2. A invenção da literatura
Século XVIII: literatura era sinônimo de
erudição, englobando textos filosóficos,
históricos e científicos.
O trabalho intelectual = desprestígio social.
O direito autoral = sem definição e pouco ou
nada valorizado.
O artista: patrocínio ou clientelismo.
3. A invenção da literatura
• Academias e salões (séc. XVII): conferiu
alguma valorização aos letrados e contribuiu
para a distinção do ofício das Letras das
Ciências e Artes.
• Academias = valorização simbólica do letrado.
• Dependência dos mecenas = dinheiro.
• O Estado assume o papel dos mecenas =
prestígio e recursos financeiros a alguns
escritores.
4. A invenção da literatura
• Papel da Academia Francesa (1835) =
distinção social e garantia de pagamento em
dinheiro.
• Função social os autores: esteio da
nacionalidade, servindo aos interesses do
Estado francês – unificar a França.
“O poder político buscou nas letras uma de suas
formas de sustentação, não apenas como um
instrumento de propaganda, mas como
argumento de legitimidade.” (p. 14)
5. Definição de literatura
Literatura = conhecimento, íntima união entre
Belas-Letras e Ciências.
Belas-Letras: Gramática, Eloquência, História,
Crítica aperfeiçoadas pela Ciência.
Homem letrado: ciência (coisas úteis), letras
(amenidades) e filosofia (coisas úteis e
amenindades).
6. Definição de literatura
• A opinião pública = nova instância de
consagração, fortalecida pelos jornais.
• Os filósofos: desejam atingir os grandes
leitores, não as massas, daí a introdução de
categorias de “gosto” e de “beleza” para
distinguir os grupos de escritores e grupos de
leitores.
“O gosto é como filosofia. Pertence a um
reduzido número de almas privilegiadas...” (p.
18)
7. Literatura e hierarquização
• A proliferação do escrito gerou a busca de
formas de hierarquização de pessoas e obras.
Um contraste: alfabetização x distinção social.
Elemento distintivo: gosto e beleza.
Separação entre boa e má leitura, leitores
ignorantes e sábios.
• Novos grupos de leitores: mulheres, crianças,
artesãos, camponeses e pequenos
comerciantes.
8. Literatura e consumo
Ampliação do público-leitor e do mercado
editorial: expansão das possibilidades
profissionais da escrita.
Romance: preconceito e ganhos financeiros.
Consumo = massa – mercado – ganhos
financeiros X declínio nos padrões de
composição.
9. Literatura e hierarquia entre
escritores
“Os escritores ligados aos poderosos, que
começavam a conseguir para si alguma
valorização social e algum poder, tinham todo
interesse em dissociar-se desse ‘proletariado
intelectual’”. (p. 25)
Romance = leitura indisciplinada, vítima de
ataques, prestígio popular.
10. Século XVIII: revolução da
leitura
• Ler deixa de ser prestígio social o que levou a
distinguir-se o campo letrado entre LEITORES E
leitores.
• A noção de literariedade = a imanência da obra
literária como forma de separação entre os
leitores.
“O valor da obra de arte estaria justamente na falta
de finalidade externa. O objetivo do artista seria
tão somente criar um ‘todo coerente e
harmonioso’, que só poderia ser avaliado
segundo seu valor intríns e c o ” (p. 27)
11. Literatura: arte sem função!
O valor da arte está em não servir para muita
coisa daí a distinção entre literatos e
subliteratos e a eleição de autores, gêneros e
maneiras de ler.
12. Definição moderna de literatura
Surge com os novos leitores, novos gêneros,
novos escritores e novas formas de ler.
Surgem as instâncias de consagração =
critérios de valoração da arte literária.
Grande obra: pertencer a um gênero certo,
escrita por autor de prestígio, apreciada pela
elite, sem grande sucesso editorial.
13. Nova instância: o crítico
O crítico passa a ter importância na
consagração da obra.
O conceito de literatura como conhecemos
surge da necessidade de controlar práticas
culturais e fazer valer marcas de distinção
social – para nós considerado universal,
porém a-histórico.
14. A invenção da literatura
portuguesa
Em Portugal, literatura é dicionarizado em
1727, definido como na França (erudição,
ciência, notícia das boas letras,
conhecimento).
Em dicionário de Antônio de Moraes Silva
(1789), o termo só reaparece em edição de
1831, mas só no final do século XIX aproxima-
se da concepção moderna.
15. A invenção da literatura
portuguesa
Acrescenta-se ao termo literatura a noção de
p ro d uç ã o e a um conjunto de obras definido
por terem sido produzidas em determinado
tempo ou território: “O conjunto das produções
literárias d’uma nação, d’um país, d’uma
época: O s lus ía d a s , são a obra capital da
literatura portuguesa.” (p. 31)
16. Biblio te c a Lus ita na
Trajetória de afirmação do trabalho intelectual
e autonomização do campo do saber:
distingue-se da biblioteca francesa ao
dissociar os campos do saber e o da
literatura. Empreendimento em valorizar o
trabalho intelectual com objetivos à fundação
de uma nacionalidade a exemplo dos demais
países.
17. Biblio te c a Lus ita na
Afirmação da figura do autor, na maneira de
ordenar os textos. Os autores apresentados
como reis, príncipes etc, como forma de
associar papeis sociais aos autores.
18. Marquês de Pombal
• Projeto: Equiparação de Portugal aos núcleos
desenvolvidos da Europa culta.
• Atitudes: fortalecimento do trabalho intelectual
e artístico, este último como instrumento de
difusão da imagem de estadista junto à
opinião pública. (Basílio da Gama)
• Resultado para a literatura: relevância social
aos letrados, mas sem definição do campo
das Belas-Letras.
19. Academia Real das Ciências de
Lisboa (1779)
Equiparação de Portugal às nações
europeias: manutenção do projeto de Pombal.
Relação entre literatura e política:
financiamento estatal, isenção de censura do
escrito, direito à importação de papel sem
impostos para a publicação.
Composta de: Ciências Naturais, Ciências
Exatas e Literatura, classes distintas,
conferindo-se autonomia à Literatura.
20. Século XIX
Digressões entre o que é literatura sem haver
um consenso.
Ponto em comum: língua e história = a
verdadeira literatura – os princípios da
nacionalidade.
Criação da Imprensa Régia: instituição
importante na consagração da literatura – as
traduções de romances – o livro passa a ser
um objeto de consumo.
21. Invenção da Literatura
Portuguesa
Os estrangeiros inventaram a literatura
portuguesa ao inseri-la em suas histórias
literárias e escritas.
22. Histórias literárias
As regras da escrita e da leitura, desde Platão
e Aristóteles.
As obras passam a ser selecionadas sob o
critério da historiografia, dentro do projeto de
nacionalidade. (p. 47).
Intelectuais (historiadores): unidade territorial
Intelectuais (análise poética): regras da boa
produção de textos.
23. Conceitos importantes
Literatura e Nação, preparando as histórias
literárias.
Transformação do estudo diacrônico das
obras em disciplina escolar: finalização do
projeto de nacionalidade – cria-se a literatura
no sentido moderno.
Os compêndios vão ser um grande
instrumento para o projeto literário intituído.
24. Definição da literatura em língua
portuguesa
Contribuição de escritores estrangeiros, a
exemplo de Friedrich Bouterwek – publicação
da história da poesia e eloquência, abrangendo
diferentes países europeus (12 volumes).
O termo literatura ainda não aparece para
designar o objeto analisado: recorre-se aos
termos “poesia e eloquência”, mas usou
também “bela literatura”, “literatura”
(=nacionalidade)
25. Bouterwek: definições
A construção de uma história nacional:
“filológico-bibliográfico” e “filosófico-crítico”,
sendo o último critério considerado mais
importante para o autor.
Dificuldade: número reduzido de escritos e
acesso difícil às obras – uma historiografia
literária inventada.
26. Bouterwek: critérios
Elemento norteador: “eleger e comentar as
grandes obras universais e traçar a história da
produção estética nos diferentes países, como
forma de ancorar o sentimento nacional.” (p.
52). Uma produção influencia a outra.
Entra em cena o caráter “evolucionista da
produção nacional, pautando-se nas
modificações estéticas ocorridas nos grandes
centros europeus.” (idem)
27. Bouterwek: pedra fundamental da
literatura portuguesa.
“Exposto este sistema no início da obra,
Bouterwek, passa a apresentar historicamente
cada uma dessas literaturas nacionais,
indicando suas relações com as demais e
elegendo seus maiores autores e obras.
Estava colocada a pedra fundamental da
literatura portuguesa.” (p. 53)
28. A. M. Sané (1808)
Dá continuidade ao trabalho de Bouterwek.
Perspectiva histórica: comentários das
realizações lusitanas em diversos gêneros,
incluindo gêneros que posteriormente foram
descartados pela literatura – criou parâmetros
de produção a partir de modelos de autores
consagrados.
Consagração e elogio
29. Simonde de Sismondi (1813)
O critério de “gosto”- capacidade de
sensibilizar, supondo “regras fundamentais”,
mas sem uma obrigatoriedade de seguimento
a elas.
Inserção da literatura portuguesa com parte
de um Curso, o que altera seus interlocutores
– os moços e moças (uma literatura da virtude
e da moral – critério de seleção).
30. Simonde de Sismondi (1813)
Insere-se o esqueleto da moderna
historiografia literária: seleção e
hierarquização das obras e autores,
apresentação cronológica dos textos e
biografia dos escritores, articulação entre
história, língua e fazer literário.
31. Almeida Garrett
Toma o termo Literatura, sem defini-lo e
busca traçar origem e o desenvolvimento
desse fenômeno em Portugal, considerando-
se original e “negando” a contribuição
estrangeira.
Objetivo: hierarquizar a produção em língua
portuguesa, buscando “as melhores”
composições. (p. 60)
32. A tradição crítica
Instância de consagração evidente na
historiografia e hierarquização de obras e
autores.
Um autor cita outro e assim sucessivamente:
classificando e analisando as obras literárias.
Continuidade, divergências e retorno: traços
das discussões dos críticos no processo de
formação da historiografia literária.
33. Século XXI
Ainda não há consenso sobre o que é ou o que
não é literatura.
Único acordo: obras filosóficas, históricas ou
gramaticais não são literatura.
“Passou-se, assim, de uma acepção
completamente ampla – literatura como conjunto
de conhecimento produzido – para um conceito
bastante restrito – literatura como grupo de
obras (e autores) consagradas” (p. 64), cujos
critérios não são bem definidos e/ou claros.