1) O documento discute o livro Works and Lives de Clifford Geertz, no qual ele analisa quatro antropólogos clássicos: Lévi-Strauss, Evans-Pritchard, Malinowski e Ruth Benedict.
2) Geertz argumenta que o trabalho do antropólogo se legitima na academia através da escrita e publicação. Ele também destaca a importância da linguagem nos escritos antropológicos.
3) A análise de Geertz de cada autor é criticada por ignorar contextos intelectuais e falta de empatia, ap
1. •
"
SO PARA INICIADOS
•
ão quatro autores clássicos da an
tropologia os personagens do livro
recente de Clifford Geenz, Works and
/ives - lhe anthropologisl as aUlhor (Sum
ford, Sumford University Press, 1988, 157,
p.). A primeira vista a impressllo é de que
se trata de um desdobramento do artigo de
1983, no qual Geenz propunha uma et
nografia do pensamento moderno que se
seguiria à etnografia de povos exóticos. Se
a questão era se saber como outros or
ganizam seu mundo significativo, estes
outros tanto poderiam estaralém-marcjuan
to no fim do corredor: ..Agora somos todos
nativos", proclamou Geenz (1983).
Dentro dessa perspectiva, as várias dis
ciplinas acadêmicas representariam "for
mas de estar no mundo" e, para estudá-Ias,
três temas seriam de especial imponância.
No primeiro caso estariam os dados como
descrições, medidas e observações. Argu
mentava Geenz que, "já que os estudiosos
modernos não sllo mais solitários que os
buShmen" (1983:156), métodos antropoló
gicos clássicos ,poderiam ser aplicados a
ambos. O segundo tema compreenderia as
Ecudol Hi•.:,...... Rio cklaneiro, ..ai. J, n.�. 1990,p. 9J..l02..
Mariza G.S. Peirano
categorias lingüísticas, pelas quais o autor
confessava a sua simpatia: como na etn(}
grafia tradicional, quando O significado de
termos-chaves é discernido, esclarece-se
muito da maneira como se vive no mundo.
Finabnente, o foco de atenção estarianaob
servação do ciclo de vida, no qual fenôme
nos sociais, culturais e psicológicos esta
riam impressos no contexto de carreiras
acadêmicas. É com esta expectativa, a de
encontrar uma etnografia da antropologia,
que se pode ler Works and /ives, publicado
em 1988.
O livro é construído de maneira elegan
te. Entre uma introdução ("Seing there") e
uma conclusão ("Seing here") inserem-se
quatro ensaios, cada um focalizando um
autor clássico da disciplina: Lévi-Strauss,
Evans-Pritchard, Malinowski e Ruth
Senedicl. A preocupação de Geenz. entre
os temas metodológicos que havia esta
belecido anteriormente, está no segundo
deles: a linguagem. Geenz avisa no pre
fácio que, embora temas biográficos e his
tóricos entrem eventualmente na discussão,
o estudo se restringe principalmente à
questão de como os antropólogos es-
2. ESTUDOS mSTORlcos- 199015
crevem, OU, como diz o subútulo, no pro
blema "do antropólogo como autor".
A introdução, "B.ing lher." é sobre a
pesquisa de campo. Já a conclusao, "B.ing
her." diz respeito 11 acadl!lDia. Segundo
Geertz, o texto antropológico é levado a sé
rio porque os autores conseguem demons
trar aqui, para seusleitores, que estiveram
111 ou que fizeram pesquisa de campo. A
antropologia, desta pe.spectiva, é mais
aftm com o discurso literário que próxima
do discurso cienúfico: o desafio do antro
pólogo está em conciliar sua visão íntima
da experiência de campo com o relato claro
e moderado na transmissão desta expe
riência.
Na introdução, Geertz assume algumas
posições. Primeiro, ressalta que o exercício
etnográfico coloca o antropólogo no papel
de um escritor: O antropólogo nllo relata
meramente, mas cria um texto literário.
Segundo, ele propõe que nllo é possível se
parar o estilo do conteúdo ou, como elabora
mais adiante no livro, "the way of saying is
the what of saying" (p. 68). Terceiro, como
a tarefa do antropólogo é extremamente
complexa, Geertz não panilha o ideal da
'Iinguagem límpida e serena e prefere ex
pressar suas dúvidas de modo a fazer
aftrmaçOes "para depois sombreá-Ias, em
termos de referências tendenciais" (p. 64).
Na conclusão, Geertz diz que nllo é no
campo, mas na academia que o trabalho do
antropólogo se legitima. Esta é uma
profissão que vive da e na academia: é
porque os antropólogos escrevem,
publicam, são revistos, citados, ensinados,
que seus textos são legítimos. O escrever
antropológico implica, assim, questões
morais, políticas e epistemológicas,
queslÕes estas que os "fundadores da dis
cursividade" - como então Geertz chama
os quatro autores que examinou do corpo
do livro - não tiveram de enfrentar. Para
Uvi-Strauss,Evans-Pritchard,Malinowski
e Ruth Benedict, a dificuldade em transfor
mar a experiência em palavras era apenas
um problema técnico: hoje,esta dificuldade
constitui um probleil1<i moral. Embora te
nha tido enormes dificuldades de fOllllula
çlioa enfrentar,aqueles antropólogosforam
poupados do esforço de justificar sua
empreitada_
No corpo do livro, cada autor mencio
nado recebe um capítulo. Geertz escreve
quatro ensaios pouco ortodoxos, nos quais
elogia trabalhos desconhecidos de autores
consagrados e condena trabalhos e auto
{CS considerados clássicos. Até aí, nada de
mais. No momento em que- "agora somos
todos nativos", são desejáveis, senllo bem
vindas, as releitoras, mesmo quando o
tom é irônico e mordaz. O que incomoda no
livro de Geertz é que a ironia parece des
concertante e desproposital e é usada pa
ra provar uma tese à qual nos é veda
do o acesso até as últimas páginas do li
vro.
Nesse meio tempo, o próprio Geertz se
vê envolvido em queslÕes que são também
morais, políticas e epistemológicas De um
lado, Geertz ignora de maneira aparente
mente proposital as questOes teóricas que
os autores levantaram: já que tudo está na
linguagem, a força retórica muitas vezes se
confunde com o poder teórico de expli
cação. Por outro lado, faz falta o contexto
intelectual no qual os autores escreveram.
Apenas no caso de RuthBenedict o contex
to explica o estilo, o que torna desigual o
argumento dos quatro ensaios. Finalmente,
penurba a ausência de empatia com osauto
res. Foi Flauben quem, em 1872, escreveu
a Ernest Feydeau dizendo que "quando se
escreve a biograrta de um amigo, deve-se
escrevê-Ia como se para vingá-lo" (cf. Bar
nes, 1985). Nem Geertz se propõe a escre
ver biografias, nem vemos em seus autores
potenciais amigos. Com exceçllo, nova
mente, de Ruth Benedict, ele nllo os vinga
mas, ao contrário, compraz-se em denun
ciar vivos e monos, em uma tarefa freqüen
temente ingrata. O antropólogo deixou de
ser herói.
3. sóPARA 1NI0A00S "
Ing,aro, por exemplo, é mosrrarcomo o
melhor ou único trabalho viável de Lévi
Strauss é Tris/es /ropiqUJ!S - quando sa
bemos que esta nllo foi a 3J)rropologia que
Lévi-Strauss quis perpebrar - ou que o
obscuro relarório de guerra escrilO por
Evans-Prirehard, Opera/íons on /M AIcobo,
é 110 útil para desmistificar a (falsa) se
gurança do autor quanto qualquer de suas
obras mais conhecidas. Ingraro é usar O
diário de campo de Malinowski apenas
como pretexto para admoestar três jovens
autores sobre os perigos da elaboração mo
nográfica. Finalmente, é ingrato alçar Rum
Benedict ao pamello dos clássicos porque
simplesmente esta autora conseguiu a
proeza de mostrar, com enorme sucesso de
venda e, por conseguinte, força retórica, o
estranho no familiar, "nativizando", assim,
os norte-americanos. Talvez percebendo
sua postura geral, quase na metade do livro
Geertz fala da sua ansiedade em nao ser
vislO corno alguém que procura desmas
carar, desmistificar, desconstruir ou di
minuir seus autores, aos quais, confessa,
"incluindo E-P, eu tenho O maior apreço,
quaisquer que sejam nossas diferenças de
posturas sociais" (p. 59).
Esta ansiedade é justificada. Quem de
nuncia, ironiza. critica, tem o compromisso
de apresentar alternativas, sob pena de que
as denúncias, ironias ou críticas nao passem
de manifestaçOes inconseqUemes de vir
tuosismo retórico. Voltaremos a esseponto.
Por enquanto, vejamos em mais de.taIhes o
que Geertz diz sobre os nossos clássicos.
Lévi-Strauss é o primeiro, e a surpresa
nao demora: Geertz para quem o estru
turalismo nunca foi abordagem de pre
dileçllo, faz uma leitura amável e simpática
de Lévi-Strauss. As posiçOes dos doi� eram
tidas como opostas: enquanto para a
anrropologia de Geertz os fenômenos so
ciais sao texlOs para serem interpretados, o
estruturalismo os rem como enigmas para
decifrar, independentemente do sujeito, do
objeto e do contexto (Geertz, 1983:449).
Mais: a inlbpretaçlk' propo... por Gcatz
vem unida a uma perspectiva
. .
enquanto o estrutwalismo de
é uni'Cisalista por definiçao.
Mas aqui, entre todas as obras de Uvi
Strauss, O livro escolhido é Trlstu
/ropíqUJ!s, queé vistocomo nrc've1JKl"IIue
nele o autor conseguiu combinarumaCiIOI'
me diversjdadc. Ora Lévi-Srrauss é o via
jante, no momento seguinte éetnógrafo,ao
mesmo tempo desenvolve reOexOes fI)<r
sóficas e, às veus, escreve o que seria um
tratado reformista (Geertz. 1983:35-9). O
segredo dessa riqueza. diz Geertz, é que
Lévi-Srrauss nIk' escreveu Tris/u /ropí
qUJ!S como um meio para atingir algo; mas
como um texto em si: ele é, porranto,-WII
documento da mentalidade dos
franceses no seu enconrro com oullas men
talidades simbólicas (bororo, caduveu,
nambiquara), as quais procura penetrar na
sua coerência interna, a fim de CIICOfIllar a
réplica de si própria. Tris�s /ropiqUJ!s cn
fatiza a afinidade da memória, da música,
da poesia, do mito e do sonho c é. para
•
Geertz, nada menos que A la recMrcM tbI
/e'"Ps perdu de Lévi-Strauss.
Proustiano ou nIk', o livro tem lIll'is
ainda a seu favor: é ar que Lévi-Straus..
deixa claro que nAo há continuidade na
passagem entre experiência e realidade e
chega a afirmar que "para encontrar a rea
lidade precisamos inicialmente repudiar a
experiência, mesmo que,mais tarde, a rein
tegremos numa SÚltese objetiva na qual a
sen/i=ntali/� está excluída" (citaçlk' em
Geertz, 1988:46). Esse tema, privilegiado
para Geertz, é reforçado pelos temOies que
Lévi-Strauss experimenta quando, ao pro
curarosdesconhecidostupi-Icwahib,cleen
contra SÓ estranhamento: "lá estavam eles
(...) perto corno O 1é00xo 00 espelho: eu
podia lOCá-los, mas nIk' podia en�Jos"
(CiL p. 47). Essa experiência, que foi para
Lévi-Strauss recompensa e puniçIo, ex
plica para Geertz a opção pelo esI!utu-
4. ESlUDOSIUsroRlCOS- 1990/5
ralismo universalizante, opçllo esta que, ao
dissolverocontato imediato, dissolveujun
to o esttanhamento.
Esta interpretação de Geenz é bastante
sugestiva. Maséprecisoreconhecerque ela
omiteOfalo de queTrislesIropiqlU!SnlIo foi
escrito antes, mas paralelamente às obras
"antropológicas" de Lévi-Strauss: o livro
foi publicado seis anos depois de As es
trUllUas elemenlares do parentesco e sete
antes de O pe1JSamenlO selvagem. O livro é
um texto livre, que hoje pode ser recu
perado como exemplo de construçllo de
texto porque não foi escrito como tal na
década de 50: naquela época, a antropolo
gia ainda vivia a questão da sua
cientificidade, tanto assim que concebê-Ia
como arte foi motivo de ruptura entre
Evans-PritchardeRadclirre-Brown.Ocon
texto no qual Trisles tropiques foi escrito é
o mesmo que produziu, por exemplo, The
savage and lhe innocenl e Akwe-Shavanle
society (Maybury-Lewis, 1965 e 1967): o
primeiro, um livro renexivo sobre a expe'
riência elIlográfica; o segundo. a antro
pologia propriamente dita. O que Lévi
Strauss sacrificou. então, em termos de
estranhamento elIlográfico ele aprovei!Ou.
em seus clássicos O pensamenlo selvagem
e ·Tolemismo haje. para enriquecer sua
proposta de explorar os mecanismos
simbólicos da mente humana.
Assim, é saudável recuperar Trisles
lrapiques. mas é preciso ter consciência de
que esta recuperação significa que o sub
metemos a uma bricolage no tempo,
atribuindo-lhe valores que são fruto de nos
sas preocupações contemporâneas.
-
Evans-Pritchard. É impossível não se
especular se umaboa dosede capricho,para
não dizer perversidade, não fez Geenz es
colher justamente "Operations on the
Akobo, 1940-1", publicado em um
periódico militar inglês, como texto para
analisar o trabalho de Evans-Pritchard. É o
próprio GeerlZ quem diz que para seu
propósito"almoSI any Une 01E-P ... wolÚd
do" (p. 49), da primeira página de
Witchcrafl aNuer religioll. Geenzjustif1ca
aftrmando que "Opuatioos" peunite dis
cernir inelhor os limites do discurso de
Evans-Pritchard ou, na concepçllo witt
gensteiniana, os limites do seu mundo.
Em "Operations", Evans-Pritchard
relata sua participaçllo na primeira fase da
Segunda Guerra, descrevendo suas
atividades no Sudão como um bush-ir
regular. O texlO mostra, segundo Geenz,
como Evans- Pritchard prova, de maneira
exemplar, que esteve "lá", recrutando
nativos, fazendo alianças com os reis
anuak, criando emboscadas para os
italianos. Os anuak eram difíceis de dis
ciplinar ("gostavam demarchar ecombater,
mas nlIo simplesmente marchar") e foram
fundamentais na desocupação da área. No
final da expedição,Evans- Pritchardéman
dado, a contragosto, de Gila para a Etió
pia, com a finalidade de demonstrar a do
minação brilânica. IslO ele faz no sentido
mais literal, levando uma bandeira e fin
cando-a em todas as aldeias em que acam
pava.
Para Geenz, "Operations" mostra clara
mente a estratégia textual de Evans
Pritchard, baseada no contrato narrativo
entre o aulOr e seus leitores. O estilo de
Evans-Pritchard pressupOe que tudo deve
ser dito de forma clara, confiante e sem
complicação. A falta de envolvimento do
autor é cuidadosamente preservada e se
renete na pontuação extremamente simples
e regular: nas palavras de Geenz, "aslew
commas as possible, mechanjcally p/aced,
and hard/y any semicolons aI ali: readers
are expecled 10 know when lO brealhe"
(p. 60). Outras características apontadas
porGeenz: a paixãopelas frases simples do
tipo sujeilO-predicado-objeto; ausência de
citações em língua estrangeira; preferência
pelo declarativo explícito, sem jargllo. Em
suma, um estilo petulante. A insinuaçlloé a
de que, mesmo no relato dramático de uma
5. ·
SÓPARA INJOAOOS 97
situaçãO de guerra, Evans-Pritchard nlIo
abandona o 10m sereno e objetivo.
Evans-Pritchard parece incomodar
profundamente Geertz. Apesar de reco
nhecer "lhe madtkning bril/jance" dos
textos de E-P (p. 49), Geertz sente-se
aparentemente atingido pela segurança,
limpidez, equanimidade, superioridade e
estilo coloquial do aUlOr (p. 49). Numa pas
sagem que seria empobrecedor traduzir,
Geertz resume sua visão:
"lI would be as unwise /O assume Ihal
Evans-Prirchard was anylhing less Ihan
inlensively aware o[lhefigure he is cul
ling here as ir would be lO swallow him
or his slory whole. The lale has c/early
been Ihrough100 manypub recirals lobe
lhe oflhand account ir so induSlriously
prelends lO be" (p. 57).
Se o texto é seguro e limpo, é porque
Evans-Pritchard não sentiu a ambigüidade
na relaçao entre a experiência e o texlO.
Acrescente-se ainda que Geertz não dá
muito crédito a Evans-Pritchard por seus
trabalhos. Para Geertz, os estudos clássicos
de Evans-Pritchard apenas mostram que ele
foi capaz de encontrar algo que existe na
nossa cultura, mas que não existe em outra.
Por exemplo. entre os azandc, descobriu a
preocupaçAo com causas naturais e morais:
entre os nuer, detectou a ausência da lei do
Estado e da violência. Ao adotar um estilo
equânime, Evans-Pritchard confirma o
domínio destes termos e mostra que as
diferenças, por mais dramáticas, não con·
tam muilO - oráculos de veneno, "ghosl
marriages", sacrifícios de pepino, todos
adequam-se às categorias culturais da
academia britânica e podem ser ilustrados
com falOS posadas e desenhos-técnicos.
Ficam algumas questões. Primeiro,se
Evans-Pritchard apenas tivesse confirmado
as categorias européias, lalvez-seus traba
lhos não se preslassem à reanálise e não
suscilassem os debates sobre o pensamento
primitivo e cientifico (por exemplo, Tam
biah, 1985 e Horton, 1967). Segundo, se,
como diz Geertz, iIs fotografias dos livlos
de Evans-Pritchard fossem apenas em
blemáticas, como interpretar as legendas,
dirigidas a uma audiência t""dicionalmente
acostumada à realeza: "A wilch-dcclor
divining aI lhe courl o[Prince NdorumlJ" ,
"A nobleman, Bavongara", "A Zantk cour
lier, wirh some o[his wives and children"?
Talvez Evans-Pritchard tenha sido mais
sutil que a percepçao de Geertz. Final
mente, sabemos que era pr0p6silO de E-P
fundir a linguagem da pesquisa com a da
monografia, construindo novos conceilOs
que englobassem as duas, empreendimento
que ele concebeu como "traduçao etnográ
fica" (Evans-Pritchard, 1951). O problema
de Geertz nAo eslava Ilio ausente.
Chega a vez de MaJinowski. Ele é im
porlante para Geertz porque foi quem nos
deixou O lêgado crucial da antropologia
Concebendo a experiência etnográfica
como uma imersão completa, Malinowski
confrontou os perigos que espreitam a
inevitável vida múltipla no campo: o
isolamento, o contato com a populaçao
local, a memória das coisas familiares e do
que se deixou para trás, as dúvidas sobre a
vocação e. mais dramati camente, o
capricho das paixões, as fraquezas do
espírito e a falta de direçao dos pensamen
tos. Em suma, a constituição do seI[ e,
depois, o desafio literário da passagem da
experiência "oul lhere" para aquilo que se
diz "back here" (p. 78). Para se IOrnar um
convincente "/ witness", diz Geertz, o
antropólogo deve primeiro tomar-se um
convincente "/". O diário de Malinowski
mostra este processo.
O diário mostra lambém um problema
comum aos diários em geral: a crença na
sinceridade, que, segundo Geertz, é uma
futilidade, depois de Freud, Sartre e Marx.
A nova geraçAo, contudo, parece desco
nhecero dilema do diário, que nocaso etno-
6. 9' ESllIDOSHISTÓRICOS- 199015
gráfico é sempre pane scholarship e parte
auto-reOexão. Os jovens cada vez mais
optam pela construção de textos no estilo
"etnográfico-tipo-diário" e invariavel
mente confrontam-se com as ansiedades
literWias decorrentes.
Geenz escolhe três livros de autores da
nova geração, a quem chama de "filhos de
Malinowski": '(e Paul Rabinow, seleciona
'RejI�clions on fteldwor/c in Morocco; de
Vincent Crapanzano, escolhe Tuhami; de
Kevin Dwyer,Moroccan dialogues. A des
. peito dos diferentes estilos, os três autores
chegam, por vias diversas, ao impasse da
sinceridade: Jl.abinow mostra-se um
clássico no estilo éducalion sencim.enlale;
Crapanzano fecha-se no círculo psicana
lltico com seu informante, e Dwyer
apresenta seus diálogos de forma integral e
não-seletiva. A esses textos corrcspondcm
diversas construções do "eu": Rabinow é o
homem incompleto, vago para si próprio e
para os outros; Crapanzano é figura escul
pida, trabalhada e polida; Dwyer é·
retoricam�nte negado ao se apresentar
apenascomointerlocutorde seu informante
marroquino. O desconfono que os três
autores partilham em relação ao fazer•
etnográfico mostra, em Rabinow, o
antropólogo adaptável à experiência, em
Crapanzano, o intelectual mondain, e em-
Dwye(, o moralista determinado.
Ao leitor de Geenz resta apenas a des
coberta de queos três autores não são filhos
de Malinowski, mas do próprio Geenz.
Malinowski é pretexto. Rabinow, Crapan
zano e Dwyer têm em comum o diálogo
com Geenz (Rabinow, 19�y,.Crapanzano,
1986; Dwyer, 1982, ver Trajano, 1988) e só
indireta e de forma remota com Malinows
ki. Nesse processo, descobre-se um elo de
parentesco encoberto: a filiação de Geenz
a Malinowski, já insinuada anteriormente
em "From che nacive's poinl of view"
(Geenz, 1983, capo 3), mas tomada aqui
mais explícita, embora não reconhecida.
Malinowski-etnógrafo, particularista, à
procura do ponto de vista do nativo � o
inspirador de Geenz, o emógrafo inter
pretativo.
. Com Rum Benedict muda o tom dos
ensaios. Agora, pela primeira vez, temos
contexto e, mais. números. O contexto é o
período enue-guenas e aquele imMiata
mente após a Segunda Guerra. de uma
antropologia que prometia aos pesqui
sadores transformá-los em "cientistas" e da
personalidade de uma mulher que inicia sua
carreira já madura, em termos de idade e de
realizaçãO profissional. Os números im
pressionam: dois milhões de cópias para
Padrões � cullura e 350 mil para O cri
sdnlemo � a esplJlÚJ.
Diferentemente dos outros autores.
alvos de crIticas veladas e ironias finas,
Rum Benedict é redimida por Geenz por
haver demonstrado força de expressão
retórica e compreensão do momento
político. Com um estilo adulto. seus textos
são breves, vIvidos e altamente or
ganizados: são os livros cenos paraas horas
cenas, diz Geenz. Em Padrões � cullura,
Ruth Benedict junta os zuni, os kwakiuti e
os dobu para resgatar, a panir do contraste
apolínio/dionisíaco, o material etnográfico
de modo que o singular das descriçOes
tome-se geral pelas implicações. Em O
crisdnlema � a espadtJ. ela acenrua as dife
renças entre norte-americanos e japoneses
de tal maneira que, ao descrever a in
credulidade recIproca de uns em relação à
cultura dos outros, o resultado é que o Ja
pão surge como menos errático e arbitrá
rio e os Estados Unidos, mais "nati
vizados". Para os norte-americanos,
naturalmente.
Este processo de "nativização" dos Es
tados Unidos é uma das realizações mais
poderosas de Ruth Benedict na perspectiva
de Geenz. Ela fez uso de uma estratégia
simples: mostrou o estranho comofamiliar,
apenas com sinais trocados. Não se trata de
um.procedimento satúico: para Geenz, as
ironias de Rum Benedict, são sinceras e o
7. sOPAlIAINlCAOOS 99
que mais ressalla no seuIeXIO t O alIO grau
de sai.'hde que ela transmite.
Rulh BenrAict, enlao, merece um lugar
de destaque entre os clássicos porque
esclc_eu "mais para constranger O mundo
do que para diverti-lo" (p. 128). As COR
seqllblcias perversas desta reabili1aç?lo são
óbvias' se OS limilCS da antropologia eslllo
demarcados pelaopçaoentre "constranger"
e "divertir", nosso mundot muilO pobre. A
vido que Geenz propaga do trabalho de
Ruth Benedict mostra que, ao reduzir o
teXID elilogr4fico à sua dimensãoretórica, a
medida do sucesso da disciplina dependerá
do número de cópias 'vendidas: antropo
logia como bUI-sel/er.
Recuperando Ruth Benedict para o
pante"odos ancestrais, al3cando o bril3nis
mo de Evans-Pritchard, valorizando as
reOexOes etnográficas de Uvi-Strauss mas
desmerecendo seus trabalhos mais reco
nhecidos e usando Malinowski para
admoeslar a nova geraçao, Clifford GeeilZ
pasoeia pela tradiçao da antropologia em
ensaios ora irônicos, ora espirituosos, com
freq!l!ncia cUle. Geenz t aqui um leitor
mais m<X'daz e desafiador do que empático.•
EsICS são ensaios dirigidos a quem conhece
antropologia: são texlOS para iniciados, já
que Geertz nao discute contexto, mas
apenas linguagem, e sugere que fazer
antropologia é somente uma queslllo de
convencimenlO, sugeslllo, estilo e retórica.
O termo "teoria" está conspicuamente
ausente.- mesmo via linguagem -, ex
CeIO em um parágrafo sugestivo:
"Cerlainly, wilh lhe appearance of lhe
so-cal/ed Brilish 'school' of social.
anlhropology, which is held logelher
far more by INs manner ofgoing OOoUI
lhings in prose lhan ir is by any sort of
consensual lheory or sellled melhad.
lhis 'Ihealre of language' has become
lhe mosl prominenl. (Whal E-P, A.R.
Radcliffe-Brown, Meyer Fortes. Max
Gluckman, Edmund Leach, Raymond
•
Firlh, Audrey Richa,ds, S.F. Natkl,
Godfrey LlellhardJ, Mary Douglas,
Emrys Pelus, Lucy Mair, anti Rodney
Needham share, asitú from rivairy, is
lone, lhaugh some of lhem are grealer
masters ofillhan olhers.)" (p. 59)
Depois de mostrar que ele, Geertz, c0-
nhece os autores e sabe o que está dizendo,
percebe-se que sua irreverência nao é
gratuil3. Geertz reconhece uma crise atual
de taisproporções que chega a se perguÍlIar
se o próprio empreendimenlO de escrever
etnografias nlla está em. risco. O problema
da inadequaç"o das palavrasà experiência,,
que os "fundadores da discursividade"
enfrenl3r8m , hojeé inseparável de questOes
morais, polític;as e epistemológicas. Na
época de Uví- Strauss, Evans Pritchard,
Malinowski e Ruth Benedict, diz GeeilZ, o
problema era apenas técnico: o que eles
faziam podiaparecer estranho, mast!ra ad
mirado; para eles, os sujeitos da observaçao
e a audiênciapara aqualescreviam esl3vam
separados e moralmente desligados.
Descrevia-se para uns o que se observava
em outros. Hoje dominam um medo da
hipocrisia, sentimentos de desihls"o e de
estranbamento, e a própria descriçao como
tal é questionada. Para alguns. como
Stephen Tyler, a descriçao deve ser
substituída pela evocação (p. 136).
A crise sentida por GeeilZ faz parte de
uma tendência dominante na ideologia
moderna, mas, se crises existem, elas não
nasceram ontem. Malinowski, o polonês
que ousou legitimar-se contra O evolucio
nismo britânico, eerlamente' enfrentou uma
crise moral e epistemográfica. Evans
Pritchard, mesmo tendo se mostrado
indiferenteao relalar asoperaçOcs mililares
da Segunda Guerra, questionou a própria
racionalidade dos ocidentais e seus
princípios de governo. Lévi-Strauss, quem
sabe, não terá optado pela via estruturalista
como saIdapara o impasse moral resull3nte
do encontro atnográfico? Por sua vez, Ruth
•
8. 100 ESnJIlOS IIlSTORlCOS - 1990/S
Benedict nao pode ser isentada de seu en
volvimento em serviços de espionagem
durante a guerra apenas porque divulgou a
"nativizaçao" dolO' Estados Unidos em 24
Ungllas,
Pensar, entllo, que os "fundadores da
discursividade" eram legítimos no seu
tempo talvez seja uma atitude fácil e
simplificadora. É mais possível supor O
oposto: que a antropologia era um em
preendimento e vocação tlIo questionáveis
até o meio do século que ela abrigava, na
sua maioria, imigrantes e mulheres, sendo
raros na hislÓria da disciplina aqueles que,
comoEvans-Pritchard,tinham um lugar as
segurado por nascimento na sua sociedade.
Como qualquer outra instituição cul
tural, diz-nos Geertz em aparente
contradiçao com seus próprios ensaios, a
antropologia "is ofà plau and in a time"
(p. 146). A antropologia de Geertz é
também de um lugar e de um tempo: os
Estados Unidos dos anos 70 e 80, que par
tilham o ideal de uma visão democrática do
mundo. Esla visão da antropologia remon
ta, se nao antes, a Franz Boas e aos estudos
sobre o racismo do início do século. A
proposta atual de Geertz constitui um
refmamento dessa tradição pela expeclativa
nela implícila de que o discurso etnográfico
possa ser a ponte para o diálogo através das
linhas divisórias das sociedades: linhas de
separação étnicas, de religião, classe,
g�nero, linguagem e raça (p. 147). A
propoSIa, reaftrntadadesdeA interpretação
das culturas (Geertz, 1973) e posla em
prática por alguns anuopólogos por ela ins
pirados (Fischer, 1980, por exemplo), é de
que a antropologia possa "alargar a pos
sibilidade de discurso inteligfvel entre po
vos muito diferentes uns dos outros em
interesse, aparência, riqueza e poder" (p.
147). Fazendo parte de um mundo onde é
cada vez mais difícil evilar o encontro, esse
programa responderia à crise moral e
poUtica que se apresenta no. dias de
hoje.
A consciência da crise é séria e o resul
lado incerto. Mas como Geertz não percebe
ou não admite umasaídaque seja ao mesmo
tempo moral e te6rica e, se é verdade,
como ela prega. que "the way of saying is
tire whal ofsaying", entllo ele está brincan
do e ironizando, e não dizendo muito.
Pode-se mesmo pergunlar que tipo de
diálogo é possível tendo como base a
irreverência e a ironia
Por outro lado, Geertz pàrece não se dar
conta de que, independentemente da
maneira como outros clássicos escreveram
(Weber, Freud, Marx etc.), seus problemas
teóricos permaneceram, passado mais de
um século,e o conteúdo doque produziram-
não foi ofuscado pelo tempo. E um sinal da
escuridao e da pobreza da nossa tradição
das ciências sociais contemporâneas, diz
nos o filósofo hindu A. K. Saran, que
"aqueles que tem a grandeza de perceber a
verdadeira natureza dacivilização moderna
e ver que o seu destino está selado não
tenham a magnanimidade de oferecer nada
mais que (...) uma: ciência melancólica, ou
uma arqueologia irônica (...) ou uma teoria
da cultura irônica, uma secularização de
segunda mão ou uma sociologia do nau
flágio" (Saran, 1987:32). A citaÇao parece
pertinente aqui.
Nas mãos do próprio Geertz, a et
nografia do pensamento moderno que ele
propós em "The way we thinl< now" perde
a candura: Geertz escreve com um objetivo
espec{fico - criar o desejado diálogo- e
a história se lransfonna em um mito que ele
cria em proveito próprio. Em 1988, Geertz
está longe de ver a cognição e o imaginário
como temas sociais segundo a proposta de
1983: na medida do seu interesse imedialO,
são a linguagem, o sucesso, as guerras ou a
espionâgem que recebem seu aplauso ou
reprovação. .
Ler Geertz é importante, porque nos faz
pensar sobre o texto antropológico como
texto literário, nós que lambém vivemos o
dilema da cientificidade. É bom eSIar aler-
9. sOPARA INI0A00S 101
la. noentanto. paraO puigo do esleticismo.
que O próprio Oeertz reconhece e aponl8,
apesarda inconsistência que demonstra em
relaçao a ele: a de que os elllólogos fiquem
muito presos àquestllorelÓrica e. porexem
pio.possam acreditar que o valor dos textos
sobre'latuagens ou feitiçaria se exaure nos
pmeres da escrita (p. 142).
É in�te que esta observaçao seja
feita apenas nas últimas páginas do livro:
armai. o leitor foi bombardeado com crí
ticas à retórica nos ensaios anteriores. Mas
é só neste último capítulo. quando Geenz
focalizaa questllo do b<!ing here, que enten
demos melhor o alcance de suas observa
ções.ÉentlloqueGeertz reconheceas ener
gias que criaram a antropologia em dois
fenômenos específicos: primeiro, na
expansllo imperial do Ocidente e. segundo,
na crença salvacionista da ciência (p. 146).
Nesse cOntexto, Evans-Pritchard leva a
pior, porque é culpado das duas: a segu
rança e o convencimento do seu estilo ser
vem de evidências a Geenz de que ele
participou da crença nos poderes da ciência
e deu sua aquiescência ao poder colonial. Já
Ruth Benedict, cuja contribuição à
antropologia pode ser questionada, recebe
os louvores de quem foi protagonista
popular e democrática. E como em Trisles
IropUjues ecoam diferentes gêneros
literários sem que os,livros se enquadre em
nenhum deles, pode-se dizer que aí nAO há
ciência nem colonialismo: frente ao choque
do estranharnento, Lévi-Strauss fica, bem
ao agrado deGeenz, perplexo, àprocura do
tempo perdido ou da triboque não consegue
alcançar. O livro se transforma, entllo, no
modelo contemporâneo de construção
etnográfica. Enfatizando o diálogo
democrático. a proposta de Geenz surge
como oposta à de Evans-Pritchard, o vilão
da hislÓria, e a opçao pelo discurso irOnico,
CUle, pontilhado de vírgulas e intercalado
por oraçOes subordinadas, repleto de
citaçOes estrangeiras, exorciza um sen
timento de culpa imperialista que Geertz
aparentemente partilha. Explica-se, entllo,
lanto a irrilação que lhe causa Evans
Pritchard quanto as leilllnlS amáveis mas
tendenciosas q� faz de Lévi-Strallss e
Rulll BenediCL
Ao leitor brasileiro cabe finalmente
lembrar que tudo isso nos faz pensar que o
nosso being he,. difere substancialmente
daquele de Geenz. Aqui, nao só a legi
timação da profissllo nao se dá apenas
dentro dos muros da academia,como being
her. e being lhe,. freqüentemente se con
fundem. Se o estilo de Geenz resuJla de
uma postura anticolonial que pretende sec,
ao mesmo tempo, anticientificisla, fica
claro que adotar umarelÓrica semelhante à
de Geenz somente nos faria pobres imi-
13dores de um sentimento de culpa que seria
palético incorporarmos. Por outro lado, ler
Lévi-Strauss, Malinowski, Rulll Benedict e
Evans-Piitchard àmaneira deGeenz igual- .
mente significaria uma perda da bossa
independência intelectual, empobrecendo a
contribuição que estes autores deram à dis
ciplina. No nosso lugar e no nosso tempo,
Geertz precisa sec integrado, mas critica
mente, depois de iniciados no fazer 30-
tropológi�o.
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