SlideShare a Scribd company logo
1 of 2
artigo

/ Feliciana Monteiro

Novo terminal
de contentores em Portugal
- Uma escolha difícil (parte 2)

/ Assistente Académica e Doutoranda
na Uni. Antuérpia Becon, MEng, MSc
/ feliciana.monteiro@ua.ac.be

A primeira parte deste artigo cobriu
o enquadramento, a caracterização
da indústria e os riscos associados à
construção de um novo terminal de
contentores na Península Ibérica. A
segunda parte irá focar os aspectos
operacionais e um enquadramento que
permita desenvolver um projecto destes
com o menor risco possível.

1. Aspectos operacionais
Como identificado na primeira parte do artigo existe uma grande
oferta de capacidade portuária no Mediterrâneo e sobretudo no
Mediterrâneo Ocidental, região na qual Portugal se insere. Esta
oferta pode ser visualizada na Figura 1.

Figura 1: Oferta portuária no Mediterrâneo Ocidental

30

Fonte: adaptado de Containerization International, tráfego de 2009

A estes dados pode acrescentar-se que muitos destes portos
dispõem de uma capacidade de reserva muito significativa. Só o
porto de Tanger-Med tem capacidade planeada de 8,2 milhões
de TEUs dos quais 3 milhões já se encontram construídos.
Também porto de Sines tem uma capacidade máxima planeada
de 4,5 milhões de TEUs quando o tráfego actual não ultrapassa
os 600 mil TEUs.
Assim pode constatar-se que:
•	 Para além da oferta significativa já existente, os operadores
portuários globais e regionais já se encontram presentes
nesta região do Mediterrâneo, por vezes em mais de uma
infraestrutura;
•	 As companhias de navegação global têm igualmente uma
presença significativa em vários portos desta região, tendo
todas elas operações de transhipment em pelo menos um
grande porto da região;
•	 Existe um elevado grau de excesso de capacidade disponível
na região do Mediterrâneo Oriental;

APAT 79 | JAN·FEV 2013 | www.apat.pt |
•	 Os grandes portos são desenvolvidos por grandes operadores
portuários ou têm grandes operações de companhias globais
de navegação. Frequentemente estes dois factores apresentamse combinados.
Assim, o projecto de um novo porto de contentores em Portugal
de elevada capacidade tem riscos muito significativos dado
a sobrecapacidade existente na região o que coloca um risco
significativo ao sucesso do projecto.
Apenas para relembrar o projecto descrito no Plano Estratégico
de Transportes prevê o estudo da concessão e construção de um
novo terminal de contentores na Trafaria, com fundos de 16,5
metros e potencial de movimentação até dois milhões de TEUs
por ano. O investimento estimado nunca será inferior a 500
milhões de euros.
2. Racional para a privatização
Um factor crítico de sucesso é o envolvimento de grandes
players internacionais: operadores portuários e em menor escala
companhias de navegação.
Estes players aceitarão concorrer a uma futura concessão apenas
se as regras foram absolutamente transparentes. Neste contexto,
apenas um processo bem estruturado pode atrair estes players
internacionais.
O próximo ponto ilustra como montar um processo de
concessão/ privatização.
3. O processo de concessão/ privatização
Os processos de concessão/ privatização são genericamente
conhecidos como transações correspondem a um processo
estruturado de venda (ou concessão) de activos. Este processo
pode ser decomposto em diversas fases abaixo apresentadas.
1.	 O vendedor/ concedente – o seller’s side - escolhe os
assessores financeiros, jurídicos e técnicos para o assessorar
na transação e na montagem da operação. Nos casos da ANA
e TAP os assessores técnicos foram subcontratados pelos
assessores financeiros. Ainda nesta fase inicial é definido o
perímetro da privatização, ou seja os activos a ser incluídos
na transação. Na terminologia anglo-saxónica pode ser ainda
identificada a regulated asset base ou base de activos regulada
que indica os quais activos que serão regulados no futuro
2.	Os assessores preparam um documento sobre o activo a
privatizar aos potenciais interessados, frequentemente
empresas no mesmo ramo de negócios e investidores. São
realizados roadshows nas principais praças financeiras
mundiais para suscitar interesse junto dos investidores
3.	As entidades que demostram interesse no processo recebem
um documento detalhado do activo a alienar – o Information

Memorandum - com a descrição da infraestrutura, operação,
dados operacionais financeiros, estratégicos e de mercado.
Contra a entrega deste documento são assinados acordos de
confidencialidade.
	 Junto com este documento são entregues o caderno de
encargos e versões draft dos contratos de concessão; é
igualmente dado início ao processo de perguntas e respostas
entre os concorrentes e os assessores do vendedor.
	 É geralmente a partir da recepção do memorandum de
informação que as empresas ou consórcio verdadeiramente
interessados – o lado comprador ou buyer’s side - começam a
trabalhar. Em geral, os compradores replicam a “arquitectura”
do lado comprador nomeando os seus próprios assessores
financeiros, jurídicos e técnicos. Nesta fase um data room,
físico ou virtual é aberto a todos os concorrentes.
4.	 Passado um período de tempo os interessados apresentam
as propostas chamadas não vinculativas. Frequentemente os
interessados apresentam propostas de alteração aos cadernos
de encargo e outros documentos técnicos e jurídicos.
5.	 Caso hajam critérios de passagem, sobretudo financeiros, o
vendedor/ concedente faz uma short-list dos candidatos que
passam à fase seguinte
6.	 Para os candidatos incluídos nessa short list começa então a
fase de due diligence ou auditorias aprofundadas. Nesta fase
são realizadas entrevistas com a gestão, visitas de campo e
consulta a documento na própria companhia
7.	 Após algumas semanas são então entregues as propostas
finais ou vinculativas, binding offers, eventualmente com
algumas condições
8.	O vendedor/ concedente analisa as propostas e anuncia o
vencedor
9.	 O negócio é efectivamente fechado após a relização do
chamado financial close ou seja após todas a s obrigações
financeiras do vencedor estejam cumpridas
Como é evidente este processo de transação tem uma certa
duração que pode oscilar entre os 6 e os 18 meses conforme a
sua complexidade. A tentativa de acelerar o processo ou alterar
as regras a meio do jogo por quaisquer motivos pode levar ao
seu insucesso.
5. Conclusão
A concessão de um novo terminal de contentores de grande
capacidade é um projecto de risco elevado. Para ultrapassar ou
minorar esse risco, deve ser conseguido o interesse dos principais
players mundiais. Apenas com um processo de transação
estruturado se pode garantir a transparência do processo e assim
minimizar o risco que este projecto representa. n
|JAN·FEV 2013 | www.apat.pt | APAT 79

31

More Related Content

Similar to Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 2)

Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 1)
Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 1)Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 1)
Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 1)Feliciana Monteiro
 
Contribuição para o estudo das parcerias público – privadas no sector portuá...
Contribuição para o estudo das parcerias público –  privadas no sector portuá...Contribuição para o estudo das parcerias público –  privadas no sector portuá...
Contribuição para o estudo das parcerias público – privadas no sector portuá...Cláudio Carneiro
 
Entrevista para a Revista ANTRAM
Entrevista para a Revista ANTRAMEntrevista para a Revista ANTRAM
Entrevista para a Revista ANTRAMPatricia Correia
 
eBook – Operações portuárias - kmm.pdf
eBook – Operações portuárias - kmm.pdfeBook – Operações portuárias - kmm.pdf
eBook – Operações portuárias - kmm.pdfMarcos Boaventura
 
LLX Apresentação Corporativa Outubro 2011
LLX Apresentação Corporativa Outubro 2011LLX Apresentação Corporativa Outubro 2011
LLX Apresentação Corporativa Outubro 2011LLX
 
LLX Apresentação Corporativa Setembro 2011
LLX Apresentação Corporativa Setembro 2011LLX Apresentação Corporativa Setembro 2011
LLX Apresentação Corporativa Setembro 2011LLX
 
Texto da-aula-2-auxiliar-de-logistica
Texto da-aula-2-auxiliar-de-logisticaTexto da-aula-2-auxiliar-de-logistica
Texto da-aula-2-auxiliar-de-logisticaNairo Carimo Ussumane
 
A gestão e a concessão das áreas portuárias
A gestão e a concessão das áreas portuáriasA gestão e a concessão das áreas portuárias
A gestão e a concessão das áreas portuáriasCláudio Carneiro
 
A Análise de Sines como Ativo Geoestratégico Nacional
A Análise de Sines como Ativo Geoestratégico Nacional A Análise de Sines como Ativo Geoestratégico Nacional
A Análise de Sines como Ativo Geoestratégico Nacional Cláudio Carneiro
 
Rui Carlos Botter, ex-presidente do Instituto Panamericano de Engenharia Naval
Rui Carlos Botter, ex-presidente do Instituto Panamericano de Engenharia NavalRui Carlos Botter, ex-presidente do Instituto Panamericano de Engenharia Naval
Rui Carlos Botter, ex-presidente do Instituto Panamericano de Engenharia NavalLuiz de Queiroz
 
Rui Carlos Botter, ex presidente do instituto panamericano de engenharia naval
Rui Carlos Botter, ex presidente do instituto panamericano de engenharia navalRui Carlos Botter, ex presidente do instituto panamericano de engenharia naval
Rui Carlos Botter, ex presidente do instituto panamericano de engenharia navalJornal GGN
 
Por que fazer Due Diligence Agrícola para comprar uma usina?
Por que fazer Due Diligence Agrícola para comprar uma usina?Por que fazer Due Diligence Agrícola para comprar uma usina?
Por que fazer Due Diligence Agrícola para comprar uma usina?Ricardo Pinto
 

Similar to Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 2) (20)

Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 1)
Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 1)Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 1)
Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 1)
 
Contribuição para o estudo das parcerias público – privadas no sector portuá...
Contribuição para o estudo das parcerias público –  privadas no sector portuá...Contribuição para o estudo das parcerias público –  privadas no sector portuá...
Contribuição para o estudo das parcerias público – privadas no sector portuá...
 
ANTRAM Magazine
 ANTRAM Magazine ANTRAM Magazine
ANTRAM Magazine
 
Entrevista para a Revista ANTRAM
Entrevista para a Revista ANTRAMEntrevista para a Revista ANTRAM
Entrevista para a Revista ANTRAM
 
eBook – Operações portuárias - kmm.pdf
eBook – Operações portuárias - kmm.pdfeBook – Operações portuárias - kmm.pdf
eBook – Operações portuárias - kmm.pdf
 
LLX Apresentação Corporativa Outubro 2011
LLX Apresentação Corporativa Outubro 2011LLX Apresentação Corporativa Outubro 2011
LLX Apresentação Corporativa Outubro 2011
 
Novidades Legislativas Nº82 - 07-12-2012
Novidades Legislativas Nº82 - 07-12-2012Novidades Legislativas Nº82 - 07-12-2012
Novidades Legislativas Nº82 - 07-12-2012
 
Revista APS N.º 62 – Junho 2014
Revista APS N.º 62 – Junho 2014Revista APS N.º 62 – Junho 2014
Revista APS N.º 62 – Junho 2014
 
Gasodutos 2009
Gasodutos 2009Gasodutos 2009
Gasodutos 2009
 
LLX Apresentação Corporativa Setembro 2011
LLX Apresentação Corporativa Setembro 2011LLX Apresentação Corporativa Setembro 2011
LLX Apresentação Corporativa Setembro 2011
 
Texto da-aula-2-auxiliar-de-logistica
Texto da-aula-2-auxiliar-de-logisticaTexto da-aula-2-auxiliar-de-logistica
Texto da-aula-2-auxiliar-de-logistica
 
Portos
PortosPortos
Portos
 
Portos
PortosPortos
Portos
 
A gestão e a concessão das áreas portuárias
A gestão e a concessão das áreas portuáriasA gestão e a concessão das áreas portuárias
A gestão e a concessão das áreas portuárias
 
A análise de Sines como ativo geoestratégico nacional: um cluster suportado n...
A análise de Sines como ativo geoestratégico nacional: um cluster suportado n...A análise de Sines como ativo geoestratégico nacional: um cluster suportado n...
A análise de Sines como ativo geoestratégico nacional: um cluster suportado n...
 
A Análise de Sines como Ativo Geoestratégico Nacional
A Análise de Sines como Ativo Geoestratégico Nacional A Análise de Sines como Ativo Geoestratégico Nacional
A Análise de Sines como Ativo Geoestratégico Nacional
 
Rui Carlos Botter, ex-presidente do Instituto Panamericano de Engenharia Naval
Rui Carlos Botter, ex-presidente do Instituto Panamericano de Engenharia NavalRui Carlos Botter, ex-presidente do Instituto Panamericano de Engenharia Naval
Rui Carlos Botter, ex-presidente do Instituto Panamericano de Engenharia Naval
 
Rui Carlos Botter, ex presidente do instituto panamericano de engenharia naval
Rui Carlos Botter, ex presidente do instituto panamericano de engenharia navalRui Carlos Botter, ex presidente do instituto panamericano de engenharia naval
Rui Carlos Botter, ex presidente do instituto panamericano de engenharia naval
 
Por que fazer Due Diligence Agrícola para comprar uma usina?
Por que fazer Due Diligence Agrícola para comprar uma usina?Por que fazer Due Diligence Agrícola para comprar uma usina?
Por que fazer Due Diligence Agrícola para comprar uma usina?
 
Revista APS N.º 56 – Junho 2012
Revista APS N.º 56 – Junho 2012Revista APS N.º 56 – Junho 2012
Revista APS N.º 56 – Junho 2012
 

More from Feliciana Monteiro

Portos secos, desafios e potencialidades
Portos secos, desafios e potencialidadesPortos secos, desafios e potencialidades
Portos secos, desafios e potencialidadesFeliciana Monteiro
 
Transporte Intermodal de Mercadorias, que futuro?
Transporte Intermodal de Mercadorias, que futuro?Transporte Intermodal de Mercadorias, que futuro?
Transporte Intermodal de Mercadorias, que futuro?Feliciana Monteiro
 
A extinção do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos
A extinção do Instituto Portuário e dos Transportes MarítimosA extinção do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos
A extinção do Instituto Portuário e dos Transportes MarítimosFeliciana Monteiro
 
Green Logistics, de que se trata?
Green Logistics, de que se trata?Green Logistics, de que se trata?
Green Logistics, de que se trata?Feliciana Monteiro
 
O Short Sea Shipping na Europa: limitações, desafios e potencialidades
O Short Sea Shipping na Europa: limitações, desafios e potencialidadesO Short Sea Shipping na Europa: limitações, desafios e potencialidades
O Short Sea Shipping na Europa: limitações, desafios e potencialidadesFeliciana Monteiro
 
Productivity in the Container Port Business - Focus on the Mediterranean Range
Productivity in the Container Port Business - Focus on the Mediterranean RangeProductivity in the Container Port Business - Focus on the Mediterranean Range
Productivity in the Container Port Business - Focus on the Mediterranean RangeFeliciana Monteiro
 

More from Feliciana Monteiro (6)

Portos secos, desafios e potencialidades
Portos secos, desafios e potencialidadesPortos secos, desafios e potencialidades
Portos secos, desafios e potencialidades
 
Transporte Intermodal de Mercadorias, que futuro?
Transporte Intermodal de Mercadorias, que futuro?Transporte Intermodal de Mercadorias, que futuro?
Transporte Intermodal de Mercadorias, que futuro?
 
A extinção do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos
A extinção do Instituto Portuário e dos Transportes MarítimosA extinção do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos
A extinção do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos
 
Green Logistics, de que se trata?
Green Logistics, de que se trata?Green Logistics, de que se trata?
Green Logistics, de que se trata?
 
O Short Sea Shipping na Europa: limitações, desafios e potencialidades
O Short Sea Shipping na Europa: limitações, desafios e potencialidadesO Short Sea Shipping na Europa: limitações, desafios e potencialidades
O Short Sea Shipping na Europa: limitações, desafios e potencialidades
 
Productivity in the Container Port Business - Focus on the Mediterranean Range
Productivity in the Container Port Business - Focus on the Mediterranean RangeProductivity in the Container Port Business - Focus on the Mediterranean Range
Productivity in the Container Port Business - Focus on the Mediterranean Range
 

Novo Terminal de Contentores em Portugal, uma escolha difícil (parte 2)

  • 1. artigo / Feliciana Monteiro Novo terminal de contentores em Portugal - Uma escolha difícil (parte 2) / Assistente Académica e Doutoranda na Uni. Antuérpia Becon, MEng, MSc / feliciana.monteiro@ua.ac.be A primeira parte deste artigo cobriu o enquadramento, a caracterização da indústria e os riscos associados à construção de um novo terminal de contentores na Península Ibérica. A segunda parte irá focar os aspectos operacionais e um enquadramento que permita desenvolver um projecto destes com o menor risco possível. 1. Aspectos operacionais Como identificado na primeira parte do artigo existe uma grande oferta de capacidade portuária no Mediterrâneo e sobretudo no Mediterrâneo Ocidental, região na qual Portugal se insere. Esta oferta pode ser visualizada na Figura 1. Figura 1: Oferta portuária no Mediterrâneo Ocidental 30 Fonte: adaptado de Containerization International, tráfego de 2009 A estes dados pode acrescentar-se que muitos destes portos dispõem de uma capacidade de reserva muito significativa. Só o porto de Tanger-Med tem capacidade planeada de 8,2 milhões de TEUs dos quais 3 milhões já se encontram construídos. Também porto de Sines tem uma capacidade máxima planeada de 4,5 milhões de TEUs quando o tráfego actual não ultrapassa os 600 mil TEUs. Assim pode constatar-se que: • Para além da oferta significativa já existente, os operadores portuários globais e regionais já se encontram presentes nesta região do Mediterrâneo, por vezes em mais de uma infraestrutura; • As companhias de navegação global têm igualmente uma presença significativa em vários portos desta região, tendo todas elas operações de transhipment em pelo menos um grande porto da região; • Existe um elevado grau de excesso de capacidade disponível na região do Mediterrâneo Oriental; APAT 79 | JAN·FEV 2013 | www.apat.pt |
  • 2. • Os grandes portos são desenvolvidos por grandes operadores portuários ou têm grandes operações de companhias globais de navegação. Frequentemente estes dois factores apresentamse combinados. Assim, o projecto de um novo porto de contentores em Portugal de elevada capacidade tem riscos muito significativos dado a sobrecapacidade existente na região o que coloca um risco significativo ao sucesso do projecto. Apenas para relembrar o projecto descrito no Plano Estratégico de Transportes prevê o estudo da concessão e construção de um novo terminal de contentores na Trafaria, com fundos de 16,5 metros e potencial de movimentação até dois milhões de TEUs por ano. O investimento estimado nunca será inferior a 500 milhões de euros. 2. Racional para a privatização Um factor crítico de sucesso é o envolvimento de grandes players internacionais: operadores portuários e em menor escala companhias de navegação. Estes players aceitarão concorrer a uma futura concessão apenas se as regras foram absolutamente transparentes. Neste contexto, apenas um processo bem estruturado pode atrair estes players internacionais. O próximo ponto ilustra como montar um processo de concessão/ privatização. 3. O processo de concessão/ privatização Os processos de concessão/ privatização são genericamente conhecidos como transações correspondem a um processo estruturado de venda (ou concessão) de activos. Este processo pode ser decomposto em diversas fases abaixo apresentadas. 1. O vendedor/ concedente – o seller’s side - escolhe os assessores financeiros, jurídicos e técnicos para o assessorar na transação e na montagem da operação. Nos casos da ANA e TAP os assessores técnicos foram subcontratados pelos assessores financeiros. Ainda nesta fase inicial é definido o perímetro da privatização, ou seja os activos a ser incluídos na transação. Na terminologia anglo-saxónica pode ser ainda identificada a regulated asset base ou base de activos regulada que indica os quais activos que serão regulados no futuro 2. Os assessores preparam um documento sobre o activo a privatizar aos potenciais interessados, frequentemente empresas no mesmo ramo de negócios e investidores. São realizados roadshows nas principais praças financeiras mundiais para suscitar interesse junto dos investidores 3. As entidades que demostram interesse no processo recebem um documento detalhado do activo a alienar – o Information Memorandum - com a descrição da infraestrutura, operação, dados operacionais financeiros, estratégicos e de mercado. Contra a entrega deste documento são assinados acordos de confidencialidade. Junto com este documento são entregues o caderno de encargos e versões draft dos contratos de concessão; é igualmente dado início ao processo de perguntas e respostas entre os concorrentes e os assessores do vendedor. É geralmente a partir da recepção do memorandum de informação que as empresas ou consórcio verdadeiramente interessados – o lado comprador ou buyer’s side - começam a trabalhar. Em geral, os compradores replicam a “arquitectura” do lado comprador nomeando os seus próprios assessores financeiros, jurídicos e técnicos. Nesta fase um data room, físico ou virtual é aberto a todos os concorrentes. 4. Passado um período de tempo os interessados apresentam as propostas chamadas não vinculativas. Frequentemente os interessados apresentam propostas de alteração aos cadernos de encargo e outros documentos técnicos e jurídicos. 5. Caso hajam critérios de passagem, sobretudo financeiros, o vendedor/ concedente faz uma short-list dos candidatos que passam à fase seguinte 6. Para os candidatos incluídos nessa short list começa então a fase de due diligence ou auditorias aprofundadas. Nesta fase são realizadas entrevistas com a gestão, visitas de campo e consulta a documento na própria companhia 7. Após algumas semanas são então entregues as propostas finais ou vinculativas, binding offers, eventualmente com algumas condições 8. O vendedor/ concedente analisa as propostas e anuncia o vencedor 9. O negócio é efectivamente fechado após a relização do chamado financial close ou seja após todas a s obrigações financeiras do vencedor estejam cumpridas Como é evidente este processo de transação tem uma certa duração que pode oscilar entre os 6 e os 18 meses conforme a sua complexidade. A tentativa de acelerar o processo ou alterar as regras a meio do jogo por quaisquer motivos pode levar ao seu insucesso. 5. Conclusão A concessão de um novo terminal de contentores de grande capacidade é um projecto de risco elevado. Para ultrapassar ou minorar esse risco, deve ser conseguido o interesse dos principais players mundiais. Apenas com um processo de transação estruturado se pode garantir a transparência do processo e assim minimizar o risco que este projecto representa. n |JAN·FEV 2013 | www.apat.pt | APAT 79 31