SlideShare a Scribd company logo
1 of 54
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS

 UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

 CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOSSOMÁTICA




          MARIAN FESTUGATO DE SOUZA




      CÂNCER: UMA VISÃO PSICOSSOMÁTICA




                 PORTO ALEGRE
                      2009
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS
 UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA
 CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOSSOMÁTICA




          MARIAN FESTUGATO DE SOUZA




      CÂNCER: UMA VISÃO PSICOSSOMÁTICA




                             Trabalho de Conclusão de Curso
                      apresentado   como   requisito   para   a
                      obtenção do título de Especialista em
                      Psicossomática     pelo     curso       de
                      Especialização em Psicossomática da
                      Universidade do Vale do Rio dos Sinos



                              Orientador: Marisa Campio Müller




                 PORTO ALEGRE
                      2009


                                                               2
Dedico este trabalho aos pacientes, que me ensinaram
a ver a vida em toda a sua plenitude, e viver o hoje,
sem medo de ir à busca dos nossos sonhos.


                                                        3
AGRADECIMENTOS




      À minha querida orientadora, professora e, acima de tudo, amiga, Marisa
Campio Müller, pela ajuda, pelo apoio e pelo ser humano maravilhoso que é.




      À minha mãe Ana Maria, pelo seu jeito todo especial de ser, sempre
buscando me ajudar da melhor forma possível, especialmente alimentando a
minha autoconfiança.




      À toda a minha família, a melhor família que alguém poderia desejar!




      À CliniOnco, por estes 5 anos de confiança, por acreditarem no meu
potencial e confiarem no meu trabalho. Destaco um agradecimento especial às
queridas Cristiane Bueno e Carla Mannino, amigas de “almoços terapêuticos”,
trocas e confissões.




      Aos pacientes, por terem sido meus grandes mestres na escola da vida, e
fontes de inspiração para esta minha busca, e para meu modo de ver a vida e
repensar valores.




      À “Turma do bem”, pelas conversas, pelas saídas depois da aula, e
especialmente pela amizade que se formou.




      Finalmente, mas não menos importante, ao meu amor Stefano, pela
paciência nos momentos de estresse, pelo companheirismo, pelo seu amor
verdadeiro e por, mesmo à distância, estar sempre tão próximo!


                                                                             4
“Podemos acreditar que tudo que a vida nos oferecerá no futuro é
repetir o que fizemos ontem e hoje. Mas, se prestarmos atenção,
vamos nos dar conta de que nenhum dia é igual a outro. Cada
manhã traz uma benção escondida; uma benção que só serve
para esse dia e que não se pode guardar nem desaproveitar. Se
não usamos este milagre hoje, ele vai se perder. Este milagre
está nos detalhes do cotidiano; é preciso viver cada minuto
porque ali encontramos a saída de nossas confusões, a alegria
de nossos bons momentos, a pista correta para a decisão que
tomaremos. Nunca podemos deixar que cada dia pareça igual ao
anterior porque todos os dias são diferentes, porque estamos em
constante processo de mudança”. (Paulo Coelho)



                                                              5
RESUMO




       O presente trabalho faz uma revisão bibliográfica acerca do Câncer e da
Psicossomática, trazendo seus conceitos, histórias e mitos. Em seguida, busca
fazer uma relação entre os temas, procurando trabalhos que demonstrem a visão
do câncer sob uma perspectiva Psicossomática, onde o homem é visto como um
ser biopsicossocial e espiritual, e a doença só pode ser compreendida a partir
desta visão mais ampla de sujeito.




                                     ABSTRACT




This work makes a literature review about Cancer and Psychosomatic, bringing
their concepts, stories and myths. Then, is tries make a connection between the
issues, looking for articles which could demonstrate the vision of cancer in a
Psychosomatic perspective, where man is viewed as a biopsychosocial and
spiritual being, and the disease can only be understood from this broader view of
subject .




                                     RIASSUNTO




Questo lavoro fà una revisione della letteratura sul Cancro e Psicosomatica,
portando i loro concetti, storie e miti. Poi, cerca di effettuare una connessione tra
le questioni, cercando articoli che possono dimostrare la visione del cancro in una
prospettiva psicosomatica, dove l'uomo è visto come un essere biopsicosociale ed
spirituale e la malattia può essere compresa solo da questa prospettiva più ampia
di soggetti .




                                                                                   6
SUMÁRIO




1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................8
1.1. OBJETIVO........................................................................................................9
1.2. METODOLOGIA..............................................................................................9
2. CÂNCER............................................................................................................10
2.1. ETIOLOGIA DA PALAVRA ............................................................................10
2.2. UM POUCO DA HISTÓRIA E ALGUNS MITOS.............................................10
2.3. DEFINIÇÕES..................................................................................................17
2.4. CÂNCER E FATORES DE RISCO.................................................................20
2.4.1. Fatores de risco ambientais .....................................................................20
2.4.2. Fatores de risco hereditários e genéticos...............................................21
2.5.CÂNCER E PREVENÇÃO...............................................................................23
2.5.1. Prevenção Primária...................................................................................23
2.5.2. Prevenção Secundária...............................................................................24
2.5.3. Prevenção Terciária...................................................................................24
3 PSICOSSOMÁTICA ..........................................................................................25
3.1. ETIOLOGIA E SIGNIFICADO DA PALAVRA ................................................25
3.2. UM POUCO DA HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA E SEUS CONCEITOS27
3.3. A PSICOSSOMÁTICA NO BRASIL................................................................38
3.4. A PSICO-ONCOLOGIA...................................................................................39
3.4.1. Etiologia da palavra e definições.............................................................39
3.4.2. Um pouco da história da Psico-Oncologia..............................................40
4. A RELAÇÃO ENTRE PSICOSSOMÁTICA E CÂNCER...................................43
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................49
REFERÊNCIAS.....................................................................................................51




                                                                                                                     7
1. INTRODUÇÃO




      A relação entre corpo x mente e saúde x doença vem sendo alvo de
estudos e suposições desde os tempos mais remotos. Desde a Grécia antiga,
sabe-se da influência que os aspectos emocionais exercem sobre a saúde e a
doença, e também o contrário, sendo impossível tratar do corpo sem pensar na
alma. Sócrates (Cármides, APUD: Ramos, 1994, p.18), já colocava:


                   “... assim como não é possível tentar a cura dos olhos sem a cabeça,
                   nem a cabeça sem a do corpo, do mesmo modo não é possível tratar do
                   corpo sem cuidar da alma, sendo essa a causa de desafiarem muitas
                   doenças o tratamento dos médicos helenos, por desconhecerem estes o
                   conjunto que importa ser tratado, pois não pode ir bem a parte quando vai
                   mal o todo (...)”.


      Mais adiante, no entanto, com as novas descobertas nos campos da
ciência e da Medicina, surgiu, com Descartes, uma tendência à fragmentação. O
dividir, para reduzir, e assim conhecer. Esta que era para ser uma prática de
outras áreas do conhecimento transferiu-se também para a Medicina, e o ser
humano passou a ser visto como uma máquina. Instituiu-se a dicotomia corpo-
mente, e ainda subdividiu-se o corpo em vários pedaços menores. Em se tratando
de saúde/ doença, agora trata-se a doença, e não o doente. Porém, como tudo
ocorre em ciclos, acontece, de uns tempos para cá, um movimento que tende a
“resgatar” aquela visão anterior de ser humano, como um ser uno, completo e
complexo. Pode-se pensar que, a partir deste momento, começou a instituir-se
uma nova mudança de paradigma. As teorias de Einstein, bem como, mais
recentemente, estudos na área da Psicossomática e da Psiconeuroimunologia,
passam a comprovar a influência não apenas do meio sobre o ser humano, mas a
influência que este (ser humano) exerce no meio, bem como a capacidade que
cada um possui de agir e influenciar diretamente sobre seu próprio sistema
imunológico. Além disso, a visão do homem amplia-se, passando este a ser
considerado um ser biopsicossocial e espiritual. Entender o processo do
adoecimento torna-se então algo muito mais complexo, e as doenças passam a


                                                                                          8
ser dotadas de um sentido. E, dentre todas as doenças, uma em especial vem
despertando o interesse de várias pesquisas, às quais buscam encontrar uma
relação entre o seu surgimento, progressão e cura (ou morte) e fatores não
apenas orgânicos, mas emocionais, sociais e culturais: o câncer. Seria ele uma
doença Psicossomática? Considerado por muitos como “o grande mal deste
século”, vem sendo estudado pelas mais diversas áreas do conhecimento, dentre
elas uma relativamente nova, denominada de Psico-Oncologia. A relação entre
Psico-Oncologia, Psicossomática e adoecimento (mais especificamente o câncer)
é o tema sobre o qual se discorrerá no presente trabalho.


           1.1. OBJETIVO


      Procurar mostrar a relação entre Câncer e Psicossomática, através de uma
revisão da literatura, buscando livros e artigos de pesquisa que descrevam esta
relação.


           1.2. METODOLOGIA


      Este trabalho resulta de uma breve revisão bibliográfica de autores
reconhecidos na área da psicologia com relação à oncologia e aspectos
emocionais envolvidos , bem como com referência a área da psicossomática.
Foram consultados os bancos eletrônicos: LILACS, SCIELO e BIREME (1990 -
2008) e literatura de autores clássicos da área.




                                                                             9
2. CÂNCER


              2.1. ETIOLOGIA DA PALAVRA


          A palavra câncer tem origem latina e significa, literalmente, caranguejo.
Tem esse nome, pois as células doentes atacam e se infiltram nas células sadias
como se fossem os tentáculos de um caranguejo. Segundo a AAPC (Associação
de Assistência e Prevenção do Câncer), foi justamente um grego, Hipócrates, que
cunhou a palavra "câncer". O "pai da medicina", como é conhecido, viveu entre
460 e 370 a.C. e usou os termos "carcinos" e "carcinoma" para descrever certos
tipos de tumores. Em grego, querem dizer "caranguejo", pelo aspecto do tumor,
as projeções e vasos sanguíneos ao seu redor fazem lembrar as patas do
crustáceo.


          2.2. UM POUCO DA HISTÓRIA E ALGUNS MITOS


          Cada período histórico se caracteriza por uma doença que, em um modo
particular, influencia o imaginário coletivo. Nos tempos bíblicos, era a lepra que
espalhava o terror e a perturbação. Na era medieval, era a peste, a “morte negra”,
demônio incontível e devastador que segundo Deifruss-Katan (2009), apenas em
Firenze “destruiu” 60.000 habitantes em um ano, servindo de inspiração para que
Giovani Boccaccio escrevesse a célebre “Decameron”. No século XIX, invés, foia
tuberculose, a “morte branca” que se tornou o símbolo do mal incurável. Já no
século XX (e parece seguir agora, no século XXI 1 ), é o câncer a doença que
evoca as angústias mais profundas.
          O câncer vem há tempos sendo identificado como “o mal”, ainda que
existam outras doenças crônicas graves, isto sem contar no fato de que, ainda
hoje, nas sociedades ocidentais, as mortes devido a doenças cardiovasculares
superam as causadas por tumores. Porém, a associação metafórica que evoca o
conceito de câncer já fala por si:



1
    Observação minha




                                                                                10
Essas (as neoplasias malignas) vem consideradas como o animal do
                               qual herdam o nome, o caranguejo, como ser vivo noturno, geralmente
                               invisível, que se move com um “movimento de crustáceo”, imprevisível.
                               Assim como lagostins ou caranguejos são protegidos por uma carcaça,
                               o são, segundo esta metáfora, também os “cânceres”, que se agarram,
                               e permanecem com o olhar fixo, preparando tormentos sem fim e tendo
                               como único propósito a morte da vítima. (Lockhart, 1977, in Meerwein,
                               1991, APUD: Tchuschke, 2008, p.03)



           A metáfora do caranguejo para definir a doença foi escolhida pela primeira
vez por Galeno, o qual afirmou, segundo Bahnson (1997, APUD: Tschuschke,
2008), ter observado que as mulheres com carcinoma mamário desenvolviam
sobre o peito uma formação em formato de caranguejo.
           Além da metáfora, temos no decorrer da história, vários “momentos”
relacionados ao câncer. Segundo Carvalho e Veit (2008), o câncer é uma doença
que desencadeia comportamentos peculiares. Sempre foi algo a ser escondido
por vir acompanhado de muitos estigmas, como a inevitabilidade da morte e as
explicações equivocadas a respeito de sua etiologia, que atribuíam a sua origem
à promiscuidade sexual ou à falta de higiene e transmitiam a idéia de ser uma
enfermidade contagiosa e repugnante. Ainda de acordo com os autores, o câncer
passou a ser visto da mesma forma que a lepra e a sífilis, distinguindo-se, no
entanto, da tuberculose, que passou a ser vista como uma doença ligada à
sensibilidade do espírito e tratada com um certo glamour.
           A medicina só começou a ter avanços significativos na Renascença, no
século XV, quando floresceram por todos os lados cientistas e artistas,
especialmente na Itália. Michelangelo, um desses artistas, teria retratado em sua
famosa escultura "A Noite" (La Notte), uma mulher com câncer de mama. A teoria
baseia-se no aspecto disforme de seu seio, que, a considerar a habilidade do
escultor, não foi casual.(AAPC, 2009)




                                                                              2


2
    Michelangelo, La notte, Cappella Medici, 1524. in: http://clf2000.splinder.com/archive/2005-02


                                                                                                     11
Os cânceres, como os caranguejos, se insinuam com movimentos
imprevisíveis em todas as direções, invisíveis, sorrateiros, semelhantes a
primitivos animais noturnos. Como o caranguejo, protegido pela sua carcaça, o
câncer é agressivo e inatingível; infringe dor e se prende tenazmente à sua vítima,
para devorá-la e destruí-la até a sua morte. Segundo Dreifuss-Kattan (2009),
Sontag coloca que, em 1798, o escritos alemão Novalis descreveu os tumores
como “parasitas plenamente evoluídos, capazes de crescer,          de serem gerados, de
gerarem, de haverem estruturas próprias de segregarem substâncias e de nutrirem-se”.
      Freud define seu câncer na cavidade oral como seu “monstro” (Schur,
1972, APUD: Dreifuss- Kattan, 2009).
      Mais adiante, em um certo momento da história das doença, como coloca
Sontag (1984),o câncer passou também a simbolizar as emoções que não podiam
ser expressas, ficando reservada ao paciente de câncer a idéia da incapacidade
de lidar adequadamente com as vicissitudes emocionais de sua vida, gerando
mais um estigma.
      Tschuschke (1996, APUD:2008), traz que, na antiguidade, se acreditava
que o câncer era desencadeado pela “bile negra” ou pela “melancolia”, pela
discrepância no equilíbrio psíquico de um indivíduo.
      Hürny e Adler, 1991 (APUD: Tschuschke, 2008, p. 03 e 04), colocam que
um tumor é percebido como uma “peste moderna”:


                      Câncer não significa nada mais do que um duro golpe do destino, uma
                      doença incomparável, inigualável, morte certa e não imprevista, mas um
                      lento e atroz período de enfermidade. O câncer está sujeito a qualquer
                      coisa de inquietante, desleal e maligno. Pode significar punição, culpa
                      ou pecado, como também falta de eficiência, falta de valor e desprezo,
                      ser um peso para os outros. Traz os sinais da lepra, da marginalidade,
                      do isolamento, do estado de impotência e do desespero.

      Atualmente, o câncer segue sendo usado freqüentemente como metáfora
de   comportamentos     e   condições     sociais    que    significam     destruição     ou
desintegração moral ou social, como em expressões como: “Os políticos são o
câncer do nosso país” (Carvalho e Veit, 2008).
      Mitos e verdades acerca do câncer seguem sendo questionados, como os
observados no site da AAPECAN (Associação de Apoio às Pessoas com Câncer).
Segundo a associação, a própria palavra câncer ainda assusta muita gente, isto


                                                                                          12
porque ainda existem muitas idéias erradas sobre a doença e, infelizmente, a
maioria das pessoas ainda pensa que câncer é sinônimo de morte. Até hoje há
quem evite pronunciar a palavra “câncer” e atribui à doença alguns, digamos,
apelidos. Portanto, parece-nos que própria palavra câncer já traz em si alguns
mitos. Muitas vezes uma má interpretação de fatos relacionados ao câncer ou
uma generalização de um caso isolado da doença assim como especulações
acabam por fazer com que idéias e até mesmo crenças se apresentem como
verdades. Dentre elas destacam-se as seguintes:
      •   O Câncer é contagioso?
      Mito. Mesmo o câncer causado por vírus não é contagioso, ou seja, não
      passa de uma pessoa para a outra por contágio como ocorre com
      resfriados, por exemplo. No entanto, alguns vírus oncogênicos, isto é,
      capazes de produzir câncer, podem ser transmitidos através do contato
      sexual, de transfusões de sangue ou de seringas contaminadas utilizadas
      para injetar drogas.
      •   Desenvolver um câncer é um castigo?
      Mito. Há várias causas para o câncer, sobretudo tabagismo, consumo
      exagerado de álcool, maus hábitos alimentares, sedentarismo que são os
      principais responsáveis pelos casos de câncer.
      •   Pessoas na minha família tiveram câncer, terei também porque o câncer
          é hereditário?
      Mito. Em geral, o câncer não é hereditário. Há apenas alguns raros casos
      que são herdados, tal como o retinoblastoma, um tipo de câncer de olhos
      que ocorre em crianças. Entretanto, existem alguns fatores genéticos que
      tornam determinadas pessoas mais sensíveis à ação de carcinógenos, isto
      é, agentes que provocam o desenvolvimento de um câncer ou tumor
      maligno no organismo, o que explica por que algumas delas desenvolvem
      câncer e outras não, quando expostas a um mesmo carcinógeno
      ambiental. Mas, repetimos: o câncer não é comprovadamente hereditário.
      •   Pessoas afro-descendentes não correm risco de ter câncer de pele?
      Mito. Qualquer pessoa pode ter câncer de pele, no entanto aquelas com
      maior concentração de melanina na pele, como as pessoas afro-
      descendentes, apresentam menor incidência de tumores de pele. Embora


                                                                              13
seja raro, podem ter câncer de pele, principalmente na palma das mãos ou
na planta dos pés. Por isso, todos devem proteger-se do sol usando
chapéus e filtros solares adequados.
•   Charutos e cachimbos provocam menos câncer de pulmão que cigarros
    comuns?
Mito. Tanto os cigarros como os charutos e fumo para cachimbos
consistem em folhas de tabaco secas, além de outras substâncias. Dentre
aquelas   já   identificadas   no   tabaco   e   na   sua   fumaça,   43   são
comprovadamente cancerígenas. Como há mais fumantes de cigarros do
que de charutos e cachimbos, a ocorrência de câncer por cigarro é maior,
no entanto charutos e cachimbos são igualmente perigosos.
•   O tabaco causa apenas câncer de pulmão?
Mito. O hábito de fumar é a principal causa do câncer de pulmão, laringe,
faringe, cavidade oral e esôfago. Também contribui para o surgimento do
câncer de bexiga, pâncreas, útero, rim e estômago, além de algumas
formas de leucemia.
•   Desodorante antiperspirante pode causar câncer de mama?
Mito. De forma alguma. Esse é um boato que circula na Internet, mas nada
tem de verdadeira. Na axila nem existem células mamárias. Não existem
pesquisas ou estudos que demonstrem haver qualquer ligação entre as
duas coisas. O que pode acontecer é o entupimento de algumas glândulas
sudoríparas, mas isso não afeta a mama.
•   Um tumor pode ser causado por um trauma, por exemplo, uma pancada
    durante uma batida de automóvel?
Mito. A batida pode formar um caroço, que, em exames rotineiros, se
assemelha a um câncer, mas é benigno. Outra coisa comum é que, a partir
do choque, a preocupação da pessoa aumente e, através do toque mais
freqüente ou outro exame, ela descobre um nódulo que já estava presente
em seu corpo.
•   O câncer tem cura?
Verdade. Embora a medicina indique, sempre, o tratamento individualizado
e cada paciente responda de uma maneira particular às terapias, o câncer




                                                                            14
é curável, desde que diagnosticado precocemente e acompanhado
corretamente.
•   Andar muito de avião ou ficar sempre perto de antenas de celulares
    aumenta o risco de desenvolver câncer?
Mito. Não há nenhuma comprovação científica de que radiação de
celulares, microondas, aviões possa causar tumores. Telefones celulares
emitem doses pequenas de radiação eletromagnética. Até o momento, os
estudos feitos para determinar a relação dessa radiação com o
aparecimento de câncer não mostraram nenhuma evidência de que isso
ocorra, mas o assunto permanece “em aberto” e mais pesquisas são
necessárias para se chegar a uma conclusão. Convém ressaltar que
radioatividade em altas concentrações representa riscos para desenvolver
um câncer.
•   Alimentos cozidos em forno de microondas podem provocar câncer?
Mito. As microondas não tornam o alimento radioativo, nem apresentam
risco de exposição à radiação desde que usadas de acordo com as
instruções. A exposição a altas doses de radiação por microondas pode
ocasionar queimaduras ou cataratas nos olhos, mas a pequena quantidade
que pode vazar de um forno caseiro não causa problemas.
•   O câncer de próstata causa diminuição de virilidade?
Mito. O toque retal não afeta o desempenho sexual de quem é submetido
ao exame. Se a doença for descoberta ainda no início, o tratamento não
influenciará a atividade sexual do paciente. Portanto não haverá riscos de
perda de apetite ou desempenho sexual.
•   Um paciente com câncer de próstata pode ter perda da masculinidade?
Mito. A única alternativa médica possível para verificar se a próstata está
normal ou se há alterações é realizar o exame de toque retal (pois o reto é
a via natural de acesso à próstata por ter sua parede ligada a esse órgão).
O exame em nada influencia a orientação sexual do paciente.
•   A freqüência sexual interfere na ocorrência de câncer?
Mito. Imaginar que uma vida sexual mais ou menos ativa influencia a
ocorrência da doença. Especialistas afirmam que não há relação alguma
entre a freqüência sexual e o surgimento de câncer. Cabe aqui informar


                                                                        15
que a atividade sexual não ajuda a proteger as mamas contra o câncer. O
      que pode protegê-las contra doenças mamárias é a gravidez e a lactação.
      •   Se eu faço o auto-exame de mamas todos os meses não preciso fazer
          mamografia?
      Mito. Normalmente, se você fizer o auto-exame todos os meses e visitar
      seu médico anualmente, uma mamografia por ano é suficiente. Nem o
      auto-exame, nem o exame médico, nem a mamografia são eficientes
      sozinhos. Alguns cânceres de mama são detectados apenas com a
      mamografia. Outros são detectados apenas com exame médico, por esta
      razão, a American Cancer Society (ACS) recomenda a mamografia, junto
      com o auto exame e o exame físico feito por um profissional de saúde.
      •   Amamentar protege o peito do câncer de mama?
      Verdade. Quando o bebê mama, as células mamárias ficam ocupadas com
      a produção de leite e se multiplicam menos, o que reduz o risco de contrair
      a doença.
      Certamente, com o tempo, muito ainda será desmistificado, e outros “mitos”
surgirão. Cabe aqui salientar que algumas opiniões a respeito da carcinogênese
seguem similiares nos vários períodos históricos, como as afirmadas por Schwarz
(1994, APUD: Tschuschke, 2008), de que a idéia de que a doença neoplásica
fosse devido a um estresse psíquico mais ou menos excessivo que precedia a
manifestação da doença, por exemplo.
                     Na evolução das teorias explicativas sobre as causas psicossomáticas
                     dos tumores, a multicausalidade física e psicológica se transforma em
                     seguida em um modelo principalmente ligado ao estresse, para depois
                     passar, na literatura dos últimos 50 anos, em um novo modelo, aquele
                     da cancer prone personality... (Schwarz, 1994, APUD: Tschuschke,
                     2008, p. 05)


      Pensando em uma perspectiva histórica mais atual, Levenson e Bemis
(2000), colocam que, na década de 50, testemunhou-se uma onda de interesse
na medicina psicossomática (sobre a qual discorreremos mais adiante) e na
pesquisa unindo fatores psicológicos, sociais e ambientais no surgimento e
progressão da doença. Uma das principais descobertas da época foi a associação
entre o fumo e o câncer de pulmão. Já na década de 60, traços de personalidade,
conflitos e sentimentos foram examinados como possíveis contribuintes para o
início e a progressão de muitas doenças, incluindo o câncer. Também nesta


                                                                                       16
década, houve a associação entre o câncer e a exposição a determinados
ambientes e toxinas ocupacionais. Além disso, se testemunhou o crescimento de
experimentos com animais na tentativa de melhor compreender os efeitos dos
fatores psicológicos e comportamentais no câncer, controlando variáveis que
poderiam causar confusão. Já a década de 70, caracterizou-se por vários
avanços na imunologia e na neuroquímica, e a psiquiatria tornou-se mais
envolvida com as bases biológicas dos transtornos mentais. Foram demonstradas
algumas associações intrigantes entre determinados estados afetivos e o sistema
neuroendócrino. Mais adiante, nos anos 80, como colocou Holand (1989, APUD:
Levenson e Bemis, 2000), tem-se as pesquisas na área da psiconeuroimunologia,
que exploraram a relações entre a resposta imunológica e as variáveis
psicossociais, assim como as implicações para a vulnerabilidade ao câncer e sua
progressão.


      2.3. DEFINIÇÕES


      Câncer, segundo o INCA, é o nome dado a um conjunto de mais de 100
doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células
que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras
regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito
agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de
células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno
significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam
vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo
um risco de vida. Salgado (2001) coloca que a classificação dos diversos tipos de
câncer está relacionada com o local onde surge o tumor e segundo sua aparência
vista ao microscópio. Muitos tipos de câncer pertencem a um dos cinco grandes
grupos, a saber:
      •   Carcinoma: se desenvolve em células que cobrem a superfície do
          corpo, a pele, nas glândulas mamárias ou em órgãos internos, como
          próstata, pulmões, estômago, intestino. 80 a 90% dos tipos de câncer
          pertencem a esta categoria.




                                                                              17
•   Mieloma: se desenvolve em um tipo especial de células localizadas na
    medula óssea, os plasmócitos.
•   Linfoma: se desenvolve nas células das glândulas do sistema
    imunológico. Os linfomas são subdivididos em Hodkings e Não-
    Hodkings. De acordo com a ABRALE (2009), O linfoma de Hodgkin foi
    assim chamado devido à descrição de vários casos em 1832 por
    Thomas Hodgkin, os quais foram reconhecidos como uma nova
    condição maligna que envolve os linfonodos. Foi aproximadamente 40
    anos mais tarde que um novo conceito de linfoma (originalmente
    denominado linfossarcoma), diferente do linfoma de Hodgkin, foi
    proposto por Virchow, Conheim e Billroth, três proeminentes médicos do
    final do século XIX. Os pacientes com linfoma de Hodgkin, apresentam
    células características denominadas: células de Reed-Sternberg.
    Acerca do Linfoma Não-Hodking, tem-se que existem trinta ou mais
    subtipos específicos, mas para simplificar a classificação muitos
    oncologistas agrupam os vários subtipos de acordo com a velocidade
    média de crescimento e progressão do linfoma: muito lentamente (baixo
    grau) ou muito rapidamente (alto grau ou agressivo).
•   Sarcoma: se desenvolve no tecido conetivo, como nos ossos, tendões,
    cartilagem, gordura e músculos. Segundo o OncoGuia, o termo tem
    origem grega e significa "crescimento carnoso". Os tumores ósseos
    também são chamados de sarcomas, embora estejam em outra
    categoria devido às suas características clínicas, microscópicas e por
    terem um tipo de tratamento diferente. Os sarcomas de partes moles
    (partes moles são os tecidos moles do nosso organismo como
    músculos, tecidos fibrosos e adiposos, tecidos de suporte, gordura,
    sistema nervoso periférico, vasos sangüíneos e linfáticos) abrangem
    uma série de tipos de tumores. Alguns crescem lentamente e outros
    apresentam crescimento bem mais rápido.
•   Leucemia: se desenvolve nas células da medula óssea e sistema
    linfático que produze o sangue. È na verdade um grupo de doenças
    complexas e diferentes entre si que afetam a produção dos glóbulos
    brancos, como pode ser visto no site da ABRALE.


                                                                       18
Simonton (1987) define a célula cancerosa como sendo fraca e confusa.
Segundo ele, um câncer começa com uma célula que contém informações
genéticas incorretas, tornando-se incapaz de cumprir as funções para as quais foi
designada. Isto pode ter ocorrido por diversos motivos, como exposição a
substâncias químicas, fatores externos, ou ainda porque, durante o processo de
reprodução de bilhões de células, o corpo produzirá ocasionalmente uma
imperfeita. Se esta célula reproduz outras células com a mesma construção
genética incorreta, então um tumor começa a ser formado, composto de uma
massa dessas células imperfeitas.
      O autor ainda salienta que, normalmente, as defesas do corpo e o sistema
imunitário reconhecem estas células e as destroem. No mínimo, o que acontece é
que elas são cercadas, para que não se alastrem. No entanto, no caso de células
malignas, mudanças celulares suficientes acontecem para que elas possam
reproduzir-se rapidamente e comecem a se introduzir no tecido adjacente.
Enquanto no caso das células normais há uma espécie de “comunicação” entre
elas para evitar que se reproduzam de maneira excessiva, as células malignas
são desorganizadas o bastante e não reagem à comunicação das células vizinhas
e começam então a se reproduzir de maneira desordenada. As células
defeituosas, o tumor, podem então começar a bloquear o bom funcionamento dos
órgãos do corpo, ou por aumentarem a ponto de exercer pressão física sobre
outros órgãos ou, ainda, por haverem substituído um número de células
saudáveis em um órgão, impedindo-o assim de funcionar.




             2.4. CÂNCER E FATORES DE RISCO


      O Câncer é considerado uma doença multifatorial, ou seja, cuja causa não
é única. Existem vários fatores que podem ser considerados de risco, não se
podendo, no entanto, afirmar que tais fatores serão determinantes para o
desenvolvimento da doença. Sabe-se que se uma pessoa estiver freqüentemente
exposta a fatores de risco, ela tem maior chance de desenvolver câncer. No
entanto, muitas vezes pessoas que se expõem a um ou mais fatores de risco não
desenvolvem câncer; enquanto outros, que nunca foram expostos, têm a doença.


                                                                              19
Isso ocorre porque, como já citado anteriormente, há inúmeros fatores associados
ao aparecimento de um tumor. Hürny (1996, APUD: Tschuschke, 2008) salienta
que, na base do estado atual sobre as pesquisas sobre o câncer, a hipótese mais
aceita acerca das causas do adoecimento é aquela de uma gênese multifatorial,
na qual as influências ambientais (raios, vírus, agentes carcinogênicos), os fatores
psicossociais (estresse, comportamentos “errados”, os fatores imunológicos,
endócrinos e genéticos, exercem uma ação interativa ou cumulativa segundo uma
modalidade ainda desconhecida na sua totalidade. Segundo o Hospital do Câncer
A. C. Camargo, fator de risco é qualquer coisa que aumente a chance de alguém
ter determinada doença. No caso do câncer, alguns podem ser evitados pela
mudança de hábitos - deixar de fumar, beber moderadamente, usar filtro solar, ter
uma dieta equilibrada - outros não. Entre estes últimos, estão o histórico familiar e
a idade - o risco de desenvolver câncer aumenta com a idade. Sendo assim, os
fatores de risco podem ser das seguintes ordens:


          2.4.1. Fatores de risco ambientais


      São aqueles presentes no ambiente, aos quais estamos expostos no nosso
dia-a-dia. Entende-se por ambiente, de acordo com o INCA, o meio em geral
(água, terra e ar), o ambiente ocupacional (indústrias químicas e afins) o ambiente
de consumo (alimentos, medicamentos) o ambiente social e cultural (estilo e
hábitos de vida). Assim, as mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio
homem, os hábitos e o “estilo de vida” adotados pelas pessoas, podem
determinar diferentes tipos de câncer. Alguns destes fatores, como nos lembra
Salgado (2001), são específicos para o desenvolvimento de certos tipos de tumor,
como a exposição ao sol sem proteção e o câncer de pele. Também há fatores
que são condição para vários tipos de tumor, como o tabagismo, que está
diretamente relacionado a tumores como pulmão, boca, esôfago, laringe, além de
se relacionar indiretamente com cânceres como bexiga, rins, mama. Segundo o
INCA 3 , o tabagismo é diretamente responsável por 30% das mortes por câncer,
90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença coronariana,
85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica e 25% das mortes por




                                                                                  20
doença cerebrovascular. Outras doenças que também estão relacionadas ao uso
do cigarro são aneurisma arterial, trombose vascular, úlcera do aparelho
digestivo, infecções respiratórias e impotência sexual no homem. Estima-se que,
no Brasil, a cada ano, 200 mil pessoas morram precocemente devido às doenças
causadas pelo tabagismo, número que não pára de aumentar. Também como
fatores de risco ambientais temos o asbesto, benzina, formol e a própria poluição.


               2.4.2. Fatores de risco hereditários e genéticos


          Hoje sabe-se que são raros os casos de cânceres que se devem
exclusivamente a fatores hereditários, familiares e étnicos, apesar de o fator
genético exercer um importante papel na oncogênese. O oncologista Rafael
Kaliks, do portal Onco Guia (2008), traz informações importantes a respeito da
relação câncer/genética/hereditariedade, a saber:
          •    Todo câncer é causado por uma alteração nos genes. Isto NÃO
               significa que seja hereditário. Isto apenas significa que esta alteração
               nos genes causou uma seqüência de eventos nas células de um órgão
               que acabou causando o aparecimento de um tumor maligno. A grande
               pergunta é se esta alteração nos genes ocorreu ao acaso (o que ocorre
               na grande maioria dos casos de câncer, especialmente quando o
               câncer ocorre em pacientes idosos) ou se foi herdada (ou seja, a
               alteração genética passou de pai (ou mãe) para filho (a)).
          •    Na grande maioria dos casos de câncer, trata-se de uma alteração
               genética adquirida ao longo da vida pelo indivíduo doente. Raramente a
               alteração genética foi herdada. O indivíduo que adquiriu esta alteração
               genética ao longo da vida NÃO irá passar esta alteração para seus
               filhos. Apenas entre 5 e 10% de todos os casos de câncer são
               conseqüência de alteração genética hereditária, ou seja, transmissível
               de pai (mãe) para filho(a).
          •    Nem todo individuo que herda uma predisposição genética irá
               desenvolver o câncer. Há inclusive alterações genéticas predisponentes
               que apenas raramente acabam desencadeando câncer.

3
    http://www.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp?item=faq


                                                                                    21
•   Os tumores mais freqüentemente associados a alterações genéticas
          hereditárias são: câncer de mama, câncer de cólon (intestino grosso) e
          reto, câncer de ovário e câncer de tireóide. Dito isto, apenas uma
          minoria dos pacientes com câncer nestes órgãos tem uma alteração
          genética hereditária.
      Sobre a questão étnica, sabe-se que existe a prevalência de certos
tumores em determinadas raças, e certa “proteção” para outros tipos de tumores.
Por exemplo, o índice de câncer de próstata é bastante elevado em negros, ao
passo que o sarcoma de Ewing lhes é muito raro (INCA). Estudos do MD
Anderson Cancer Center, do Texas, trazem que os tumores de ovário são mais
comuns nas mulheres do Nordeste Europeu ou de descendência judia, bem como
são mais comuns nos países industrializados. Já a AIRC (Associazione Italiana
Per la Ricerca sul cancro) coloca que os tumores de esôfago, por exemplo, são
bastante comuns na China e em Singapura.
      Portanto, são vários os fatores que contribuem para o desenvolvimento de
um câncer, destacando-se, segundo o National Cancer Institute, o avançar da
idade, o tabagismo, a exposição solar, a exposição à radiação, algumas
substâncias químicas, alguns vírus e bactérias, certos tipos de hormônios,
histórico familiar de câncer, alcoolismo, má alimentação, falta de atividade física e
sobrepeso. Também alguns fatores relacionados a estresse, bem como aspectos
emocionais vêm sendo estudados como fatores de risco para o adoecimento. Isto,
no entanto, será discorrido em capítulo à parte.




          2.5. CÂNCER E PREVENÇÃO


      A prevenção do câncer, segundo Kaliks e Giglio (2008), pode ser dividida
em três tipos, primária, secundária e terciária, e tem por objetivo interferir nos
fatores predisponentes ao desenvolvimento de um câncer ou detectar
precocemente o advento do câncer deles decorrente. Para falarmos acerca da
prevenção relacionada ao câncer, é necessário, portanto, que se discorra acerca
dos diversos tipos de prevenção, a saber: primária, secundária e terciária.




                                                                                  22
2.5.1. Prevenção Primária


      Segundo Fernandes (2008), o conceito de prevenção primária é evitar que
indivíduos saudáveis se tornem doentes, promovendo educação e condições que
melhorem a qualidade de saúde na vida das pessoas. Um bom exemplo de
prevenção primária que podemos citar são as campanhas de vacinação
realizadas pelo Ministério da Saúde, com o objetivo de evitar o surgimento de
doenças infecto-contagiosas que possam desenvolver uma epidemia na
população em geral. Tudo começa com seus hábitos de vida, as atividades
físicas, os bons relacionamentos, as realizações no âmbito social, religioso,
profissional etc. Passa também por uma boa alimentação balanceada e variada
de nutrientes, completando-se com a realização de tarefas agradáveis e contatos
com pessoas do seu convívio diário. Educar o indivíduo a praticar estas atividades
é promover prevenção primária. Mostrar para as pessoas os riscos a que estão
expostas fazendo ou não determinadas atividades contribui também para uma
melhor qualidade de saúde. Pensando especificamente na questão do câncer,
sabe-se que a adoção de hábitos de vida saudáveis pode vir a dificultar o
surgimento da doença, porém, ela sendo multifatorial, pode vir a ocorrer inclusive
em indivíduos considerados “cuidadosos”. A grande maioria dos tumores não se
enquadraria em uma forma de prevenção dita primária, salvo, atualmente, o
câncer de colo de útero, que não apenas pode ser prevenido pelo exame de
Papanicolau, como através da vacinação contra o HPV, um dos principais
agentes causadores deste tipo de tumor. Kaliks e Giglio (2008) referem-se à
prevenção primária do câncer como as medidas gerais que podemos propor a
pessoas da população geral com o intuito de prevenir a exposição a fatores que
poderiam provocar o aparecimento de câncer. Dentre estes fatores, destacam o
tabagismo, o etilismo, a obesidade, a exposição ao sol e a proteção contra
infecções, dando destaque aqui à já citada anteriormente, vacina contra o HPV,
principal agente causador de câncer de colo do útero.


          2.5.2. Prevenção Secundária




                                                                               23
De acordo com a Associação Brasileira do Câncer, a prevenção secundária
se baseia na detecção precoce e tratamento que contribuem significativamente
para o aumento dos índices de sobrevivência. Ela visa, conforme pode ser lido no
espaço www.oncologistas.com, identificar lesões em fase pré-clínica em
indivíduos assintomáticos, quando a doença é passível de cura. É, portanto, a
nível de prevenção secundária que temos as mamografias, ecografias, exames de
sangue e demais “preventivos”, cujo objetivo é a detecção precoce da doença, o
que a torna mais passível de cura. De acordo com Kaliks e Giglio (2008), a
importância da prevenção secundária reside no fato de que a detecção precoce
permite uma alta taxa de cura para a maioria das neoplasias.


         2.5.3. Prevenção Terciária


      A prevenção terciária refere-se a uma prevenção de recaída, no caso, por
exemplo, de alcoolismo ou drogadição ou, no caso do câncer, quando a doença já
está instalada, na prevenção de recidiva ou metástases.Também relaciona-se à
reabilitação. Meirelles (2008) coloca que a prevenção terciária corresponde à
detecção precoce de problemas de saúde em indivíduos presumivelmente
doentes, mas assintomáticos para a situação em estudo. Pretende-se, ainda, que
haja uma aplicação imediata de medidas apropriadas, com vista ao rápido
restabelecimento da saúde ou, pelo menos, um condicionamento favorável da
evolução da situação, com cura e/ou redução das conseqüências mais
importantes da doença. Este nível de prevenção pressupõe o conhecimento da
história natural da doença, a existência de um período de detecção precoce
suficientemente longo (período pré-clínico ou assintomático) e facilmente
detectável, e que seja passível de tratamento que interrompa a evolução para
estádios mais graves. Assim, espera-se que haja diminuição da prevalência da
doença, essencialmente pela diminuição da duração da mesma. Dentre os
exemplos, citam o rastreamento dos cânceres de colo do útero, da mama, da
próstata, do cólon e reto. Acerca deste tipo de prevenção, Kaliks e Giglio (2008)
citam que a mesma consiste em medidas instituídas em pacientes que já têm uma
neoplasia, visando evitar a deterioração clínica ou complicações específicas do
tratamento. Destacam, também, que a prevenção terciária é essencialmente


                                                                              24
estabelecida em função de falha das medidas de prevenção primária e
secundária.
      Assim sendo, quando pensamos em prevenção do câncer, devemos levar
em consideração os três níveis acima citados.




      3. PSICOSSOMÁTICA


         3.1. ETIOLOGIA E SIGNIFICADOS DA PALAVRA


      O termo surgiu a partir do século passado, quando Heindroth criou a
expressão psicossomática. (Mello Filho, 1992).
      Cerchiari (2000) nos traz que a expressão foi criada por Heindroth ao fazer
referência a insônia e a influência das paixões na tuberculose, epilepsia e câncer.
Trombini e Baldroni (2004), trazem que, embora a palavra “psicossomática” se
refira a conceitos muito antigos, encontrados em todas as culturas humanas, o
termo psicossomático é de origem um tanto quanto recente. De acordo com os
autores, Heindroth (1818) sentou a necessidade de unir o conceito de mente e de
corpo para reagir à tendência exagerada à separação que estava se verificando
na cultura científica da época, bastante influenciada pelo pensamento cartesiano.
Pouco tempo depois, em 1822, Jacobi (APUD: Tombini e Bardoni, 2004), propôs
o termo somato-psíquico para indicar a influência de experiências corpóreas na
atividade psíquica. Em ambos os casos, no entanto, um dos dois pólos do
problema sempre era privilegiado: o psíquico ou o somático. Com o passar dos
anos, a palavra foi utilizada nos conceitos mais diversos, tendo assumido vários
significados:
      * pode referir-se à convicção ou dúvida de que um distúrbio corpóreo tenha
origem psicológica. Por muito tempo, usou-se o termo Doença Psicossomática
para uma categoria de patologias médicas que acreditava-se ter uma causa
psicológica que a distinguia de outras, cujas causas seriam unicamente
orgânicas. Assim, o termo tornou-se sinônimo de psicógeno. Um conceito
simplista, mas que, ainda hoje, é utilizado por muitos médicos e psicólogos.
(Trombini e Baldroni, 2004)


                                                                                25
* pode indicar a influência das emoções e do eestressee nos processo
corpóreos. Neste caso, fala-se também de sintomas psicofisiológicos. Estuda-se
os aspectos psicológicos em relação aos corpóreos e avalia-se com outros de
natureza social ou ambiental, numa perspectiva multifatorial, embora ligada a uma
concepção causal linear;
      * pode voltar-se às influências que os processos corpóreos, sãos ou
patológicos, podem ter na psique. Uma doença crônica, pro exemplo, pode
interferir na qualidade de vida e ocasionar o aparecimento de distúrbios
emocionais. O termo utilizado seria somatopsíquico;
      * pode indicar as condições químicas nas quais a função de um órgão ou
de um aparelho corpóreo é alterada, mas que não chega a caracterizar uma lesão
orgânica que justifique a sintomatologia. Fala-se de síndrome funcional ou
distúrbio de somatização, presumindo de modo genérico que a condição seja
conseqüência de um sofrimento emocional ou do eestressee;
      * pode ser utilizado para definir um tipo particular de personalidade que
predispõe ao desenvolvimento de doenças: personalidade psicossomática, como,
por exemplos, pacientes com características de alexia, que manifestam
dificuldade para reconhecer e exprimir as próprias emoções em termos
psicológicos, tendendo então a vivê-las no plano somático;
      * pode referir-se ao significado comunicativos que pode assumir um
sintoma corpóreo, ou indicar uma modalidade de relação característica de uma
família, na qual um ou mais membros são predispostos a adoecer somaticamente
(famílias psicossomáticas);
      * pode descrever uma modalidade de avaliação pela qual os problemas
humanos são estudados, considerando-se diferentes níveis e sistemas biológicos,
psicológicos, sociais e ambientais. O exemplo mais importante é o modelo
biopsicossocial, proposto por George Engel.
      Lipowski (1984) coloca que o termo "psicossomática" implica diferentes
sentidos para diferentes pessoas e tem sido usado numa variedade de contextos,
tais como: medicina psicossomática; movimento psicossomático; desordens
psicossomáticas; sintomas psicossomáticos; pacientes psicossomáticos. Segundo
a autora, estes termos são raramente definidos por quem os usa, perpetuando
sua ambigüidade.


                                                                              26
Alexander (1989) traz que o termo “psicossomático” tem sido objeto de
muita crítica, principalmente porque parece sugerir justamente o que o ponto de
vista psicossomático denta evitar: a dicotomia mente/corpo. Segundo o autor, o
termo deve ser usado apenas para indicar um método de abordagem, tanto em
pesquisa quanto em terapia, ou seja, o uso simultâneo e coordenado de métodos
e conceitos somáticos (i.é, fisiológicos, anatômicos, farmacológicos, cirúrgicos e
dietéticos) de um lado, e métodos e conceitos psicológicos por outro lado.
      Hulak (2003) enfatiza uma distinção que considera indispensável entre a
Medicina Psicossomática e a Psicossomática propriamente dita. De acordo com o
autor, enquanto a Medicina Psicossomática diz respeito ao conjunto de ações
voltadas para o atendimento de pacientes (semiologia, propedêutica, terapêutica
e didática), a segunda tem como pertinência e território o ideário, a filosofia, a
humanística da Psicossomática e sua história e campo. Esta distinção torna-se
importante para caracterizar estas psicossomáticas          nos   dias   atuais; a
psicossomática hoje.


        3.2. UM POUCO DA HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA E SEUS
        CONCEITOS


      Para discorrer um pouco sobre a história de Psicossomática, é necessário
que falemos, primeiramente, sobre o surgimento do “movimento” psicossomático,
para mais adiante falarmos um pouco acerca de alguns profissionais que
tornaram-se fundamentais para o seu desenvolvimento.
      Em Psicossomática Hoje (1992), Mello Filho nos faz uma breve descrição
da história da Psicossomática. Segundo o autor, o termo psicossomática surgiu a
partir do século XIX, como já descrito anteriormente. No entanto, o “movimento
psicossomático” só se consolidou em meados do século XX, com Alexander e a
escola de Chicago. Hulak (2003) coloca que Heinroth cunhou a palavra ”psico-
somática” (com hífen) e desenvolveu trabalhos sobre a saúde como um todo e de
como as emoções podem gerar doenças; na continuidade de sua obra cunha, em
1828, o termo “somatopsíquico”. Já Tormbini e Baldoni (2001), colocam que o
termo “somatopsíquico” foi, na verdade, proposto pelo médico organicista Jacobi,




                                                                               27
em 1822, para indicar a influência das experiências corpóreas na atividade
psíquica.
       Contemporâneos de Heinroth, Heindorf, Gross e Benecke (APUD: Hulak,
2003), também contribuíram para uma visão psicodinâmica da saúde e a
psicoterapia proposta por Reil recebeu contribuições teóricas importantes. Além
disso, Moreau De Tours afirmou que a interpretação dos sonhos era o caminho
para a compreensão das neuroses.
       Para Mello Filho (1992), a evolução da psicossomática ocorreu em fases. A
primeira, denominada de fase inicial ou psicanalítica, sob a influência das teorias
psicanalíticas, teve seu interesse voltado para os estudos da origem inconsciente
das doenças, das teorias da regressão e dos ganhos secundários da doença. A
segunda, também chamada de fase intermediária, influenciada pelo modelo
Behaviorista, valorizou as pesquisas tanto em homens como em animais,
deixando assim grande legado aos estudos do estresse. A terceira fase,
denominada de atual ou multidisciplinar, valorizou o social, a interação e
interconexão entre os profissionais das várias áreas da saúde.
       A corrente Psicanalítica teve, como um dos principais representantes,
Franz Alexander, cujas teorias baseavam-se em idéias bastante evoluídas, que
levavam em conta tanto aspectos filosóficos, psicológicos e sócias do problema,
como dados mais modernos oferecidos pela medicina e pela psicofisiologia. Foi o
primeiro a enfrentar o problema da origem das doenças numa perspectiva
multifatorial, acreditando que os fatores emocionais sempre desempenham um
papel importante, interagindo com outros elementos somáticos e ambientais num
único processo. (Trombini e Baldroni, 2001). Antes dele, no entanto, não podemos
deixar de citar a contribuição deixada por Grodeck, psicanalista que desenvolveu
uma teoria segundo a qual, como coloca Casetto (2006), o sintoma somático é
visto como representante simbólico dos conflitos psíquicos. Segundo Groddeck
(1923, APUD: Casetto, 2006), “A doença não provém do exterior, o próprio ser
humano a produz; o homem só se serve do mundo exterior como instrumento para ficar
doente, escolhendo em eu inesgotável arsenal de acessórios ora a espiroqueta da sífilis,
ora uma casca de banana, depois uma bala de fuzil ou um resfriado”. E, como coloca
Hulak (2003), apesar da psicossomática não ter sido alvo de maior preocupação
para Freud, Georg Groddeck foi o pioneiro de uma psicossomática desvinculada



                                                                                     28
da psicanálise. Nascimento (s/ano) escreve que seu modo de proceder partia do
princípio de que as doenças do homem eram uma espécie de representação
simbólica de suas predisposições psicológicas. Groddeck rejeitava a distinção
entre doenças psíquicas e orgânicas e procurava curar as pessoas em sua
globalidade (Trombini e Baldroni, 2001). Outro nome importante de ser lembrado
é o de Ferenczi, que propôs, em 1926, uma nova categoria de neuroses, que
chamou de neurose de órgão, com a qual teria encontrado a possibilidade de
pensar a origem psíquica de certas disfunções orgânicas (Casetto, 2006).
      Retornando para Alexander (1989), o mesmo coloca que teoricamente,
cada doença é psicossomática, uma vez que fatores emocionais influenciam
todos os processos do corpo, através das vias nervosas e humorais. Quando os
médicos não conseguiam encontrar agentes infecciosos ou outras causas diretas
para uma determinada doença, Alexander levantava a hipótese de que fatores
psicológicos poderiam estar envolvidos. Segundo o seu modelo de conflito
nuclear, a presença de determinados conflitos inconscientes podia levar à
manifestação de queixas físicas, sendo que cada doença física poderia ser
compreendida como o resultado de um conflito psicológico fundamental ou
nuclear. Ele pensava, por exemplo, que pessoas com “personalidade reumática”
tendiam a reprimir a raiva e seriam incapazes de expressar emoções, o que as
tornaria propensas a desenvolver artrite. Descreveu minuciosamente um grande
número de transtornos físicos possivelmente causados por conflitos psicológicos,
ajudando a estabelecer assim os pilares da medicina psicossomática (Capitão e
Carvalho, 2006)
      Trombini e Baldroni (2001), ao descreverem a teoria de Alexander, trazem
que, para ele, a constituição hereditária, os traumas sofridos no parto ou depois, a
vulnerabilidade dos órgãos, as doenças anteriores, o tipo de cuidados recebidos,
o clima familiar, as experiências afetivas, de trabalhos sociais, integradas com o
ambiente, são fatores a considerar em todas as doenças. Só seu conhecimento
pode levar a se fazer um quadro completo da situação e a tomada de decisões
terapêuticas adequadas. Segundo Casetto (2006), a “escola de Chicago”, grupo
liderado por Alexander, estudou basicamente sete patologias: asma brônquica,
úlcera gástrica, artrite reumatóide, retocolite ulcerativa, dermatoses, tireotoxicose




                                                                                  29
e hipertensão essencial, procurando localizar, para cada uma delas, um conflito
específico.
      Ainda nesta corrente, tem-se a perspectiva Psicobiológica, representada
especialmente por Helen Dunbar, que fundou, juntamente com Alexander, em
Chicago, a revista “Medicina Psicossomática”, que tornou-se uma referência para
publicações de artigos neste campo. Dunbar foi quem introduziu a palavra
“psicossomática” na literatura científica dos Estados Unidos. Utilizando-se de uma
bateria de testes psicológicos, como questionários, testes de personalidade e de
inteligência, Dunbar estudou grupos de pacientes atingidos pelas mesmas
patologias, chegando a identificar alguns aspectos de personalidade específicos e
formulando o que ficou conhecido como “teoria da especificidade de
personalidade”. (Trombini e Baldroni, 2001). Müller (2008) nos lembra que a
mesma advogou a abordagem holística no cuidado dos pacientes e fez uma
correlação entre tipos psicológicos e doenças orgânicas. Seria importante
salientar que os dados coligidos por Dunbar e sua teoria da especificidade,
embora tenham sido objeto de inúmeras críticas, especialmente por serem pouco
satisfatórios ou limitados, abriram caminho a inúmeras outras pesquisas e ao
desenvolvimento    de   modelos    teóricos   de   grande   importância   para   a
psicossomática, dentre eles, estudos realizados no final dos anos 50 por Meyer
Friedman e Raymond Rosenman. (Trombini e Baldroni, 2001).
      Enquanto nos Estados Unidos o interesse pela Psicossomática se
desenvolveu a partir da década de 30, na França, a partir dos anos 50, um grupo
de psicanalistas, liderados por Pierre Marty, ampliou de maneira significativa a
teoria e a clínica psicossomática, introduzindo uma continuidade conceitual e
clínica entre a abordagem médica e psicanalítica da sintomatologia, tanto
psíquica quanto somática. O objetivo inicial desses teóricos era melhor
compreender as patologias somáticas cuja dinâmica não correspondiam ao
modelo da conversão histérica, utilizando o conceito psicanalítico de neurose
atual. (Moura, 2009)
      Volich (1998) diz que gradualmente foi se desenvolvendo um corpo clínico
e teórico que considera a sintomatologia a partir de uma concepção
essencialmente metapsicológica e, sobretudo, econômica. É uma tentativa de




                                                                                 30
compreender os destinos da excitação pulsional no organismo e sua
possibilidades de descarga.
      Segundo Marty (1994) a patologia somática não conversiva é o resultado
da impossibilidade de elaboração da excitação através dos recursos psíquicos do
indivíduo, em função de uma estruturação deficiente, no plano representativo e
emocional, do aparelho mental. O modelo proposto por ele ressalta a idéia de que
a um menor grau de atividade mental corresponde uma maior vulnerabilidade
somática.
      Em 1972, Pierre Marty funda o Instituto de Psicossomática de Paris.
Partindo de concepções psicanalíticas, ele pensa a patologia somática como
resultado da impossibilidade de elaboração da excitação por meio de recursos
psíquicos do indivíduo, em função de uma estruturação deficiente, no plano
representativo e emocional do aparelho psíquico. (Capitão e Carvalho, 2006).
Marty (1994) acredita que em grande número de pacientes que apresentam uma
sintomatologia somática não conversiva é possível constatar um empobrecimento
da capacidade de simbolização das demandas pulsionais e de sua elaboração
através da fantasia. O modelo proposto por Marty ressalta a idéia de que um
menor grau de atividade mental corresponde a uma maior vulnerabilidade
somática. Diante de um traumatismo, um indivíduo com uma atividade mental
pouco desenvolvida não teria recursos mentais suficientes para lidar com o
excesso de estimulação, e esta desorganização passaria a atingir as funções
somáticas, menos evoluídas.      Sua escola introduziu a noção de pensamento
operatório.
      Trombini e Baldoni (2001) colocam que, de certo modo, a importância do
conceito de pensamento operatório não foi reconhecida até o começo dos anos
1970, quando Peter Sifneos e John Nemiah, dois psicanalistas de Boston,
mediante o estudo de transcrição literal dos colóquios com pacientes atingidos por
moléstias psicossomáticas clássicas, descobrem uma série de traços psicológicos
comuns que chamaram de alexia, que significa “falta de palavras para exprimir
emoções”. As características destas pessoas lembram as descritas por Marty
para o pensamento operatório:

      •     dificuldade em reconhecer e exprimir as próprias emoções;



                                                                               31
•   incapacidade em distinguir com clareza os sentimentos das sensações
          corpóreas ligadas às atividades emocionais;
      •   escassez de fantasia e de imaginação;
      •   estilo cognitivo muito prático e pouco introspectivo, dirigido para o
          mundo físico e para a ação muito mais do que para o pensamento.

      Trata-se, portanto, de pessoas que aparentemente não têm uma vida
interior, com as quais o diálogo tende a ser sem emoções, pois faltam referências
às vivências, aos desejos e aos sentimentos. Tendem a recorrer à ação para
evitar problemas e conflitos e, quando se dirigem ao médico, limitam-se a
descrever os sintomas físicos, como se não tivessem significado emocional.

      Outra abordagem é a Psicofisiológica, com os estudos iniciais de PAVLOV
e CANNON, que por sinal foi o primeiro estudioso a interessar-se pelo estresse
em seu aspecto psicossomático. De acordo com a perspectiva Neurofisiológica,
Walter Cannon (1932, APUD: Nascimento, s/ano), apresentou o conceito de
homeostasia, a tendência dinâmica dos organismos manterem as diferenças, ou
seja, a tendência ao equilíbrio, e o conceito de reação de emergência, o padrão
de resposta “luta ou fuga”.

      Além deles, temos Harold Wolff e seu livro "Stress and Disease", onde
elaborou o conceito de estresse psicológico e mudanças na vida estressantes
como contribuição aos fatores causais das doenças.

      Müller e Silva (2007) destacam que uma importante contribuição para o
avanço dos estudos sobre a interação mente-corpo foi dada por Hans Selye,
através de ideais sobre a Sindrome Geral de Adaptação

      Também Engel, que desenvolveu um conceito unificado de saúde e doença
o qual chamou de modelo biopsicossocial, é um dos precursores do que mais
adiante iremos chamar de “Psicossomática Moderna”. Segundo Trombini e
Baldroni (2001), a psicossomática moderna procura realmente seguir uma
perspectiva biopsicossocial, conforme modelo originariamente proposto por Engel,
no sentido de que se ocupa do estudo dos problemas humanos considerando as



                                                                              32
relações não só entre os sistemas diversos (genético, anatômico, neurológico,
endocrinológico, imunológico, psicológico, social), mas também entre níveis
diversos, do subcelular ao ambiental. Assim, uma doença pode resultar da
interação de muitos fatores que podem ser avaliados em vários planos
relacionados entre si.
      Engel, considerado um dos especialistas mais competentes em medicina
Psicossomática da segunda metade do séc. XIX, de acordo com Trombini e
Baldroni (2001), em seus estudos sobre estresse, traz que as causas mais
importantes do estresse individual podem ser basicamente de três tipos: uma
perda ou ameaça de perda; uma prejuízo ou ameaça de prejuízo; a frustração de
uma necessidade. Outro autor interessante de ser lembrado é Lazarus, que
utilizou o termo estresse psicológico para indicar, como citam Trombini e Baldroni
(2001), a condição na qual a reação ao eestressee depende essencialmente da
valorização subjetiva dada pelo indivíduo, como a pessoa constrói mentalmente o
fato. (lembrando aqui que, no estresse físico, o estímulo age diretamente no
tecidos corpóreos e só secundariamente na atividade mental).
      Hulak (2003), descrevendo um pouco da história da Psicossomática, coloca
que Ferenczi e posteriormente seus discípulos Franz Alexander e Michael Balint
foram decisivos para a construção das bases teóricas e técnicas da medicina
psicossomática moderna. Também foram importantes as contribuições de Felix
Deutsh, Discípulo de Freud que realizou pesquisas pioneiras estudando a
influência dos fatores emocionais referentes aos distúrbios cardiovasculares,
dermatológicos, respiratórios e gastrintestinais e que, assim como Groddeck,
estendeu o conceito de conversão para além da histeria,considerando-a um
processo normal que atua por toda a vida em todo ser humano. (APUD:Trombini e
Baldroni, 2001) e Helen Deutsh. Nos Estados Unidos, a escola de Chicago
(Alexander) a de Nova York (Dunbar) e a de Boston (Sifneos e Nemiah, que
desenvolveram o conceito de alexitimia, visto anteriormente), foram consolidando
a medicina psicossomática no após-guerra (fins de 1950, início de 1960) através
da Associação Americana de Medicina Psicossomática e do International College
of Psychosomatic Medicine (ICPM), na Europa. Também a França vem
contribuindo com uma das escolas mais ricas, produtivas e criativas e de grande
influência atual, a escola psicossomática de Paris, fundada por Pierre Marty.


                                                                                33
Merece também destaque, como um trabalho mais contemporâneo da
Medicina Psicossomática, o desenvolvido por Joyce McDougall.
      McDougall apresenta um pensamento muito peculiar, diferente das
conhecidas três escolas de psicossomática e algumas outras vertentes vistas
anteriormente como a Escola de Chicago, com Franz Alexander (1989),com foco
nos perfis de personalidade e definindo determinados tipos e classificações de
algumas doenças como psicossomáticas; Escola de Paris, como representante
Pierre Marty (1994), baseada no conceito de pensamento operatório, quando
paciente superinvestiria libidinalmente o que é concreto, como os sintomas
corporais; a Escola de Boston com o         conceito de Alexitimia, que alude à
dificuldade dos pacientes conseguirem ler suas emoções e, por isso, expressá-las
pelo corpo; como representantes John Nemiah e Peter Sifneos (1973). As duas
últimas relacionam a eclosão psicossomática com ausência de resposta afetiva,
implicando uma forma de relação objetal marcada pela pobreza de investimentos
libidinais, apresentada na forma de dificuldades de ordem do afeto e da
simbolização. As três escolas consideram que os eventos psicossomáticos seriam
comuns a determinados tipos de pessoas e desconsideram a ocorrência de
fenômenos psicossomáticos passíveis de acontecer com qualquer pessoa. Já
McDougall (1982, apud Dias, 2007) afirma a necessidade de um entendimento
psicossomático da pessoa e de seu funcionamento total, não concordando em
minimizar os fenômenos do adoecimento para fins de explicação. A autora afirma
que face à dor psíquica, às divisões internas, aos traumatismos universais e
pessoais que a vida inevitavelmente provoca, o homem é capaz de criar uma
neurose, uma psicose, um escudo caracterial, uma perversão sexual, sonhos,
obras de arte – e doenças psicossomáticas (McDougall, 1978/1989, apud Dias,
2007). Um dos focos de McDougall foi investigar a possibilidade de análise de
pacientes com adoecimento orgânico; considerou que qualquer paciente, em
qualquer momento, poderá apresentar um sintoma orgânico e que este poderá vir
a fazer parte do tratamento e das interpretações.
      A autora acredita que os problemas colocados pela somatização estão em
uma encruzilhada de várias disciplinas, e que a pessoa não é pura estrutura
psicológica. Nem pura estrutura orgânica. E que ninguém poderá contestar,
principalmente sob a ótica da psicanálise, que os processos psíquicos se originam


                                                                              34
e evoluem a partir de processos biológicos. Para a autora, o processo
psicossomático é um delírio do corpo; é o corpo que enlouquece. A expressão
psicossomática trata da “regressão”*, mais primária e profunda do ser, tornando o
corpo um campo de batalha, em uma luta cujo sentido não fica exatamente claro,
McDougall constatou que pessoas com tendência somatizante tendem a exigir
demais do corpo físico, ou mesmo ignorar sinais do corpo desamparado, como se
fosse vítima de uma carência de investimento libidinal, ou não conseguisse ser
representado enquanto objeto psíquico. Para ela, o papel da mãe é fundamental
para a organização psicossomática da criança, que só poderá adquirir um corpo e
se tornar consciente dos sinais que ele emite se apta a elaborar simbolicamente o
que ocorre dentro da díade mãe-criança que futuramente deverá ser rompida.
      Peres (2005), em resenha escrita acerca da obra “ A Psicanálise no Divã” ,
de Ruth Menahem (2001), destaca dois conceitos de grande relevância na obra
de McDougall, a saber: “normopatia” e“desafetação”. Ambos foram cunhados a
partir da descrição de distúrbios da economia afetiva – decorrentes, na maioria
dos casos, de desarmonias no vínculo com a figura materna – que fomentam a
exclusão de representações associadas a sentimentos e emoções do aparelho
psíquico. Tais distúrbios, segundo a autora, não provocam restituições psicóticas,
tais como delírios e alucinações, porém, engendram uma cisão entre a mente e o
corpo e favorecem a eclosão de doenças orgânicas.

      Para McDougall (1997, apud Capitão e Carvalho, 2006), o afeto não pode
ser concebido como acontecimento puramente mental ou físico. A emoção é
essencialmente psicossomática, pois o fato de ejetar a parte psíquica de uma
emoção permite à parte fisiológica exprimir-se como na primeira infância, o que
leva a sua ressomatização. Aqueles que empregam continuamente a ação como
defesa contra a dor mental (quando a reflexão e a elaboração mental seriam mais
adequadas) correm o risco de aumentar sua vulnerabilidade psicossomática.
Determinados modos de funcionamento mental, como os pensamentos concretos,
alexitímicos, objetos parciais, sentimentos de angústia persecutória adquiridos
nos primeiros meses de vida, antes da aquisição da palavra, podem predispor
mais às eclosões psicossomáticas do que às soluções neuróticas, psicóticas ou
perversas, pois as fantasias aterrorizantes, que poderiam tornar-se dizíveis, são



                                                                               35
imediatamente apagadas do campo da consciência por mecanismos primitivos de
clivagem e de identificação projetiva, ficando desprovidas de sua verdadeira
impregnação afetiva e de valor simbólico, o que obriga o psiquismo a emitir sinais
de sofrimento do tipo pré-simbólico, suscitando respostas somáticas e não
psíquicas diante de uma angústia indizível (McDougall, 1996, apud Capitão e
Carvalho, 2006).

      Sobre a linguagem do corpo, Mc Dougall (APUD:Dumas, 2004) coloca que a
disfunção psicossomática, como resposta a conflitos de todos os tipos, pode ser
concebida como um sintoma através do qual a psique procura, com meios
primitivos   e   infraverbais,   enviar   mensagens    que   serão    interpretadas
somaticamente. Assim, em estados psicossomáticos, um órgão ou uma função
corporal, não perturbados por funções orgânicas, pode agir como se fosse
chamado a responder psiquicamente a uma situação conflituosa sentida como
biologicamente ameaçadora. O corpo é sentido sem distúrbios de natureza
orgânica pode agir como se tivesse chamado a reagir psiquicamente a uma
situação conflituosa percebida como biologicamente ameaçadora. Segundo ela, o
corpo de um indivíduo pode, por exemplo, comportar-se como se procurasse se
livrar de uma substância tóxica sem que ele tenha sido exposto a qualquer
veneno (exemplo: a colite retal hemorrágica, a asma brônquica). (...) Fenômenos
somáticos deste tipo são mensagens enviadas pela psique quando ela é colocada
em perigo pelo ressurgimento de acontecimentos dolorosos, culpabilizantes ou
ameaçadores,       mas   cuja    representação   é    imediatamente   ejetada   do
inconsciente.(...) Esses fenômenos pertencem a uma ordem pré-simbólica e são
uma resposta somatopsíquica que a psique dá em seus esforços para interromper
as angústias (...); as experiências de ansiedade, mobilizadas durante um certo
tempo, não puderam originar uma representação mental verbal, isto é, uma
representação da ordem do pensável.
      Mello Filho (2002) salienta que atualmente a visão psicossomática já
conquistou um espaço importante entre as práticas médicas, e dá como exemplo
disto a atual definição de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS),
segundo a qual “saúde é um estado de completo bem estar físico, mental e social,
e não apenas ausência de doença”.



                                                                                36
Morin (2002, APUD: Müller e Silva, 2006), não apenas corrobora com este
pensamento, mas vai além, afirmando que o homem está em relação com seu
ecossistema, suas influências e o influencia. Assim, segundo o autor, é
necessário    respeitar   a   singularidade      do    homem,      levando     em     conta
simultaneamente seus processos biológicos, sociológicos e culturais.
       Atualmente, como ressalta Vasconcellos (1998, APUD: Müller e Silva,
2006), os segmentos mais avançados desse movimento da abordagem
psicossomática exigem que o bem-estar não seja apenas biopsicossocial, mas
que abranja também as dimensões espiritual e ecológica.
       Por fim, não podemos esquecer, na contemporaneidade, da grande
contribuição que os avanços e estudos científicos deram à Psicossomática,
especialmente os estudos na área da Psicofisiologia, e as descobertas nas áreas
de Psicoimunologia, Psicoendocrinologia, e o que passou a se chamar, mais
atualmente, de Psiconeuroendocrinoimunologia.
       Concluindo, saliento a questão trazida por Hulak (2003), de que, dos
gregos aos dias de hoje, a psicossomática abrigou quatro correntes: a
psicodinâmica, a biológica, a culturalista e a holística.
       A tendência holística divide-se entre as influências místicas e alternativas e
a visão mais seguida de uma medicina global, integradora e interdisciplinar,
revalorizando o papel de coordenação da psicossomática nas equipes de saúde e
na comunidade.



                       O princípio fundamental da filosofia holística é que a doença ocorre
                       quando tensões emocionais, psicológicas ou espirituais se tornam
                       excessivas, causando assim um enfraquecimento do corpo. Em outras
                       palavras, o corpo reflete ou manifesta as lutas mais profundas da vida
                       da pessoa. À medida que um indivíduo se mostra incapaz de lidar com
                       as tensões emocionais, psicológicas ou espirituais, ele se torna
                       receptivo ou susceptível aos vírus, às bactérias ou aos germes
                       presentes na atmosfera. (Myss, 1997, p.25)


       Aos poucos a psicossomática marcha para configurar sua própria
territorialidade; a psicossomática holística não só é transmissora de humanismo,
mas, um agente de transformação social. (Hulak, 2003),
       Trombini e Baldoni (2001) destacam que a assunção de uma posição
complexa em psicossomática permite o estudo do ser humano pela utilização de


                                                                                          37
uma rede de teorias e integrando pontos de vista diversos, tolerando suas
eventuais contradições e diferenças. Isso, porém, não significa negar a validade
da orientação teórica de referência e tampouco considerar o modelo equivalente a
outro. Mesmo não existindo verdades definitivas e absolutas, existem situações
que se defrontam melhor mediante a adoção de uma perspectiva particular.


                         Seria realmente absurdo pretender curar uma peritonite aguda, fazendo
                         deitar-se o paciente no divã de um psicanalista. E quantas intervenções
                         cirúrgicas foram realizadas inutilmente por não se ter avaliado o doente
                         do ponto de vista psicológico!(Trombini e Baldroni, 2001, p.51).


            3.3. A PSICOSSOMÁTICA NO BRASIL 4


          O movimento Psicossomático no Brasil surgir na década de 40 - imbuído de
uma missão de resgate conceitual da Escola Hipocrática, com um olhar que
contemple o ser humano como um todo.
          A Associação Brasileira de Medicina Psicossomática - ABMP - foi fundada
em 1965, com 147 membros, tendo como primeiro presidente Danilo Perestrello.
Entre os anos de 1976 e 1984, houve uma grande expansão com a criação de
núcleos regionais.
          Segundo a Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, o foco atual
da Psicossomática no Brasil é voltado à abordagem multidisciplinar, com
predomínio da interação disciplinar e de interconexões entre os vários
profissionais da saúde, além de sociólogos e antropólogos que têm demonstrado
interesse em prol da causa.
           Entendemos que o ser humano é composto por corpo e mente que
interagem num determinado espaço social, e essa interação é determinante em
qualquer tipo de enfermidade que venha a lhe afetar.


            3.4. A PSICO-ONCOLOGIA


            3.4.1. Etiologia da palavra e definições



4
    Fonte: site ABMP




                                                                                              38
Psico-oncologia,    Psicooncologia,    oncopsicologia,    oncologia
                    psicossocial... designações diferentes e grafias diversas para a
                    mesma idéia: a do melhor conhecimento teórico e técnico sobre o
                    câncer, seus tratamentos, efeitos colaterais, seqüelas e, acima de
                    tudo, sobre os cuidados com o paciente, seus familiares e seus
                    cuidadores, sejam eles leigos ou profissionais.

      Assim inicia a apresentação do livro “Temas em Psico-Oncologia”, da
Summus Editorial, organizado pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia,
datado de 2008. Isto nos leva a compreender que, mais importante do que a
grafia da palavra, é essencial que ela seja dotada de um sentido.
      A Psico-Oncologia é uma área de interface que busca estudar as duas
dimensões psicológicas do câncer, sendo elas, segundo Holland (1989, apud
Angerami- Camon 2000), o impacto do câncer na função psicológica do paciente,
na sua família e nos profissionais de saúde que o cuidam, bem como o papel que
as variáveis psicológicas e comportamentais possam ter no risco do câncer e na
sobrevivência a este.
      Ela constitui-se em uma área do conhecimento da psicologia da saúde,
aplicada aos cuidados com o paciente com câncer, sua família e os profissionais
envolvidos no seu tratamento. (Veit e Carvalho, 2008)
      Jimmie Holland (1989, Apud Veit e Carvalho 2008), fundadora da IPOS
(International Psycho-Oncology Society), define a Psico-Oncologia como uma
subespecialidade da Oncologia, que procura estudar as duas dimensões
psicológicas presentes no diagnóstico do câncer: 1) o impacto do câncer no
funcionamento emocional do paciente, sua família e profissionais de saúde
envolvidos em seu tratamento; 2) o papel das variáveis psicológicas e
comportamentais na incidência e na sobrevivência ao câncer.
      Embora seja uma área de atuação multidisciplinar, no Brasil, ela é
desenvolvida principalmente por psicólogos. Assim, Gimenes (1994, apud
Angerami 2000) definiu a Psico-Oncologia como a área de interface entre a
Psicologia e a Oncologia, e que utiliza conhecimento educacional, profissional e
metodológico provenientes da Psicologia da saúde para aplicá-lo: 1º) na
assistência ao paciente oncológico, sua família e profissionais de Saúde
envolvidos com a prevenção, o tratamento, a reabilitação e a fase terminal da
doença; 2º) na pesquisa e no estudo de variáveis psicológicas e sociais



                                                                                    39
relevantes para a compreensão da incidência, da recuperação e do tempo de
sobrevida após diagnóstico de câncer; 3º) na organização de serviços oncológicos
que visem o atendimento integral ao paciente (físico e psicológico), enfatizando
de modo especial à formação e o aprimoramento dos profissionais de Saúde
envolvidos nas diferentes etapas do tratamento.


      3.4.2. Um pouco da história da Psico-Oncologia


      A associação entre as doenças físicas e aspectos psicológicos existe
desde a antigüidade, com Hipócrates, para quem a saúde era uma evidência de
que o indivíduo havia atingido um estado de harmonia entre instâncias internas,
assim como com o meio ambiente. (Veit e Carvalho, 2008).
      Também Sócrates lidava com a “inseparabilidade” do sujeito, como lê-se
em Cármides (APUD: Ramos, 1994, p. 18):
                        Assim como não é possível tentar a cura dos olhos sem a cabeça, nem
                       a cabeça sem a do corpo, do mesmo modo não é possível tratar do
                       corpo sem cuidar da alma, sendo essa a causa de desafiarem muitas
                       doenças o tratamento dos médicos helenos, por desconhecerem estes
                       o conjunto que importa ser tratado, pois não pode ir bem a parte quando
                       vai mal o todo (...)

      Galeno, considerado, junto com Hipócrates, um dos pais da Medicina
ocidental, chegou a observar que mulheres deprimidas tinham mais tendência a
desenvolver câncer (Carvalho, 1998).
      Mais adiante, René Descartes estabeleceu um sistema dicotômico de
pensamento, onde o indivíduo é dividido em duas instâncias res cogitans e res
extensa. Esta forma de ver o ser humano exerceu, segundo Veit e Carvalho
(2008), grande influência no pensamento ocidental, sendo responsável pelo
significativo desenvolvimento das ciências, embora tenha dificultado a visão do
ser humano integral.
      Tal teoria acabou contribuindo muito para os avanços na área médica que,
através de estudos, descobriu agentes etilógicos das doenças, e pode
desenvolver vacinas e medicações.
      Este grande desenvolvimento científico e tecnológico, por fim, acabou por
aproximar mente e corpo, descobrindo inter-relações entre esses dois elementos,
e retomando, aos poucos, a visão do indivíduo como um todo.


                                                                                           40
A integração mente-corpo foi retomada por Freud, em seus Estudos sobre
Histeria, demonstrando que acontecimentos psíquicos podem ser a causa de
doenças orgânicas. Essa retomada permitiu que fossem realizadas pesquisas que
buscaram as inter-relações entre os aspectos biológicos, psicológicos e sociais,
dando origem ao modelo psicossocial na Medicina; assim, foram os trabalhos de
Freud    e   Jung    que   proporcionaram   o   desenvolvimento    da    Medicina
Psicossomática. Em 1939, ocorreu à oficialização dessa área e, através da
contribuição de várias outras linhas teóricas, com pesquisas, estudos e ação, o
termo Psicossomática foi conceituado como a inter-relação entre mente e corpo,
na literatura científica atual. (Carvalho, apud Santos, 2005). E a Psico-oncologia
surgiu como uma vertente da Psicossomática. E como isto se deu, afinal?
        Segundo Viet e Carvalho (2008), gradualmente, no decorrer da prática
médica, foi-se percebendo que aspectos psicossociais estavam envolvidos na
incidência, evolução e remissão do câncer. Assim, muitos médicos passaram a se
preocupar com os aspectos psicológicos presentes ao adoecimento por câncer.
Então, psiquiatras começaram a ser chamados para atender pacientes em função
do diagnóstico e dos tratamentos, muitas vezes, assustadores. Além disso, à
medida que foi sendo reconhecido que a etiologia e o desenvolvimento do câncer
e a adesão aos tratamentos estavam associados a fatores psicológicos,
comportamentais e sociais, tornou-se necessário desenvolver técnicas de
abordagem psicológica na área da saúde que pudessem melhorar a qualidade de
vida dos pacientes e seus familiares e também garantissem sua participação ativa
em todo o processo de tratamento. Dessa forma, a psicologia desenvolveu um
corpo de conhecimentos específicos- compreensão do paciente oncológico e
técnicas de intervenção especiais, com conseqüente melhora da qualidade de
vida. De seu lado, o desenvolvimento da medicina levou a significativo aumento
do tempo de sobrevida, do número de sobreviventes e também à melhora da
qualidade de vida.




                                                                               41
4. A RELAÇÃO ENTRE PSICOSSOMÁTICA e CÂNCER


      Embora, no percurso do presente trabalho, tenha havido uma tentativa de
escrever sobre cada uma destas áreas em separado, em diversos momentos
nota-se o quanto as mesmas andam juntas, podendo a Psicossomática ser
considerada como a “pioneira”, aquela da qual deriva-se a Psico-Oncologia, e
abre-se o interesse pelo estudo da Psiconeuroimunologia, atualmente já chamada
de Psiconeuroendocrinoimunologia. A relação destas com o câncer em si aparece
em vários trabalhos e é defendida por muitos autores, porém, muitas pesquisas
realizadas na área recebem uma série de críticas, por serem falhas


                                                                           42
metodologicamente. E é sobre estes “achados” que discorreremos no presente
capítulo.
      Seria importante salientar que o diagnóstico de uma doença neoplásica
representa para o paciente, segundo Tschuschke (2008), sempre um choque. No
entanto, aquela que por dezenas de anos foi quase que inevitavelmente,
considerada como uma sentença de morte, hoje, cada vez mais, é vista como
uma doença crônica, seja pelo número crescente de pacientes, seja por estar se
tornando uma patologia passível de cura. Tschuschke (2008) coloca que, nos
próximos dez anos, a probabilidade de se ter um tumor no decorrer da vida
passará de 25% para 33 %, conforme afirmado pelo oncologista alemão Volker
Diehl (APUD: Tschuschke, 2008), o qual se baseou no aumento da expectativa de
vida da população. Em outras palavras, isto significa que um indivíduo deverá
aprender a conviver com os riscos e comprometimentos causados pela doença
para poder manter a melhor qualidade de vida pelo maior tempo possível.O
confronto contínuo com a ameaça de uma recidiva ou de uma piora requer um
esforço notável por parte do paciente, bem como mudanças de vida, hábitos e
comportamentos.
      Visto como uma doença “assustadora”, repleta de mitos e lendas, o câncer,
cada vez mais, é visto como uma doença multifatorial, cuja causa é um somatório
de fatores, incluindo, ali, também aspectos emocionais.

                     Na evolução das teorias explicativas sobre as causas psicossomáticas
                     dos tumores, a multicausalidade física e psicológica se transforma em
                     seguida em um modelo principalmente ligado ao estresse, para depois
                     passar, na literatura dos últimos 50 anos, em um novo modelo, aquele
                     da cancer prone personality.. (Schwarz, 1994, APUD: Tschuschke,
                     2008, p. 05)


       Salgado (2001), em sua obra intitulada “A Biologia da Esperança”, traz a
seguinte indagação: Seria o câncer uma doença psicossomática? Mais adiante,
na tentativa de buscar uma resposta para esta indagação, a mesma coloca que
Alexander diz que todas as doenças são psicossomáticas porque os fatores
emocionais influenciam os processos do corpo através das vias nervosas e
humorais. Freud (1895, APUD: Salgado, 2001), ao estudar as neuroses de
histeria, aborda o componente somático do sintoma e o entende como expressão




                                                                                       43
simbólica do conflito. Há uma escolha somática na conversão, onde um órgão ou
o próprio corpo facilitaria a expressão da conflitiva inconsciente.
      Dethlefsen e Dahlke (1983) propõem uma leitura simbólica do câncer a
partir de uma comparação feita com a realidade de nossa sociedade. O câncer
então é interpretado como uma expressão somática de conflitos sociais, onde
percebemos que o ser humano tem se comportado de forma semelhante à do
tumor, cultivando o individualismo e o egoísmo como forma de sobrevivência,
através da exploração sem limites do seu “hospedeiro”: o planeta Terra.
      Neste sentido, os autores chamam a atenção para o único órgão que não é
atingido pelo câncer: o coração, que constitui psiquicamente o símbolo do amor
não egoísta. Desta forma, um possível “antídoto” para esta doença seria uma
transformação na concepção individualista de mundo, um entendimento sistêmico
da vida e uma transcendência do próprio ego, lembrando que transcender não é
excluir, mas ampliar.
      Simonton (1987) interessou-se em pesquisar o que levaria dois pacientes,
com igual prognóstico, terem um desfecho diferente, ou seja, um morrer e o outro
recuperar a saúde. Questionando os pacientes que acabavam por recuperar a
saúde, acabou chegando a um ponto comum entre todos: eles achavam que
tinham uma certa influência sobre o curso da própria doença. Além disso, todos
tinham algo por que lutar, e uma posição positiva em relação à vida. Partindo da
premissa de que a diferença entre o paciente que recupera a saúde e aquele que
não o consegue reside em parte na sua atitude em relação à doença e à
convicção de que pode, de certa forma, ter uma influência sobre ela, pensou
então de que forma poderia ajudar os pacientes. Juntamente com Stephanie
Simonton, que trabalhava com aconselhamento de motivação, começou então a
utilizar com os pacientes técnicas como terapia de grupo, meditação, visualização
e biofeedback.
                             A partir de nossos estudos de biofeedback descobrimos que
                        algumas técnicas possibilitavam às pessoas que as praticavam serem
                        capazes de influenciar seus próprios processos internos, influenciando
                        as batidas do coração e a pressão sangüínea. (Simonton, 1987, p. 17)


      Hürny, 1996, APUD Tschuschke, 2008) coloca que é altamente improvável
que o câncer possa ser provocado por um único fator. Com base no estado atual
das pesquisas, a hipótese mais creditada é aquela de uma gênese multifatorial,


                                                                                           44
na qual as influências ambientais (radiação, vírus, elementos carcinogênicos), os
fatores   psicossociais   (estresse,    comportamentos        de    risco),   os    fatores
imunológicos, endócrinos e genéticos exercem uma ação interativa ou cumulativa
de acordo com uma modalidade que ainda não é totalmente conhecida.
      Simonton (1987) parte da premissa de que uma doença não é
simplesmente um fato físico, mas um problema que diz respeito à pessoa como
um todo, incluindo não apenas o corpo, mas também as emoções e a mente. O
autor acredita que os estados emocional e mental têm uma função importante
tanto no que diz respeito à suscetibilidade à doença, incluindo o câncer, como na
recuperação de qualquer doença. Outra questão por ele sugerida é de que o
câncer surge como uma indicação de problemas existentes em outras áreas da
vida da pessoa, agravados ou compostos de uma série de estresses que surgem
de 6 a 18 meses antes do aparecimento do câncer. O paciente canceroso,
segundo Simonton (1987), reagiu a esses problemas e estresses com um
profundo sentimento de desistência e desesperança, o que, acredita o autor,
dispara reações fisiológicas que suprimem as defesas naturais do corpo,
tornando-o suscetível à produção de células anormais.
      Para Simonton (1987), na luta para recuperar a saúde, deve ser levado em
conta o que está acontecendo não apenas no nível físico, mas também o que está
acontecendo no resto da vida do paciente. Ele salienta:
                    “Se o sistema total integrado de mente, corpo e emoções, que constitui a
                    pessoa como um todo, não está trabalhando para recuperar a saúde,
                    então intervenções simplesmente físicas não darão o resultado desejado”.
                    (Simonton, 1987, p.21)


      Pensando no câncer sob uma perspectiva Psicossomática, Sattman-Frese
(1994), Levenson e Bemis (2000), Tschuschke (2008), citam estudo realizado por
Shekelle (1981), no qual mostra que pessoas que sofrem de depressão têm um
risco aumentado de vir a desenvolver câncer. O estudo, baseado em testes
psicológicos realizados com 2020 pessoas, demonstrou que a depressão, mais do
que outros fatores contribui para a ocorrência do câncer, sendo aqui a depressão
entendida como o resultado de dificuldades ou medo de identificar ou expressar
sentimentos. O processo inconsciente de reprimir sentimentos conflitivos e que
foram experienciados como difíceis de manejar e, requerem grandes quantidades
de energia, energia esta que, conseqüentemente, fica indisponível para outras


                                                                                         45
funções importantes. Este trabalho, no entanto, é contrabalançado pro outros
quatro estudos que, ao contrário, não evidenciam um aumento da mortalidade por
câncer nos sujeitos com valores mais elevados na escala de depressão.
Levenson e Bemis (2000), Tschuschke (2008)
      Tschuschke (2008) coloca que, até agora, não existe uma relação certa
entre o grau ou a presença de depressão e um sucessivo aparecimento de uma
doença neoplásica. No entanto, permanece, ao menos em teoria, a possibilidade
de valorizar a sua contribuição no surgimento do câncer através de estudos
metodologicamente corretos. A experiência depressiva influi no modo de vida: as
pessoas se alimentam mal ou erroneamente, tratam inconscientemente seu corpo
e sua saúde de modo mais autodestrutivo (fumo, álcool, desnutrição) e fazem
menos atividade física.
      Vários estudos apontam que os estados depressivos exercem um efeito
indireto sobre o organismo, em particular sobre o sistema imunológico. (Nune et
al. 2003, cit.da Persaud, 2003; Zorilla et al., 2001; Kiecolt-Glaser e Glaser, 2002;
APUD: Tschuschke, 2008).
      Relatos empíricos observaram que a depressão é, às vezes, o sintoma de
apresentação do câncer de pâncreas, ocorrendo bem antes do início dos
sintomas do tumor (Fras et al. 1968; Pomara e Gershon, 1984; Savage e Noble,
1954; Yaskin, 1931; APUD: Levenson e Bemis, 2000).
      Outros estudos demonstram interesse na reação ao luto, mostrando que a
função imune no luto aparece reduzida, embora tal redução não chegue a ser a
níveis extremamente baixos. (Bartrop et al., 1977; Schleifer et al. , 1983, APUD
Tschuschke, 2008). Sattmann- Freese (1994) traz que muitos autores fazem uma
ligação entre o desenvolvimento do câncer e uma experiência prévia de perda do
objeto amado. Um estudo retrospectivo mostrou que o início de neoplasias
malignas hematológicas parece ser precedido de perdas significativas em
crianças e adultos jovens. (Greene et al., 1956, APUD: Levenson e Bemis, 2000)
      Outros fatores importantes de serem considerados em se tratando de
paciente oncológico estão relacionados ao estresse. Faller (1998, APUD:
Tschuschke, 2008), lista os estresses físicos, psíquicos e sociais que
acompanham o diagnóstico e o tratamento do câncer. São eles: ameaça de




                                                                                 46
Psicossomatica e Cancer
Psicossomatica e Cancer
Psicossomatica e Cancer
Psicossomatica e Cancer
Psicossomatica e Cancer
Psicossomatica e Cancer
Psicossomatica e Cancer
Psicossomatica e Cancer

More Related Content

What's hot

Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completo
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completoAnna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completo
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completoHerbert Nogueira
 
Diálogo com as sombras
Diálogo com as sombrasDiálogo com as sombras
Diálogo com as sombrassocialceia
 
Conceito,causas e graus da obsessão
Conceito,causas e graus da obsessãoConceito,causas e graus da obsessão
Conceito,causas e graus da obsessãojcevadro
 
Inteligência emocional as 5 chaves fundamentais
Inteligência emocional   as 5 chaves fundamentaisInteligência emocional   as 5 chaves fundamentais
Inteligência emocional as 5 chaves fundamentaisManuela Selas
 
44 nosso lar as trevas
44 nosso lar  as trevas44 nosso lar  as trevas
44 nosso lar as trevasFatoze
 
Apresentação a missão da casa espírita
Apresentação a missão da casa espíritaApresentação a missão da casa espírita
Apresentação a missão da casa espíritaDaniela Azevedo
 
Datashow - Os vícios na visão espírita
Datashow  - Os vícios na visão espíritaDatashow  - Os vícios na visão espírita
Datashow - Os vícios na visão espíritaAlfredo Lopes
 
2. aula psicopatologia ii ansiedade
2. aula psicopatologia ii   ansiedade2. aula psicopatologia ii   ansiedade
2. aula psicopatologia ii ansiedadePoliana Maton
 
Transtornos mentais, obsessão e o espiritismo
Transtornos mentais, obsessão e o espiritismoTranstornos mentais, obsessão e o espiritismo
Transtornos mentais, obsessão e o espiritismoMarlon Reikdal
 
Estudando André Luiz Nosso Lar cap. 01 a 23
Estudando André Luiz   Nosso Lar cap. 01 a 23Estudando André Luiz   Nosso Lar cap. 01 a 23
Estudando André Luiz Nosso Lar cap. 01 a 23Jose Luiz Maio
 
Laplanche e pontalis vocabulário de psicanálise
Laplanche e pontalis   vocabulário de psicanáliseLaplanche e pontalis   vocabulário de psicanálise
Laplanche e pontalis vocabulário de psicanáliseL R
 
Setembro amarelo
Setembro amareloSetembro amarelo
Setembro amareloHelio Cruz
 
Procrastinação e Obsessão Espiritual
Procrastinação e Obsessão EspiritualProcrastinação e Obsessão Espiritual
Procrastinação e Obsessão EspiritualRicardo Azevedo
 

What's hot (20)

3 vida afetiva
3 vida afetiva3 vida afetiva
3 vida afetiva
 
Personalidade - Teorias e Testes
Personalidade - Teorias e TestesPersonalidade - Teorias e Testes
Personalidade - Teorias e Testes
 
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completo
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completoAnna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completo
Anna freud-o-ego-e-os-mecanismos-de-defesa-completo
 
Diálogo com as sombras
Diálogo com as sombrasDiálogo com as sombras
Diálogo com as sombras
 
Conceito,causas e graus da obsessão
Conceito,causas e graus da obsessãoConceito,causas e graus da obsessão
Conceito,causas e graus da obsessão
 
Cuidar de si
Cuidar de siCuidar de si
Cuidar de si
 
Inteligência emocional as 5 chaves fundamentais
Inteligência emocional   as 5 chaves fundamentaisInteligência emocional   as 5 chaves fundamentais
Inteligência emocional as 5 chaves fundamentais
 
44 nosso lar as trevas
44 nosso lar  as trevas44 nosso lar  as trevas
44 nosso lar as trevas
 
Apresentação a missão da casa espírita
Apresentação a missão da casa espíritaApresentação a missão da casa espírita
Apresentação a missão da casa espírita
 
Emoções e sentimentos.pptx
Emoções e sentimentos.pptxEmoções e sentimentos.pptx
Emoções e sentimentos.pptx
 
Depressão
DepressãoDepressão
Depressão
 
Datashow - Os vícios na visão espírita
Datashow  - Os vícios na visão espíritaDatashow  - Os vícios na visão espírita
Datashow - Os vícios na visão espírita
 
2. aula psicopatologia ii ansiedade
2. aula psicopatologia ii   ansiedade2. aula psicopatologia ii   ansiedade
2. aula psicopatologia ii ansiedade
 
Transtornos mentais, obsessão e o espiritismo
Transtornos mentais, obsessão e o espiritismoTranstornos mentais, obsessão e o espiritismo
Transtornos mentais, obsessão e o espiritismo
 
Estudando André Luiz Nosso Lar cap. 01 a 23
Estudando André Luiz   Nosso Lar cap. 01 a 23Estudando André Luiz   Nosso Lar cap. 01 a 23
Estudando André Luiz Nosso Lar cap. 01 a 23
 
Luto
LutoLuto
Luto
 
Laplanche e pontalis vocabulário de psicanálise
Laplanche e pontalis   vocabulário de psicanáliseLaplanche e pontalis   vocabulário de psicanálise
Laplanche e pontalis vocabulário de psicanálise
 
Luto normal
Luto normalLuto normal
Luto normal
 
Setembro amarelo
Setembro amareloSetembro amarelo
Setembro amarelo
 
Procrastinação e Obsessão Espiritual
Procrastinação e Obsessão EspiritualProcrastinação e Obsessão Espiritual
Procrastinação e Obsessão Espiritual
 

Viewers also liked

Acu coreana cervical
Acu coreana cervicalAcu coreana cervical
Acu coreana cervicalJose Vertiz
 
Resenha golpe do destino.
Resenha golpe do destino.Resenha golpe do destino.
Resenha golpe do destino.luzienne moraes
 
Aula 1 introdução e conceitos
Aula 1 introdução e conceitosAula 1 introdução e conceitos
Aula 1 introdução e conceitosFuturos Medicos
 
Lucas Nápoli - A Doença Psicossomática Não Existe
Lucas Nápoli - A Doença Psicossomática Não ExisteLucas Nápoli - A Doença Psicossomática Não Existe
Lucas Nápoli - A Doença Psicossomática Não ExisteLucas Nápoli
 
Doenças psicossomáticas
Doenças psicossomáticasDoenças psicossomáticas
Doenças psicossomáticasMarcos Paterra
 
1 psicologia
1 psicologia1 psicologia
1 psicologiabrelua
 
ACUPUNCTURA VETERINÁRIA - VETPUNCTURA
ACUPUNCTURA VETERINÁRIA - VETPUNCTURAACUPUNCTURA VETERINÁRIA - VETPUNCTURA
ACUPUNCTURA VETERINÁRIA - VETPUNCTURASabrina Goltsman
 
DoençAs PsicossomáTicas
DoençAs PsicossomáTicasDoençAs PsicossomáTicas
DoençAs PsicossomáTicasenfermagem
 
Resenha crítica - A Lógica do Consumo
Resenha crítica -  A Lógica do ConsumoResenha crítica -  A Lógica do Consumo
Resenha crítica - A Lógica do ConsumoDaniel Caldas
 
Câncer Uma doença Genética
Câncer Uma doença GenéticaCâncer Uma doença Genética
Câncer Uma doença Genéticath41s
 

Viewers also liked (20)

Acu coreana cervical
Acu coreana cervicalAcu coreana cervical
Acu coreana cervical
 
Medicina chinesa - fundamentos
Medicina chinesa - fundamentosMedicina chinesa - fundamentos
Medicina chinesa - fundamentos
 
Técnicas hipoalgesia por ap profa marcia valeria
Técnicas hipoalgesia por ap   profa marcia valeriaTécnicas hipoalgesia por ap   profa marcia valeria
Técnicas hipoalgesia por ap profa marcia valeria
 
Resenha golpe do destino.
Resenha golpe do destino.Resenha golpe do destino.
Resenha golpe do destino.
 
05 03 10 ear spine www.gftaognosticaespiritual.org
05 03 10 ear spine www.gftaognosticaespiritual.org05 03 10 ear spine www.gftaognosticaespiritual.org
05 03 10 ear spine www.gftaognosticaespiritual.org
 
Aula 1 introdução e conceitos
Aula 1 introdução e conceitosAula 1 introdução e conceitos
Aula 1 introdução e conceitos
 
Medicina chinesa em oncologia - acupunctura e fitoterapia chinesa
Medicina chinesa em oncologia - acupunctura e fitoterapia chinesaMedicina chinesa em oncologia - acupunctura e fitoterapia chinesa
Medicina chinesa em oncologia - acupunctura e fitoterapia chinesa
 
Lucas Nápoli - A Doença Psicossomática Não Existe
Lucas Nápoli - A Doença Psicossomática Não ExisteLucas Nápoli - A Doença Psicossomática Não Existe
Lucas Nápoli - A Doença Psicossomática Não Existe
 
Doenças psicossomáticas
Doenças psicossomáticasDoenças psicossomáticas
Doenças psicossomáticas
 
1 psicologia
1 psicologia1 psicologia
1 psicologia
 
Técnicas em MTC
Técnicas em MTCTécnicas em MTC
Técnicas em MTC
 
Aula Psicoonco 10
Aula Psicoonco 10Aula Psicoonco 10
Aula Psicoonco 10
 
ACUPUNCTURA VETERINÁRIA - VETPUNCTURA
ACUPUNCTURA VETERINÁRIA - VETPUNCTURAACUPUNCTURA VETERINÁRIA - VETPUNCTURA
ACUPUNCTURA VETERINÁRIA - VETPUNCTURA
 
DoençAs PsicossomáTicas
DoençAs PsicossomáTicasDoençAs PsicossomáTicas
DoençAs PsicossomáTicas
 
Osteopatia visceral
Osteopatia visceralOsteopatia visceral
Osteopatia visceral
 
Resenha crítica - A Lógica do Consumo
Resenha crítica -  A Lógica do ConsumoResenha crítica -  A Lógica do Consumo
Resenha crítica - A Lógica do Consumo
 
Osteopatia estrutural - CBO
Osteopatia estrutural - CBOOsteopatia estrutural - CBO
Osteopatia estrutural - CBO
 
Eae 78 - medicina psicossomatica
Eae   78 - medicina psicossomaticaEae   78 - medicina psicossomatica
Eae 78 - medicina psicossomatica
 
ESTUDO DIRIGIDO - PSICOSSOMÁTICA
ESTUDO DIRIGIDO - PSICOSSOMÁTICAESTUDO DIRIGIDO - PSICOSSOMÁTICA
ESTUDO DIRIGIDO - PSICOSSOMÁTICA
 
Câncer Uma doença Genética
Câncer Uma doença GenéticaCâncer Uma doença Genética
Câncer Uma doença Genética
 

Similar to Psicossomatica e Cancer

Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesadeCristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesadeGlaciane Betiollo
 
O_proposito_universal_da_existencia_Cura_Autocura.pdf
O_proposito_universal_da_existencia_Cura_Autocura.pdfO_proposito_universal_da_existencia_Cura_Autocura.pdf
O_proposito_universal_da_existencia_Cura_Autocura.pdfVIEIRA RESENDE
 
NO LIMITE DA VAIDADE FEMININA: O culto ao corpo e suas representações
NO LIMITE DA VAIDADE FEMININA: O culto ao corpo e suas representaçõesNO LIMITE DA VAIDADE FEMININA: O culto ao corpo e suas representações
NO LIMITE DA VAIDADE FEMININA: O culto ao corpo e suas representaçõesDani Goedert
 
MENTES PERIGOSAS: O PERFIL PSICOLÓGICO DO PSICOPATA
MENTES PERIGOSAS: O PERFIL PSICOLÓGICO DO PSICOPATA MENTES PERIGOSAS: O PERFIL PSICOLÓGICO DO PSICOPATA
MENTES PERIGOSAS: O PERFIL PSICOLÓGICO DO PSICOPATA Alexandre Caputo
 
Monografia do curso de teoria da psicanálise3
Monografia do curso de teoria da psicanálise3Monografia do curso de teoria da psicanálise3
Monografia do curso de teoria da psicanálise3Ivanildo de Lima
 
Monografia teoria e_clínica_psicanalítica_ masarela_ nov_ 2009
Monografia teoria e_clínica_psicanalítica_ masarela_ nov_ 2009Monografia teoria e_clínica_psicanalítica_ masarela_ nov_ 2009
Monografia teoria e_clínica_psicanalítica_ masarela_ nov_ 2009Maria Masarela Passos
 
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdfGabriela Benigno
 
Introdução do livro clínica do esquecimento
Introdução do livro clínica do esquecimentoIntrodução do livro clínica do esquecimento
Introdução do livro clínica do esquecimentoCamilla Rodrigues
 
A psicomotricidade e a educação somática à luz da psicanálise winnicottiana
A psicomotricidade e a educação somática à luz da psicanálise winnicottianaA psicomotricidade e a educação somática à luz da psicanálise winnicottiana
A psicomotricidade e a educação somática à luz da psicanálise winnicottianaRute Pereira
 
Tcc repeticao: do Outro à si mesmo em Freud e Lacan
Tcc repeticao: do Outro à si mesmo em Freud e Lacan Tcc repeticao: do Outro à si mesmo em Freud e Lacan
Tcc repeticao: do Outro à si mesmo em Freud e Lacan Geraldo Natanael
 
Programação existencial descobrindo o propósito da vida
Programação existencial   descobrindo o propósito da vidaProgramação existencial   descobrindo o propósito da vida
Programação existencial descobrindo o propósito da vidaMautama
 
Biodanza: Instrumento de Transformação Social | Por Anna Rosaura Trancoso e L...
Biodanza: Instrumento de Transformação Social | Por Anna Rosaura Trancoso e L...Biodanza: Instrumento de Transformação Social | Por Anna Rosaura Trancoso e L...
Biodanza: Instrumento de Transformação Social | Por Anna Rosaura Trancoso e L...Escola de Biodanza Rio de Janeiro
 
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesadeCristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesadeThais Pacheco
 
Schiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 1 - Entenda como ela acontece
Schiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 1 - Entenda como ela aconteceSchiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 1 - Entenda como ela acontece
Schiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 1 - Entenda como ela aconteceSchiz Ophrenic
 
O atendimento a crise em saude mental.pdf
O atendimento a crise em saude mental.pdfO atendimento a crise em saude mental.pdf
O atendimento a crise em saude mental.pdfssuser1a1543
 
Livro diga-me onde doi e eu te direi porque michael odul
Livro   diga-me onde doi e eu te direi porque michael odulLivro   diga-me onde doi e eu te direi porque michael odul
Livro diga-me onde doi e eu te direi porque michael odulEnaldo Ribeiro
 

Similar to Psicossomatica e Cancer (20)

Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesadeCristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
 
O_proposito_universal_da_existencia_Cura_Autocura.pdf
O_proposito_universal_da_existencia_Cura_Autocura.pdfO_proposito_universal_da_existencia_Cura_Autocura.pdf
O_proposito_universal_da_existencia_Cura_Autocura.pdf
 
NO LIMITE DA VAIDADE FEMININA: O culto ao corpo e suas representações
NO LIMITE DA VAIDADE FEMININA: O culto ao corpo e suas representaçõesNO LIMITE DA VAIDADE FEMININA: O culto ao corpo e suas representações
NO LIMITE DA VAIDADE FEMININA: O culto ao corpo e suas representações
 
E tu at
E tu atE tu at
E tu at
 
MENTES PERIGOSAS: O PERFIL PSICOLÓGICO DO PSICOPATA
MENTES PERIGOSAS: O PERFIL PSICOLÓGICO DO PSICOPATA MENTES PERIGOSAS: O PERFIL PSICOLÓGICO DO PSICOPATA
MENTES PERIGOSAS: O PERFIL PSICOLÓGICO DO PSICOPATA
 
Monografia do curso de teoria da psicanálise3
Monografia do curso de teoria da psicanálise3Monografia do curso de teoria da psicanálise3
Monografia do curso de teoria da psicanálise3
 
Monografia teoria e_clínica_psicanalítica_ masarela_ nov_ 2009
Monografia teoria e_clínica_psicanalítica_ masarela_ nov_ 2009Monografia teoria e_clínica_psicanalítica_ masarela_ nov_ 2009
Monografia teoria e_clínica_psicanalítica_ masarela_ nov_ 2009
 
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf
 
Tcc leticia gomes leal silva
Tcc leticia gomes leal silvaTcc leticia gomes leal silva
Tcc leticia gomes leal silva
 
Módulo 1
Módulo 1Módulo 1
Módulo 1
 
Introdução do livro clínica do esquecimento
Introdução do livro clínica do esquecimentoIntrodução do livro clínica do esquecimento
Introdução do livro clínica do esquecimento
 
A psicomotricidade e a educação somática à luz da psicanálise winnicottiana
A psicomotricidade e a educação somática à luz da psicanálise winnicottianaA psicomotricidade e a educação somática à luz da psicanálise winnicottiana
A psicomotricidade e a educação somática à luz da psicanálise winnicottiana
 
Tcc repeticao: do Outro à si mesmo em Freud e Lacan
Tcc repeticao: do Outro à si mesmo em Freud e Lacan Tcc repeticao: do Outro à si mesmo em Freud e Lacan
Tcc repeticao: do Outro à si mesmo em Freud e Lacan
 
Programação existencial descobrindo o propósito da vida
Programação existencial   descobrindo o propósito da vidaProgramação existencial   descobrindo o propósito da vida
Programação existencial descobrindo o propósito da vida
 
Biodanza: Instrumento de Transformação Social | Por Anna Rosaura Trancoso e L...
Biodanza: Instrumento de Transformação Social | Por Anna Rosaura Trancoso e L...Biodanza: Instrumento de Transformação Social | Por Anna Rosaura Trancoso e L...
Biodanza: Instrumento de Transformação Social | Por Anna Rosaura Trancoso e L...
 
Homeopatia
HomeopatiaHomeopatia
Homeopatia
 
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesadeCristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
 
Schiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 1 - Entenda como ela acontece
Schiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 1 - Entenda como ela aconteceSchiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 1 - Entenda como ela acontece
Schiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 1 - Entenda como ela acontece
 
O atendimento a crise em saude mental.pdf
O atendimento a crise em saude mental.pdfO atendimento a crise em saude mental.pdf
O atendimento a crise em saude mental.pdf
 
Livro diga-me onde doi e eu te direi porque michael odul
Livro   diga-me onde doi e eu te direi porque michael odulLivro   diga-me onde doi e eu te direi porque michael odul
Livro diga-me onde doi e eu te direi porque michael odul
 

More from Marian de Souza

Pensando nella vita: riflessioni di uno spirito curioso (tascabile)
Pensando nella vita: riflessioni di uno spirito curioso (tascabile)Pensando nella vita: riflessioni di uno spirito curioso (tascabile)
Pensando nella vita: riflessioni di uno spirito curioso (tascabile)Marian de Souza
 
Refletindo tragédia Santa Maria
Refletindo tragédia Santa MariaRefletindo tragédia Santa Maria
Refletindo tragédia Santa MariaMarian de Souza
 
Pensando na vida/ Pensando nella vita (Bilingue)
Pensando na vida/ Pensando nella vita (Bilingue)Pensando na vida/ Pensando nella vita (Bilingue)
Pensando na vida/ Pensando nella vita (Bilingue)Marian de Souza
 
Confissao de fe de grandes cien
Confissao de fe de grandes cien Confissao de fe de grandes cien
Confissao de fe de grandes cien Marian de Souza
 
Para equilibrar energia é preciso cuidar de mente
Para equilibrar energia é preciso cuidar de mentePara equilibrar energia é preciso cuidar de mente
Para equilibrar energia é preciso cuidar de menteMarian de Souza
 
Apresentaçao Sensevolution
Apresentaçao SensevolutionApresentaçao Sensevolution
Apresentaçao SensevolutionMarian de Souza
 
La psiconcologia, la psicosomatica e le cure palliative: il predersi cura nel...
La psiconcologia, la psicosomatica e le cure palliative: il predersi cura nel...La psiconcologia, la psicosomatica e le cure palliative: il predersi cura nel...
La psiconcologia, la psicosomatica e le cure palliative: il predersi cura nel...Marian de Souza
 
O profissional da saúde diante da morte
O profissional da  saúde diante da morteO profissional da  saúde diante da morte
O profissional da saúde diante da morteMarian de Souza
 
La psicosomatica, la psiconcologia e lecure palliative: il prendersi cura nel...
La psicosomatica, la psiconcologia e lecure palliative: il prendersi cura nel...La psicosomatica, la psiconcologia e lecure palliative: il prendersi cura nel...
La psicosomatica, la psiconcologia e lecure palliative: il prendersi cura nel...Marian de Souza
 

More from Marian de Souza (15)

Rapporti di una vita
Rapporti di una vita Rapporti di una vita
Rapporti di una vita
 
Pensando nella vita: riflessioni di uno spirito curioso (tascabile)
Pensando nella vita: riflessioni di uno spirito curioso (tascabile)Pensando nella vita: riflessioni di uno spirito curioso (tascabile)
Pensando nella vita: riflessioni di uno spirito curioso (tascabile)
 
Refletindo tragédia Santa Maria
Refletindo tragédia Santa MariaRefletindo tragédia Santa Maria
Refletindo tragédia Santa Maria
 
Relatos de uma vida
Relatos de uma vida Relatos de uma vida
Relatos de uma vida
 
Pensando na vida/ Pensando nella vita (Bilingue)
Pensando na vida/ Pensando nella vita (Bilingue)Pensando na vida/ Pensando nella vita (Bilingue)
Pensando na vida/ Pensando nella vita (Bilingue)
 
Pensando nella vita
Pensando nella vita Pensando nella vita
Pensando nella vita
 
Pensando na vida
Pensando na vida Pensando na vida
Pensando na vida
 
Corpos espirituais
Corpos espirituaisCorpos espirituais
Corpos espirituais
 
Confissao de fe de grandes cien
Confissao de fe de grandes cien Confissao de fe de grandes cien
Confissao de fe de grandes cien
 
Para equilibrar energia é preciso cuidar de mente
Para equilibrar energia é preciso cuidar de mentePara equilibrar energia é preciso cuidar de mente
Para equilibrar energia é preciso cuidar de mente
 
Apresentaçao Sensevolution
Apresentaçao SensevolutionApresentaçao Sensevolution
Apresentaçao Sensevolution
 
La psiconcologia, la psicosomatica e le cure palliative: il predersi cura nel...
La psiconcologia, la psicosomatica e le cure palliative: il predersi cura nel...La psiconcologia, la psicosomatica e le cure palliative: il predersi cura nel...
La psiconcologia, la psicosomatica e le cure palliative: il predersi cura nel...
 
Síndrome de burn out
Síndrome de burn  outSíndrome de burn  out
Síndrome de burn out
 
O profissional da saúde diante da morte
O profissional da  saúde diante da morteO profissional da  saúde diante da morte
O profissional da saúde diante da morte
 
La psicosomatica, la psiconcologia e lecure palliative: il prendersi cura nel...
La psicosomatica, la psiconcologia e lecure palliative: il prendersi cura nel...La psicosomatica, la psiconcologia e lecure palliative: il prendersi cura nel...
La psicosomatica, la psiconcologia e lecure palliative: il prendersi cura nel...
 

Recently uploaded

O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdfO mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdfNelmo Pinto
 
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsx
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsxAULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsx
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsxLeonardoSauro1
 
Primeiros Socorros - Sinais vitais e Anatomia
Primeiros Socorros - Sinais vitais e AnatomiaPrimeiros Socorros - Sinais vitais e Anatomia
Primeiros Socorros - Sinais vitais e AnatomiaCristianodaRosa5
 
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdf
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdfPrurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdf
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdfAlberto205764
 
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdfSistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdfGustavoWallaceAlvesd
 
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptxINTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptxssuser4ba5b7
 
Enhanced recovery after surgery in neurosurgery
Enhanced recovery  after surgery in neurosurgeryEnhanced recovery  after surgery in neurosurgery
Enhanced recovery after surgery in neurosurgeryCarlos D A Bersot
 
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICASAULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICASArtthurPereira2
 

Recently uploaded (9)

O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdfO mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
O mundo secreto dos desenhos - Gregg M. Furth.pdf
 
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsx
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsxAULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsx
AULA DE ERROS radiologia odontologia.ppsx
 
Primeiros Socorros - Sinais vitais e Anatomia
Primeiros Socorros - Sinais vitais e AnatomiaPrimeiros Socorros - Sinais vitais e Anatomia
Primeiros Socorros - Sinais vitais e Anatomia
 
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdf
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdfPrurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdf
Prurigo. Dermatologia. Patologia UEM17B2.pdf
 
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdfSistema endocrino anatomia humana slide.pdf
Sistema endocrino anatomia humana slide.pdf
 
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptxINTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
INTRODUÇÃO A DTM/DOF-DRLucasValente.pptx
 
Enhanced recovery after surgery in neurosurgery
Enhanced recovery  after surgery in neurosurgeryEnhanced recovery  after surgery in neurosurgery
Enhanced recovery after surgery in neurosurgery
 
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãosAplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
 
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICASAULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
AULA SOBRE SAMU, CONCEITOS E CARACTERICAS
 

Psicossomatica e Cancer

  • 1. UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOSSOMÁTICA MARIAN FESTUGATO DE SOUZA CÂNCER: UMA VISÃO PSICOSSOMÁTICA PORTO ALEGRE 2009
  • 2. UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOSSOMÁTICA MARIAN FESTUGATO DE SOUZA CÂNCER: UMA VISÃO PSICOSSOMÁTICA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a obtenção do título de Especialista em Psicossomática pelo curso de Especialização em Psicossomática da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Orientador: Marisa Campio Müller PORTO ALEGRE 2009 2
  • 3. Dedico este trabalho aos pacientes, que me ensinaram a ver a vida em toda a sua plenitude, e viver o hoje, sem medo de ir à busca dos nossos sonhos. 3
  • 4. AGRADECIMENTOS À minha querida orientadora, professora e, acima de tudo, amiga, Marisa Campio Müller, pela ajuda, pelo apoio e pelo ser humano maravilhoso que é. À minha mãe Ana Maria, pelo seu jeito todo especial de ser, sempre buscando me ajudar da melhor forma possível, especialmente alimentando a minha autoconfiança. À toda a minha família, a melhor família que alguém poderia desejar! À CliniOnco, por estes 5 anos de confiança, por acreditarem no meu potencial e confiarem no meu trabalho. Destaco um agradecimento especial às queridas Cristiane Bueno e Carla Mannino, amigas de “almoços terapêuticos”, trocas e confissões. Aos pacientes, por terem sido meus grandes mestres na escola da vida, e fontes de inspiração para esta minha busca, e para meu modo de ver a vida e repensar valores. À “Turma do bem”, pelas conversas, pelas saídas depois da aula, e especialmente pela amizade que se formou. Finalmente, mas não menos importante, ao meu amor Stefano, pela paciência nos momentos de estresse, pelo companheirismo, pelo seu amor verdadeiro e por, mesmo à distância, estar sempre tão próximo! 4
  • 5. “Podemos acreditar que tudo que a vida nos oferecerá no futuro é repetir o que fizemos ontem e hoje. Mas, se prestarmos atenção, vamos nos dar conta de que nenhum dia é igual a outro. Cada manhã traz uma benção escondida; uma benção que só serve para esse dia e que não se pode guardar nem desaproveitar. Se não usamos este milagre hoje, ele vai se perder. Este milagre está nos detalhes do cotidiano; é preciso viver cada minuto porque ali encontramos a saída de nossas confusões, a alegria de nossos bons momentos, a pista correta para a decisão que tomaremos. Nunca podemos deixar que cada dia pareça igual ao anterior porque todos os dias são diferentes, porque estamos em constante processo de mudança”. (Paulo Coelho) 5
  • 6. RESUMO O presente trabalho faz uma revisão bibliográfica acerca do Câncer e da Psicossomática, trazendo seus conceitos, histórias e mitos. Em seguida, busca fazer uma relação entre os temas, procurando trabalhos que demonstrem a visão do câncer sob uma perspectiva Psicossomática, onde o homem é visto como um ser biopsicossocial e espiritual, e a doença só pode ser compreendida a partir desta visão mais ampla de sujeito. ABSTRACT This work makes a literature review about Cancer and Psychosomatic, bringing their concepts, stories and myths. Then, is tries make a connection between the issues, looking for articles which could demonstrate the vision of cancer in a Psychosomatic perspective, where man is viewed as a biopsychosocial and spiritual being, and the disease can only be understood from this broader view of subject . RIASSUNTO Questo lavoro fà una revisione della letteratura sul Cancro e Psicosomatica, portando i loro concetti, storie e miti. Poi, cerca di effettuare una connessione tra le questioni, cercando articoli che possono dimostrare la visione del cancro in una prospettiva psicosomatica, dove l'uomo è visto come un essere biopsicosociale ed spirituale e la malattia può essere compresa solo da questa prospettiva più ampia di soggetti . 6
  • 7. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................8 1.1. OBJETIVO........................................................................................................9 1.2. METODOLOGIA..............................................................................................9 2. CÂNCER............................................................................................................10 2.1. ETIOLOGIA DA PALAVRA ............................................................................10 2.2. UM POUCO DA HISTÓRIA E ALGUNS MITOS.............................................10 2.3. DEFINIÇÕES..................................................................................................17 2.4. CÂNCER E FATORES DE RISCO.................................................................20 2.4.1. Fatores de risco ambientais .....................................................................20 2.4.2. Fatores de risco hereditários e genéticos...............................................21 2.5.CÂNCER E PREVENÇÃO...............................................................................23 2.5.1. Prevenção Primária...................................................................................23 2.5.2. Prevenção Secundária...............................................................................24 2.5.3. Prevenção Terciária...................................................................................24 3 PSICOSSOMÁTICA ..........................................................................................25 3.1. ETIOLOGIA E SIGNIFICADO DA PALAVRA ................................................25 3.2. UM POUCO DA HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA E SEUS CONCEITOS27 3.3. A PSICOSSOMÁTICA NO BRASIL................................................................38 3.4. A PSICO-ONCOLOGIA...................................................................................39 3.4.1. Etiologia da palavra e definições.............................................................39 3.4.2. Um pouco da história da Psico-Oncologia..............................................40 4. A RELAÇÃO ENTRE PSICOSSOMÁTICA E CÂNCER...................................43 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................49 REFERÊNCIAS.....................................................................................................51 7
  • 8. 1. INTRODUÇÃO A relação entre corpo x mente e saúde x doença vem sendo alvo de estudos e suposições desde os tempos mais remotos. Desde a Grécia antiga, sabe-se da influência que os aspectos emocionais exercem sobre a saúde e a doença, e também o contrário, sendo impossível tratar do corpo sem pensar na alma. Sócrates (Cármides, APUD: Ramos, 1994, p.18), já colocava: “... assim como não é possível tentar a cura dos olhos sem a cabeça, nem a cabeça sem a do corpo, do mesmo modo não é possível tratar do corpo sem cuidar da alma, sendo essa a causa de desafiarem muitas doenças o tratamento dos médicos helenos, por desconhecerem estes o conjunto que importa ser tratado, pois não pode ir bem a parte quando vai mal o todo (...)”. Mais adiante, no entanto, com as novas descobertas nos campos da ciência e da Medicina, surgiu, com Descartes, uma tendência à fragmentação. O dividir, para reduzir, e assim conhecer. Esta que era para ser uma prática de outras áreas do conhecimento transferiu-se também para a Medicina, e o ser humano passou a ser visto como uma máquina. Instituiu-se a dicotomia corpo- mente, e ainda subdividiu-se o corpo em vários pedaços menores. Em se tratando de saúde/ doença, agora trata-se a doença, e não o doente. Porém, como tudo ocorre em ciclos, acontece, de uns tempos para cá, um movimento que tende a “resgatar” aquela visão anterior de ser humano, como um ser uno, completo e complexo. Pode-se pensar que, a partir deste momento, começou a instituir-se uma nova mudança de paradigma. As teorias de Einstein, bem como, mais recentemente, estudos na área da Psicossomática e da Psiconeuroimunologia, passam a comprovar a influência não apenas do meio sobre o ser humano, mas a influência que este (ser humano) exerce no meio, bem como a capacidade que cada um possui de agir e influenciar diretamente sobre seu próprio sistema imunológico. Além disso, a visão do homem amplia-se, passando este a ser considerado um ser biopsicossocial e espiritual. Entender o processo do adoecimento torna-se então algo muito mais complexo, e as doenças passam a 8
  • 9. ser dotadas de um sentido. E, dentre todas as doenças, uma em especial vem despertando o interesse de várias pesquisas, às quais buscam encontrar uma relação entre o seu surgimento, progressão e cura (ou morte) e fatores não apenas orgânicos, mas emocionais, sociais e culturais: o câncer. Seria ele uma doença Psicossomática? Considerado por muitos como “o grande mal deste século”, vem sendo estudado pelas mais diversas áreas do conhecimento, dentre elas uma relativamente nova, denominada de Psico-Oncologia. A relação entre Psico-Oncologia, Psicossomática e adoecimento (mais especificamente o câncer) é o tema sobre o qual se discorrerá no presente trabalho. 1.1. OBJETIVO Procurar mostrar a relação entre Câncer e Psicossomática, através de uma revisão da literatura, buscando livros e artigos de pesquisa que descrevam esta relação. 1.2. METODOLOGIA Este trabalho resulta de uma breve revisão bibliográfica de autores reconhecidos na área da psicologia com relação à oncologia e aspectos emocionais envolvidos , bem como com referência a área da psicossomática. Foram consultados os bancos eletrônicos: LILACS, SCIELO e BIREME (1990 - 2008) e literatura de autores clássicos da área. 9
  • 10. 2. CÂNCER 2.1. ETIOLOGIA DA PALAVRA A palavra câncer tem origem latina e significa, literalmente, caranguejo. Tem esse nome, pois as células doentes atacam e se infiltram nas células sadias como se fossem os tentáculos de um caranguejo. Segundo a AAPC (Associação de Assistência e Prevenção do Câncer), foi justamente um grego, Hipócrates, que cunhou a palavra "câncer". O "pai da medicina", como é conhecido, viveu entre 460 e 370 a.C. e usou os termos "carcinos" e "carcinoma" para descrever certos tipos de tumores. Em grego, querem dizer "caranguejo", pelo aspecto do tumor, as projeções e vasos sanguíneos ao seu redor fazem lembrar as patas do crustáceo. 2.2. UM POUCO DA HISTÓRIA E ALGUNS MITOS Cada período histórico se caracteriza por uma doença que, em um modo particular, influencia o imaginário coletivo. Nos tempos bíblicos, era a lepra que espalhava o terror e a perturbação. Na era medieval, era a peste, a “morte negra”, demônio incontível e devastador que segundo Deifruss-Katan (2009), apenas em Firenze “destruiu” 60.000 habitantes em um ano, servindo de inspiração para que Giovani Boccaccio escrevesse a célebre “Decameron”. No século XIX, invés, foia tuberculose, a “morte branca” que se tornou o símbolo do mal incurável. Já no século XX (e parece seguir agora, no século XXI 1 ), é o câncer a doença que evoca as angústias mais profundas. O câncer vem há tempos sendo identificado como “o mal”, ainda que existam outras doenças crônicas graves, isto sem contar no fato de que, ainda hoje, nas sociedades ocidentais, as mortes devido a doenças cardiovasculares superam as causadas por tumores. Porém, a associação metafórica que evoca o conceito de câncer já fala por si: 1 Observação minha 10
  • 11. Essas (as neoplasias malignas) vem consideradas como o animal do qual herdam o nome, o caranguejo, como ser vivo noturno, geralmente invisível, que se move com um “movimento de crustáceo”, imprevisível. Assim como lagostins ou caranguejos são protegidos por uma carcaça, o são, segundo esta metáfora, também os “cânceres”, que se agarram, e permanecem com o olhar fixo, preparando tormentos sem fim e tendo como único propósito a morte da vítima. (Lockhart, 1977, in Meerwein, 1991, APUD: Tchuschke, 2008, p.03) A metáfora do caranguejo para definir a doença foi escolhida pela primeira vez por Galeno, o qual afirmou, segundo Bahnson (1997, APUD: Tschuschke, 2008), ter observado que as mulheres com carcinoma mamário desenvolviam sobre o peito uma formação em formato de caranguejo. Além da metáfora, temos no decorrer da história, vários “momentos” relacionados ao câncer. Segundo Carvalho e Veit (2008), o câncer é uma doença que desencadeia comportamentos peculiares. Sempre foi algo a ser escondido por vir acompanhado de muitos estigmas, como a inevitabilidade da morte e as explicações equivocadas a respeito de sua etiologia, que atribuíam a sua origem à promiscuidade sexual ou à falta de higiene e transmitiam a idéia de ser uma enfermidade contagiosa e repugnante. Ainda de acordo com os autores, o câncer passou a ser visto da mesma forma que a lepra e a sífilis, distinguindo-se, no entanto, da tuberculose, que passou a ser vista como uma doença ligada à sensibilidade do espírito e tratada com um certo glamour. A medicina só começou a ter avanços significativos na Renascença, no século XV, quando floresceram por todos os lados cientistas e artistas, especialmente na Itália. Michelangelo, um desses artistas, teria retratado em sua famosa escultura "A Noite" (La Notte), uma mulher com câncer de mama. A teoria baseia-se no aspecto disforme de seu seio, que, a considerar a habilidade do escultor, não foi casual.(AAPC, 2009) 2 2 Michelangelo, La notte, Cappella Medici, 1524. in: http://clf2000.splinder.com/archive/2005-02 11
  • 12. Os cânceres, como os caranguejos, se insinuam com movimentos imprevisíveis em todas as direções, invisíveis, sorrateiros, semelhantes a primitivos animais noturnos. Como o caranguejo, protegido pela sua carcaça, o câncer é agressivo e inatingível; infringe dor e se prende tenazmente à sua vítima, para devorá-la e destruí-la até a sua morte. Segundo Dreifuss-Kattan (2009), Sontag coloca que, em 1798, o escritos alemão Novalis descreveu os tumores como “parasitas plenamente evoluídos, capazes de crescer, de serem gerados, de gerarem, de haverem estruturas próprias de segregarem substâncias e de nutrirem-se”. Freud define seu câncer na cavidade oral como seu “monstro” (Schur, 1972, APUD: Dreifuss- Kattan, 2009). Mais adiante, em um certo momento da história das doença, como coloca Sontag (1984),o câncer passou também a simbolizar as emoções que não podiam ser expressas, ficando reservada ao paciente de câncer a idéia da incapacidade de lidar adequadamente com as vicissitudes emocionais de sua vida, gerando mais um estigma. Tschuschke (1996, APUD:2008), traz que, na antiguidade, se acreditava que o câncer era desencadeado pela “bile negra” ou pela “melancolia”, pela discrepância no equilíbrio psíquico de um indivíduo. Hürny e Adler, 1991 (APUD: Tschuschke, 2008, p. 03 e 04), colocam que um tumor é percebido como uma “peste moderna”: Câncer não significa nada mais do que um duro golpe do destino, uma doença incomparável, inigualável, morte certa e não imprevista, mas um lento e atroz período de enfermidade. O câncer está sujeito a qualquer coisa de inquietante, desleal e maligno. Pode significar punição, culpa ou pecado, como também falta de eficiência, falta de valor e desprezo, ser um peso para os outros. Traz os sinais da lepra, da marginalidade, do isolamento, do estado de impotência e do desespero. Atualmente, o câncer segue sendo usado freqüentemente como metáfora de comportamentos e condições sociais que significam destruição ou desintegração moral ou social, como em expressões como: “Os políticos são o câncer do nosso país” (Carvalho e Veit, 2008). Mitos e verdades acerca do câncer seguem sendo questionados, como os observados no site da AAPECAN (Associação de Apoio às Pessoas com Câncer). Segundo a associação, a própria palavra câncer ainda assusta muita gente, isto 12
  • 13. porque ainda existem muitas idéias erradas sobre a doença e, infelizmente, a maioria das pessoas ainda pensa que câncer é sinônimo de morte. Até hoje há quem evite pronunciar a palavra “câncer” e atribui à doença alguns, digamos, apelidos. Portanto, parece-nos que própria palavra câncer já traz em si alguns mitos. Muitas vezes uma má interpretação de fatos relacionados ao câncer ou uma generalização de um caso isolado da doença assim como especulações acabam por fazer com que idéias e até mesmo crenças se apresentem como verdades. Dentre elas destacam-se as seguintes: • O Câncer é contagioso? Mito. Mesmo o câncer causado por vírus não é contagioso, ou seja, não passa de uma pessoa para a outra por contágio como ocorre com resfriados, por exemplo. No entanto, alguns vírus oncogênicos, isto é, capazes de produzir câncer, podem ser transmitidos através do contato sexual, de transfusões de sangue ou de seringas contaminadas utilizadas para injetar drogas. • Desenvolver um câncer é um castigo? Mito. Há várias causas para o câncer, sobretudo tabagismo, consumo exagerado de álcool, maus hábitos alimentares, sedentarismo que são os principais responsáveis pelos casos de câncer. • Pessoas na minha família tiveram câncer, terei também porque o câncer é hereditário? Mito. Em geral, o câncer não é hereditário. Há apenas alguns raros casos que são herdados, tal como o retinoblastoma, um tipo de câncer de olhos que ocorre em crianças. Entretanto, existem alguns fatores genéticos que tornam determinadas pessoas mais sensíveis à ação de carcinógenos, isto é, agentes que provocam o desenvolvimento de um câncer ou tumor maligno no organismo, o que explica por que algumas delas desenvolvem câncer e outras não, quando expostas a um mesmo carcinógeno ambiental. Mas, repetimos: o câncer não é comprovadamente hereditário. • Pessoas afro-descendentes não correm risco de ter câncer de pele? Mito. Qualquer pessoa pode ter câncer de pele, no entanto aquelas com maior concentração de melanina na pele, como as pessoas afro- descendentes, apresentam menor incidência de tumores de pele. Embora 13
  • 14. seja raro, podem ter câncer de pele, principalmente na palma das mãos ou na planta dos pés. Por isso, todos devem proteger-se do sol usando chapéus e filtros solares adequados. • Charutos e cachimbos provocam menos câncer de pulmão que cigarros comuns? Mito. Tanto os cigarros como os charutos e fumo para cachimbos consistem em folhas de tabaco secas, além de outras substâncias. Dentre aquelas já identificadas no tabaco e na sua fumaça, 43 são comprovadamente cancerígenas. Como há mais fumantes de cigarros do que de charutos e cachimbos, a ocorrência de câncer por cigarro é maior, no entanto charutos e cachimbos são igualmente perigosos. • O tabaco causa apenas câncer de pulmão? Mito. O hábito de fumar é a principal causa do câncer de pulmão, laringe, faringe, cavidade oral e esôfago. Também contribui para o surgimento do câncer de bexiga, pâncreas, útero, rim e estômago, além de algumas formas de leucemia. • Desodorante antiperspirante pode causar câncer de mama? Mito. De forma alguma. Esse é um boato que circula na Internet, mas nada tem de verdadeira. Na axila nem existem células mamárias. Não existem pesquisas ou estudos que demonstrem haver qualquer ligação entre as duas coisas. O que pode acontecer é o entupimento de algumas glândulas sudoríparas, mas isso não afeta a mama. • Um tumor pode ser causado por um trauma, por exemplo, uma pancada durante uma batida de automóvel? Mito. A batida pode formar um caroço, que, em exames rotineiros, se assemelha a um câncer, mas é benigno. Outra coisa comum é que, a partir do choque, a preocupação da pessoa aumente e, através do toque mais freqüente ou outro exame, ela descobre um nódulo que já estava presente em seu corpo. • O câncer tem cura? Verdade. Embora a medicina indique, sempre, o tratamento individualizado e cada paciente responda de uma maneira particular às terapias, o câncer 14
  • 15. é curável, desde que diagnosticado precocemente e acompanhado corretamente. • Andar muito de avião ou ficar sempre perto de antenas de celulares aumenta o risco de desenvolver câncer? Mito. Não há nenhuma comprovação científica de que radiação de celulares, microondas, aviões possa causar tumores. Telefones celulares emitem doses pequenas de radiação eletromagnética. Até o momento, os estudos feitos para determinar a relação dessa radiação com o aparecimento de câncer não mostraram nenhuma evidência de que isso ocorra, mas o assunto permanece “em aberto” e mais pesquisas são necessárias para se chegar a uma conclusão. Convém ressaltar que radioatividade em altas concentrações representa riscos para desenvolver um câncer. • Alimentos cozidos em forno de microondas podem provocar câncer? Mito. As microondas não tornam o alimento radioativo, nem apresentam risco de exposição à radiação desde que usadas de acordo com as instruções. A exposição a altas doses de radiação por microondas pode ocasionar queimaduras ou cataratas nos olhos, mas a pequena quantidade que pode vazar de um forno caseiro não causa problemas. • O câncer de próstata causa diminuição de virilidade? Mito. O toque retal não afeta o desempenho sexual de quem é submetido ao exame. Se a doença for descoberta ainda no início, o tratamento não influenciará a atividade sexual do paciente. Portanto não haverá riscos de perda de apetite ou desempenho sexual. • Um paciente com câncer de próstata pode ter perda da masculinidade? Mito. A única alternativa médica possível para verificar se a próstata está normal ou se há alterações é realizar o exame de toque retal (pois o reto é a via natural de acesso à próstata por ter sua parede ligada a esse órgão). O exame em nada influencia a orientação sexual do paciente. • A freqüência sexual interfere na ocorrência de câncer? Mito. Imaginar que uma vida sexual mais ou menos ativa influencia a ocorrência da doença. Especialistas afirmam que não há relação alguma entre a freqüência sexual e o surgimento de câncer. Cabe aqui informar 15
  • 16. que a atividade sexual não ajuda a proteger as mamas contra o câncer. O que pode protegê-las contra doenças mamárias é a gravidez e a lactação. • Se eu faço o auto-exame de mamas todos os meses não preciso fazer mamografia? Mito. Normalmente, se você fizer o auto-exame todos os meses e visitar seu médico anualmente, uma mamografia por ano é suficiente. Nem o auto-exame, nem o exame médico, nem a mamografia são eficientes sozinhos. Alguns cânceres de mama são detectados apenas com a mamografia. Outros são detectados apenas com exame médico, por esta razão, a American Cancer Society (ACS) recomenda a mamografia, junto com o auto exame e o exame físico feito por um profissional de saúde. • Amamentar protege o peito do câncer de mama? Verdade. Quando o bebê mama, as células mamárias ficam ocupadas com a produção de leite e se multiplicam menos, o que reduz o risco de contrair a doença. Certamente, com o tempo, muito ainda será desmistificado, e outros “mitos” surgirão. Cabe aqui salientar que algumas opiniões a respeito da carcinogênese seguem similiares nos vários períodos históricos, como as afirmadas por Schwarz (1994, APUD: Tschuschke, 2008), de que a idéia de que a doença neoplásica fosse devido a um estresse psíquico mais ou menos excessivo que precedia a manifestação da doença, por exemplo. Na evolução das teorias explicativas sobre as causas psicossomáticas dos tumores, a multicausalidade física e psicológica se transforma em seguida em um modelo principalmente ligado ao estresse, para depois passar, na literatura dos últimos 50 anos, em um novo modelo, aquele da cancer prone personality... (Schwarz, 1994, APUD: Tschuschke, 2008, p. 05) Pensando em uma perspectiva histórica mais atual, Levenson e Bemis (2000), colocam que, na década de 50, testemunhou-se uma onda de interesse na medicina psicossomática (sobre a qual discorreremos mais adiante) e na pesquisa unindo fatores psicológicos, sociais e ambientais no surgimento e progressão da doença. Uma das principais descobertas da época foi a associação entre o fumo e o câncer de pulmão. Já na década de 60, traços de personalidade, conflitos e sentimentos foram examinados como possíveis contribuintes para o início e a progressão de muitas doenças, incluindo o câncer. Também nesta 16
  • 17. década, houve a associação entre o câncer e a exposição a determinados ambientes e toxinas ocupacionais. Além disso, se testemunhou o crescimento de experimentos com animais na tentativa de melhor compreender os efeitos dos fatores psicológicos e comportamentais no câncer, controlando variáveis que poderiam causar confusão. Já a década de 70, caracterizou-se por vários avanços na imunologia e na neuroquímica, e a psiquiatria tornou-se mais envolvida com as bases biológicas dos transtornos mentais. Foram demonstradas algumas associações intrigantes entre determinados estados afetivos e o sistema neuroendócrino. Mais adiante, nos anos 80, como colocou Holand (1989, APUD: Levenson e Bemis, 2000), tem-se as pesquisas na área da psiconeuroimunologia, que exploraram a relações entre a resposta imunológica e as variáveis psicossociais, assim como as implicações para a vulnerabilidade ao câncer e sua progressão. 2.3. DEFINIÇÕES Câncer, segundo o INCA, é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco de vida. Salgado (2001) coloca que a classificação dos diversos tipos de câncer está relacionada com o local onde surge o tumor e segundo sua aparência vista ao microscópio. Muitos tipos de câncer pertencem a um dos cinco grandes grupos, a saber: • Carcinoma: se desenvolve em células que cobrem a superfície do corpo, a pele, nas glândulas mamárias ou em órgãos internos, como próstata, pulmões, estômago, intestino. 80 a 90% dos tipos de câncer pertencem a esta categoria. 17
  • 18. Mieloma: se desenvolve em um tipo especial de células localizadas na medula óssea, os plasmócitos. • Linfoma: se desenvolve nas células das glândulas do sistema imunológico. Os linfomas são subdivididos em Hodkings e Não- Hodkings. De acordo com a ABRALE (2009), O linfoma de Hodgkin foi assim chamado devido à descrição de vários casos em 1832 por Thomas Hodgkin, os quais foram reconhecidos como uma nova condição maligna que envolve os linfonodos. Foi aproximadamente 40 anos mais tarde que um novo conceito de linfoma (originalmente denominado linfossarcoma), diferente do linfoma de Hodgkin, foi proposto por Virchow, Conheim e Billroth, três proeminentes médicos do final do século XIX. Os pacientes com linfoma de Hodgkin, apresentam células características denominadas: células de Reed-Sternberg. Acerca do Linfoma Não-Hodking, tem-se que existem trinta ou mais subtipos específicos, mas para simplificar a classificação muitos oncologistas agrupam os vários subtipos de acordo com a velocidade média de crescimento e progressão do linfoma: muito lentamente (baixo grau) ou muito rapidamente (alto grau ou agressivo). • Sarcoma: se desenvolve no tecido conetivo, como nos ossos, tendões, cartilagem, gordura e músculos. Segundo o OncoGuia, o termo tem origem grega e significa "crescimento carnoso". Os tumores ósseos também são chamados de sarcomas, embora estejam em outra categoria devido às suas características clínicas, microscópicas e por terem um tipo de tratamento diferente. Os sarcomas de partes moles (partes moles são os tecidos moles do nosso organismo como músculos, tecidos fibrosos e adiposos, tecidos de suporte, gordura, sistema nervoso periférico, vasos sangüíneos e linfáticos) abrangem uma série de tipos de tumores. Alguns crescem lentamente e outros apresentam crescimento bem mais rápido. • Leucemia: se desenvolve nas células da medula óssea e sistema linfático que produze o sangue. È na verdade um grupo de doenças complexas e diferentes entre si que afetam a produção dos glóbulos brancos, como pode ser visto no site da ABRALE. 18
  • 19. Simonton (1987) define a célula cancerosa como sendo fraca e confusa. Segundo ele, um câncer começa com uma célula que contém informações genéticas incorretas, tornando-se incapaz de cumprir as funções para as quais foi designada. Isto pode ter ocorrido por diversos motivos, como exposição a substâncias químicas, fatores externos, ou ainda porque, durante o processo de reprodução de bilhões de células, o corpo produzirá ocasionalmente uma imperfeita. Se esta célula reproduz outras células com a mesma construção genética incorreta, então um tumor começa a ser formado, composto de uma massa dessas células imperfeitas. O autor ainda salienta que, normalmente, as defesas do corpo e o sistema imunitário reconhecem estas células e as destroem. No mínimo, o que acontece é que elas são cercadas, para que não se alastrem. No entanto, no caso de células malignas, mudanças celulares suficientes acontecem para que elas possam reproduzir-se rapidamente e comecem a se introduzir no tecido adjacente. Enquanto no caso das células normais há uma espécie de “comunicação” entre elas para evitar que se reproduzam de maneira excessiva, as células malignas são desorganizadas o bastante e não reagem à comunicação das células vizinhas e começam então a se reproduzir de maneira desordenada. As células defeituosas, o tumor, podem então começar a bloquear o bom funcionamento dos órgãos do corpo, ou por aumentarem a ponto de exercer pressão física sobre outros órgãos ou, ainda, por haverem substituído um número de células saudáveis em um órgão, impedindo-o assim de funcionar. 2.4. CÂNCER E FATORES DE RISCO O Câncer é considerado uma doença multifatorial, ou seja, cuja causa não é única. Existem vários fatores que podem ser considerados de risco, não se podendo, no entanto, afirmar que tais fatores serão determinantes para o desenvolvimento da doença. Sabe-se que se uma pessoa estiver freqüentemente exposta a fatores de risco, ela tem maior chance de desenvolver câncer. No entanto, muitas vezes pessoas que se expõem a um ou mais fatores de risco não desenvolvem câncer; enquanto outros, que nunca foram expostos, têm a doença. 19
  • 20. Isso ocorre porque, como já citado anteriormente, há inúmeros fatores associados ao aparecimento de um tumor. Hürny (1996, APUD: Tschuschke, 2008) salienta que, na base do estado atual sobre as pesquisas sobre o câncer, a hipótese mais aceita acerca das causas do adoecimento é aquela de uma gênese multifatorial, na qual as influências ambientais (raios, vírus, agentes carcinogênicos), os fatores psicossociais (estresse, comportamentos “errados”, os fatores imunológicos, endócrinos e genéticos, exercem uma ação interativa ou cumulativa segundo uma modalidade ainda desconhecida na sua totalidade. Segundo o Hospital do Câncer A. C. Camargo, fator de risco é qualquer coisa que aumente a chance de alguém ter determinada doença. No caso do câncer, alguns podem ser evitados pela mudança de hábitos - deixar de fumar, beber moderadamente, usar filtro solar, ter uma dieta equilibrada - outros não. Entre estes últimos, estão o histórico familiar e a idade - o risco de desenvolver câncer aumenta com a idade. Sendo assim, os fatores de risco podem ser das seguintes ordens: 2.4.1. Fatores de risco ambientais São aqueles presentes no ambiente, aos quais estamos expostos no nosso dia-a-dia. Entende-se por ambiente, de acordo com o INCA, o meio em geral (água, terra e ar), o ambiente ocupacional (indústrias químicas e afins) o ambiente de consumo (alimentos, medicamentos) o ambiente social e cultural (estilo e hábitos de vida). Assim, as mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio homem, os hábitos e o “estilo de vida” adotados pelas pessoas, podem determinar diferentes tipos de câncer. Alguns destes fatores, como nos lembra Salgado (2001), são específicos para o desenvolvimento de certos tipos de tumor, como a exposição ao sol sem proteção e o câncer de pele. Também há fatores que são condição para vários tipos de tumor, como o tabagismo, que está diretamente relacionado a tumores como pulmão, boca, esôfago, laringe, além de se relacionar indiretamente com cânceres como bexiga, rins, mama. Segundo o INCA 3 , o tabagismo é diretamente responsável por 30% das mortes por câncer, 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença coronariana, 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica e 25% das mortes por 20
  • 21. doença cerebrovascular. Outras doenças que também estão relacionadas ao uso do cigarro são aneurisma arterial, trombose vascular, úlcera do aparelho digestivo, infecções respiratórias e impotência sexual no homem. Estima-se que, no Brasil, a cada ano, 200 mil pessoas morram precocemente devido às doenças causadas pelo tabagismo, número que não pára de aumentar. Também como fatores de risco ambientais temos o asbesto, benzina, formol e a própria poluição. 2.4.2. Fatores de risco hereditários e genéticos Hoje sabe-se que são raros os casos de cânceres que se devem exclusivamente a fatores hereditários, familiares e étnicos, apesar de o fator genético exercer um importante papel na oncogênese. O oncologista Rafael Kaliks, do portal Onco Guia (2008), traz informações importantes a respeito da relação câncer/genética/hereditariedade, a saber: • Todo câncer é causado por uma alteração nos genes. Isto NÃO significa que seja hereditário. Isto apenas significa que esta alteração nos genes causou uma seqüência de eventos nas células de um órgão que acabou causando o aparecimento de um tumor maligno. A grande pergunta é se esta alteração nos genes ocorreu ao acaso (o que ocorre na grande maioria dos casos de câncer, especialmente quando o câncer ocorre em pacientes idosos) ou se foi herdada (ou seja, a alteração genética passou de pai (ou mãe) para filho (a)). • Na grande maioria dos casos de câncer, trata-se de uma alteração genética adquirida ao longo da vida pelo indivíduo doente. Raramente a alteração genética foi herdada. O indivíduo que adquiriu esta alteração genética ao longo da vida NÃO irá passar esta alteração para seus filhos. Apenas entre 5 e 10% de todos os casos de câncer são conseqüência de alteração genética hereditária, ou seja, transmissível de pai (mãe) para filho(a). • Nem todo individuo que herda uma predisposição genética irá desenvolver o câncer. Há inclusive alterações genéticas predisponentes que apenas raramente acabam desencadeando câncer. 3 http://www.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp?item=faq 21
  • 22. Os tumores mais freqüentemente associados a alterações genéticas hereditárias são: câncer de mama, câncer de cólon (intestino grosso) e reto, câncer de ovário e câncer de tireóide. Dito isto, apenas uma minoria dos pacientes com câncer nestes órgãos tem uma alteração genética hereditária. Sobre a questão étnica, sabe-se que existe a prevalência de certos tumores em determinadas raças, e certa “proteção” para outros tipos de tumores. Por exemplo, o índice de câncer de próstata é bastante elevado em negros, ao passo que o sarcoma de Ewing lhes é muito raro (INCA). Estudos do MD Anderson Cancer Center, do Texas, trazem que os tumores de ovário são mais comuns nas mulheres do Nordeste Europeu ou de descendência judia, bem como são mais comuns nos países industrializados. Já a AIRC (Associazione Italiana Per la Ricerca sul cancro) coloca que os tumores de esôfago, por exemplo, são bastante comuns na China e em Singapura. Portanto, são vários os fatores que contribuem para o desenvolvimento de um câncer, destacando-se, segundo o National Cancer Institute, o avançar da idade, o tabagismo, a exposição solar, a exposição à radiação, algumas substâncias químicas, alguns vírus e bactérias, certos tipos de hormônios, histórico familiar de câncer, alcoolismo, má alimentação, falta de atividade física e sobrepeso. Também alguns fatores relacionados a estresse, bem como aspectos emocionais vêm sendo estudados como fatores de risco para o adoecimento. Isto, no entanto, será discorrido em capítulo à parte. 2.5. CÂNCER E PREVENÇÃO A prevenção do câncer, segundo Kaliks e Giglio (2008), pode ser dividida em três tipos, primária, secundária e terciária, e tem por objetivo interferir nos fatores predisponentes ao desenvolvimento de um câncer ou detectar precocemente o advento do câncer deles decorrente. Para falarmos acerca da prevenção relacionada ao câncer, é necessário, portanto, que se discorra acerca dos diversos tipos de prevenção, a saber: primária, secundária e terciária. 22
  • 23. 2.5.1. Prevenção Primária Segundo Fernandes (2008), o conceito de prevenção primária é evitar que indivíduos saudáveis se tornem doentes, promovendo educação e condições que melhorem a qualidade de saúde na vida das pessoas. Um bom exemplo de prevenção primária que podemos citar são as campanhas de vacinação realizadas pelo Ministério da Saúde, com o objetivo de evitar o surgimento de doenças infecto-contagiosas que possam desenvolver uma epidemia na população em geral. Tudo começa com seus hábitos de vida, as atividades físicas, os bons relacionamentos, as realizações no âmbito social, religioso, profissional etc. Passa também por uma boa alimentação balanceada e variada de nutrientes, completando-se com a realização de tarefas agradáveis e contatos com pessoas do seu convívio diário. Educar o indivíduo a praticar estas atividades é promover prevenção primária. Mostrar para as pessoas os riscos a que estão expostas fazendo ou não determinadas atividades contribui também para uma melhor qualidade de saúde. Pensando especificamente na questão do câncer, sabe-se que a adoção de hábitos de vida saudáveis pode vir a dificultar o surgimento da doença, porém, ela sendo multifatorial, pode vir a ocorrer inclusive em indivíduos considerados “cuidadosos”. A grande maioria dos tumores não se enquadraria em uma forma de prevenção dita primária, salvo, atualmente, o câncer de colo de útero, que não apenas pode ser prevenido pelo exame de Papanicolau, como através da vacinação contra o HPV, um dos principais agentes causadores deste tipo de tumor. Kaliks e Giglio (2008) referem-se à prevenção primária do câncer como as medidas gerais que podemos propor a pessoas da população geral com o intuito de prevenir a exposição a fatores que poderiam provocar o aparecimento de câncer. Dentre estes fatores, destacam o tabagismo, o etilismo, a obesidade, a exposição ao sol e a proteção contra infecções, dando destaque aqui à já citada anteriormente, vacina contra o HPV, principal agente causador de câncer de colo do útero. 2.5.2. Prevenção Secundária 23
  • 24. De acordo com a Associação Brasileira do Câncer, a prevenção secundária se baseia na detecção precoce e tratamento que contribuem significativamente para o aumento dos índices de sobrevivência. Ela visa, conforme pode ser lido no espaço www.oncologistas.com, identificar lesões em fase pré-clínica em indivíduos assintomáticos, quando a doença é passível de cura. É, portanto, a nível de prevenção secundária que temos as mamografias, ecografias, exames de sangue e demais “preventivos”, cujo objetivo é a detecção precoce da doença, o que a torna mais passível de cura. De acordo com Kaliks e Giglio (2008), a importância da prevenção secundária reside no fato de que a detecção precoce permite uma alta taxa de cura para a maioria das neoplasias. 2.5.3. Prevenção Terciária A prevenção terciária refere-se a uma prevenção de recaída, no caso, por exemplo, de alcoolismo ou drogadição ou, no caso do câncer, quando a doença já está instalada, na prevenção de recidiva ou metástases.Também relaciona-se à reabilitação. Meirelles (2008) coloca que a prevenção terciária corresponde à detecção precoce de problemas de saúde em indivíduos presumivelmente doentes, mas assintomáticos para a situação em estudo. Pretende-se, ainda, que haja uma aplicação imediata de medidas apropriadas, com vista ao rápido restabelecimento da saúde ou, pelo menos, um condicionamento favorável da evolução da situação, com cura e/ou redução das conseqüências mais importantes da doença. Este nível de prevenção pressupõe o conhecimento da história natural da doença, a existência de um período de detecção precoce suficientemente longo (período pré-clínico ou assintomático) e facilmente detectável, e que seja passível de tratamento que interrompa a evolução para estádios mais graves. Assim, espera-se que haja diminuição da prevalência da doença, essencialmente pela diminuição da duração da mesma. Dentre os exemplos, citam o rastreamento dos cânceres de colo do útero, da mama, da próstata, do cólon e reto. Acerca deste tipo de prevenção, Kaliks e Giglio (2008) citam que a mesma consiste em medidas instituídas em pacientes que já têm uma neoplasia, visando evitar a deterioração clínica ou complicações específicas do tratamento. Destacam, também, que a prevenção terciária é essencialmente 24
  • 25. estabelecida em função de falha das medidas de prevenção primária e secundária. Assim sendo, quando pensamos em prevenção do câncer, devemos levar em consideração os três níveis acima citados. 3. PSICOSSOMÁTICA 3.1. ETIOLOGIA E SIGNIFICADOS DA PALAVRA O termo surgiu a partir do século passado, quando Heindroth criou a expressão psicossomática. (Mello Filho, 1992). Cerchiari (2000) nos traz que a expressão foi criada por Heindroth ao fazer referência a insônia e a influência das paixões na tuberculose, epilepsia e câncer. Trombini e Baldroni (2004), trazem que, embora a palavra “psicossomática” se refira a conceitos muito antigos, encontrados em todas as culturas humanas, o termo psicossomático é de origem um tanto quanto recente. De acordo com os autores, Heindroth (1818) sentou a necessidade de unir o conceito de mente e de corpo para reagir à tendência exagerada à separação que estava se verificando na cultura científica da época, bastante influenciada pelo pensamento cartesiano. Pouco tempo depois, em 1822, Jacobi (APUD: Tombini e Bardoni, 2004), propôs o termo somato-psíquico para indicar a influência de experiências corpóreas na atividade psíquica. Em ambos os casos, no entanto, um dos dois pólos do problema sempre era privilegiado: o psíquico ou o somático. Com o passar dos anos, a palavra foi utilizada nos conceitos mais diversos, tendo assumido vários significados: * pode referir-se à convicção ou dúvida de que um distúrbio corpóreo tenha origem psicológica. Por muito tempo, usou-se o termo Doença Psicossomática para uma categoria de patologias médicas que acreditava-se ter uma causa psicológica que a distinguia de outras, cujas causas seriam unicamente orgânicas. Assim, o termo tornou-se sinônimo de psicógeno. Um conceito simplista, mas que, ainda hoje, é utilizado por muitos médicos e psicólogos. (Trombini e Baldroni, 2004) 25
  • 26. * pode indicar a influência das emoções e do eestressee nos processo corpóreos. Neste caso, fala-se também de sintomas psicofisiológicos. Estuda-se os aspectos psicológicos em relação aos corpóreos e avalia-se com outros de natureza social ou ambiental, numa perspectiva multifatorial, embora ligada a uma concepção causal linear; * pode voltar-se às influências que os processos corpóreos, sãos ou patológicos, podem ter na psique. Uma doença crônica, pro exemplo, pode interferir na qualidade de vida e ocasionar o aparecimento de distúrbios emocionais. O termo utilizado seria somatopsíquico; * pode indicar as condições químicas nas quais a função de um órgão ou de um aparelho corpóreo é alterada, mas que não chega a caracterizar uma lesão orgânica que justifique a sintomatologia. Fala-se de síndrome funcional ou distúrbio de somatização, presumindo de modo genérico que a condição seja conseqüência de um sofrimento emocional ou do eestressee; * pode ser utilizado para definir um tipo particular de personalidade que predispõe ao desenvolvimento de doenças: personalidade psicossomática, como, por exemplos, pacientes com características de alexia, que manifestam dificuldade para reconhecer e exprimir as próprias emoções em termos psicológicos, tendendo então a vivê-las no plano somático; * pode referir-se ao significado comunicativos que pode assumir um sintoma corpóreo, ou indicar uma modalidade de relação característica de uma família, na qual um ou mais membros são predispostos a adoecer somaticamente (famílias psicossomáticas); * pode descrever uma modalidade de avaliação pela qual os problemas humanos são estudados, considerando-se diferentes níveis e sistemas biológicos, psicológicos, sociais e ambientais. O exemplo mais importante é o modelo biopsicossocial, proposto por George Engel. Lipowski (1984) coloca que o termo "psicossomática" implica diferentes sentidos para diferentes pessoas e tem sido usado numa variedade de contextos, tais como: medicina psicossomática; movimento psicossomático; desordens psicossomáticas; sintomas psicossomáticos; pacientes psicossomáticos. Segundo a autora, estes termos são raramente definidos por quem os usa, perpetuando sua ambigüidade. 26
  • 27. Alexander (1989) traz que o termo “psicossomático” tem sido objeto de muita crítica, principalmente porque parece sugerir justamente o que o ponto de vista psicossomático denta evitar: a dicotomia mente/corpo. Segundo o autor, o termo deve ser usado apenas para indicar um método de abordagem, tanto em pesquisa quanto em terapia, ou seja, o uso simultâneo e coordenado de métodos e conceitos somáticos (i.é, fisiológicos, anatômicos, farmacológicos, cirúrgicos e dietéticos) de um lado, e métodos e conceitos psicológicos por outro lado. Hulak (2003) enfatiza uma distinção que considera indispensável entre a Medicina Psicossomática e a Psicossomática propriamente dita. De acordo com o autor, enquanto a Medicina Psicossomática diz respeito ao conjunto de ações voltadas para o atendimento de pacientes (semiologia, propedêutica, terapêutica e didática), a segunda tem como pertinência e território o ideário, a filosofia, a humanística da Psicossomática e sua história e campo. Esta distinção torna-se importante para caracterizar estas psicossomáticas nos dias atuais; a psicossomática hoje. 3.2. UM POUCO DA HISTÓRIA DA PSICOSSOMÁTICA E SEUS CONCEITOS Para discorrer um pouco sobre a história de Psicossomática, é necessário que falemos, primeiramente, sobre o surgimento do “movimento” psicossomático, para mais adiante falarmos um pouco acerca de alguns profissionais que tornaram-se fundamentais para o seu desenvolvimento. Em Psicossomática Hoje (1992), Mello Filho nos faz uma breve descrição da história da Psicossomática. Segundo o autor, o termo psicossomática surgiu a partir do século XIX, como já descrito anteriormente. No entanto, o “movimento psicossomático” só se consolidou em meados do século XX, com Alexander e a escola de Chicago. Hulak (2003) coloca que Heinroth cunhou a palavra ”psico- somática” (com hífen) e desenvolveu trabalhos sobre a saúde como um todo e de como as emoções podem gerar doenças; na continuidade de sua obra cunha, em 1828, o termo “somatopsíquico”. Já Tormbini e Baldoni (2001), colocam que o termo “somatopsíquico” foi, na verdade, proposto pelo médico organicista Jacobi, 27
  • 28. em 1822, para indicar a influência das experiências corpóreas na atividade psíquica. Contemporâneos de Heinroth, Heindorf, Gross e Benecke (APUD: Hulak, 2003), também contribuíram para uma visão psicodinâmica da saúde e a psicoterapia proposta por Reil recebeu contribuições teóricas importantes. Além disso, Moreau De Tours afirmou que a interpretação dos sonhos era o caminho para a compreensão das neuroses. Para Mello Filho (1992), a evolução da psicossomática ocorreu em fases. A primeira, denominada de fase inicial ou psicanalítica, sob a influência das teorias psicanalíticas, teve seu interesse voltado para os estudos da origem inconsciente das doenças, das teorias da regressão e dos ganhos secundários da doença. A segunda, também chamada de fase intermediária, influenciada pelo modelo Behaviorista, valorizou as pesquisas tanto em homens como em animais, deixando assim grande legado aos estudos do estresse. A terceira fase, denominada de atual ou multidisciplinar, valorizou o social, a interação e interconexão entre os profissionais das várias áreas da saúde. A corrente Psicanalítica teve, como um dos principais representantes, Franz Alexander, cujas teorias baseavam-se em idéias bastante evoluídas, que levavam em conta tanto aspectos filosóficos, psicológicos e sócias do problema, como dados mais modernos oferecidos pela medicina e pela psicofisiologia. Foi o primeiro a enfrentar o problema da origem das doenças numa perspectiva multifatorial, acreditando que os fatores emocionais sempre desempenham um papel importante, interagindo com outros elementos somáticos e ambientais num único processo. (Trombini e Baldroni, 2001). Antes dele, no entanto, não podemos deixar de citar a contribuição deixada por Grodeck, psicanalista que desenvolveu uma teoria segundo a qual, como coloca Casetto (2006), o sintoma somático é visto como representante simbólico dos conflitos psíquicos. Segundo Groddeck (1923, APUD: Casetto, 2006), “A doença não provém do exterior, o próprio ser humano a produz; o homem só se serve do mundo exterior como instrumento para ficar doente, escolhendo em eu inesgotável arsenal de acessórios ora a espiroqueta da sífilis, ora uma casca de banana, depois uma bala de fuzil ou um resfriado”. E, como coloca Hulak (2003), apesar da psicossomática não ter sido alvo de maior preocupação para Freud, Georg Groddeck foi o pioneiro de uma psicossomática desvinculada 28
  • 29. da psicanálise. Nascimento (s/ano) escreve que seu modo de proceder partia do princípio de que as doenças do homem eram uma espécie de representação simbólica de suas predisposições psicológicas. Groddeck rejeitava a distinção entre doenças psíquicas e orgânicas e procurava curar as pessoas em sua globalidade (Trombini e Baldroni, 2001). Outro nome importante de ser lembrado é o de Ferenczi, que propôs, em 1926, uma nova categoria de neuroses, que chamou de neurose de órgão, com a qual teria encontrado a possibilidade de pensar a origem psíquica de certas disfunções orgânicas (Casetto, 2006). Retornando para Alexander (1989), o mesmo coloca que teoricamente, cada doença é psicossomática, uma vez que fatores emocionais influenciam todos os processos do corpo, através das vias nervosas e humorais. Quando os médicos não conseguiam encontrar agentes infecciosos ou outras causas diretas para uma determinada doença, Alexander levantava a hipótese de que fatores psicológicos poderiam estar envolvidos. Segundo o seu modelo de conflito nuclear, a presença de determinados conflitos inconscientes podia levar à manifestação de queixas físicas, sendo que cada doença física poderia ser compreendida como o resultado de um conflito psicológico fundamental ou nuclear. Ele pensava, por exemplo, que pessoas com “personalidade reumática” tendiam a reprimir a raiva e seriam incapazes de expressar emoções, o que as tornaria propensas a desenvolver artrite. Descreveu minuciosamente um grande número de transtornos físicos possivelmente causados por conflitos psicológicos, ajudando a estabelecer assim os pilares da medicina psicossomática (Capitão e Carvalho, 2006) Trombini e Baldroni (2001), ao descreverem a teoria de Alexander, trazem que, para ele, a constituição hereditária, os traumas sofridos no parto ou depois, a vulnerabilidade dos órgãos, as doenças anteriores, o tipo de cuidados recebidos, o clima familiar, as experiências afetivas, de trabalhos sociais, integradas com o ambiente, são fatores a considerar em todas as doenças. Só seu conhecimento pode levar a se fazer um quadro completo da situação e a tomada de decisões terapêuticas adequadas. Segundo Casetto (2006), a “escola de Chicago”, grupo liderado por Alexander, estudou basicamente sete patologias: asma brônquica, úlcera gástrica, artrite reumatóide, retocolite ulcerativa, dermatoses, tireotoxicose 29
  • 30. e hipertensão essencial, procurando localizar, para cada uma delas, um conflito específico. Ainda nesta corrente, tem-se a perspectiva Psicobiológica, representada especialmente por Helen Dunbar, que fundou, juntamente com Alexander, em Chicago, a revista “Medicina Psicossomática”, que tornou-se uma referência para publicações de artigos neste campo. Dunbar foi quem introduziu a palavra “psicossomática” na literatura científica dos Estados Unidos. Utilizando-se de uma bateria de testes psicológicos, como questionários, testes de personalidade e de inteligência, Dunbar estudou grupos de pacientes atingidos pelas mesmas patologias, chegando a identificar alguns aspectos de personalidade específicos e formulando o que ficou conhecido como “teoria da especificidade de personalidade”. (Trombini e Baldroni, 2001). Müller (2008) nos lembra que a mesma advogou a abordagem holística no cuidado dos pacientes e fez uma correlação entre tipos psicológicos e doenças orgânicas. Seria importante salientar que os dados coligidos por Dunbar e sua teoria da especificidade, embora tenham sido objeto de inúmeras críticas, especialmente por serem pouco satisfatórios ou limitados, abriram caminho a inúmeras outras pesquisas e ao desenvolvimento de modelos teóricos de grande importância para a psicossomática, dentre eles, estudos realizados no final dos anos 50 por Meyer Friedman e Raymond Rosenman. (Trombini e Baldroni, 2001). Enquanto nos Estados Unidos o interesse pela Psicossomática se desenvolveu a partir da década de 30, na França, a partir dos anos 50, um grupo de psicanalistas, liderados por Pierre Marty, ampliou de maneira significativa a teoria e a clínica psicossomática, introduzindo uma continuidade conceitual e clínica entre a abordagem médica e psicanalítica da sintomatologia, tanto psíquica quanto somática. O objetivo inicial desses teóricos era melhor compreender as patologias somáticas cuja dinâmica não correspondiam ao modelo da conversão histérica, utilizando o conceito psicanalítico de neurose atual. (Moura, 2009) Volich (1998) diz que gradualmente foi se desenvolvendo um corpo clínico e teórico que considera a sintomatologia a partir de uma concepção essencialmente metapsicológica e, sobretudo, econômica. É uma tentativa de 30
  • 31. compreender os destinos da excitação pulsional no organismo e sua possibilidades de descarga. Segundo Marty (1994) a patologia somática não conversiva é o resultado da impossibilidade de elaboração da excitação através dos recursos psíquicos do indivíduo, em função de uma estruturação deficiente, no plano representativo e emocional, do aparelho mental. O modelo proposto por ele ressalta a idéia de que a um menor grau de atividade mental corresponde uma maior vulnerabilidade somática. Em 1972, Pierre Marty funda o Instituto de Psicossomática de Paris. Partindo de concepções psicanalíticas, ele pensa a patologia somática como resultado da impossibilidade de elaboração da excitação por meio de recursos psíquicos do indivíduo, em função de uma estruturação deficiente, no plano representativo e emocional do aparelho psíquico. (Capitão e Carvalho, 2006). Marty (1994) acredita que em grande número de pacientes que apresentam uma sintomatologia somática não conversiva é possível constatar um empobrecimento da capacidade de simbolização das demandas pulsionais e de sua elaboração através da fantasia. O modelo proposto por Marty ressalta a idéia de que um menor grau de atividade mental corresponde a uma maior vulnerabilidade somática. Diante de um traumatismo, um indivíduo com uma atividade mental pouco desenvolvida não teria recursos mentais suficientes para lidar com o excesso de estimulação, e esta desorganização passaria a atingir as funções somáticas, menos evoluídas. Sua escola introduziu a noção de pensamento operatório. Trombini e Baldoni (2001) colocam que, de certo modo, a importância do conceito de pensamento operatório não foi reconhecida até o começo dos anos 1970, quando Peter Sifneos e John Nemiah, dois psicanalistas de Boston, mediante o estudo de transcrição literal dos colóquios com pacientes atingidos por moléstias psicossomáticas clássicas, descobrem uma série de traços psicológicos comuns que chamaram de alexia, que significa “falta de palavras para exprimir emoções”. As características destas pessoas lembram as descritas por Marty para o pensamento operatório: • dificuldade em reconhecer e exprimir as próprias emoções; 31
  • 32. incapacidade em distinguir com clareza os sentimentos das sensações corpóreas ligadas às atividades emocionais; • escassez de fantasia e de imaginação; • estilo cognitivo muito prático e pouco introspectivo, dirigido para o mundo físico e para a ação muito mais do que para o pensamento. Trata-se, portanto, de pessoas que aparentemente não têm uma vida interior, com as quais o diálogo tende a ser sem emoções, pois faltam referências às vivências, aos desejos e aos sentimentos. Tendem a recorrer à ação para evitar problemas e conflitos e, quando se dirigem ao médico, limitam-se a descrever os sintomas físicos, como se não tivessem significado emocional. Outra abordagem é a Psicofisiológica, com os estudos iniciais de PAVLOV e CANNON, que por sinal foi o primeiro estudioso a interessar-se pelo estresse em seu aspecto psicossomático. De acordo com a perspectiva Neurofisiológica, Walter Cannon (1932, APUD: Nascimento, s/ano), apresentou o conceito de homeostasia, a tendência dinâmica dos organismos manterem as diferenças, ou seja, a tendência ao equilíbrio, e o conceito de reação de emergência, o padrão de resposta “luta ou fuga”. Além deles, temos Harold Wolff e seu livro "Stress and Disease", onde elaborou o conceito de estresse psicológico e mudanças na vida estressantes como contribuição aos fatores causais das doenças. Müller e Silva (2007) destacam que uma importante contribuição para o avanço dos estudos sobre a interação mente-corpo foi dada por Hans Selye, através de ideais sobre a Sindrome Geral de Adaptação Também Engel, que desenvolveu um conceito unificado de saúde e doença o qual chamou de modelo biopsicossocial, é um dos precursores do que mais adiante iremos chamar de “Psicossomática Moderna”. Segundo Trombini e Baldroni (2001), a psicossomática moderna procura realmente seguir uma perspectiva biopsicossocial, conforme modelo originariamente proposto por Engel, no sentido de que se ocupa do estudo dos problemas humanos considerando as 32
  • 33. relações não só entre os sistemas diversos (genético, anatômico, neurológico, endocrinológico, imunológico, psicológico, social), mas também entre níveis diversos, do subcelular ao ambiental. Assim, uma doença pode resultar da interação de muitos fatores que podem ser avaliados em vários planos relacionados entre si. Engel, considerado um dos especialistas mais competentes em medicina Psicossomática da segunda metade do séc. XIX, de acordo com Trombini e Baldroni (2001), em seus estudos sobre estresse, traz que as causas mais importantes do estresse individual podem ser basicamente de três tipos: uma perda ou ameaça de perda; uma prejuízo ou ameaça de prejuízo; a frustração de uma necessidade. Outro autor interessante de ser lembrado é Lazarus, que utilizou o termo estresse psicológico para indicar, como citam Trombini e Baldroni (2001), a condição na qual a reação ao eestressee depende essencialmente da valorização subjetiva dada pelo indivíduo, como a pessoa constrói mentalmente o fato. (lembrando aqui que, no estresse físico, o estímulo age diretamente no tecidos corpóreos e só secundariamente na atividade mental). Hulak (2003), descrevendo um pouco da história da Psicossomática, coloca que Ferenczi e posteriormente seus discípulos Franz Alexander e Michael Balint foram decisivos para a construção das bases teóricas e técnicas da medicina psicossomática moderna. Também foram importantes as contribuições de Felix Deutsh, Discípulo de Freud que realizou pesquisas pioneiras estudando a influência dos fatores emocionais referentes aos distúrbios cardiovasculares, dermatológicos, respiratórios e gastrintestinais e que, assim como Groddeck, estendeu o conceito de conversão para além da histeria,considerando-a um processo normal que atua por toda a vida em todo ser humano. (APUD:Trombini e Baldroni, 2001) e Helen Deutsh. Nos Estados Unidos, a escola de Chicago (Alexander) a de Nova York (Dunbar) e a de Boston (Sifneos e Nemiah, que desenvolveram o conceito de alexitimia, visto anteriormente), foram consolidando a medicina psicossomática no após-guerra (fins de 1950, início de 1960) através da Associação Americana de Medicina Psicossomática e do International College of Psychosomatic Medicine (ICPM), na Europa. Também a França vem contribuindo com uma das escolas mais ricas, produtivas e criativas e de grande influência atual, a escola psicossomática de Paris, fundada por Pierre Marty. 33
  • 34. Merece também destaque, como um trabalho mais contemporâneo da Medicina Psicossomática, o desenvolvido por Joyce McDougall. McDougall apresenta um pensamento muito peculiar, diferente das conhecidas três escolas de psicossomática e algumas outras vertentes vistas anteriormente como a Escola de Chicago, com Franz Alexander (1989),com foco nos perfis de personalidade e definindo determinados tipos e classificações de algumas doenças como psicossomáticas; Escola de Paris, como representante Pierre Marty (1994), baseada no conceito de pensamento operatório, quando paciente superinvestiria libidinalmente o que é concreto, como os sintomas corporais; a Escola de Boston com o conceito de Alexitimia, que alude à dificuldade dos pacientes conseguirem ler suas emoções e, por isso, expressá-las pelo corpo; como representantes John Nemiah e Peter Sifneos (1973). As duas últimas relacionam a eclosão psicossomática com ausência de resposta afetiva, implicando uma forma de relação objetal marcada pela pobreza de investimentos libidinais, apresentada na forma de dificuldades de ordem do afeto e da simbolização. As três escolas consideram que os eventos psicossomáticos seriam comuns a determinados tipos de pessoas e desconsideram a ocorrência de fenômenos psicossomáticos passíveis de acontecer com qualquer pessoa. Já McDougall (1982, apud Dias, 2007) afirma a necessidade de um entendimento psicossomático da pessoa e de seu funcionamento total, não concordando em minimizar os fenômenos do adoecimento para fins de explicação. A autora afirma que face à dor psíquica, às divisões internas, aos traumatismos universais e pessoais que a vida inevitavelmente provoca, o homem é capaz de criar uma neurose, uma psicose, um escudo caracterial, uma perversão sexual, sonhos, obras de arte – e doenças psicossomáticas (McDougall, 1978/1989, apud Dias, 2007). Um dos focos de McDougall foi investigar a possibilidade de análise de pacientes com adoecimento orgânico; considerou que qualquer paciente, em qualquer momento, poderá apresentar um sintoma orgânico e que este poderá vir a fazer parte do tratamento e das interpretações. A autora acredita que os problemas colocados pela somatização estão em uma encruzilhada de várias disciplinas, e que a pessoa não é pura estrutura psicológica. Nem pura estrutura orgânica. E que ninguém poderá contestar, principalmente sob a ótica da psicanálise, que os processos psíquicos se originam 34
  • 35. e evoluem a partir de processos biológicos. Para a autora, o processo psicossomático é um delírio do corpo; é o corpo que enlouquece. A expressão psicossomática trata da “regressão”*, mais primária e profunda do ser, tornando o corpo um campo de batalha, em uma luta cujo sentido não fica exatamente claro, McDougall constatou que pessoas com tendência somatizante tendem a exigir demais do corpo físico, ou mesmo ignorar sinais do corpo desamparado, como se fosse vítima de uma carência de investimento libidinal, ou não conseguisse ser representado enquanto objeto psíquico. Para ela, o papel da mãe é fundamental para a organização psicossomática da criança, que só poderá adquirir um corpo e se tornar consciente dos sinais que ele emite se apta a elaborar simbolicamente o que ocorre dentro da díade mãe-criança que futuramente deverá ser rompida. Peres (2005), em resenha escrita acerca da obra “ A Psicanálise no Divã” , de Ruth Menahem (2001), destaca dois conceitos de grande relevância na obra de McDougall, a saber: “normopatia” e“desafetação”. Ambos foram cunhados a partir da descrição de distúrbios da economia afetiva – decorrentes, na maioria dos casos, de desarmonias no vínculo com a figura materna – que fomentam a exclusão de representações associadas a sentimentos e emoções do aparelho psíquico. Tais distúrbios, segundo a autora, não provocam restituições psicóticas, tais como delírios e alucinações, porém, engendram uma cisão entre a mente e o corpo e favorecem a eclosão de doenças orgânicas. Para McDougall (1997, apud Capitão e Carvalho, 2006), o afeto não pode ser concebido como acontecimento puramente mental ou físico. A emoção é essencialmente psicossomática, pois o fato de ejetar a parte psíquica de uma emoção permite à parte fisiológica exprimir-se como na primeira infância, o que leva a sua ressomatização. Aqueles que empregam continuamente a ação como defesa contra a dor mental (quando a reflexão e a elaboração mental seriam mais adequadas) correm o risco de aumentar sua vulnerabilidade psicossomática. Determinados modos de funcionamento mental, como os pensamentos concretos, alexitímicos, objetos parciais, sentimentos de angústia persecutória adquiridos nos primeiros meses de vida, antes da aquisição da palavra, podem predispor mais às eclosões psicossomáticas do que às soluções neuróticas, psicóticas ou perversas, pois as fantasias aterrorizantes, que poderiam tornar-se dizíveis, são 35
  • 36. imediatamente apagadas do campo da consciência por mecanismos primitivos de clivagem e de identificação projetiva, ficando desprovidas de sua verdadeira impregnação afetiva e de valor simbólico, o que obriga o psiquismo a emitir sinais de sofrimento do tipo pré-simbólico, suscitando respostas somáticas e não psíquicas diante de uma angústia indizível (McDougall, 1996, apud Capitão e Carvalho, 2006). Sobre a linguagem do corpo, Mc Dougall (APUD:Dumas, 2004) coloca que a disfunção psicossomática, como resposta a conflitos de todos os tipos, pode ser concebida como um sintoma através do qual a psique procura, com meios primitivos e infraverbais, enviar mensagens que serão interpretadas somaticamente. Assim, em estados psicossomáticos, um órgão ou uma função corporal, não perturbados por funções orgânicas, pode agir como se fosse chamado a responder psiquicamente a uma situação conflituosa sentida como biologicamente ameaçadora. O corpo é sentido sem distúrbios de natureza orgânica pode agir como se tivesse chamado a reagir psiquicamente a uma situação conflituosa percebida como biologicamente ameaçadora. Segundo ela, o corpo de um indivíduo pode, por exemplo, comportar-se como se procurasse se livrar de uma substância tóxica sem que ele tenha sido exposto a qualquer veneno (exemplo: a colite retal hemorrágica, a asma brônquica). (...) Fenômenos somáticos deste tipo são mensagens enviadas pela psique quando ela é colocada em perigo pelo ressurgimento de acontecimentos dolorosos, culpabilizantes ou ameaçadores, mas cuja representação é imediatamente ejetada do inconsciente.(...) Esses fenômenos pertencem a uma ordem pré-simbólica e são uma resposta somatopsíquica que a psique dá em seus esforços para interromper as angústias (...); as experiências de ansiedade, mobilizadas durante um certo tempo, não puderam originar uma representação mental verbal, isto é, uma representação da ordem do pensável. Mello Filho (2002) salienta que atualmente a visão psicossomática já conquistou um espaço importante entre as práticas médicas, e dá como exemplo disto a atual definição de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo a qual “saúde é um estado de completo bem estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doença”. 36
  • 37. Morin (2002, APUD: Müller e Silva, 2006), não apenas corrobora com este pensamento, mas vai além, afirmando que o homem está em relação com seu ecossistema, suas influências e o influencia. Assim, segundo o autor, é necessário respeitar a singularidade do homem, levando em conta simultaneamente seus processos biológicos, sociológicos e culturais. Atualmente, como ressalta Vasconcellos (1998, APUD: Müller e Silva, 2006), os segmentos mais avançados desse movimento da abordagem psicossomática exigem que o bem-estar não seja apenas biopsicossocial, mas que abranja também as dimensões espiritual e ecológica. Por fim, não podemos esquecer, na contemporaneidade, da grande contribuição que os avanços e estudos científicos deram à Psicossomática, especialmente os estudos na área da Psicofisiologia, e as descobertas nas áreas de Psicoimunologia, Psicoendocrinologia, e o que passou a se chamar, mais atualmente, de Psiconeuroendocrinoimunologia. Concluindo, saliento a questão trazida por Hulak (2003), de que, dos gregos aos dias de hoje, a psicossomática abrigou quatro correntes: a psicodinâmica, a biológica, a culturalista e a holística. A tendência holística divide-se entre as influências místicas e alternativas e a visão mais seguida de uma medicina global, integradora e interdisciplinar, revalorizando o papel de coordenação da psicossomática nas equipes de saúde e na comunidade. O princípio fundamental da filosofia holística é que a doença ocorre quando tensões emocionais, psicológicas ou espirituais se tornam excessivas, causando assim um enfraquecimento do corpo. Em outras palavras, o corpo reflete ou manifesta as lutas mais profundas da vida da pessoa. À medida que um indivíduo se mostra incapaz de lidar com as tensões emocionais, psicológicas ou espirituais, ele se torna receptivo ou susceptível aos vírus, às bactérias ou aos germes presentes na atmosfera. (Myss, 1997, p.25) Aos poucos a psicossomática marcha para configurar sua própria territorialidade; a psicossomática holística não só é transmissora de humanismo, mas, um agente de transformação social. (Hulak, 2003), Trombini e Baldoni (2001) destacam que a assunção de uma posição complexa em psicossomática permite o estudo do ser humano pela utilização de 37
  • 38. uma rede de teorias e integrando pontos de vista diversos, tolerando suas eventuais contradições e diferenças. Isso, porém, não significa negar a validade da orientação teórica de referência e tampouco considerar o modelo equivalente a outro. Mesmo não existindo verdades definitivas e absolutas, existem situações que se defrontam melhor mediante a adoção de uma perspectiva particular. Seria realmente absurdo pretender curar uma peritonite aguda, fazendo deitar-se o paciente no divã de um psicanalista. E quantas intervenções cirúrgicas foram realizadas inutilmente por não se ter avaliado o doente do ponto de vista psicológico!(Trombini e Baldroni, 2001, p.51). 3.3. A PSICOSSOMÁTICA NO BRASIL 4 O movimento Psicossomático no Brasil surgir na década de 40 - imbuído de uma missão de resgate conceitual da Escola Hipocrática, com um olhar que contemple o ser humano como um todo. A Associação Brasileira de Medicina Psicossomática - ABMP - foi fundada em 1965, com 147 membros, tendo como primeiro presidente Danilo Perestrello. Entre os anos de 1976 e 1984, houve uma grande expansão com a criação de núcleos regionais. Segundo a Associação Brasileira de Medicina Psicossomática, o foco atual da Psicossomática no Brasil é voltado à abordagem multidisciplinar, com predomínio da interação disciplinar e de interconexões entre os vários profissionais da saúde, além de sociólogos e antropólogos que têm demonstrado interesse em prol da causa. Entendemos que o ser humano é composto por corpo e mente que interagem num determinado espaço social, e essa interação é determinante em qualquer tipo de enfermidade que venha a lhe afetar. 3.4. A PSICO-ONCOLOGIA 3.4.1. Etiologia da palavra e definições 4 Fonte: site ABMP 38
  • 39. Psico-oncologia, Psicooncologia, oncopsicologia, oncologia psicossocial... designações diferentes e grafias diversas para a mesma idéia: a do melhor conhecimento teórico e técnico sobre o câncer, seus tratamentos, efeitos colaterais, seqüelas e, acima de tudo, sobre os cuidados com o paciente, seus familiares e seus cuidadores, sejam eles leigos ou profissionais. Assim inicia a apresentação do livro “Temas em Psico-Oncologia”, da Summus Editorial, organizado pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, datado de 2008. Isto nos leva a compreender que, mais importante do que a grafia da palavra, é essencial que ela seja dotada de um sentido. A Psico-Oncologia é uma área de interface que busca estudar as duas dimensões psicológicas do câncer, sendo elas, segundo Holland (1989, apud Angerami- Camon 2000), o impacto do câncer na função psicológica do paciente, na sua família e nos profissionais de saúde que o cuidam, bem como o papel que as variáveis psicológicas e comportamentais possam ter no risco do câncer e na sobrevivência a este. Ela constitui-se em uma área do conhecimento da psicologia da saúde, aplicada aos cuidados com o paciente com câncer, sua família e os profissionais envolvidos no seu tratamento. (Veit e Carvalho, 2008) Jimmie Holland (1989, Apud Veit e Carvalho 2008), fundadora da IPOS (International Psycho-Oncology Society), define a Psico-Oncologia como uma subespecialidade da Oncologia, que procura estudar as duas dimensões psicológicas presentes no diagnóstico do câncer: 1) o impacto do câncer no funcionamento emocional do paciente, sua família e profissionais de saúde envolvidos em seu tratamento; 2) o papel das variáveis psicológicas e comportamentais na incidência e na sobrevivência ao câncer. Embora seja uma área de atuação multidisciplinar, no Brasil, ela é desenvolvida principalmente por psicólogos. Assim, Gimenes (1994, apud Angerami 2000) definiu a Psico-Oncologia como a área de interface entre a Psicologia e a Oncologia, e que utiliza conhecimento educacional, profissional e metodológico provenientes da Psicologia da saúde para aplicá-lo: 1º) na assistência ao paciente oncológico, sua família e profissionais de Saúde envolvidos com a prevenção, o tratamento, a reabilitação e a fase terminal da doença; 2º) na pesquisa e no estudo de variáveis psicológicas e sociais 39
  • 40. relevantes para a compreensão da incidência, da recuperação e do tempo de sobrevida após diagnóstico de câncer; 3º) na organização de serviços oncológicos que visem o atendimento integral ao paciente (físico e psicológico), enfatizando de modo especial à formação e o aprimoramento dos profissionais de Saúde envolvidos nas diferentes etapas do tratamento. 3.4.2. Um pouco da história da Psico-Oncologia A associação entre as doenças físicas e aspectos psicológicos existe desde a antigüidade, com Hipócrates, para quem a saúde era uma evidência de que o indivíduo havia atingido um estado de harmonia entre instâncias internas, assim como com o meio ambiente. (Veit e Carvalho, 2008). Também Sócrates lidava com a “inseparabilidade” do sujeito, como lê-se em Cármides (APUD: Ramos, 1994, p. 18): Assim como não é possível tentar a cura dos olhos sem a cabeça, nem a cabeça sem a do corpo, do mesmo modo não é possível tratar do corpo sem cuidar da alma, sendo essa a causa de desafiarem muitas doenças o tratamento dos médicos helenos, por desconhecerem estes o conjunto que importa ser tratado, pois não pode ir bem a parte quando vai mal o todo (...) Galeno, considerado, junto com Hipócrates, um dos pais da Medicina ocidental, chegou a observar que mulheres deprimidas tinham mais tendência a desenvolver câncer (Carvalho, 1998). Mais adiante, René Descartes estabeleceu um sistema dicotômico de pensamento, onde o indivíduo é dividido em duas instâncias res cogitans e res extensa. Esta forma de ver o ser humano exerceu, segundo Veit e Carvalho (2008), grande influência no pensamento ocidental, sendo responsável pelo significativo desenvolvimento das ciências, embora tenha dificultado a visão do ser humano integral. Tal teoria acabou contribuindo muito para os avanços na área médica que, através de estudos, descobriu agentes etilógicos das doenças, e pode desenvolver vacinas e medicações. Este grande desenvolvimento científico e tecnológico, por fim, acabou por aproximar mente e corpo, descobrindo inter-relações entre esses dois elementos, e retomando, aos poucos, a visão do indivíduo como um todo. 40
  • 41. A integração mente-corpo foi retomada por Freud, em seus Estudos sobre Histeria, demonstrando que acontecimentos psíquicos podem ser a causa de doenças orgânicas. Essa retomada permitiu que fossem realizadas pesquisas que buscaram as inter-relações entre os aspectos biológicos, psicológicos e sociais, dando origem ao modelo psicossocial na Medicina; assim, foram os trabalhos de Freud e Jung que proporcionaram o desenvolvimento da Medicina Psicossomática. Em 1939, ocorreu à oficialização dessa área e, através da contribuição de várias outras linhas teóricas, com pesquisas, estudos e ação, o termo Psicossomática foi conceituado como a inter-relação entre mente e corpo, na literatura científica atual. (Carvalho, apud Santos, 2005). E a Psico-oncologia surgiu como uma vertente da Psicossomática. E como isto se deu, afinal? Segundo Viet e Carvalho (2008), gradualmente, no decorrer da prática médica, foi-se percebendo que aspectos psicossociais estavam envolvidos na incidência, evolução e remissão do câncer. Assim, muitos médicos passaram a se preocupar com os aspectos psicológicos presentes ao adoecimento por câncer. Então, psiquiatras começaram a ser chamados para atender pacientes em função do diagnóstico e dos tratamentos, muitas vezes, assustadores. Além disso, à medida que foi sendo reconhecido que a etiologia e o desenvolvimento do câncer e a adesão aos tratamentos estavam associados a fatores psicológicos, comportamentais e sociais, tornou-se necessário desenvolver técnicas de abordagem psicológica na área da saúde que pudessem melhorar a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares e também garantissem sua participação ativa em todo o processo de tratamento. Dessa forma, a psicologia desenvolveu um corpo de conhecimentos específicos- compreensão do paciente oncológico e técnicas de intervenção especiais, com conseqüente melhora da qualidade de vida. De seu lado, o desenvolvimento da medicina levou a significativo aumento do tempo de sobrevida, do número de sobreviventes e também à melhora da qualidade de vida. 41
  • 42. 4. A RELAÇÃO ENTRE PSICOSSOMÁTICA e CÂNCER Embora, no percurso do presente trabalho, tenha havido uma tentativa de escrever sobre cada uma destas áreas em separado, em diversos momentos nota-se o quanto as mesmas andam juntas, podendo a Psicossomática ser considerada como a “pioneira”, aquela da qual deriva-se a Psico-Oncologia, e abre-se o interesse pelo estudo da Psiconeuroimunologia, atualmente já chamada de Psiconeuroendocrinoimunologia. A relação destas com o câncer em si aparece em vários trabalhos e é defendida por muitos autores, porém, muitas pesquisas realizadas na área recebem uma série de críticas, por serem falhas 42
  • 43. metodologicamente. E é sobre estes “achados” que discorreremos no presente capítulo. Seria importante salientar que o diagnóstico de uma doença neoplásica representa para o paciente, segundo Tschuschke (2008), sempre um choque. No entanto, aquela que por dezenas de anos foi quase que inevitavelmente, considerada como uma sentença de morte, hoje, cada vez mais, é vista como uma doença crônica, seja pelo número crescente de pacientes, seja por estar se tornando uma patologia passível de cura. Tschuschke (2008) coloca que, nos próximos dez anos, a probabilidade de se ter um tumor no decorrer da vida passará de 25% para 33 %, conforme afirmado pelo oncologista alemão Volker Diehl (APUD: Tschuschke, 2008), o qual se baseou no aumento da expectativa de vida da população. Em outras palavras, isto significa que um indivíduo deverá aprender a conviver com os riscos e comprometimentos causados pela doença para poder manter a melhor qualidade de vida pelo maior tempo possível.O confronto contínuo com a ameaça de uma recidiva ou de uma piora requer um esforço notável por parte do paciente, bem como mudanças de vida, hábitos e comportamentos. Visto como uma doença “assustadora”, repleta de mitos e lendas, o câncer, cada vez mais, é visto como uma doença multifatorial, cuja causa é um somatório de fatores, incluindo, ali, também aspectos emocionais. Na evolução das teorias explicativas sobre as causas psicossomáticas dos tumores, a multicausalidade física e psicológica se transforma em seguida em um modelo principalmente ligado ao estresse, para depois passar, na literatura dos últimos 50 anos, em um novo modelo, aquele da cancer prone personality.. (Schwarz, 1994, APUD: Tschuschke, 2008, p. 05) Salgado (2001), em sua obra intitulada “A Biologia da Esperança”, traz a seguinte indagação: Seria o câncer uma doença psicossomática? Mais adiante, na tentativa de buscar uma resposta para esta indagação, a mesma coloca que Alexander diz que todas as doenças são psicossomáticas porque os fatores emocionais influenciam os processos do corpo através das vias nervosas e humorais. Freud (1895, APUD: Salgado, 2001), ao estudar as neuroses de histeria, aborda o componente somático do sintoma e o entende como expressão 43
  • 44. simbólica do conflito. Há uma escolha somática na conversão, onde um órgão ou o próprio corpo facilitaria a expressão da conflitiva inconsciente. Dethlefsen e Dahlke (1983) propõem uma leitura simbólica do câncer a partir de uma comparação feita com a realidade de nossa sociedade. O câncer então é interpretado como uma expressão somática de conflitos sociais, onde percebemos que o ser humano tem se comportado de forma semelhante à do tumor, cultivando o individualismo e o egoísmo como forma de sobrevivência, através da exploração sem limites do seu “hospedeiro”: o planeta Terra. Neste sentido, os autores chamam a atenção para o único órgão que não é atingido pelo câncer: o coração, que constitui psiquicamente o símbolo do amor não egoísta. Desta forma, um possível “antídoto” para esta doença seria uma transformação na concepção individualista de mundo, um entendimento sistêmico da vida e uma transcendência do próprio ego, lembrando que transcender não é excluir, mas ampliar. Simonton (1987) interessou-se em pesquisar o que levaria dois pacientes, com igual prognóstico, terem um desfecho diferente, ou seja, um morrer e o outro recuperar a saúde. Questionando os pacientes que acabavam por recuperar a saúde, acabou chegando a um ponto comum entre todos: eles achavam que tinham uma certa influência sobre o curso da própria doença. Além disso, todos tinham algo por que lutar, e uma posição positiva em relação à vida. Partindo da premissa de que a diferença entre o paciente que recupera a saúde e aquele que não o consegue reside em parte na sua atitude em relação à doença e à convicção de que pode, de certa forma, ter uma influência sobre ela, pensou então de que forma poderia ajudar os pacientes. Juntamente com Stephanie Simonton, que trabalhava com aconselhamento de motivação, começou então a utilizar com os pacientes técnicas como terapia de grupo, meditação, visualização e biofeedback. A partir de nossos estudos de biofeedback descobrimos que algumas técnicas possibilitavam às pessoas que as praticavam serem capazes de influenciar seus próprios processos internos, influenciando as batidas do coração e a pressão sangüínea. (Simonton, 1987, p. 17) Hürny, 1996, APUD Tschuschke, 2008) coloca que é altamente improvável que o câncer possa ser provocado por um único fator. Com base no estado atual das pesquisas, a hipótese mais creditada é aquela de uma gênese multifatorial, 44
  • 45. na qual as influências ambientais (radiação, vírus, elementos carcinogênicos), os fatores psicossociais (estresse, comportamentos de risco), os fatores imunológicos, endócrinos e genéticos exercem uma ação interativa ou cumulativa de acordo com uma modalidade que ainda não é totalmente conhecida. Simonton (1987) parte da premissa de que uma doença não é simplesmente um fato físico, mas um problema que diz respeito à pessoa como um todo, incluindo não apenas o corpo, mas também as emoções e a mente. O autor acredita que os estados emocional e mental têm uma função importante tanto no que diz respeito à suscetibilidade à doença, incluindo o câncer, como na recuperação de qualquer doença. Outra questão por ele sugerida é de que o câncer surge como uma indicação de problemas existentes em outras áreas da vida da pessoa, agravados ou compostos de uma série de estresses que surgem de 6 a 18 meses antes do aparecimento do câncer. O paciente canceroso, segundo Simonton (1987), reagiu a esses problemas e estresses com um profundo sentimento de desistência e desesperança, o que, acredita o autor, dispara reações fisiológicas que suprimem as defesas naturais do corpo, tornando-o suscetível à produção de células anormais. Para Simonton (1987), na luta para recuperar a saúde, deve ser levado em conta o que está acontecendo não apenas no nível físico, mas também o que está acontecendo no resto da vida do paciente. Ele salienta: “Se o sistema total integrado de mente, corpo e emoções, que constitui a pessoa como um todo, não está trabalhando para recuperar a saúde, então intervenções simplesmente físicas não darão o resultado desejado”. (Simonton, 1987, p.21) Pensando no câncer sob uma perspectiva Psicossomática, Sattman-Frese (1994), Levenson e Bemis (2000), Tschuschke (2008), citam estudo realizado por Shekelle (1981), no qual mostra que pessoas que sofrem de depressão têm um risco aumentado de vir a desenvolver câncer. O estudo, baseado em testes psicológicos realizados com 2020 pessoas, demonstrou que a depressão, mais do que outros fatores contribui para a ocorrência do câncer, sendo aqui a depressão entendida como o resultado de dificuldades ou medo de identificar ou expressar sentimentos. O processo inconsciente de reprimir sentimentos conflitivos e que foram experienciados como difíceis de manejar e, requerem grandes quantidades de energia, energia esta que, conseqüentemente, fica indisponível para outras 45
  • 46. funções importantes. Este trabalho, no entanto, é contrabalançado pro outros quatro estudos que, ao contrário, não evidenciam um aumento da mortalidade por câncer nos sujeitos com valores mais elevados na escala de depressão. Levenson e Bemis (2000), Tschuschke (2008) Tschuschke (2008) coloca que, até agora, não existe uma relação certa entre o grau ou a presença de depressão e um sucessivo aparecimento de uma doença neoplásica. No entanto, permanece, ao menos em teoria, a possibilidade de valorizar a sua contribuição no surgimento do câncer através de estudos metodologicamente corretos. A experiência depressiva influi no modo de vida: as pessoas se alimentam mal ou erroneamente, tratam inconscientemente seu corpo e sua saúde de modo mais autodestrutivo (fumo, álcool, desnutrição) e fazem menos atividade física. Vários estudos apontam que os estados depressivos exercem um efeito indireto sobre o organismo, em particular sobre o sistema imunológico. (Nune et al. 2003, cit.da Persaud, 2003; Zorilla et al., 2001; Kiecolt-Glaser e Glaser, 2002; APUD: Tschuschke, 2008). Relatos empíricos observaram que a depressão é, às vezes, o sintoma de apresentação do câncer de pâncreas, ocorrendo bem antes do início dos sintomas do tumor (Fras et al. 1968; Pomara e Gershon, 1984; Savage e Noble, 1954; Yaskin, 1931; APUD: Levenson e Bemis, 2000). Outros estudos demonstram interesse na reação ao luto, mostrando que a função imune no luto aparece reduzida, embora tal redução não chegue a ser a níveis extremamente baixos. (Bartrop et al., 1977; Schleifer et al. , 1983, APUD Tschuschke, 2008). Sattmann- Freese (1994) traz que muitos autores fazem uma ligação entre o desenvolvimento do câncer e uma experiência prévia de perda do objeto amado. Um estudo retrospectivo mostrou que o início de neoplasias malignas hematológicas parece ser precedido de perdas significativas em crianças e adultos jovens. (Greene et al., 1956, APUD: Levenson e Bemis, 2000) Outros fatores importantes de serem considerados em se tratando de paciente oncológico estão relacionados ao estresse. Faller (1998, APUD: Tschuschke, 2008), lista os estresses físicos, psíquicos e sociais que acompanham o diagnóstico e o tratamento do câncer. São eles: ameaça de 46