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tolerar fosse seu lugar ocupado pelo homem
cuja virtude domina os ímpetos da concupiscên-
cia. E armou a brutalidade do soldado romano
contra o Cordeiro Imaculado, culpado de remir o
homem, arrancando-o do lodaçal do vício e ele-
vando-o à sociedade dos espíritos celestes. Pois,
com humilhantes e atrozes padecimentos, su-
portados no seu Sagrado Corpo, purificou Jesus,
superabundantemente, nossas almas de nossas
culpas, e proporcionou, até ao mais miserável
pecador, a graça de alçar a cabeça e apresentar-
se ao Pai Celeste: “Surgam et ibo ad Patrem
meum – Levantar-me-ei e irei ter com meu
Pai” (Luc. XV, 18).
Abençoada Paixão de Jesus Cristo. “Mentita
est iniquitas sibi” (Salmo XXVI, 12). Armou o
demônio contra o Salvador os furores do averno
e teve como resultado sua própria derrota.
“Adoramus Te Christe et benedicimus tibi, quia
per sanctam crucem tuam redemisti mundum”.
HOMILIA DA SEXTA FEIRA SANTA
8 de abril de 1977
Dom Antônio de Castro Mayer
E eles O crucificaram
SANTOS E
FESTAS DO MÊS:
02– São Gregório de Nissa;
03– Santa Cunegundes;
04– São Casimiro;
06– Santas Perpétua e Felici-
dade;
07– Santo Tomás de Aquino;
09– Santa Francisca Romana;
12– São Gregório Magno;
17– São Patrício;
18– São Cirilo;
19– São José;
21– São Bento;
23– Santo Turíbio.
N E S T A
E D I Ç Ã O :
Homilia da Sexta-feira Santa 1 a 4
Sagração Dom Tomás de
Aquino
5
São José 6
São Pio X e o Catecismo 7, 8
Notícias da Resistência 9
Março/ 2016Edição 34
A Família CatólicaC A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S
I
Eles. Mais imediatamente, os soldados roma-
nos, que martelaram desapiedadamente os cra-
vos, transpassando os punhos e os pés adorá-
veis do Salvador, e fixando-os na cruz. Embrute-
cidos nas desordens de toda espécie, num exér-
cito falho do santo temor de Deus, habituados a
relaxar as tensões nervosas das campanhas
militares na ferocidade com que tratavam os
inimigos vencidos, tinham os soldados do
“Império”, como um regalo de festa, a faculdade
que lhes outorgavam os chefes de seviciarem,
com sabor sádico, uma vítima indefesa, já con-
denada a morte.
O infeliz sentenciado era, antes de tudo, sub-
metido à flagelação. Suplício tremendo ao qual,
frequentemente, sucumbiam suas desgraçadas
vítimas. Ficava o condenado à mercê da brutali-
dade bestial de homens grosseiros, robustos no
físico e aviltados na alma. Decidia o fim do suplí-
cio ou a morte da vitima, ou o cansaço dos ver-
dugos.
Não foram mais compassivos os esbirros a
cuja discrição entregou Pilatos a Jesus, “Jesum
tradidit voluntati eorum” (Luc. XXIII, 25).
Eis que o Bom Jesus, ao ser estendido sobre o
madeiro, é uma chaga viva, renovada pela vio-
lência com que lhe despiram de suas vestes. O
Santo Sudário de Turim, no mudo é eloqüente
depoimento dos fatos, testemunha as atrocida-
des praticadas sobre a sagrada humanidade do
Filho de Deus: A seqüência ininterrupta das cha-
gas, que pontilham todo o Corpo sacrossanto do
Salvador, diz-nos da freqüência e violência dos
golpes do flagelo, dotado de extremidades metá-
licas, que abriam sulcos na carne do Salvador,
como o arado vai sulcando a terra.
Como se tão desumana crueldade não bastas-
se, ainda por escárnio e irrisão, plantam-Lhe na
cabeça a coroa de espinhos.
Foi nesse estado lastimável, adornado com a
púrpura de seu próprio Sangue e com o diadema
de sua dolorosa realeza que o estenderam sobre
a cruz e terminaram sua tétrica missão, crucifi-
cando-O.
***
A soldadesca infrene, vã, boçal e tremenda-
mente feroz foi, sem dúvida, a vingança da carne
contra Aquele que viera sublimá-la na castidade
perfeita, parificando os homens aos anjos. Deca-
ído de sua glória, não podia o anjo das trevas
de que a sentença não lhe acarrete a desgraça ou lhe diminua
seu bem-estar. Um aceno a semelhante possibilidade bastou
para dobrar a aparente integridade do Procônsul. “Se absolves a
este não és amigo de César, porque todo o que se faz rei contra-
diz a César” (Jo. XIX, 12). Tais palavras avivaram na fantasia do
governador a figura de Tibério César: sua inflexibilidade em afas-
tar friamente de seu caminho quaisquer opositores, ainda mes-
mo seu parente mais chegado. E temeu pela sua posição. E entre
esta e a justiça, não tinha dúvida o pagão cético e sibarita em
sacrificar a justiça e salvar o alimento de sua vaidade e o funda-
mento de sua fortuna. Uma palavra, uma hipócrita purificação
das mãos, e sobre o sangue inocente abafam-se uns tênues res-
tos de remorso de consciência.
Essa a mentalidade pagã. Por isso, não lhe interessa a verda-
de. A Jesus, que anunciava o Reino da Verdade, Pilatos pergunta
entre intrigado e displicente: Que é a Verdade? – “Quid est veri-
tas?” (Jo. XVIII, 38). – Pergunta e não espera a resposta. Esta
pouco se lhe dá. Aos que vivem no circuito fechado desta terra,
são incômodos os princípios transcendentes que regulam a urdi-
dura das coisas humanas. Pois escapam
ao controle dos limites das faculdades do
homem. Obedecem aos desígnios de
Deus. E o pagão quer ser ele mesmo o
senhor de seu destino. Nem espera, nem
confia na justiça da Providência.
Na mentalidade pagã floresce a rebel-
dia do anjo das trevas. Que nisto consti-
tuiu sua revolta: sacudir a paternal dire-
ção com que Deus dispõe todas as coi-
sas para sua glória e o bem de sua cria-
tura. Quis ele ser como Deus, senhor
absoluto, ele mesmo, de seu destino.
Precipitado do Céu pela fidelidade dos
anjos bons, busca sua vingança, inocu-
lando no espírito do homem a mesma
louca pretensão de ser ele o árbitro de
toda ordem moral. Que outra coisa não
significa a promessa do tentador aos
nossos primeiros pais: “Se comerdes do
fruto desta arvore, não só não morrereis,
mas sereis como deuses, conhecendo o
bem e o mal”(gen. III, 5). Em outras pala-
vras, sereis por vós mesmos os árbitros
da ordem moral.
Jesus, que veio restaurar a ordem
transtornada pelo pecado, não poderia
não ter entre seus algozes os herdeiros
daquela primeira nefanda impiedade, em
que a criatura ousou pretender substituir-
se ao Criador. Pilatos, na Paixão de Jesus
Cristo, age como representante destes
herdeiros de todos os tempos. Por isso,
para lição nossa, é seu nome lembrado na profissão de Fé dos
que rejeitam a impiedade pagã, porque abrem seus corações,
reconhecidos, ao Padre Nosso que está nos Céus e por nós vela
amorosamente.
III
A bestialidade dos soldados romanos, sim. O naturalismo orgu-
lhoso do gentio, sem dúvida. Não são, porém, esses os que ar-
cam com a maior responsabilidade no maior crime da História.
Atesta-o o protagonista dessa tragédia, que se irradia pelos
séculos. Ao Procônsul, atônito com seu silêncio, declara o Salva-
dor: “Aquele que me entregou a ti responde por um pecado mai-
or – Qui me tradidit tibi maius peccatum habet” (Jo. 19, II). O que
me entregou a ti, o povo judeu, especialmente sua classe dirigen-
te, o Sinédrio, os anciãos, os príncipes do povo, os doutores da
lei, e à frente de todo o povo, a casta sacerdotal. Não fora a ação
decisiva dessa chusma de apóstatas, talvez o povo se comoves-
se quando Pilatos Ihes apresentou o Salvador desfigurado pela
flagelação e coroado de espinhos, e não prorrompesse no pedido
histérico da sentença capital.
Os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo! Já não estamos
entre a gente aviltada pela sordidez de uma vida grosseira e vici-
ada, nem nos havemos com o mesquinho pragmatismo pagão.
Estamos, agora, com o povo eleito. Para o gentio, Jesus era um
estranho; para o judeu, membro da família. Há toda a malícia do
Nós Vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, por-
que com Vossa Cruz remistes o mundo ›› .
II
Os soldados eram subalternos. Cumpriam ordens. Estavam a
serviço da autoridade romana. São homens do governador roma-
no, Pôncio Pilatos.
Esbirros e procônsul, fazem parte dessa área imensa da Huma-
nidade, imersa nas trevas do paganismo, na ignorância do Deus
Verdadeiro. São uns a ralé da abjeção a que desceu a natureza
humana após o pecado. De casta superior, com certa nobreza e
cultura, não é Pilatos menos abjeto no papel assumido ou aceito
no Drama do Calvário. Encarna ele essa mentalidade pagã do
homem decaído da excelência a que fora exaltado na Criação, e,
pois, voltado sobre si mesmo, dominado pelo egoísmo.
Por natureza servo de Deus, aperfeiçoa-se o homem na medida
em que aprimora seu devotamento ao Senhor dos Céus e da
terra. Pois faz ele parte desse concerto admirável em que todas
as criaturas formam coroa em torno da Sabedoria e Santidade
inefáveis dAquele que é a fonte de todo
o bem e de toda a verdade, para louvá-
lO incessantemente, proclamando sua
excelsa e altíssima transcendência.
Mas, seduzido pelo demônio, que blan-
diciosa e sorrateiramente lhe açula a
vaidade e o amor próprio, rejeita o ho-
mem o seu lugar na harmonia dos se-
res. Quer ser ele também um deus,
decretando os limites do bem e do mal.
Senhor e não servo da ordem moral. E
tornou-se um paradoxo. Os princípios
elementares do bom senso ditam-lhe
ainda algumas normas de justiça, su-
bordinadas, porém, ele aos seus inte-
resses. Pois, sem esperança de uma
vida futura, concentra seus planos na
obtenção da bem-aventurança na terra,
feita de vanglória e prazeres. Daí a bus-
ca ávida das riquezas e a caça do po-
der, dois elementos indispensáveis para
alimentar sua vaidade e sensualidade.
Neste afã inglório em torno de uma
quimera, sente o homem seus limites, e
passa a existência em sobressaltos:
teme perder o domínio e a fortuna. E
para conservá-los desce às ultimas
vilanias.
Por detrás de pilatos está Tibério Cé-
sar, cujo olhar frio percorre suspeitoso a
vastidão do Império receando um rival
que lhe dispute o cetro. Nas mãos de
Tibério está a sorte de Pilatos. E quem
limitou seus horizontes ao mundo presente, sabe tudo quanto
isso significa. Seu orgulho fazia-o desprezar o judeu. Por isso e,
mais ainda, pela convicção da inocência de Jesus Cristo – pois
sabia-o vítima da inveja dos sacerdotes e anciãos do povo – e
pela impressão de superior majestade do Divino acusado, Pilatos
empenhou-se por absolvê-lo. “Nullam invenio in neo causam” (Jo.
XIX. 4), declara ao povo aglomerado junto ao Pretório e aguilhoa-
do pelos sinedritas. «Não encontro razão para condená-lo». E
isso, após longo processo em que se sucederam os expedientes
mais abjetos, ditados pela covardia humana, que teme a única
saída honrosa: o cumprimento do dever, a absolvição do inocen-
te. Pois, apesar do reconhecimento público e solene da inocência
do Salvador, Pilatos cede, e o condena a morte. São Lucas subli-
nha a dupla iniqüidade envolvida na sentença com que o Procôn-
sul condenou Jesus e absolveu a Barrabás. Diante do tumulto
provocado no povo pelos príncipes dos sacerdotes e demais si-
nedritas, Pilatos lançou a sentença, fazendo-lhes a vontade: ab-
solveu, diz o Evangelista, aquele que fora preso por causa de
homicídio e sedição, pois que o povo o pedia, e a Jesus entregou-
O a morte, de acordo com a vontade de seus inimigos. Injusto
absolvendo o culpado, mais injusto condenando o inocente.
É que para Pilatos, como para os que desconhecem a transcen-
dência do homem, não há uma justiça objetiva. Há umas normas
de convívio humano que, por mais necessárias que sejam, ja-
mais se antepõem aos interesses próprios. Justo será o juiz des-
sacrifício da inocência na sentença pronunciada por Pilatos e na
ferocidade com que os esbirros a executaram. O judeu acrescen-
ta-Lhe a hediondez do parricídio. Pois, diz o Senhor no Levítico,
ele era o povo escolhido. “Eu serei vosso Deus, e vós sereis meu
povo”(Luc. 26, 12). Povo de predileção, objeto de um amor provi-
dente em todas as fases de sua história. Povo a quem governava
através de seus profetas e mantinha escoimados das crendices e
superstições que maculavam as religiões das outras gentes. A
aliança de Deus com o povo de Israel era um pacto sempiterno
(Is. 55, 3).
O povo eleito tinha uma missão. Competia-lhe a apresentação
ao mundo do Messias, o Salvador, por quem suspiravam as na-
ções, desde a promessa misericordiosa do Paraíso terrestre. E
eis que esse povo, no momento culminante de sua história,
quando tem no seu seio seu Rei, seu Senhor, o Messias, o Salva-
dor do gênero humano, nesse momento exato de realizar sua
missão providencial, quando devera conclamar a todos os povos
a adoração do enviado das nações para a redenção do mundo,
nesse momento, esse povo apostata. Rejeita e repele o Enviado
de Deus. “Nolumus hune regnare super nos – não queremos que
este reine sobre nós” (Luc. XIX, 14). E apostata, impulsionado
pela hierarquia sagrada. É Caifás, o sumo sacerdote, que, na
reunião do Sinédrio após a Ressurreição de Lazaro, para encer-
rar as dúvidas e dissipar os temores, propõe a morte dAquele
cuja vinda era a única razão de ser do povo eleito. “Não sabeis,
interferiu Caifás, que convém que um morra pelo povo, não ve-
nha toda a nação a perecer?” (Jo. XI, 50). E desde esse dia ficou
assentado que, para o Sinédrio, Jesus devia morrer. E devia mor-
rer por quê? Diz o Evangelho: porque Ele fazia muitos prodígios, e
se O deixassem, todo o mundo acreditaria nele (Jo. XI, 47 – 8).
Em outras palavras, Jesus devia morrer porque era o Messias.
Devia morrer porque realizava aqueles prodígios anunciados
pelos profetas como os sinais indicadores de que chegara o tem-
po messiânico.
– E quem se empenha por esta morte? – O Sumo Sacerdote.
Impossível mais assombrosa cegueira! À frente do povo de Deus,
como seu chefe teocrático, estava ali para apresentar o Messias
ao mundo: – Ouvi, povos, diria como os antigos profetas, aqui
está o Desejado das Nações, o Redentor do gênero humano,
aquele por quem fomos constituídos seu povo de eleição. Ei-lo
aqui. Finda esta nossa missão. Não haverá mais distinção entre
judeu e gentio, pois Cristo Jesus congrega todo o mundo num só
povo de Deus!
Oh! Bem que lógica, coerente, na ordem natural da Providência,
semelhante atitude superava os vícios do Sumo Sacerdote. Pois,
de há muito, o sacerdócio judaico era infiel ao seu ofício, arras-
tando o povo na sua infidelidade. A condenação de Jesus Cristo
pelo Sinédrio é o termo natural de uma longa obcecação que
levou o sacerdócio judaico a não compreender mais a linguagem
dos profetas, a perder o sentido real da redenção, a natureza
verdadeira do Reino messiânico, de ordem sobrenatural, verifica-
do nas regiões da Graça.
Caifás é o elo mais saliente de toda esta apostasia. Constituído
Sumo Sacerdote pelo Procônsul Valério Graco, a origem espúria
de seu pontificado está a indicar o conceito que fazia de sua
missão religiosa. Seu servilismo aos prepotentes do momento,
acentua-o seu longo pontificado de 18 consecutivos anos, que
ainda se alongaram em outros membros da família.
Diz Santo Agostinho que dois amores construíram duas cida-
des: o amor próprio até o desprezo de Deus é autor da cidade
terrena; e o amor de Deus até o desprezo próprio edificou a cida-
de celeste. Ou seja, pede-se um devotamento total a todo aquele
que almeja a cidadania celeste. Semelhante dedicação perfeita
exige-se especialmente daqueles que, por dever de ofício, estão
votados as coisas de Deus: os sacerdotes. Por isso, a infidelidade
do ministro sagrado torna-o vil e abjeto aos olhos de Deus e cau-
sa da apostasia de todo o povo. Pois, Caifás levou ao ápice a
infidelidade sacerdotal. Saduceu, era, como os da seita, materia-
lista. Não crendo já na imortalidade da alma, seu ideal se limita-
va as ambições terrenas: glória que alimentasse sua vaidade e
riquezas que saciassem sua cobiça.
Com tal sumo sacerdote, não se poderia pensar sequer num
Messias sofredor e austero, exemplo e arauto da virtude que
repara os desmandos do pecado, como descreviam os profetas o
Redentor do mundo. Como poderia, de fato, suportar o sacerdó-
cio de Caifás o novo Rabino a pregar a renúncia às riquezas e à
glória? Como poderia ouvir sem arrepios de escândalo a exorta-
ção do Divino Mestre: “Que adianta ao homem ganhar o mundo
todo se vier a perder sua alma?” (Mat. XVI, 26). Ou, então, a pe-
dir para si uma dedicação superior ao afeto a que fazem jus os
pais junto aos filhos? “Quem amar a sua mãe ou seu pai mais do
que a mim não é digno de mim” (Mt. 10,37). Um rabino que ou-
sava, sem pestanejar, expulsar a chicotadas os vendilhões do
Templo, todos eles clientes do Sumo Sacerdote?
Não. A cidade do sacerdócio judaico não era a cidade celeste
propugnada por Jesus Cristo. Por isso, devia Jesus morrer. Devia
morrer porque era fiel a sua missão de Enviado de Deus a pregar
a penitência para a remissão dos pecados. Devia morrer, outros-
sim, porque era amado do povo e punha em risco a popularidade
do sacerdócio oficial. Devia morrer sobretudo porque edificava a
cidade de Deus, e o sumo sacerdote estava engajado na cidade
do homem.
Esta é formada das paixões humanas, todas elas presentes
nos tormentos a que foi submetido o filho de Deus.
No episódio do Sinédrio, mais especialmente do sacerdócio
judaico, age o ódio na sua sanha de extermínio. A violência com
que arrastam a multidão na gritaria a pedir a crucifixão com o fim
de extorquir da cobardia do Procônsul a sentença de morte é
fruto desse ódio que deseja ver esmagado o rival detestado. O
mesmo ódio reponta na cena selvagem com que, após a senten-
ça do Sinédrio, os chefes religiosos incitaram os esbirros do palá-
cio, aos insultos mais ignóbeis contra a Pessoa adorável do Filho
de Deus. Partiram cobardemente aos socos e bofetadas, contra
Jesus indefeso, cuspindo na sua face sagrada. Quando magistra-
dos descem de sua dignidade para se misturarem à canalha vã é
porque o ódio já não guarda reservas. Não tem limites.
Um dos meios mais eficazes de que se serve o anjo das trevas
para desviar as almas do caminho do Céu e levá-las a aceitar
uma falsificação da Religião Verdadeira. Daí o ódio especial com
que persegue o demônio aqueles que lhe descobrem seu jogo
infernal.
O sacerdócio judaico iludia o povo com as aparências de fideli-
dade à revelação de Moisés, à palavra de Deus. Jesus denunciou
-lhe a hipocrisia. E assim despertou o ódio de morte. Precisa mor-
rer, dizia Caifás, aliás perdemos todo o povo. Pois o essencial é
que o povo não perceba nossa hipocrisia, nossas falsificações.
– Esse ardil do demônio é de todos os tempos. Consola-nos
que a vitória de Jesus Cristo também é de sempre. O véu do tem-
plo, na ocasião da morte de Jesus Cristo, rasgou-se de alto a
baixo anunciando o fim do Velho Testamento e igualmente a
vitória plena, completa, total de Jesus Cristo contra todas as insí-
dias do demônio.
IV
Óh, meu Jesus! Neste dia solene e trágico em que sois elevado
ao patíbulo infamante da Cruz, convém que se faca toda justiça.
Pois só a Justiça condiz com a Verdade, e Vós viestes para ins-
taurar o Reino da Verdade e dar testemunho da Verdade. Não
foram somente eles que Vos crucificaram. Fomos também nós. É
o que dizemos todos o dias na nossa profissão de Fé: ”Por nossa
causa e por nossa salvação desceu dos Céus, padeceu e foi cru-
cificado sob Póncio Pilatos ” .
Sim. Eles o crucificaram. Eles, os gentios e os judeus. Mas, nós
também o crucificamos. Nós, cristãos. Nós, que com Ele profes-
samos ter o mesmo pensamento – homo unanimis (Salmo 54,
14). Nós, que com Ele compartilhamos o pão à mesma mesa. Nós
que somos seus familiares, seus amigos: “Non dicam vos servos
sed amicos”. (Jo. 15, 15). Pois, nós também o crucificamos.
E se nos perguntarem quando o crucificamos, respondemos com
o argumento com que Santo Agostinho convenceu os judeus de
seu crime. Eles O crucificaram, diz o Doutor da Graça, quando di-
ante de Pilatos vociferaram o “crucifige”, extorquindo do Procôn-
sul a sentença de comodismo, nós, não o reconhecendo diante do
mundo que lhe é hostil.
Há, na Paixão de Jesus Cristo, uma figura singular, misto de intre-
pidez e medo, de dedicação e vilta. É São Pedro, o Príncipe dos
Apóstolos. Convencido de seu valor e valentia, faz ao Mestre os
mais ardentes protestos de fidelidade. “Ainda que todos te aban-
donem – assegura ele a Jesus – eu nunca te abandonarei”. “Ainda
que todos se escandalizem por tua causa, eu jamais me escandali-
zarei” (Mt. 26, 33). Pois estou pronto a ir ate o cárcere e mesmo a
morte, e “ainda que seja necessário morrer contigo, não te nega-
rei”. E no Jardim das Oliveiras, foi o único que se aventurou a de-
fender o Mestre com a espada. Decepou mesmo o orelha direita
de Malco, ímpeto contido pela mansidão do Salvador.
Depois, foi a fase da vilta. Como os demais apóstolos, abando-
nou o Mestre nas mãos dos seus algozes e fugiu covardemente.
Mais. No átrio do Palácio do Sumo Sacerdote, misturou-se aos
fâmulos da Casa, mais ou menos como quem é estranho ao que ali
se passava. E bastou que uma empregada – “ancilla ostiaria”, diz
São Joao, a porteira – ousasse denunciá-lo como discípulo de Cris-
to, para que sua reação fosse imediata: “Não conheço esse ho-
mem” (Mat. XXVI, 72). E confirmou sua negação com juramento e
imprecações: “coepit anathematizare et iurare quia non novisset
hominem” (Mc. XIV, 71).
Não conheço esse homem! Como mentes, Pedro, assim desaver-
gonhadamente? Não conheço esse homem… Mas, não foi Ele por
quem há pouco juravas dar a liberdade e mesmo a vida?
Não conheço esse homem! Mas não foi Ele que te fez seu discí-
pulo, que te prepôs ao colégio apostólico, a cujas glórias assistis-
tes no Tabor, que frequentemente conduzistes em tua barca, que
hospedavas em tua casa?
– Como não conheces esse homem? Eis o perjuro. E como as
quedas se sucedem vertiginosamente, não trepida Pedro de usar o
termo desprezível, «esse homem», como se fora qualquer anônimo
da rua, sobre o qual podem pesar todas as suspeitas, sem que se
comovam as pessoas de bem.
Eis a espada que mais feriu o Coração do Divino Mestre. Se meu
inimigo, disse Ele pelo Profeta, me amaldiçoasse, eu o suportaria.
Mas, tu que pensavas comigo, que comias comigo… (Salmo V, 15).
Os pagãos viviam nas trevas, sem a luz da Fé. Os judeus há mui-
to haviam falsificado a Religião verdadeira, com saudades das
bolotas dos porcos, a mamona da iniqüidade. Uns e outros esta-
vam em campo oposto ao do Mestre adorável. Mas Pedro, objeto
das predileções de Jesus, a quem acompanhou ao Jardim das
Oliveiras, que fora escolhido para testemunha de sua oração an-
gustiosa, que dera todas as garantias de sua dedicação, esse ago-
ra o nega vilmente, atemorizado por uma mulherzinha, porteira de
palácio? Acareadas as vilanias humanas ocorridas no decurso da
Paixão de Jesus Cristo, a de Pedro leva a palma.
Pois em toda a tragédia da Paixão de Cristo, Pedro é quem me-
lhor nos representa. Também nós fomos agraciados pela insondá-
vel Bondade do Salvador, que, sem nenhum mérito nosso, nos
chamou para a luz inestimável da Fé, para o seio de sua Igreja,
para filhos adotivos de seu Pai Celeste, para membros de sua fa-
mília, para participantes de sua natureza divina. Ele que nos ali-
menta com sua carne e seu sangue. Pois, apesar de todos esses
benefícios, outras tantas demonstrações de sua paternal bondade,
nós participamos da vilania de São Pedro. Diante do mundo, com
seu fausto, sua glória efêmera, com a ameaça de um ostracismo
sem maiores conseqüências, nós já esquecemos todos os favores
da munificência divina, vergonhosamente renegamos nossa condi-
ção de cristãos. “Non novi hominem”.
Não é acaso renegar a Jesus Cristo, o silenciar diante do ceticis-
mo diluído no pancristianismo, ao sabor de uma sociedade frívola
desejosa de uma Religião sem compromissos?
Não é acaso renegar a Jesus Cristo, o não combater o erro e as
ambigüidades doutrinárias que dessoram e fazem definhar a Fé,
base de toda verdadeira vida cristã?
Não é acaso renegar a Jesus Cristo o ajustar-se aos costumes e
aos trajes que alimentam a sensualidade e são a negação da virtu-
de cristã?
Não é acaso renegar a Jesus Cristo aceitar uma igreja nova, sem
contornos definidos, dentro de um ecumenismo vago e sem carác-
ter, pelo temor de ser apontado como causa de divisão entre os
fiéis?
Não é acaso renegar a Jesus Cristo o fazer-se arauto dos direitos
humanos, esquecendo os sacrossantos direitos de Deus?
Não é acaso renegar a Jesus Cristo reduzir sua obra redentora a
mera libertação de reais ou supostas opressões de ordem econô-
mico-social?
Não é acaso renegar a Jesus Cristo a preocupação excessiva
com a felicidade e os bens da terra, que faz esquecer o Reino do
Céu e a salvação da alma?
Quem de nós pode sinceramente isentar-se destas ou de outras
negações de Jesus Cristo? Sim. Na pessoa de São Pedro estáva-
mos nós a dizer: Non novi hominem. Não conheço a Jesus Cristo.
Oh! meu Bom Jesus… Apesar de minhas misérias, de minha ne-
gra traição ao vosso Nome, às promessas de meu Batismo, à vos-
sa Doutrina e ao vosso espírito, ouso apresentar-me a Vós, ouso
vir aos vossos pés e me aproximar de vossa Cruz. Pois ela encerra
o mistério do amor com que me amais, e este é infinito, supera
toda a minha malícia, por mais vã, odiosa e imensa que seja. O
estado em que Vos vejo, meu bom Jesus, revestido com a púrpura
de vosso Sangue, que jorra de todo vosso Corpo Sacrossanto, com
a cabeça coroada dessa cruciante coroa de ignomínia, privado de
todo movimento pelas cadeias que vos fixam nesse patíbulo infa-
mante, esse estado, meu Bom Jesus, é o que eu mereci por meus
pecados. E Vós, na vossa misteriosa, insondável misericórdia,
conhecendo minha fraqueza para suportá-lo, e como me seria
inútil, dados os limites de minha natureza, Vós me substituístes e
Vos apresentastes à inexorável Justiça Divina para reparar o que
por mim seria irreparável.
Compreendo agora, meu Salvador, todo o alcance da frase de
Vosso apostolo: “Dilexit me et tradidit semetipsum pro me – Amou-
me e entregou-se a morte por mim (Gal. II, 20). Sim, meu Bom
Jesus, Vós me amais com amor inefável. Se vossa dedicação por
mim vos levou ao martírio da Cruz, que receio posso ter eu de que
me não recebereis, à vista dos muitos e hediondos pecados que
deformam a minha alma e a tornam indigna de vossa presença?
Sei que vosso amor supera minha indignidade e que vosso Sangue
Divino pode purificar-me de todos os meus crimes. Por isso, confio
e me apresento a Vossa Misericórdia.
Mas, Senhor, pois que me amastes tanto, ouso pedir-Vos que me
deis a graça de Vos amar também eu, de corresponder ao Vosso
amor e de não pecar mais. Sim, meu Bom Jesus, não pecar mais.
Sou tão fraco, que nem sequer o que há de mais lógico, belo, natu-
ral e confortador como é amar-Vos, nem isso sei ou posso fazer.
Por isso, vinde, Senhor, em meu auxilio, e dai-me a graça de amar-
Vos e de não pecar mais.
Que vossa Mãe e Senhora das Dores, que assiste ao vosso mar-
tírio e nele participa, que a Senhora das Dores interceda por mim.
E já que A constituístes minha Mãe, que Ela fixe no meu coração
indelevelmente vossas chagas sacrossantas, que, em toda parte,
lembrem vosso amor por mim e a hediondez do meu pecado, que
vos reduziu a este estado lastimável de um farrapo humano. E que
esta lembrança seja eficaz para determinar no meu coração um
amor ardente por Vós e pelas almas que remistes com Vosso San-
gue.
Sancta Mater istud agas:
Crucifixi fige plagas
Cordi mea valide.
Fac ut ardeat cor meum
In amando Christum Deum
Ut sibi complaceam.
Santa Mãe do meu Senhor, dai-me a graça de trazer indelevel-
mente gravadas no coração as chagas do Divino Crucificado. Fazei
que meu coração se inflame no amor de Jesus Cristo para que
com Ele sempre me conforme. Amém. Assim seja.
Nota: Neste mês de março, consagrado a nosso pai São
José, padroeiro universal da Igreja, tivemos a graça de
presenciar, por mais uma vez, a Sagração Episcopal de
um bispo fiel ao legado de Mons. Lefebvre, nosso diretor
espiritual Dom Tomás de Aquino. Segue um belo texto
de autoria do prof. Carlos Nougué acerca de nosso mais
novo bispo. Na próxima edição de nosso jornal traremos
uma entrevista exclusiva com monsenhor.
***
Miguel Ferreira da Costa nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em
1954. Até a Faculdade de Advocacia, fez seus estudos no Colé-
gio de São Bento do Rio de Janeiro, onde tive a oportunidade
de ser por um breve tempo seu
colega de classe. Fez parte do mo-
vimento tradicionalista e antimo-
dernista organizado em torno de
Gustavo Corção e da revis-
ta Permanência; teve início então
sua vida de “fiel guerreiro da guer-
ra pós-conciliar pela Fé”, como
escreve Dom Williamson.Começou,
como dito, a cursar Advocacia, mas
abandonou-a para tornar-se monge
beneditino, com o nome de Tomás
de Aquino, no mosteiro francês do
Barroux, que tinha então por supe-
rior a Dom Gérard; e foi ordenado
sacerdote em 1980, em Êcone, por
Dom Marcel Lefebvre. Pôde então
privar da amizade, do exemplo, dos
ensinamentos do fundador da
FSSPX.
Veio ao Brasil com um grupo de monges do Barroux para
fundar o Mosteiro da Santa Cruz, em Nova Friburgo, Rio de
Janeiro/Brasil. Nesse ínterim, porém, Dom Gérard, contra a
instância de Dom Lefebvre, marchou para um acordo com a
Roma conciliar, contra o que se opôs também Dom Tomás de
Aquino. A separação foi então inevitável. O Mosteiro da Santa
Cruz, com total apoio e incentivo de Dom Lefebvre, tornou-se
assim independente, ainda que amigo da FSSPX. Com efeito,
escreveu pouco mais ou menos Dom Lefebvre a Dom Tomás
em carta que tive o privilégio de ler: O senhor deve reverência
e consulta aos bispos da FSSPX, mas estes não têm jurisdição
sobre o senhor, que, como prior do Mosteiro, há de ter autono-
mia.
Mas foi-se tornando difícil a relação de Dom Tomás e seu
Mosteiro com a FSSPX, sobretudo com a aproximação desta à
Roma neomodernista. Quando Bento XVI publicou seu Motu
proprio sobre o “rito extraordinário”, Dom Tomás de Aquino
negou-se a cantar na Missa de domingo o Te Deum pedido por
Dom Fellay para comemorar o documento papal, e, especial-
mente pela “suspensão das excomunhões” pelo mesmo papa,
escreveu Dom Tomás a Dom Fellay uma carta em que dizia
que não seguiria seus passos rumo a um acordo com a Roma
conciliar. Um tempo depois, aparecem no Mosteiro (sou teste-
munha presencial disto) Dom de Galarreta e o Padre Boucha-
court para dizer a Dom Tomás que ele teria quinze dias para
deixá-lo; se não o fizesse, o Mosteiro deixaria de receber ajuda
e sacramentos (incluído o da ordem) da FSSPX.
Escrevi a Dom Fellay para queixar-me de tal injustiça, e rece-
bi por resposta o seguinte: “O pro-
blema de Dom Tomás é mental.
Enquanto não deixar o Mosteiro,
este não receberá nossa ajuda”.
Respondi-lhe: “Devo ter eu também
o mesmo problema mental, porque
convivo há doze anos com Dom
Tomás e nunca o percebi nele”.
Tratava-se em verdade de algo simi-
lar ao stalinismo e seus hospitais
psiquiátricos para opositores.
Hesitou então Dom Tomás: se
deixasse o Mosteiro, seria a ruína
deste com respeito à Fé; se porém
permanecesse, privá-lo-ia de toda a
ajuda de que necessitava. Foi então
que veio em seu socorro Dom Willi-
amson: o nosso Bispo inglês escre-
veu uma carta a Dom Tomás em
que assegurava ao Mosteiro todos os sacramentos; poderia
assim Dom Tomás permanecer nele. Foi o suficiente para que
todos aqui reagíssemos: foi o começo do que hoje se conhece
por Resistência, e que teve por órgão primeiro a pági-
na web chamada SPES, hoje desativada por ter cumprido já o
papel a que se destinava. O Mosteiro passou a ser então cen-
tro de acolhimento para os sacerdotes que, querendo deixar a
FSSPX pela traição de seus superiores, hesitavam porém em
sair justo por não ter onde viver fora dela. Foi o lugar da sagra-
ção de Dom Faure, e será agora o lugar da sagração do mesmo
Dom Tomás de Aquino Ferreira da Costa, meu pai espiritual e o
amigo mais entranhável que Deus me poderia haver dado.
Sim, sou filho seu e do Mosteiro da Santa Cruz, e foi aqui, nes-
te cantinho do céu, que pude sentir pela primeira vez o tão
agradável odor da santidade.
Sagração Episcopal Dom Tomás de Aquino ,O.S.B.
Quem é Dom Tomás de Aquino Ferreira da Costa, nosso novo Bispo:
um testemunho
Carlos Nougué
(professor laico da Casa de Estudos Santo
Anselmo, do Mosteiro da Santa Cruz)
“Depois de Maria, Ele amou com uma afeição extraordinaria-
mente profunda e delicada aquele carpinteiro que Ele chamou
pelo nome de “pai”, cujos braços O embalaram entre mil cari-
nhos, na sua primeira infância, e cujas mãos calosas Lhe ofere-
ceram com emoção o primeiro pedaço de pão! Pensai nas lágri-
mas que deve ter derramado o nosso Irmão Jesus, recebendo o
último olhar e o último beijo de José moribundo, quando esse
Justo deixou na viuvez a Rainha e, órfão... Aquele Deus, o Naza-
reno.”
“Assim se vivia em Nazaré.
Para todos, Jesus não passava do pequeno Nazareno;
mas Maria e José penetravam pela sua fé nas misteriosas
e inefáveis condescendências do mistério de amor. Eles
viviam um Paraíso escondido com Jesus naquela humilde
povoação, longe dos olha-
res humanos...eles tinham
o céu em casa, mas um céu
que lhes era revelado por
uma fé imensa.
Oh! Possamos nós medi-
tar cada vez mais sobre a
vida da Santa Família!
Meditemos e saboreemos
aquela coabitação de fé,
aquela compenetração de
vida dos três corações em
Nazaré. Assim como Maria
e José, aprendamos a re-
zar, a sofrer, a lutar sempre
em companhia do Nazare-
no, nosso irmão em pleno
exílio... Pois, no fundo, a oficina de Nazaré continua abso-
lutamente a mesma, é o Tabernáculo, e aí vivemos na
intimidade, Jesus e nós, na íntima união de um grande
espírito de fé.
Sim, na base dessa residência real do Rei entre nós, é
fácil reproduzir a “convivência” de Nazaré no detalhe, no
regime rotineiro e bem ordinário de nossa vida.
A leitura meditada da vida de Santa Teresinha ser-nos-á
grandemente útil para
compreendermos essa
maravilhosa lição de espí-
rito de fé que é Nazaré.
Alguém escreveu que,
depois de São José, ne-
nhum santo compreendeu
nem realizou de um modo
mais profundo que Teresi-
nha, a vida simples e su-
blime do Rei e da Rainha,
durante trinta anos de
vida comum, e isso por
um espírito de fé levado
até o heroísmo.
Consultai aquela crian-
ça, o “Doutorzinho”, e que
ela vos conduza pela mão, por um caminho que nunca
engana, o de uma fé a toda prova, no caminho batido,
ordinário da vida cotidiana.
Jesus, Rei de amor. Pe. Mateo Crawley-Boevey
Eis aqui um breve resumo (da Encíclia Acerbo Nimis).
A encíclica começa por uma análise da decadência religiosa,
causada “pela ignorância das coisas divinas” que leva o ho-
mem à insensibilidade ao bem e ao mal. E daí vem a corrupção
moral que impele à “busca da mentira e ao amor da vaidade,
até a perda de si mesmo”. É somente no conhecimento das
coisas divinas que São Pio X vê o guia para a vontade desviada
do homem, e não hesita em declarar que essa estreita obriga-
ção e esse gravíssimo dever cabe àqueles que são Pastores de
almas, segundo o mandamento de Cristo. A seguir, a encíclica
traça a figura evangélica do padre professor e do pároco cate-
quista como propagadores da Doutrina de Jesus Cristo e salva-
dores da família humana, sedenta de luz e de verdade. Na ver-
dade, São Pio X afirma com franqueza apostólica: “Não existe
para o Padre, qualquer que seja, dever mais grave nem obriga-
ção mais estreita... Se essas coisas dizem respeito a todos os
padres, que diremos daqueles que, honrados com o título e o
poder de Párocos, cumprem o cargo de Diretor das almas em
virtude de sua dignidade e de uma espécie de contrato? Esses,
em certa medida, devem estar nas mesmas fileiras dos Pasto-
res e Doutores que Cristo instituiu justamente para que os Fiéis
não sejam mais como crianças, flutuantes e passíveis de serem
levados por qualquer vento de doutrina”.
A encíclica, referindo-se aos párocos, expõe então sábias
regras concernentes ao magistério catequético: ela lembra que
o catecismo vem antes da explicação do Evangelho, porque “o
discurso que se faz sobre o Santo Evangelho se dirige a ouvin-
tes que já devem possuir os elementos da Fé. Pode-se chamar
isso de pão que se distribui aos adultos. Mas o ensino catequé-
tico é este leite de que o Apóstolo São Pedro diz que os Fiéis
devem desejar sem artifício como os recém-nascidos”.
E Pio X acha oportuno, nesse texto, traçar as linhas mestras
didáticas de uma lição de catecismo que conduza a um reforma
de vida: “A tarefa do Catequista consiste em escolher como
assunto uma Verdade que se reporte à Fé ou à moral cristã, e
esclarecê-la sob todos os ângulos. Mas, como o objetivo do
ensino deve ser a reforma da vida, o catequista comparará o
que Deus manda fazer e o que os homens fazem na realidade.
Depois, aproveitando os exemplos que saberá tirar das santas
Escrituras, ou da História eclesiástica ou da Vida dos Santos,
ele explicará aos ouvintes e lhes mostrará, por assim dizer,
concretamente, como devem regrar sua conduta. Terminará por
uma exortação que possa lhes fazer detestar os vícios e fugir
deles e lhes fazer seguir o caminho da virtude”.
Na clara concepção didática de São Pio X, a lição de catecis-
mo comporta quatro problemas:
1– A primeira faz apelo à inteligência, através da exposição viva
e oral do mestre que detalhe a verdade religiosa em seus ele-
mentos. Aqui domina o caráter de ensino da catequese, talvez
em oposição a uma escola moralizante, mas vazia de doutrina,
que deixa a inteligência inativa.
2– Uma vez apresentada a verdade, ele quer que se faça
imediatamente depois
a comparação com a
vida prática: é um ato
interior de revisão e de
controle que solicita a
inteligência e a capaci-
dade de introspecção
do homem, e facilita a
posse assimilada da
moção. É um exame
de consciência, intro-
duzido rapidamente na didática catequética, e cuja eficácia é
incalculável.
3– O espírito, que antes hesitava em aderir à verdade catequé-
tica, busca agora apoios e confirmações nos exemplos práticos
e vividos que tem como função ultrapassar o saber religioso e
mostrá-lo concretizado entre os homens, tal como são repre-
sentados por uma literatura de inspiração divina, ou de verdade
histórica segura, além de ser uma literatura de edificação e de
encorajamento. É o elemento afetivo, grande questão na peda-
gogia atual. O coração tem seu papel na catequese, como em
todo ensinamento, e São Pio X, com o equilíbrio sensato que o
caracteriza, o coloca discretamente em seu devido lugar, para
que cumpra sua função.
4– A quarta parte fica reservada à vontade, de que São Pio X
demonstra ter um conceito amplo e soberano porque ela é a
coluna vertebral do homem. A exortação final que ele propõe
como conclusão é um agente volitivo, pois uma vez colocados e
esclarecidos os motivos da ação, só resta exortar a fazer, a por
em prática. Deve-se observar o bom senso dessas aplicações
volitivas, que não se esgotam em exortações frias e frequente-
mente ilógicas, quando não são fundadas sobre um pensamen-
to e um raciocínio. Elas deverão ser cimentadas no corpo vivo
da lição, no qual foram lançados os fundamentos da doutrina e,
portanto, das motivações. A psicologia volitiva atual celebra—
com razão– o caráter indispensável dos motivos que persua-
dem a inteligência e lhe fazem descobrir a beleza da verdade
que se torna amável, precisamente, pelo trabalho do coração: e
daqui para chegar à vontade, o passo é curto.
Sem estardalhaço de erudição pedagógica, Pio X resume o
melhor da doutrina educativa da Igreja Católica transmitida
pela experiência dos homens mais honrados e dignos de confi-
ança da escola cristã. Ainda hoje, quase meio século depois
dessa encíclica, (mais de um século para nós) ficamos admira-
dos com tanta simplicidade, vigor e verdade, e é preciso admitir
que certos santos dão aula para todas as épocas e oferecem,
em germe, o princípio vital do que os homens farão depois.
Depois de ter fornecido o método da lição, São Pio X confirma
o caráter oral do ensinamento catequético: “a Fé vem pela pre-
gação ouvida e a pregação se faz pela Palavra de Cristo”. É daí
que nasce o esboço escolar da catequese, retomado e posto
em prática por muitos padres apóstolos, como Mons. Luigi Vig-
na (de Cremona), Mons. Lorenzo Pavanelli (de Brescia),
Mons. Chizzoni e Mons. Carlo Maria Veneziani (de Piacenza),
assistidos por outros padres que souberam imprimir ao ensino
do catecismo a verdadeira face da escola, organizada em clas-
ses, paralela ao organismo escolar do Estado, com professores,
um programa de ciclos, textos, registros, boletins, guias didáti-
cos, um material instrutivo e doutrinal; com direção e secretaria-
do, exames e concursos, prêmios e festas, celebrações e aposto-
lado. No final, a encíclica dá as normas e diretivas aos paroquia-
nos, para concluir com um apelo fervoroso ao dever da prepara-
ção didática que, ainda hoje, detém o primado do trabalho cate-
quético: “Nós não gostaríamos, entretanto, que por amor à sim-
plicidade, viessem a crer que não é necessário, para tratar des-
ses assuntos, nem de trabalho nem de reflexão: ao contrário,
eles exigem mais do que qualquer outro assunto. É muito mais
fácil encontrar um orador falando abundantemente e com brilho
do que um catequista dando uma aula louvável em todos os
aspectos. Assim, seja qual for a facilidade de pensamento ou de
palavra que se tenha recebido da natureza, é necessário levar
em conta, com segurança, que nunca se poderá falar da Doutri-
na cristã às crianças ou ao povo, com fruto real para as almas,
sem ter-se preparado e armado por uma longa meditação. Enga-
nam-se os que, contando com a ignorância e a lentidão da inteli-
gência do povo, acham que podem permitir-se qualquer negligên-
cia. Muito pelo contrário, quanto mais incultos forem os ouvintes,
mais necessidade de aplicação e cuidado para colocar as verda-
des mais sublimes, tão afastadas da inteligência vulgar, ao al-
cance dos espíritos simples ou grosseiros, a quem elas são tão
necessárias quanto aos sábios, para obter a felicidade eterna”.
São Pio X afirma isso várias vezes em sua encíclica, convencido
de que o fruto da catequese é enormemente subordinado à pre-
paração didática: sem querer ele faz um auto-retrato, pois dom
Giuseppe Sarto, bispo, Patriarca e finalmente Pontífice, se prepa-
rava assim para suas catequeses, tanto às de Tombolo e de Sal-
zano, quanto às de Mântua e Veneza, e às que dava sobre o tro-
no de Pedro.
O PAPA DO CATECISMO
Em sua juventude, ele estudou o catecismo nos textos de sua
época. Jovem padre, desolava-se com a inadequação dos textos
e dos programas não conformes à capacidade intelectual de
seus jovens alunos, mas nada dizia. Pároco, observava essa lacu-
na e talvez se contentasse de conversar sobre o assunto com
seus confrades e evocar uma sadia renovação. Ele supria a ca-
rência de método com sua palavra e sua habilidade para expor a
doutrina. Bispo de Mântua, ele faz ver a insuficiência dos catecis-
mos diocesanos: queria uma matéria distribuída de modo mais
racional, uma forma e um estilo menos retóricos, mais imediatos
e mais concretos, sobretudo mais simples e mais essenciais. E já
falamos sobre sua moção no Primeiro Congresso Catequético
Nacional de Piacenza, em 1889: letra morta até 1912, ano em
que promulgou seu catecismo.
Quarenta anos se passaram (mais de um século para nós) des-
de esse 12 de outubro em que Pio X escreveu a Carta ao cardeal
Pietro Respighi, seu Vigário geral para a cidade de Roma; essa
carta sintetiza todos os seus outros documentos catequéticos e
está cheia de fervor paternal. Ela merece tornar-se conhecida
para poder ser aproveitada pelos padres e educadores cristãos
que aí encontrarão abundância de doutrina e sábias regras de
educação catequética.
“Desde as origens de Nosso Pontificado demos a maior impor-
tância à instrução religiosa do povo cristão e em particular das
crianças, persuadido de que uma grande parte dos males que
afligem a Igreja provêm da ignorância de sua doutrina e de suas
leis. Os inimigos da Igreja a condenam blasfemando sobre o que
ignoram, e muitos de seus filhos, conhecendo mal esta doutrina
e suas leis, vivem como se não fossem filhos da Igreja. É por isso
que insistimos com frequência sobre a enorme necessidade do
ensino catequético e o promovemos por toda parte, segundo
nosso poder, através da Carta Encílica Acerbo nimis e pelas dis-
posições concernentes aos catecismos nas paróquias, mas tam-
bém pelas aprovações e encorajamentos aos congressos cate-
quéticos e às escolas de religião e pela introdução aqui em Roma
do texto do Catecismo utilizado em certas grandes Províncias
eclesiásticas da Itália.
Entretanto, passados alguns anos, por causa de novas dificulda-
des insidiosamente contrárias a todo ensino da doutrina cristã
nas escolas, onde ele era ministrado a séculos, mas também por
útil antecipação, desejada por Nós, da primeira comunhão das
crianças, e por outros motivos, tendo-Nos sido exprimido o dese-
jo de um Catecismo suficiente, que seja muito mais breve e mais
adaptado às exigências de hoje, consentimos em abreviar o anti-
go catecismo num novo, muito resumido, que Nós mesmos exa-
minamos, e quisemos que fosse examinado por numerosos Con-
frades Bispos da Itália, a fim de que exprimissem seu parecer em
geral, e que indicassem em particular, segundo sua sabedoria e
sua experiência, as modificações a serem feitas.
Tendo recebido por parte deles uma apreciação favorável qua-
se unânime, assim como um grande número de preciosas obser-
vações, que ordenamos fossem levadas em conta, parece-Nos
que não devemos mais protelar uma substituição de texto, reco-
nhecida como oportuna por diferentes razões. Temos confiança
de que esse texto, com a benção do Senhor, revelar-se-á muito
mais prático e tão vantajoso – ou talvez mais – para as almas
que o antigo: reduzido significativamente, ele não irá desencora-
jar os mais jovens, sobre os quais já pesam os densos programas
escolares, e permitirá aos mestres e aos catequistas ensiná-lo
inteiro, e apesar de sua brevidade, encontram-se explicadas e
enfatizadas ali essas Verdades que hoje, em grande detrimento
das almas e da sociedade, são as mais combatidas, mal compre-
endidas ou esquecidas.
Temos confiança que os adultos que desejarem – como devem
às vezes para viver melhor e para educar sua família – reavivar
em suas almas os conhecimentos fundamentais sobre os quais
repousa a vida espiritual e moral cristã, considerarão útil e apre-
ciarão esta curta suma, muito cuidada na forma, onde encontra-
rão expostas com grande simplicidade as verdades divinas capi-
tais e as reflexões cristãs mais eficazes.
Consequentemente, nós aprovamos esse catecismo e os pri-
meiros exemplares que queremos imprimir para uso das crianças
pequenas, sem modificação de texto, e o prescrevemos para a
diocese e a província eclesiástica de Roma, pela autoridade da
presente, e proibimos que doravante seja seguido qualquer outro
texto no ensino catequético. Quanto às outras dioceses da Itália,
basta que exprimamos o voto de que o mesmo texto, considera-
do suficiente por Nós e por numerosos Ordinários, seja igualmen-
te adotado, entre outras razões para que cesse a nefasta confu-
são e o incômodo que muitos experimentam hoje em suas fre-
quentes mudanças de domicílio, encontrando em seus novos
locais de residência fórmulas e textos significativamente diferen-
tes, difíceis de aprender, que os faz confundir e finalmente es-
quecer a doutrina que já sabiam. É pior o que acontece com as
crianças, porque nada é mais fatal para o sucesso
de um ensino do que continuá-lo com um texto
diferente do que aquele a que o jovem já está mais
ou menos acostumado.
Os adultos poderão encontrar algumas dificuldades para instru-
ção do presente texto, porque ele se afasta do precedente em
certas fórmulas; para remediar a esses inconvenientes ordena-
mos que em todas as missas principais, como em todas as aulas
de doutrina cristã, sejam recitadas no início, em voz alta, clara,
pausadamente, as primeiras orações e as fórmulas principais.
Desse modo, depois de algum tempo, sem esforço, todos as
aprenderão e teremos introduzido um excelente hábito de oração
e de instrução comum, que já está em vigor em inúmeras dioce-
ses da Itália, com edificação e proveito.
Exortamos vivamente no Senhor todos os catequistas, agora
que a própria brevidade do texto facilita o trabalho, a querer, com
o maior cuidado, explicar e fazer penetrar a doutrina cristã nas
almas das crianças pequenas, pois hoje é enorme a necessidade
de uma sólida instrução religiosa por causa da difusão da impie-
dade e da imoralidade. Que eles lembrem sempre que o fruto do
catecismo depende quase totalmente de seu zelo e de sua inteli-
gência e habilidade de tornar o ensino mais leve e agradável aos
alunos.
Pedimos a Deus que, assim como hoje os inimigos da Fé, cada
vez em maior número e mais poderosos, propagam o erro por
todos os meios, também se levantem em grande número almas
desejosas de assistir com zelo os párocos, mestres e pais cristãos
no ensino do catecismo, tão necessário quanto nobre e fecundo”.
A data e a augusta assinatura, precedidas de uma afetuosa
bênção, selam esse importante documento pontifical que não
perdeu nada de sua urgência e praticidade.
É necessário trazer algumas notas de caráter didático á margem
dessa pequena obra prima da catequese cristã que, durante esse
meio século (quase um século! n.r) que passou foi o código da fé
de várias gerações de crianças. O “catecismo”, sabe-se, foi redigi-
do por ordem de São Pio X, reduzindo o texto antigo utilizado em
certas dioceses italianas e cuja redação era muito extensa, texto
pouco indicado para a escola dos pequenos que, graças ao decre-
to “Quam singulari” do próprio Pio X, passaram a fazer a Primeira
Comunhão mais cedo do que no passado. Era necessário então
um catecismo suficiente, mas curto e sintético, podendo facilmen-
te ser aprendido de cor, conforme os augustos ensinamentos da
encíclica de 1905. As crianças faziam sua estréia na escola de
catecismo, como um dique para frear a ruína de um aprendizado
que não se enraizava nas inteligências infantis antes da dissipa-
ção característica da crise da puberdade e, mais ainda, na adoles-
cência. O Papa Pio X examinou pessoalmente a nova redação e
confiou a revisão linguística a Giulio Salvadori, homem de letras
cujo processo de coleta de infor-
mações em vista da beatifica-
ção está aberto.
É assim que temos o
“Catecismo da Doutrina Cristã”,
chamado, ainda hoje, de
“Catecismo de São Pio X”, preci-
oso livrinho que
educou e ainda
educa na fé gera-
ções inteiras de
católicos. A organização didática catequética distin-
gue, entretanto, o formulário do verdadeiro texto: o
formulário condensa, em fórmulas breves e preci-
sas, o cerne de uma verdade religiosa, para ser
integralmente decorado; o texto, ao contrário, so-
bre as bases do formulário, o expõe de forma simples e clara, de
modo a chegar, como conclusão lógica e teológica, à mesma fór-
mula. O Catecismo de São Pio X é um formulário, não é um texto:
enquanto tal ele serve aos pequenos e aos grandes, aos sábios e
aos iletrados. É a síntese ortodoxa do conjunto doutrinal do Catoli-
cismo: da teologia dogmática, moral, sacramental, numa forma
didática simples. Ele possui todas as qualidades da síntese: conci-
são, clareza, simplicidade, integridade e fidelidade. Certamente a
fórmula exige, como a regra gramatical, para a inteligência co-
mum, a exposição feita por um professor. A fórmula não pode
substituir o ensino vivo do professor. É por isso que, enquanto
síntese, o sistema de fórmulas de Pio X é o que pudemos ter de
mais admirável até hoje no domínio do catecismo.
Observou-se a dificuldade teminológica de certas fórmulas, du-
ras e áridas para o espírito das crianças. É evidente que o catecis-
mo, por natureza, é rico em termos abstratos e em noções espe-
culativas, mas isso é próprio da essência da doutrina cristã que é
revelada, e que concerne a relação do homem criado com Deus
criador. Que o catecismo de Pio X pareça às vezes difícil para as
crianças é um fato admissível, especialmente em certas fórmulas,
particularmente condensadas, mas a divisão em ciclos, comu-
mente em vigor nos textos didáticos, modera a aspereza dosando
o conteúdo catequético segundo o critério da idade. Talvez o erro
mais difundido seja o de considerá-lo um verdadeiro texto, quan-
do é simplesmente um sistema de fórmulas, ao qual todos os
redatores de texto vão recorrer. Há também o erro que consiste
em concebê-lo como um ponto de partida para a catequese oral,
quando ele é um ponto de chegada, a conclusão da exposição da
lição dada pelo mestre com as ferramentas que a pedagogia atual
recomenda.
Decênios de experiência ensinaram muito a respeito do sistema
de perguntas e respostas de Pio X: ele assegurou, sobretudo,
essa preciosa unidade e uniformidade de terminologia que é mui-
to importante no estudo religioso das crianças e do povo, e que
foi uma das intenções principais do Santo Pontífice. E as observa-
ções que ele fez em 1912 sobre a migração fácil das famílias de
uma cidade para outra, são hoje fortemente confirmadas pela
movimentação contínua das famílias no território nacional. As
notas de natureza terminológica, sobre a concisão dos conceitos,
são explicadas com absoluta exatidão e precisão doutrinal. Na
verdade, aqui e ali houve algumas tentativas de novos formulários
catequéticos, talvez na intenção de substituir o de Pio X, e conse-
guiu-se algo mais claro e menos duro, mas aumentando a quanti-
dade de texto, e expondo às vezes em meia página o que o cate-
cismo de Pio X expunha no máximo em
duas ou três linhas. Este último ainda
permanece vivo, perene, incisivo. É um
monumento de doutrina, de síntese, de
clareza, de piedade, porque as peque-
nas fórmulas catequéticas estão chei-
as de unção e educam para a verdadei-
ra piedade cristã.
Ignatius
Fonte: SIM SIM NÃO NÃO
– Ano XV nº 172, Maio/
Junho-2010
Edição:
Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória, ES.
http:/www.nossasenhoradasalegrias.com.br
Entre em contato conosco pelo e-mail:
jornalafamiliacatolica@gmail.com
" Seu olhar, sua conversação, todo o seu modo de ser, estavam impregnados de três coi-
sas: bondade, firmeza e fé. A bondade do homem, a firmeza do governante e a fé do
cristão...” Mons. Baudrillart
A principal notícia desta coluna não poderia ser outra que a Sagração do prior do Mosteiro da Santa Cruz, diretor deste
pequeno jornal. Um dia antes da sagração, dia 18, o mosteiro enfrentou uma violenta chuva, deixando todos temerosos
quanto ao dia seguinte. Mas graças a São José, o dia 19 de março foi um belo dia. Inesquecível. A manhã estava agradá-
vel, branda, à imitação daquele que seria sagrado. De maneira particular o sol raiou e apareceu entre as nuvens no mo-
mento que a cerimonia de sagração se iniciou. Seria uma aprovação dos céus? Pensamos que sim. Um dia para ficar
guardado na memória. Dia que a terra de Santa Cruz ganhou mais um bispo fiel à Santa Igreja.

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A família católica, 34 edição. março 2016

  • 1. tolerar fosse seu lugar ocupado pelo homem cuja virtude domina os ímpetos da concupiscên- cia. E armou a brutalidade do soldado romano contra o Cordeiro Imaculado, culpado de remir o homem, arrancando-o do lodaçal do vício e ele- vando-o à sociedade dos espíritos celestes. Pois, com humilhantes e atrozes padecimentos, su- portados no seu Sagrado Corpo, purificou Jesus, superabundantemente, nossas almas de nossas culpas, e proporcionou, até ao mais miserável pecador, a graça de alçar a cabeça e apresentar- se ao Pai Celeste: “Surgam et ibo ad Patrem meum – Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai” (Luc. XV, 18). Abençoada Paixão de Jesus Cristo. “Mentita est iniquitas sibi” (Salmo XXVI, 12). Armou o demônio contra o Salvador os furores do averno e teve como resultado sua própria derrota. “Adoramus Te Christe et benedicimus tibi, quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum”. HOMILIA DA SEXTA FEIRA SANTA 8 de abril de 1977 Dom Antônio de Castro Mayer E eles O crucificaram SANTOS E FESTAS DO MÊS: 02– São Gregório de Nissa; 03– Santa Cunegundes; 04– São Casimiro; 06– Santas Perpétua e Felici- dade; 07– Santo Tomás de Aquino; 09– Santa Francisca Romana; 12– São Gregório Magno; 17– São Patrício; 18– São Cirilo; 19– São José; 21– São Bento; 23– Santo Turíbio. N E S T A E D I Ç Ã O : Homilia da Sexta-feira Santa 1 a 4 Sagração Dom Tomás de Aquino 5 São José 6 São Pio X e o Catecismo 7, 8 Notícias da Resistência 9 Março/ 2016Edição 34 A Família CatólicaC A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S I Eles. Mais imediatamente, os soldados roma- nos, que martelaram desapiedadamente os cra- vos, transpassando os punhos e os pés adorá- veis do Salvador, e fixando-os na cruz. Embrute- cidos nas desordens de toda espécie, num exér- cito falho do santo temor de Deus, habituados a relaxar as tensões nervosas das campanhas militares na ferocidade com que tratavam os inimigos vencidos, tinham os soldados do “Império”, como um regalo de festa, a faculdade que lhes outorgavam os chefes de seviciarem, com sabor sádico, uma vítima indefesa, já con- denada a morte. O infeliz sentenciado era, antes de tudo, sub- metido à flagelação. Suplício tremendo ao qual, frequentemente, sucumbiam suas desgraçadas vítimas. Ficava o condenado à mercê da brutali- dade bestial de homens grosseiros, robustos no físico e aviltados na alma. Decidia o fim do suplí- cio ou a morte da vitima, ou o cansaço dos ver- dugos. Não foram mais compassivos os esbirros a cuja discrição entregou Pilatos a Jesus, “Jesum tradidit voluntati eorum” (Luc. XXIII, 25). Eis que o Bom Jesus, ao ser estendido sobre o madeiro, é uma chaga viva, renovada pela vio- lência com que lhe despiram de suas vestes. O Santo Sudário de Turim, no mudo é eloqüente depoimento dos fatos, testemunha as atrocida- des praticadas sobre a sagrada humanidade do Filho de Deus: A seqüência ininterrupta das cha- gas, que pontilham todo o Corpo sacrossanto do Salvador, diz-nos da freqüência e violência dos golpes do flagelo, dotado de extremidades metá- licas, que abriam sulcos na carne do Salvador, como o arado vai sulcando a terra. Como se tão desumana crueldade não bastas- se, ainda por escárnio e irrisão, plantam-Lhe na cabeça a coroa de espinhos. Foi nesse estado lastimável, adornado com a púrpura de seu próprio Sangue e com o diadema de sua dolorosa realeza que o estenderam sobre a cruz e terminaram sua tétrica missão, crucifi- cando-O. *** A soldadesca infrene, vã, boçal e tremenda- mente feroz foi, sem dúvida, a vingança da carne contra Aquele que viera sublimá-la na castidade perfeita, parificando os homens aos anjos. Deca- ído de sua glória, não podia o anjo das trevas
  • 2. de que a sentença não lhe acarrete a desgraça ou lhe diminua seu bem-estar. Um aceno a semelhante possibilidade bastou para dobrar a aparente integridade do Procônsul. “Se absolves a este não és amigo de César, porque todo o que se faz rei contra- diz a César” (Jo. XIX, 12). Tais palavras avivaram na fantasia do governador a figura de Tibério César: sua inflexibilidade em afas- tar friamente de seu caminho quaisquer opositores, ainda mes- mo seu parente mais chegado. E temeu pela sua posição. E entre esta e a justiça, não tinha dúvida o pagão cético e sibarita em sacrificar a justiça e salvar o alimento de sua vaidade e o funda- mento de sua fortuna. Uma palavra, uma hipócrita purificação das mãos, e sobre o sangue inocente abafam-se uns tênues res- tos de remorso de consciência. Essa a mentalidade pagã. Por isso, não lhe interessa a verda- de. A Jesus, que anunciava o Reino da Verdade, Pilatos pergunta entre intrigado e displicente: Que é a Verdade? – “Quid est veri- tas?” (Jo. XVIII, 38). – Pergunta e não espera a resposta. Esta pouco se lhe dá. Aos que vivem no circuito fechado desta terra, são incômodos os princípios transcendentes que regulam a urdi- dura das coisas humanas. Pois escapam ao controle dos limites das faculdades do homem. Obedecem aos desígnios de Deus. E o pagão quer ser ele mesmo o senhor de seu destino. Nem espera, nem confia na justiça da Providência. Na mentalidade pagã floresce a rebel- dia do anjo das trevas. Que nisto consti- tuiu sua revolta: sacudir a paternal dire- ção com que Deus dispõe todas as coi- sas para sua glória e o bem de sua cria- tura. Quis ele ser como Deus, senhor absoluto, ele mesmo, de seu destino. Precipitado do Céu pela fidelidade dos anjos bons, busca sua vingança, inocu- lando no espírito do homem a mesma louca pretensão de ser ele o árbitro de toda ordem moral. Que outra coisa não significa a promessa do tentador aos nossos primeiros pais: “Se comerdes do fruto desta arvore, não só não morrereis, mas sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal”(gen. III, 5). Em outras pala- vras, sereis por vós mesmos os árbitros da ordem moral. Jesus, que veio restaurar a ordem transtornada pelo pecado, não poderia não ter entre seus algozes os herdeiros daquela primeira nefanda impiedade, em que a criatura ousou pretender substituir- se ao Criador. Pilatos, na Paixão de Jesus Cristo, age como representante destes herdeiros de todos os tempos. Por isso, para lição nossa, é seu nome lembrado na profissão de Fé dos que rejeitam a impiedade pagã, porque abrem seus corações, reconhecidos, ao Padre Nosso que está nos Céus e por nós vela amorosamente. III A bestialidade dos soldados romanos, sim. O naturalismo orgu- lhoso do gentio, sem dúvida. Não são, porém, esses os que ar- cam com a maior responsabilidade no maior crime da História. Atesta-o o protagonista dessa tragédia, que se irradia pelos séculos. Ao Procônsul, atônito com seu silêncio, declara o Salva- dor: “Aquele que me entregou a ti responde por um pecado mai- or – Qui me tradidit tibi maius peccatum habet” (Jo. 19, II). O que me entregou a ti, o povo judeu, especialmente sua classe dirigen- te, o Sinédrio, os anciãos, os príncipes do povo, os doutores da lei, e à frente de todo o povo, a casta sacerdotal. Não fora a ação decisiva dessa chusma de apóstatas, talvez o povo se comoves- se quando Pilatos Ihes apresentou o Salvador desfigurado pela flagelação e coroado de espinhos, e não prorrompesse no pedido histérico da sentença capital. Os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo! Já não estamos entre a gente aviltada pela sordidez de uma vida grosseira e vici- ada, nem nos havemos com o mesquinho pragmatismo pagão. Estamos, agora, com o povo eleito. Para o gentio, Jesus era um estranho; para o judeu, membro da família. Há toda a malícia do Nós Vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, por- que com Vossa Cruz remistes o mundo ›› . II Os soldados eram subalternos. Cumpriam ordens. Estavam a serviço da autoridade romana. São homens do governador roma- no, Pôncio Pilatos. Esbirros e procônsul, fazem parte dessa área imensa da Huma- nidade, imersa nas trevas do paganismo, na ignorância do Deus Verdadeiro. São uns a ralé da abjeção a que desceu a natureza humana após o pecado. De casta superior, com certa nobreza e cultura, não é Pilatos menos abjeto no papel assumido ou aceito no Drama do Calvário. Encarna ele essa mentalidade pagã do homem decaído da excelência a que fora exaltado na Criação, e, pois, voltado sobre si mesmo, dominado pelo egoísmo. Por natureza servo de Deus, aperfeiçoa-se o homem na medida em que aprimora seu devotamento ao Senhor dos Céus e da terra. Pois faz ele parte desse concerto admirável em que todas as criaturas formam coroa em torno da Sabedoria e Santidade inefáveis dAquele que é a fonte de todo o bem e de toda a verdade, para louvá- lO incessantemente, proclamando sua excelsa e altíssima transcendência. Mas, seduzido pelo demônio, que blan- diciosa e sorrateiramente lhe açula a vaidade e o amor próprio, rejeita o ho- mem o seu lugar na harmonia dos se- res. Quer ser ele também um deus, decretando os limites do bem e do mal. Senhor e não servo da ordem moral. E tornou-se um paradoxo. Os princípios elementares do bom senso ditam-lhe ainda algumas normas de justiça, su- bordinadas, porém, ele aos seus inte- resses. Pois, sem esperança de uma vida futura, concentra seus planos na obtenção da bem-aventurança na terra, feita de vanglória e prazeres. Daí a bus- ca ávida das riquezas e a caça do po- der, dois elementos indispensáveis para alimentar sua vaidade e sensualidade. Neste afã inglório em torno de uma quimera, sente o homem seus limites, e passa a existência em sobressaltos: teme perder o domínio e a fortuna. E para conservá-los desce às ultimas vilanias. Por detrás de pilatos está Tibério Cé- sar, cujo olhar frio percorre suspeitoso a vastidão do Império receando um rival que lhe dispute o cetro. Nas mãos de Tibério está a sorte de Pilatos. E quem limitou seus horizontes ao mundo presente, sabe tudo quanto isso significa. Seu orgulho fazia-o desprezar o judeu. Por isso e, mais ainda, pela convicção da inocência de Jesus Cristo – pois sabia-o vítima da inveja dos sacerdotes e anciãos do povo – e pela impressão de superior majestade do Divino acusado, Pilatos empenhou-se por absolvê-lo. “Nullam invenio in neo causam” (Jo. XIX. 4), declara ao povo aglomerado junto ao Pretório e aguilhoa- do pelos sinedritas. «Não encontro razão para condená-lo». E isso, após longo processo em que se sucederam os expedientes mais abjetos, ditados pela covardia humana, que teme a única saída honrosa: o cumprimento do dever, a absolvição do inocen- te. Pois, apesar do reconhecimento público e solene da inocência do Salvador, Pilatos cede, e o condena a morte. São Lucas subli- nha a dupla iniqüidade envolvida na sentença com que o Procôn- sul condenou Jesus e absolveu a Barrabás. Diante do tumulto provocado no povo pelos príncipes dos sacerdotes e demais si- nedritas, Pilatos lançou a sentença, fazendo-lhes a vontade: ab- solveu, diz o Evangelista, aquele que fora preso por causa de homicídio e sedição, pois que o povo o pedia, e a Jesus entregou- O a morte, de acordo com a vontade de seus inimigos. Injusto absolvendo o culpado, mais injusto condenando o inocente. É que para Pilatos, como para os que desconhecem a transcen- dência do homem, não há uma justiça objetiva. Há umas normas de convívio humano que, por mais necessárias que sejam, ja- mais se antepõem aos interesses próprios. Justo será o juiz des-
  • 3. sacrifício da inocência na sentença pronunciada por Pilatos e na ferocidade com que os esbirros a executaram. O judeu acrescen- ta-Lhe a hediondez do parricídio. Pois, diz o Senhor no Levítico, ele era o povo escolhido. “Eu serei vosso Deus, e vós sereis meu povo”(Luc. 26, 12). Povo de predileção, objeto de um amor provi- dente em todas as fases de sua história. Povo a quem governava através de seus profetas e mantinha escoimados das crendices e superstições que maculavam as religiões das outras gentes. A aliança de Deus com o povo de Israel era um pacto sempiterno (Is. 55, 3). O povo eleito tinha uma missão. Competia-lhe a apresentação ao mundo do Messias, o Salvador, por quem suspiravam as na- ções, desde a promessa misericordiosa do Paraíso terrestre. E eis que esse povo, no momento culminante de sua história, quando tem no seu seio seu Rei, seu Senhor, o Messias, o Salva- dor do gênero humano, nesse momento exato de realizar sua missão providencial, quando devera conclamar a todos os povos a adoração do enviado das nações para a redenção do mundo, nesse momento, esse povo apostata. Rejeita e repele o Enviado de Deus. “Nolumus hune regnare super nos – não queremos que este reine sobre nós” (Luc. XIX, 14). E apostata, impulsionado pela hierarquia sagrada. É Caifás, o sumo sacerdote, que, na reunião do Sinédrio após a Ressurreição de Lazaro, para encer- rar as dúvidas e dissipar os temores, propõe a morte dAquele cuja vinda era a única razão de ser do povo eleito. “Não sabeis, interferiu Caifás, que convém que um morra pelo povo, não ve- nha toda a nação a perecer?” (Jo. XI, 50). E desde esse dia ficou assentado que, para o Sinédrio, Jesus devia morrer. E devia mor- rer por quê? Diz o Evangelho: porque Ele fazia muitos prodígios, e se O deixassem, todo o mundo acreditaria nele (Jo. XI, 47 – 8). Em outras palavras, Jesus devia morrer porque era o Messias. Devia morrer porque realizava aqueles prodígios anunciados pelos profetas como os sinais indicadores de que chegara o tem- po messiânico. – E quem se empenha por esta morte? – O Sumo Sacerdote. Impossível mais assombrosa cegueira! À frente do povo de Deus, como seu chefe teocrático, estava ali para apresentar o Messias ao mundo: – Ouvi, povos, diria como os antigos profetas, aqui está o Desejado das Nações, o Redentor do gênero humano, aquele por quem fomos constituídos seu povo de eleição. Ei-lo aqui. Finda esta nossa missão. Não haverá mais distinção entre judeu e gentio, pois Cristo Jesus congrega todo o mundo num só povo de Deus! Oh! Bem que lógica, coerente, na ordem natural da Providência, semelhante atitude superava os vícios do Sumo Sacerdote. Pois, de há muito, o sacerdócio judaico era infiel ao seu ofício, arras- tando o povo na sua infidelidade. A condenação de Jesus Cristo pelo Sinédrio é o termo natural de uma longa obcecação que levou o sacerdócio judaico a não compreender mais a linguagem dos profetas, a perder o sentido real da redenção, a natureza verdadeira do Reino messiânico, de ordem sobrenatural, verifica- do nas regiões da Graça. Caifás é o elo mais saliente de toda esta apostasia. Constituído Sumo Sacerdote pelo Procônsul Valério Graco, a origem espúria de seu pontificado está a indicar o conceito que fazia de sua missão religiosa. Seu servilismo aos prepotentes do momento, acentua-o seu longo pontificado de 18 consecutivos anos, que ainda se alongaram em outros membros da família. Diz Santo Agostinho que dois amores construíram duas cida- des: o amor próprio até o desprezo de Deus é autor da cidade terrena; e o amor de Deus até o desprezo próprio edificou a cida- de celeste. Ou seja, pede-se um devotamento total a todo aquele que almeja a cidadania celeste. Semelhante dedicação perfeita exige-se especialmente daqueles que, por dever de ofício, estão votados as coisas de Deus: os sacerdotes. Por isso, a infidelidade do ministro sagrado torna-o vil e abjeto aos olhos de Deus e cau- sa da apostasia de todo o povo. Pois, Caifás levou ao ápice a infidelidade sacerdotal. Saduceu, era, como os da seita, materia- lista. Não crendo já na imortalidade da alma, seu ideal se limita- va as ambições terrenas: glória que alimentasse sua vaidade e riquezas que saciassem sua cobiça. Com tal sumo sacerdote, não se poderia pensar sequer num Messias sofredor e austero, exemplo e arauto da virtude que repara os desmandos do pecado, como descreviam os profetas o Redentor do mundo. Como poderia, de fato, suportar o sacerdó- cio de Caifás o novo Rabino a pregar a renúncia às riquezas e à glória? Como poderia ouvir sem arrepios de escândalo a exorta- ção do Divino Mestre: “Que adianta ao homem ganhar o mundo todo se vier a perder sua alma?” (Mat. XVI, 26). Ou, então, a pe- dir para si uma dedicação superior ao afeto a que fazem jus os pais junto aos filhos? “Quem amar a sua mãe ou seu pai mais do que a mim não é digno de mim” (Mt. 10,37). Um rabino que ou- sava, sem pestanejar, expulsar a chicotadas os vendilhões do Templo, todos eles clientes do Sumo Sacerdote? Não. A cidade do sacerdócio judaico não era a cidade celeste propugnada por Jesus Cristo. Por isso, devia Jesus morrer. Devia morrer porque era fiel a sua missão de Enviado de Deus a pregar a penitência para a remissão dos pecados. Devia morrer, outros- sim, porque era amado do povo e punha em risco a popularidade do sacerdócio oficial. Devia morrer sobretudo porque edificava a cidade de Deus, e o sumo sacerdote estava engajado na cidade do homem. Esta é formada das paixões humanas, todas elas presentes nos tormentos a que foi submetido o filho de Deus. No episódio do Sinédrio, mais especialmente do sacerdócio judaico, age o ódio na sua sanha de extermínio. A violência com que arrastam a multidão na gritaria a pedir a crucifixão com o fim de extorquir da cobardia do Procônsul a sentença de morte é fruto desse ódio que deseja ver esmagado o rival detestado. O mesmo ódio reponta na cena selvagem com que, após a senten- ça do Sinédrio, os chefes religiosos incitaram os esbirros do palá- cio, aos insultos mais ignóbeis contra a Pessoa adorável do Filho de Deus. Partiram cobardemente aos socos e bofetadas, contra Jesus indefeso, cuspindo na sua face sagrada. Quando magistra- dos descem de sua dignidade para se misturarem à canalha vã é porque o ódio já não guarda reservas. Não tem limites. Um dos meios mais eficazes de que se serve o anjo das trevas para desviar as almas do caminho do Céu e levá-las a aceitar uma falsificação da Religião Verdadeira. Daí o ódio especial com que persegue o demônio aqueles que lhe descobrem seu jogo infernal. O sacerdócio judaico iludia o povo com as aparências de fideli- dade à revelação de Moisés, à palavra de Deus. Jesus denunciou -lhe a hipocrisia. E assim despertou o ódio de morte. Precisa mor- rer, dizia Caifás, aliás perdemos todo o povo. Pois o essencial é que o povo não perceba nossa hipocrisia, nossas falsificações. – Esse ardil do demônio é de todos os tempos. Consola-nos que a vitória de Jesus Cristo também é de sempre. O véu do tem- plo, na ocasião da morte de Jesus Cristo, rasgou-se de alto a baixo anunciando o fim do Velho Testamento e igualmente a vitória plena, completa, total de Jesus Cristo contra todas as insí- dias do demônio. IV Óh, meu Jesus! Neste dia solene e trágico em que sois elevado ao patíbulo infamante da Cruz, convém que se faca toda justiça. Pois só a Justiça condiz com a Verdade, e Vós viestes para ins- taurar o Reino da Verdade e dar testemunho da Verdade. Não foram somente eles que Vos crucificaram. Fomos também nós. É o que dizemos todos o dias na nossa profissão de Fé: ”Por nossa causa e por nossa salvação desceu dos Céus, padeceu e foi cru- cificado sob Póncio Pilatos ” . Sim. Eles o crucificaram. Eles, os gentios e os judeus. Mas, nós também o crucificamos. Nós, cristãos. Nós, que com Ele profes- samos ter o mesmo pensamento – homo unanimis (Salmo 54,
  • 4. 14). Nós, que com Ele compartilhamos o pão à mesma mesa. Nós que somos seus familiares, seus amigos: “Non dicam vos servos sed amicos”. (Jo. 15, 15). Pois, nós também o crucificamos. E se nos perguntarem quando o crucificamos, respondemos com o argumento com que Santo Agostinho convenceu os judeus de seu crime. Eles O crucificaram, diz o Doutor da Graça, quando di- ante de Pilatos vociferaram o “crucifige”, extorquindo do Procôn- sul a sentença de comodismo, nós, não o reconhecendo diante do mundo que lhe é hostil. Há, na Paixão de Jesus Cristo, uma figura singular, misto de intre- pidez e medo, de dedicação e vilta. É São Pedro, o Príncipe dos Apóstolos. Convencido de seu valor e valentia, faz ao Mestre os mais ardentes protestos de fidelidade. “Ainda que todos te aban- donem – assegura ele a Jesus – eu nunca te abandonarei”. “Ainda que todos se escandalizem por tua causa, eu jamais me escandali- zarei” (Mt. 26, 33). Pois estou pronto a ir ate o cárcere e mesmo a morte, e “ainda que seja necessário morrer contigo, não te nega- rei”. E no Jardim das Oliveiras, foi o único que se aventurou a de- fender o Mestre com a espada. Decepou mesmo o orelha direita de Malco, ímpeto contido pela mansidão do Salvador. Depois, foi a fase da vilta. Como os demais apóstolos, abando- nou o Mestre nas mãos dos seus algozes e fugiu covardemente. Mais. No átrio do Palácio do Sumo Sacerdote, misturou-se aos fâmulos da Casa, mais ou menos como quem é estranho ao que ali se passava. E bastou que uma empregada – “ancilla ostiaria”, diz São Joao, a porteira – ousasse denunciá-lo como discípulo de Cris- to, para que sua reação fosse imediata: “Não conheço esse ho- mem” (Mat. XXVI, 72). E confirmou sua negação com juramento e imprecações: “coepit anathematizare et iurare quia non novisset hominem” (Mc. XIV, 71). Não conheço esse homem! Como mentes, Pedro, assim desaver- gonhadamente? Não conheço esse homem… Mas, não foi Ele por quem há pouco juravas dar a liberdade e mesmo a vida? Não conheço esse homem! Mas não foi Ele que te fez seu discí- pulo, que te prepôs ao colégio apostólico, a cujas glórias assistis- tes no Tabor, que frequentemente conduzistes em tua barca, que hospedavas em tua casa? – Como não conheces esse homem? Eis o perjuro. E como as quedas se sucedem vertiginosamente, não trepida Pedro de usar o termo desprezível, «esse homem», como se fora qualquer anônimo da rua, sobre o qual podem pesar todas as suspeitas, sem que se comovam as pessoas de bem. Eis a espada que mais feriu o Coração do Divino Mestre. Se meu inimigo, disse Ele pelo Profeta, me amaldiçoasse, eu o suportaria. Mas, tu que pensavas comigo, que comias comigo… (Salmo V, 15). Os pagãos viviam nas trevas, sem a luz da Fé. Os judeus há mui- to haviam falsificado a Religião verdadeira, com saudades das bolotas dos porcos, a mamona da iniqüidade. Uns e outros esta- vam em campo oposto ao do Mestre adorável. Mas Pedro, objeto das predileções de Jesus, a quem acompanhou ao Jardim das Oliveiras, que fora escolhido para testemunha de sua oração an- gustiosa, que dera todas as garantias de sua dedicação, esse ago- ra o nega vilmente, atemorizado por uma mulherzinha, porteira de palácio? Acareadas as vilanias humanas ocorridas no decurso da Paixão de Jesus Cristo, a de Pedro leva a palma. Pois em toda a tragédia da Paixão de Cristo, Pedro é quem me- lhor nos representa. Também nós fomos agraciados pela insondá- vel Bondade do Salvador, que, sem nenhum mérito nosso, nos chamou para a luz inestimável da Fé, para o seio de sua Igreja, para filhos adotivos de seu Pai Celeste, para membros de sua fa- mília, para participantes de sua natureza divina. Ele que nos ali- menta com sua carne e seu sangue. Pois, apesar de todos esses benefícios, outras tantas demonstrações de sua paternal bondade, nós participamos da vilania de São Pedro. Diante do mundo, com seu fausto, sua glória efêmera, com a ameaça de um ostracismo sem maiores conseqüências, nós já esquecemos todos os favores da munificência divina, vergonhosamente renegamos nossa condi- ção de cristãos. “Non novi hominem”. Não é acaso renegar a Jesus Cristo, o silenciar diante do ceticis- mo diluído no pancristianismo, ao sabor de uma sociedade frívola desejosa de uma Religião sem compromissos? Não é acaso renegar a Jesus Cristo, o não combater o erro e as ambigüidades doutrinárias que dessoram e fazem definhar a Fé, base de toda verdadeira vida cristã? Não é acaso renegar a Jesus Cristo o ajustar-se aos costumes e aos trajes que alimentam a sensualidade e são a negação da virtu- de cristã? Não é acaso renegar a Jesus Cristo aceitar uma igreja nova, sem contornos definidos, dentro de um ecumenismo vago e sem carác- ter, pelo temor de ser apontado como causa de divisão entre os fiéis? Não é acaso renegar a Jesus Cristo o fazer-se arauto dos direitos humanos, esquecendo os sacrossantos direitos de Deus? Não é acaso renegar a Jesus Cristo reduzir sua obra redentora a mera libertação de reais ou supostas opressões de ordem econô- mico-social? Não é acaso renegar a Jesus Cristo a preocupação excessiva com a felicidade e os bens da terra, que faz esquecer o Reino do Céu e a salvação da alma? Quem de nós pode sinceramente isentar-se destas ou de outras negações de Jesus Cristo? Sim. Na pessoa de São Pedro estáva- mos nós a dizer: Non novi hominem. Não conheço a Jesus Cristo. Oh! meu Bom Jesus… Apesar de minhas misérias, de minha ne- gra traição ao vosso Nome, às promessas de meu Batismo, à vos- sa Doutrina e ao vosso espírito, ouso apresentar-me a Vós, ouso vir aos vossos pés e me aproximar de vossa Cruz. Pois ela encerra o mistério do amor com que me amais, e este é infinito, supera toda a minha malícia, por mais vã, odiosa e imensa que seja. O estado em que Vos vejo, meu bom Jesus, revestido com a púrpura de vosso Sangue, que jorra de todo vosso Corpo Sacrossanto, com a cabeça coroada dessa cruciante coroa de ignomínia, privado de todo movimento pelas cadeias que vos fixam nesse patíbulo infa- mante, esse estado, meu Bom Jesus, é o que eu mereci por meus pecados. E Vós, na vossa misteriosa, insondável misericórdia, conhecendo minha fraqueza para suportá-lo, e como me seria inútil, dados os limites de minha natureza, Vós me substituístes e Vos apresentastes à inexorável Justiça Divina para reparar o que por mim seria irreparável. Compreendo agora, meu Salvador, todo o alcance da frase de Vosso apostolo: “Dilexit me et tradidit semetipsum pro me – Amou- me e entregou-se a morte por mim (Gal. II, 20). Sim, meu Bom Jesus, Vós me amais com amor inefável. Se vossa dedicação por mim vos levou ao martírio da Cruz, que receio posso ter eu de que me não recebereis, à vista dos muitos e hediondos pecados que deformam a minha alma e a tornam indigna de vossa presença? Sei que vosso amor supera minha indignidade e que vosso Sangue Divino pode purificar-me de todos os meus crimes. Por isso, confio e me apresento a Vossa Misericórdia. Mas, Senhor, pois que me amastes tanto, ouso pedir-Vos que me deis a graça de Vos amar também eu, de corresponder ao Vosso amor e de não pecar mais. Sim, meu Bom Jesus, não pecar mais. Sou tão fraco, que nem sequer o que há de mais lógico, belo, natu- ral e confortador como é amar-Vos, nem isso sei ou posso fazer. Por isso, vinde, Senhor, em meu auxilio, e dai-me a graça de amar- Vos e de não pecar mais. Que vossa Mãe e Senhora das Dores, que assiste ao vosso mar- tírio e nele participa, que a Senhora das Dores interceda por mim. E já que A constituístes minha Mãe, que Ela fixe no meu coração indelevelmente vossas chagas sacrossantas, que, em toda parte, lembrem vosso amor por mim e a hediondez do meu pecado, que vos reduziu a este estado lastimável de um farrapo humano. E que esta lembrança seja eficaz para determinar no meu coração um amor ardente por Vós e pelas almas que remistes com Vosso San- gue. Sancta Mater istud agas: Crucifixi fige plagas Cordi mea valide. Fac ut ardeat cor meum In amando Christum Deum Ut sibi complaceam. Santa Mãe do meu Senhor, dai-me a graça de trazer indelevel- mente gravadas no coração as chagas do Divino Crucificado. Fazei que meu coração se inflame no amor de Jesus Cristo para que com Ele sempre me conforme. Amém. Assim seja.
  • 5. Nota: Neste mês de março, consagrado a nosso pai São José, padroeiro universal da Igreja, tivemos a graça de presenciar, por mais uma vez, a Sagração Episcopal de um bispo fiel ao legado de Mons. Lefebvre, nosso diretor espiritual Dom Tomás de Aquino. Segue um belo texto de autoria do prof. Carlos Nougué acerca de nosso mais novo bispo. Na próxima edição de nosso jornal traremos uma entrevista exclusiva com monsenhor. *** Miguel Ferreira da Costa nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 1954. Até a Faculdade de Advocacia, fez seus estudos no Colé- gio de São Bento do Rio de Janeiro, onde tive a oportunidade de ser por um breve tempo seu colega de classe. Fez parte do mo- vimento tradicionalista e antimo- dernista organizado em torno de Gustavo Corção e da revis- ta Permanência; teve início então sua vida de “fiel guerreiro da guer- ra pós-conciliar pela Fé”, como escreve Dom Williamson.Começou, como dito, a cursar Advocacia, mas abandonou-a para tornar-se monge beneditino, com o nome de Tomás de Aquino, no mosteiro francês do Barroux, que tinha então por supe- rior a Dom Gérard; e foi ordenado sacerdote em 1980, em Êcone, por Dom Marcel Lefebvre. Pôde então privar da amizade, do exemplo, dos ensinamentos do fundador da FSSPX. Veio ao Brasil com um grupo de monges do Barroux para fundar o Mosteiro da Santa Cruz, em Nova Friburgo, Rio de Janeiro/Brasil. Nesse ínterim, porém, Dom Gérard, contra a instância de Dom Lefebvre, marchou para um acordo com a Roma conciliar, contra o que se opôs também Dom Tomás de Aquino. A separação foi então inevitável. O Mosteiro da Santa Cruz, com total apoio e incentivo de Dom Lefebvre, tornou-se assim independente, ainda que amigo da FSSPX. Com efeito, escreveu pouco mais ou menos Dom Lefebvre a Dom Tomás em carta que tive o privilégio de ler: O senhor deve reverência e consulta aos bispos da FSSPX, mas estes não têm jurisdição sobre o senhor, que, como prior do Mosteiro, há de ter autono- mia. Mas foi-se tornando difícil a relação de Dom Tomás e seu Mosteiro com a FSSPX, sobretudo com a aproximação desta à Roma neomodernista. Quando Bento XVI publicou seu Motu proprio sobre o “rito extraordinário”, Dom Tomás de Aquino negou-se a cantar na Missa de domingo o Te Deum pedido por Dom Fellay para comemorar o documento papal, e, especial- mente pela “suspensão das excomunhões” pelo mesmo papa, escreveu Dom Tomás a Dom Fellay uma carta em que dizia que não seguiria seus passos rumo a um acordo com a Roma conciliar. Um tempo depois, aparecem no Mosteiro (sou teste- munha presencial disto) Dom de Galarreta e o Padre Boucha- court para dizer a Dom Tomás que ele teria quinze dias para deixá-lo; se não o fizesse, o Mosteiro deixaria de receber ajuda e sacramentos (incluído o da ordem) da FSSPX. Escrevi a Dom Fellay para queixar-me de tal injustiça, e rece- bi por resposta o seguinte: “O pro- blema de Dom Tomás é mental. Enquanto não deixar o Mosteiro, este não receberá nossa ajuda”. Respondi-lhe: “Devo ter eu também o mesmo problema mental, porque convivo há doze anos com Dom Tomás e nunca o percebi nele”. Tratava-se em verdade de algo simi- lar ao stalinismo e seus hospitais psiquiátricos para opositores. Hesitou então Dom Tomás: se deixasse o Mosteiro, seria a ruína deste com respeito à Fé; se porém permanecesse, privá-lo-ia de toda a ajuda de que necessitava. Foi então que veio em seu socorro Dom Willi- amson: o nosso Bispo inglês escre- veu uma carta a Dom Tomás em que assegurava ao Mosteiro todos os sacramentos; poderia assim Dom Tomás permanecer nele. Foi o suficiente para que todos aqui reagíssemos: foi o começo do que hoje se conhece por Resistência, e que teve por órgão primeiro a pági- na web chamada SPES, hoje desativada por ter cumprido já o papel a que se destinava. O Mosteiro passou a ser então cen- tro de acolhimento para os sacerdotes que, querendo deixar a FSSPX pela traição de seus superiores, hesitavam porém em sair justo por não ter onde viver fora dela. Foi o lugar da sagra- ção de Dom Faure, e será agora o lugar da sagração do mesmo Dom Tomás de Aquino Ferreira da Costa, meu pai espiritual e o amigo mais entranhável que Deus me poderia haver dado. Sim, sou filho seu e do Mosteiro da Santa Cruz, e foi aqui, nes- te cantinho do céu, que pude sentir pela primeira vez o tão agradável odor da santidade. Sagração Episcopal Dom Tomás de Aquino ,O.S.B. Quem é Dom Tomás de Aquino Ferreira da Costa, nosso novo Bispo: um testemunho Carlos Nougué (professor laico da Casa de Estudos Santo Anselmo, do Mosteiro da Santa Cruz)
  • 6. “Depois de Maria, Ele amou com uma afeição extraordinaria- mente profunda e delicada aquele carpinteiro que Ele chamou pelo nome de “pai”, cujos braços O embalaram entre mil cari- nhos, na sua primeira infância, e cujas mãos calosas Lhe ofere- ceram com emoção o primeiro pedaço de pão! Pensai nas lágri- mas que deve ter derramado o nosso Irmão Jesus, recebendo o último olhar e o último beijo de José moribundo, quando esse Justo deixou na viuvez a Rainha e, órfão... Aquele Deus, o Naza- reno.” “Assim se vivia em Nazaré. Para todos, Jesus não passava do pequeno Nazareno; mas Maria e José penetravam pela sua fé nas misteriosas e inefáveis condescendências do mistério de amor. Eles viviam um Paraíso escondido com Jesus naquela humilde povoação, longe dos olha- res humanos...eles tinham o céu em casa, mas um céu que lhes era revelado por uma fé imensa. Oh! Possamos nós medi- tar cada vez mais sobre a vida da Santa Família! Meditemos e saboreemos aquela coabitação de fé, aquela compenetração de vida dos três corações em Nazaré. Assim como Maria e José, aprendamos a re- zar, a sofrer, a lutar sempre em companhia do Nazare- no, nosso irmão em pleno exílio... Pois, no fundo, a oficina de Nazaré continua abso- lutamente a mesma, é o Tabernáculo, e aí vivemos na intimidade, Jesus e nós, na íntima união de um grande espírito de fé. Sim, na base dessa residência real do Rei entre nós, é fácil reproduzir a “convivência” de Nazaré no detalhe, no regime rotineiro e bem ordinário de nossa vida. A leitura meditada da vida de Santa Teresinha ser-nos-á grandemente útil para compreendermos essa maravilhosa lição de espí- rito de fé que é Nazaré. Alguém escreveu que, depois de São José, ne- nhum santo compreendeu nem realizou de um modo mais profundo que Teresi- nha, a vida simples e su- blime do Rei e da Rainha, durante trinta anos de vida comum, e isso por um espírito de fé levado até o heroísmo. Consultai aquela crian- ça, o “Doutorzinho”, e que ela vos conduza pela mão, por um caminho que nunca engana, o de uma fé a toda prova, no caminho batido, ordinário da vida cotidiana. Jesus, Rei de amor. Pe. Mateo Crawley-Boevey
  • 7. Eis aqui um breve resumo (da Encíclia Acerbo Nimis). A encíclica começa por uma análise da decadência religiosa, causada “pela ignorância das coisas divinas” que leva o ho- mem à insensibilidade ao bem e ao mal. E daí vem a corrupção moral que impele à “busca da mentira e ao amor da vaidade, até a perda de si mesmo”. É somente no conhecimento das coisas divinas que São Pio X vê o guia para a vontade desviada do homem, e não hesita em declarar que essa estreita obriga- ção e esse gravíssimo dever cabe àqueles que são Pastores de almas, segundo o mandamento de Cristo. A seguir, a encíclica traça a figura evangélica do padre professor e do pároco cate- quista como propagadores da Doutrina de Jesus Cristo e salva- dores da família humana, sedenta de luz e de verdade. Na ver- dade, São Pio X afirma com franqueza apostólica: “Não existe para o Padre, qualquer que seja, dever mais grave nem obriga- ção mais estreita... Se essas coisas dizem respeito a todos os padres, que diremos daqueles que, honrados com o título e o poder de Párocos, cumprem o cargo de Diretor das almas em virtude de sua dignidade e de uma espécie de contrato? Esses, em certa medida, devem estar nas mesmas fileiras dos Pasto- res e Doutores que Cristo instituiu justamente para que os Fiéis não sejam mais como crianças, flutuantes e passíveis de serem levados por qualquer vento de doutrina”. A encíclica, referindo-se aos párocos, expõe então sábias regras concernentes ao magistério catequético: ela lembra que o catecismo vem antes da explicação do Evangelho, porque “o discurso que se faz sobre o Santo Evangelho se dirige a ouvin- tes que já devem possuir os elementos da Fé. Pode-se chamar isso de pão que se distribui aos adultos. Mas o ensino catequé- tico é este leite de que o Apóstolo São Pedro diz que os Fiéis devem desejar sem artifício como os recém-nascidos”. E Pio X acha oportuno, nesse texto, traçar as linhas mestras didáticas de uma lição de catecismo que conduza a um reforma de vida: “A tarefa do Catequista consiste em escolher como assunto uma Verdade que se reporte à Fé ou à moral cristã, e esclarecê-la sob todos os ângulos. Mas, como o objetivo do ensino deve ser a reforma da vida, o catequista comparará o que Deus manda fazer e o que os homens fazem na realidade. Depois, aproveitando os exemplos que saberá tirar das santas Escrituras, ou da História eclesiástica ou da Vida dos Santos, ele explicará aos ouvintes e lhes mostrará, por assim dizer, concretamente, como devem regrar sua conduta. Terminará por uma exortação que possa lhes fazer detestar os vícios e fugir deles e lhes fazer seguir o caminho da virtude”. Na clara concepção didática de São Pio X, a lição de catecis- mo comporta quatro problemas: 1– A primeira faz apelo à inteligência, através da exposição viva e oral do mestre que detalhe a verdade religiosa em seus ele- mentos. Aqui domina o caráter de ensino da catequese, talvez em oposição a uma escola moralizante, mas vazia de doutrina, que deixa a inteligência inativa. 2– Uma vez apresentada a verdade, ele quer que se faça imediatamente depois a comparação com a vida prática: é um ato interior de revisão e de controle que solicita a inteligência e a capaci- dade de introspecção do homem, e facilita a posse assimilada da moção. É um exame de consciência, intro- duzido rapidamente na didática catequética, e cuja eficácia é incalculável. 3– O espírito, que antes hesitava em aderir à verdade catequé- tica, busca agora apoios e confirmações nos exemplos práticos e vividos que tem como função ultrapassar o saber religioso e mostrá-lo concretizado entre os homens, tal como são repre- sentados por uma literatura de inspiração divina, ou de verdade histórica segura, além de ser uma literatura de edificação e de encorajamento. É o elemento afetivo, grande questão na peda- gogia atual. O coração tem seu papel na catequese, como em todo ensinamento, e São Pio X, com o equilíbrio sensato que o caracteriza, o coloca discretamente em seu devido lugar, para que cumpra sua função. 4– A quarta parte fica reservada à vontade, de que São Pio X demonstra ter um conceito amplo e soberano porque ela é a coluna vertebral do homem. A exortação final que ele propõe como conclusão é um agente volitivo, pois uma vez colocados e esclarecidos os motivos da ação, só resta exortar a fazer, a por em prática. Deve-se observar o bom senso dessas aplicações volitivas, que não se esgotam em exortações frias e frequente- mente ilógicas, quando não são fundadas sobre um pensamen- to e um raciocínio. Elas deverão ser cimentadas no corpo vivo da lição, no qual foram lançados os fundamentos da doutrina e, portanto, das motivações. A psicologia volitiva atual celebra— com razão– o caráter indispensável dos motivos que persua- dem a inteligência e lhe fazem descobrir a beleza da verdade que se torna amável, precisamente, pelo trabalho do coração: e daqui para chegar à vontade, o passo é curto. Sem estardalhaço de erudição pedagógica, Pio X resume o melhor da doutrina educativa da Igreja Católica transmitida pela experiência dos homens mais honrados e dignos de confi- ança da escola cristã. Ainda hoje, quase meio século depois dessa encíclica, (mais de um século para nós) ficamos admira- dos com tanta simplicidade, vigor e verdade, e é preciso admitir que certos santos dão aula para todas as épocas e oferecem, em germe, o princípio vital do que os homens farão depois. Depois de ter fornecido o método da lição, São Pio X confirma o caráter oral do ensinamento catequético: “a Fé vem pela pre- gação ouvida e a pregação se faz pela Palavra de Cristo”. É daí que nasce o esboço escolar da catequese, retomado e posto em prática por muitos padres apóstolos, como Mons. Luigi Vig- na (de Cremona), Mons. Lorenzo Pavanelli (de Brescia),
  • 8. Mons. Chizzoni e Mons. Carlo Maria Veneziani (de Piacenza), assistidos por outros padres que souberam imprimir ao ensino do catecismo a verdadeira face da escola, organizada em clas- ses, paralela ao organismo escolar do Estado, com professores, um programa de ciclos, textos, registros, boletins, guias didáti- cos, um material instrutivo e doutrinal; com direção e secretaria- do, exames e concursos, prêmios e festas, celebrações e aposto- lado. No final, a encíclica dá as normas e diretivas aos paroquia- nos, para concluir com um apelo fervoroso ao dever da prepara- ção didática que, ainda hoje, detém o primado do trabalho cate- quético: “Nós não gostaríamos, entretanto, que por amor à sim- plicidade, viessem a crer que não é necessário, para tratar des- ses assuntos, nem de trabalho nem de reflexão: ao contrário, eles exigem mais do que qualquer outro assunto. É muito mais fácil encontrar um orador falando abundantemente e com brilho do que um catequista dando uma aula louvável em todos os aspectos. Assim, seja qual for a facilidade de pensamento ou de palavra que se tenha recebido da natureza, é necessário levar em conta, com segurança, que nunca se poderá falar da Doutri- na cristã às crianças ou ao povo, com fruto real para as almas, sem ter-se preparado e armado por uma longa meditação. Enga- nam-se os que, contando com a ignorância e a lentidão da inteli- gência do povo, acham que podem permitir-se qualquer negligên- cia. Muito pelo contrário, quanto mais incultos forem os ouvintes, mais necessidade de aplicação e cuidado para colocar as verda- des mais sublimes, tão afastadas da inteligência vulgar, ao al- cance dos espíritos simples ou grosseiros, a quem elas são tão necessárias quanto aos sábios, para obter a felicidade eterna”. São Pio X afirma isso várias vezes em sua encíclica, convencido de que o fruto da catequese é enormemente subordinado à pre- paração didática: sem querer ele faz um auto-retrato, pois dom Giuseppe Sarto, bispo, Patriarca e finalmente Pontífice, se prepa- rava assim para suas catequeses, tanto às de Tombolo e de Sal- zano, quanto às de Mântua e Veneza, e às que dava sobre o tro- no de Pedro. O PAPA DO CATECISMO Em sua juventude, ele estudou o catecismo nos textos de sua época. Jovem padre, desolava-se com a inadequação dos textos e dos programas não conformes à capacidade intelectual de seus jovens alunos, mas nada dizia. Pároco, observava essa lacu- na e talvez se contentasse de conversar sobre o assunto com seus confrades e evocar uma sadia renovação. Ele supria a ca- rência de método com sua palavra e sua habilidade para expor a doutrina. Bispo de Mântua, ele faz ver a insuficiência dos catecis- mos diocesanos: queria uma matéria distribuída de modo mais racional, uma forma e um estilo menos retóricos, mais imediatos e mais concretos, sobretudo mais simples e mais essenciais. E já falamos sobre sua moção no Primeiro Congresso Catequético Nacional de Piacenza, em 1889: letra morta até 1912, ano em que promulgou seu catecismo. Quarenta anos se passaram (mais de um século para nós) des- de esse 12 de outubro em que Pio X escreveu a Carta ao cardeal Pietro Respighi, seu Vigário geral para a cidade de Roma; essa carta sintetiza todos os seus outros documentos catequéticos e está cheia de fervor paternal. Ela merece tornar-se conhecida para poder ser aproveitada pelos padres e educadores cristãos que aí encontrarão abundância de doutrina e sábias regras de educação catequética. “Desde as origens de Nosso Pontificado demos a maior impor- tância à instrução religiosa do povo cristão e em particular das crianças, persuadido de que uma grande parte dos males que afligem a Igreja provêm da ignorância de sua doutrina e de suas leis. Os inimigos da Igreja a condenam blasfemando sobre o que ignoram, e muitos de seus filhos, conhecendo mal esta doutrina e suas leis, vivem como se não fossem filhos da Igreja. É por isso que insistimos com frequência sobre a enorme necessidade do ensino catequético e o promovemos por toda parte, segundo nosso poder, através da Carta Encílica Acerbo nimis e pelas dis- posições concernentes aos catecismos nas paróquias, mas tam- bém pelas aprovações e encorajamentos aos congressos cate- quéticos e às escolas de religião e pela introdução aqui em Roma do texto do Catecismo utilizado em certas grandes Províncias eclesiásticas da Itália. Entretanto, passados alguns anos, por causa de novas dificulda- des insidiosamente contrárias a todo ensino da doutrina cristã nas escolas, onde ele era ministrado a séculos, mas também por útil antecipação, desejada por Nós, da primeira comunhão das crianças, e por outros motivos, tendo-Nos sido exprimido o dese- jo de um Catecismo suficiente, que seja muito mais breve e mais adaptado às exigências de hoje, consentimos em abreviar o anti- go catecismo num novo, muito resumido, que Nós mesmos exa- minamos, e quisemos que fosse examinado por numerosos Con- frades Bispos da Itália, a fim de que exprimissem seu parecer em geral, e que indicassem em particular, segundo sua sabedoria e sua experiência, as modificações a serem feitas. Tendo recebido por parte deles uma apreciação favorável qua- se unânime, assim como um grande número de preciosas obser- vações, que ordenamos fossem levadas em conta, parece-Nos que não devemos mais protelar uma substituição de texto, reco- nhecida como oportuna por diferentes razões. Temos confiança de que esse texto, com a benção do Senhor, revelar-se-á muito mais prático e tão vantajoso – ou talvez mais – para as almas que o antigo: reduzido significativamente, ele não irá desencora- jar os mais jovens, sobre os quais já pesam os densos programas escolares, e permitirá aos mestres e aos catequistas ensiná-lo inteiro, e apesar de sua brevidade, encontram-se explicadas e enfatizadas ali essas Verdades que hoje, em grande detrimento das almas e da sociedade, são as mais combatidas, mal compre- endidas ou esquecidas. Temos confiança que os adultos que desejarem – como devem às vezes para viver melhor e para educar sua família – reavivar em suas almas os conhecimentos fundamentais sobre os quais repousa a vida espiritual e moral cristã, considerarão útil e apre- ciarão esta curta suma, muito cuidada na forma, onde encontra- rão expostas com grande simplicidade as verdades divinas capi- tais e as reflexões cristãs mais eficazes. Consequentemente, nós aprovamos esse catecismo e os pri- meiros exemplares que queremos imprimir para uso das crianças pequenas, sem modificação de texto, e o prescrevemos para a diocese e a província eclesiástica de Roma, pela autoridade da presente, e proibimos que doravante seja seguido qualquer outro texto no ensino catequético. Quanto às outras dioceses da Itália, basta que exprimamos o voto de que o mesmo texto, considera- do suficiente por Nós e por numerosos Ordinários, seja igualmen- te adotado, entre outras razões para que cesse a nefasta confu- são e o incômodo que muitos experimentam hoje em suas fre- quentes mudanças de domicílio, encontrando em seus novos locais de residência fórmulas e textos significativamente diferen- tes, difíceis de aprender, que os faz confundir e finalmente es- quecer a doutrina que já sabiam. É pior o que acontece com as
  • 9. crianças, porque nada é mais fatal para o sucesso de um ensino do que continuá-lo com um texto diferente do que aquele a que o jovem já está mais ou menos acostumado. Os adultos poderão encontrar algumas dificuldades para instru- ção do presente texto, porque ele se afasta do precedente em certas fórmulas; para remediar a esses inconvenientes ordena- mos que em todas as missas principais, como em todas as aulas de doutrina cristã, sejam recitadas no início, em voz alta, clara, pausadamente, as primeiras orações e as fórmulas principais. Desse modo, depois de algum tempo, sem esforço, todos as aprenderão e teremos introduzido um excelente hábito de oração e de instrução comum, que já está em vigor em inúmeras dioce- ses da Itália, com edificação e proveito. Exortamos vivamente no Senhor todos os catequistas, agora que a própria brevidade do texto facilita o trabalho, a querer, com o maior cuidado, explicar e fazer penetrar a doutrina cristã nas almas das crianças pequenas, pois hoje é enorme a necessidade de uma sólida instrução religiosa por causa da difusão da impie- dade e da imoralidade. Que eles lembrem sempre que o fruto do catecismo depende quase totalmente de seu zelo e de sua inteli- gência e habilidade de tornar o ensino mais leve e agradável aos alunos. Pedimos a Deus que, assim como hoje os inimigos da Fé, cada vez em maior número e mais poderosos, propagam o erro por todos os meios, também se levantem em grande número almas desejosas de assistir com zelo os párocos, mestres e pais cristãos no ensino do catecismo, tão necessário quanto nobre e fecundo”. A data e a augusta assinatura, precedidas de uma afetuosa bênção, selam esse importante documento pontifical que não perdeu nada de sua urgência e praticidade. É necessário trazer algumas notas de caráter didático á margem dessa pequena obra prima da catequese cristã que, durante esse meio século (quase um século! n.r) que passou foi o código da fé de várias gerações de crianças. O “catecismo”, sabe-se, foi redigi- do por ordem de São Pio X, reduzindo o texto antigo utilizado em certas dioceses italianas e cuja redação era muito extensa, texto pouco indicado para a escola dos pequenos que, graças ao decre- to “Quam singulari” do próprio Pio X, passaram a fazer a Primeira Comunhão mais cedo do que no passado. Era necessário então um catecismo suficiente, mas curto e sintético, podendo facilmen- te ser aprendido de cor, conforme os augustos ensinamentos da encíclica de 1905. As crianças faziam sua estréia na escola de catecismo, como um dique para frear a ruína de um aprendizado que não se enraizava nas inteligências infantis antes da dissipa- ção característica da crise da puberdade e, mais ainda, na adoles- cência. O Papa Pio X examinou pessoalmente a nova redação e confiou a revisão linguística a Giulio Salvadori, homem de letras cujo processo de coleta de infor- mações em vista da beatifica- ção está aberto. É assim que temos o “Catecismo da Doutrina Cristã”, chamado, ainda hoje, de “Catecismo de São Pio X”, preci- oso livrinho que educou e ainda educa na fé gera- ções inteiras de católicos. A organização didática catequética distin- gue, entretanto, o formulário do verdadeiro texto: o formulário condensa, em fórmulas breves e preci- sas, o cerne de uma verdade religiosa, para ser integralmente decorado; o texto, ao contrário, so- bre as bases do formulário, o expõe de forma simples e clara, de modo a chegar, como conclusão lógica e teológica, à mesma fór- mula. O Catecismo de São Pio X é um formulário, não é um texto: enquanto tal ele serve aos pequenos e aos grandes, aos sábios e aos iletrados. É a síntese ortodoxa do conjunto doutrinal do Catoli- cismo: da teologia dogmática, moral, sacramental, numa forma didática simples. Ele possui todas as qualidades da síntese: conci- são, clareza, simplicidade, integridade e fidelidade. Certamente a fórmula exige, como a regra gramatical, para a inteligência co- mum, a exposição feita por um professor. A fórmula não pode substituir o ensino vivo do professor. É por isso que, enquanto síntese, o sistema de fórmulas de Pio X é o que pudemos ter de mais admirável até hoje no domínio do catecismo. Observou-se a dificuldade teminológica de certas fórmulas, du- ras e áridas para o espírito das crianças. É evidente que o catecis- mo, por natureza, é rico em termos abstratos e em noções espe- culativas, mas isso é próprio da essência da doutrina cristã que é revelada, e que concerne a relação do homem criado com Deus criador. Que o catecismo de Pio X pareça às vezes difícil para as crianças é um fato admissível, especialmente em certas fórmulas, particularmente condensadas, mas a divisão em ciclos, comu- mente em vigor nos textos didáticos, modera a aspereza dosando o conteúdo catequético segundo o critério da idade. Talvez o erro mais difundido seja o de considerá-lo um verdadeiro texto, quan- do é simplesmente um sistema de fórmulas, ao qual todos os redatores de texto vão recorrer. Há também o erro que consiste em concebê-lo como um ponto de partida para a catequese oral, quando ele é um ponto de chegada, a conclusão da exposição da lição dada pelo mestre com as ferramentas que a pedagogia atual recomenda. Decênios de experiência ensinaram muito a respeito do sistema de perguntas e respostas de Pio X: ele assegurou, sobretudo, essa preciosa unidade e uniformidade de terminologia que é mui- to importante no estudo religioso das crianças e do povo, e que foi uma das intenções principais do Santo Pontífice. E as observa- ções que ele fez em 1912 sobre a migração fácil das famílias de uma cidade para outra, são hoje fortemente confirmadas pela movimentação contínua das famílias no território nacional. As notas de natureza terminológica, sobre a concisão dos conceitos, são explicadas com absoluta exatidão e precisão doutrinal. Na verdade, aqui e ali houve algumas tentativas de novos formulários catequéticos, talvez na intenção de substituir o de Pio X, e conse- guiu-se algo mais claro e menos duro, mas aumentando a quanti- dade de texto, e expondo às vezes em meia página o que o cate- cismo de Pio X expunha no máximo em duas ou três linhas. Este último ainda permanece vivo, perene, incisivo. É um monumento de doutrina, de síntese, de clareza, de piedade, porque as peque- nas fórmulas catequéticas estão chei- as de unção e educam para a verdadei- ra piedade cristã. Ignatius Fonte: SIM SIM NÃO NÃO – Ano XV nº 172, Maio/ Junho-2010
  • 10. Edição: Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória, ES. http:/www.nossasenhoradasalegrias.com.br Entre em contato conosco pelo e-mail: jornalafamiliacatolica@gmail.com " Seu olhar, sua conversação, todo o seu modo de ser, estavam impregnados de três coi- sas: bondade, firmeza e fé. A bondade do homem, a firmeza do governante e a fé do cristão...” Mons. Baudrillart A principal notícia desta coluna não poderia ser outra que a Sagração do prior do Mosteiro da Santa Cruz, diretor deste pequeno jornal. Um dia antes da sagração, dia 18, o mosteiro enfrentou uma violenta chuva, deixando todos temerosos quanto ao dia seguinte. Mas graças a São José, o dia 19 de março foi um belo dia. Inesquecível. A manhã estava agradá- vel, branda, à imitação daquele que seria sagrado. De maneira particular o sol raiou e apareceu entre as nuvens no mo- mento que a cerimonia de sagração se iniciou. Seria uma aprovação dos céus? Pensamos que sim. Um dia para ficar guardado na memória. Dia que a terra de Santa Cruz ganhou mais um bispo fiel à Santa Igreja.