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RESUMO
O referido trabalho apresenta a história do ensaio na fotografia, em seguida aborda
os conceitos usados por diversos teóricos paradefinir o termo e por fim, levanta as
características chave que definem um ensaio fotográfico, segundo Mustafa Sabbagh.
A escolha do tema surgiu da necessidade que há de se compreender as ligações
existentes entre a arte e sexualidade como fatores muito presentes na obra artística
desse fotógrafo. Para ele a arte e sexualidade são antigas e intrínsecas ao ser
humano, pois ambas são inteiramente ligadas à vida humana. Ao longo da história da
arte, o nu artístico foi representado por diversos artistas em várias épocas e estilos. A
partir do nu artístico foi surgindo outras formas de representação da imagem sexual
na arte, que vai do burlesco ao pornográfico.
INTRODUÇÃO
Mustafa Sabbagh nascido na Jordânia e residente na Itália é um fotógrafo que
já contribuiu para várias publicações de moda, sempre com um toque já característico
do seu trabalho, com muito erotismo, nudez e hedonismo. Focado na beleza
libidinosa, para além da percepção visual, Sabbagh, que é influenciado pelas pinturas
da Renascença, especialmente as nórdicas, pelos filmes de Antonioni, arquitetura e
até mesmo pelo sexo virtual, nos ilustra uma narrativa sedutora, obscura e misteriosa
protagonizada por corpos nus, que exalam beleza em suas mais variadas formas.
Quem observa a obra fotográfica de Mustafá Sabbagh, logo chega a conclusão
de que a nudez na arte reflete muito os padrões estéticos e sociais de um determinado
período histórico. Na antiguidade, por exemplo, a nudez era apresentada para mostrar
a busca da perfeição estética e da harmonia das formas. Esta busca pelo ideal de
beleza no corpo humano refletia a Mitologia grega, que era composta por seres
perfeitos, com os quais os homens tentavam tornar-se parecidos. Isto trouxe o culto
ao corpo: o uso da simetria para criação de esculturas, que eram forjadas no mármore
ou bronze pelos escultores da época, que observavam os corpos de atletas para
compor proporções perfeitas do corpo humano, por exemplo. Por isso as esculturas
gregas priorizavam as divisões do corpo bem delineadas e os desenhos dos músculos
bem definidos para ressaltar que a beleza do vigor físico estava associada à harmonia
da alma humana na busca idealizada pela perfeição.
Na atualidade a arte erótica de Mustafa Sabbagh tem como base o hedonismo
e exaltação do corpo explora-se a beleza como ideal, sem uma conotação sexual
como ato mais importante que o conteúdo inserido no discurso artístico de cada
criação. Até mesmo na arte homoerótica, por exemplo, alguns artistas mostram sem
pudor atos e órgãos sexuais masculinos, mas remetendo a conceitos que são
ressonâncias da arte clássica e do Renascimento, como os desenhos de Todd
Yeager.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1 BREVE HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA
Não se pode precisar as datas e etapas dos processos que levaram à criação da
Fotografia, pois muitos deles são experiências conhecidas pelo homem desde a
Antigüidade, e acrescenta-se a isso um conjunto de cientistas em diversas épocas e
lugares que aos poucos foram descobrindo as partes deste difícil quebra-cabeças,
que somente no final do séc. XIX foi inteiramente concluído.
No entanto, é possível apontar alguns destes fatos e descobertas como sendo
relevantes para a invenção da fotografia.
Os fundamentos daquilo que veio a se chamar fotografia vieram de dois
princípios básicos, já conhecidos do homem há muito tempo, mas que tiveram que
esperar muito tempo para se revelar satisfatoriamente em conjunto, que são: a câmara
escura e a existência de materiais fotossensíveis.
Fotografia vemdo grego (foto: luz / grafia: escrita) é, morfologicamente, a técnica
de escrever com luz, assim como se deu o inicio da sua descoberta. Após anos de
observação, invenções e experimentos a fotografia como ferramenta de captação de
imagens já era uma realidade que poderia ser aplicada, mesmo que precariamente,
através da câmara escura.
O funcionamento da câmara escura é de natureza física. O princípio da
propagação retilínea da luz permite que os raios luminosos que atingem o
objeto e passem pelo orifício da câmara sejam projetados no anteparo
fotossensível na parede paralela ao orifício. Estaprojeção produz uma imagem
real invertida do objeto na superfície fotossensível. Quanto menor o orifício,
mais nítida é a imagem formada, pois a incidência de raios luminosos vindos
de outras direções é bem menor. PORTO, Gabrela. Câmara Escura. Disponível
em: http://www.infoescola.com/fotografia/camara-escura/. Acesso em 16 de
set. 2014.
Desde a antiguidade este principio vem sendo utilizado. Aristóteles e outros
nomes que já faziam uso do conceito ótico da câmara para observações
astronômicas. Leonardo da Vinci, durante o renascimento, escreveu sobre a utilização
do mecanismo para auxilio na captação de imagens e auxilio à pintura. Anos mais
tarde, após a inquietação dos artistas quanto a relação do tamanho do orifício sobre
o considerável escurecimento das imagens devido a pouca entrada de luz, foi
desenvolvido e adicionado uma lente biconvexa.
Este problema foi resolvido em 1550 pelo físico milanês Girolamo
Cardano, que sugeriu o uso de uma lente biconvexa junto ao orifício,
permitindo desse modo aumentá-lo, para se obter uma imagem clara
sem perder a nitidez. Isto foi possível graças à capacidade de refração
do vidro, que tornava convergentes os raios luminosos refletidos pelo
objeto. Assim, a lente fazia com que a cada ponto luminoso do objeto
correspondesse um pequeno ponto de imagem, formando-se assim,
ponto por ponto da luz refletida do objeto, uma imagem puntiforme. Em:
História da Fotografia: A câmera escura, o princípio da fotografia.
Disponível em:
http://wwwbr.kodak.com/BR/pt/consumer/fotografia_digital_classica/p
ara_uma_boa_foto/historia_fotografia/historia_da_fotografia02.shtml?
primeiro=1. Acesso em 16 de set. 2014
 Da impressão ao Daguerreótipo
A descoberta de que sais de prata escurecem se expostos a luz do sol e toda
sua instabilidade para fixação do objeto no papel embebido nesses sais, uma vez que
a imagem não se mantém estável, pois o composto químico continua a enegrecer
sempre que exposto a luz. Motivou Nicéphore Nièpce a buscar soluções para a fixação
final da fotografia no papel. Utilizando betume branco da Judeia, Nicéphore conseguiu
a considerada primeira fotografia do mundo, e o processo foi chamado de Heliografia.
Nicéphore, através da divulgação do seu trabalho, conhece Louis Jacques
Mandé Daguerre, entusiasta que buscava maneiras e técnicas de impressões
químicas. Niépce e Daguerre durante algum tempo mantiveram correspondência
sobre seus trabalhos. Em 1829 firmaram uma sociedade com o propósito de
aperfeiçoar a Heliografia, compartilhando seus conhecimentos secretos.
Daguerre, ao perceber as grandes limitações do betume da Judéia, decidiu
prosseguir sozinho nas pesquisas com a prata halógena. Suas experiências
consistiam em expor, na câmara escura, placas de cobre recobertas com prata polida
e sensibilizadas sobre o vapor de iodo, formando uma capa de iodeto de prata sensível
à luz.
Dois anos após a morte de Nièpce, Daguerre descobriu que uma
imagem quase invisível, latente, podia revelar-se com o vapor de
mercúrio, reduzindo-se assim de horas para minutos o tempo de
exposição. Conta a história que uma noite Daguerre guardou uma
placa subexposta dentro de um armário onde havia um termômetro de
mercúrio que se quebrara. Ao amanhecer, abrindo o armário, Daguerre
constatou que a placa havia adquirido uma imagem de densidade
bastante satisfatória, tornara-se visível. Em todas as áreas atingidas
pela luz o mercúrio criava um amálgama de grande brilho, formando as
áreas claras da imagem. Após a revelação, agora controlada, Daguerre
submetia a placa com a imagem a um banho fixador, para dissolver os
halogenetos de prata não revelados, formando as áreas escuras da
imagem. Inicialmente foi usado o sal de cozinha, o cloreto de sódio,
como elemento fixador, sendo substituído posteriormente por
Tiosulfato de sódio (hypo) que garantia maior durabilidade à imagem.
Este processo foi batizado com o nome de Daguerreotipia. Em:
História da Fotografia: A química, em auxílio à fotografia. Disponível
em:
http://wwwbr.kodak.com/BR/pt/consumer/fotografia_digital_classica/p
ara_uma_boa_foto/historia_fotografia/historia_da_fotografia03.shtml?
primeiro=1. Acesso em: 16 set 2014.
1.1 A FOTOGRAFIA NO SÉCULO XX
Com o advento do ano de 1900, a fotografia já tinha todos os quesitos
necessários para o registro de imagens com alta qualidade de exposição e
reprodução, tanto que o cinema, cuja base é fotográfica, só seria possível
tecnologicamente nestas condições, sendo concretizado por Edison e os irmãos
Lumière. Mas na fotografia estática, os principais avanços foram de ordem mecânica,
na construção de lentes cada vez mais precisas e nítidas, e câmeras portáteis de
diversos formatos e tamanhos. A Eastman lançou, por exemplo, em 1900, a câmera
Brownie, que custava apenas 1 dólar, e que trasformou radicalmente a fotografia em
uma arte popular, legando outras empresas a supremacia por uma qualidade técnica
profissional.
Neste quesito, dois fabricantes de lentes se destacaram no mercado pela
excelência da construção óptica, a Carl Zeiss e a Schneider, ambas alemãs, e que
contribuíram largamente para o aumento da capacidade luminosa e qualidade da
imagem formada.
É claro que muita coisa foi acrescida e mudada desde então, aperfeiçoamentos
tecnológicos, processos eficientes e baratos, câmeras programáveis e a fotografia
digital, nova revolução nas artes fotográficas.
Mas, olhando para o passado, é possível entender que todo esse esforço, de
muitos que marcaram a história, e muitos outros anônimos, foram extremamente
importantes para chegarmos naquilo que hoje entendemos como fotografia, para
entendermos a busca tão fascinante, tão intensa, pela apreensão de uma imagem,
pela idéia da memória coletiva, pela eternização de um momento. E aí, novamente,
nos deparamos com Platão. Não seria toda essa busca a busca pela beleza da
imagem que traduza um estado, um sentimento, uma idéia? A fotografia busca um
tempo, que não precisaria ser eternizado se não estivesse se perdido.
Como afirma Gisèle Freund, “[...] a sociedade deixa de retratar-se
individualmentepara se reconhecer culturalmente nas fotografias e conhecer no outro
seus costumes e hábitos” (FREUND, 1979, p. 15).
No contexto das discussões políticas e culturais, a fotografia se articulou com as
vanguardas históricas encontrando ressonância em diversos movimentos estéticos.
Embora tenha havido uma aproximação da fotografia com as artes plásticas, desde o
século XIX, somente a partir da década de 1950 do século XX, é que a arte iria
restabelecer uma ligação explícita com o universo fotográfico.
Iniciava-se, em definitivo, o encontro da fotografia com as artes visuais faciitado
pela Pop Art, forma artística que representou a dissolução dos velhos dogmas
modernistas, valendo-se do uso de imagens diversas e fazendo valer a máxima da
reprodutibilidade técnica. Daí por diante, a união da fotografia com as artes plásticas
estava selada, colocando-se um ponto final na especificidade e na autonomia dos
meios artísticos caros à modernidade. A imagem deixou de ter um sentido meramente
fotográfico, de ordem técnica, para dialogar com outras linguagens artísticas como a
performance, a instalação, a escultura e o vídeo. Nesta relação de entrelaçamento de
saberes e hibridização de suportes, a fotografia passou a exigir do espectador outra
capacidade de leitura e observação da obra.
É neste contexto de contaminação, experimentação e expansão dos processos
criativos e, consequentemente, da fruição da obra, que o termo fotografia ganha
notoriedade. Esta busca pela inovação dá destaque a trabalhos de artistas
contemporâneos como Mustafa Sabbagh, onde o destaque aqui é parao seu trabalho
autoral,de nu masculino e uma forma diferente de fazer retratos. No geral, as pessoas
costumam entender as imagens de nu artístico como se fossem símbolos de
sensualidade e erotismo. Mas, segundo Sabbagh, uma coisa não está ligada à outra,
a não ser pelas possíveis cognições individuais em relação à figura humana.
Sabbagh mostra em sua arte que estas distinções nem sempre são tão óbvias,
e que ver uma foto onde o modelo se encontra ereto ou pelado, não significa
necessariamente que se trata de algo pornô - pode ser apenas uma citação a uma
das características do corpo masculino.
1.2 O ENSAIO FOTOGRÁFICO
Um dos diversos conceitos de ensaio vem da literatura filosófica. O francês Michel
de Montaigne foi o percussor desse estilo mais leve de escrever, dispensando a
severidade dos filósofos contemporâneos. Essai, em francês significa tentativa e é
justamente sobre a tentativa de discorrer sobre suas opiniões a respeito de assuntos
diversos que Montaigne é considerado o pai do ensaio. (FIUZA; PARENTE, 2008).
O conceito do ensaio fotográfico se dá a partir de um conjunto de imagens que
retratam uma história contada pelo seu autor e que contenham uma unidade entre si.
Pode ser pelo tema, cor ou tratamento das fotos.
O ensaio é um grupo de fotografias sobre certo assunto ou tema, quase
sempre realizados num só fôlego – um pequeno espaço de tempo – ou num
espaço geográfico mais ou menos restrito. Ele deve ter unicidade de estilo,
dada por certa coerência de composição, acompanhada por um acabamento
que também mantenha a unidade. Em suma, um ensaio deve ser um conjunto
de fotografias que possa ser reconhecido como tal, pelo assunto ou pela
estética (preferencialmente por abusos), contido em si mesmo e que conte uma
história ou revele um ponto de vista. FELIZARDO, Luiz C. Aula expositiva trata
sobre conceitos de ensaio fotográfico. Disponivel em:
http://foto.espm.br/index.php/o-curso/aula-expositiva-trata-sobre-conceitos-
de-ensaio-fotografico/. Acesso em 4 de maio 2015.
A escolha do tema para execução deste projeto experimental dar-se pela identificação
e juízo de gosto do autor com o trabalho estético de sua referência: Mustaffa Sabbagh.
1.1. QUEM É MUSTAFA SABBAGH.
Em entrevista para o Colherada Cultural, Mustafa Sabbagh disse ainda se
inspirar nos filmes do cineasta italiano Antonioni, repletos de beleza visual e sensual,
também na arquitetura, e finalizou dizendo: "Sexo virtual é inspirador também, não
é?". Enquanto fazia um trabalho como modelo em Milão, Mustafa Sabbagh conheceu
o influente fotógrafo nova-iorquino Richard Avedon, falecido em 2004, que o
incentivou a fotografar. Sabbagh foi seu assistente por dois anos, em Londres. Para
ele, "fotografia é transformar seus sonhos e pensamentos em um objeto real, é meio
como fazer sua imaginação se tornar um reflexo sobre a sociedade- fotografar é tomar
nota dos sonhos e pesadelos".
Uma das referências de Mustafa é a pintura barroca , dizendo que o enxerga mais
como um fotógrafo do que um pintor. Caravaggio era realmente um mestre dos
pincéis, deformando as figuras em favor de representá-las da forma
mais realista possível. Era como se estivesse mesmo fotografando, utilizando a
técnica de pintar o que via pelo espelho ou por um quadro delimitado com cortinas,
formando um proscênio (de teatro).
E a teatralidade também é ponto marcante, tanto para o jovem artista quanto para
seu ídolo. Poses estudadas feitas por modelos produzidos (maquiagem, figurino...),
sempre mostrando uma intenção de movimento emocional e simbólico, e
também fashion.
Em relação à moda, o fotógrafo conhecido no meio pelos diversos trabalhos que
fez para marcas famosas afirma: "Existem dois modos de olhar para a moda. Um é
ser escravizado por ela e o outro é considerá-la como uma forma de arte. A moda
deveria libertar, em vez de escravizar. Olhe para Coco Chanel, ela libertou as
mulheres. E Alexander McQueen. É pura arte para mim. Sou um amante da beleza e
da moda em seu melhor. É uma beleza pura, nada menos que isso".
Sobre a nudez, como característica forte entre suas fotografias
autorais, Sabbagh reconhece que ainda é um tabu tratar da figura humana despidade
suas roupas, além do conservacionismo dos veículos de comunicação tradicionais: "O
vestido mais bonito é nossa pele, a nudez é o nosso habitat real. O conformismo é a
doença que mais se espalha hoje, então é preciso lutar para manter a cabeça aberta
e fazer sua própria revolução, sem exército. De qualquer forma, a maioria das
pessoasnão quer assumir um risco para mudar as fantasias coletivas".
E a arte vem justamente para fazer este papel, sendo aqui uma leitura coerente à
atualcomunicação globalizada, com exibições que nem sempre se mostram de
fato,gerando representações dafigura masculina e do homoerotismo contemporâneo.
Com o passar do tempo, vemos a arte tomando caminhos em que a exibição do
corpo não está apenas ligada ao aprendizado técnico ou ao estudo da anatomia
humana, mas a uma necessidade de usá-la para promover um discurso político ou
social, transmitir uma ideia.
2 ARTE ERÓTICA E PORNOGRAFIA
A representação dos órgãos genitais masculinos e femininos em pinturas,
revistas e no cinema e o funcionamento dos dois durante o ato sexual é arte ou
pornografia? As mesmas imagens podem estar inseridas em um contexto artístico ou
pornográfico, mas se pode distinguir estas duas vertentes por meio de sua produção,
intuito e finalidade estética.
Tanto a arte erótica quanto a pornografia têm a mesma ideia de utilização do
corpo como forma de mostrar algo. Além do mais, muitas obras tidas como arte erótica
possuem claras características da pornografia, como a mostra de genitálias em ação
no ato sexual e muito pouco sentimentalismo. A linha que diferencia das duas é muito
tênue e talvez esta diferenciação só possa ser feita quanto ao uso das imagens e a
pretensão do que comunicar ao público. Na pornografia, a intenção é bem definida:
as imagens são criadas para incitar o sexo sem ter uma ligação, ou melhor, sem ter
uma obrigação com algum conceito artístico.
No quadro L’origine du monde [A origem do mundo], de Gustave Courbet
(1866), reproduz uma mulher deitada, não vemos os braços, nem seu rosto e com a
genitália naturalmente repleta de pelos pubianos como as mulheres de sua época
também o tinham. A pintura causa estranhamento desde que foi pintada, mas por
quê?
Sabe-se que as religiões ao longo de sua trajetória transformaram o corpo em
um tabu. Uma moralidade, que soa hipócrita, permite que a nudez retratada com tanta
singeleza cause horror.
Mariana Festucci vai além e diz: “Uma leitura psicanalítica situa o
estranhamento para além de convenções morais e/ou contexto histórico; a chave para
o enigma do quadro é o significante fálico; o estranhamento causado no espectador,
mais do que advir da confrontação com a representação da castração (aquilo que
lançou o ser vivente na dimensão simbólica) é o de quem se depara com o que escapa
a ela, o Real irrepresentável. O contato com o Real causa angústia, no entanto, abre
a possibilidade do sujeito, a partir do confronto com o vazio que resiste em sua
constituição – vazio inapreensível – contorná-lo através da sublimação, elevando o
objeto à dignidade da Coisa. FESTUCCI, Mariana. Do falo como a chave do enigma
em “A origem [simbólica] do mundo” de Courbet. Disponivel em:
http://lacaneando.com.br/do-falo-como-a-chave-do-enigma-em-a-origem-simbolica-
do-mundo-de-courbet/. Acesso em: 4 de maio 2015.
3 O GROTESCO
Segundo João Werner, “O Grotesco é a fina arte das esdrúxulas misturas”.O
termo tem origem da palavra italiana “grottesco” (de gruta). Sugere-se que esse
conceito estético tenha surgido no século XV. Após escavações em ruinas da Roma
Antiga, lá foi encontrado ornamentos do que foi um palácio construído por Nero. O
apanhado surpreedente continha figuras não comuns que causaram estranheza
imediata. Bakhtin diz que “essa descoberta surpreendeu os contemporâneos pelo jogo
insólito, fantástico e livre das formas vegetais, animais e humanas que se confundiam
e transformavam entre si”. (BAKHTIN: 1993, 28)
O Grotesco hoje tem o poder de fazer tangível uma irrealidade que choca, traz
questionamentos, constrói mundos novos ou recria mundos já existentes através de
uma percepção visual incomum, outrora desagradável Bakhtin ressalta: Orifícios,
protuberâncias, ramificações e excrescências, tais como a boca aberta, os órgãos
genitais, seios, falo, barriga e nariz (BAKHTIN: 1993, p. 23).
Pode-se encontrar esse estillo nas cabeças grotescas de Da Vinci.

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A arte erótica de Mustafa Sabbagh e a representação do corpo ao longo da história

  • 1. RESUMO O referido trabalho apresenta a história do ensaio na fotografia, em seguida aborda os conceitos usados por diversos teóricos paradefinir o termo e por fim, levanta as características chave que definem um ensaio fotográfico, segundo Mustafa Sabbagh. A escolha do tema surgiu da necessidade que há de se compreender as ligações existentes entre a arte e sexualidade como fatores muito presentes na obra artística desse fotógrafo. Para ele a arte e sexualidade são antigas e intrínsecas ao ser humano, pois ambas são inteiramente ligadas à vida humana. Ao longo da história da arte, o nu artístico foi representado por diversos artistas em várias épocas e estilos. A partir do nu artístico foi surgindo outras formas de representação da imagem sexual na arte, que vai do burlesco ao pornográfico.
  • 2. INTRODUÇÃO Mustafa Sabbagh nascido na Jordânia e residente na Itália é um fotógrafo que já contribuiu para várias publicações de moda, sempre com um toque já característico do seu trabalho, com muito erotismo, nudez e hedonismo. Focado na beleza libidinosa, para além da percepção visual, Sabbagh, que é influenciado pelas pinturas da Renascença, especialmente as nórdicas, pelos filmes de Antonioni, arquitetura e até mesmo pelo sexo virtual, nos ilustra uma narrativa sedutora, obscura e misteriosa protagonizada por corpos nus, que exalam beleza em suas mais variadas formas. Quem observa a obra fotográfica de Mustafá Sabbagh, logo chega a conclusão de que a nudez na arte reflete muito os padrões estéticos e sociais de um determinado período histórico. Na antiguidade, por exemplo, a nudez era apresentada para mostrar a busca da perfeição estética e da harmonia das formas. Esta busca pelo ideal de beleza no corpo humano refletia a Mitologia grega, que era composta por seres perfeitos, com os quais os homens tentavam tornar-se parecidos. Isto trouxe o culto ao corpo: o uso da simetria para criação de esculturas, que eram forjadas no mármore ou bronze pelos escultores da época, que observavam os corpos de atletas para compor proporções perfeitas do corpo humano, por exemplo. Por isso as esculturas gregas priorizavam as divisões do corpo bem delineadas e os desenhos dos músculos bem definidos para ressaltar que a beleza do vigor físico estava associada à harmonia da alma humana na busca idealizada pela perfeição. Na atualidade a arte erótica de Mustafa Sabbagh tem como base o hedonismo e exaltação do corpo explora-se a beleza como ideal, sem uma conotação sexual como ato mais importante que o conteúdo inserido no discurso artístico de cada criação. Até mesmo na arte homoerótica, por exemplo, alguns artistas mostram sem pudor atos e órgãos sexuais masculinos, mas remetendo a conceitos que são ressonâncias da arte clássica e do Renascimento, como os desenhos de Todd Yeager.
  • 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1 BREVE HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA Não se pode precisar as datas e etapas dos processos que levaram à criação da Fotografia, pois muitos deles são experiências conhecidas pelo homem desde a Antigüidade, e acrescenta-se a isso um conjunto de cientistas em diversas épocas e lugares que aos poucos foram descobrindo as partes deste difícil quebra-cabeças, que somente no final do séc. XIX foi inteiramente concluído. No entanto, é possível apontar alguns destes fatos e descobertas como sendo relevantes para a invenção da fotografia. Os fundamentos daquilo que veio a se chamar fotografia vieram de dois princípios básicos, já conhecidos do homem há muito tempo, mas que tiveram que esperar muito tempo para se revelar satisfatoriamente em conjunto, que são: a câmara escura e a existência de materiais fotossensíveis. Fotografia vemdo grego (foto: luz / grafia: escrita) é, morfologicamente, a técnica de escrever com luz, assim como se deu o inicio da sua descoberta. Após anos de observação, invenções e experimentos a fotografia como ferramenta de captação de imagens já era uma realidade que poderia ser aplicada, mesmo que precariamente, através da câmara escura. O funcionamento da câmara escura é de natureza física. O princípio da propagação retilínea da luz permite que os raios luminosos que atingem o objeto e passem pelo orifício da câmara sejam projetados no anteparo fotossensível na parede paralela ao orifício. Estaprojeção produz uma imagem real invertida do objeto na superfície fotossensível. Quanto menor o orifício, mais nítida é a imagem formada, pois a incidência de raios luminosos vindos de outras direções é bem menor. PORTO, Gabrela. Câmara Escura. Disponível em: http://www.infoescola.com/fotografia/camara-escura/. Acesso em 16 de set. 2014. Desde a antiguidade este principio vem sendo utilizado. Aristóteles e outros nomes que já faziam uso do conceito ótico da câmara para observações astronômicas. Leonardo da Vinci, durante o renascimento, escreveu sobre a utilização do mecanismo para auxilio na captação de imagens e auxilio à pintura. Anos mais tarde, após a inquietação dos artistas quanto a relação do tamanho do orifício sobre o considerável escurecimento das imagens devido a pouca entrada de luz, foi desenvolvido e adicionado uma lente biconvexa.
  • 4. Este problema foi resolvido em 1550 pelo físico milanês Girolamo Cardano, que sugeriu o uso de uma lente biconvexa junto ao orifício, permitindo desse modo aumentá-lo, para se obter uma imagem clara sem perder a nitidez. Isto foi possível graças à capacidade de refração do vidro, que tornava convergentes os raios luminosos refletidos pelo objeto. Assim, a lente fazia com que a cada ponto luminoso do objeto correspondesse um pequeno ponto de imagem, formando-se assim, ponto por ponto da luz refletida do objeto, uma imagem puntiforme. Em: História da Fotografia: A câmera escura, o princípio da fotografia. Disponível em: http://wwwbr.kodak.com/BR/pt/consumer/fotografia_digital_classica/p ara_uma_boa_foto/historia_fotografia/historia_da_fotografia02.shtml? primeiro=1. Acesso em 16 de set. 2014  Da impressão ao Daguerreótipo A descoberta de que sais de prata escurecem se expostos a luz do sol e toda sua instabilidade para fixação do objeto no papel embebido nesses sais, uma vez que a imagem não se mantém estável, pois o composto químico continua a enegrecer sempre que exposto a luz. Motivou Nicéphore Nièpce a buscar soluções para a fixação final da fotografia no papel. Utilizando betume branco da Judeia, Nicéphore conseguiu a considerada primeira fotografia do mundo, e o processo foi chamado de Heliografia. Nicéphore, através da divulgação do seu trabalho, conhece Louis Jacques Mandé Daguerre, entusiasta que buscava maneiras e técnicas de impressões químicas. Niépce e Daguerre durante algum tempo mantiveram correspondência sobre seus trabalhos. Em 1829 firmaram uma sociedade com o propósito de aperfeiçoar a Heliografia, compartilhando seus conhecimentos secretos. Daguerre, ao perceber as grandes limitações do betume da Judéia, decidiu prosseguir sozinho nas pesquisas com a prata halógena. Suas experiências consistiam em expor, na câmara escura, placas de cobre recobertas com prata polida e sensibilizadas sobre o vapor de iodo, formando uma capa de iodeto de prata sensível à luz. Dois anos após a morte de Nièpce, Daguerre descobriu que uma imagem quase invisível, latente, podia revelar-se com o vapor de mercúrio, reduzindo-se assim de horas para minutos o tempo de exposição. Conta a história que uma noite Daguerre guardou uma placa subexposta dentro de um armário onde havia um termômetro de mercúrio que se quebrara. Ao amanhecer, abrindo o armário, Daguerre constatou que a placa havia adquirido uma imagem de densidade bastante satisfatória, tornara-se visível. Em todas as áreas atingidas pela luz o mercúrio criava um amálgama de grande brilho, formando as áreas claras da imagem. Após a revelação, agora controlada, Daguerre submetia a placa com a imagem a um banho fixador, para dissolver os halogenetos de prata não revelados, formando as áreas escuras da imagem. Inicialmente foi usado o sal de cozinha, o cloreto de sódio, como elemento fixador, sendo substituído posteriormente por
  • 5. Tiosulfato de sódio (hypo) que garantia maior durabilidade à imagem. Este processo foi batizado com o nome de Daguerreotipia. Em: História da Fotografia: A química, em auxílio à fotografia. Disponível em: http://wwwbr.kodak.com/BR/pt/consumer/fotografia_digital_classica/p ara_uma_boa_foto/historia_fotografia/historia_da_fotografia03.shtml? primeiro=1. Acesso em: 16 set 2014. 1.1 A FOTOGRAFIA NO SÉCULO XX Com o advento do ano de 1900, a fotografia já tinha todos os quesitos necessários para o registro de imagens com alta qualidade de exposição e reprodução, tanto que o cinema, cuja base é fotográfica, só seria possível tecnologicamente nestas condições, sendo concretizado por Edison e os irmãos Lumière. Mas na fotografia estática, os principais avanços foram de ordem mecânica, na construção de lentes cada vez mais precisas e nítidas, e câmeras portáteis de diversos formatos e tamanhos. A Eastman lançou, por exemplo, em 1900, a câmera Brownie, que custava apenas 1 dólar, e que trasformou radicalmente a fotografia em uma arte popular, legando outras empresas a supremacia por uma qualidade técnica profissional. Neste quesito, dois fabricantes de lentes se destacaram no mercado pela excelência da construção óptica, a Carl Zeiss e a Schneider, ambas alemãs, e que contribuíram largamente para o aumento da capacidade luminosa e qualidade da imagem formada. É claro que muita coisa foi acrescida e mudada desde então, aperfeiçoamentos tecnológicos, processos eficientes e baratos, câmeras programáveis e a fotografia digital, nova revolução nas artes fotográficas. Mas, olhando para o passado, é possível entender que todo esse esforço, de muitos que marcaram a história, e muitos outros anônimos, foram extremamente importantes para chegarmos naquilo que hoje entendemos como fotografia, para entendermos a busca tão fascinante, tão intensa, pela apreensão de uma imagem, pela idéia da memória coletiva, pela eternização de um momento. E aí, novamente, nos deparamos com Platão. Não seria toda essa busca a busca pela beleza da imagem que traduza um estado, um sentimento, uma idéia? A fotografia busca um tempo, que não precisaria ser eternizado se não estivesse se perdido.
  • 6. Como afirma Gisèle Freund, “[...] a sociedade deixa de retratar-se individualmentepara se reconhecer culturalmente nas fotografias e conhecer no outro seus costumes e hábitos” (FREUND, 1979, p. 15). No contexto das discussões políticas e culturais, a fotografia se articulou com as vanguardas históricas encontrando ressonância em diversos movimentos estéticos. Embora tenha havido uma aproximação da fotografia com as artes plásticas, desde o século XIX, somente a partir da década de 1950 do século XX, é que a arte iria restabelecer uma ligação explícita com o universo fotográfico. Iniciava-se, em definitivo, o encontro da fotografia com as artes visuais faciitado pela Pop Art, forma artística que representou a dissolução dos velhos dogmas modernistas, valendo-se do uso de imagens diversas e fazendo valer a máxima da reprodutibilidade técnica. Daí por diante, a união da fotografia com as artes plásticas estava selada, colocando-se um ponto final na especificidade e na autonomia dos meios artísticos caros à modernidade. A imagem deixou de ter um sentido meramente fotográfico, de ordem técnica, para dialogar com outras linguagens artísticas como a performance, a instalação, a escultura e o vídeo. Nesta relação de entrelaçamento de saberes e hibridização de suportes, a fotografia passou a exigir do espectador outra capacidade de leitura e observação da obra. É neste contexto de contaminação, experimentação e expansão dos processos criativos e, consequentemente, da fruição da obra, que o termo fotografia ganha notoriedade. Esta busca pela inovação dá destaque a trabalhos de artistas contemporâneos como Mustafa Sabbagh, onde o destaque aqui é parao seu trabalho autoral,de nu masculino e uma forma diferente de fazer retratos. No geral, as pessoas costumam entender as imagens de nu artístico como se fossem símbolos de sensualidade e erotismo. Mas, segundo Sabbagh, uma coisa não está ligada à outra, a não ser pelas possíveis cognições individuais em relação à figura humana. Sabbagh mostra em sua arte que estas distinções nem sempre são tão óbvias, e que ver uma foto onde o modelo se encontra ereto ou pelado, não significa necessariamente que se trata de algo pornô - pode ser apenas uma citação a uma das características do corpo masculino. 1.2 O ENSAIO FOTOGRÁFICO
  • 7. Um dos diversos conceitos de ensaio vem da literatura filosófica. O francês Michel de Montaigne foi o percussor desse estilo mais leve de escrever, dispensando a severidade dos filósofos contemporâneos. Essai, em francês significa tentativa e é justamente sobre a tentativa de discorrer sobre suas opiniões a respeito de assuntos diversos que Montaigne é considerado o pai do ensaio. (FIUZA; PARENTE, 2008). O conceito do ensaio fotográfico se dá a partir de um conjunto de imagens que retratam uma história contada pelo seu autor e que contenham uma unidade entre si. Pode ser pelo tema, cor ou tratamento das fotos. O ensaio é um grupo de fotografias sobre certo assunto ou tema, quase sempre realizados num só fôlego – um pequeno espaço de tempo – ou num espaço geográfico mais ou menos restrito. Ele deve ter unicidade de estilo, dada por certa coerência de composição, acompanhada por um acabamento que também mantenha a unidade. Em suma, um ensaio deve ser um conjunto de fotografias que possa ser reconhecido como tal, pelo assunto ou pela estética (preferencialmente por abusos), contido em si mesmo e que conte uma história ou revele um ponto de vista. FELIZARDO, Luiz C. Aula expositiva trata sobre conceitos de ensaio fotográfico. Disponivel em: http://foto.espm.br/index.php/o-curso/aula-expositiva-trata-sobre-conceitos- de-ensaio-fotografico/. Acesso em 4 de maio 2015. A escolha do tema para execução deste projeto experimental dar-se pela identificação e juízo de gosto do autor com o trabalho estético de sua referência: Mustaffa Sabbagh. 1.1. QUEM É MUSTAFA SABBAGH. Em entrevista para o Colherada Cultural, Mustafa Sabbagh disse ainda se inspirar nos filmes do cineasta italiano Antonioni, repletos de beleza visual e sensual, também na arquitetura, e finalizou dizendo: "Sexo virtual é inspirador também, não é?". Enquanto fazia um trabalho como modelo em Milão, Mustafa Sabbagh conheceu o influente fotógrafo nova-iorquino Richard Avedon, falecido em 2004, que o incentivou a fotografar. Sabbagh foi seu assistente por dois anos, em Londres. Para ele, "fotografia é transformar seus sonhos e pensamentos em um objeto real, é meio como fazer sua imaginação se tornar um reflexo sobre a sociedade- fotografar é tomar nota dos sonhos e pesadelos". Uma das referências de Mustafa é a pintura barroca , dizendo que o enxerga mais como um fotógrafo do que um pintor. Caravaggio era realmente um mestre dos pincéis, deformando as figuras em favor de representá-las da forma mais realista possível. Era como se estivesse mesmo fotografando, utilizando a
  • 8. técnica de pintar o que via pelo espelho ou por um quadro delimitado com cortinas, formando um proscênio (de teatro). E a teatralidade também é ponto marcante, tanto para o jovem artista quanto para seu ídolo. Poses estudadas feitas por modelos produzidos (maquiagem, figurino...), sempre mostrando uma intenção de movimento emocional e simbólico, e também fashion. Em relação à moda, o fotógrafo conhecido no meio pelos diversos trabalhos que fez para marcas famosas afirma: "Existem dois modos de olhar para a moda. Um é ser escravizado por ela e o outro é considerá-la como uma forma de arte. A moda deveria libertar, em vez de escravizar. Olhe para Coco Chanel, ela libertou as mulheres. E Alexander McQueen. É pura arte para mim. Sou um amante da beleza e da moda em seu melhor. É uma beleza pura, nada menos que isso". Sobre a nudez, como característica forte entre suas fotografias autorais, Sabbagh reconhece que ainda é um tabu tratar da figura humana despidade suas roupas, além do conservacionismo dos veículos de comunicação tradicionais: "O vestido mais bonito é nossa pele, a nudez é o nosso habitat real. O conformismo é a doença que mais se espalha hoje, então é preciso lutar para manter a cabeça aberta e fazer sua própria revolução, sem exército. De qualquer forma, a maioria das pessoasnão quer assumir um risco para mudar as fantasias coletivas". E a arte vem justamente para fazer este papel, sendo aqui uma leitura coerente à atualcomunicação globalizada, com exibições que nem sempre se mostram de fato,gerando representações dafigura masculina e do homoerotismo contemporâneo. Com o passar do tempo, vemos a arte tomando caminhos em que a exibição do corpo não está apenas ligada ao aprendizado técnico ou ao estudo da anatomia humana, mas a uma necessidade de usá-la para promover um discurso político ou social, transmitir uma ideia.
  • 9. 2 ARTE ERÓTICA E PORNOGRAFIA A representação dos órgãos genitais masculinos e femininos em pinturas, revistas e no cinema e o funcionamento dos dois durante o ato sexual é arte ou pornografia? As mesmas imagens podem estar inseridas em um contexto artístico ou pornográfico, mas se pode distinguir estas duas vertentes por meio de sua produção, intuito e finalidade estética. Tanto a arte erótica quanto a pornografia têm a mesma ideia de utilização do corpo como forma de mostrar algo. Além do mais, muitas obras tidas como arte erótica possuem claras características da pornografia, como a mostra de genitálias em ação no ato sexual e muito pouco sentimentalismo. A linha que diferencia das duas é muito tênue e talvez esta diferenciação só possa ser feita quanto ao uso das imagens e a pretensão do que comunicar ao público. Na pornografia, a intenção é bem definida: as imagens são criadas para incitar o sexo sem ter uma ligação, ou melhor, sem ter uma obrigação com algum conceito artístico. No quadro L’origine du monde [A origem do mundo], de Gustave Courbet (1866), reproduz uma mulher deitada, não vemos os braços, nem seu rosto e com a genitália naturalmente repleta de pelos pubianos como as mulheres de sua época também o tinham. A pintura causa estranhamento desde que foi pintada, mas por quê? Sabe-se que as religiões ao longo de sua trajetória transformaram o corpo em um tabu. Uma moralidade, que soa hipócrita, permite que a nudez retratada com tanta singeleza cause horror. Mariana Festucci vai além e diz: “Uma leitura psicanalítica situa o estranhamento para além de convenções morais e/ou contexto histórico; a chave para o enigma do quadro é o significante fálico; o estranhamento causado no espectador, mais do que advir da confrontação com a representação da castração (aquilo que lançou o ser vivente na dimensão simbólica) é o de quem se depara com o que escapa a ela, o Real irrepresentável. O contato com o Real causa angústia, no entanto, abre a possibilidade do sujeito, a partir do confronto com o vazio que resiste em sua constituição – vazio inapreensível – contorná-lo através da sublimação, elevando o
  • 10. objeto à dignidade da Coisa. FESTUCCI, Mariana. Do falo como a chave do enigma em “A origem [simbólica] do mundo” de Courbet. Disponivel em: http://lacaneando.com.br/do-falo-como-a-chave-do-enigma-em-a-origem-simbolica- do-mundo-de-courbet/. Acesso em: 4 de maio 2015.
  • 11. 3 O GROTESCO Segundo João Werner, “O Grotesco é a fina arte das esdrúxulas misturas”.O termo tem origem da palavra italiana “grottesco” (de gruta). Sugere-se que esse conceito estético tenha surgido no século XV. Após escavações em ruinas da Roma Antiga, lá foi encontrado ornamentos do que foi um palácio construído por Nero. O apanhado surpreedente continha figuras não comuns que causaram estranheza imediata. Bakhtin diz que “essa descoberta surpreendeu os contemporâneos pelo jogo insólito, fantástico e livre das formas vegetais, animais e humanas que se confundiam e transformavam entre si”. (BAKHTIN: 1993, 28) O Grotesco hoje tem o poder de fazer tangível uma irrealidade que choca, traz questionamentos, constrói mundos novos ou recria mundos já existentes através de uma percepção visual incomum, outrora desagradável Bakhtin ressalta: Orifícios, protuberâncias, ramificações e excrescências, tais como a boca aberta, os órgãos genitais, seios, falo, barriga e nariz (BAKHTIN: 1993, p. 23). Pode-se encontrar esse estillo nas cabeças grotescas de Da Vinci.