CANTIGA DE MESTRIA OU MAESTRIA
As cantigas de mestria não possuem um refrão o que quer dizer que não tem repetição
em suas coblas (estrofes) e em suas palavras (versos). Por tratar-se de um esquema
estrófico mais complexo, intelectualizado, são mais comuns nas cantigas de amor.
Cantiga “Ai eu de min, e que será?” de Nuno Fernández
Ai eu de min, e que será?
Que fui tal dona querer ben
a que non ouso dizer ren
de quanto mal me faz haver.
E feze-a Deus parecer
melhor de quantas no mund'ha.
Mais en grave día nací,
se Deus conselho non m'i der;
ca destas coitas qual-xe-quer
m'é min mui grave d'endurar,
como non lh'ousar a falar,
e ela parecer assí,
Ela, que Deus fez por meu mal!
Ca ja lh'eu sempre ben querrei,
e nunca end'atenderei
con que folgu'o meu coraçón,
que foi trist', ha i gran sazón,
polo seu ben, ca non por al.
CANTIGA DE MALDIZER – Autor: Afonso Eanes de Coton
Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?
ACOMPANHAMENTO MUSICAL
Aliança entre a poesia, a música, o canto e a dança;
As cantigas eram acompanhadas de instrumento de SOPRO (anafil, antiga trompeta; doçaina,
espécie de charamela; exabeba ou axabeba, espécie de flauta usada pelos árabes; flauta; gaita;
trompa), CORDA (alaúde; arrabil ou rabil, rabeca mourisca, espécie de violino; bandurra,
guitarra de braço curto; cítola, instrumento da família do alaúde; giga, semelhante ao
bandolim, tocado com arco; harpa; saltério, instrumento de corda de origem oriental, triangular
ou trapezoidal; viola) e PERCUSSÃO (adufe, espécie de pandeiro; pandeiro; tambor). In:
MOISÉS, Massaud. A literatura Portuguesa).
TERMINOLOGIA POÉTICA
Os recursos formais mais frequentes eram:
PALAVRA: assim era chamado o verso. Quando fosse branco, sem rima, denominava-as palavra-
perduda.
COBRA: nome dado à estrofe. Cobras singulares eram estrofes com rimas próprias; cobras uníssonas,
quando as rimas eram comuns.
TALHO: a forma da estrofe.
FIINDA: estrofe de estrutura própria, mas ligada pela rima ao resto da cantiga.
ATAFINDA: Quando o final de um verso ou de uma estrofe liga-se diretamente ao início do seguinte,
sem interrupção de sentido ou de ritmo. Denomina-se cantiga de atafinda a composição que
emprega essa recurso de forma sistemática. É o que hoje denominamos de encadeamento ou
enjambement.
DOBRE e MORDOBRE: Consistiam na repetição de uma palavra ou mais no interior da mesma estrofe,
exatamente como tal (dobre) ou em uma uma de suas formas variadas (mordobre).
LEIXA-PREN (deixa-prende): É o recurso formal de apanhar o último verso de uma estrofe (que não
seja o refrão) e com ele iniciar a estrofe seguinte, inteiro ou com ligeira variação.
PARALELÍSTICA: Quando o sentimento poético se mantinha inalterado ao longo das estrofes e, para
exprimi-lo, o trovador recorria às mesmas expressões, apenas utilizando sinônimos nas rimas. Isso se
chama paralelismo e as cantigas que se utilizam desse recurso são denominadas cantigas
paralelísticas.
CANTIGA DE TENÇÃO: Cantiga dialogada, em que o eu-lírico dialoga com a mãe, uma amiga ou com
a natureza. Demonstrando o seu aborrecimento, a sua angústia ou solidão pela ausência do amado.
In: MOISÉS, massaud. A Literatura Portuguesa.
TROVADORES: HIERARQUIA
TROVADOR: Era o poeta com todas as qualidades que a moda palaciana requeria:
compunha, cantava e podia instrumentar as cantigas. Era, não poucas vezes, fidalgo
decaído.
JOGRAL: Era uma designação menos precisa: podia se referir ao saltimbanco, ao truão,
ao ator mímico, ao músico e, por vezes, ao que compunha suas melodias. Não era
nobre. Vivia do pagamento recebido por seus méritos; podia subir socialmente e se
tornar trovador.
SEGREL: Não tinha uma situação definida; colocava-se entre o jogral e o trovador,
consistindo numa espécie de “jogral-trovador”, que ia de corte a corte para
desempenhar, a troco de soldo, o seu ofício de interpretar cantigas próprias ou alheias.
MENESTREL: Músico e cantor oficial da corte.
JOGRALESA OU SOLDADEIRA: moça que dançava, cantava e tocava
castanholas ou pandeiro acompanhando os trovadores, jograis, segréis ou menestréis.
Eram chamadas de soldadeiras porque recebiam, pagamento, sendo que muitas vezes
tinham fama de prostitutas.
In: MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa.
IMPORTÂNCIA DAS CANTIGAS TROVADORESCAS PARA A MPB
O período medieval representou a riqueza da musicalidade poética. Cantar o amor através das grandes
cantigas líricas, ou até manifestar-se de modo irônico e depreciativo nas cantigas satíricas, comprovam que as
cantigas trovadorescas transcenderam os tempos e ainda enaltecem grandes músicos na atualidade. Busca-se
na pureza d’alma dos artistas trovadorescos a essência do sentimentalismo para produções contemporâneas
dos músicos brasileiros, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Betânia, Ana Carolina, Maísa, Sá e
Guarabira, Gabriel o Pensador, Amado Batista, entre muitos outros.
O entrelaçamento da Literatura com a História propicia aos admiradores das manifestações artísticas o
privilégio de adentrar às palavras escritas nas grandes melodias e não apenas ficar na superficialidade das
músicas. Depreendem-se sentidos para o modo como estas cantigas foram produzidas e o modo como
trazem o cunho histórico do passado, das outras culturas – perpetuadas nas palavras, com seus resíduos
literários, e enaltecidas através das artes.
O Trovadorismo, portanto, está personificado e atemporalizado através da MPB. Na música brasileira,
encontram-se muitos trovadores líricos e satíricos. Na melodia desses artistas da poesia musical, homens e
mulheres vagueiam nos sentimentos: sofrem, inquietam-se, riem, lamentam a perda do ente querido, buscam
o amado, ajoelham-se querendo um possível perdão, almejam descer a amada do seu pedestal, rastejam-se
pelo chão do coração e adentram o paraíso da paixão. Mesmo que inconscientemente, esses compositores e
cantores apresentam sua arte de trovar, que é sua arte de viver, de fazer cantigas que marcam a
humanização do ser humano. A grandiosidade dos sentimentos, registrada desde os tempos longínquos e
trovada na Idade Média pelos trovadores, retrata um dos resíduos mais significativos para a humanidade: o
resíduo do amor (seja vassalo, correspondido ou ausente!). A Música Popular Brasileira resgata, com sua
residualidade, mas também reproduz o tom irônico, sarcástico e até desmoralizante das cantigas de escárnio
e de maldizer.
IMPORTÂNCIA DAS CANTIGAS TROVADORESCAS PARA A MPB
Atrás da Porta – Chico Buarque
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei
Eu te estranhei
Me debrucei
Sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito (Nos teus pelos)*
Teu pijama
Nos teus pés
Ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que inda sou tua
Só pra provar que inda sou tua...
Dona – Sá e Guarabira
Dona
Desses traiçoeiros
Sonhos
Sempre verdadeiros
Oh, Dona
Desses animais
Dona
Dos teus ideais
Pelas ruas onde andas, onde mandas todos nós
Somos sempre mensageiros esperando tua voz
Teus desejos uma ordem, nada é nunca, nunca é não
Por que tens essa certeza dentro do teu coração
Tam, tam, tam, batem na porta, não precisa ver quem é
Pra sentir a impaciência do teu pulso de mulher
Um olhar me atira à cama, um beijo me faz amar
Não levanto, não me escondo porque sei que és minha dona
Dona
Desses traiçoeiros
Sonhos
Sempre verdadeiros
Oh, Dona
Desses animais
Oh, dona
Dos teus ideais
Não há pedra em teu caminho, não há ondas no teu mar
Não há vento ou tempestade que te impeçam de voar
Entre a cobra e o passarinho, entre a pomba e o gavião
Ou teu ódio ou teu carinho nos carregam pela mão
É a moça da cantiga, a mulher da criação
Umas vezes nossa amiga, outras nossa perdição
O poder que nos levanta, a força que nos faz cair
Qual de nós ainda não sabe que isso tudo te faz dona
IMPORTÂNCIA DAS CANTIGAS TROVADORESCAS PARA A MPB
Cinquenta reais – Naiara Azevedo
Bonito! Ha-ha-ha
Que bonito, ein?
Que cena mais linda
Será que eu estou
Atrapalhando o casalzinho aí?
Que lixo!
Cê tá de brincadeira!
Então é aqui o seu futebol?
Toda quarta-feira
E por acaso esse motel
É o mesmo que me trouxe na lua de mel?
É o mesmo que você me prometeu o céu
E agora me tirou o chão?
E não precisa se vestir
Eu já vi tudo que eu tinha que ver aqui
Que decepção, 1 a 0 pra minha intuição
Não sei se dou na cara dela ou bato em você
Mas eu não vim atrapalhar sua noite de
prazer
E pra ajudar pagar a dama que lhe satisfaz
Toma aqui um 50 reais
Não sei se dou na cara dela ou bato em você
Mas eu não vim atrapalhar sua noite de
prazer
E pra ajudar pagar a dama que lhe satisfaz
Toma aqui um 50 reais
Vai começar a putaria – MR. Catra
Vai começar a putaria!
A partir desse exato momento, não existe mais brabo
na casa
A partir desse exato momento, quem manda nessa
porra são as meninas, gostosas
A festa é de vocês, hein! [...]
Senta, senta, senta
Senta, senta, senta
Ela senta, ela senta, ela senta
Ai, que delicia, vai!
Senta, senta senta [...]
Quê que foi?
Gostoso?
Ah, gostoso é você de quatro na minha cama
Oi, oi, oi, oi
Vamo começar assim
A pretinha tá que tá
Oi, ela tá que tá
Oi, ela tá que tá
Tá doidinha pra hm
Doidinha pra ui
Doidinha pra ahn
[...]