[1] O autor descreve como os paulistas perderam o senso de comunidade e passaram a ter apenas ressentimentos passivos, ao invés de participação ativa. [2] Ele conta como se surpreendeu com o forte senso de identidade e comunidade que viu em evento no Rio Grande do Sul, com todos cantando o hino estadual e compartilhando chimarrão. [3] Isso o levou a refletir que o grito por mudança no Brasil precisa vir de lugares com raízes e identidade coletiva, e não de São Paulo.
2. Pois é...
O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo
ressentimentos passivos.
Olham o escândalo na televisão e exclamam 'que horror'. Sabem do roubo
do político e falam 'que vergonha'.
Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam 'que absurdo'.
Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão
e dizem 'que baixaria'.
3. Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'.
E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.
Do ressentimento passivo à participação ativa'.
4. Pois recentemente estive em Porto Alegre, onde pude
apreciar atitudes com as quais não estou acostumado,
paulista/paulistano que sou.
Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que,
sendo de todos, não é de ninguém..
5. No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio,
uma surpresa.
Abriram com o Hino Nacional.. Todos em pé, cantando.
Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do
Rio Grande do Sul.
6. Fiquei curioso. Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa,
todo mundo cantando a letra!
'Como a aurora precursora /
do farol da divindade, /
foi o vinte de setembro /
o precursor da liberdade '.
7. Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo.
E oferece aos que estão em volta.
Durante o evento, a cuia passa de mão em mão,
até para mim eles oferecem.
8. E eu fico pasmo.
Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem.
Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu,
paulista, não estou acostumado.
Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais
o que é 'comunidade'.
9. Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo.
Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é..
.Foi então que me deu um estalo.
Sabe como é que os 'ressentimentos passivos' se transformarão
em participação ativa?
10. De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos,
a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será. Esse grito exige consciência coletiva, algo
que há muito não existe em São Paulo.
Os paulistas perderam a capacidade de mobilização.
Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.
11. São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade,
sem cultura própria, sem 'liga'.
Cada um por si e o todo que se dane.
E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.
Penso que o grito - se vier - só poderá partir
das comunidades que ainda têm essa 'liga'..
A mesma que eu vi em Porto Alegre.
12. Algo me diz que mais uma vez o povo do Sul é que levanta a bandeira.
Que buscarão em suas raízes a indignação que não
se encontra mais em São Paulo...
Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles.
De minha parte, eu acrescentaria, ainda:
'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'
13. Texto : Arnaldo Jabor – Enviado por Claudia Adriana
Música : Hino do Brasil adaptado
Formatação – Nair Flores
Email : nairefe@gmail.com
www.mensagensvirtuais.com.br