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2 JUNHO/JULHO 2015
EDITORIAL
Sei que nada sei
Luís Pedro Costa Santos
Coordenador Editorial
AAlemanha é um dos países industrializados mais desenvolvidos e competitivos do
mundo e detém o maior e mais importante mercado da União Europeia. Seria de su-
porqueosucessodasuaeconomiaremetesseparaumaprofusãodecircuitos,chipseau-
tomatismosequeessarealidadetecnológicaestivessedecertomodoinculcadanomodo
desergermânico.Nãoéoqueacontece.Osucessodaeconomiaalemãdependedaspes-
soas e, em grande parte, do trabalho que estas desenvolvem artesanalmente. A inter-
venção pessoal continua a constituir um fator predominante da produção daquele país,
um saber-fazer que, à boa maneira heideggeriana, não remete meramente para questões
de ordem económica, mas para uma atitude fundamental do ser humano, de amplitude
histórica, implícita no seu próprio modo de ser. Ou seja, assume-se que as pessoas serão,
em grande parte, as suas profissões, e isso faz com que as empresas surjam, neste con-
texto, como espaços de realização que, através da prática, determinam os modos de ser
daquelesquenelasdesempenhamfunções.Assuasinstalaçõesserão,porisso,locaispri-
vilegiados para a aprendizagem – é pelo menos o que apregoam os partidários do ensino
dual alemão. Terão, porventura, razão.
Ouvi um dia de um professor que “o conhecimento oscila entre dois sentidos: o fraco,
como informação ou representação, e o forte, como participação ou realização”. Com
efeito, ainda que o conhecimento, alicerçado na vida mental, possa ter um sentido
meramente informativo ou representativo, encerra em si uma inalienável componen-
te participativa, enquanto consciência realizante, que ambiciona a experiência inte-
gral. Nós somo-nos fazendo.
Somo-nos fazendo
18 JUNHO/JULHO 2015
sistema
dual
19
Ensino Dual
Formação teórica e prática
em prol da produtividade
20
reportagem
JUNHO/JULHO 2015
Ensino dual:
Quando as empresas pagam
aos jovens para estudar
ensinoDUAL
©DR
21
B
olas e mais bolas (as
de Berlim, entenda-se),
pães, croissants, e outras
tantas iguarias pousam,
mas não repousam (que não as
deixam) nas vitrines de uma tra-
dicional pastelaria berlinense.
Estão ainda quentes, acabadi-
nhas de sair de um forno que se
encontra não se sabe muito bem
onde, mas que se adivinha próxi-
mo pelo agradável cheiro a pão
quente. Johann Mayer, pastelei-
ro e proprietário do estabeleci-
mento, confirma que tudo o que
ali se vê é confecionado por si e
pelo seu staff – quatro colabora-
dores ao todo, dois deles apren-
dizes ainda em formação. Como
pasteleiro mestre, é o próprio que
assegura grande parte da forma-
ção que eles recebem. Os outros
dois são oficiais (é assim que lhes
chamam na Alemanha) – têm já
uma certificação profissional que
adquiriram também na empresa
após terminarem os seus cursos.
A pastelaria do Sr. Mayer é uma
das 450 000 empresas alemãs
que estão qualificadas para dar
formação através do sistema
dual de ensino. Deste número,
fazem parte pequenas empresas
familiares, mas também outras
de muito maior dimensão, como
a Trainico, que atua na área da
Aviação e que assume, entre
outras, a formação dos apren-
dizes da transportadora aérea
Lufthansa. Independentemente da
dimensão, a certificação é muito
bem vista socialmente, dá mais
estatuto, e demonstra que a em-
presa é sólida e capaz.
O sistema de ensino dual está
profundamente enraizado na so-
ciedade e cultura alemãs e não
sofre contestação por parte de
quaisquer partidos políticos, que
veem nele um esteio para o su-
cesso da sua economia, e a razão
mais forte para uma das mais
baixas taxas de desemprego jo-
vem na União Europeia (cerca de
7%). Portugal (com os seus 34%) é
um dos países que estuda aten-
Na Alemanha, a taxa de desemprego jovem é
uma das mais baixas da União Europeia. Muitos
creem que o sistema dual contribui fortemente
para a situação. Portugal é um dos países que
estuda atentamente o modelo e que tenta, aos
poucos, implementá-lo.
Coordenador Editorial
Luís Pedro Costa Santos
tamente o modelo e tenta, aos
poucos, implementá-lo.
O que é afinal o ensino dual?
Segundo a UNESCO, o sistema
dual de ensino “é assim designa-
do por combinar num só curso a
aprendizagem no seio de uma
empresa e o ensino profissio-
nal numa escola vocacional”. Na
Alemanha, por ex., 25% do tem-
po total de formação é dedicado
à instrução teórica em contexto
escolar; os restantes 75% são
Centro de formação, Trainico
©DR©DR
22
reportagem
JUNHO/JULHO 2015
ensinoDUAL
aplicados no reforço dos conhe-
cimentos, através de um período
de prática em contexto laboral.
Experiências em países como
Áustria, Dinamarca e Alemanha
revelam que a forte componente
prática dos cursos permite uma
aproximação dos conteúdos pro-
gramáticos às reais necessidades
do mercado.
Isto porque, no sistema dual, as
empresas não são apenas for-
madoras, intervêm ativamente
– em estreita colaboração com
Câmaras de Comércio, Sindicatos,
e Estado Federal – na formulação
e/ou atualização dos conteúdos
programáticos. Por outro lado, a
transferência de competências
alivia algumas responsabilidades
(e despesas) do Estado que, sem
perder estatuto, se dedica quase
exclusivamente a um trabalho de
supervisão.
Empresas investem 24 mil mi-
lhões de euros em formação to-
dos os anos
Não é certamente por altruísmo
que as empresas alemãs des-
pendem todos os anos cerca de
24 mil milhões de euros em for-
mação, contra os 5,7 mil milhões
investidos pelo Estado. Fazem-
-no porque é vantajoso. Segundo
Thomas Giessler, chefe de Unida-
de da Confederação dos Sindica-
tos Alemães (DGB), “as empresas
investem uma média anual de
aproximadamente 15 300 euros
por formando, estimando-se que
obtenham, logo no primeiro ano,
um retorno equivalente a 75%
desse investimento”.
Por outro lado, ao receberem for-
mação ajustada à realidade do
mercado de trabalho em que pre-
tendem ingressar, os jovens têm
mais facilidade em obter empre-
go – o que ocorre em 95% dos ca-
sos, sendo que, desses, 66% aca-
bam por permanecer na mesma
empresa que lhes dá formação.
Nas pontuais ocasiões em que o
Estado assume o papel de for-
mador – nomeadamente quando
não existem empresas disponí-
veis para ministrar os cursos –,
os níveis de empregabilidade bai-
xam consideravelmente.
Ilona Medrikat, gestora de Pro-
jeto do Instituto Federal para
a Cooperação Internacional na
Educação e Formação Vocacio-
nal (GOVET), justifica a situação
com o desajuste entre as reais
necessidades do mercado e os
cursos que são criados: “A ver-
dade é que, sem empresas, não
há emprego. Se queremos inte-
grar jovens nas empresas, temos
forçosamente de atentar à reali-
dade destas, às suas necessida-
des. Caso contrário, as pessoas
continuarão desempregadas, in-
dependentemente de serem ou
não formadas”.
Elísio Silva, da Câmara de Comér-
cio e Indústria Luso-Alemã, con-
corda com a análise, e considera
que esse desajuste estará, por-
ventura, na origem da maioria
dos problemas da formação no
nosso País: “Em Portugal, apesar
©DR
23
de termos setores que eviden-
ciam uma taxa de desemprego al-
tíssima, as empresas continuam
a ter uma enorme dificuldade em
recrutar. Em sentido contrário,
sabe-se que os Estados em que
existe uma interação fortemente
institucionalizada entre o sistema
educativo e o mercado de traba-
lho apresentam níveis singular-
mente baixos de desemprego”.
Como funciona, para o formando?
Os cursos duram entre três e três
anos e meio, e como grande parte
da formação ocorre nas instala-
ções das empresas em contexto
de produção, os formandos têm
direito a uma remuneração, que
poderá oscilar entre os 270 euros
de um aprendiz de cabeleireiro, e
os 800 euros de um pedreiro. Por
norma, a remuneração aumenta
nos anos subsequentes, poden-
do, no caso do último, atingir os
2000 euros líquidos.
Antes, porém, o jovem tem de
encontrar uma empresa que se
disponha a dar-lhe formação. Na
Alemanha, as candidaturas são
feitas através do preenchimento
de formulários que são disponi-
bilizados nos sites das empre-
sas, ou através do envio direto de
currículos. Em média, um ano é o
tempo que demora a obter uma
resposta positiva, mas os mais
afortunados conseguem-na em
cerca de seis meses.
Ultrapassada a fase de seleção,
que é baseada na análise do perfil
e das notas escolares dos can-
didatos, os jovens assinam um
contrato de formação (bastante
próximo do nosso contrato de
trabalho) que os integra ativa-
mente nos quadros das empre-
sas. O contrato é vinculativo para
ambas as partes e garante, entre
outras coisas, a defesa dos di-
reitos dos jovens por parte dos
sindicatos.
No período em que recebem for-
mação, os aprendizes dividem o
tempo entre escolas vocacionais
e instalações de empresas, ad-
quirindo conhecimentos teóricos
e competências técnicas.
Findos os três anos de formação,
realiza-se um exame final es-
pecífico para cada uma das 329
profissões, que testa os conhe-
cimentos entretanto adquiridos.
Se passar no exame, o forman-
do completará ainda um período
adicional de estágio que durará
cerca de quatro meses, após o
qual obterá uma certificação, re-
conhecida a nível nacional (que,
ao contrário do que acontece
com a oferta profissionalizante
portuguesa, não tem equivalên-
cia escolar). Dada a elevada taxa
de empregabilidade do sistema
– que ronda os 95% – dificilmen-
te se verá, o agora oficial, con-
frontado com uma situação de
desemprego.
Comunidade Empresarial, Par-
ceiros Sociais e Estado, quem
faz o quê?
Segundo Steffen Bayer, presiden-
te da Associação das Câmaras de
Comércio e Indústria alemãs, o
sucesso do sistema dual “depende
de um permanente acerto entre
as necessidades do mercado e
a formação que é aplicada nas e
pelas empresas”. A estrutura que
o suporta deve, por essa razão,
manter-se sensível às volubili-
dades e transformações do mer-
cado, sendo que Câmaras de Co-
mércio, Sindicatos, e Estado, cada
qual à sua maneira, convergem
esforços para que tal aconteça.
Qual é, então, o papel de cada um
dos intervenientes?
As Câmaras de Comércio (80, em
território alemão) aconselham e
certificam as empresas, ajudam-
-nas a procurar aprendizes, su-
pervisionam a qualidade das ins-
talações e da formação, instruem
formadores, registam contratos,
e organizam exames. Os Sindica-
tos (que, na Alemanha, não têm
Alunos em formação, ABB
Empresas “intervêm
ativamente na formulação
e/ou atualização
dos conteúdos
programáticos”.
©DR
24
reportagem
JUNHO/JULHO 2015
orientação política) negoceiam
os contratos coletivos, resolvem
conflitos, participam na criação
dos conteúdos programáticos,
e desenvolvem propostas para
a criação de novos programas
e atualização dos já existentes.
O Estado, para além de super-
visionar o sistema, e de ter a
última palavra no que respeita
ao que deve ou não ser feito,
corrigido ou aperfeiçoado, fi-
nancia uma contínua investiga-
ção, apoia os desempregados,
os desfavorecidos e os menos
capacitados, facilitando a sua
incursão no sistema dual, infor-
mando ainda a opinião pública
acerca da importância e real im-
pacto que o sistema dual tem na
sua economia.
Ainda que Steffen Bayer garanta
que o sistema funciona em pleno
e que todas as partes envolvi-
das estão plenamente satisfei-
tas, interessa perceber até que
ponto o sistema dual não estará
a dissuadir muitos dos jovens
de prosseguir estudos no en-
sino superior – a percentagem
de diplomados jovens registada
na Alemanha situa-se na ordem
dos 29%, distantes dos 40% pro-
postos pelos Estados-membros
da União Europeia para 2020.
Thomas Giessler, não conside-
ra a questão problemática, até
porque, revela, os sindicatos
lutam atualmente para que al-
guns cursos do ensino dual te-
nham equivalência aos do ensi-
no superior.
Por cá, o problema parece ser
outro, bem mais profundo. O
ensino profissionalizante con-
tinua a ser visto como uma op-
ção de segunda para os que não
querem ou não podem prosse-
guir estudos na universidade,
e uma alternativa para alunos
problemáticos, que agora têm
de permanecer nas escolas até
atingirem a maioridade.
Partindo do princípio de que,
devido às circunstâncias econó-
micas e até culturais do próprio
País, será de todo impossível –
pelo menos para já – replicar o
modelo em Portugal, interessa
olhar para a experiência alemã
e atentar ao modo como cada
pessoa sente orgulho em apren-
der uma profissão, e como esse
orgulho se projeta no respeito
pela profissão do próximo. Há
uma verdadeira noção de bem-
-comum, e essa será, porven-
tura, uma diferença ideológica,
mais do que estrutural.
Regressados à padaria do Sr.
Mayer, somos conduzidos a um
pequeno anexo que serve de es-
critório. Sorridente, o mestre pas-
teleiro aponta para quatro cer-
tificados enfileirados na parede:
“Aquele é o do meu bisavô, os
seguintes são os do meu avô, do
meu pai e o meu. O meu filho já me
pediu espaço para o dele. Disse-
-lhe que não se preocupasse que o
dele virá já em CD-ROM’”.
Viagem a Berlim, a convite da Câmara de
Comércio e Indústria Luso-Alemã
Johann Mayer, pasteleiro mestre
“Os aprendizes dividem
o tempo entre escolas
vocacionais e instalações
de empresas, adquirindo
conhecimentos teóricos
e competências técnicas.”
ensinoDUAL
©DR
25
S
usana Schott tomou con-
tacto com o ensino dual
numa feira sobre educação
e formação. A experiência
universitária na área do design grá-
fico não correspondera às suas ex-
S
ebastian Mehnke vem de
Brandemburgo, e estuda
para operador de eletró-
nica na ABB. Após o Abitur
(exame que, na Alemanha, con-
clui o ensino secundário), Sebas-
tian estava indeciso entre seguir
o ensino superior, para estudar
engenharia de máquinas, ou fa-
zer uma formação profissional de
tipo dual. Acabou por optar pela
segunda porque, diz, “na universi-
dade não me pagam para estudar”.
Frequenta o terceiro ano do curso
e especializa-se, neste momento,
em interruptores de alta tensão.
Está muito satisfeito com a expe-
riência, principalmente pelo facto
de a aprendizagem ser maiorita-
riamente em contexto laboral.
Depois de terminar o curso, pre-
tende trabalhar um ano “para ga-
nhar mais algum dinheiro”, após o
que decidirá se seguirá ou não um
curso universitário.
O caso da ABB
A ABB é uma empresa formadora. Conta com cerca de 10 000 funcionários
nosseusquadroseestárepresentadaemaproximadamentecempaíses.95%
das pessoas que recebem formação nas suas instalações têm contratos com
outras empresas. Seguem-se os testemunhos de dois dos seus formandos.
pectativas. A exigência era elevada
e muitos dos colegas que termina-
vam o curso acabavam no desem-
prego por falta de experiência prá-
tica–queasempresasvalorizavam
mais. Decidiu procurar alternativas.
A área da eletrónica despertou-
-lhe interesse, pelo que decidiu
enviar currículos e candidatar-se a
uma vaga de formação através do
preenchimento de formulários nas
páginas web de algumas empre-
sas. Passados seis meses, assinou
um contrato de formação com a
Guhring,umaempresadefabricode
ferramentasdeconstruçãoeiniciou
o seu percurso de aprendizagem na
ABB, uma empresa formadora da
área da energia e automação. Ain-
da no primeiro ano do curso, diz-se
muito feliz e nada arrependida da
decisão que tomou.
Susana Schott, 25 anos
Sebastian Mehnke, 23 anos
©DR
26 JUNHO/JULHO 2015
ENTREVISTA
ensinoDUAL
A
prender Magazine (AM):
Como contribui o siste-
ma dual para o sucesso
da economia alemã?
Ilona Medrikat (IM): Na econo-
mia alemã, mais de 50% dos
trabalhadores são formados
através do ensino profissional
dual. E estudos revelam que,
até 2030, a economia alemã
necessitará de cerca de 51% de
trabalhadores com formação
dual, e apenas de 19-23% com
estudos académicos.
Na Alemanha, as empresas en-
volvidas no sistema de forma-
ção dual ajudam a desenvolver
padrões de formação, o que
garante uma qualificação dire-
cionada para as necessidades
e não para o mercado de tra-
balho. Através da aprendiza-
gem em contexto de trabalho,
as empresas têm a garantia de
que obtêm profissionais com o
know-how de que necessitam.
Procede-se assim à formação
de mão de obra qualificada com
competências vocacionais e,
consequentemente, competên-
cias técnicas, metodológicas e
sociais. Desse modo aumenta
a produtividade, a qualidade de
serviços e produtos e, a médio
prazo, são gerados rendimen-
tos cada vez mais elevados.
AM: Angela Merkel declarou que
o mercado interno europeu aca-
bará por se converter num mer-
cado de trabalho único. Como
poderá o ensino dual contribuir
para essa situação?
IM: Na Europa, o estabeleci-
mento de um mercado inter-
no europeu comum favorece a
mobilidade de mão de obra e
requer um reconhecimento mú-
tuo de qualificações de diferen-
tes nacionalidades, bem como a
integração de competências in-
terculturais no campo educativo
e formativo. O processo político
da cooperação europeia implica
uma forma específica de inter-
nacionalização, que pode ser
Mercado de traba
realidade ou
designada de “europeização”
da formação profissional e que
assenta em princípios comuns e
na vontade de cooperação pri-
vilegiada dentro da UE. A inte-
gração europeia não é apenas
um compromisso político mas
também um importante fator
de crescimento económico dos
países envolvidos e um objetivo
permanente da cooperação eu-
ropeia.
Neste contexto, o modelo de
formação dual constitui uma
contribuição para o debate so-
bre reformas nos sistemas de
formação profissional na Euro-
pa com o objetivo de introduzir
formação de alta qualidade que,
em primeiro lugar, proporcio-
na aos jovens perspetivas de
futuro no plano profissional
e pessoal, em segundo lugar,
cria trabalhadores qualificados
para a indústria e o artesana-
to com qualificações das quais
o mercado tem carência e, em
terceiro lugar, proporciona uma
competitividade permanente
na Europa. Com a criação de
um espaço educativo europeu a
mobilidade no mercado de tra-
balho europeu poderá tornar-se
mais simples.
AM: No seu entender, até que
ponto é importante envolver as
empresas no processo formativo?
IM: O envolvimento das empre-
sas é um dos elementos essen-
ciais do sistema dual. A partici-
pação das partes interessadas
e dos beneficiários da formação
profissional, designadamente de
diversos ramos, bem como de
representantes de associações,
empresas e sindicatos, garante
que os diversos interesses sejam
representados e que reflitam o
compromisso das várias partes.
27
Angela Merkel acredita que o mercado interno
europeu acabará por se converter num mercado
de trabalho único. À conversa com Ilona Medrikat,
tentámos perceber que papel poderá ter o ensino
dual no contexto de uma “europeização” da
formação profissional.
gestora de Projeto do Instituto Federal para a
Cooperação Internacional na Educação
e Formação Vocacional (GOVET)
Ilona Medrikat
lho único:
miragem?
Isso assegura a aceitação neces-
sária das soluções encontradas
e – particularmente importante
– um compromisso dos interve-
nientes relevantes.
O envolvimento de organiza-
ções empresariais e empresas,
bem como a transferência de
competências do Estado para
o setor privado, garantem que
a formação profissional possa
ser implementada de forma al-
tamente vantajosa do ponto de
vista económico para o Estado.
Se as empresas não estivessem
envolvidas neste processo, o
Estado teria de gastar pelo me-
nos o triplo. Para escolas a tem-
po inteiro, cujos programas não
incluem a formação profissio-
nal, os custos são quase multi-
plicados por dez, uma vez que
estas não incluem desempenho
produtivo.
Assim sendo, o sistema de forma-
ção dual é uma triple win situation
para empresas, aprendizes e
Estado.
28 JUNHO/JULHO 2015
ENTREVISTA
ensinoDUAL
A
prender Magazine (AM):
Os cursos da DUAL em
Portugal são estrutura-
dos de modo semelhan-
te aos ministrados na Alemanha?
Elísio Silva (ES): Os cursos rea-
lizados pela DUAL assentam no
princípio do sistema dual alemão,
permitindo que os conhecimen-
tos adquiridos em sala sejam ci-
mentados e testados na prática,
ao longo da qualificação. Desta
forma, os formandos adquirirem
as competências e os conheci-
mentos necessários ao desem-
penho de uma profissão, prepa-
rando-se para desempenhar uma
carreira profissional de sucesso,
sem excluir a possibilidade de
continuar os seus estudos no en-
sino superior.
Uma das principais diferenças
entre os cursos realizados em
Portugal e na Alemanha, está
na relação entre o tempo que os
formandos passam nas empre-
sas e no Centro de Formação.
Enquanto que, na Alemanha, os
formandos passam cerca de 75%
DUAL significa
participação ativa
das empresas na
formação
Em Portugal, há
cursos que seguem o
modelo dual alemão.
Elísio Silva, diretor da
DUAL Qualificação
Profissional, garante
que a experiência é
positiva tanto para
empresas, que formam
trabalhadores à medida
das suas necessidades,
como para jovens,
que recebem uma
formação ajustada à
realidade do mundo
do trabalho.
do tempo nas empresas, em Por-
tugal, na maioria dos cursos, essa
percentagem é de aproximada-
mente 45%.
AM: No futuro será possível
pensar na aplicabilidade do sis-
tema dual alemão à realidade
portuguesa?
ES: Sim, na minha opinião, será
possível adaptar o sistema à rea-
lidade portuguesa. Ainda que isso
não signifique a sua “importação”,
mas antes uma adaptação ao
contexto do nosso País.
AM: Até que ponto considera im-
portante haver um envolvimento
ativo das empresas na formação
dos seus colaboradores?
ES: O envolvimento das empresas
na formação dos seus colabora-
dores é fundamental e decisivo.
São as empresas que melhor sa-
bem identificar as suas próprias
necessidades, e são também elas
que possuem os conhecimentos
e equipamentos específicos para
o desempenho das suas ativi-
dades. Na minha opinião, é nas
empresas que a formação poderá
atingir os melhores resultados.
AM: E é importante incentivar um
envolvimento dos jovens, neste
contexto?
ES: Sim. É muito importante que
as empresas se envolvam na
formação dos jovens, de modo
a que estes possam beneficiar
de uma formação prática e téc-
nica em contexto real de traba-
lho. Isso facilita bastante a sua
integração.
AM: Como tem sido a experiência
da DUAL em Portugal?
ES: Desde a sua fundação, já pas-
saram pela DUAL cerca de 20 000
formandos, nas várias modalidades
de formação.
Naformaçãoinicialdejovens,temos
registado taxas de empregabilidade
na ordem dos 90%, seis meses após
a conclusão dos cursos.
Consideramos, por isso, que a ex-
periência tem sido francamente
positiva.
Coordenador Editorial
Luís Pedro Costa Santos
29
A
plicabilidade do siste-
ma alemão à realidade
portuguesa
O sistema dual alemão
pode servir de inspiração para
melhoria do sistema de educa-
ção e formação português mas
não poderá ser replicado para o
contexto nacional, pois a reali-
dade do tecido empresarial por-
tuguês não é comparável com a
alemã. As empresas portugue-
sas não têm a mesma tradição
nem capacidade de investimen-
to na formação dos jovens, tal
como sucede na Alemanha.
Em todo o caso, o sistema dual
alemão pode e tem sido ins-
pirador de algumas mudanças
que iniciámos em Portugal de
reforço da componente de for-
mação em contexto de trabalho.
Foi isso que fizemos nos cursos
profissionais e que procurámos
implementar, desde que foram
A
qualificação é determi-
nante para a competiti-
vidade das empresas, no
sentido em que traba-
lhadores mais qualificados possi-
bilitam ganhos de produtividade e
de adaptação a contextos de mu-
dança, bem como, à mobilidade
profissional.
Este é ainda um importante fator
de desenvolvimento pessoal e de
criação de modelos sociais coe-
sos, ao incentivar os percursos de
aprendizagem ao longo da vida,
Gonçalo Xufre
Octávio de Oliveira
Presidente do Conselho Diretivo
da ANQEP
Secretário de Estado do Emprego
criados, nos cursos vocacionais.
Mas, é importante que tenha-
mos consciência de que não bas-
ta prolongar os tempos da for-
mação em contexto de trabalho.
É necessário que essa formação
esteja associada à obtenção de
resultados de aprendizagem re-
levantes para a própria empresa.
Caso contrário, será apenas mais
horas na empresa.
Vantagens e desvantagens do
sistema alemão
Uma vantagem evidente está na
aproximação que se cria entre as
instituições de ensino e as empre-
sas e na facilidade que essa apro-
ximação gera na concretização da
formação em contexto real de tra-
balho (que é uma das mais-valias
dos cursos profissionalizantes e
uma exigência para que possam
funcionar).
Uma desvantagem prende-se
com uma especificidade do mode-
lo alemão que prepara os jovens
sem que estes adquiram qualquer
certificação académica, dificultan-
do-lhes o ingresso em percursos
de qualificação subsequentes ou
o domínio de competências mais
estruturantes do ponto de vista
sociocultural. Em Portugal isso
não sucede. Qualquer curso pro-
fissional confere uma certificação
que tem associado um grau aca-
démico. Portanto, nada impede os
jovens de prosseguirem estudos,
tal como sucederia caso tivessem
enveredado por um curso unica-
mente vocacionado para o acesso
ao ensino superior. Aliás, esta é
uma vantagem do modelo portu-
guês que tem interessando bas-
tante aos governantes alemães.
Deste ponto de vista, o modelo
existente em Portugal é mais res-
peitador dos princípios da apren-
dizagem ao longo da vida.
APRENDIZAGEM,
da Alternância ao DUAL
Modelo português tem a vantagem
da equivalência escolar
contribuindo igualmente para a re-
dução dos riscos de exclusão social
e de segmentação do mercado de
trabalho.
É neste quadro em que se promo-
vem os cursos de aprendizagem
dual – conferindo dupla certifica-
ção, escolar e profissional –, cria-
dos em 1984, e geridos pelo IEFP,
dada as suas características de for-
te ligação às empresas, atendendo
à sua grande componente prática
em posto de trabalho desenvolvida
nas empresas, em alternância com
a formação teórica em sala, per-
mitindo, assim, que os formandos,
logo desde o início, aprendam a
integrarem-se no sistema produti-
vo e na organização de trabalho de
uma empresa.
Neste contexto, esta modalidade
de formação – Aprendizagem Dual
– é a que mais se aproxima do mo-
delo de formação dual alemão, e
tem sido vital, desde 1984, para a
formação de técnicos qualificados,
muito em especial em áreas profis-
sionais ligadas à atividade indus-
trial,comoaeletrónica,automação,
pneumática, robótica, metalurgia e
metalomecânica, mecatrónica ou
eletromecânica.
30 JUNHO/JULHO 2015
contributos
Thomas Giessler
Anabela Sotaia
Chefe de Unidade da Confede-
ração dos Sindicatos Alemães-
DGB (Associação Sindical Alemã)
Representante do Sindicato
de Professores da Região
Centro, CGTP (Associação
Sindical Portuguesa)
Na Alemanha, os sindicatos representam os jovens formandos e
participam ativamente na elaboração e atualização dos conteúdos
programáticos dos cursos. Em Portugal, os sindicatos são ainda parte
silente do processo formativo.
P
articipação ativa dos sin-
dicatos na formação
A opinião dos sindicatos
deveria ser tida em con-
ta, através de pedidos de parecer
ou de audiências, por exemplo, na
definição dos programas e dos
currículos de todos os cursos que
tenham uma componente de for-
mação em contexto de trabalho.
A realidade portuguesa
Em termos gerais a oferta de
cursos profissionais nas escolas
básicas e secundárias da rede pú-
blica aumentou exponencialmente
nos últimos anos, em grande parte
devido ao alargamento da escolari-
C
ompetências dos sindi-
catos, no sistema dual
alemão
Os sindicatos estão en-
volvidos em todos os níveis da
formação profissional. Os pro-
gramas de aprendizagem não
são criados sem o consenso dos
sindicatos. Próximos das neces-
sidades das empresas, os sindi-
catos desempenham um papel
fundamental para garantir, a lon-
go prazo, o desenvolvimento das
competências dos trabalhadores
e melhorar a qualidade da forma-
dadeobrigatóriapara12anos.Mais
do que proporcionar aos jovens as
ferramentas, as competências e
as qualificações necessárias para
uma melhor inserção no merca-
do de trabalho, estes cursos, por
opção do Governo, estão a ser
infelizmente (quase) a única so-
lução encontrada no combate ao
abandono e insucesso escolares.
Os alunos com dificuldades de
aprendizagem e em risco de insu-
cesso ou abandono escolar estão
a ser massivamente “empurra-
dos” para este tipo de cursos. A
formação vocacional e profis-
sional sai desvalorizada e nada
dignificada perante este tipo de
enquadramento, mantendo-se as
portas abertas para a continui-
dade das baixas qualificações
académicas e profissionalizantes,
para o agravamento das discrimi-
nações sociais, para a exclusão
escolar e para uma ainda maior
elitização do ensino.
Contratos de trabalho para
formandos
Tal como acontece na Alemanha,
mas com as devidas adaptações
à realidade concreta do nosso
País, seria muito importante que
os formandos portugueses cele-
brassem um contrato de forma-
ção profissional com a empresa
onde estão a estagiar. Um contra-
to que estipulasse os direitos e os
deveres de ambas as partes e que
fosse obrigatoriamente negocia-
do com os sindicatos do respetivo
setor de atividade.
ção com formadores qualificados.
Enquanto sindicatos, cabe-nos a
responsabilidade de desenvol-
ver propostas para a criação de
novos programas de aprendiza-
gem e para a atualização dos já
existentes, de colaborar com os
comités de auditoria das Câmaras
de Comércio, e de negociar os con-
tratos coletivos. No geral, o nosso
empenho sindical proporciona aos
trabalhadores novas perspeti-
vas de carreira, que possibilitam
um intercâmbio entre profissões,
empresas e setores, e as condi-
ções necessárias para definir as
próprias condições de trabalho e
de vida orientadas para o futuro.
O envolvimento das empresas
na formação
A constante transformação do
mundo laboral exige cada vez
mais dos trabalhadores. A DGB
está convicta de que uma for-
mação profissional dual sólida e
abrangente, com programas de
aprendizagem modernos, é a me-
lhor forma de lidar com a transfor-
mação no mundo laboral, baixar a
taxa de desemprego jovem e al-
cançar elevadas quotas transitó-
rias no mercado de trabalho. Ve-
mos, portanto, o grande empenho
das nossas empresas a nível de
formação como um pilar para o re-
forço da economia global.
OS SINDICATOS
Disparidades sindicais no contexto da formação
ensinoDUAL
CÁ
LÁ
31
Luís Pinto
Jónio Reis
Técnico de Gestão Administrati-
va, ex-formando português
Plant manager da Bosch Securi-
ty Systems, Portugal, empresa
formadora
C
omo poderão beneficiar
os formandos portu-
gueses?
Se for ministrado com o
devido grau de rigor e exigência,
os formandos acabarão os seus
cursos prontos para enfrentar
o mercado de trabalho. Estarão
mais conscientes das suas tarefas
a nível prático e acostumados às
exigências e responsabilidades do
mercado de trabalho. E isso repre-
senta uma vantagem competitiva,
mesmo em relação aos indivíduos
que terminam as suas licencia-
D
e que modo beneficia-
rão as empresas portu-
guesas?
Numa economia cada
vez mais global, sobretudo na
indústria, onde as diferenças nos
processos de fabrico não são
significativas à escala mundial,
a qualidade dos Recursos Hu-
manos fazem toda a diferença
na eficiência e na qualidade das
unidades industriais.
Apesar de o grau de formação
base dos novos colaboradores
ter aumentado significativamen-
te, melhorando os níveis de lite-
racia e capacidade de aprendiza-
gem, continuamos, em Portugal,
com muitas carências ao nível
dos quadros médios (Técnicos).
O que dizem os portugueses
turas. Os empresários procuram
pessoas adaptadas às exigências
do mercado, não só no plano teó-
rico mas também ao nível da pre-
paração psicológica para lidar com
as responsabilidades inerentes à
função. Normalmente, se o curso
tiver o grau de exigência necessá-
rio e o formando estiver à altura
do desafio, de uma forma natu-
ral, a empresa em que o estágio é
realizado tentará que o formando
em quem investiu seja contratado.
Por outro lado, durante o estágio,
o formando estará em contac-
to com o mercado, fornecedores
e clientes da firma, tendo assim
acesso a mais oportunidades de
emprego do que aqueles que ain-
da não tiveram qualquer contacto
com o mercado de trabalho.
Penso que, em Portugal, define-
-se como objetivo a obtenção de
uma licenciatura, o que é ma-
nifestamente pouco. O objetivo
deve ser a entrada no mercado
de trabalho porque ter só uma li-
cenciatura não paga contas. Para
que tal aconteça, a via dual é, de
facto, mais eficiente e não impe-
de que, no futuro, caso o interes-
se se mantenha, se obtenha uma
licenciatura. Com certeza que na
altura, após estar já integrado no
mercado de trabalho, tal consti-
tuirá uma nova mais-valia e novo
fator de diferenciação.
“O objetivo deve
ser a entrada no
mercado de trabalho
porque ter só uma
licenciatura não
paga contas.”
“As empresas
[beneficiam]
de um retorno
quase imediato
do investimento
realizado.”
O ensino dual vem, de certa for-
ma, mitigar esta carência enor-
me que o nosso País possui em
relação à formação técnico-
-profissional. Ao aliar a forma-
ção teórica à prática, o ensino
dual permite, para além de for-
mar jovens tecnicamente capa-
zes, reduzir consideravelmente
o tempo de integração nas or-
ganizações, o que faz com que
as empresas beneficiem de um
retorno quase imediato do in-
vestimento realizado. Uma vez
que grande parte da formação
ocorre nas instalações da pró-
pria empresa, a identificação do
formando com os seus valores
e princípios acontece de forma
quase espontânea.

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Aprender Magazine - Edição n.º 3

  • 1. 2 JUNHO/JULHO 2015 EDITORIAL Sei que nada sei Luís Pedro Costa Santos Coordenador Editorial AAlemanha é um dos países industrializados mais desenvolvidos e competitivos do mundo e detém o maior e mais importante mercado da União Europeia. Seria de su- porqueosucessodasuaeconomiaremetesseparaumaprofusãodecircuitos,chipseau- tomatismosequeessarealidadetecnológicaestivessedecertomodoinculcadanomodo desergermânico.Nãoéoqueacontece.Osucessodaeconomiaalemãdependedaspes- soas e, em grande parte, do trabalho que estas desenvolvem artesanalmente. A inter- venção pessoal continua a constituir um fator predominante da produção daquele país, um saber-fazer que, à boa maneira heideggeriana, não remete meramente para questões de ordem económica, mas para uma atitude fundamental do ser humano, de amplitude histórica, implícita no seu próprio modo de ser. Ou seja, assume-se que as pessoas serão, em grande parte, as suas profissões, e isso faz com que as empresas surjam, neste con- texto, como espaços de realização que, através da prática, determinam os modos de ser daquelesquenelasdesempenhamfunções.Assuasinstalaçõesserão,porisso,locaispri- vilegiados para a aprendizagem – é pelo menos o que apregoam os partidários do ensino dual alemão. Terão, porventura, razão. Ouvi um dia de um professor que “o conhecimento oscila entre dois sentidos: o fraco, como informação ou representação, e o forte, como participação ou realização”. Com efeito, ainda que o conhecimento, alicerçado na vida mental, possa ter um sentido meramente informativo ou representativo, encerra em si uma inalienável componen- te participativa, enquanto consciência realizante, que ambiciona a experiência inte- gral. Nós somo-nos fazendo. Somo-nos fazendo
  • 3. 19 Ensino Dual Formação teórica e prática em prol da produtividade
  • 4. 20 reportagem JUNHO/JULHO 2015 Ensino dual: Quando as empresas pagam aos jovens para estudar ensinoDUAL ©DR
  • 5. 21 B olas e mais bolas (as de Berlim, entenda-se), pães, croissants, e outras tantas iguarias pousam, mas não repousam (que não as deixam) nas vitrines de uma tra- dicional pastelaria berlinense. Estão ainda quentes, acabadi- nhas de sair de um forno que se encontra não se sabe muito bem onde, mas que se adivinha próxi- mo pelo agradável cheiro a pão quente. Johann Mayer, pastelei- ro e proprietário do estabeleci- mento, confirma que tudo o que ali se vê é confecionado por si e pelo seu staff – quatro colabora- dores ao todo, dois deles apren- dizes ainda em formação. Como pasteleiro mestre, é o próprio que assegura grande parte da forma- ção que eles recebem. Os outros dois são oficiais (é assim que lhes chamam na Alemanha) – têm já uma certificação profissional que adquiriram também na empresa após terminarem os seus cursos. A pastelaria do Sr. Mayer é uma das 450 000 empresas alemãs que estão qualificadas para dar formação através do sistema dual de ensino. Deste número, fazem parte pequenas empresas familiares, mas também outras de muito maior dimensão, como a Trainico, que atua na área da Aviação e que assume, entre outras, a formação dos apren- dizes da transportadora aérea Lufthansa. Independentemente da dimensão, a certificação é muito bem vista socialmente, dá mais estatuto, e demonstra que a em- presa é sólida e capaz. O sistema de ensino dual está profundamente enraizado na so- ciedade e cultura alemãs e não sofre contestação por parte de quaisquer partidos políticos, que veem nele um esteio para o su- cesso da sua economia, e a razão mais forte para uma das mais baixas taxas de desemprego jo- vem na União Europeia (cerca de 7%). Portugal (com os seus 34%) é um dos países que estuda aten- Na Alemanha, a taxa de desemprego jovem é uma das mais baixas da União Europeia. Muitos creem que o sistema dual contribui fortemente para a situação. Portugal é um dos países que estuda atentamente o modelo e que tenta, aos poucos, implementá-lo. Coordenador Editorial Luís Pedro Costa Santos tamente o modelo e tenta, aos poucos, implementá-lo. O que é afinal o ensino dual? Segundo a UNESCO, o sistema dual de ensino “é assim designa- do por combinar num só curso a aprendizagem no seio de uma empresa e o ensino profissio- nal numa escola vocacional”. Na Alemanha, por ex., 25% do tem- po total de formação é dedicado à instrução teórica em contexto escolar; os restantes 75% são Centro de formação, Trainico ©DR©DR
  • 6. 22 reportagem JUNHO/JULHO 2015 ensinoDUAL aplicados no reforço dos conhe- cimentos, através de um período de prática em contexto laboral. Experiências em países como Áustria, Dinamarca e Alemanha revelam que a forte componente prática dos cursos permite uma aproximação dos conteúdos pro- gramáticos às reais necessidades do mercado. Isto porque, no sistema dual, as empresas não são apenas for- madoras, intervêm ativamente – em estreita colaboração com Câmaras de Comércio, Sindicatos, e Estado Federal – na formulação e/ou atualização dos conteúdos programáticos. Por outro lado, a transferência de competências alivia algumas responsabilidades (e despesas) do Estado que, sem perder estatuto, se dedica quase exclusivamente a um trabalho de supervisão. Empresas investem 24 mil mi- lhões de euros em formação to- dos os anos Não é certamente por altruísmo que as empresas alemãs des- pendem todos os anos cerca de 24 mil milhões de euros em for- mação, contra os 5,7 mil milhões investidos pelo Estado. Fazem- -no porque é vantajoso. Segundo Thomas Giessler, chefe de Unida- de da Confederação dos Sindica- tos Alemães (DGB), “as empresas investem uma média anual de aproximadamente 15 300 euros por formando, estimando-se que obtenham, logo no primeiro ano, um retorno equivalente a 75% desse investimento”. Por outro lado, ao receberem for- mação ajustada à realidade do mercado de trabalho em que pre- tendem ingressar, os jovens têm mais facilidade em obter empre- go – o que ocorre em 95% dos ca- sos, sendo que, desses, 66% aca- bam por permanecer na mesma empresa que lhes dá formação. Nas pontuais ocasiões em que o Estado assume o papel de for- mador – nomeadamente quando não existem empresas disponí- veis para ministrar os cursos –, os níveis de empregabilidade bai- xam consideravelmente. Ilona Medrikat, gestora de Pro- jeto do Instituto Federal para a Cooperação Internacional na Educação e Formação Vocacio- nal (GOVET), justifica a situação com o desajuste entre as reais necessidades do mercado e os cursos que são criados: “A ver- dade é que, sem empresas, não há emprego. Se queremos inte- grar jovens nas empresas, temos forçosamente de atentar à reali- dade destas, às suas necessida- des. Caso contrário, as pessoas continuarão desempregadas, in- dependentemente de serem ou não formadas”. Elísio Silva, da Câmara de Comér- cio e Indústria Luso-Alemã, con- corda com a análise, e considera que esse desajuste estará, por- ventura, na origem da maioria dos problemas da formação no nosso País: “Em Portugal, apesar ©DR
  • 7. 23 de termos setores que eviden- ciam uma taxa de desemprego al- tíssima, as empresas continuam a ter uma enorme dificuldade em recrutar. Em sentido contrário, sabe-se que os Estados em que existe uma interação fortemente institucionalizada entre o sistema educativo e o mercado de traba- lho apresentam níveis singular- mente baixos de desemprego”. Como funciona, para o formando? Os cursos duram entre três e três anos e meio, e como grande parte da formação ocorre nas instala- ções das empresas em contexto de produção, os formandos têm direito a uma remuneração, que poderá oscilar entre os 270 euros de um aprendiz de cabeleireiro, e os 800 euros de um pedreiro. Por norma, a remuneração aumenta nos anos subsequentes, poden- do, no caso do último, atingir os 2000 euros líquidos. Antes, porém, o jovem tem de encontrar uma empresa que se disponha a dar-lhe formação. Na Alemanha, as candidaturas são feitas através do preenchimento de formulários que são disponi- bilizados nos sites das empre- sas, ou através do envio direto de currículos. Em média, um ano é o tempo que demora a obter uma resposta positiva, mas os mais afortunados conseguem-na em cerca de seis meses. Ultrapassada a fase de seleção, que é baseada na análise do perfil e das notas escolares dos can- didatos, os jovens assinam um contrato de formação (bastante próximo do nosso contrato de trabalho) que os integra ativa- mente nos quadros das empre- sas. O contrato é vinculativo para ambas as partes e garante, entre outras coisas, a defesa dos di- reitos dos jovens por parte dos sindicatos. No período em que recebem for- mação, os aprendizes dividem o tempo entre escolas vocacionais e instalações de empresas, ad- quirindo conhecimentos teóricos e competências técnicas. Findos os três anos de formação, realiza-se um exame final es- pecífico para cada uma das 329 profissões, que testa os conhe- cimentos entretanto adquiridos. Se passar no exame, o forman- do completará ainda um período adicional de estágio que durará cerca de quatro meses, após o qual obterá uma certificação, re- conhecida a nível nacional (que, ao contrário do que acontece com a oferta profissionalizante portuguesa, não tem equivalên- cia escolar). Dada a elevada taxa de empregabilidade do sistema – que ronda os 95% – dificilmen- te se verá, o agora oficial, con- frontado com uma situação de desemprego. Comunidade Empresarial, Par- ceiros Sociais e Estado, quem faz o quê? Segundo Steffen Bayer, presiden- te da Associação das Câmaras de Comércio e Indústria alemãs, o sucesso do sistema dual “depende de um permanente acerto entre as necessidades do mercado e a formação que é aplicada nas e pelas empresas”. A estrutura que o suporta deve, por essa razão, manter-se sensível às volubili- dades e transformações do mer- cado, sendo que Câmaras de Co- mércio, Sindicatos, e Estado, cada qual à sua maneira, convergem esforços para que tal aconteça. Qual é, então, o papel de cada um dos intervenientes? As Câmaras de Comércio (80, em território alemão) aconselham e certificam as empresas, ajudam- -nas a procurar aprendizes, su- pervisionam a qualidade das ins- talações e da formação, instruem formadores, registam contratos, e organizam exames. Os Sindica- tos (que, na Alemanha, não têm Alunos em formação, ABB Empresas “intervêm ativamente na formulação e/ou atualização dos conteúdos programáticos”. ©DR
  • 8. 24 reportagem JUNHO/JULHO 2015 orientação política) negoceiam os contratos coletivos, resolvem conflitos, participam na criação dos conteúdos programáticos, e desenvolvem propostas para a criação de novos programas e atualização dos já existentes. O Estado, para além de super- visionar o sistema, e de ter a última palavra no que respeita ao que deve ou não ser feito, corrigido ou aperfeiçoado, fi- nancia uma contínua investiga- ção, apoia os desempregados, os desfavorecidos e os menos capacitados, facilitando a sua incursão no sistema dual, infor- mando ainda a opinião pública acerca da importância e real im- pacto que o sistema dual tem na sua economia. Ainda que Steffen Bayer garanta que o sistema funciona em pleno e que todas as partes envolvi- das estão plenamente satisfei- tas, interessa perceber até que ponto o sistema dual não estará a dissuadir muitos dos jovens de prosseguir estudos no en- sino superior – a percentagem de diplomados jovens registada na Alemanha situa-se na ordem dos 29%, distantes dos 40% pro- postos pelos Estados-membros da União Europeia para 2020. Thomas Giessler, não conside- ra a questão problemática, até porque, revela, os sindicatos lutam atualmente para que al- guns cursos do ensino dual te- nham equivalência aos do ensi- no superior. Por cá, o problema parece ser outro, bem mais profundo. O ensino profissionalizante con- tinua a ser visto como uma op- ção de segunda para os que não querem ou não podem prosse- guir estudos na universidade, e uma alternativa para alunos problemáticos, que agora têm de permanecer nas escolas até atingirem a maioridade. Partindo do princípio de que, devido às circunstâncias econó- micas e até culturais do próprio País, será de todo impossível – pelo menos para já – replicar o modelo em Portugal, interessa olhar para a experiência alemã e atentar ao modo como cada pessoa sente orgulho em apren- der uma profissão, e como esse orgulho se projeta no respeito pela profissão do próximo. Há uma verdadeira noção de bem- -comum, e essa será, porven- tura, uma diferença ideológica, mais do que estrutural. Regressados à padaria do Sr. Mayer, somos conduzidos a um pequeno anexo que serve de es- critório. Sorridente, o mestre pas- teleiro aponta para quatro cer- tificados enfileirados na parede: “Aquele é o do meu bisavô, os seguintes são os do meu avô, do meu pai e o meu. O meu filho já me pediu espaço para o dele. Disse- -lhe que não se preocupasse que o dele virá já em CD-ROM’”. Viagem a Berlim, a convite da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã Johann Mayer, pasteleiro mestre “Os aprendizes dividem o tempo entre escolas vocacionais e instalações de empresas, adquirindo conhecimentos teóricos e competências técnicas.” ensinoDUAL ©DR
  • 9. 25 S usana Schott tomou con- tacto com o ensino dual numa feira sobre educação e formação. A experiência universitária na área do design grá- fico não correspondera às suas ex- S ebastian Mehnke vem de Brandemburgo, e estuda para operador de eletró- nica na ABB. Após o Abitur (exame que, na Alemanha, con- clui o ensino secundário), Sebas- tian estava indeciso entre seguir o ensino superior, para estudar engenharia de máquinas, ou fa- zer uma formação profissional de tipo dual. Acabou por optar pela segunda porque, diz, “na universi- dade não me pagam para estudar”. Frequenta o terceiro ano do curso e especializa-se, neste momento, em interruptores de alta tensão. Está muito satisfeito com a expe- riência, principalmente pelo facto de a aprendizagem ser maiorita- riamente em contexto laboral. Depois de terminar o curso, pre- tende trabalhar um ano “para ga- nhar mais algum dinheiro”, após o que decidirá se seguirá ou não um curso universitário. O caso da ABB A ABB é uma empresa formadora. Conta com cerca de 10 000 funcionários nosseusquadroseestárepresentadaemaproximadamentecempaíses.95% das pessoas que recebem formação nas suas instalações têm contratos com outras empresas. Seguem-se os testemunhos de dois dos seus formandos. pectativas. A exigência era elevada e muitos dos colegas que termina- vam o curso acabavam no desem- prego por falta de experiência prá- tica–queasempresasvalorizavam mais. Decidiu procurar alternativas. A área da eletrónica despertou- -lhe interesse, pelo que decidiu enviar currículos e candidatar-se a uma vaga de formação através do preenchimento de formulários nas páginas web de algumas empre- sas. Passados seis meses, assinou um contrato de formação com a Guhring,umaempresadefabricode ferramentasdeconstruçãoeiniciou o seu percurso de aprendizagem na ABB, uma empresa formadora da área da energia e automação. Ain- da no primeiro ano do curso, diz-se muito feliz e nada arrependida da decisão que tomou. Susana Schott, 25 anos Sebastian Mehnke, 23 anos ©DR
  • 10. 26 JUNHO/JULHO 2015 ENTREVISTA ensinoDUAL A prender Magazine (AM): Como contribui o siste- ma dual para o sucesso da economia alemã? Ilona Medrikat (IM): Na econo- mia alemã, mais de 50% dos trabalhadores são formados através do ensino profissional dual. E estudos revelam que, até 2030, a economia alemã necessitará de cerca de 51% de trabalhadores com formação dual, e apenas de 19-23% com estudos académicos. Na Alemanha, as empresas en- volvidas no sistema de forma- ção dual ajudam a desenvolver padrões de formação, o que garante uma qualificação dire- cionada para as necessidades e não para o mercado de tra- balho. Através da aprendiza- gem em contexto de trabalho, as empresas têm a garantia de que obtêm profissionais com o know-how de que necessitam. Procede-se assim à formação de mão de obra qualificada com competências vocacionais e, consequentemente, competên- cias técnicas, metodológicas e sociais. Desse modo aumenta a produtividade, a qualidade de serviços e produtos e, a médio prazo, são gerados rendimen- tos cada vez mais elevados. AM: Angela Merkel declarou que o mercado interno europeu aca- bará por se converter num mer- cado de trabalho único. Como poderá o ensino dual contribuir para essa situação? IM: Na Europa, o estabeleci- mento de um mercado inter- no europeu comum favorece a mobilidade de mão de obra e requer um reconhecimento mú- tuo de qualificações de diferen- tes nacionalidades, bem como a integração de competências in- terculturais no campo educativo e formativo. O processo político da cooperação europeia implica uma forma específica de inter- nacionalização, que pode ser Mercado de traba realidade ou designada de “europeização” da formação profissional e que assenta em princípios comuns e na vontade de cooperação pri- vilegiada dentro da UE. A inte- gração europeia não é apenas um compromisso político mas também um importante fator de crescimento económico dos países envolvidos e um objetivo permanente da cooperação eu- ropeia. Neste contexto, o modelo de formação dual constitui uma contribuição para o debate so- bre reformas nos sistemas de formação profissional na Euro- pa com o objetivo de introduzir formação de alta qualidade que, em primeiro lugar, proporcio- na aos jovens perspetivas de futuro no plano profissional e pessoal, em segundo lugar, cria trabalhadores qualificados para a indústria e o artesana- to com qualificações das quais o mercado tem carência e, em terceiro lugar, proporciona uma competitividade permanente na Europa. Com a criação de um espaço educativo europeu a mobilidade no mercado de tra- balho europeu poderá tornar-se mais simples. AM: No seu entender, até que ponto é importante envolver as empresas no processo formativo? IM: O envolvimento das empre- sas é um dos elementos essen- ciais do sistema dual. A partici- pação das partes interessadas e dos beneficiários da formação profissional, designadamente de diversos ramos, bem como de representantes de associações, empresas e sindicatos, garante que os diversos interesses sejam representados e que reflitam o compromisso das várias partes.
  • 11. 27 Angela Merkel acredita que o mercado interno europeu acabará por se converter num mercado de trabalho único. À conversa com Ilona Medrikat, tentámos perceber que papel poderá ter o ensino dual no contexto de uma “europeização” da formação profissional. gestora de Projeto do Instituto Federal para a Cooperação Internacional na Educação e Formação Vocacional (GOVET) Ilona Medrikat lho único: miragem? Isso assegura a aceitação neces- sária das soluções encontradas e – particularmente importante – um compromisso dos interve- nientes relevantes. O envolvimento de organiza- ções empresariais e empresas, bem como a transferência de competências do Estado para o setor privado, garantem que a formação profissional possa ser implementada de forma al- tamente vantajosa do ponto de vista económico para o Estado. Se as empresas não estivessem envolvidas neste processo, o Estado teria de gastar pelo me- nos o triplo. Para escolas a tem- po inteiro, cujos programas não incluem a formação profissio- nal, os custos são quase multi- plicados por dez, uma vez que estas não incluem desempenho produtivo. Assim sendo, o sistema de forma- ção dual é uma triple win situation para empresas, aprendizes e Estado.
  • 12. 28 JUNHO/JULHO 2015 ENTREVISTA ensinoDUAL A prender Magazine (AM): Os cursos da DUAL em Portugal são estrutura- dos de modo semelhan- te aos ministrados na Alemanha? Elísio Silva (ES): Os cursos rea- lizados pela DUAL assentam no princípio do sistema dual alemão, permitindo que os conhecimen- tos adquiridos em sala sejam ci- mentados e testados na prática, ao longo da qualificação. Desta forma, os formandos adquirirem as competências e os conheci- mentos necessários ao desem- penho de uma profissão, prepa- rando-se para desempenhar uma carreira profissional de sucesso, sem excluir a possibilidade de continuar os seus estudos no en- sino superior. Uma das principais diferenças entre os cursos realizados em Portugal e na Alemanha, está na relação entre o tempo que os formandos passam nas empre- sas e no Centro de Formação. Enquanto que, na Alemanha, os formandos passam cerca de 75% DUAL significa participação ativa das empresas na formação Em Portugal, há cursos que seguem o modelo dual alemão. Elísio Silva, diretor da DUAL Qualificação Profissional, garante que a experiência é positiva tanto para empresas, que formam trabalhadores à medida das suas necessidades, como para jovens, que recebem uma formação ajustada à realidade do mundo do trabalho. do tempo nas empresas, em Por- tugal, na maioria dos cursos, essa percentagem é de aproximada- mente 45%. AM: No futuro será possível pensar na aplicabilidade do sis- tema dual alemão à realidade portuguesa? ES: Sim, na minha opinião, será possível adaptar o sistema à rea- lidade portuguesa. Ainda que isso não signifique a sua “importação”, mas antes uma adaptação ao contexto do nosso País. AM: Até que ponto considera im- portante haver um envolvimento ativo das empresas na formação dos seus colaboradores? ES: O envolvimento das empresas na formação dos seus colabora- dores é fundamental e decisivo. São as empresas que melhor sa- bem identificar as suas próprias necessidades, e são também elas que possuem os conhecimentos e equipamentos específicos para o desempenho das suas ativi- dades. Na minha opinião, é nas empresas que a formação poderá atingir os melhores resultados. AM: E é importante incentivar um envolvimento dos jovens, neste contexto? ES: Sim. É muito importante que as empresas se envolvam na formação dos jovens, de modo a que estes possam beneficiar de uma formação prática e téc- nica em contexto real de traba- lho. Isso facilita bastante a sua integração. AM: Como tem sido a experiência da DUAL em Portugal? ES: Desde a sua fundação, já pas- saram pela DUAL cerca de 20 000 formandos, nas várias modalidades de formação. Naformaçãoinicialdejovens,temos registado taxas de empregabilidade na ordem dos 90%, seis meses após a conclusão dos cursos. Consideramos, por isso, que a ex- periência tem sido francamente positiva. Coordenador Editorial Luís Pedro Costa Santos
  • 13. 29 A plicabilidade do siste- ma alemão à realidade portuguesa O sistema dual alemão pode servir de inspiração para melhoria do sistema de educa- ção e formação português mas não poderá ser replicado para o contexto nacional, pois a reali- dade do tecido empresarial por- tuguês não é comparável com a alemã. As empresas portugue- sas não têm a mesma tradição nem capacidade de investimen- to na formação dos jovens, tal como sucede na Alemanha. Em todo o caso, o sistema dual alemão pode e tem sido ins- pirador de algumas mudanças que iniciámos em Portugal de reforço da componente de for- mação em contexto de trabalho. Foi isso que fizemos nos cursos profissionais e que procurámos implementar, desde que foram A qualificação é determi- nante para a competiti- vidade das empresas, no sentido em que traba- lhadores mais qualificados possi- bilitam ganhos de produtividade e de adaptação a contextos de mu- dança, bem como, à mobilidade profissional. Este é ainda um importante fator de desenvolvimento pessoal e de criação de modelos sociais coe- sos, ao incentivar os percursos de aprendizagem ao longo da vida, Gonçalo Xufre Octávio de Oliveira Presidente do Conselho Diretivo da ANQEP Secretário de Estado do Emprego criados, nos cursos vocacionais. Mas, é importante que tenha- mos consciência de que não bas- ta prolongar os tempos da for- mação em contexto de trabalho. É necessário que essa formação esteja associada à obtenção de resultados de aprendizagem re- levantes para a própria empresa. Caso contrário, será apenas mais horas na empresa. Vantagens e desvantagens do sistema alemão Uma vantagem evidente está na aproximação que se cria entre as instituições de ensino e as empre- sas e na facilidade que essa apro- ximação gera na concretização da formação em contexto real de tra- balho (que é uma das mais-valias dos cursos profissionalizantes e uma exigência para que possam funcionar). Uma desvantagem prende-se com uma especificidade do mode- lo alemão que prepara os jovens sem que estes adquiram qualquer certificação académica, dificultan- do-lhes o ingresso em percursos de qualificação subsequentes ou o domínio de competências mais estruturantes do ponto de vista sociocultural. Em Portugal isso não sucede. Qualquer curso pro- fissional confere uma certificação que tem associado um grau aca- démico. Portanto, nada impede os jovens de prosseguirem estudos, tal como sucederia caso tivessem enveredado por um curso unica- mente vocacionado para o acesso ao ensino superior. Aliás, esta é uma vantagem do modelo portu- guês que tem interessando bas- tante aos governantes alemães. Deste ponto de vista, o modelo existente em Portugal é mais res- peitador dos princípios da apren- dizagem ao longo da vida. APRENDIZAGEM, da Alternância ao DUAL Modelo português tem a vantagem da equivalência escolar contribuindo igualmente para a re- dução dos riscos de exclusão social e de segmentação do mercado de trabalho. É neste quadro em que se promo- vem os cursos de aprendizagem dual – conferindo dupla certifica- ção, escolar e profissional –, cria- dos em 1984, e geridos pelo IEFP, dada as suas características de for- te ligação às empresas, atendendo à sua grande componente prática em posto de trabalho desenvolvida nas empresas, em alternância com a formação teórica em sala, per- mitindo, assim, que os formandos, logo desde o início, aprendam a integrarem-se no sistema produti- vo e na organização de trabalho de uma empresa. Neste contexto, esta modalidade de formação – Aprendizagem Dual – é a que mais se aproxima do mo- delo de formação dual alemão, e tem sido vital, desde 1984, para a formação de técnicos qualificados, muito em especial em áreas profis- sionais ligadas à atividade indus- trial,comoaeletrónica,automação, pneumática, robótica, metalurgia e metalomecânica, mecatrónica ou eletromecânica.
  • 14. 30 JUNHO/JULHO 2015 contributos Thomas Giessler Anabela Sotaia Chefe de Unidade da Confede- ração dos Sindicatos Alemães- DGB (Associação Sindical Alemã) Representante do Sindicato de Professores da Região Centro, CGTP (Associação Sindical Portuguesa) Na Alemanha, os sindicatos representam os jovens formandos e participam ativamente na elaboração e atualização dos conteúdos programáticos dos cursos. Em Portugal, os sindicatos são ainda parte silente do processo formativo. P articipação ativa dos sin- dicatos na formação A opinião dos sindicatos deveria ser tida em con- ta, através de pedidos de parecer ou de audiências, por exemplo, na definição dos programas e dos currículos de todos os cursos que tenham uma componente de for- mação em contexto de trabalho. A realidade portuguesa Em termos gerais a oferta de cursos profissionais nas escolas básicas e secundárias da rede pú- blica aumentou exponencialmente nos últimos anos, em grande parte devido ao alargamento da escolari- C ompetências dos sindi- catos, no sistema dual alemão Os sindicatos estão en- volvidos em todos os níveis da formação profissional. Os pro- gramas de aprendizagem não são criados sem o consenso dos sindicatos. Próximos das neces- sidades das empresas, os sindi- catos desempenham um papel fundamental para garantir, a lon- go prazo, o desenvolvimento das competências dos trabalhadores e melhorar a qualidade da forma- dadeobrigatóriapara12anos.Mais do que proporcionar aos jovens as ferramentas, as competências e as qualificações necessárias para uma melhor inserção no merca- do de trabalho, estes cursos, por opção do Governo, estão a ser infelizmente (quase) a única so- lução encontrada no combate ao abandono e insucesso escolares. Os alunos com dificuldades de aprendizagem e em risco de insu- cesso ou abandono escolar estão a ser massivamente “empurra- dos” para este tipo de cursos. A formação vocacional e profis- sional sai desvalorizada e nada dignificada perante este tipo de enquadramento, mantendo-se as portas abertas para a continui- dade das baixas qualificações académicas e profissionalizantes, para o agravamento das discrimi- nações sociais, para a exclusão escolar e para uma ainda maior elitização do ensino. Contratos de trabalho para formandos Tal como acontece na Alemanha, mas com as devidas adaptações à realidade concreta do nosso País, seria muito importante que os formandos portugueses cele- brassem um contrato de forma- ção profissional com a empresa onde estão a estagiar. Um contra- to que estipulasse os direitos e os deveres de ambas as partes e que fosse obrigatoriamente negocia- do com os sindicatos do respetivo setor de atividade. ção com formadores qualificados. Enquanto sindicatos, cabe-nos a responsabilidade de desenvol- ver propostas para a criação de novos programas de aprendiza- gem e para a atualização dos já existentes, de colaborar com os comités de auditoria das Câmaras de Comércio, e de negociar os con- tratos coletivos. No geral, o nosso empenho sindical proporciona aos trabalhadores novas perspeti- vas de carreira, que possibilitam um intercâmbio entre profissões, empresas e setores, e as condi- ções necessárias para definir as próprias condições de trabalho e de vida orientadas para o futuro. O envolvimento das empresas na formação A constante transformação do mundo laboral exige cada vez mais dos trabalhadores. A DGB está convicta de que uma for- mação profissional dual sólida e abrangente, com programas de aprendizagem modernos, é a me- lhor forma de lidar com a transfor- mação no mundo laboral, baixar a taxa de desemprego jovem e al- cançar elevadas quotas transitó- rias no mercado de trabalho. Ve- mos, portanto, o grande empenho das nossas empresas a nível de formação como um pilar para o re- forço da economia global. OS SINDICATOS Disparidades sindicais no contexto da formação ensinoDUAL CÁ LÁ
  • 15. 31 Luís Pinto Jónio Reis Técnico de Gestão Administrati- va, ex-formando português Plant manager da Bosch Securi- ty Systems, Portugal, empresa formadora C omo poderão beneficiar os formandos portu- gueses? Se for ministrado com o devido grau de rigor e exigência, os formandos acabarão os seus cursos prontos para enfrentar o mercado de trabalho. Estarão mais conscientes das suas tarefas a nível prático e acostumados às exigências e responsabilidades do mercado de trabalho. E isso repre- senta uma vantagem competitiva, mesmo em relação aos indivíduos que terminam as suas licencia- D e que modo beneficia- rão as empresas portu- guesas? Numa economia cada vez mais global, sobretudo na indústria, onde as diferenças nos processos de fabrico não são significativas à escala mundial, a qualidade dos Recursos Hu- manos fazem toda a diferença na eficiência e na qualidade das unidades industriais. Apesar de o grau de formação base dos novos colaboradores ter aumentado significativamen- te, melhorando os níveis de lite- racia e capacidade de aprendiza- gem, continuamos, em Portugal, com muitas carências ao nível dos quadros médios (Técnicos). O que dizem os portugueses turas. Os empresários procuram pessoas adaptadas às exigências do mercado, não só no plano teó- rico mas também ao nível da pre- paração psicológica para lidar com as responsabilidades inerentes à função. Normalmente, se o curso tiver o grau de exigência necessá- rio e o formando estiver à altura do desafio, de uma forma natu- ral, a empresa em que o estágio é realizado tentará que o formando em quem investiu seja contratado. Por outro lado, durante o estágio, o formando estará em contac- to com o mercado, fornecedores e clientes da firma, tendo assim acesso a mais oportunidades de emprego do que aqueles que ain- da não tiveram qualquer contacto com o mercado de trabalho. Penso que, em Portugal, define- -se como objetivo a obtenção de uma licenciatura, o que é ma- nifestamente pouco. O objetivo deve ser a entrada no mercado de trabalho porque ter só uma li- cenciatura não paga contas. Para que tal aconteça, a via dual é, de facto, mais eficiente e não impe- de que, no futuro, caso o interes- se se mantenha, se obtenha uma licenciatura. Com certeza que na altura, após estar já integrado no mercado de trabalho, tal consti- tuirá uma nova mais-valia e novo fator de diferenciação. “O objetivo deve ser a entrada no mercado de trabalho porque ter só uma licenciatura não paga contas.” “As empresas [beneficiam] de um retorno quase imediato do investimento realizado.” O ensino dual vem, de certa for- ma, mitigar esta carência enor- me que o nosso País possui em relação à formação técnico- -profissional. Ao aliar a forma- ção teórica à prática, o ensino dual permite, para além de for- mar jovens tecnicamente capa- zes, reduzir consideravelmente o tempo de integração nas or- ganizações, o que faz com que as empresas beneficiem de um retorno quase imediato do in- vestimento realizado. Uma vez que grande parte da formação ocorre nas instalações da pró- pria empresa, a identificação do formando com os seus valores e princípios acontece de forma quase espontânea.