1. EPISTEMOLOGIA DA COMPLEXIDADE
Durante o intervalo do almoço eu tinha dois problemas a serem
resolvidos, um resolvi o outro não. Isto enquanto comia (3º
problema), porque ao mesmo tempo tinha fome (4º problema).
Aquele que resolvi foi graças as anotações que havia feito dado ao
objetivo deste problema que era rever as anotações feitas sobre as
intervenções desta manhã, ou seja, após participar de colóquios,
debates, mas todos me interessavam.
2. Mal entendidos:
1º tipo de mal-entendido: a ideia que fazem de mim, a de uma mente que
se pretende sintética, que tira do bolso dizendo: “Eis o que é preciso
adorar, queimem as antigas tábuas da Lei”;
outros me veem como “Mercador de sínteses integrativas”; outros, ainda
como “apologista da desordem”;
2º tipo de mal-entendido : “sobre a Velocidade” dos meus escritos e da
leitura dos meus leitores que causa mal-entendidos; a eles devo
explicações e reconhecer certos pontos que entendem cegos a serem
melhor esclarecidos ou, por que não, corrigidos?!
Um exemplo: na política eu era de direita e de esquerda ao mesmo tempo,
pois sou muito sensível aos problemas das liberdades, dos direitos do
homem, das transições não violentas; da esquerda no sentido que as
relações humanas e sociais poderiam e deveriam mudar em profundidade.
Me rotulavam de “confuso”.
3º tipo de mal-entendido: “És um Vulgarizador!” Não sou, tentei expor
minhas ideias conforme havia compreendido e assimilado;
Para me definir: buscador da verdade na não verdade, unificando os
saberes dispersos, busco “ultrapassar” estas contradições.
3. Falar da ciência
Há o cientista que reflete sobre “sua” ciência, agindo assim
faz filosofia; há os historiadores, os epistemólogos, e os
vulgarizadores.
Exemplo: a questão sobre o principio da termodinâmica. De
um lado os físicos ensinavam ao mundo um princípio de
desordem que tendia a destruir qualquer coisa organizada; de
outro lado, os historiadores e os biólogos ensinavam ao
mundo que havia um princípio de progressão das coisas
organizadas. O mundo físico tende aparentemente à
decadência, o mundo biológico tende ao progresso.
Perguntei-me: Como? Estes dois princípios podiam ser as
duas faces de uma mesma realidade (a vida)! Como?
Associar os dois princípios. Este era meu interesse de que
vulgarizar a termodinâmica, que sou incapaz.
Vejamos: chega um dado momento em que algo muda e o
que era impossível mostra-se possível. O bipedismo parecia
impossível ais quadrupedes.
4. Abordagem da complexidade
Osso duro!
Primeiro: Complexidade, para mim, é o desafio, não a resposta.
Segundo: a simplificação é necessária, mas deve ser relativizada eu aceito
a redução consciente de que ela é redução, não a redução arrogante que
acredita possuir a verdade, atrás da aparente multiplicidade e complexidade
das coisas, complexidade é a união da simplicidade, com a complexidade;
Como ocorre: união dos processos de simplificação que são: seleção,
hierarquização, separação, redução, com os outros contraprocessos que
são a comunicação, a articulação que foi dissociada e distinguido;
Pascal afirmava: “é impossível entender as partes sem conhecer o todo,
mas não há necessidade de ser especialista nas partes para conhecer o
todo”; Dupuy me atribui um pensar: o de que pretendo o ideal de um
pensamento soberano que englobasse tudo.
Acrescento: a complexidade está no coração da relação entre o simples e o
complexo, sendo estes por vezes antagônicos e complementar.
Bachelar dizia: “Só existe ciência no oculto”. Ora, ao procurar o invisível,
encontra-se por trás do mundo das aparências e dos fenômenos, o mundo
invisível das leis que, juntas, constituem a ordem do mundo, na filosofia
hinduísta, o mundo das aparências de maya.
A complexidade não é um fundamento. É o principal regulador que não
perde de vista a realidade no qual estamos e que constitui nosso mundo.
5. O desenvolvimento da ciência
A complexidade da ciência é a presença do
não-científico no científico, o que não anula o
científico;
Me refiro a ciência clássica, ela progrediu
porque ela era de fato complexa. E é complexa
porque há uma luta, um antagonismo entre seu
princípio de rivalidade, de conflito de ideias ou
teorias e seu princípio de unanimidade, de
aceitação da regra de verificação e
argumentação. Se baseia ao mesmo tempo no
consenso e no conflito, se move sob
quatro patas: racionalidade, empirismo,
imaginação
e verificação.
Acrescento: na Biologia a redução requer novo
olhar para o ser vivo revendo conceitos
originários; a Química reduzida a microfísica
não se retira do contexto.
6. Ruído e informação
A crítica, um dos pilares que defendo do pensar
complexo, não a crítica pela crítica, mas crítica com
sugestões de melhoria;
É preciso que haja o encontro entre o acaso e uma
potencialidade organizadora.
O ruído só aparece com o ser humano que é dotado de
razão e, portanto, questiona assim desconstrói e
reconstrói;
Sobre informação digo que ela poderia ser definida
fisicamente uma verdade parcial;
Enfatizo: A informação só aparece com o ser vivo.
7. Informação e conhecimento
Vamos esclarecer o problema da informação versus
conhecimento. Eu diria que a sabedoria é reflexiva, que o
conhecimento é organizador, que a informação se
apresenta sob a forma de unidades sob a forma de bits.
Ex.: um bit é a menor parte de uma informação (no mundo
da computação) e não tem um significado em sí. Já um
caractere sim! Em informática um caractere é a formado
por 8 bits = 1 byte e este byte possui representação, por
exemplo: a letra A em binário 10100001, daí podemos
ter uma noção que a informação correta conduz ao
conhecimento correto.
Vejamos o aparelho cerebral, está separado do mundo
exterior e seu “pen drive” é a mente que sozinha não pode
descobrir que ela funciona através das interações
intersinápticas entre miríades de neurônios. Se pergunte:
o que minha mente conhece de meu corpo? Nada!
8. Paradigma e ideologia
Um paradigma privilegia certas relações lógicas em
detrimento de outras, é assim. É por isso que um
paradigma controla a lógica do discurso e a semântica.
A questão da ideologia , em si ideologia tem um sentido
inteiramente neutro: é um sistema de ideias.
9. Ciência e filosofia
Eis uma que me parece indispensável e indissociável.
Para mim a ciência é a aventura da inteligência humana
em ação que trouxe descobertas e enriquecimentos, aos
quais a reflexão filosófica não seria capaz de somar,
conforme a sistemática requer, sozinha.
O exemplo da partícula, passou-se da partícula
conceito-fundamento para a partícula conceito-fronteira;
a partir de então, a partícula não nos remete de modo
algum a ideia de substância elementar simples, mas a
nova fronteira do inconcebível e do, ainda, indizível.
10. Ciência e filosofia
Uma reflexão acerca da visão histórico-filosófica.
Pacífico, segunda guerra mundial, frotas
americanas e japonesas estavam em luta.
Milhares de combatentes singulares, cada um
aleatório e ignorando os outros. Finalmente, uma
frota bate em retirada e dizem: os americanos
ganharam. Então, enfim, cada um dos
combatentes singular ganha sentido.
11. Ciência e psicologia
Piaget sendo um de meus principais objetos de
estudo, digo que se encontra no cruzamento das
ciências humanas, da biologia, da psicologia e da
epistemologia. Piaget traz a ideia do sujeito
epistêmico que considero fecunda. Sou partidário do
construtivismo piagetiano, mas com a reserva de que
ele esquece do construtivismo. Piaget ignorava a
necessidade de forças complexas organizadoras
inatas para que houvesse aptidões importantes para
conhecer e aprender.
12. Competências e limites
Problema-chave dos limites: Como sermos ajudados pelas contradições? Como as aporias que
nos interditam pensar podem de uma outra maneira nos estimular a pensar? Aporias bem
conhecidas: Como se pode aprender se já não se sabe? Se já sabemos, então não aprendemos
nada; filosofando “aprender é recordar”; aprende-se a nadar, aprende-se a dirigir, aprende-se a
aprender, inclusive. Não devemos nos deixar bloquear pelas contradições lógicas, nem cair no
discurso incoerente.
13. Um autor não oculto
Não vou responder sobre as coisas mais subjetivas, ainda que minha subjetividade tenha
vontade de lhes responder. Mas, devo exprimir a consciência de existir pessoalmente em minha
obra. Sou um autor não oculto, pois, ser autor é assumir suas ideias no melhor e no pior; tenho
humildade, coloco-me à mesa para o debate, ouço meus leitores e suas críticas. Creio definir
todos os conceitos que prenuncio. Criticam-me pelas metáforas, mas faço-as sabendo serem
metáforas e não as faço sem que delas tenha conhecimento como muitos o fazem. Além disso,
sabe-se que a história é feita de migração de conceitos, isto é, metáforas.
14. Migração de conceitos
Os conceitos viajam, é melhor que viagem sabendo de que viagem clandestinamente. Da
mesma forma é bom que viagem sem serem percebidos pelos aduaneiros! A circulação
clandestina dos conceitos ao menos permitiu às disciplinas respirar, se desobstruir.
Mendelbrot dizia que as grandes descobertas são frutos de erros na transferência dos conceitos
de um campo a outro. É preciso talento para que o erro se torne fecundo.
Assim como Hegel, Marx, Heidegger fiz e faço jogos de palavras, elas, as palavras fazem amor.
Deve-se compreender que as metáforas fazem parte da convivialidade da linguagem e da
convivialidade das ideias.
15. A razão
Meu ponto de partida é a ideia da razão
evolutiva. Ponho de lado racionalização,
pois esta corre o risco de sufocá-la. A razão
não é dada, não corre sobre trilhos, pode
até se autodestruir! Como? Por processos
internos da racionalização.
Não confunda razão com racionalização,
esta última objetiva, em sua grande maioria,
encerrar uma situação ou discussão.