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Pára-raios


Descargas sob controle


Proteção de estruturas e de pessoas contra descargas atmosféricas
demanda cuidados com escolha da metodologia adequada


Por Bruno Loturco



Não é possível proteger
completamente uma
estrutura contra as descargas
atmosféricas. Os pára-raios,  Depois de captar a descarga, o sistema de proteção contra
                              descarga atmosférica deve dividir a corrente entre as
tecnicamente chamados de      diversas descidas para condução ao aterramento. Eficiência e
SPDA (Sistemas de Proteção segurança estão ligadas à quantidade de condutores
contra Descargas
Atmosféricas), atuam na
proteção contra incidência
direta e, mesmo assim,
sempre haverá riscos, ainda
que substancialmente minimizados, de ocorrerem descargas na edificação. A
função desses sistemas é receber o raio e encaminhá-lo para dissipação no
solo pelo caminho mais curto e rápido.

O nível de proteção desejável para uma edificação é definido pela NBR 5419 -
Proteção de Estruturas contra Descargas Atmosféricas, que traz tabelas que
classificam a edificação de acordo com o tipo de ocupação, o tipo de
construção, seu conteúdo, localização e topografia da região. Conforme for a
classificação da estrutura, a norma indicará a necessidade de haver ou não
SPDA, além do nível de proteção e respectiva eficiência. É necessário levar
em conta, ainda, o mapa de curvas isoceráunicas*, que indica a quantidade
anual de cargas por quilômetro quadrado. Em São Paulo, por exemplo, ao
dividir a quantidade de raios pela quantidade de prédios, as estatísticas
indicam que os prédios são atingidos por um raio a cada 15 anos, em média.
"As descargas têm preferência pelos prédios mais altos e com maior massa",
explica o engenheiro Duílio Moreira Leite, diretor da Encontre Engenharia.

O diretor da divisão de potência do IEE-USP (Instituto de Eletrotécnica e
Energia da Universidade de São Paulo), Hélio Eiji Sueta, conta que a revisão
da norma está sendo feita com base nas normas do IEC (International
Electrotechnical Commission). A norma do IEC é composta por quatro partes,
sendo, respectivamente, referentes a aspectos gerais e principais conceitos;
gerenciamento de riscos e probabilidades; proteção das estruturas e seres
vivos; e proteção de equipamentos eletroeletrônicos internos. "Vai modificar
bastante a atual norma brasileira", prevê Sueta, que participa do comitê de
revisão.

Uma das mudanças é a ênfase na proteção de equipamentos, especialmente
contra danos decorrentes de surtos provocados pela alta intensidade das
descargas. Para tanto, divide as áreas externas do prédio de acordo com a
sujeição à queda direta de raios. Assim, determina os protetores a serem
colocados em cada ambiente a partir do risco de descargas.

* Curva isocerâunica é a que une dois pontos da superfície terrestre a um
idêntico número de dias em que são observadas trovoadas (se só se vêem
relâmpagos, não são computados), em um intervalo de tempo

Proteção composta
Após definir os riscos a que está sujeita a edificação e qual é o nível de
proteção desejado, são tomadas as decisões técnicas de projeto com relação
a cinco pontos fundamentais: sistema de captadores, sistema de descidas,
sistema de aterramento, distâncias de segurança e equipotencialização. Os
dois últimos dizem respeito, respectivamente, ao distanciamento das descidas
em relação a portas e janelas e à continuidade da descarga durante sua
trajetória até o aterramento. "Curvas no sistema de condução podem afetar a
continuidade da descarga", alerta Sueta.

Para entender o funcionamento de um SPDA, é importante conhecer os três
subsistemas que o compõem, pois são os mesmos em qualquer metodologia
de cálculo adotada. O subsistema de captação é responsável por receber as
descargas diretas. De acordo com o engenheiro e consultor da Guismo
Engenharia, Jobson Modena, "tudo o que for metálico e estiver no topo de
uma edificação pode ser considerado elemento de captação". O mesmo vale
para objetos metálicos localizados nas laterais a mais de 20 m de altura a
partir do solo. É esse subsistema que diferencia a metodologia de cálculo do
SPDA, como veremos adiante.
http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/134/imprime89321.asp

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  • 1. Pára-raios Descargas sob controle Proteção de estruturas e de pessoas contra descargas atmosféricas demanda cuidados com escolha da metodologia adequada Por Bruno Loturco Não é possível proteger completamente uma estrutura contra as descargas atmosféricas. Os pára-raios, Depois de captar a descarga, o sistema de proteção contra descarga atmosférica deve dividir a corrente entre as tecnicamente chamados de diversas descidas para condução ao aterramento. Eficiência e SPDA (Sistemas de Proteção segurança estão ligadas à quantidade de condutores contra Descargas Atmosféricas), atuam na proteção contra incidência direta e, mesmo assim, sempre haverá riscos, ainda que substancialmente minimizados, de ocorrerem descargas na edificação. A função desses sistemas é receber o raio e encaminhá-lo para dissipação no solo pelo caminho mais curto e rápido. O nível de proteção desejável para uma edificação é definido pela NBR 5419 - Proteção de Estruturas contra Descargas Atmosféricas, que traz tabelas que classificam a edificação de acordo com o tipo de ocupação, o tipo de construção, seu conteúdo, localização e topografia da região. Conforme for a classificação da estrutura, a norma indicará a necessidade de haver ou não SPDA, além do nível de proteção e respectiva eficiência. É necessário levar em conta, ainda, o mapa de curvas isoceráunicas*, que indica a quantidade anual de cargas por quilômetro quadrado. Em São Paulo, por exemplo, ao dividir a quantidade de raios pela quantidade de prédios, as estatísticas indicam que os prédios são atingidos por um raio a cada 15 anos, em média.
  • 2. "As descargas têm preferência pelos prédios mais altos e com maior massa", explica o engenheiro Duílio Moreira Leite, diretor da Encontre Engenharia. O diretor da divisão de potência do IEE-USP (Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo), Hélio Eiji Sueta, conta que a revisão da norma está sendo feita com base nas normas do IEC (International Electrotechnical Commission). A norma do IEC é composta por quatro partes, sendo, respectivamente, referentes a aspectos gerais e principais conceitos; gerenciamento de riscos e probabilidades; proteção das estruturas e seres vivos; e proteção de equipamentos eletroeletrônicos internos. "Vai modificar bastante a atual norma brasileira", prevê Sueta, que participa do comitê de revisão. Uma das mudanças é a ênfase na proteção de equipamentos, especialmente contra danos decorrentes de surtos provocados pela alta intensidade das descargas. Para tanto, divide as áreas externas do prédio de acordo com a sujeição à queda direta de raios. Assim, determina os protetores a serem colocados em cada ambiente a partir do risco de descargas. * Curva isocerâunica é a que une dois pontos da superfície terrestre a um idêntico número de dias em que são observadas trovoadas (se só se vêem relâmpagos, não são computados), em um intervalo de tempo Proteção composta Após definir os riscos a que está sujeita a edificação e qual é o nível de proteção desejado, são tomadas as decisões técnicas de projeto com relação a cinco pontos fundamentais: sistema de captadores, sistema de descidas, sistema de aterramento, distâncias de segurança e equipotencialização. Os dois últimos dizem respeito, respectivamente, ao distanciamento das descidas em relação a portas e janelas e à continuidade da descarga durante sua trajetória até o aterramento. "Curvas no sistema de condução podem afetar a continuidade da descarga", alerta Sueta. Para entender o funcionamento de um SPDA, é importante conhecer os três subsistemas que o compõem, pois são os mesmos em qualquer metodologia de cálculo adotada. O subsistema de captação é responsável por receber as descargas diretas. De acordo com o engenheiro e consultor da Guismo Engenharia, Jobson Modena, "tudo o que for metálico e estiver no topo de uma edificação pode ser considerado elemento de captação". O mesmo vale para objetos metálicos localizados nas laterais a mais de 20 m de altura a partir do solo. É esse subsistema que diferencia a metodologia de cálculo do SPDA, como veremos adiante.