1. 2 JUNHO/JULHO 2015
EDITORIAL
Sei que nada sei
Luís Pedro Costa Santos
Coordenador Editorial
AAlemanha é um dos países industrializados mais desenvolvidos e competitivos do
mundo e detém o maior e mais importante mercado da União Europeia. Seria de su-
porqueosucessodasuaeconomiaremetesseparaumaprofusãodecircuitos,chipseau-
tomatismosequeessarealidadetecnológicaestivessedecertomodoinculcadanomodo
desergermânico.Nãoéoqueacontece.Osucessodaeconomiaalemãdependedaspes-
soas e, em grande parte, do trabalho que estas desenvolvem artesanalmente. A inter-
venção pessoal continua a constituir um fator predominante da produção daquele país,
um saber-fazer que, à boa maneira heideggeriana, não remete meramente para questões
de ordem económica, mas para uma atitude fundamental do ser humano, de amplitude
histórica, implícita no seu próprio modo de ser. Ou seja, assume-se que as pessoas serão,
em grande parte, as suas profissões, e isso faz com que as empresas surjam, neste con-
texto, como espaços de realização que, através da prática, determinam os modos de ser
daquelesquenelasdesempenhamfunções.Assuasinstalaçõesserão,porisso,locaispri-
vilegiados para a aprendizagem – é pelo menos o que apregoam os partidários do ensino
dual alemão. Terão, porventura, razão.
Ouvi um dia de um professor que “o conhecimento oscila entre dois sentidos: o fraco,
como informação ou representação, e o forte, como participação ou realização”. Com
efeito, ainda que o conhecimento, alicerçado na vida mental, possa ter um sentido
meramente informativo ou representativo, encerra em si uma inalienável componen-
te participativa, enquanto consciência realizante, que ambiciona a experiência inte-
gral. Nós somo-nos fazendo.
Somo-nos fazendo
10. 26 JUNHO/JULHO 2015
ENTREVISTA
ensinoDUAL
A
prender Magazine (AM):
Como contribui o siste-
ma dual para o sucesso
da economia alemã?
Ilona Medrikat (IM): Na econo-
mia alemã, mais de 50% dos
trabalhadores são formados
através do ensino profissional
dual. E estudos revelam que,
até 2030, a economia alemã
necessitará de cerca de 51% de
trabalhadores com formação
dual, e apenas de 19-23% com
estudos académicos.
Na Alemanha, as empresas en-
volvidas no sistema de forma-
ção dual ajudam a desenvolver
padrões de formação, o que
garante uma qualificação dire-
cionada para as necessidades
e não para o mercado de tra-
balho. Através da aprendiza-
gem em contexto de trabalho,
as empresas têm a garantia de
que obtêm profissionais com o
know-how de que necessitam.
Procede-se assim à formação
de mão de obra qualificada com
competências vocacionais e,
consequentemente, competên-
cias técnicas, metodológicas e
sociais. Desse modo aumenta
a produtividade, a qualidade de
serviços e produtos e, a médio
prazo, são gerados rendimen-
tos cada vez mais elevados.
AM: Angela Merkel declarou que
o mercado interno europeu aca-
bará por se converter num mer-
cado de trabalho único. Como
poderá o ensino dual contribuir
para essa situação?
IM: Na Europa, o estabeleci-
mento de um mercado inter-
no europeu comum favorece a
mobilidade de mão de obra e
requer um reconhecimento mú-
tuo de qualificações de diferen-
tes nacionalidades, bem como a
integração de competências in-
terculturais no campo educativo
e formativo. O processo político
da cooperação europeia implica
uma forma específica de inter-
nacionalização, que pode ser
Mercado de traba
realidade ou
designada de “europeização”
da formação profissional e que
assenta em princípios comuns e
na vontade de cooperação pri-
vilegiada dentro da UE. A inte-
gração europeia não é apenas
um compromisso político mas
também um importante fator
de crescimento económico dos
países envolvidos e um objetivo
permanente da cooperação eu-
ropeia.
Neste contexto, o modelo de
formação dual constitui uma
contribuição para o debate so-
bre reformas nos sistemas de
formação profissional na Euro-
pa com o objetivo de introduzir
formação de alta qualidade que,
em primeiro lugar, proporcio-
na aos jovens perspetivas de
futuro no plano profissional
e pessoal, em segundo lugar,
cria trabalhadores qualificados
para a indústria e o artesana-
to com qualificações das quais
o mercado tem carência e, em
terceiro lugar, proporciona uma
competitividade permanente
na Europa. Com a criação de
um espaço educativo europeu a
mobilidade no mercado de tra-
balho europeu poderá tornar-se
mais simples.
AM: No seu entender, até que
ponto é importante envolver as
empresas no processo formativo?
IM: O envolvimento das empre-
sas é um dos elementos essen-
ciais do sistema dual. A partici-
pação das partes interessadas
e dos beneficiários da formação
profissional, designadamente de
diversos ramos, bem como de
representantes de associações,
empresas e sindicatos, garante
que os diversos interesses sejam
representados e que reflitam o
compromisso das várias partes.
11. 27
Angela Merkel acredita que o mercado interno
europeu acabará por se converter num mercado
de trabalho único. À conversa com Ilona Medrikat,
tentámos perceber que papel poderá ter o ensino
dual no contexto de uma “europeização” da
formação profissional.
gestora de Projeto do Instituto Federal para a
Cooperação Internacional na Educação
e Formação Vocacional (GOVET)
Ilona Medrikat
lho único:
miragem?
Isso assegura a aceitação neces-
sária das soluções encontradas
e – particularmente importante
– um compromisso dos interve-
nientes relevantes.
O envolvimento de organiza-
ções empresariais e empresas,
bem como a transferência de
competências do Estado para
o setor privado, garantem que
a formação profissional possa
ser implementada de forma al-
tamente vantajosa do ponto de
vista económico para o Estado.
Se as empresas não estivessem
envolvidas neste processo, o
Estado teria de gastar pelo me-
nos o triplo. Para escolas a tem-
po inteiro, cujos programas não
incluem a formação profissio-
nal, os custos são quase multi-
plicados por dez, uma vez que
estas não incluem desempenho
produtivo.
Assim sendo, o sistema de forma-
ção dual é uma triple win situation
para empresas, aprendizes e
Estado.
12. 28 JUNHO/JULHO 2015
ENTREVISTA
ensinoDUAL
A
prender Magazine (AM):
Os cursos da DUAL em
Portugal são estrutura-
dos de modo semelhan-
te aos ministrados na Alemanha?
Elísio Silva (ES): Os cursos rea-
lizados pela DUAL assentam no
princípio do sistema dual alemão,
permitindo que os conhecimen-
tos adquiridos em sala sejam ci-
mentados e testados na prática,
ao longo da qualificação. Desta
forma, os formandos adquirirem
as competências e os conheci-
mentos necessários ao desem-
penho de uma profissão, prepa-
rando-se para desempenhar uma
carreira profissional de sucesso,
sem excluir a possibilidade de
continuar os seus estudos no en-
sino superior.
Uma das principais diferenças
entre os cursos realizados em
Portugal e na Alemanha, está
na relação entre o tempo que os
formandos passam nas empre-
sas e no Centro de Formação.
Enquanto que, na Alemanha, os
formandos passam cerca de 75%
DUAL significa
participação ativa
das empresas na
formação
Em Portugal, há
cursos que seguem o
modelo dual alemão.
Elísio Silva, diretor da
DUAL Qualificação
Profissional, garante
que a experiência é
positiva tanto para
empresas, que formam
trabalhadores à medida
das suas necessidades,
como para jovens,
que recebem uma
formação ajustada à
realidade do mundo
do trabalho.
do tempo nas empresas, em Por-
tugal, na maioria dos cursos, essa
percentagem é de aproximada-
mente 45%.
AM: No futuro será possível
pensar na aplicabilidade do sis-
tema dual alemão à realidade
portuguesa?
ES: Sim, na minha opinião, será
possível adaptar o sistema à rea-
lidade portuguesa. Ainda que isso
não signifique a sua “importação”,
mas antes uma adaptação ao
contexto do nosso País.
AM: Até que ponto considera im-
portante haver um envolvimento
ativo das empresas na formação
dos seus colaboradores?
ES: O envolvimento das empresas
na formação dos seus colabora-
dores é fundamental e decisivo.
São as empresas que melhor sa-
bem identificar as suas próprias
necessidades, e são também elas
que possuem os conhecimentos
e equipamentos específicos para
o desempenho das suas ativi-
dades. Na minha opinião, é nas
empresas que a formação poderá
atingir os melhores resultados.
AM: E é importante incentivar um
envolvimento dos jovens, neste
contexto?
ES: Sim. É muito importante que
as empresas se envolvam na
formação dos jovens, de modo
a que estes possam beneficiar
de uma formação prática e téc-
nica em contexto real de traba-
lho. Isso facilita bastante a sua
integração.
AM: Como tem sido a experiência
da DUAL em Portugal?
ES: Desde a sua fundação, já pas-
saram pela DUAL cerca de 20 000
formandos, nas várias modalidades
de formação.
Naformaçãoinicialdejovens,temos
registado taxas de empregabilidade
na ordem dos 90%, seis meses após
a conclusão dos cursos.
Consideramos, por isso, que a ex-
periência tem sido francamente
positiva.
Coordenador Editorial
Luís Pedro Costa Santos
13. 29
A
plicabilidade do siste-
ma alemão à realidade
portuguesa
O sistema dual alemão
pode servir de inspiração para
melhoria do sistema de educa-
ção e formação português mas
não poderá ser replicado para o
contexto nacional, pois a reali-
dade do tecido empresarial por-
tuguês não é comparável com a
alemã. As empresas portugue-
sas não têm a mesma tradição
nem capacidade de investimen-
to na formação dos jovens, tal
como sucede na Alemanha.
Em todo o caso, o sistema dual
alemão pode e tem sido ins-
pirador de algumas mudanças
que iniciámos em Portugal de
reforço da componente de for-
mação em contexto de trabalho.
Foi isso que fizemos nos cursos
profissionais e que procurámos
implementar, desde que foram
A
qualificação é determi-
nante para a competiti-
vidade das empresas, no
sentido em que traba-
lhadores mais qualificados possi-
bilitam ganhos de produtividade e
de adaptação a contextos de mu-
dança, bem como, à mobilidade
profissional.
Este é ainda um importante fator
de desenvolvimento pessoal e de
criação de modelos sociais coe-
sos, ao incentivar os percursos de
aprendizagem ao longo da vida,
Gonçalo Xufre
Octávio de Oliveira
Presidente do Conselho Diretivo
da ANQEP
Secretário de Estado do Emprego
criados, nos cursos vocacionais.
Mas, é importante que tenha-
mos consciência de que não bas-
ta prolongar os tempos da for-
mação em contexto de trabalho.
É necessário que essa formação
esteja associada à obtenção de
resultados de aprendizagem re-
levantes para a própria empresa.
Caso contrário, será apenas mais
horas na empresa.
Vantagens e desvantagens do
sistema alemão
Uma vantagem evidente está na
aproximação que se cria entre as
instituições de ensino e as empre-
sas e na facilidade que essa apro-
ximação gera na concretização da
formação em contexto real de tra-
balho (que é uma das mais-valias
dos cursos profissionalizantes e
uma exigência para que possam
funcionar).
Uma desvantagem prende-se
com uma especificidade do mode-
lo alemão que prepara os jovens
sem que estes adquiram qualquer
certificação académica, dificultan-
do-lhes o ingresso em percursos
de qualificação subsequentes ou
o domínio de competências mais
estruturantes do ponto de vista
sociocultural. Em Portugal isso
não sucede. Qualquer curso pro-
fissional confere uma certificação
que tem associado um grau aca-
démico. Portanto, nada impede os
jovens de prosseguirem estudos,
tal como sucederia caso tivessem
enveredado por um curso unica-
mente vocacionado para o acesso
ao ensino superior. Aliás, esta é
uma vantagem do modelo portu-
guês que tem interessando bas-
tante aos governantes alemães.
Deste ponto de vista, o modelo
existente em Portugal é mais res-
peitador dos princípios da apren-
dizagem ao longo da vida.
APRENDIZAGEM,
da Alternância ao DUAL
Modelo português tem a vantagem
da equivalência escolar
contribuindo igualmente para a re-
dução dos riscos de exclusão social
e de segmentação do mercado de
trabalho.
É neste quadro em que se promo-
vem os cursos de aprendizagem
dual – conferindo dupla certifica-
ção, escolar e profissional –, cria-
dos em 1984, e geridos pelo IEFP,
dada as suas características de for-
te ligação às empresas, atendendo
à sua grande componente prática
em posto de trabalho desenvolvida
nas empresas, em alternância com
a formação teórica em sala, per-
mitindo, assim, que os formandos,
logo desde o início, aprendam a
integrarem-se no sistema produti-
vo e na organização de trabalho de
uma empresa.
Neste contexto, esta modalidade
de formação – Aprendizagem Dual
– é a que mais se aproxima do mo-
delo de formação dual alemão, e
tem sido vital, desde 1984, para a
formação de técnicos qualificados,
muito em especial em áreas profis-
sionais ligadas à atividade indus-
trial,comoaeletrónica,automação,
pneumática, robótica, metalurgia e
metalomecânica, mecatrónica ou
eletromecânica.
14. 30 JUNHO/JULHO 2015
contributos
Thomas Giessler
Anabela Sotaia
Chefe de Unidade da Confede-
ração dos Sindicatos Alemães-
DGB (Associação Sindical Alemã)
Representante do Sindicato
de Professores da Região
Centro, CGTP (Associação
Sindical Portuguesa)
Na Alemanha, os sindicatos representam os jovens formandos e
participam ativamente na elaboração e atualização dos conteúdos
programáticos dos cursos. Em Portugal, os sindicatos são ainda parte
silente do processo formativo.
P
articipação ativa dos sin-
dicatos na formação
A opinião dos sindicatos
deveria ser tida em con-
ta, através de pedidos de parecer
ou de audiências, por exemplo, na
definição dos programas e dos
currículos de todos os cursos que
tenham uma componente de for-
mação em contexto de trabalho.
A realidade portuguesa
Em termos gerais a oferta de
cursos profissionais nas escolas
básicas e secundárias da rede pú-
blica aumentou exponencialmente
nos últimos anos, em grande parte
devido ao alargamento da escolari-
C
ompetências dos sindi-
catos, no sistema dual
alemão
Os sindicatos estão en-
volvidos em todos os níveis da
formação profissional. Os pro-
gramas de aprendizagem não
são criados sem o consenso dos
sindicatos. Próximos das neces-
sidades das empresas, os sindi-
catos desempenham um papel
fundamental para garantir, a lon-
go prazo, o desenvolvimento das
competências dos trabalhadores
e melhorar a qualidade da forma-
dadeobrigatóriapara12anos.Mais
do que proporcionar aos jovens as
ferramentas, as competências e
as qualificações necessárias para
uma melhor inserção no merca-
do de trabalho, estes cursos, por
opção do Governo, estão a ser
infelizmente (quase) a única so-
lução encontrada no combate ao
abandono e insucesso escolares.
Os alunos com dificuldades de
aprendizagem e em risco de insu-
cesso ou abandono escolar estão
a ser massivamente “empurra-
dos” para este tipo de cursos. A
formação vocacional e profis-
sional sai desvalorizada e nada
dignificada perante este tipo de
enquadramento, mantendo-se as
portas abertas para a continui-
dade das baixas qualificações
académicas e profissionalizantes,
para o agravamento das discrimi-
nações sociais, para a exclusão
escolar e para uma ainda maior
elitização do ensino.
Contratos de trabalho para
formandos
Tal como acontece na Alemanha,
mas com as devidas adaptações
à realidade concreta do nosso
País, seria muito importante que
os formandos portugueses cele-
brassem um contrato de forma-
ção profissional com a empresa
onde estão a estagiar. Um contra-
to que estipulasse os direitos e os
deveres de ambas as partes e que
fosse obrigatoriamente negocia-
do com os sindicatos do respetivo
setor de atividade.
ção com formadores qualificados.
Enquanto sindicatos, cabe-nos a
responsabilidade de desenvol-
ver propostas para a criação de
novos programas de aprendiza-
gem e para a atualização dos já
existentes, de colaborar com os
comités de auditoria das Câmaras
de Comércio, e de negociar os con-
tratos coletivos. No geral, o nosso
empenho sindical proporciona aos
trabalhadores novas perspeti-
vas de carreira, que possibilitam
um intercâmbio entre profissões,
empresas e setores, e as condi-
ções necessárias para definir as
próprias condições de trabalho e
de vida orientadas para o futuro.
O envolvimento das empresas
na formação
A constante transformação do
mundo laboral exige cada vez
mais dos trabalhadores. A DGB
está convicta de que uma for-
mação profissional dual sólida e
abrangente, com programas de
aprendizagem modernos, é a me-
lhor forma de lidar com a transfor-
mação no mundo laboral, baixar a
taxa de desemprego jovem e al-
cançar elevadas quotas transitó-
rias no mercado de trabalho. Ve-
mos, portanto, o grande empenho
das nossas empresas a nível de
formação como um pilar para o re-
forço da economia global.
OS SINDICATOS
Disparidades sindicais no contexto da formação
ensinoDUAL
CÁ
LÁ
15. 31
Luís Pinto
Jónio Reis
Técnico de Gestão Administrati-
va, ex-formando português
Plant manager da Bosch Securi-
ty Systems, Portugal, empresa
formadora
C
omo poderão beneficiar
os formandos portu-
gueses?
Se for ministrado com o
devido grau de rigor e exigência,
os formandos acabarão os seus
cursos prontos para enfrentar
o mercado de trabalho. Estarão
mais conscientes das suas tarefas
a nível prático e acostumados às
exigências e responsabilidades do
mercado de trabalho. E isso repre-
senta uma vantagem competitiva,
mesmo em relação aos indivíduos
que terminam as suas licencia-
D
e que modo beneficia-
rão as empresas portu-
guesas?
Numa economia cada
vez mais global, sobretudo na
indústria, onde as diferenças nos
processos de fabrico não são
significativas à escala mundial,
a qualidade dos Recursos Hu-
manos fazem toda a diferença
na eficiência e na qualidade das
unidades industriais.
Apesar de o grau de formação
base dos novos colaboradores
ter aumentado significativamen-
te, melhorando os níveis de lite-
racia e capacidade de aprendiza-
gem, continuamos, em Portugal,
com muitas carências ao nível
dos quadros médios (Técnicos).
O que dizem os portugueses
turas. Os empresários procuram
pessoas adaptadas às exigências
do mercado, não só no plano teó-
rico mas também ao nível da pre-
paração psicológica para lidar com
as responsabilidades inerentes à
função. Normalmente, se o curso
tiver o grau de exigência necessá-
rio e o formando estiver à altura
do desafio, de uma forma natu-
ral, a empresa em que o estágio é
realizado tentará que o formando
em quem investiu seja contratado.
Por outro lado, durante o estágio,
o formando estará em contac-
to com o mercado, fornecedores
e clientes da firma, tendo assim
acesso a mais oportunidades de
emprego do que aqueles que ain-
da não tiveram qualquer contacto
com o mercado de trabalho.
Penso que, em Portugal, define-
-se como objetivo a obtenção de
uma licenciatura, o que é ma-
nifestamente pouco. O objetivo
deve ser a entrada no mercado
de trabalho porque ter só uma li-
cenciatura não paga contas. Para
que tal aconteça, a via dual é, de
facto, mais eficiente e não impe-
de que, no futuro, caso o interes-
se se mantenha, se obtenha uma
licenciatura. Com certeza que na
altura, após estar já integrado no
mercado de trabalho, tal consti-
tuirá uma nova mais-valia e novo
fator de diferenciação.
“O objetivo deve
ser a entrada no
mercado de trabalho
porque ter só uma
licenciatura não
paga contas.”
“As empresas
[beneficiam]
de um retorno
quase imediato
do investimento
realizado.”
O ensino dual vem, de certa for-
ma, mitigar esta carência enor-
me que o nosso País possui em
relação à formação técnico-
-profissional. Ao aliar a forma-
ção teórica à prática, o ensino
dual permite, para além de for-
mar jovens tecnicamente capa-
zes, reduzir consideravelmente
o tempo de integração nas or-
ganizações, o que faz com que
as empresas beneficiem de um
retorno quase imediato do in-
vestimento realizado. Uma vez
que grande parte da formação
ocorre nas instalações da pró-
pria empresa, a identificação do
formando com os seus valores
e princípios acontece de forma
quase espontânea.