísticaEstatística
Estatística
 
Arqueologia rio Piquiri
Arqueologia rio PiquiriArqueologia rio Piquiri
Arqueologia rio Piquiri
 
Notas de corte sisu 2011
Notas de corte sisu 2011Notas de corte sisu 2011
Notas de corte sisu 2011
 
Comunicação em rede (2)
Comunicação em rede (2)Comunicação em rede (2)
Comunicação em rede (2)
 
Atelier de escrita de Natal
Atelier de escrita de Natal Atelier de escrita de Natal
Atelier de escrita de Natal
 

Recently uploaded

Estatística aplicada à experimentação animal
Estatística aplicada à experimentação animalEstatística aplicada à experimentação animal
Estatística aplicada à experimentação animalleandroladesenvolvim
 
Aula de classificação de rolamentos norma DIN
Aula de classificação de rolamentos norma DINAula de classificação de rolamentos norma DIN
Aula de classificação de rolamentos norma DINFabioFranca22
 
Tecnólogo em Mecatrônica - Universidade Anhanguera
Tecnólogo em Mecatrônica - Universidade AnhangueraTecnólogo em Mecatrônica - Universidade Anhanguera
Tecnólogo em Mecatrônica - Universidade AnhangueraGuilhermeLucio9
 
A Importância dos EPI's no trabalho e no dia a dia laboral
A Importância dos EPI's no trabalho e no dia a dia laboralA Importância dos EPI's no trabalho e no dia a dia laboral
A Importância dos EPI's no trabalho e no dia a dia laboralFranciscaArrudadaSil
 
LEAN SIX SIGMA - Garantia da qualidade e segurança
LEAN SIX SIGMA - Garantia da qualidade e segurançaLEAN SIX SIGMA - Garantia da qualidade e segurança
LEAN SIX SIGMA - Garantia da qualidade e segurançaGuilhermeLucio9
 
FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO. matéria de fisiologia animal
FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO. matéria de fisiologia animalFISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO. matéria de fisiologia animal
FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO. matéria de fisiologia animalPauloHenrique154965
 
Eletricista instalador - Senai Almirante Tamandaré
Eletricista instalador - Senai Almirante TamandaréEletricista instalador - Senai Almirante Tamandaré
Eletricista instalador - Senai Almirante TamandaréGuilhermeLucio9
 
MODELO LAUDO AVALIAÇÃO MÁQUINAS EQUIPAM
MODELO LAUDO AVALIAÇÃO MÁQUINAS  EQUIPAMMODELO LAUDO AVALIAÇÃO MÁQUINAS  EQUIPAM
MODELO LAUDO AVALIAÇÃO MÁQUINAS EQUIPAMCassio Rodrigo
 
Livro Vibrações Mecânicas - Rao Singiresu - 4ª Ed.pdf
Livro Vibrações Mecânicas - Rao Singiresu - 4ª Ed.pdfLivro Vibrações Mecânicas - Rao Singiresu - 4ª Ed.pdf
Livro Vibrações Mecânicas - Rao Singiresu - 4ª Ed.pdfSamuel Ramos
 
PLANO DE EMERGÊNCIA E COMBATE A INCENDIO.pdf
PLANO DE EMERGÊNCIA E COMBATE A INCENDIO.pdfPLANO DE EMERGÊNCIA E COMBATE A INCENDIO.pdf
PLANO DE EMERGÊNCIA E COMBATE A INCENDIO.pdfAroldoMenezes1
 

Recently uploaded (10)

Estatística aplicada à experimentação animal
Estatística aplicada à experimentação animalEstatística aplicada à experimentação animal
Estatística aplicada à experimentação animal
 
Aula de classificação de rolamentos norma DIN
Aula de classificação de rolamentos norma DINAula de classificação de rolamentos norma DIN
Aula de classificação de rolamentos norma DIN
 
Tecnólogo em Mecatrônica - Universidade Anhanguera
Tecnólogo em Mecatrônica - Universidade AnhangueraTecnólogo em Mecatrônica - Universidade Anhanguera
Tecnólogo em Mecatrônica - Universidade Anhanguera
 
A Importância dos EPI's no trabalho e no dia a dia laboral
A Importância dos EPI's no trabalho e no dia a dia laboralA Importância dos EPI's no trabalho e no dia a dia laboral
A Importância dos EPI's no trabalho e no dia a dia laboral
 
LEAN SIX SIGMA - Garantia da qualidade e segurança
LEAN SIX SIGMA - Garantia da qualidade e segurançaLEAN SIX SIGMA - Garantia da qualidade e segurança
LEAN SIX SIGMA - Garantia da qualidade e segurança
 
FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO. matéria de fisiologia animal
FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO. matéria de fisiologia animalFISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO. matéria de fisiologia animal
FISIOLOGIA DA REPRODUÇÃO. matéria de fisiologia animal
 
Eletricista instalador - Senai Almirante Tamandaré
Eletricista instalador - Senai Almirante TamandaréEletricista instalador - Senai Almirante Tamandaré
Eletricista instalador - Senai Almirante Tamandaré
 
MODELO LAUDO AVALIAÇÃO MÁQUINAS EQUIPAM
MODELO LAUDO AVALIAÇÃO MÁQUINAS  EQUIPAMMODELO LAUDO AVALIAÇÃO MÁQUINAS  EQUIPAM
MODELO LAUDO AVALIAÇÃO MÁQUINAS EQUIPAM
 
Livro Vibrações Mecânicas - Rao Singiresu - 4ª Ed.pdf
Livro Vibrações Mecânicas - Rao Singiresu - 4ª Ed.pdfLivro Vibrações Mecânicas - Rao Singiresu - 4ª Ed.pdf
Livro Vibrações Mecânicas - Rao Singiresu - 4ª Ed.pdf
 
PLANO DE EMERGÊNCIA E COMBATE A INCENDIO.pdf
PLANO DE EMERGÊNCIA E COMBATE A INCENDIO.pdfPLANO DE EMERGÊNCIA E COMBATE A INCENDIO.pdf
PLANO DE EMERGÊNCIA E COMBATE A INCENDIO.pdf
 

Hidrologia+estatística

  • 1. Hidrologia Estatística Capítulo 14 s variáveis hidrológicas como chuva e vazão têm como característica básica uma grande variabilidade no tempo. Para analisar a vazão de um rio ou a precipitação em um local ou região, incluindo a sua variabilidade temporal, é necessário utilizar alguns valores estatísticos que resumem, em grande parte, o comportamento hidrológico do rio ou da bacia. Entre as estatísticas mais importantes estão a média, a média mensal, a variância, os mínimos e máximos. A média A vazão ou precipitação média é a média de toda a série de vazões ou precipitações registradas, e é muito importante na avaliação da disponibilidade hídrica total de uma bacia. Σ x i = = 1 n x n i A vazão média específica é a vazão média dividida pela área de drenagem da bacia. As vazões médias mensais representam o valor médio da vazão para cada mês do ano, e são importantes para analisar a sazonalidade de um rio. A figura ao lado apresenta um gráfico das vazões médias mensais do rio Cuiabá na seção da cidade de Cuiabá, com base nos dados de 1967 a 1999. A Figura 14. 1 : Vazões médias por mês do ano no rio Cuiabá, em Cuiabá.
  • 2. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S Observa-se nesta figura que há uma sazonalidade marcada, com estiagem no inverno e vazões altas no verão. As maiores vazões mensais médias ocorrem em Fevereiro e as menores em Agosto, o que é conseqüência direta da sazonalidade das chuvas, que ocorrem de forma concentrada no período de verão. A mediana A mediana é o valor que é superado em 50% dos pontos da amostra. A média e a mediana podem ter valores relativamente próximos, porém não iguais. A mediana pode ser obtida organizando os n valores xi da amostra em ordem crescente. Sendo k x com k = 1 a n, os valores de x organizados em ordem decrescente, a mediana é obtida por: 17 2 p Mediana = x com 1 2 1 + − = n p se n for ímpar; e +1 + = p p x x Mediana se n for par. 2 O desvio padrão O desvio padrão é uma medida de dispersão dos valores de uma amostra em torno da média. O desvio padrão é dado por: ( x − x ) 1 1 2 − = Σ = n s n i i o quadrado do desvio padrão s2 é chamada variância da amostra. O coeficiente de variação O coeficiente de variação é uma relação entre o desvio padrão e a média. O coeficiente de variação é uma medida da variabilidade dos valores em torno da média, relativamente à própria média.
  • 3. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 17 3 s x cv = E X EMP LO 1) O seguinte conjunto de valores apresenta a chuva anual ocorrida em uma cidade ao longo de 30 anos. Calcule a média, o desvio padrão e o coeficiente de variação destes dados. ano P (mm) ano P (mm) ano P (mm) 1954 1671 1964 2024 1974 1357 1955 1485 1965 1305 1975 2023 1956 1766 1966 1644 1976 1390 1957 1565 1967 1908 1977 1641 1958 2082 1968 1913 1978 1585 1959 1370 1969 1485 1979 1526 1960 1926 1970 1693 1980 1962 1961 2042 1971 1313 1981 1672 1962 1691 1972 1567 1982 1404 1963 1491 1973 1493 1983 1352 A média é de 1645,1 mm por ano, o desvio padrão é de 241,9 mm por ano e o coeficiente de variação é de 0,15. O coeficiente de assimetria O coeficiente de assimetria é um valor que caracteriza o quanto uma amostra de dados é assimétrica com relação à média. Uma amostra é simétrica com relação à média se o histograma dos dados revela o mesmo comportamento de ambos os lados da média. ( x x ) 3 n i 1 3 i n s G × − = Σ = A assimetria é chamada positiva quando o valor de G é positivo e a assimetria é negativa quando o valor de G é negativo. Algumas variáveis importantes na hidrologia, como as vazões máximas anuais em rios, apresentam uma assimetria positiva.
  • 4. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S Assimetria Valor de G Exemplo de histograma Nula 0 ou próximo 17 4 de zero Positiva G > 0 Negativa G < 0 O cálculo da assimetria de uma amostra é um pouco mais complexo do que o da média e do desvio padrão. A maior parte das calculadoras simples não permite calcular diretamente o coeficiente de assimetria. No programa Excel a função chamada “Distorção” permite calcular o coeficiente de assimetria. Quartis e quantis Quantis separam a amostra de forma semelhante à mediana, porém em intervalos diferentes. Enquanto a mediana separa a amostra em dois grupos, com 50% dos dados com valores inferiores e 50% dos dados com valores superiores à mediana, os quartis e os quantis divdem a amostra em grupos de tamanhos diferentes. O primeiro Quartil é o valor que separa a amostra em dois grupos em que 25% dos pontos tem valor inferior ao quartil e 75% tem valor superior ao quartil. O terceiro Quartil é o valor que separa a amostra em dois grupos em que 75% dos pontos tem valor inferior ao quartil e 25% tem valor superior ao quartil. Já o segundo quartil é a própria mediana. Além dos três quartis, que separam a amostra em quatro, podem ser definidos quantis arbitrários, que dividem a amostra arbitrariamente em frações diferentes. Por exemplo,
  • 5. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A o quantil 90 % divide a amostra em dois grupos. O primeiro (90% dos dados) tem valores inferiores ao quantil 90% e o segundo (10% dos dados) tem valores superiores ao quantil 90%. No programa Excel é possível obter os quantis desejados usando uma função denominada Percentil. A curva de permanência A curva de permanência é equivalente a um histograma de freqüências acumuladas relativas das vazões de um rio em um determinado local. A elaboração da curva de permanência é uma das análises estatísticas mais simples e mais importantes na hidrologia. A curva de permanência auxilia na análise dos dados de vazão com relação a perguntas como as destacadas a seguir. • O rio tem uma vazão aproximadamente constante ou extremamente variável entre os extremos máximo e mínimo? • Qual é a porcentagem do tempo em que o rio apresenta vazões em 17 5 determinada faixa? • Qual é a porcentagem do tempo em que um rio tem vazão suficiente para atender determinada demanda? A curva de permanência expressa a relação entre a vazão e a freqüência com que esta vazão é superada ou igualada. A curva de permanência pode ser elaborada a partir de dados diários ou dados mensais de vazão. Na prática, a curva de permanência é relativamente fácil de obter, desde que existam dados de vazão. Usando a planilha de cálculo Excel, por exemplo, a curva de permanência pode ser gerada calculando os valores dos quantis de 1% a 99%, usando a função Percentil. O percentil 1% corresponde à vazão que é superada 99% do tempo, o percentil 10% corresponde à vazão que é superada em 90% do tempo. A Figura 14. 2 apresenta o hidrograma de vazões diárias do rio Taquari, em Muçum (RS), e a curva de permanência que corresponde aos mesmos dados apresentados no hidrograma. Observa-se que a vazão de 1000 m3.s-1 é igualada ou superada em menos de 10% do tempo. Apesar de apresentar picos de cheias com 7000 m3.s-1 ou mais, na maior parte do tempo as vazões do rio Taquari neste local são bastante inferiores a 500 m3.s-1. Para destacar mais a faixa de vazões mais baixas a curva de permanência é apresentada com eixo vertical logarítmico, como mostra a Figura 14. 3.
  • 6. Figura 14. 2: Hidrograma de vazões diárias do rio Taquari em Muçum (RS) e a curva de permanência correspondente. Figura 14. 3: Curva de permanência do rio Taquari em Muçum com eixo das vazões logarítmico para dar destaque à faixa de vazões mais baixas. Alguns pontos da curva de permanência recebem atenção especial: • A vazão que é superada em 50% do tempo (mediana das vazões) é a chamada Q50.
  • 7. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A • A vazão que é superada em 90% do tempo é chamada de Q90 e é utilizada como referência para legislação na área de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos em muitos Estados do Brasil. • A vazão que é superada em 95% do tempo é chamada de Q95 e é utilizada para definir a Energia Assegurada de uma usina hidrelétrica. E X EMP LO 2) Os dados de vazão do rio Descoberto em Santo Antônio do Descoberto (GO) foram organizados na forma de uma curva de permanência, como mostra a figura abaixo. Um empreendedor solicita outorga de 2,5 m3.s-1 num ponto próximo no mesmo rio. Considerando que a legislação permite outorgar apenas 20% da Q90 a cada solicitante, responda: é possível atender a solicitação? Observa-se na curva de permanência que a vazão Q90 é de 7 m3.s-,1 aproximadamente. Portanto a máxima vazão que pode ser outorgada para um usuário individual neste ponto corresponde a: 17 7 max Q 0,2 7 1,4m s− = × = × 3 1 Como o empreendedor solicitou 2,5 m3.s-,1 não é possível atender sua solicitação. A curva de permanência também é útil para diferenciar o comportamento de rios e para avaliar o efeito de modificações como desmatamento, reflorestamento, construção de reservatórios e extração de água para uso consuntivo.
  • 8. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S A Figura 14. 4 apresenta as curvas de permanência dos rios Cuiabá, em Cuiabá (MT), e Taquari, em Coxim (MS), baseadas nos dados de vazão diária de 1980 a 1984. As duas bacias tem áreas de drenagem de tamanho semelhante. A bacia do rio Cuiabá tem, aproximadamente, 22.000 km2, e a do rio Taquari cerca de 27.000 km2. O relevo e a precipitação média anual são semelhantes. A vazão média do rio Cuiabá é de 438 m3.s-1 neste período, enquanto a vazão média do rio Taquari é de 436 m3.s-1, ou seja, são praticamente idênticas. Entretanto, observa-se que as vazões mínimas são mais altas no rio Taquari do que no rio Cuiabá e as vazões máximas são maiores no rio Cuiabá. O rio Cuiabá apresenta maior variabilidade das vazões, que se alternam rapidamente entre situações de baixa e de alta vazão, enquanto o rio Taquari permanece mais tempo com vazões próximas da média. Esta diferença ocorre basicamente porque a geologia da bacia do rio Taquari favorece mais a infiltração da água no solo, e esta água chega ao rio apenas após um longo período em que fica armazenada no subsolo. A vazão do rio Taquari é naturalmente regularizada pelos aqüíferos existentes na bacia, enquanto que na bacia do rio Cuiabá este efeito não é tão importante. Figura 14. 4: Comparação entre as curvas de permanência dos rios Taquari (MS) e Cuiabá (MT). A Figura 14. 5 apresenta as curvas de permanência de vazão afluente (entrada) e efluente (saída) do reservatório de Três Marias, no rio São Francisco (MG). Este reservatório tem um grande volume e uma grande capacidade de regularização, permitindo reter grande parte das vazões altas que ocorrem durante o período do verão, aumentando a disponibilidade de água no período de estiagem. Como resultado observa-se que a vazão Q90 é alterada de 148 m3.s-1 para 379 m3.s-1 pelo efeito de regularização do reservatório, enquanto a vazão Q95 é alterada de 120 m3.s-1 para 335 m3.s-1. 17 8
  • 9. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Figura 14. 5: Curvas de permanência de vazão afluente e efluente do reservatório de Três Marias, no rio São Francisco (MG). Portanto o efeito da regularização da vazão sobre a curva de permanência é torná-la mais horizontal, com valores mais próximos da mediana durante a maior parte do tempo. Séries temporais A vazão de um rio é uma variável que se modifica de forma contínua no tempo, e pode ser representada em um hidrograma, que é o gráfico que relaciona os valores de vazão com o tempo, como na Figura 14. 6. Diversas análises estatísticas de dados hidrológicos são realizadas de forma mais conveniente sobre valores discretos no tempo, ao contrário das seqüências contínuas. A partir de uma seqüência contínua de vazões é possível identificar séries temporais de valores discretos, como, por exemplo, as vazões médias anuais, as vazões máximas anuais e as vazões mínimas anuais, conforme representado na Figura 14. 7 e na Tabela 14. 1. As séries discretas que são obtidas a partir da observação de alguns anos de dados de vazão são tratadas como amostras do comportamento de um rio ou de uma bacia. A população, neste caso, seriam todos os anos de existência de um rio. A vazão é considerada uma variável aleatória porque depende de fenômenos climáticos complexos e de difícil previsibilidade a partir de um certo horizonte. 17 9
  • 10. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S Figura 14. 6: As vazões variam continuamente no tempo (linha) mas a partir dos dados de vazão é possível gerar séries temporais discretas, como as médias, máximas (triângulos) e mínimas (círculos) anuais (adaptado de Dingman, 2002). Figura 14. 7: Gráfico das séries discretas de médias, mínimas e máximas anuais. 18 0
  • 11. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Tabela 14. 1: Valores das séries temporais discretas de vazões médias, mínimas e máximas anuais relativos à figura anterior. Ano Vazão média anual Vazão mínima anual Vazão máxima anual 1990 95 57 132 1991 93 69 126 1992 72 48 100 1993 86 60 113 1994 56 29 80 1995 73 53 88 1996 96 68 132 Risco, probabilidade e tempo de retorno Séries temporais discretas são convenientes para avaliar riscos em hidrologia. Risco é muitas vezes entendido como um sinônimo de probabilidade, mas em hidrologia é mais adequado considerar o risco como a probabilidade de ocorrência de um evento multiplicada pelos prejuízos que se espera da ocorrência deste evento. Projetos de estruturas hidráulicas sempre são elaborados admitindo probabilidades de falha. Por exemplo, as pontes de uma estrada são projetadas com uma altura tal que a probabilidade de ocorrência de uma cheia que atinja a ponte seja de apenas 1% num ano qualquer. Isto ocorre porque é muito caro dimensionar as pontes para a maior vazão possível, por isso admite-se uma probabilidade, ou risco, de que a estrutura falhe. Isto significa que podem ocorrer vazões maiores do que a vazão adotada no dimensionamento. A probabilidade admitida pode ser maior ou menor, dependendo do tipo de estrutura. A probabilidade admitida para a falha de uma estrutura hidráulica é menor se a falha desta estrutura provocar grandes prejuízos econômicos ou mortes de pessoas. Assim, a probabilidade de falha admitida para um dique de proteção de uma cidade é a probabilidade de que ocorra uma cheia em que o nível da água supere o nível de proteção do dique. Diques que protegem grandes cidades deveriam ser construídos admitindo uma probabilidade menor de falha do que diques de proteção de pequenas áreas agrícolas. A Tabela 14. 2 apresenta o tempo de retorno em anos adotado, normalmente, para diferentes tipos de estrutura. 18 1
  • 12. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S Tabela 14. 2: Tempo de retorno adotado para diferentes estruturas, de acordo com o risco associado. Estrutura TR (anos) Bueiros de estradas pouco movimentadas 5 a 10 Bueiros de estradas muito movimentadas 50 a 100 Pontes 50 a 100 Diques de proteção de cidades 50 a 200 Drenagem pluvial 2 a 10 Grandes barragens (vertedor) 10.000 Pequenas barragens 100 O risco também pode estar relacionado a situações de vazões mínimas. Por exemplo, considere uma cidade que utilize a água de um rio para abastecimento da população. Dependendo do tamanho da população e das características do rio, existe um sério risco de que, num ano qualquer, ocorram alguns dias em que a vazão do rio é inferior à vazão necessária para abastecer a população. No caso da análise de vazões máximas, são úteis os conceitos de probabilidade de excedência e de tempo de retorno de uma dada vazão. A probabilidade anual de excedência de uma determinada vazão é a probabilidade que esta vazão venha a ser igualada ou superada num ano qualquer. O tempo de retorno desta vazão é o intervalo médio de tempo, em anos, que decorre entre duas ocorrências subseqüentes de uma vazão maior ou igual. O tempo de retorno é o inverso da probabilidade de excedência como expresso na seguinte equação: 18 2 P TR 1 = (14.1) onde TR é o tempo de retorno em anos e P é a probabilidade de ocorrer um evento igual ou superior em um ano qualquer. No caso de vazões mínimas, P refere-se à probabilidade de ocorrer um evento com vazão igual ou inferior. A equação acima indica que a probabilidade de ocorrência de uma cheia de 10 anos de tempo de retorno, ou mais, num ano qualquer é de 0,1 (ou 10%). A vazão máxima de 10 anos de tempo de retorno (TR = 10 anos) é excedida em média 1 vez a cada dez anos. Isto não significa que 2 cheias de TR = 10 anos não possam ocorrem em 2 anos seguidos. Também não significa que não possam ocorrer 20 anos seguidos sem vazões iguais ou maiores do que a cheia de TR=10 anos. Existem duas formas de atribuir probabilidades e tempos de retorno às vazões máximas e mínimas: métodos empíricos e métodos analíticos.
  • 13. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Probabilidades empíricas podem ser estimadas a partir da observação das variáveis aleatórias. Por exemplo, a probabilidade de que uma moeda caia com a face “cara” virada para cima é de 50%. Esta probabilidade pode ser estimada empiricamente lançando a moeda 100 vezes e contando quantas vezes cada uma das faces fica voltada para cima. O problema das probabilidades empíricas é que quando o tamanho da amostra é pequeno, a estimativa tende a ser muito incerta. Suponha, por exemplo, que apenas 6 lançamentos sejam feitos para estimar a probabilidade de que uma moeda caia com a face “cara” voltada para cima. É possível que seja estimada uma probabilidade muito diferente de 50%. Para contornar este problema é comum supor que os dados hidrológicos sejam aleatórios e que sigam uma determinada distribuição de probabilidade analítica, como a distribuição normal, por exemplo. Esta metodologia analítica permite explorar melhor as amostras relativamente pequenas de dados hidrológicos, como se descreve na seqüência deste capítulo. Chuvas anuais e a distribuição normal O total de chuva que cai ao longo de um ano pode ser considerado uma variável aleatória com distribuição aproximadamente normal. Esta suposição permite explorar melhor amostras relativamente pequenas, com apenas 20 anos, por exemplo. A distribuição normal é descrita em qualquer livro introdutório de estatística e se aplica a muitos tipos de informações da natureza. Um gráfico da função densidade de probabilidade da distribuição normal tem uma forma de sino e é simétrica com relação à média, que é o valor central. A forma em sino indica que existe uma probabilidade maior de ocorrerem valores próximos à média do que nos extremos mínimo e máximo. A função densidade de probabilidade (PDF) da distribuição normal é uma expressão que depende de dois parâmetros: a média e o desvio padrão da população, conforme a equação seguinte: 18 3 ( )              −    1 × − × × × = 2 2 exp 2 1 μ x x x x x f x s p s (14.2) onde μx é a média da população e sx é o desvio padrão da população. Para o caso mais simples, em que a média da população é zero e o desvio padrão igual a 1, a expressão acima fica simplifcada:
  • 14. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S  1 2 z ( ) × −  18 4   × = 2 exp 2 f z z p (14.3) onde z é uma variável aleatória com média zero e desvio padrão igual a 1. O gráfico desta última é apresentado na Figura 14. 8. A área total sob a curva é igual a 1. A área hachurada representa a probabilidade de ocorrência de um valor maior do que z (figura de cima) ou menor do que z (figura de baixo). A área sob a curva pode ser calculada por integração analítica, mas resulta numa série infinita. Por este motivo, as aplicações práticas são mais comuns na forma de tabelas que relacionam o valor de z com a probabilidade de ocorrer um valor maior do que z ou menor do que z. Existem, também, tabelas que fornecem valores da área entre 0 e z, ou de –z a z. No final do capítulo é apresentada uma tabela de probabilidades da distribuição normal. No programa Excel é possível obter os valores das probabilidades utilizando a função DIST.NORMP(z), que dá a probabilidade de ocorrer um valor inferior a z. Lembrando a relação entre probabilidades e tempos de retorno, é interessante saber os valores de z que correspondem a alguns valores específicos de probabilidade, como 0,1 0,01 e 0,001. Estes valores correspondem aos tempos de retorno de 10, 100 e 1000 anos. No final do capítulo é apresentada uma tabela de probabilidades da distribuição normal, indicando os valores de z correspondentes aos tempos de retorno de 2 a 10000 anos. Figura 14. 8: Gráfico da distribuição normal (na figura superior é indicada a área hachurada que representa a probabilidade de ocorrer um valor maior do que z; e na figura inferior é indicada a área hachurada que representa a probabilidade de ocorrer um valor menor do que z).
  • 15. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Uma variável aleatória x com média μx e desvio padrão sx pode ser transformada em uma variável aleatória z, com média zero e desvio padrão igual a 1 pela transformação abaixo: = (14.4) 18 5 − μ x x x z s Esta transformação pode ser utilizada para estimar a probabilidade associada a um determinado evento hidrológico em que a variável segue uma distribuição normal. Considere, por exemplo, a chuva anual em um determinado local. Anos com chuva próxima da média são relativamente freqüentes, enquanto anos muito chuvosos ou muito secos são menos freqüentes. Em muitos locais as chuvas anuais seguem, aproximadamente uma distribuição normal, como mostra a Figura 14. 9. Figura 14. 9: Histograma de freqüências de chuvas anuais no posto pluviométrico localizado em Lamounier, MG. A probabilidade de ocorrência de chuvas anuais superiores a 2000 mm, por exemplo, pode ser estimada a partir da análise dos dados de n anos, e da suposição de que os dados seguem uma distribuição normal. E X EMP LOS 3) As chuvas anuais no posto pluviométrico localizado em Lamounier, em Minas Gerais (Código 02045005) seguem, aproximadamente, uma distribuição
  • 16. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S normal, com média igual a 1433 mm e desvio padrão igual a 299 mm. Qual é a probabilidade de ocorrer um ano com chuva total superior a 2000 mm? Considerando que a média e o desvio padrão da amostra disponível sejam boas aproximações da média e do desvio padrão da população, pode se estimar o valor da variável reduzida z para o valor de 2000 mm: 1,896 18 6 2000 1433 299 = − = − μ x x x @ − = s z x x s de acordo com a Tabela A, no final do capítulo, a probabilidade de ocorrência de um valor maior do que z=1,896 é de aproximadamente 0,0287 (valor correspondente a z=1,9). Portanto, a probabilidade de ocorrer um ano com chuva total superior a 2000 mm é de, aproximadamente, 2,87%. O tempo de retorno correspondente é de pouco menos de 35 anos. Isto significa que, em média, um ano a cada 35 apresenta chuva total superior a 2000 mm neste local. 4) As chuvas anuais no posto pluviométrico localizado em Lamounier, em Minas Gerais (Código 02045005) seguem, aproximadamente, uma distribuição normal, com média igual a 1433 mm e desvio padrão igual a 299 mm. Qual é a probabilidade de ocorrer um ano com chuva total inferior a 550 mm? A distribuição normal é simétrica. A probabilidade de ocorrer um valor superior a z é igual à probabilidade de ocorrer um valor inferior a –z. Assim, 2,95 550 1433 299 = − − = − μ x x x @ − = s z x x s de acordo com a Tabela A, no final do capítulo, a probabilidade de ocorrência de um valor maior do que z=2,95está entre 0,0012 e 0,0019. Portanto, a probabilidade de ocorrer um ano com chuva total superior a 2000 mm é de, aproximadamente, 0,15%. O tempo de retorno correspondente é de pouco menos de 666 anos. Isto significa que, em média, um ano a cada 666 apresenta chuva total inferior a 550 mm neste local. Vazões máximas Selecionando apenas as vazões máximas de cada ano em um determinado local, é obtida a série de vazões máximas deste local e é possível realizar análises estatísticas relacionando vazão com probabilidade. As séries de vazões disponíveis na maior parte dos locais (postos fluviométricos) são relativamente curtas, não superando algumas dezenas de anos.
  • 17. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Distribuição empírica Analisando as vazões do rio Cuiabá no período de 1984 a 1992, por exemplo, podemos selecionar de cada ano apenas o valor da maior vazão, e analisar apenas as vazões máximas (Tabela 14. 3). Reorganizando as vazões máximas para uma ordem decrescente, podemos atribuir uma probabilidade de excedência empírica a cada uma das vazões máximas da série, utilizando a fórmula de Weibull: P (14.5) 18 7 m +1 = N onde N é o tamanho da amostra (número de anos); e m é a ordem da vazão (para a maior vazão m=1 e para a menor vazão m=N). O resultado é apresentado na Tabela 14. 4. Figura 14. 10: Série de vazões do rio Cuiabá em Cuiabá, de 1984 ao final de 1991, evidenciando a vazão máxima de cada ano.
  • 18. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 18 8 Tabela 14. 3: Vazões máximas anuais entre 1984 e 1991. Ano Q máx 1984 1796.8 1985 1492.0 1986 1565.0 1987 1812.0 1988 2218.0 1989 2190.0 1990 1445.0 1991 1747.0 Tabela 14. 4: Vazões máximas reorganizadas em ordem decrescente, com ordem e probabilidade empírica associada. Ano Vazão (m3/s) Ordem Probabilidade TR (anos) 1988 2218.0 1 0.11 9.0 1989 2190.0 2 0.22 4.5 1987 1812.0 3 0.33 3.0 1984 1796.8 4 0.44 2.3 1991 1747.0 5 0.56 1.8 1986 1565.0 6 0.67 1.5 1985 1492.0 7 0.78 1.3 1990 1445.0 8 0.89 1.1 O problema da estimativa empírica de probabilidades é que não é possível extrapolar a estimativa para tempos de retorno maiores. Por exemplo, se é necessário estimar a vazão máxima de 100 anos de tempo de retorno, mas existem apenas 18 anos de dados observados, as probabilidades empíricas permitem estimar vazões máximas de TR próximo de 18 anos. Distribuição normal Para extrapolar as estimativas de vazão máxima é necessário supor que as vazões máximas anuais seguem uma distribuição de probabilidades conhecida, como no caso das chuvas anuais. Vazões máximas segundo uma distribuição normal podem ser estimadas por: x = x + K × s (14.6) onde x é a vazão máxima para uma dada probabilidade; x é a média das vazões máximas anuais; e s é o desvio padrão das vazões máximas anuais. O valor de K é obtido de tabelas de distribuição normal (equivalente ao z nas tabelas A e B ao final do capítulo).
  • 19. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Infelizmente, porém, as vazões máximas não seguem a distribuição normal. Histogramas de vazões máximas anuais tendem a apresentar uma forte assimetria positiva (longa cauda na direção dos maiores valores), o que invalida o uso da distribuição normal (Figura 14. 11). Figura 14. 11: Comparação entre um histograma de vazões máximas observadas do rio Cuiabá em Cuiabá entre 1967 e 1999 e a distribuição normal. Para superar este problema existem outras distribuições de probabilidade que são, normalmente, utilizadas para a análise de vazões máximas. A mais simples destas distribuições é a denominada log-normal. Nesta distribuição a suposição é que os logaritmos das vazões seguem uma distribuição normal. 18 9 Distribuição log-normal A distribuição normal parte da equação: ( ) ( ) x x x K slog log = log + × (14.7) onde log(x) é o logaritmo da vazão máxima; log(x) é a média dos logaritmos das vazões máximas anuais observadas; slogx é o desvio padrão dos logaritmos das vazões máximas anuais observadas. O valor de K é obtido das tabelas A e B do final do capítulo (K é equivalente a z dado nas tabelas). Se o objetivo da análise é determinar a vazão de 100 anos de tempo de retorno em um determinado local, por exemplo, a seqüência de etapas para a estimativa supondo que os dados correspondem a uma distribuição log-normal é a seguinte: • Obter vazões máximas de N anos
  • 20. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S • Calcular os logaritmos das vazões máximas • Calcular a média e o desvio padrão dos logaritmos das vazões máximas • Obter o valor de z para a probabilidade correspondente ao tempo de retorno 19 0 de 100 anos • Obter o valor do logaritmo da vazão de tempo de retorno de 100 anos a partir da equação 14.7. • Obter o valor da vazão através da função inversa do logaritmo. Esta seqüência de etapas fica mais clara na aplicação em um exemplo. E X EMP LO 5) As vazões máximas anuais do rio Guaporé no posto fluviométrico Linha Colombo são apresentadas na tabela abaixo. Utilize a distribuição log-normal para estimar a vazão máxima com 100 anos de tempo de retorno. ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA 1940 953 1950 1192 1960 falha 1970 365 1980 653 1990 falha 1941 1171 1951 356 1961 718 1971 671 1981 537 1991 falha 1942 723 1952 246 1962 503 1972 1785 1982 945 1992 falha 1943 267 1953 1093 1963 falha 1973 726 1983 1650 1993 1115 1944 646 1954 840 1964 457 1974 397 1984 1165 1995 639 1945 365 1955 622 1965 915 1975 480 1985 888 1946 1359 1956 falha 1966 742 1976 falha 1986 728 1947 411 1957 598 1967 840 1977 673 1987 809 1948 480 1958 646 1968 331 1978 760 1988 945 1949 365 1959 953 1969 320 1979 780 1989 1380 Este exemplo apresenta uma situação muito comum na análise de dados hidrológicos: as falhas. As falhas são períodos em que não houve observação. As falhas são desconsideradas na análise, assim o tamanho da amostra é N=48. Utilizando logaritmos de base decimal, a média dos logaritmos das vazoes máximas é 2,831 e o desvio padrão é 0,206. Para o tempo de retorno de 100 anos a probabilidade de excedência é igual a 0,01. Na tabela B, ao final do capítulo, pode-se obter o valor de z correspondente (z=2,326). A vazão máxima de TR=100 anos é obtida por: x x s z − @ 2,831 0,206 2,326 − @ x x = 2,326 × 0,206 + 2,831 = 3,31
  • 21. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 19 1 10 2041 3,31 Q = = Portanto, a vazão máxima de 100 anos de tempo de retorno é 2041 m3/s. Este procedimento pode ser repetido para outros valores de TR, e o resultado pode ser apresentado na forma de um gráfico, relacionando vazão com tempo de retorno, como na figura a seguir. Nesta figura fica claro, também, que a suposição de uma distribuição log-normal é muito mais adequada do que a suposição de uma distribuição normal. As vazões máximas estimadas com as probabilidades empíricas são mostradas pelos pontos, a distribuioção normal é apresentada como a linha pontilhada e a linha contínua mostra vazões máximas estimadas com a distribuição log-normal. Distribuição Log-Pearson Tipo III A distribuição Log-Pearson Tipo III pode ser descrita por três parâmetros: a média, o desvio padrão e o coeficiente de assimetria. A equação utilizada para estimar a vazão máxima é igual à utilizada na distribuição Log- Normal, entretanto o valor de K é obtido de outra tabela. ( ) ( ) x x x K slog log = log + ×
  • 22. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S onde K depende do coeficiente de assimetria dos dados e pode ser obtido na tabela C, no final do capítulo. Distribuição de Gumbel A probabilidade de que uma determinada vazão venha a ser igualada ou excedida em um ano qualquer pode ser estimada usando a distribuição de Gumbel, de acordo com a equação: − − = − (14.8) b e P 1 e onde P é a probabilidade; e é a base dos logaritmos naturais e b é dado por: (x x 0 45 s) b = × − + , ×   19 2 1 × , 0 7797 s (14.9) onde x é a vazão máxima; x é a média das vazões máximas anuais; e s é o desvio padrão das vazões máximas anuais. A distribuição de Gumbel é também chamada de Distribuição de Valores Extremos do tipo 1, e é amplamente utilizada em análise estatística de eventos extremos. Uma vantagem desta distribuição é que não é necessário utilizar tabelas de probabilidades. A vazão para um dado tempo de retorno TR (em anos) pode ser obtida por uma forma inversa da equação 14.8:             TR − = − × + × TR 1 x x s 0,45 0,7797 ln ln Vazões mínimas A análise de vazões mínimas é semelhante à análise de vazões máximas, exceto pelo fato que no caso das vazões mínimas o interesse é pela probabilidade de ocorrência de vazões iguais ou menores do que um determinado limite. No caso da análise utilizando probabilidades empíricas, esta diferença implica em que os valores de vazão devem ser organizados em ordem crescente, ao contrário da ordem decrescente utilizada no caso das vazões máximas. Normalmente, as análises estatísticas de vazões mínimas são realizadas sobre as vazões mínimas de 7 dias, 15 dias ou 30 dias de duração. Neste caso, para cada ano do registro
  • 23. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A histórico encontra-se a vazão mínima média de D dias (médias móveis de D dias). O restante do procedimento de análise é semelhante ao apresentado aqui. Uma vazão mínima obtida por análise estatística muito utilizada como vazão de referência mínima é a Q7,10, ou 7Q10, que vem a ser a vazão média de 7 dias de duração com tempo de retorno de 10 anos. Distribuição normal A aplicação da análise estatística usando a distribuição normal para vazões mínimas é analisada através de um exemplo. E X EMP LO 6) A tabela abaixo apresenta as vazões mínimas anuais observadas no rio Piquiri, no município de Iporã (PR). Considerando que os dados seguem uma distribuição normal, determine a vazão mínima de 5 anos de tempo de retorno. A distribuição normal se ajusta bem aos dados observados? 19 3 ano Vazão mínima 1980 202 1981 128.6 1982 111.4 1983 269 1984 158.2 1985 77.5 1986 77.5 1987 166 1988 70 1989 219.6 1990 221.8 1991 111.4 1992 204.2 1993 196 1994 172 1995 130.4 1996 121.6 1997 198 1998 320.6 1999 101.2 2000 118.2 2001 213 Os valores de vazão mínima são reorganizados em ordem crescente e a probabilidade empírica para cada valor é calculada. A seguir é calculada a média e o desvio padrão do conjunto de dados.
  • 24. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 19 4 ano ordem probabilidade TR empírico Vazão mínima 1988 1 0.04 23.0 70 1985 2 0.09 11.5 77.5 1986 3 0.13 7.7 77.5 1999 4 0.17 5.8 101.2 1982 5 0.22 4.6 111.4 1991 6 0.26 3.8 111.4 2000 7 0.30 3.3 118.2 1996 8 0.35 2.9 121.6 1981 9 0.39 2.6 128.6 1995 10 0.43 2.3 130.4 1984 11 0.48 2.1 158.2 1987 12 0.52 1.9 166 1994 13 0.57 1.8 172 1993 14 0.61 1.6 196 1997 15 0.65 1.5 198 1980 16 0.70 1.4 202 1992 17 0.74 1.4 204.2 2001 18 0.78 1.3 213 1989 19 0.83 1.2 219.6 1990 20 0.87 1.2 221.8 1983 21 0.91 1.1 269 1998 22 0.96 1.0 320.6 Média = 163 Desvio padrão = 65.2 Os valores da vazão para diferentes tempos de retorno são calculados por: Q Q S K Q = − × Onde K é o valor da tabela da distribuição normal para as probabilidades (veja tabela B ao final do capítulo). Tempo de retorno K Q 2 0 163.1 5 0.842 108.2 10 1.282 79.5 50 2.054 29.2 100 2.326 11.5 Na figura abaixo vê-se que o ajuste da distribuição normal não é muito bom para estes dados. A vazão mínima com tempo de retorno de 5 anos é estimada em 108 m3/s.
  • 25. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A   1    1 1 A ×  l B 19 5 350 300 250 200 150 100 50 0 1.0 10.0 100.0 Tempo de retorno (anos) Vazão mínima (m3/s) . Distribuição Weibull Uma distribuição de freqüências teórica mais adequada para a estimativa de vazões mínimas de alto tempo de retorno é a distribuição de Weibull (veja em Naghettini e Pinto, 2007). Na análise de vazões mínimas usando a distribuição de Weibull é usada a mesma equação: x = x + K × S (14.10) e o valor de K é obtido por: ( ) ( )       −       1 = + × − − 1 T K A B 1 1 l l l ln (14.11) onde T é o tempo de retorno em anos e ( ) (l ) l     = − G + (14.12)
  • 26. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 1 l (14.13) l = para − 1,0 £ G £ 2 (14.14) + × + × + × + × 19 6 e ( ) 2  2 1 1 2   B 1 −      + G −     = G + l l onde 4 4 3 3 1 2 0 1 2 H H G H G H G H G onde H0 = 0,2777757913 H1 = 0,3132617714 H2 = 0,0575670910 H3 = -0,0013038566 H4 = -0,0081523408 e onde G é o coeficiente de assimetria; e onde G(.) é a função Gama, que é uma generalização da função fatorial para números reais não inteiros. Uma dificuldade da aplicação da distribuição de Weibul é a necessidade de calcular o valor da função Gama. O valor da função Gama é dada por: ¥ ( ) ∫ − − G = × w 1 xw x e dx 0 O programa Excel permite calcular o valor do logaritmo da função gama através da função LnGama(x). E X EMP LO 7) Refaça o exemplo anterior usando a distribuição de Weibull. Os valores da média e desvio padrão são os mesmos calculados antes: Média = 163
  • 27. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Desvio padrão = 65.2 Além disso é calculado o coeficiente de assimetria. Usando a função do Excel (Distorção(x)) o valor encontrado é G=0,5662 A partir destes dados é calculado o valor de l = 2,116 Usando a função do Excel LnGama(x) são calculados os valores de B(l) e A(l). B(l)=2,2726 A(l)=0,2599 E com estes valores são calculados os termos K para cada tempo de retorno T em anos, conforme a tabela abaixo: 19 7 TR Kt Vazão Weibull 2 -0.10153 156.5 5 -0.89405 104.8 10 -1.22803 83.0 25 -1.51140 64.6 50 -1.65317 55.3 100 -1.75422 48.7 A figura a seguir mostra os resultados comparados à distribuição empírica e à distribuição normal. Observa-se que a distribuição de Weibull se adequa mais para a estimativa de vazões mínimas do que a distribuição normal, especialmente para tempos de retorno altos, quando a distribuição normal tende a valores negativos, o que é fisicamente impossível, já que as vazões mínimas são limitadas a valores maiores do que zero.
  • 28. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S A distribuição binomial A distribuição de probabilidades binomial é adequada para avaliar o número (x) de ocorrências de um dado evento em N tentativas. As seguintes condições devem existir para que seja válida a distribuição binomial: 1) são realizadas N tentativas; 2) em cada tentativa o evento pode ocorrer ou não, sendo que a probabilidade de que o evento ocorra é dada por P enquanto a probabilidade de que o evento não ocorra é dada por 1-P ; 3) a probabilidade de ocorrência do evento numa tentativa qualquer é constante e as tentativas são independentes, isto é, a ocorrência ou não do evento na tentativa anterior não altera a probabilidade de ocorrência atual. Estas propriedades ficam mais claras considerando o exemplo de um dado de seis faces. A probabilidade de obter um “seis” num lançamento qualquer é de 1/6. A probabilidade de não obter um “seis” num lançamento qualquer é de 5/6. Se um dado é lançado uma vez, resultando em um “seis”, isto não altera a probabilidade de obter um “seis” no lançamento seguinte. De acordo com a probabilidade binomial, a probabilidade de que um evento ocorra x vezes em N tentativas, é dada pela equação 14.15. ! P X x − × × − ( ) (14.15) 19 8 N = = 1 ( ) ( ) x N x x P P × − ! ! x N x Nesta equação Px(X=x) é a probabilidade de que o evento ocorra x vezes em N tentativas. P é a probabilidade que o evento ocorra numa tentativa qualquer e (1-P) é a probabilidade que o evento não ocorra numa tentativa qualquer. E X EMP LOS 8) Calcule a probabilidade de obter exatamente 5 “coroas” em 10 lançamentos de uma moeda. Neste caso x =5 e N=10. A probabilidade de obter “coroa” num lançamento qualquer é de 50%, ou 1/2. A probabilidade de obter exatamente 5 “coroas” pode ser calculada pela equação 14.15. 10! ( ) 0,246 1 2  × 1 − 1 2 5! 10 5 ! ( 5) 5 10 5  =      ×  × − = = − P X x
  • 29. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Portanto, a probabilidade de obter exatamente 5 “coroas” em 10 lançamentos é de 24,6%. 9) A probabilidade da vazão de 10 anos de tempo de retorno seja igualada ou excedida num ano qualquer é de 10%. Qual é a probabilidade que ocorram duas cheias iguais ou superiores à cheia de TR = 10 anos em dois anos seguidos? Neste caso x =2 e N=2. A probabilidade de ocorrer a cheia num ano qualquer é de 10%, ou 1/10. A probabilidade de ocorrer exatamente 2 cheias em 2 anos pode ser calculada pela equação 14.15.  =   19 9 2! ( ) 0,01 1 10 1 10  × 1 − 1 10 2! 2 2 ! ( 2) 2 2 2 2  =        ×  × − = = − P X x Portanto, a probabilidade de ocorrerem exatamente 2 cheias em 2 anos é 1%. 10) A probabilidade da vazão de 10 anos de tempo de retorno seja igualada ou excedida num ano qualquer é de 10%. Qual é a probabilidade que ocorra pelo menos uma cheia desta magnitude (ou superior) ao longo de um período de 5 anos? Este problema poderia ser resolvido somando a probabilidade de ocorrência de 1 única vazão com estas características ao longo dos 5 anos com a probabilidade de ocorrência de 2 vazões, e assim por diante para 3, 4 e 5 casos. Porém, neste caso, a melhor forma de resolver o problema é pensar qual é a probabilidade de que não ocorra nenhuma vazão igual ou superior ao longo dos 5 anos, que poderá ser chamada de P(x=0). A probabilidade de que ocorra pelo menos uma cheia será dada por 1-P(x=0). Sendo assim, calculamos primeiramente a probabilidade com x =0 e N=5. 5! ( ) 0 5 0 1 10 1 1 10 0! 5 0 ! ( 0) −     − ×   ×  × − P X = = x 0,59 9 10 ( 0) 1   5 =   P X = = × x Portanto, a probabilidade de não ocorrer nenhuma vazão igual ou superior a vazão com TR=10 anos ao longo de 5 anos é de 59%. Isto significa que a probabilidade de ocorrer pelo menos uma vazão assim é de 41%.
  • 30. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S Tabelas de distribuições de probabilidades Tabela A: Probabilidade de ocorrer um valor maior do que Z, considerando uma distribuição normal com média zero e desvio padrão igual a 1. Z Probabilidade 0.0 0.5000 0.1 0.4602 0.2 0.4207 0.3 0.3821 0.4 0.3446 0.5 0.3085 0.6 0.2743 0.7 0.2420 0.8 0.2119 0.9 0.1841 1.0 0.1587 1.1 0.1357 1.2 0.1151 1.3 0.0968 1.4 0.0808 1.5 0.0668 1.6 0.0548 1.7 0.0446 1.8 0.0359 1.9 0.0287 2.0 0.0228 2.1 0.0179 2.2 0.0139 2.3 0.0107 2.4 0.0082 2.5 0.0062 2.6 0.0047 2.7 0.0035 2.8 0.0026 2.9 0.0019 3.0 0.0013 20 0
  • 31. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Tabela B: Probabilidade de ocorrer um valor maior do que z, considerando uma distribuição normal com média zero e desvio padrão igual a 1. 20 1 z Probabilidade TR 0.000 0.5 2 0.842 0.2 5 1.282 0.1 10 1.751 0.04 25 2.054 0.02 50 2.326 0.01 100 2.878 0.002 500 3.090 0.001 1000 3.719 0.0001 10000 Tabela C: Valores de K para estimativa de vazões máximas usando a distribuição Log-Pearson Tipo III (os valores do coeficiente de assimetria estão na primeira coluna e os valores de K estão na região cinza escuro da tabela). Tempo de retorno / Probabilidade 2 5 10 25 50 100 Coeficiente de assimetria 0,5 0,2 0,1 0,04 0,02 0,01 1,4 -0,225 0,705 1,337 2,128 2,706 3,271 1,0 -0,164 0,758 1,340 2,043 2,542 3,022 0,6 -0,099 0,800 1,328 1,939 2,359 2,755 0,2 -0,033 0,830 1,301 1,818 2,159 2,472 0,0 0,000 0,842 1,282 1,751 2,054 2,326 -0,2 0,033 0,850 1,258 1,680 1,945 2,178 -0,6 0,099 0,857 1,200 1,528 1,720 1,880 -1,0 0,164 0,852 1,128 1,366 1,492 1,588 -1,4 0,225 0,832 1,041 1,198 1,270 1,318 Leituras adicionais Os métodos de estimativa de vazões máximas apresentados neste texto são relativamente simples e a forma de apresentação é resumida. Para realizar análises de vazões máximas mais rigorosas normalmente é necessário testar três ou mais distribuições de probabilidade teóricas, e avaliar qual é a distribuição que melhor se adequa aos dados. Livros sobre hidrologia estatística existem em grande número, principalmente em língua inglesa. Um livro dedicado exclusivamente a este tema em língua portuguesa, denominado Hidrologia Estatística, foi lançado recentemente no
  • 32. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S Brasil, e pode ser obtido gratuitamente através da Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), impresso ou em formato pdf (http://www.cprm.gov.br). A leitura deste livro permitirá ao leitor aprofundar o conhecimento introduzido neste capítulo. 20 2 Exercícios 1) Uma análise de 40 anos de dados revelou que a chuva média anual em um local na bacia do rio Uruguai é de 1800 mm e o desvio padrão é de 350 mm. Considerando que a chuva anual neste local tem uma distribuição normal, qual é a chuva anual de um ano muito seco, com tempo de retorno de 10 anos? 2) O que é a curva de permanência? 3) Qual é a porcentagem do tempo em que é superada ou igualada a vazão Q90? 4) Se um rio intermitente passa mais da metade do tempo completamente seco, qual é a sua Q80? 5) É correto afirmar que a vazão Q90 é sempre inferior a Q95 em qualquer ponto de qualquer rio? E o inverso? 6) É correto dizer que a vazão Q95 é igual à soma das vazões Q40 e Q55? Explique. 7) Qual é o efeito de um reservatório sobre a curva de permanência de vazões de um rio? 8) Considerando a idéia de risco como a probabilidade de ocorrência de um evento associada aos prejuízos potenciais decorrentes deste evento, avalie qual é a pior situação: a. Uma cidade protegida por um dique dimensionado para a cheia de 100 anos de tempo retorno. Caso a cheia supere o dique, serão inundados 2 bairros, com prejuízo total estimado em 800 milhões de reais. b. Uma ponte dimensionada para a cheia de 25 anos de tempo de retorno. Caso a cheia atinja a ponte esta será destruída. A construção de uma nova ponte e a interrupção temporária do tráfego totalizam um prejuízo de 75 milhões de reais. 9) A tabela abaixo apresenta as vazões máximas do rio Xingu, em Altamira (PA), de 1971 a 1990. Estime a vazão máxima de 50 anos de tempo de retorno considerando válida a distribuição log-normal. Compare as estimativas usando a distribuição de Gumbel e a distribuição Log-Pearson tipo III.
  • 33. I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A 20 3 Ano Vazão máxima (m3/s) 1971 15633 1972 19116 1973 22121 1974 30160 1975 22969 1976 16773 1977 21520 1978 28655 1979 24994 1980 32330 1981 17794 1982 31210 1983 19056 1984 22422 1985 26338 1986 23718 1987 20198 1988 21881 1989 23970 1990 24354 10) Calcule a vazão Q7,10 do rio Xingu em Altamira (PA) usando os dados da tabela abaixo. Use a distribuição de Weibull e compare com a estimativa usando a distribuição empírica. Ano Mínimas 7 dias (m3/s) 1971 554 1972 608 1973 1048 1974 1106 1975 663 1976 646 1977 1017 1978 1317 1979 1229 1980 1008 1981 904 1982 1244 1983 1001 1984 1249 1985 1181 1986 1348 1987 964 1988 994
  • 34. W . C O L L I S C H O N N – I P H - U F R G S 11) Na cidade de Porto Amnésia um apresentador de televisão defende a remoção do dique que protege a cidade das cheias do rio Goiaba. Ele argumenta afirmando que o dique foi dimensionado para a cheia de 50 anos, e que há 65 anos não ocorre na cidade nenhuma cheia que justificaria a construção de qualquer dique. Analise as idéias do apresentador. Calcule qual é a probabilidade de que não ocorra nenhuma cheia de tempo de retorno igual ou superior a 50 anos ao longo de um período de 65 anos. 12) Na mesma cidade um arquiteto propõe a substituição de 2000 metros do dique por uma estrutura composta por peças móveis removíveis de 10 m de comprimento. Quando estas peças são expostas à pressão da água equivalente a que ocorreria durante uma cheia, a probabilidade de falha (para cada uma) é de 0,01 %. Qual é a probabilidade de que, durante uma cheia, pelo menos uma das peças venha a falhar? 13) Por que as vazões mínimas são calculadas com médias de 7 dias ou de 30 dias e as vazões máximas são calculadas com valores instantâneos ou de média diária? 20 4