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Dossier sobre as simpatias do nazismo internacional com Beiras e
         BNG por terem-se negado a condenar o Holocausto

                               O ÓDIO É UM ESPELHO
                                                                João Guisan Seixas, escritor

Se o mundo hoje é como é, e não um lugar muito pior, não é graças a nenhum revolucionário
iluminado, mas ao empenho pessoal e à lucidez mental de um político conservador chamado
Wiston Churchill. Foi o mesmo que, derrotado nas primeiras eleições logo após ter ganho a
guerra, em vez de dizer "que ingratos!", disse que tinha lutado todos aqueles anos
precisamente para que uma coisa assim pudesse acontecer.
Churchill disse muitas frases na sua vida. Bom, nisso não foi muito original. As frases é que o
eram. Há de facto uma frase de Churchill para cada ocasião, mesmo para as mais triviais.
Também para esta, que o não é. A que melhor a ilustra não é, porém, das mais brilhantes,
mas, mesmo assim, arroja muita luz sobre este assunto.
Quando Hitler atacou a URSS, Churchill não duvidou em apoiar Estaline, mesmo apesar de
este ter pactuado anos atrás com Hitler para que ele pudesse atacar comodamente a Grã-
Bretanha. Sendo um político conservador, muitos correligionários lhe censuraram uma
actuação que ajudava a consolidar o poder comunista, mas Churchill respondeu-lhes: "Se
Hitler tivesse decidido invadir o inferno, eu aliava-me com o diabo".
Foi graças a essa lucidez que o mundo ocidental tem gozado, de 1945 até hoje, do maior
regime de liberdades, de bem-estar económico e do mais longo período de paz que nenhuma
sociedade humana nunca gozou, pelo menos de que haja registo histórico.
A vida não é um jogo de bons e maus, como muitas das últimas tendências de infantilização
política nos querem fazer ver. Eu penso que podemos dizer que somos maduros quando
entendemos que o dilema é quase sempre entre aceitáveis e péssimos, e mesmo muitas vezes
entre maus e piores.
Todos temos que escolher alguma vez entre o diabo e alguém que é pior do que o diabo. A
prova máxima de lucidez é saber fazer essa escolha. Saber quem é o diabo com que a gente se
pode chagar a aliar, e quem aquele pior do que o diabo, com que nunca se pode pactuar.
Xosé Manuel Beiras, pela sua actuação, parece que já fez a sua escolha. Parafraseando
Churchill: se Israel inventasse uma máquina do tempo e resolvesse atacar a Alemanha nazi,
ele aliava-se com Hitler.
No dia 14 de Março começou a circular na Internet uma fotomontagem em que dois vultos do
negacionismo (= conjunto daqueles que negam a existência, ou importância, do Holocausto)
actual, o islamista Ahmadinejad e o neofascista Jean Marie Le Pen, sentam ao lado de Beiras
e Jorquera, na mesma bancada da câmara autonómica. Dias atrás estes últimos tinham
impedido finalmente que o Parlamento Galego aprovasse nesta ocasião a Declaração
Institucional em memória das vítimas do Holocausto que vinha sendo aprovada de forma
unânime nestes últimos anos no Dia Internacional instituído pela ONU a este fim.
Na imagem, Ahmadinejad parece celebrar como uma vitória do seu anti-semitismo esta
actuação, enquanto Le Pen mais bem compartilha, braço contra braço, esse certo "ar ausente"
do Beiras:
Alguém poderá achar exagerada, e mesmo injusta, esta imagem, mas é realmente uma forma
de pôr as coisas, e as pessoas, no lugar em que merecem. Se Ahmadinejad e Le Pen fizessem
parte do Parlamento Galego, teriam votado exactamente como eles, teriam pronunciado as
mesmas palavras e teriam buscado a mesma justificação: a memória das vítimas do
Holocausto nazi é "propaganda israelita". Se, neste assunto, no mundo das ideias se
encontram ao lado uns de outros, a montagem o único que propõe é fazer o mesmo no mundo
físico, e visualizar esse encontro.
Não sei se será preciso esclarecer que na proposta de Declaração (redigida por um
sobrevivente do Holocausto, Jaime Vandor) não se fazia referência nenhuma a Israel, mas
fazia-se, sim, uma referência aos cerca de 4.000 galegos que também morreram nos campos
de extermínio.
Mas, mesmo que se tivesse feito a primeira e não se tivesse feito a segunda, quem (e
sobretudo, por quê) pode negar-se a assinar uma declaração de condena ao assassínio de seis
milhões de pessoas exterminadas só pelo delito de serem filhos dos seus pais ou mesmo
(segundo as leis racistas de Nuremberga) netos dos seus avós?
Por muito que já se tivessem feito declarações parecidas nos anos anteriores, era pôr apenas
uma assinatura, pulsar num botão ou dizer "sim". Não era preciso carregar um saco de
cimento nem levantar uma pedra, nem sequer mover-se do assento. Ainda que isso pudesse
ser utilizado para a propaganda política do Estado de Israel (estou a ver Netanyahu diante da
assembleia geral das Nações Unidas a inchar o peito: "Eh, que no Parlamento Galego
aprovaram uma Declaração a dizer que não é legítimo exterminar judeus!"), e ainda que o
Estado de Israel fosse o diabo, não deveria ser, para todo o democrata, o nazismo uma coisa
bastante pior do que esse diabo?
Parece claro que, para Beiras e o BNG, não. Pode que para eles o nazismo seja o diabo, mas o
que para eles de certeza ocupa o lugar de aquilo pior do que o próprio diabo é Israel, e antes
de servir para a sua "mais-que-infernal" propaganda, acham melhor servir para a "apenas-
infernal" propaganda nazi. Parece que o líder de AGE (ou talvez apenas de si próprio) prefere
que o seu cotovelo se roce amigavelmente com o de Le Pen, antes que o seu dedo se mova
uns centímetros para votar afirmativamente a condena do genocídio do povo judeu.
Insisto no papel de Beiras, porque nos anos anteriores o BNG tinha apoiado declarações
similares, e se neste ano não apoiou penso que a única variável que coincide com esta
mudança, e a explica, é a irrupção de AGE "no mercado eleitoral". Se neste ano o BNG não
apoiou o que tinha apoiado nos anos anteriores não foi senão para não ficar diminuído, na sua
"cota eleitoral de radicalismo", a respeito desta nova concorrência. E insisto, aliás, em colocar
Beiras à frente da iniciativa, porque o ódio a Israel tem sido uma das teimas pessoais dele, e
mesmo aquele que exibe o BNG não deixa de ser, em boa medida, uma consequência da
passagem de Beiras pelas suas estruturas, pois me consta que, embora não ousem reconhecê-
lo publicamente, há vozes discordantes dentro dessa formação a respeito da linha seguida
neste assunto. Também na AGE, mas duvido que a AGE seja politicamente outra coisa que
uma marca comercial de Beiras, e não se pode falar apropriadamente de militantes, mas de
acompanhantes.
Que aquela fotomontagem não era nem exagerada nem injusta, e que mesmo tinha ficado
curta (pois podiam ter-se sentado nesses lugares pessoas ainda menos recomendáveis, como
vamos ver) o tempo encarregou-se de o demonstrar e de pôr as coisas no seu lugar. No caso
de Beiras e Jorquera, ao lado de Le Pen e Ahmadinejad (pelo menos).
Aos poucos dias recebi na minha conta um mail em que se informava do escândalo que a
atitude de Beiras e BNG tinha provocado em meios de diferentes comunidades judias do
mundo. Como as ligações das páginas que me mandavam, não sei por quê, não funcionavam,
resolvi procurá-las a colocar aquelas referências na barra de procura do Google e dar-lhe a
"enter".
Ao abrir-se a página dos resultados apareciam, com efeito, aquelas webs de comunidades
judias, e também algumas de "informação neutra" que se faziam eco das suas reacções, mas
entremeadas, apareciam outras páginas que não eram nem judias nem neutras, mas todo o
contrário, e que também se faziam eco (um eco agressivamente zombeteiro) das outras.
Paginas que celebravam o que as outras lamentavam. Surpreendeu-me vislumbrar pelo rabo
do olhos, enquanto ia varrendo as diferentes ocorrências, palavras como "White Pride"
("Orgulho Branco") ou "News for white europeans" e símbolos reconhecíveis do racismo, do
ódio, do nazismo.
Aprimorei então a minha busca com os termos que apareciam mais frequentemente nelas
"Galicia party dismisses Holocaust remembrance" ("partido da Galiza repudia recordação do
Holocausto") e aí é que então começaram a aparecer elas! Páginas fascistas, neonazis, nazis
clássicas, racistas. Coisas que eu pensei que não poderiam, que não deveriam, existir na
Internet, e que alguma autoridade responsável deveria banir para sempre.
Se essa autoridade existisse, curiosamente essas cinco palavras seriam, no dia de hoje, o
melhor recurso para localizar esse género de páginas. E resulta uma vergonha pública para os
partidos a que se referem essas cinco palavras, que a expressão que os denomina, "Galicia
Party dismisses Holocaust remembrance", possa ser o melhor instrumento para localizar
páginas neonazis e racistas em dia nenhum.
A primeira que me tinha chamado à atenção, já na busca inicial, intitulava-se "Unity of
Nobility", e é um site de informação "alternativa" "deskosherizada" (="desjudeizada") para
"europeus brancos", subtitulada "Unidos pelo sangue", com uma foto de dois soldados nazis a
susterem gatinhos no colo e uma outra, ao lado, de duas crianças loiras vestidas de anjos com
a legenda: "Diz não ao genocídio branco". É um grupo supremacista branco baseado, ao que
parece, no Reino Unido, mas de vocação "europeia".
O mais triste da presença de Beiras e BNG nesta página é que sei que o único que os vai
desgostar é uma parte do título que abre a notícia: "Partido espanhol, diante da Comemoração
do Holohoax: Fora com a propaganda israelita!"
http://unityofnobility.com/2013/03/23/spanish-party-on-holohoax-rememberance-no-way-israeli-
propaganda/
("Holohoax" é um ridículo jogo de palavras, muito estendido em meios negacionistas de
língua inglesa, entre "Holocaust" e "hoax" = boato, mentira, invenção)
Abre assim a sua resenha da façanha de Beiras e BNG: "Os judeus espanhóis acusam os
políticos da Galiza por terem impedido uma resolução de comemoração do Holohoax como
tantas que fazem todos os idiotas do mundo", e a seguir reproduz, com desqualificações para a
AGAI (Associação Galega de Amizade com Israel) e FCJE (Federação de Comunidade Judias
de Espanha) basicamente as informações tiradas das fontes judias antes aludidas.
O que mais nos interessa são os comentários. "Silvia" confirma em espanhol: "La actual
izquierda es en verdad fascista". O que, no contexto dessa página, só pode interpretar-se como
elogio. Ainda que "Tyr" (administrador do site, que escreve o nome no avatar com caracteres
rúnicos) retorque, em inglês: "O fascismo não é um movimento de esquerdas, é um
movimento do povo. Nunca quem está ao lado dele a combater a propaganda do Holocausto
pode ser considerado um movimento de esquerdas, igual que não pode ser um movimento
judeu". Então já ficamos esclarecidos: BNG e AGE são tão de esquerdas como judeus.
Porque eu tive, contudo, uma curiosidade malsã e fui em seguida à página de início para ver o
lugar que ocupava a informação, e, com efeito, estava no "quadro de honra", dois lugares
abaixo das declarações de um representante municipal de um partido neonazi sueco, que
afirmava que os judeus controlam a Casa Branca e um lugar abaixo de um sisudo artigo de
William Pierce fundador do partido racista e neonazi americano "National Alliance" que,
numa "lógica esquizofrénica" muito frequente também na "esquerda anti-semita", acusava os
judeus de serem os culpáveis inclusive do ódio aos judeus:
Abaixo de um neonazi sueco e abaixo de um racista americano. Ah, se Dante tivesse querido
inventar um inferno para a nossa esquerda anti-semita, não podia ter imaginado um mais
apropriado! Porque, com efeito, não podiam ter caído mais baixo.
Eles dirão e repetirão que são anti-sionistas, não anti-semitas, mas a realidade teimosa vai
responder-lhes que, de facto, os anti-semitas, além de lhes dar os parabéns, tratam,
informativamente essa notícia como mais uma expressão de anti-semitismo. A notícia da
negativa de Beiras e BNG a expressarem o seu apoio às vítimas do Holocausto situa-se ao
lado de notícias que falam de judeus (ou antes "contra judeus"), de manifestações anti-
semitas, não de nada que tenha a ver com Israel.
Outra página, bastante relacionada com a anterior, que não podia deixar de congratular-se
portanto com a atitude de Beiras e o BNG é Storm Front ("Frente de Tormenta"), um forum
racista criado por um conhecido dirigente do Ku Klux Klan, justamente castigado pela vida a
ter que levar o nome de Don Black. Tem vários thread abertos com o tema. No banner da
ligação de um deles não se oculta o entusiasmo que desperta a actuação dos nossos curiosos
"progressistas": "Partido espanhol repudia recordação do Holocausto como Propaganda
Israelita. Cada pequeno golpe aos 'Chosenites' é um raio de luz no horizonte" ("Chosenite" é
um termo insultante utilizado nos meios anti-semitas para se referirem aos judeus, tirado de
"Chosen"= escolhido. É como dizer: "esse lixo que se considera o povo escolhido". O de
"povo escolhido", como qualquer pessoa com um mínimo de informação deveria saber, tem
um sentido religioso e não de nenhuma classe de supremacia racial: eles consideram-se o
povo escolhido por deus para lhe revelar a doutrina do monoteísmo)
No logo aparece, à volta de um conhecido símbolo do fascismo internacional, um slogan
comum a muitos movimentos racistas: "White Pride World Wide", "Orgulho Branco em Todo
o Mundo". Não sei se isto encherá de orgulho (branco) os nossos cruzados anti-israelitas, mas
de certeza tornaram-se já célebres em todo o mundo... racista
Já no seu interior (http://www.stormfront.org/forum/t956094/) deparamo-nos com uma surpresa:
um "branco da casa", um "sudista do noroeste". Um racista galego diz em inglês,
provavelmente com sotaque do Alabama: "Eu sou desta região autónoma de Espanha, a
Galiza. O partido mencionado neste thread é um partido de extrema-esquerda que quer para
esta região a independência de Espanha. Nós temos, com efeito, algumas coisas em comum
com eles".
Noutro dos thread abertos (http://www.stormfront.org/forum/t956106-2/) "Geboren Weiss"
("Nascido Branco" em alemão), diante da notícia, grita tipograficamente: "Guau, que grande é
isto!". Mas o mais curioso são as imagens postadas para ilustrarem as reacções destes
internautas orgulhosamente pálidos. Há muitas do famoso encontro de Franco com Hitler em
Hendaye, que devem querer significar que a notícia demonstra uma relação igual de estreita
entre os espanhóis e os ideais da Alemanha nazi.
Eu acho, porém, mais reveladora esta:
O "nick" escolhido pelo autor do post baseia-se no nome de Revilo Pendleton Oliver, um
outro supremacista branco americano colaborador do antes mencionado Willian Pierce na
fundação de "National Alliance".
O documento que aparece reproduzido no ângulo inferior esquerdo é o tão conhecido "parte
da vitória": "Cautivo y desarmado el ejército rojo...". O quadro representa Franco vitorioso, e
a mensagem é clara: o facto de estes grupos terem impedido lembrar as vítimas do Holocausto
é mais uma vitória (uma vitória póstuma, como as do Cid) de Franco.
Noutras páginas do mesmo foro (http://www.stormfront.org/forum/t956106/                       e
http://www.stormfront.org/forum/t956106-3/) fica ainda mais clara esta relação:
"Gladiatrix" celebra a notícia: "Os espanhóis estão a acordar do 'hollow hoax' (variação de
"holohoax" que acrescenta "hollow"= "oco")
Ao que "American NS" (= "National Socialist", supõe-se) acrescenta: "Certamente não é só
que Franco tivesse deixado um valioso ponto de referência, parece também que os espanhóis
continuam conscientes dos seus direitos diante das mentiras e honram o legado dele"
"Ukaway" ("Fora o Reino unido"), então, emociona-se: "Está a crescer uma enorme vaga que
vai limpar da peste judia os nossos países"
"Deathknight303" ("Cavaleiro da Morte"303) soma-se ao entusiasmo: "Isso! E quando os
tempos forem chegados, vai correr pelas ruas o sangue dos porcos judeus, como deve ser"
E realmente, na sua burrice, estes racistas estão a fazer, sem o saberem, uma análise
certíssima. Estão a estabelecer uma linha de continuidade (mais que ideológica cultural ou
quase étnica) entre o anti-semitismo orgulhoso do nacional-catolicismo espanhol e o anti-
semitismo vergonhoso da nossa esquerda esquizofrénica, que demonstra arrastar, no seu
radicalismo infantil, os mesmos preconceitos rançosos dos avós e da mais escura tradição
"espanhola". Uma esquerda nacionalista galega sumamente "cañí"(quer dizer "racialmente
espanhola")
A adesão ao veto de Beiras e o BNG à memória do Holocausto chega também, sem ir mais
longe (e já é bastante) até à Grécia.
Na página Paspartou (http://paspartoy.blogspot.com.es/2013/03/blog-post_5632.html),
abaixo do seguinte logo:




... e antes do post intitulado: "Partido espanhol impede a comemoração do Holocausto",
aparece o seguinte epígrafe: "Uma coisa que nos anima. Espanha mostra-nos o caminho certo.
Basta das mentiras deles" (dos judeus, entende-se)
Claro que só com estes dados, e com os meus conhecimentos de grego clássico e moderno (a
tradução acima foi feita com a ajuda de um tradutor automático, incapaz de traduzir a imagem
do logo), dificilmente nos podemos aventurar a dizer se se trata de uma página de ultra-
esquerda ou de ultra-direita.
Isto já é sintomático, e deveria mover à reflexão. Sobretudo quando, depois de uma pequena
pesquisa, acabamos por descobrir que quem se sente animado e estimulado pelo exemplo de
Beiras e BNG é nem mais nem menos que o partido Aurora Dourada (ΧΡΥΣΗ ΑΥΓΗ,
pronunciado Chryssí Avguí), o partido neonazi grego, infelizmente muito popular nos últimos
tempos a raiz da sua preocupante ascensão nas últimas eleições do páis heleno (e por falar em
"heleno", não faz falta saber grego, só conseguir ler o alfabeto, para deduzir do logótipo que o
lema deles é "A Grécia para os gregos")
A ideologia de Aurora Doura talvez acaba por ficar completamente clara quando voltamos a
encontrar o mesmo nome associado, não à bandeira grega, mas ao emblema do próprio
partido, baseado, como se pode comprovar, num motivo decorativo tipicamente heleno,
utilizado aqui pelas evocações com um outro símbolo, infelizmente muito conhecido, que
desperta:
Mas o aplauso da ultra-direita internacional à negativa de Beiras e BNG a condenar o
Holocausto, viaja ainda mais longe. Tão longe que vamos ter que fazer a viagem em três
etapas. Às vezes o dado mais importante de uma informação reside antes no caminho que
segue do que no próprio conteúdo.
O ponto de partida da primeira etapa não sabemos muito bem se colocá-lo no Irão, na
Palestina, na Argélia e na França. Na sua página pessoal, alguém que assina "Mounadil al
Djazaïri" ("O Combatente Argelino"), que aparece também como colaborador da rádio
iraniana em francês ("Iran French Radio", onde o responsável da seguinte etapa, Alain Soral,
aparece também frequentemente entrevistado e citado) e que podemos colocar, com uma
simples pesquisa na net, em relação com diferentes grupos de apoio a Gaza e aos prisioneiros
de Guantánamo, publica uma nota intitulada "A Comunidade autónoma da Galiza (Espanha)
diz não ao lobby sionista!"
http://mounadil.wordpress.com/2013/03/07/la-communaute-autonome-de-galice-espagne-dit-
non-au-lobby-sioniste/
O título só é já todo um exemplo de "objectividade informativa", pois iguala 15% do
eleitorado (percentagem de votantes de Beiras e BNG) com 100% dos cidadãos. É um
exemplo óptimo para que possamos comprovar, em primeira mão, diante de uma situação
objectiva que conhecemos, qual a fiabilidade das fontes pró-palestinianas. Como se vê, é
sempre necessário dividir por 10, no mínimo, a informação recebida para obtermos alguma
aproximação da realidade.
A nota em si limita-se a traduzir para francês uma informação de El Mundo dando conta do
bloqueio de Beiras e BNG à declaração contra o Holocausto judeu, precedido de alguns
esclarecimentos acerca do que é a Galiza (que, num estudo "em profundidade", se identifica
como a terra de origem de Julio Iglesias, Raul Alfonsín, Franco "le caudillo" e Fidel Castro) e
de quem são AGE e BNG (que são definidos como partidos "da esquerda terceiro-mundista e
pró-palestiniana, da esquerda à Hugo Chávez, vamos!")
Já sei que o assunto deste dossier são as páginas de ultra-direita, e que alguém julgará que,
por ser árabe, esta aqui vai estar livre automaticamente dessa suspeita. Talvez não baste dizer
que nela se reciclam todos os tópicos nazis sobre os judeus (embora aplicados aos "sionistas),
que se dão sistematicamente informações de actos de agressão anti-semita tentando relativizá-
los ou desacreditar as vítimas, que se propalam impunemente todos os boatos anti-semitas,
que se chega a dizer que Eichmann era muito amigo dos judeus e que o próprio Hitler era
judeu. Talvez não chegue dizer que todos os recursos que ele utiliza vão aparecer repetidos
mais para a frente em páginas que vamos descobrir que pertencem, em última instância, ao Ku
Klux Klan. Sendo uma página árabe e pró-palestiniana, para muitos tem vénia para o fazer.
A prova definitiva se calhar terá de ser como assumem literalmente as suas palavras e o seu
ponto de vista algumas outras publicações de carácter inequivocamente fascista.
O texto, por exemplo, é reproduzido literalmente (segunda etapa da viagem) no site "Égalité
& Réconciliation" ("Igualdade e Reconciliação")
http://www.egaliteetreconciliation.fr/Une-note-d-espoir-17202.html
Com esse nome pode parecer uma associação benéfica quase. Trata-se, porém, da
denominação de um movimento que pretende reunir o melhor da esquerda e da direita ("A
esquerda do trabalho e a Direita dos valores", segundo reza o seu slogan). Bom, na verdade o
site é mais a página pessoal do seu fundador, Alain Soral, uma personagem "singular" da
política francesa que já militou no Partido Comunista Francês e no Front National de Le Pen
(onde chegaria a ser cabeça de lista nas eleições europeias) antes de tentar esta síntese, e que
se apresenta assim aos seus seguidores na própria web:
Coisa que não deve estranhar, porque a profunda "filosofia política" de Soral parte da
convicção de que há uma conspiração capitalista-maçónico-buguesa-protestante-sionista-
americana para feminizar a sociedade, e ela precisa de ser masculinizada. Precisa de uma
direita e uma esquerda viris e bem musculadas. Na faixa superior da página aparece de facto
um friso de grandes "machos" anti-americanos, anti-sionistas e anti-etc.: Fidel Castro, Gadafi,
Chávez e Ahmadinejad, entre outros.
Também não deve estranhar que este site ultra (segundo ele, ao mesmo tempo ultra-
esquerdista e ultra-direitista) assuma directamente o ponto de vista de um meio árabe. Durante
a sua estada no Front National, Alain Soral teve o empenho de tentar atrair os jovens radicais
árabes da Banlieue (fonte inesgotável de testosterona), numa tentativa de compatibilizar o
islamismo radical e o ultra-nacionalismo fascista do partido. Empenho meritório, porquanto o
partido de Le Pen se caracteriza precisamente pela sua xenofobia anti-árabe, mas enfim, a
esquizofrenia ideológica é uma das características, como dissemos, de todos estes grupos.
Assim, um texto que, sendo escrito por um árabe pro-palestiniano teria sido considerado sem
mais "progressista" por muitos, acontece que calha às mil maravilhas nos moldes de um site
de ultra-direita como o de Alain Soral, que reproduz sem mais o texto de "Mounadil al
Djazaïri", limitando-se a acrescentar simplesmente, no título, um pequeno texto em que saúda
a notícia do boicote: "Uma nota de esperança. A comunidade autónoma da Galiza diz não ao
lobby sionista".
E daí saltamos (na terceira etapa da viagem) directamente para as estepes de Ásia Central.
Porque a "nota de esperança" de Soral aparece, por sua vez, reproduzida literalmente nesta
outra página escrita também em francês, mas que ecoa aplausos mais longínquos:
http://eurempire.skynetblogs.be/archive/2013/03/26/la-communaute-autonome-de-galice-dit-
non-au-lobby-sioniste.html
Trata-se de blog com um título de referências bastante claras "Eurempire" (Euro-império), e
presidido por um logótipo que não precisa de traduções:
É a águia bicéfala, símbolo do Império Czarista, adoptada também pelo Império Prussiano
criado por Bismarck, tomada por sua vez do escudo de armas do Sacro Império Romano-
Germânico, inspiração também do escudo dos Áustrias nos não menos imperiais tempos de
Carlos V e Filipe I de Espanha, e que vem, em última instância, do símbolo do Império
Romano (na altura do "Império Dual", daí as duas cabeças) que continuou durante muitos
séculos a ser o do Império Bizantino. Não estranha portanto que o lema da página seja
"Refundar Europa como Império".
Na verdade é que, se não fosse por tão imperiais referências, voltaríamos a ter dúvidas de se
se trata de uma página de extrema esquerda ou de extrema direita, tanto se parecem as
retóricas anti-israelitas e o mundo de referências míticas de uma e de outra. Por exemplo, um
dos artigos que aparecem na coluna à direita, "Como foi Inventado o Povo Judeu", reproduz
argumentos pseudo-históricos e anti-semitas, que se podem encontrar repetidos literalmente
na boca de "alter-mundistas com pedigree" como Michel Collon, cujo veneno anti-semita é
considerado dogma de fé histórico por todos os progressistas bem intencionados e pior
informados.
Além das constantes referências a Russia Today e outros meios oficiais russos como únicas
fontes confiáveis de informação, uma pista pode fornecer-no-la o nome do autor, Friedrich
von      Dietersdorf,        que    procurando      noutras      páginas     (por     exemplo
http://www.4pt.su/en/content/friedrich-von-dietersdorf), descobrimos que se trata na verdade
de um alter-ego de Alexander Dugin, nem mais nem menos que o ideólogo privado de Putin.
Não por acaso o velho escudo imperial com que Dugin-Dietersdorf, águia de duas cabeças,
pretende identificar-se, foi adoptado como o da Federação Russa depois da crise institucional
de 93 que inaugurou um regime presidencialista de corte neo-imperialista. Afinal esta
pesquisa na política doméstica revela algumas coisas importantes da internacional.
Dugin é um delirante líder carismático, preconizador da ideia da Eurásia, império que
abrangeria o conjunto de Europa e Ásia e cujo epicentro seria "logicamente" a Rússia. Um
ultra-nacionalista russo, que mistura ideias místicas e esotéricas com um ideal de supremacia
russa. Podíamos dizer que é "O Rasputin de Putin", e ele mesmo cultiva um certo parecido
com aquele monge lunático, ainda que só consiga parecer-se mais com Carlos Taibo. Do
parecido físico Carlos Taibo não tem culpa, também podia ter-se parecido comigo. Mas os
parecidos ideológicos deveriam começar a preocupar. Dugin é filo-islamista, amigo dos
aiatolás do Irão e habitual conferencista naquele país. Fala contra a globalização com toda a
indignação de um indignado. Admira Hugo Chávez e odeia tudo quanto cheira a EUA e a
Israel. Um perfeito esquerdista.... se não fosse que é um ultra-direitista:




As frechas amarelas atravessadas que aparecem atrás dele, numa foto tirada de The Green Star
(http://americanfront.info/2012/07/27/alexander-dugin-on-friends-and-enemies/, é um site de
propaganda de "New Resistence" a quinta coluna americana de Dugin,) são o símbolo da
Eurásia, o império destinado a salvar a humanidade do imperialismo americano e sionista.
Se somarmos o símbolo da águia com o das frechas amarelas atravessadas, obtemos nem mais
nem menos este:




É o brasão da Prússia como província do III Reich, directamente inspirado no do Império, só
que a águia tem perdido uma cabeça (para Hitler mesmo uma só resultava excessiva, quanto
duas!) e em lugar da cruz, assegura na garra esquerda uma feixe de setas, que a todos nos
lembrará, e com razão, o símbolo da Falange Espanhola, e que também foi utilizado pelo
Partido da Cruz-Flechada, que sustinha, na Hungria da II Guerra Mundial, o governo fantoche
da Alemanha nazi que controlava então o país.
Não é um caprichosa associação de imagens cuja semelhança pudera ter-se devido ao mero
acaso. Estando proibidos os símbolos nazis na maior parte dos países civilizados, os grupos
ultras, para conseguirem ser facilmente identificados, têm que acudir à simbologia menor,
derivada, indirecta, associada ou próxima do nazismo. Às vezes à mera concomitância
gráfica: desenhos lineares, ângulos marcados, padrões repetitivos, fortes contrastes
cromáticos, fundos escuros com o intuito de uma certa sobriedade tétrica, etc. Se possível
aproveitando algum motivo local associado, para disfarçar, como víamos no caso de Aurora
Dourada. Há uma "estética" nazi, que se utiliza como código "difuso" para se dizer quem se é,
sem ser um quem o diga.
Todos esses procedimentos aparecem utilizados no símbolo de Dugin. Existe de facto um
rascunho de 1920, da mão do próprio Hitler, em que aparece, entre os vários símbolos que
andava a considerar para o seu movimento, um muito parecido com o do euro-asiático:




Todos esses desenhos giram à volta de uma pretensa simbologia solar de raiz "indo-europeia"
(o mito nazi da unidade racial "indo-europeia" está na base da ideia da "Eurásia") que não
pode resultar alheia ao mundo ideológico de Dugin, que compartilha também com Hitler,
além da psicopatia, as suas crendices esotéricas (são duas coisas que costumam ir unidas).
A coincidência gráfica patenteia, portanto, umas coincidências muito mais profundas.
Alexander       Dugin       é     um       reconhecido       anti-semita     e     neofascista
(http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0962629801000439), fundador do "Partido
Nacional Bolchevique", tradução russa do "Partido Nacional Socialista" alemão, embora ele
ao mesmo tempo diga odiar os nazis. Coisa que acontece precisamente porque ele gostava de
o ser mas não pode por causa do seu patriotismo russo que o impede de perdoar que os
alemães tivessem invadido o seu país. Podemos dizer que é justamente o contrário do que se
deve ser. É ao mesmo tempo pró-nazi e anti-alemão. Mas tudo isso é perfeitamente lógico
dentro da lógica esquizofrénica que caracteriza estas ideologias. E quando falo em "lógica
esquizofrénica destas ideologias", outra vez não sei se estou a pensar realmente nas de ultra-
direita ou nas de ultra-esquerda.
Com o aplauso de Dugin, os ecos do boicote de Beiras e o BNG ao Dia Internacional em
Memória das Vítimas do Holocausto, chegam já portanto até à Vladivostoque.
E para acabarmos de dar a volta ao mundo (... do racismo, o nazismo e a ultra-direita), vamos
voltar a América. Porque uma das páginas que, por causa dessa esquizofrenia ideológica das
extremas direita e esquerda, mais me esquentou a cabeça na hora de determinar o seu
extremismo, foi esta:
http://thisiszionism.blogspot.com.es/2013/03/spanish-party-dismisses-holocaust.html
Experimentem, se tiverem estômago. Pode-se percorrer de cima para baixo e de baixo para
cima e registar todas as ideias, crenças e pretensas informações que contém, sem se saber se
se trata de uma página de ultra-direita ou de ulta-esquerda. É uma página que se apresenta
simplesmente como "anti-sionista" (daí o título: "This Is Zionism"), e todos os seus
argumentos e mistificações podiam fazer parte de qualquer página alter-mundista feita por
pessoas que se consideram o cúmulo do progressismo.
Sem ir mais longe, ilustram a informação em que celebram a negativa de Beiras e BNG a
lamentar a morte de milhões de pessoas nos campos de extermínio nazi, com um desenho que
reproduz ponto por ponto o mesmo "raciocínio" (ou antes o "irraciocínio") com que os
responsáveis de ambos os grupos parlamentares galegos pretenderam justificar a sua decisão:




O desenho representa um "pioneiro" israelita, já entrado em anos, e caracterizado com todos
os traços que o anti-semitismo atribui aos judeus. Repare-se especialmente no nariz
desenhado com forma de 6 (neste caso de 6 virado por causa da direcção da marcha).
Compare-se com estoutro desenho "pedagógico" tirado de um livro escolar alemão da época
nazi, em que um aluno mostra aos colegas a maneira de identificar um judeu:
O texto que acompanha a ilustração diz: "O nariz judeu é curvado na ponta. Parece um seis"
Ora, o texto do cartaz que exibe no desenho anterior o perverso israelita que respira por um 6,
diz: "Mais ajuda para Israel. O meu avô morreu em Dachau. O mundo deve-me dinheiro. E já
por último, comemora o Holocausto".
É exactamente o argumento utilizado por Beiras e o BNG para se negarem a lamentar nem
por um segundo de legislatura o assassínio de 6 milhões de "seises" por isso constituir um
claro acto de propaganda em favor de Israel! Há uma caricatura com todos os traços do anti-
semitismo que reproduz todos os argumentos de Beiras e BNG. Isto deveria provocar-lhes um
nojo profundo, se o juízo moral dos seus cérebros controlasse as suas vísceras, e não
acontecesse exactamente o contrário.
Não poderíamos, contudo, apenas pelo detalhe do nariz, acabar por inclinar pelo lado da
direita a balança em que pesamos esse site, e com ele esse texto, e com ele esse argumento.
Todo o site está cheio de desenhos de igual laia, mas, contudo, sempre são dirigidos contra os
"sionistas", nunca directamente contra os judeus. Simplesmente todos os preconceitos que há
sessenta anos os anti-semitas reconhecidos aplicavam aos judeus, estes anti-sionistas actuais
aplicam-nos aos "sionistas". Quando se nega o holocausto nega-se exclusivamente, igual que
Beiras e BNG, em função apenas de não ser senão propaganda sionista. Falar do lobby judeu
e da conspiração dos judeus para controlar o mundo das finanças, da política e dos meios de
comunicação, também não é já património Goebbels nem dos Protocolos dos Sábios de Sião.
É uma coisa que todo o "progre" pró-palestiniano dá por demonstrada. A única diferença é
que agora, quem faz isso são os "judeus maus": os sionistas. Coloca-se, porém, (nesta página,
como nas da esquerda radical) o contra-exemplo dos "judeus bons": os judeus anti-sionistas,
os judeus mesmo negacionistas (o texto do cartaz podia ter sido assinado também por Norman
Finkelstein, cuja obra deve estar na base da argumentação de Beiras e o BNG), os judeus que
mesmo negam a existência do povo judeu, os judeus anti-semitas.
A aplicação sistemática da "lógica esquizofrénica" de que falávamos antes, faz com que
resulte impossível resolver a dúvida. Este site insiste fervorosamente em rejeitar qualquer
acusação previsível de anti-semitismo e insiste na legitimidade do seu anti-sionismo, que
sempre adopta um tom "humanitário". Um ódio com tom humanitário. A lógica
esquizofrénica permite estas e muitas mais coisas. Permite, por exemplo, negar por momentos
o Holocausto, para, a seguir, culpar os judeus pelo Holocausto. Insinua-se, de uma parte, que
os nazis não eram assim tão maus ao tempo que, da outra, se afirma que os "sionistas" são
nazis de hoje em dia porque são muito maus. Chega a culpar os próprios judeus pelo nazismo
histórico até, insistindo-se em demonstrar que todos os grandes chefes nazis, Hitler à cabeça,
eram judeus!
Ora, meus senhores, todos estes são argumentos que utilizam, e dados que consideram
provados, muitos pretensos progressistas em todos os foros de debate pró-palestinianos. O
único truque para passar de um lado a outro "do espelho" é, onde a propaganda nazi colocava
a palavra "judeu", colocar agora "israelita" ou "sionista".
Embora nos possa causar escândalo que isto não cause escândalo à mentes bem-pensantes, os
mesmos procedimentos utilizados nesta página são aqueles que se utilizam nos meios auto-
considerados progressitas dos nossos dias. Por não sairmos do mundo da caricatura, é o
procedimento que aplica regularmente o humorista espanhol Forges a todos as suas charges
que têm Israel como alvo. Não que ele desenhe israelitas com nariz em forma de 6
(curiosamente evita pôr-lhes rosto), mas ele retrata, na mesma, os israelitas com traços muito
mais graves do anti-semitismo: a crueldade caprichosa, a dominação do mundo, utilizando
sempre um recurso gráfico e simbólico, desta vez sim, tomado directamente do "humor
gráfico" anti-semita: o de relacionar sempre iconograficamente os judeus com o sangue. Os
desenhos dele no El País sempre aparecem a preto e branco, mas nesta charge publicada por
ocasião dos incidentes da primeira "flotilha a Gaza" organizada pelos islamistas turcos,
utilizou excepcionalmente a cor (vermelha, claro):




Ele ficou de certeza muito satisfeito julgando-se o mais sensível e humanitário desenhador do
mundo, mas estava a ecoar, de forma consciente ou inconsciente, um preconceito
multissecular. A frase ignominiosa parece uma reflexão, mas é na verdade uma reflexo. Um
reflexo automático do fundo cultural espanhol mais escuro e mais anti-semita. A obsessão por
relacionar os judeus com o sangue pode-se ver também nos sites que temos visitado, e
representada com imagens que me nego a reproduzir. Trata-se afinal de uma recriação do
famoso "libelo do sangue" da Idade Média, ainda de curso corrente no mundo árabe (sem ir
mais longe eis o título de um "sisudo" artigo aparecido estes dias no jornal jordano Al-Arab
A-Yawn: "É Obama, que costuma celebrar a Páscoa Judia, ciente do uso de sangue de cristão
nesta celebração?" (http://www.memri.org/report/en/0/0/0/0/0/0/7114.htm#_ednref1).
Compare-se o desenho de Forges com este tirado do blog "Relámpago Informativo",
(http://relampagoinfo.blogspot.com.es/2009_05_01_archive.html, o seu nome parece uma
tradução castelhana de "Storm Front") ligado ao grupo neonazi argentino Bastión Nacional
Revolucionario):




Grupo que, já agora, utiliza um emblema que nos lembra um outro que já encontrámos,
embora apareça agora transplantado das estepes para as pampas:




A ligação directa desta classe de representações com o "libelo de sangue" aparece, porém, de
forma mais directa neste outro desenho com a legenda "Israel bebe sangue", utilizado na
propaganda da Marcha Global a Jerusalém organizada por grupos "progressistas" pró-
palestinianos do mundo ocidental e grupos integristas do mundo islâmico:




E finalmente esta é uma das tantas representações medievais da, na altura, "absolutamente
provada" (tanto como o genocídio do povo palestiniano hoje em dia) prática judia de verter o
sangue de uma criança cristã para utilizar nos ritos da Páscoa:
Como se vê, há uma continuidade discursiva em todos esses desenhos. Uma mesma
mensagem e um mesmo motivo central: os judeus vistos como seres "sedentos de sangue".
Claro que nos desenhos actuais, nunca se diz "os judeus", diz-se Israel (ou supõe-se "Israel"
no desenho de Forges) ou "os sionistas". Ora, atribuir a Israel ou aos sionistas uma inata sede
maléfica de sangue, parece-me que só pode fazer-se em função do velho preconceito da
maléfica sede de sangue inata dos judeus.
O recurso à imagem de crianças daria para um outro dossier tão amplo como este, que teria
que abranger também o anti-semitismo medieval, o nazismo e a propaganda pró-palestiniana,
ou melhor dito anti-israelita. O que interesse é salientar agora a continuidade nos argumentos
ideológicos e nos recursos retóricos (quer verbais, quer gráficos ou simbólicos) entre essas
três expressões do ódio anti-judeu.
Desta digressão pelo grafismo anti-semita, tiramos apenas uma conclusão: Resulta impossível
saber, quando se trata de sionismo ou de Israel, se uma caricatura foi feita por uma pessoas
daquelas que querem parecer as mais progressistas do mundo ou daquelas que querem ser as
mais reaccionárias do mundo. O desenho que acompanha a celebração do repúdio de Beiras e
BNG a render tributo à vítimas do Holocausto, por muitos traços anti-semitas que apresente,
não serve para descartar completamente a hipótese de que o site "This is Zionism" seja obra
de pessoas que se auto-proclamam progressistas.
Afinal, para podermos acabar de inclinar a balança no sentido de atribuir o site ao racismo
mais nojento e não a algum ingénuo movimento eco-pacifista, temos que acudir
necessariamente a uma informação externa. Vejamos o post que segue àquele que celebra o
boicote de Beiras e BNG. É um vídeo de um activista de barba branca e olhar iluminado que
acusa o Estado de Israel de ser um Estado racista, supremacista e mesmo "anti-semita". Um
vídeo que acusa o Estado de Israel de nazi. Mas não, não é Xosé Manuel Beiras (embora eu
tenha visto um vídeo de ele a dizer coisas muito parecidas há alguns anos na TVG).
Trata-se de um tal David Duke, e pela maneira de falar dele também não podemos resolver a
questão. Antes parece incliná-la "do lado esquerdo". O "dado externo" vem agora.
Averiguemos, então, quem é David Duke. Será um activista americano dos direitos humanos?
Não senhor, David Duke resulta ser um conhecido dirigente do Ku Klux Klan (só colocar
"conhecido" ao lado de "dirigente do Ku Klux Klan" já causa arrepios) que chegou a
candidatar-se para a presidência dos Estados Unidos (isto causa ainda mais), ainda que fosse
com a bandeira da Confederação, e não a da União, de fundo:
Na verdade este personagem já tinha aparecido no nosso drama (que deve ser o drama de
termos a esquerda mais anti-semita da Europa). Porque voltando a uma das primeiras
citações, no foro de Storm Front (http://www.stormfront.org/forum/t956106-2/), abaixo dos
parabéns a Beiras e a BNG por dizerem num parlamento o que eles têm que conformar-se
com propalar pelos esgotos mais ocultos da Internet, aparecia já este anúncio:




"Ouve o Dr. David Duke. Um homem que ousa dizer a verdade!". É o anúncio da rádio de
David Duke. Resulta realmente triste pensar que uma informação relativa a uma votação no
Parlamento Galego possa ser sponsorizada pela rádio de um racista do Ku Klux Klan! Mas
resulta muito mais triste pensar que o nexo de união entre duas páginas racistas americanas
resulta ser tanto o de contar com a presença de David Duke como o de celebrar uma notícia
protagonizada por Beiras e o BNG....
E não é a única aderência de Duke que leva a notícia da oposição de Beiras e BNG a honrar a
memória das vítimas do Holocausto. O racista americano tem relação com outras pessoas
que, como víamos atrás, também celebraram a ignomínia dos nossos deputados. Assim, o
jornal vienense "Die Presse", a denunciar a presença de Duke na Áustria, em 2009, entre
outros detalhes da sua biografia, nos ilustra:
"Duke mantém bons contactos com o negacionista espanhol Enrique Ravello e o anti-semita
russo Alexander Dugin. Ambos encontraram-se perto de Moscovo. Ravello e Dugin foram
convidados, no final de Janeiro, no Bruschenschaftenball no Palácio de Hofburg"
(http://oberhaidinger.wordpress.com/2009/05/12/david-duke-in-zell-am-see/)
O "Bruschenschaftenball" é o baile anual de um tipo especial de associações ou "irmandades"
de estudantes ("Bruschenschaften") de carácter patriótico, típicas da Alemanha e a Áustria,
frequentemente infiltradas por elementos de extrema-direita. Nos últimos anos o
Bruschenschaftenball tem sido palco de inúmeras manifestações de anti-semitismo.
Especialmente nesse ano (2009) em que, além da presença de grandes vultos da extrema-
direita internacional (como os acima citados), convidados por Heinze-Christian Strache, líder
do FPO (o denominado Partido Liberal da Áustria, mas na verdade o partido neonazi
austríaco) e a polémica pelo uso de uniformes parecidos aos da época do "Anschluss" (da
anexação alemã durante o III Reich), causou indignação o facto de fazerem questão de que a
celebração do baile coincidisse com o Dia Internacional em Memória das Vítimas do
Holocausto, 17 de Janeiro. Precisamente a mesma data em que o Parlamento Galego devia ter
aprovado, neste ano, a Declaração Institucional que a oposição de Beiras e BNG impediu.
Fecha-se assim um círculo perfeito de afrentas à memória das vítimas do Holocausto. Dentro
desse círculo tece-se a maranha da ultra-direita, o nazismo, o racismo internacional. A seguir
a pista das adesões internacionais à postura anti-anti-Holocausto de Beiras e BNG, acabámos
de fazer, curiosamente, uma radiografia das principais linhas do nazismo e racismo
internacional. Ou antes uma ecografia ou uma tomografia com contraste, porque é o eco dos
aplausos à postura deles que nos devolve a imagem do nazismo internacional, e é o rasto que
vai deixando essa notícia (a valoração positiva dessa notícia) que vai actuando como um
contraste que desenha as linhas que relacionam a teia de aranha dessa maranha de ódio.
Bom, na verdade, temos visto apenas uns poucos fios da maranha. O importante é que temos
descoberto alguns dos nós mais importantes. Temos visto (na verdade sem excessivo
assombro) que um deles se localiza em Teerão. Não só em bailes de opróbio às vitimas do
Holocausto é que se encontram estes indivíduos. Se seguirmos as peripécias vitais de todas as
personagens que têm aparecido ao longo desse artigo, veremos que as linhas de todas as suas
vidas se cruzam na capital dos aiatolás. Já vimos que o autor da primeira notícia que vai
marcando um desses fios, aquele " Mounadil al Djazaïri", colaborava em meios iranianos, e
tínhamos falado das frequentes visitas a Irão de Alexander Dugin. Mas na verdade quase
todas as pessoas e movimentos que se regozijaram com a repugnância de Beiras e BNG a
render tributo à vítimas dos Holocausto, têm passado por aí.
A começar pelo final, o nosso último protagonista, o racista David Duke, que foi convidado
especialmente pelo regime islâmico como estrela do congresso internacional do negacionismo
que organizou em 2006 o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad (quem, como vemos,
estava portanto muito justamente sentado à beira de Jorquera na fotomontagem que abre este
artigo).
http://archive.adl.org/learn/extremism_in_america_updates/individuals/david_duke/duke_Teh
ran.htm
Na sua intervenção Duke lamenta que o povo palestiniano tenho sido imolado "no altar do
Holocausto", num delirante arrazoado irracional também muito frequente nos lábios dos
nossos esquerdistas.
O bom deste percurso pelos infernos, não é tanto localizarmos as pessoas e movimentos de
extrema-direita que aplaudem a decisão de Beiras e BNG, mas identificar nos lábios de uns os
mesmos argumentos que nos dos outros. O realmente importante desta pesquisa tem sido
identificar, nuns e outros, uns mesmos processos mentais. Um deles é este: o da inversão. É
devolver o Holocausto aos judeus, colocar sadicamente as vítimas no lugar dos assassinos.
Nega-se ao mesmo tempo um genocídio do que há constância histórica inegável (e
matemática: havia 6 milhões menos de judeus no mundo no final da II Guerra mundial do que
no início) ao tempo que se dá por demonstrado um genocídio de que não há constância
histórica nenhuma, o do povo palestiniano (e que também não resiste a constatação
matemática de que a população palestiniana é uma das que mais cresceram no planeta e uma
das que apresentam menor taxa de mortalidade). Também depois das reacções ao
Bruschenschaftenball negacionista, o líder do partido neonazi austríaco, Heinze-Christian
Strache, afirmou que eles eram os novos judeus e que a censura das autoridades podia
comparar-se com a "Noite de Cristal", início da perseguição sistemática dos nazis contra os
judeus. Agora atentem às declarações de Beiras sobre o conflito do Oriente Médio e verão
como este processo de inversão, de devolver a "bola" do Holocausto ao campo judeu (ele dirá
"sionista") aparece também por toda a parte.
Neste congresso internacional do negacionismo, que se auto-intitulava "International
Conference to Review the Global Vision of the Holocaust" ("revisionismo" é um eufemismo
por "negacionismo"), havia também judeus convidados (os "Neturei Karta" à cabeça), o que
constitui um outro procedimento do novo anti-semitismo: a coarctada do judeu. "Nós não
somos anti-semitas, convidámos também judeus". Como sempre há judeus o suficientemente
e estupidamente narcisistas (cujo único objectivo na vida é serem considerados heróis da
abertura, a compreensão, a elasticidade, o pacifismo e o progressismo), nunca lhes faltarão
coarctadas. Revejam também os foros, manifestações e "flotilhas" e verão como o "argumento
ad hominen inverso do judeu convidado" aparece também por toda a parte.
Mas não só Duke e os pontos inicial e final daquele fio (Mounadil al Djazaïri e Alexander
Dugin) apresentavam vinculações directas com o Irão. Elas são igualmente claras na etapa
intermédia daquela viagem, a protagonizada por Alain Soral.
Soral, além de criar "Égalité & Réconciliation" fundou também o "Partido Anti-Sionista" com
que se apresentou à últimas eleições europeias. Um partido que utiliza, naturalmente, a
coarctada do judeu convidado, e inclui, como não podia deixar de ser, um judeu ultra-
ortodoxo no seu cartaz:




Pois bem, neste vídeo, Alain Soral reconhece abertamente que a sua lista foi financiada, a
fundo perdido, pelo Irão:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=kzyRB7pHvwQ
Tradução: "Se foi possível fazer a Lista Anti-sionista, que custou 3 milhões de euros, é porque
obtivemos o dinheiro dos iranianos. Pode-se dizer, não há que surpreender-se. Não temos 3
milhões de euros, sobretudo para os perdermos. Para sermos reembolsados precisamos obter
5% dos votos... (Risos. Eles sabiam perfeitamente que não tinham hipótese nenhuma e que a
lista era simples propaganda: obtiveram 1,3% na região da Île de France)... Isto quer dizer o
que? Que eu sou o homem de uma potência estrangeira?"
O logo utilizado na campanha ilustra, aliás, às mil maravilhas um outro mecanismo comum a
todas estas pessoas e ideologias ultra-esquerdistas-direitistas. Repare-se na forma subtil de
fazer, gráfica e ideologicamente, a passagem subliminar do pretenso "anti-sionismo" para o
anti-semitismo não declarado:




À esquerda tal e como aparece na web do partido (www.partiantisioniste.com) e à direita tal e
como aparece reproduzido numa web mais "de casa", neste caso a página "de humor
palestiniano" "La Gueule Enfarinée" (http://la.gueule.enfarinee.over-blog.com/article-jericho-
iii-menace-toutes-les-capitales-europeennes-87955381.html "Avoir la gueule enfarinée", "Ter
o focinho enfarinhado", quer dizer em francês precisamente fingir-se inocente para conseguir
propósitos ocultos, como o gato da fábula de La Fontaine que cobriu de farinha o focinho para
enganar o rato e o atrair assim directamente às suas fauces)
No primeiro, ainda se pode interpretar que o que se está a riscar é a bandeira de Israel, e que
portanto estamos no terreno do "anti-sionismo politicamente correcto". No segundo, porém, já
não estamos a riscar a bandeira, que excede o sinal de proibição (mesmo as bandas azuis não
representam os seus limites, e há ainda uma área branca acima e abaixo delas). Está a riscar-se
a estrela de David, que não representa já apenas Israel, mas a totalidade do povo judeu, em
qualquer lugar do tempo e do espaço em que se encontre. É o símbolo com que eram
marcados os judeus na Alemanha nazi antes da criação do Estado de Israel.
Pode parecer exagerado, e de teoria conspiratória, analisar estes pormenores. Temos de ter em
conta, porém, que estamos a tratar precisamente com ideologias de uma parte
"conspiratórias", cujo procedimento retórico mais frequente é, aliás, o da "inversão", e a que
portanto resulta conveniente aplicar as teorias conspiratórias que eles aplicam aos outros, E
devemos considerar também, de outra parte, que são ideologias que consideram fundamentais
todas as questões "identitárias", pessoas que vivem num mundo habitado de símbolos, e para
as quais um emblema vale mais do que uma vida humana. Quando eles querem queimar, ou
riscar, uma bandeira, queimam-na ou riscam-na inteira. Para eles os símbolos não são
arbitrários nem irrelevantes. Cada centímetro é tão valioso como uma cidade perdida ou
conquistada. Quando renunciam a uma parte do símbolo é que alguma coisa querem dizer.
Quando fazem este género de coisas estão a enviar uma piscadela para os acólitos: "bom, nós
dizemos que somos anti-sionistas, mas vocês já sabem que o que queremos dizer é que é
preciso riscar os judeus da face da Terra".
Interpretação que se revela, aliás, como incontestavelmente certa quando encontramos na
Uncyclopedia (uma Wikipédia "alternativa" sem "censura", onde ao lado de muitas piadas
absurdas podemos encontrar apologia da violência, elogios de Hilter ou conteúdos anti-
semitas como é o caso) este símbolo catalogado como "No Jews" , "Não aos Judeus"
(http://uncyclopedia.wikia.com/wiki/File:No_Jews.gif), ou o vemos em páginas anti-semitas
como Veterans News Now ( cujo nome pretende evocar, ao mesmo tempo, pelas siglas VNN
o da CNN e pela última palavra e o ar bélico do site também o do filme "Apocalypsis Now"
http://www.veteransnewsnow.com/2011/12/05/thought-u-s-military-would-protect-
individual%E2%80%8Bs-from-in-rank-bigotry-and-injustice/no-jews-allowed/), utilizado ao
lado da sua tradução em letra gótica "Não se admitem judeus!":




Bom, na verdade o mero facto de riscar a bandeira de um outro país não deveria ser
admissível na propaganda política de um país civilizado. Imaginam o que aconteceria se um
Partido anti-romeno se apresentasse às eleições europeias com o mapa da França com uma
bandeira romena riscada no centro? Daí que resulte ainda mais surpreendente que isto seja
permitido num país que costuma ter as coisas muito mais claras que Espanha e cujo Supremo
Tribunal declarou ilegal a campanha BDS de boicote a Israel por constituir necessariamente
um acto de xenofobia.
Campanha precisamente em cujo logo parece inspirar-se o do Partido Anti-sionista, e com o
qual também se realiza (de uma maneira se calhar mais clara) a subtil transição gráfica do
anti-sionismo para o anti-semitismo, do "Boicote a Israel" ao "Não aos judeus!". O da
esquerda        é      tirado     da      página     brasileira      Liberdade       Palestina
(http://liberdadepalestina.blogspot.com.es/2010/09/bds-o-boicote-internacional-israel.html), e
o da direita de uma página polaca empenhada também em tão nobre fim
(http://palestyna.wordpress.com/2011/02/08/list-otwarty-do-rzadu-rzeczypospolitej-polskiej/):




E campanha também à que coincide que, nestes dias atrás, acabou de somar-se publicamente
o BNG. É bom sabermos que na França seria considerado um partido ainda mais xenófobo do
que o Partido Anti-sionista.
No cartaz eleitoral acima, além do judeu ortodoxo (cujo nome não se especifica, nem
interessa, porque como sabemos não representa senão o álibi do "judeu convidado")
aparecem, junto com Soral, duas personagens que delineiam outros tantos fios da malha do
racismo, negacionismo, nazismo e anti-semitismo.
No centro Dieudonné Mbala, e ao lado direito dele, Yahia Gouasmi (nos nomes, em baixo, os
lugares aparecem trocados). Yahia Gouasmi é o presidente da Federação dos Xiitas da França
e dirige o centro pró-iraniano Zahra. Num comunicado do próprio Partido Anti-sionista,
reconhece-se que se reuniu com o comandante do grupo terrorista libanês pró-iraninao
Hezbollah, Hassan Nasrallah, patenteando a coincidência de objectivos e estratégias e
proclamando a vontade de colaboração:
http://www.partiantisioniste.com/communications/rencontre-entre-m-gouasmi-parti-anti-
sioniste-et-m-nasrallah-hezbollah-331.html
Os caminhos de Dieudonné e Gouasmi voltam a levar-nos, como cabia esperar, a Teerão:




Neste encontro, celebrado em Novembro de 2009, Dieudonné conseguiu também
financiamento, não já para o partido mas para sua particular "carreira artística", assegurando
que graças à generosidade do regime islamista ia poder fazer filmes à altura dos de
Holliwood, dominado, como todo o anti-semita sabe, pelo lobby judeu. Perdão: ele disse
"sionista".
http://tempsreel.nouvelobs.com/societe/20091128.OBS9083/dieudonne-en-iran-pour-recolter-
des-fonds-et-liberer-reiss.html
Mas a figura de Dieudonné tem outras muitas ramificações. Dieudonné faz parte dessa
tendência ultimamente registada na política pelo freakismo. Como Tiririca no Brasil ou Beppe
Grillo em Itália, Dieudonné começou como cómico antes de se decidir a provar fortuna na
política.
Dieudonnée é originário da República dos Camarões, mas colabora sem pudor com partidos
xenófobos como o Front National. Dieudonné é mulato e colabora sem pudor com
movimentos racistas. Dieudonné é um caso único dentro da cromatismo político. Porque é um
racista mulato. Primeiro, porque é mulato e racista (exactamente igual que há judeus anti-
semitas), mas também porque, dada a sua largueza de espírito, é também capaz de ser racista
das duras cores, um "racista de amplo espectro" podíamos dizer.
Assim, as suas amizades políticas, e pessoais, abrangem um racista branco, Jean Marie Le
Pen, padrinho da sua filha e padrinho também na sua carreira política (mais um convidado, já
agora, no Bruschenschaftenball negacionista. Le Pen é outro nó da malha e portanto também
"muito bem sentado", na fotomontagem inicial, à beira de Beiras), e um racista negro como
Kémi Seba (alcunha que significa "Estrela Negra"), fundador de diversas organizações de
supremacismo negro, condenado por instigação ao ódio racial, etc. Coisa que também não
deve estranhar, pois Le Pen e Kémi Seba concordam numa coisa: brancos e negros devem
viver separados.
Como cómico a especialidade de Dieudonnée são, como se pode imaginar, as piadas anti-
semitas, e foi graças às polémicas que suscitaram que ele se tornou uma vedeta do "show-
bisness". Num dos seus espectáculos fez a "brincadeira" de convidar para sair ao palco, no
final, o ancião, mas nada venerável, historiador Robert Faurisson, considerado o "patriarca do
negacionismo", e pedir ao público (entre o qual se encontravam, como não, Jean Marie Le
Pen e Kémi Seba) uma salva de palmas para ele. A "piada" consistia em que um figurante
vestido com o uniforme às riscas dos internados nos campos de concentração e uma estrela de
David amarela no peito, saísse também à cena e lhe desse como troféu uma menorah com
maçãs espetadas nos braços (escapa-me a simbologia disto, mas alguma ofensiva e delirante
deve ter), entre uivos desenfreados de Dieudonné que não cessava de pedir mais e mais
aplausos para Faurisson ao público (http://www.lemonde.fr/societe/article/2008/12/28/l-
humoriste-dieudonne-derape-une-nouvelle-fois_1135912_3224.html)
Robert Faurisson leva-nos de novo a Teerão, onde foi também convidado estrela no congresso
negacionista de 2006. Ali provavelmente terá encontrado Duke. Mas não terá sido, de certeza,
o seu primeiro encontro com um racista americano. Este historiador, que nega a autenticidade
dos diários de Anne Frank, das câmaras de gás, e só afirma as virtudes da principais figuras
anti-semitas colaboracionistas do governo de Vichy, já se tinha dirigido, em Setembro de
1979        aos       militantes      da       National       Alliance       (http://www.anti-
rev.org/textes/Fresco88a/index.html), o partido neonazi americano que encontrávamos na
primeira das webs analisadas, mesmo num lugar acima da celebração da negativa de Beiras e
BNG a lamentar as vítimas do holocausto. Camaradagem ultra-direita-esquerda que também
não lhe resulta alheia a Faursisson que foi publicamente defendido por um "alternativo" como
Noam Chomsky, que não se importou, aliás, de fazer o papel de "judeu convidado" a prefaciar
um livro deste campeão do negacionismo (http://www.anti-rev.org/textes/VidalNaquet81a/)
Entre todos os nomes de pessoas e de grupos que celebraram o repúdio de Beiras e BNG a
mostrarem solidariedade com as vítimas do Holocausto, entre não importa que dois pontos do
círculo de infâmia que desenha o percurso desse regozijo, podemos estabelecer, como
estamos a ver, ligações múltiplas.
Não resulta estranho encontrar, por exemplo, o ultra-nacionalista francês Alain Soral como
protagonista do site "Open Revolt" (http://openrevolt.info/2012/09/14/alain-soral-political-
incorrectness-ideology-of-resistance/):
Já sei que pode parecer uma página do mais "alternativo". Mas repare-se no logo da estrela
verde. É o mesmo do que aparecia no site "The Green Star", donde tirávamos a foto do ultra-
nacionalista russo Alexander Dugin com o emblema hitleriano do "movimento euro-asiático"
atrás. Essa estrela verde é o símbolo do grupo New Resistence, o seu ramo americano:




Sem dúvida está inspirado (mesmo o pretende patentear) no símbolo das Revolutionäre Zellen
("Celulas Revolucionárias), um grupo terrorista alemão de estrema esquerda colaborador da
Frente Popular para a Libertação da Palestina, com um forte viés anti-semita, que sequestrou
não só israelitas, mas também judeus não israelitas só pelo feito de serem judeus, e, pelo
mesmo "pecado", planeou assassinar o célebre caça-nazis Simon Wiesenthal e o líder da
comunidade judia alemã:
A cor verde, segundo eles mesmo confessam (http://americanfront.info/green-star/) é uma
homenagem a Muammar Gaddafi (venerado no site como mártir e guia da sua causa), que
escolheu para a "revolução" líbia, não o vermelho das ocidentais, mas a cor simbólica do
Islão, a cor do chamado à oração (de facto hoje em dia costumam colocar-se fluorescentes
verdes no alto dos minaretes, e é a cor das fitas com versículos do Alcorão que se usam os
terroristas do Hamas). Porque neste site abundam também as citas de Maomé, ao lado de
panegíricos não só de Muammar Gaddafi, mas também de Hugo Chávez, cujas exéquias
ocupam um enorme espaço.
Então? Cada vez mais progressista, não acham?
New Resistence é um movimento fundado por um líder neonazi americano que responde, a
sério, ao muito ilustrativo nome de James Porrazzo, sobre quem nos ilustra este informe do
Soutthern Poverty Law Center, uma organização americana de luta contra o ódio e a
intolerância:              http://www.splcenter.org/get-informed/intelligence-report/browse-all-
issues/2012/winter/the-fourth-position
Porrazzo provém do American Front, o principal grupo de skinheads racistas americanos.
Declarado admirador de Muammar Gaddafi, foi-se aproximando cada vez mais de grupos
islamistas como Hamas, Hezbollah e Al Qaeda, até que encontrou nas teorias de Dugin a
síntese perfeita de tudo isso.
Pode parecer estranho (se uma nova salada mental pudesse estranha a estas alturas) que um
movimento tão anti-americano como o de Dugin, tenha um ramo americano (um americano
euro-asiático, e ainda em cima contrário à mundialização, deveria ou exilar-se na Antárctida
ou suicidar-se...). E não deve estranhar porque o objecto reconhecido
(http://americanfront.info/new-resistance/) de New Resistence é precisamente destruir os
Estados Unidos e estabelecer, no seu território, uma série de nações determinadas com
critérios étnicos: uma para os brancos, outra para os negros, outra para os índios, etc. Por isso
New Resistence se declara "não racista". E ao que parece está de acordo com outros
movimentos "não racistas" negros (Porrazzo declara-se admirador também de Malcom X),
índios, muçulmanos, chicanos etc. (como New Black Panther Party, Nation of Islam, o grupo
"nacionalista chicano" Aztlán, etc.)
Resulta demolidor comprovar que os dois vínculos que temos encontrado entre Dugin e Soral
sejam por um lado admiração que por eles sentem James Porrazzo e New Resistance, e do
outro a admiração que eles sentem por Beiras e BNG.
Não é, porém, a única ocasião em que podemos encontrar vultos do Partido Anti-sionista em
páginas inspiradas no "pensamento" (por o chamar de alguma forma) de Dugin. Como
"Remetre Les Choses en Place"("Pôr as coisas no seu lugar"), que, com um texto e uma
imagem do profeta da Eurásia, se apresenta como uma página nem de esquerda nem de
direita, cristã e muçulmana, contrária ao capitalismo e à mundialização promovidas pelos
"lobbies ocultos", e contra os quais o melhor antídoto é a restauração do Sacro Império
Romano-Germânico.
Nesta      ocasião    (http://justice.skynetblogs.be/archive/2009/12/30/les-agents-immobiliers-en-israel.html)
insere-se um comunicado do Partido Anti-sionista em que se denuncia a conspiração das
imobiliárias israelitas para comprarem terrenos e casas aos árabes e vendê-los a judeus (no
seguinte post afirmarão que os judeus roubam as suas terras aos palestinianos, mas isso é
normal). Mas o que mais nos interessa é o desenho que o acompanha, porque ele traz à baila
um terceiro convidado, também já conhecido:
Já tínhamos encontrado a bandeira de Israel relacionada com o "libelo de sangue", e agora
encontramo-la relacionada com outro libelo, também exponente máximo do anti-semitismo: o
livro "Os Protocolos dos Sábios de Sião", pretensa "confissão de parte" (como outras muitas
utilizadas hoje em dia, sem ir mais longe nessa mesma informação) falsificada pela polícia
secreta czarista para justificar os progroms de fins do XIX na Rússia. É por isso que vamos
encontrar essa capa reproduzida onde? No site "This is Zionism" em que acabámos por
descobrir as pegadas do Ku Klux Klan:




A serpente com as fauces abertas que "personifica" a conspiração judia para fazer-se com o
domínio do mundo, serve perfeitamente portanto para ilustrar igual a conspiração imobiliária
sionista para adquirir uns quantos metros quadrados a um preço livremente pactuado com um
proprietário árabe.
É só mais um pequeno nó, neste caso, em que se apinham, à volta da causa palestiniana, mais
uma vez Soral, Dugin e Duke, três das grandes mentes (ainda que eu preferiria não tratar estes
de mentes) que aplaudiram a negativa de Beiras e BNG a lamentarem por cinco minutos o
extermínio nazi, não fosse isso favorecer Israel.
Encontro que vem ilustrar, aliás, duas coisas valiosas que temos aprendido neste estudo:
- Como o moderno anti-sionismo bebe nas fontes do mais rançoso anti-semitismo, por meio
de um transvasamento constante de argumentos ideológicos, recursos retóricos e elementos
simbólicos de um para o outro.
- Como existe uma rede internacional de movimentos e pessoas que abrangem um amplo
espectro (negacionistas, neonazis, racistas, supremacistas de todas as latitudes e cores, anti-
sistema, anti-mundialistas, anti-sistema, anti-ocidentais, pró-palestinianos, etc.) através da
qual se realiza esse tráfico.
São movimentos e pessoas com projectos em muitos aspectos antagónicos, alguns mais
"nazis", mais revolucionários, mais centrados na "raça", outros de corte mais "fascista", mais
tradicionalistas, mais centrados no nacionalismo. A maior parte deles são furiosamente anti-
americanos, mas estão também os nacional-socialistas americanos, que por sua vez não
deviam dar-se muito bem com os sulistas do Ku Klux Klan, por não falar do imperialismo
russo à Alexander Dugin, cujo projecto devia chocar, em boa lógica, com todos os outros, se a
expressão "boa lógica" pudesse fazer aqui algum sentido.
Há só duas coisas realmente comuns a todos esses grupos e indivíduos: o anti-semitismo e o
facto de terem celebrado o nojo manifestado por Beiras e BNG de lamentarem a morte cruel
de seis milhões de judeus. Claro que isso também pudera indicar que não se trata afinal de
"duas coisas".
Não esqueçamos que toda a trama dessa rede fomo-la desenhando a seguir o eco do aplauso
ao facto de Beiras e BNG terem rejeitado condenar o Holocausto. Como se fôssemos
morcegos, a reverberação dessa notícia é que nos forneceu o retrato da extrema-direita
internacional. E isso deveria fazer com que Beiras e BNG pedissem perdão publicamente com
a cara vermelha de vergonha.
Também por isso não deve estranhar tanto o facto de termos encontrado, num fio dessa
malha, um conterrâneo. É um fio menor que sai daquela versão "gaddafista" do imperialismo
euro-asiático de Dugin, o site islamo-chavista The Green Star. Porque ele nos oferecia, numa
coluna à direita, ou mesmo à ultra-direita, uma ligação directa, ou mesmo ultra-directa, para
um blog português intitulado Legio Victrix.




A "piscadela" do feixe ("fascio") ao lado da águia imperial, com o álibi do latim (como a fazer
ver que se trata de saudades da Roma Imperial, quando se trata mais de admiração por uma
Roma de há apenas 80 anos), indicam-nos que estamos claramente diante de um blog mais
"neofascista" do que "neonazi". "Piscadela" que os conteúdos confirmam sobejamente.
Entrei nele para ver se havia alguma reacção à ignomínia perpetrada no Parlamento Galego.
Não encontrei. Mas, a pesquisar, topei inesperadamente um texto "made in Galicia":
http://legio-victrix.blogspot.com.es/search/label/Xos%C3%A9%20Curr%C3%A1s
Trata-se de uma defesa acesa de Gaddafi, aquando da guerra civil na Líbia, e contra a
intervenção da OTAN. O texto acaba, nem mais nem menos que a dizer que, face as pressões
internacionais: "o que não tem que fazer Muammar Gaddafi é convocar eleições livres,
permitir a existência de partidos e aplicar as receitas europeias ao seu país."
Assinam o texto Xosé Currás e Rafael Fernandes Veiga, que, a pesquisar um pouco mais,
resultam ser dois empresários galegos com interesses económicos na Líbia de Gadaffi:
http://www.farodevigo.es/portada-o-morrazo/2011/02/27/busca-ne-gocio-libia/522414.html
Que perfeita síntese de anti-liberalismo político e de liberalismo económico!
Depois de tudo o visto, já quase que não provoca muita surpresa, encontrar um texto de um
dos autores (ao que parece o principal e o ideólogo da dupla) Xosé Currás, também num meio
nacionalista galego:
http://praza.com/opinion/461/cara-ao-nacionalismo-disxunto/
É uma espécie de carta aberta escrita na sequência da cisão do BNG de que saiu a nova força
de Beiras. E, curiosamente, nela Xosé Currás manifesta ao mesmo tempo a sua adesão ao
BNG (quer dizer à liderança da UPG do BNG) e a sua admiração por Beiras, a defender
precisamente a linha (a coligação estratégica com Esquerda Unida) que acabaria por dar
origem, meses depois, à AGE.
Deveria causar arrepios constatar que "o autor de um texto publicado num meio neofascista"*
a elogiar Gaddafi e a abjurar da democracia, seja também o autor de um texto publicado num
meio nacionalista galego a elogiar Xosé Manuel Beiras e defender o seu projecto político.
Há estudos que analisam as relações sociais com os conceitos da física de redes. Num cristal
os átomos estão ordenados e quaisquer dois não se relacionam assim tão facilmente mas
através de uma estrutura. Quanto mais facilmente se possam relacionar dois dados átomos,
"menos cristalina" e mais fluida é a estrutura do material estudado. Os átomos relacionam-se
mais livremente, e mais frequentemente, num líquido e logicamente muito mais num gás.
Acabámos de descobrir que, para chegar de Beiras a Dugin através de Xosé Currás, só
precisávamos, até há pouco, dous cliques de rato: um de "Praza Pública" para "Legio Victrix",
e outro de "Legio Victrix" para "The Green Star". Dois graus de separação vêm a equivaler à
densidade de uma geleia, e mesmo uma geleia bastante fluida.
Agora, após ter-se tornado célebre no mundo da ultra-direita pelo seu nojo a render
homenagem às vítimas do Holocausto, a distância informativa e informática entre Beiras e

*
 Utilizo este circunlóquio para não dizer "o colaborador de uma página fascista" ou "um fascista" directamente,
porque, a ser honesto, não posso estar seguro em 100% de que essa participação tenha sido voluntária. Sempre
pudera ter acontecido que o texto tivesse sido copiado de outro lado sem conhecimento nem consentimento do
autor, e que da sua presença aí não caiba deduzir nenhuma adscrição política. Vejo com tudo, bastante
improvável. No final do mesmo cita-se, de facto, uma fonte: http://yrminsul.blogspot.com/2011/10/libia-
contrainformacao-de-combate.html, mas a ligação não funciona, e quando se tenta colocando-a na barra de
direcções do navegador, aparece um aviso a dizer que essa página não existe. De qualquer modo, o nome
do blog, mesmo que fosse na verde aquele onde foi originalmente colocado o texto, não deixa lugar a
dúvidas. O "irminsul" (ou "yrminsul" como se grafa também em línguas germânicas) é um símbolo
pertencente à iconografia mística do esoterismo nazi. Era o símbolo que se colocava nas lápides dos SS
mortos. Então, neonazi ou neofascista, para mim pouca diferença faz. Se fizermos, aliás, uma procura
directa pelo título do artigo e o nome do seu autor ("contrainformação de combate", "Xosé Currás":
https://www.google.pt/search?q=%22contrainforma%C3%A7%C3%A3o+de+combate%22+%22Xos%C3%A9+
Curr%C3%A1s%22&num=100&safe=off&filter=0 ) aparecem apenas 6 ocorrências. As 2 mais antigas são
ligações para a própria Legio Victrix, outras duas para páginas esotéricas bastante dúbias (uma inclusive
que fala dos "illuminati") e as outras duas para um blog que compila teorias conspiratórias. Todas 4 de
datas posteriores à publicação na página fascista, e todas 4 citam Legio Victrix como fonte. Não é possível
portanto que tenha havido "corta e cola", e o texto deveu ter sido enviado directamente para o blog fascista.
A língua utilizada revela, aliás, ter sido escrita por um galego habituado à norma da RAG que tenta
adaptar-se (com desigual sucesso) à norma lusitana, não por um português que "traduz" um texto galego. O
que parece corroborar a impressão de que o texto foi preparado propositadamente pelos autores para a sua
publicação nesta página.
qualquer dos líderes neonazis antes mencionados, é já apenas de um grau (digamos, em
termos computacionais, de um "clique"). Parabéns. A sua relação com eles passou de geleia
para plasma, o estado mais fluido da matéria.
Como pudemos comprovar ao longo deste escrito existe uma "tripla aliança", hoje em dia,
entre uns colectivos aparentemente dispares. De uma parte a confusa amálgama dos
movimentos "alternativos", radicais de esquerda, anti-sistema, entre os quais pretendem
situar-se Beiras e BNG. Da outra, o turvo sistema coloidal que formam um integrismo
islâmico que sempre foi além do religioso, e um pan-arabismo que nunca conseguiu ser
completamente laico. E em terceiro lugar o mundo, não menos viscoso, do neonazismo, do
neofascismo, dos ultra-nacionalismos, supremacismos, e racismos de toda a classe.
Há apenas três bandeiras que unem todas essas forças. Uma a do ódio a Israel. A outra, a que
víamos no final do último testemunho: o ódio à democracia (bom, à democracia que eles
chamam de "liberal", mas não se conhece, nem no espaço nem no tempo, nem no mundo nem
na história, nenhuma outra democracia autêntica que não seja essa). E por último o ódio ao
processo imparável da mundialização. Se na catequese nos ensinavam que os inimigos da
alma eram o demónio, o mundo e a carne, para estes os inimigos (à escolha: da pátria, da raça
ou da fé), também são três. No lugar do demónio deve estar a democracia (que para algo tem
"demo" na raiz). No lugar da carne, só pode estar Israel. Não por nenhuma causa. Só por
exclusão. Porque, curiosamente, o único que não varia é "o mundo". O ódio aos Estados
Unidos podia ser um quarto elemento comum, se não fosse que nesse mercado de ódios
também entram também alguns "patriotas" e racistas americanos (bom, também esse ódio
pode que seja ainda mais acentuado no caso dos sulistas do Ku Klux Klan, mas há também
"nacional-socialistas" yankees).
O próprio Dugin reconhece esta aliança implícita num dos seus textos mais didácticos: "Sobre
Amigos e Inimigos":
"Se és a favor da hegemonia liberal global, és um inimigo. Se és contra, és um amigo. O
primeiro é inclinado a aceitar esta hegemonia: o outro anda na revolta!"
(http://americanfront.info/2012/07/27/alexander-dugin-on-friends-and-enemies/).
Irmandade que podemos ver "em carne e osso", patenteada nesta imagem de uma
manifestação (legal e publicitada pelos meios) realizada no centro de Moscovo em
solidariedade com Bachir El-Assad, em que podemos ver, além das pequenas bandeiras russa
e síria, outras maiores com o já conhecido emblema "euro-asiático" (© Adolf Hitler, lembre-
se) junto a bandeiras do Hezbollah, bandeiras vermelhas e o símbolo da fouce e o martelo:




A coisa então não começa neste ano nem com esta votação. Muito pelo contrário, a atitude
hostil de Beiras e BNG à Declaração Institucional em Memória das Vítimas do Holocausto,
não representa o início de nenhum processo, mas a consequência de um que vem de muito
mais longe.
O nacionalismo galego tem um pecado original. Todos os nacionalismos se reivindicam da
idade de pedra, mas na verdade todos eles nascem no romantismo, como consequência do
conceito de Estado-Nação que cristaliza na Ilustração (em Rousseau e em Montesquieu, que
estes movimentos paradoxalmente tanto odeiam) e que se concretiza pela primeira vez na
revolução francesa. O nacionalismo galego, como o espanhol, como o polaco, como o alemão,
é um produto do romantismo, e como tal tem um elemento de irracionalidade e mito
intrínseco. Goya colocou este lema a um dos seus mais famosos "Caprichos": "Os sonhos da
razão produzem monstros". Ora, a racionalização das fantasias não os produz menores.
Sem ir mais longe, a letra do hino galego, que é cantado de punho erguido pelos nossos
"esquerdistas", foi feita por um proto-nazi, machista, com um característico complexo de
inferioridade/superioridade, um Alain Soral de Ponteceso e do século XIX, chamado Eduardo
Pondal. Um poeta "wagneriano" sempre imerso numa atmosfera delirante de exaltação da
raça, da força, da virilidade agressiva.
Tem-se discutido às vezes acerca do significado da expressão "nação de Breogan" que
aparece no hino galego, que se interpreta no sentido político do nacionalismo actual, mas que
choca com outros versos do próprio poema original de que se toma o hino (mas que não se
cantam nele) onde a Galiza é chamada de "região de Breogan". Mas há uma outra
interpretação concorda muito bem com uma outra passagem do poema original (também não
incluída no hino) em que se invoca a "Grei de Breogan". Breogan, para Pondal, era o mítico
progenitor de todos os galegos, e por isso a interpretação mais cabal da palavra "nação" nesse
contexto seria a etimológica: "conjunto dos nascidos de...". "Nação" é um cognato de
"nascer". A "nação de Breogan" seria o conjunto dos nascidos de Breogan, a sua
descendência.
Embora a palavra "nação" seja latina, o conceito é anterior à fundação mesma de Roma.
Séculos antes de que o latim começasse a ser escrito, já se falava na Bíblia inúmeras vezes da
"nação de Israel" (a primeira em Éxodo 40, 38), o que, como no hino galego, quer dizer "o
conjunto dos nascidos de Jacob". Como se sabe, Israel é a alcunha que ganhou Jacob (o mítico
progenitor dos míticos progenitores das míticas doze tribos) após ter lutado com um anjo que
lhe enviava deus, e quer dizer "aquele que luta contra Deus", o que já adianta o carácter
complexo das futuras relações entre os judeus e a divindade. Daí que essa expressão às vezes
apareça também traduzida como "povo de Israel", "filhos de Israel" ou "os israelitas", ou
como simplesmente "Israel". O nome da "nação" funde-se com o deu seu procriador, e surge
assim o primeiro nome de "nação" (não de "povo", nem de Estado) de que há registo.
O conceito de "nação" aparece pois como o de "conjunto da descendência de alguma
personagem mítica". O nacionalismo de Pondal é nacionalismo sim, mas não no sentido
político actual. É um nacionalismo etimológico, "bíblico", "mítico", "religioso". Na verdade
todo o nacionalismo tem bastantes elementos comuns com a crença religiosa. Para começar, o
carácter axiomático e irracional da sua tese fundamental: a existência "per se" dessa nação ou
desse deus.
É claro que a expressão "nação de Israel" aparece apenas nas versões romances (e cristãs). No
original hebreu a expressão que aparece é "beth Israel", traduzida na maior parte das versões
romances modernas (e em todas as traduções judias, que nunca tiveram como referência a
tradução latina mas a original hebraica) como "casa de Israel". Ora "beth" aqui não significa
"casa" como edifício, mas no mesmo sentido "dinástico" com que se usava até há pouco no
mundo rural galego, onde todo o mundo sabia de que "casa" era, que nada tinha a ver
normalmente com o edifício que habitava. O sistema é idêntico ao bíblico, porque a
denominação da "casa" faz-se, não a partir do nome "legal" de um indivíduo tomado como
"patriarca" (chame-se Jacob ou José Pereira), mas da sua alcunha (seja "Israel" por ter lutado
conta deus, seja "da Raposa" por José Pereira ter passado a ser conhecido como "Pepe da
Raposa" após ter caçado uma). Os teóricos descendentes do primeiro, durante milénios, serão
"da casa de Israel", ou "os de Israel", ou os "israelitas", e os descendentes reais do segundo,
durante várias gerações mas nem tantas, serão "da casa da Raposa", ou "os da Raposa". Não
existe a denominação "os rapositas", mas é só por falta de tempo histórico para ela poder
coalhar.
Este não foi apenas "o nascimento de uma nação". Foi o nascimento do conceito de "nação".
Se os nossos nacionalistas pretendessem aderir com coerência à campanha de boicote aos
produtos de Israel, deveriam deixar de o ser, porque o nacionalismo, como tantas outras
coisas que nos fazem a vida mais fácil, é um invento israelita, ainda que não sei se por este a
humanidade deve estar-lhes realmente muito agradecida. Naturalmente que há outros
nacionalismos menos "românticos", ou menos "essencialistas", como o de muitos países
africanos actuais, que se reconhecem como fruto do acaso histórico de ter sido colonizados
por uma dada potência.
No mundo antigo, por exemplo, ninguém relacionava fronteiras com línguas ou culturas. Era
antes ao contrário: eram os Estados que conformavam os domínios linguísticos e usos
culturais. Os povos invadidos tinham (e não sem razão) o sentimento apenas de terem mudado
de senhor. Pare eles Estados e fronteiras eram mero fruto de interesses pessoais, de acasos
históricos e de conquista. Concepção, já agora, bastante mais lógica, racional e baseada nos
dados históricos objectivos, do que a crença mítica de que um dado território pertence desde a
origem dos tempos a um dado grupo humano que também existiu desde a noite dos tempos
(Spengler, uma das bases teóricas do nazismo, dizia que as nacionalidades e culturas nasciam
dos lugares, como o musgo nasce da rocha. E esta concepção inatista subjaz a todos os
nacionalismos românticos).
Até ao século XIX a única manifestação "nacionalista" na história da humanidade tinha sido a
revolta judia de 66 d.C. Galaicos, Lusitanos, Íberos, Gauleses, Britânicos e Germânicos,
lutaram contra os romanos antes da conquista, fieis aos seus "senhores naturais". Ora, uma
vez que foram conquistados, assumiam com "fair play" que tinham perdido o jogo, mudavam
sem problemas de "camisola" (quer dizer de armadura) e passavam sem mais a "jogar como
romanos", a fazerem parte entusiasta, por exemplo, das legiões que iam alargar o império pelo
oriente. Os judeus não, porque a particularidade (realmente extravagante na altura) do seu
monoteísmo os impedia de aceitarem o culto ao Imperador e admitirem qualquer poder acima
do seu deus único e ciumento.
Os nacionalismos nunca se deram bem com os judeus. Para já porque a sua presença rompe os
esquemas dos nacionalismos modernos, como corpo estranho que desmancha a sua fantasia
de unidade étnica, cultural e linguística, ao longo da história, de um território. Também
porque, já não a sua presença nos territórios que deus, ou a natureza, tinha dado aos eslavos,
aos germanos ou aos celtas, mas a sua mera existência como povo, punha em causa os
princípios mesmos do nacionalismo moderno, que pretende estabelecer una relação biunívoca
entre língua, cultura e território. Diz-se que o judaísmo, a contrário do Cristianismo ou
Islamismo, que santificam uma porção de espaço (uma igreja, uma mesquita, ou um país
inteiro) optou, expatriado pelos romanos, e destruído o seu único templo pelos mesmos, por
santificar uma porção de tempo: o Shabat. Talvez por isso tenham sobrevivido, no tempo, a
todos os seus inimigos. Porque os judeus não precisavam de ter um território, nem uma língua
comum, nem um Estado, nem bandeira, nem exército, nem polícia, para manterem
teimosamente a sua delgada identidade, a atravessarem o espaço e a permanecerem do tempo,
infiltrados por todas as partes do mundo e ao longo de todos os séculos da história.
Podemos concluir que os nacionalismos não se dão bem com o judaísmo por "pura inveja".
Todos os movimentos (neonazis, racistas, islamistas, etc.) que temos visto ao longo deste
estudo, referem-se a si próprios com o eufemismo de "movimentos identitários". Mais um
traço comum com os movimentos "progressistas", que também consideram fulcral a questão
"identitária". Quando vejo criticar a proibição do véu islâmico como um ataque à identidade
das mulheres islâmicas que querem manifestar publicamente que são seres de segunda
categoria, a deverem sempre submissão a um homem (pai ou marido), penso: "Que classe de
identidade é essa que pode levar o vento?". A identidade dos judeus pode parecer ainda muito
mais frágil do que um véu, mas uma racha de ar não a consegue levar. Os judeus nunca
basearam a sua identidade nem numa peça de roupa (só os ultra-ortodoxos, mas esses são uma
questão à parte), nem num território, nem numa língua. Baseiam-na apenas nunca coisa quase
que intangível: a memória. A simples memória de serem "judeus", a consciência de não
pertencerem a nenhuma língua, a nenhuma terra (na sequência da II Guerra Mundial, muitos
países, entre eles Espanha, qualificavam os refugiados judeus que lhes chegavam, como
"apátridas").
Com tão pouca coisa os judeus conseguiram, porém, sobreviver como povo ao longo de
milénios. São o único povo do mundo antigo (Junto com os chineses! Compare-se!) que se
mantém como tal até aos nossos dias. Os gregos modernos ou os egípcios actuais não podem
considerar-se realmente como uma continuação dos antigos. Outros povos, como os
aborígenes australianos, por exemplo, mantiveram-se, pelo contrário, excessivamente iguais,
quer dizer: não "através da historia", mas a custo de viverem isolados do mundo e alheios a
ela. Só os judeus conseguiram manter-se como tais sem viverem isolados, mas participando
activamente em todas as mudanças que o mundo experimentou nestes últimos 2.000 anos. Os
judeus foram os únicos que encontraram (provavelmente com a ajuda dos seus múltiplos e
sucessivos perseguidores) a arte de se manterem como tais "através da história" E isto é uma
outra coisa que nenhum nacionalismo lhes podia perdoar!
Há curiosamente uma traço que o judeus ultra-ortodoxos compartilham com os anti-semitas (e
daí que muitas vezes apareçam como os seus aliados): o seu ódio contra o judeu apátrida,
contra o "judeu internacional". Os primeiros não lhes perdoam a ruptura entre a identidade
judia e a religião judia. E os segundos não lhes perdoam que a sua só existência ponha em
causa a ideia mesmo do "nacionalismo". Não lhes perdoam que eles tenham encontrado a
maneira de ser eles próprios e estar no mundo. Do que mais gosto do "estilo de pensamento
judeu" é que é sempre contraditório (e a este traço alguma coisa deve dever-lhe a dialéctica
marxista, tão esquecida pela nossa esquerda monofásica). Assim, os judeus, apesar de terem
inventado o nacionalismo, foram também sem dúvida os primeiros "cidadãos do mundo" do
mundo.
Se dizíamos que duas das bandeiras que uniam aquela "tripla aliança" de ultra-esquerdistas,
islamistas e ultra-direitistas, eram o ódio a Israel (eufemismo do ódio aos judeus, à "casa de
Israel") e o ódio à mundialização, no ódio ao "judeu internacional" sintetizam-se ambas.
Há muitas coisas que os nacionalismos não podem perdoar-lhes aos judeus. E o galego não
podia ser, nisso, uma excepção. É curioso que apresente esta vertente anti-semita tão acusada,
tomando em consideração de que se trata de um "anti-semitismo sem judeus", dado que,
quando o nacionalismo galego começa, havia cinco séculos que a península ficara (graças a
uns curiosos aliados: os Reis Católicos. O ódio comum cria estas amizades imprevistas)
"limpa" de judeus. Eu penso que a apresenta porque se trata de um "nacionalismo mimético"
(que é o pior que se pode dizer de um nacionalismo). No nacionalismo alemão os judeus
incomodam para eles se poderem sentir "mais alemães". O nacionalismo galego não é anti-
semita para ser "mais galego" mas para ser "mais nacionalista". Para se sentir mais integrado
nos movimentos "identitários" mundiais, que também o são. Nos anos trinta o modelo era o
nazismo. Na actualidade os movimentos "alternativos", mas afinal pouco importa. Como
vimos ambos compartilham esta fobia, chamem-lhe uns anti-semita, chamem-lhe outros anti-
israelita.
Essa corrente racista, celtista, ou mesmo "barbarista" (face a efeminação da romanização, a
primeira "mundialização") do nacionalismo galego, que já vem de Pondal, e chega até aos
nossos dias, tem um dos seus máximos exponentes na figura de Vicente Risco, que em 1944
publicaria uma documentada antologia do anti-semitismo intitulada "Historia de los Judíos
desde la Destrucción del Templo", em que precisamente hostilizava a figura do "judeu
internacional", embora fosse "tolerante" com a do "judeu nacional" (o do gueto voluntário, o
ultra-ortodoxo).
Na altura Beiras teria os seus sete ou oito anos. Dada a grossura do volume, não é difícil
conjecturar que, em grande parte, deveram crescer juntos. Mesmo pode ter acontecido que
Vicente Risco tivesse feito "festas" ao menino Beiras com as mãos sujas da tinta do libelo
anti-semita. O caso de Beiras é precisamente paradigmático, por isso, em relação a todo este
assunto.
As gerações posteriores, aquelas que nos setentas ou oitentas nos podíamos identificar como
"nacionalistas galegos de esquerdas", fazíamo-lo numa espécie de revolta edípica contra a
geração dos nossos país, que tinha suportado, ou pelo menos consentido, o franquismo. Havia
um doloroso processo de ruptura ideológica contra a educação no nacional-catolicismo
espanhol que tínhamos recebido.
No caso de Xosé Manuel Beiras, não. Ele nasceu no mesmo ano da guerra civil (1936), no
seio da família de um dos vultos do nacionalismo galego da pré e da pós-guerra, Manuel
Beiras. Montaigne foi um caso inaudito de uma criança educada pelo pai, em pleno século
XVI, com o latim como língua materna, como se fosse um cidadão do antigo Império
Romano numa ilha linguística, rodeada de francês, no meio da França. Xosé Manuel Beiras
foi também um caso de rapaz criado numa bolha de plástico, educado com o nacionalismo
galego como língua materna, como se fosse cidadão da República Independente da Galiza (ou
quem sabe se do Antigo Reino da Galiza, ou mesmo da mesmíssima tribo de Breogan, de
Breogan...) numa ilha ideológica, rodeada de nacionalismo espanhol, no meio da Espanha
franquista.
Ele é o verdadeiro "filho de proveta" do nacionalismo galego. Não teve de fazer revolução
edípica alguma para ser nacionalista galego. Ele começou a ver o mundo com esses anteolhos
desde que abriu os olhos. O nacionalismo dele é continuidade, e não ruptura. E daí que seja
um raro exemplo para podermos ver a continuidade das linhas de pensamento nacionalista.
Bom, sejamos honestos, ainda que seja a custo de sermos complexos: nalguns aspectos ele
fez, sim a sua revolução edípica (sem ir mais longe, ao criar a AGE, acabou por fazer
precisamente aquilo que repudiava o pai e que o levara a separar-se do Partido Galeguista:
coligar-se com a esquerda "espanholista") mas noutros muitos (provavelmente naqueles
absorvidos de uma forma mais inconsciente por terem a ver com preconceitos muito mais
ancestrais) não, e mesmo fez questão de inserir, já nos últimos anos de vida do pai, o Partido
Galeguista de direitas que ele "ressuscitara" na Transição, dentro de um BNG que se pretendia
"muito de esquerda", como a marcar simbolicamente esta continuidade com o galeguismo
mais tradicional, e mais tradicionalista.
Um ano antes de ele nascer (1935) o pai tinha fundado "Dereita Galeguista", uma cisão da ala
direita do Partido Galeguista, desconforme com a coligação deste com partidos da esquerda
espanhola na Frente Popular. E fundou-a junto com Risco e Filgueira Valverde. Com os
mesmos Risco e Filgueira Valverde que naqueles anos se dedicavam a percorrer as montanhas
de Ourense a medirem os crânios dos paisanos (no que eles denominavam de "estudos de
etnografia antropométrica") para chegarem à conclusão da pureza indo-europeia da raça
galega, muito mais limpa do que o resto dos peninsulares do elemento "semítico", o que
constituía um dos nossos elementos "identitários". Os mesmos Risco e Filgueira Valverde
cujos estudos de etnografia nas páginas da revista Nós reflectiam as ideias racistas de Frazer,
etnólogo britânico que foi outro dos precursores do nazismo e do conceito de "raça ariana". O
mesmo Filgueira Valeverde autor de um hino das "Mocidades Galeguistas" que parecia das
"Juventudes Hitlerianas". O mesmo Risco que só um ano antes (1934) publicava o livro de
memórias "Mitteleuropa" em que fazia um elogio explícito e entusiasta de Hitler e da
Alemanha nazi.
Foi neste ambiente ideológico e cultural que Xosé Manuel Beiras se criou. Eu tenho ouvido
Isaac Díaz Pardo (outro "filho" do galeguismo da época, mas, nos seus últimos anos, uma das
mentes mais livres deste país) comentar, divertido, que quando via os trisqueles e ouvia os
cânticos e as ideias que pululavam nos meios nacionalistas em que o pai tentava inseri-lo,
com bom olfacto político abjurava de toda aquela "fascistada". Eu nunca tenho ouvido Xosé
Manuel Beiras fazer este "exame de consciência".
Não sei se Risco teve alguma vez o bebé Beiras no colo. Não sei nem se Risco teve alguma
vez algum bebé no colo. Talvez o pai dele, a partir do início da guerra, já não lhe falava.
Curiosamente, o nacionalismo galego nunca lhe perdoou a Risco a sua adesão ao franquismo,
mas nunca lhe censurou a sua anterior adesão ao nazismo. Esse simples dado é suficiente para
esclarecer alguma das linhas mais escuras do "pensamento galeguista". Na verdade a ilha
nacionalista galega em que se educou o menino Beiras era tão anti-semita como o mar de
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DOSSIER: nazis Beiras e BNG

  • 1. Dossier sobre as simpatias do nazismo internacional com Beiras e BNG por terem-se negado a condenar o Holocausto O ÓDIO É UM ESPELHO João Guisan Seixas, escritor Se o mundo hoje é como é, e não um lugar muito pior, não é graças a nenhum revolucionário iluminado, mas ao empenho pessoal e à lucidez mental de um político conservador chamado Wiston Churchill. Foi o mesmo que, derrotado nas primeiras eleições logo após ter ganho a guerra, em vez de dizer "que ingratos!", disse que tinha lutado todos aqueles anos precisamente para que uma coisa assim pudesse acontecer. Churchill disse muitas frases na sua vida. Bom, nisso não foi muito original. As frases é que o eram. Há de facto uma frase de Churchill para cada ocasião, mesmo para as mais triviais. Também para esta, que o não é. A que melhor a ilustra não é, porém, das mais brilhantes, mas, mesmo assim, arroja muita luz sobre este assunto. Quando Hitler atacou a URSS, Churchill não duvidou em apoiar Estaline, mesmo apesar de este ter pactuado anos atrás com Hitler para que ele pudesse atacar comodamente a Grã- Bretanha. Sendo um político conservador, muitos correligionários lhe censuraram uma actuação que ajudava a consolidar o poder comunista, mas Churchill respondeu-lhes: "Se Hitler tivesse decidido invadir o inferno, eu aliava-me com o diabo". Foi graças a essa lucidez que o mundo ocidental tem gozado, de 1945 até hoje, do maior regime de liberdades, de bem-estar económico e do mais longo período de paz que nenhuma sociedade humana nunca gozou, pelo menos de que haja registo histórico. A vida não é um jogo de bons e maus, como muitas das últimas tendências de infantilização política nos querem fazer ver. Eu penso que podemos dizer que somos maduros quando entendemos que o dilema é quase sempre entre aceitáveis e péssimos, e mesmo muitas vezes entre maus e piores. Todos temos que escolher alguma vez entre o diabo e alguém que é pior do que o diabo. A prova máxima de lucidez é saber fazer essa escolha. Saber quem é o diabo com que a gente se pode chagar a aliar, e quem aquele pior do que o diabo, com que nunca se pode pactuar. Xosé Manuel Beiras, pela sua actuação, parece que já fez a sua escolha. Parafraseando Churchill: se Israel inventasse uma máquina do tempo e resolvesse atacar a Alemanha nazi, ele aliava-se com Hitler. No dia 14 de Março começou a circular na Internet uma fotomontagem em que dois vultos do negacionismo (= conjunto daqueles que negam a existência, ou importância, do Holocausto) actual, o islamista Ahmadinejad e o neofascista Jean Marie Le Pen, sentam ao lado de Beiras e Jorquera, na mesma bancada da câmara autonómica. Dias atrás estes últimos tinham impedido finalmente que o Parlamento Galego aprovasse nesta ocasião a Declaração Institucional em memória das vítimas do Holocausto que vinha sendo aprovada de forma unânime nestes últimos anos no Dia Internacional instituído pela ONU a este fim. Na imagem, Ahmadinejad parece celebrar como uma vitória do seu anti-semitismo esta actuação, enquanto Le Pen mais bem compartilha, braço contra braço, esse certo "ar ausente" do Beiras:
  • 2. Alguém poderá achar exagerada, e mesmo injusta, esta imagem, mas é realmente uma forma de pôr as coisas, e as pessoas, no lugar em que merecem. Se Ahmadinejad e Le Pen fizessem parte do Parlamento Galego, teriam votado exactamente como eles, teriam pronunciado as mesmas palavras e teriam buscado a mesma justificação: a memória das vítimas do Holocausto nazi é "propaganda israelita". Se, neste assunto, no mundo das ideias se encontram ao lado uns de outros, a montagem o único que propõe é fazer o mesmo no mundo físico, e visualizar esse encontro. Não sei se será preciso esclarecer que na proposta de Declaração (redigida por um sobrevivente do Holocausto, Jaime Vandor) não se fazia referência nenhuma a Israel, mas fazia-se, sim, uma referência aos cerca de 4.000 galegos que também morreram nos campos de extermínio. Mas, mesmo que se tivesse feito a primeira e não se tivesse feito a segunda, quem (e sobretudo, por quê) pode negar-se a assinar uma declaração de condena ao assassínio de seis milhões de pessoas exterminadas só pelo delito de serem filhos dos seus pais ou mesmo (segundo as leis racistas de Nuremberga) netos dos seus avós? Por muito que já se tivessem feito declarações parecidas nos anos anteriores, era pôr apenas uma assinatura, pulsar num botão ou dizer "sim". Não era preciso carregar um saco de cimento nem levantar uma pedra, nem sequer mover-se do assento. Ainda que isso pudesse ser utilizado para a propaganda política do Estado de Israel (estou a ver Netanyahu diante da assembleia geral das Nações Unidas a inchar o peito: "Eh, que no Parlamento Galego aprovaram uma Declaração a dizer que não é legítimo exterminar judeus!"), e ainda que o Estado de Israel fosse o diabo, não deveria ser, para todo o democrata, o nazismo uma coisa bastante pior do que esse diabo? Parece claro que, para Beiras e o BNG, não. Pode que para eles o nazismo seja o diabo, mas o que para eles de certeza ocupa o lugar de aquilo pior do que o próprio diabo é Israel, e antes de servir para a sua "mais-que-infernal" propaganda, acham melhor servir para a "apenas- infernal" propaganda nazi. Parece que o líder de AGE (ou talvez apenas de si próprio) prefere que o seu cotovelo se roce amigavelmente com o de Le Pen, antes que o seu dedo se mova uns centímetros para votar afirmativamente a condena do genocídio do povo judeu.
  • 3. Insisto no papel de Beiras, porque nos anos anteriores o BNG tinha apoiado declarações similares, e se neste ano não apoiou penso que a única variável que coincide com esta mudança, e a explica, é a irrupção de AGE "no mercado eleitoral". Se neste ano o BNG não apoiou o que tinha apoiado nos anos anteriores não foi senão para não ficar diminuído, na sua "cota eleitoral de radicalismo", a respeito desta nova concorrência. E insisto, aliás, em colocar Beiras à frente da iniciativa, porque o ódio a Israel tem sido uma das teimas pessoais dele, e mesmo aquele que exibe o BNG não deixa de ser, em boa medida, uma consequência da passagem de Beiras pelas suas estruturas, pois me consta que, embora não ousem reconhecê- lo publicamente, há vozes discordantes dentro dessa formação a respeito da linha seguida neste assunto. Também na AGE, mas duvido que a AGE seja politicamente outra coisa que uma marca comercial de Beiras, e não se pode falar apropriadamente de militantes, mas de acompanhantes. Que aquela fotomontagem não era nem exagerada nem injusta, e que mesmo tinha ficado curta (pois podiam ter-se sentado nesses lugares pessoas ainda menos recomendáveis, como vamos ver) o tempo encarregou-se de o demonstrar e de pôr as coisas no seu lugar. No caso de Beiras e Jorquera, ao lado de Le Pen e Ahmadinejad (pelo menos). Aos poucos dias recebi na minha conta um mail em que se informava do escândalo que a atitude de Beiras e BNG tinha provocado em meios de diferentes comunidades judias do mundo. Como as ligações das páginas que me mandavam, não sei por quê, não funcionavam, resolvi procurá-las a colocar aquelas referências na barra de procura do Google e dar-lhe a "enter". Ao abrir-se a página dos resultados apareciam, com efeito, aquelas webs de comunidades judias, e também algumas de "informação neutra" que se faziam eco das suas reacções, mas entremeadas, apareciam outras páginas que não eram nem judias nem neutras, mas todo o contrário, e que também se faziam eco (um eco agressivamente zombeteiro) das outras. Paginas que celebravam o que as outras lamentavam. Surpreendeu-me vislumbrar pelo rabo do olhos, enquanto ia varrendo as diferentes ocorrências, palavras como "White Pride" ("Orgulho Branco") ou "News for white europeans" e símbolos reconhecíveis do racismo, do ódio, do nazismo. Aprimorei então a minha busca com os termos que apareciam mais frequentemente nelas "Galicia party dismisses Holocaust remembrance" ("partido da Galiza repudia recordação do Holocausto") e aí é que então começaram a aparecer elas! Páginas fascistas, neonazis, nazis clássicas, racistas. Coisas que eu pensei que não poderiam, que não deveriam, existir na Internet, e que alguma autoridade responsável deveria banir para sempre. Se essa autoridade existisse, curiosamente essas cinco palavras seriam, no dia de hoje, o melhor recurso para localizar esse género de páginas. E resulta uma vergonha pública para os partidos a que se referem essas cinco palavras, que a expressão que os denomina, "Galicia Party dismisses Holocaust remembrance", possa ser o melhor instrumento para localizar páginas neonazis e racistas em dia nenhum. A primeira que me tinha chamado à atenção, já na busca inicial, intitulava-se "Unity of Nobility", e é um site de informação "alternativa" "deskosherizada" (="desjudeizada") para "europeus brancos", subtitulada "Unidos pelo sangue", com uma foto de dois soldados nazis a susterem gatinhos no colo e uma outra, ao lado, de duas crianças loiras vestidas de anjos com a legenda: "Diz não ao genocídio branco". É um grupo supremacista branco baseado, ao que parece, no Reino Unido, mas de vocação "europeia". O mais triste da presença de Beiras e BNG nesta página é que sei que o único que os vai desgostar é uma parte do título que abre a notícia: "Partido espanhol, diante da Comemoração do Holohoax: Fora com a propaganda israelita!"
  • 4. http://unityofnobility.com/2013/03/23/spanish-party-on-holohoax-rememberance-no-way-israeli- propaganda/ ("Holohoax" é um ridículo jogo de palavras, muito estendido em meios negacionistas de língua inglesa, entre "Holocaust" e "hoax" = boato, mentira, invenção) Abre assim a sua resenha da façanha de Beiras e BNG: "Os judeus espanhóis acusam os políticos da Galiza por terem impedido uma resolução de comemoração do Holohoax como tantas que fazem todos os idiotas do mundo", e a seguir reproduz, com desqualificações para a AGAI (Associação Galega de Amizade com Israel) e FCJE (Federação de Comunidade Judias de Espanha) basicamente as informações tiradas das fontes judias antes aludidas. O que mais nos interessa são os comentários. "Silvia" confirma em espanhol: "La actual izquierda es en verdad fascista". O que, no contexto dessa página, só pode interpretar-se como elogio. Ainda que "Tyr" (administrador do site, que escreve o nome no avatar com caracteres rúnicos) retorque, em inglês: "O fascismo não é um movimento de esquerdas, é um movimento do povo. Nunca quem está ao lado dele a combater a propaganda do Holocausto pode ser considerado um movimento de esquerdas, igual que não pode ser um movimento judeu". Então já ficamos esclarecidos: BNG e AGE são tão de esquerdas como judeus. Porque eu tive, contudo, uma curiosidade malsã e fui em seguida à página de início para ver o lugar que ocupava a informação, e, com efeito, estava no "quadro de honra", dois lugares abaixo das declarações de um representante municipal de um partido neonazi sueco, que afirmava que os judeus controlam a Casa Branca e um lugar abaixo de um sisudo artigo de William Pierce fundador do partido racista e neonazi americano "National Alliance" que, numa "lógica esquizofrénica" muito frequente também na "esquerda anti-semita", acusava os judeus de serem os culpáveis inclusive do ódio aos judeus:
  • 5. Abaixo de um neonazi sueco e abaixo de um racista americano. Ah, se Dante tivesse querido inventar um inferno para a nossa esquerda anti-semita, não podia ter imaginado um mais apropriado! Porque, com efeito, não podiam ter caído mais baixo. Eles dirão e repetirão que são anti-sionistas, não anti-semitas, mas a realidade teimosa vai responder-lhes que, de facto, os anti-semitas, além de lhes dar os parabéns, tratam, informativamente essa notícia como mais uma expressão de anti-semitismo. A notícia da negativa de Beiras e BNG a expressarem o seu apoio às vítimas do Holocausto situa-se ao lado de notícias que falam de judeus (ou antes "contra judeus"), de manifestações anti- semitas, não de nada que tenha a ver com Israel. Outra página, bastante relacionada com a anterior, que não podia deixar de congratular-se portanto com a atitude de Beiras e o BNG é Storm Front ("Frente de Tormenta"), um forum racista criado por um conhecido dirigente do Ku Klux Klan, justamente castigado pela vida a ter que levar o nome de Don Black. Tem vários thread abertos com o tema. No banner da ligação de um deles não se oculta o entusiasmo que desperta a actuação dos nossos curiosos "progressistas": "Partido espanhol repudia recordação do Holocausto como Propaganda Israelita. Cada pequeno golpe aos 'Chosenites' é um raio de luz no horizonte" ("Chosenite" é um termo insultante utilizado nos meios anti-semitas para se referirem aos judeus, tirado de "Chosen"= escolhido. É como dizer: "esse lixo que se considera o povo escolhido". O de "povo escolhido", como qualquer pessoa com um mínimo de informação deveria saber, tem um sentido religioso e não de nenhuma classe de supremacia racial: eles consideram-se o povo escolhido por deus para lhe revelar a doutrina do monoteísmo)
  • 6. No logo aparece, à volta de um conhecido símbolo do fascismo internacional, um slogan comum a muitos movimentos racistas: "White Pride World Wide", "Orgulho Branco em Todo o Mundo". Não sei se isto encherá de orgulho (branco) os nossos cruzados anti-israelitas, mas de certeza tornaram-se já célebres em todo o mundo... racista Já no seu interior (http://www.stormfront.org/forum/t956094/) deparamo-nos com uma surpresa: um "branco da casa", um "sudista do noroeste". Um racista galego diz em inglês, provavelmente com sotaque do Alabama: "Eu sou desta região autónoma de Espanha, a Galiza. O partido mencionado neste thread é um partido de extrema-esquerda que quer para esta região a independência de Espanha. Nós temos, com efeito, algumas coisas em comum com eles". Noutro dos thread abertos (http://www.stormfront.org/forum/t956106-2/) "Geboren Weiss" ("Nascido Branco" em alemão), diante da notícia, grita tipograficamente: "Guau, que grande é isto!". Mas o mais curioso são as imagens postadas para ilustrarem as reacções destes internautas orgulhosamente pálidos. Há muitas do famoso encontro de Franco com Hitler em Hendaye, que devem querer significar que a notícia demonstra uma relação igual de estreita entre os espanhóis e os ideais da Alemanha nazi. Eu acho, porém, mais reveladora esta:
  • 7. O "nick" escolhido pelo autor do post baseia-se no nome de Revilo Pendleton Oliver, um outro supremacista branco americano colaborador do antes mencionado Willian Pierce na fundação de "National Alliance". O documento que aparece reproduzido no ângulo inferior esquerdo é o tão conhecido "parte da vitória": "Cautivo y desarmado el ejército rojo...". O quadro representa Franco vitorioso, e a mensagem é clara: o facto de estes grupos terem impedido lembrar as vítimas do Holocausto é mais uma vitória (uma vitória póstuma, como as do Cid) de Franco. Noutras páginas do mesmo foro (http://www.stormfront.org/forum/t956106/ e http://www.stormfront.org/forum/t956106-3/) fica ainda mais clara esta relação: "Gladiatrix" celebra a notícia: "Os espanhóis estão a acordar do 'hollow hoax' (variação de "holohoax" que acrescenta "hollow"= "oco") Ao que "American NS" (= "National Socialist", supõe-se) acrescenta: "Certamente não é só que Franco tivesse deixado um valioso ponto de referência, parece também que os espanhóis continuam conscientes dos seus direitos diante das mentiras e honram o legado dele" "Ukaway" ("Fora o Reino unido"), então, emociona-se: "Está a crescer uma enorme vaga que vai limpar da peste judia os nossos países" "Deathknight303" ("Cavaleiro da Morte"303) soma-se ao entusiasmo: "Isso! E quando os tempos forem chegados, vai correr pelas ruas o sangue dos porcos judeus, como deve ser" E realmente, na sua burrice, estes racistas estão a fazer, sem o saberem, uma análise certíssima. Estão a estabelecer uma linha de continuidade (mais que ideológica cultural ou quase étnica) entre o anti-semitismo orgulhoso do nacional-catolicismo espanhol e o anti- semitismo vergonhoso da nossa esquerda esquizofrénica, que demonstra arrastar, no seu radicalismo infantil, os mesmos preconceitos rançosos dos avós e da mais escura tradição
  • 8. "espanhola". Uma esquerda nacionalista galega sumamente "cañí"(quer dizer "racialmente espanhola") A adesão ao veto de Beiras e o BNG à memória do Holocausto chega também, sem ir mais longe (e já é bastante) até à Grécia. Na página Paspartou (http://paspartoy.blogspot.com.es/2013/03/blog-post_5632.html), abaixo do seguinte logo: ... e antes do post intitulado: "Partido espanhol impede a comemoração do Holocausto", aparece o seguinte epígrafe: "Uma coisa que nos anima. Espanha mostra-nos o caminho certo. Basta das mentiras deles" (dos judeus, entende-se) Claro que só com estes dados, e com os meus conhecimentos de grego clássico e moderno (a tradução acima foi feita com a ajuda de um tradutor automático, incapaz de traduzir a imagem do logo), dificilmente nos podemos aventurar a dizer se se trata de uma página de ultra- esquerda ou de ultra-direita. Isto já é sintomático, e deveria mover à reflexão. Sobretudo quando, depois de uma pequena pesquisa, acabamos por descobrir que quem se sente animado e estimulado pelo exemplo de Beiras e BNG é nem mais nem menos que o partido Aurora Dourada (ΧΡΥΣΗ ΑΥΓΗ, pronunciado Chryssí Avguí), o partido neonazi grego, infelizmente muito popular nos últimos tempos a raiz da sua preocupante ascensão nas últimas eleições do páis heleno (e por falar em "heleno", não faz falta saber grego, só conseguir ler o alfabeto, para deduzir do logótipo que o lema deles é "A Grécia para os gregos") A ideologia de Aurora Doura talvez acaba por ficar completamente clara quando voltamos a encontrar o mesmo nome associado, não à bandeira grega, mas ao emblema do próprio partido, baseado, como se pode comprovar, num motivo decorativo tipicamente heleno, utilizado aqui pelas evocações com um outro símbolo, infelizmente muito conhecido, que desperta:
  • 9. Mas o aplauso da ultra-direita internacional à negativa de Beiras e BNG a condenar o Holocausto, viaja ainda mais longe. Tão longe que vamos ter que fazer a viagem em três etapas. Às vezes o dado mais importante de uma informação reside antes no caminho que segue do que no próprio conteúdo. O ponto de partida da primeira etapa não sabemos muito bem se colocá-lo no Irão, na Palestina, na Argélia e na França. Na sua página pessoal, alguém que assina "Mounadil al Djazaïri" ("O Combatente Argelino"), que aparece também como colaborador da rádio iraniana em francês ("Iran French Radio", onde o responsável da seguinte etapa, Alain Soral, aparece também frequentemente entrevistado e citado) e que podemos colocar, com uma simples pesquisa na net, em relação com diferentes grupos de apoio a Gaza e aos prisioneiros de Guantánamo, publica uma nota intitulada "A Comunidade autónoma da Galiza (Espanha) diz não ao lobby sionista!" http://mounadil.wordpress.com/2013/03/07/la-communaute-autonome-de-galice-espagne-dit- non-au-lobby-sioniste/ O título só é já todo um exemplo de "objectividade informativa", pois iguala 15% do eleitorado (percentagem de votantes de Beiras e BNG) com 100% dos cidadãos. É um exemplo óptimo para que possamos comprovar, em primeira mão, diante de uma situação objectiva que conhecemos, qual a fiabilidade das fontes pró-palestinianas. Como se vê, é sempre necessário dividir por 10, no mínimo, a informação recebida para obtermos alguma aproximação da realidade. A nota em si limita-se a traduzir para francês uma informação de El Mundo dando conta do bloqueio de Beiras e BNG à declaração contra o Holocausto judeu, precedido de alguns esclarecimentos acerca do que é a Galiza (que, num estudo "em profundidade", se identifica como a terra de origem de Julio Iglesias, Raul Alfonsín, Franco "le caudillo" e Fidel Castro) e de quem são AGE e BNG (que são definidos como partidos "da esquerda terceiro-mundista e pró-palestiniana, da esquerda à Hugo Chávez, vamos!") Já sei que o assunto deste dossier são as páginas de ultra-direita, e que alguém julgará que, por ser árabe, esta aqui vai estar livre automaticamente dessa suspeita. Talvez não baste dizer que nela se reciclam todos os tópicos nazis sobre os judeus (embora aplicados aos "sionistas), que se dão sistematicamente informações de actos de agressão anti-semita tentando relativizá- los ou desacreditar as vítimas, que se propalam impunemente todos os boatos anti-semitas, que se chega a dizer que Eichmann era muito amigo dos judeus e que o próprio Hitler era judeu. Talvez não chegue dizer que todos os recursos que ele utiliza vão aparecer repetidos mais para a frente em páginas que vamos descobrir que pertencem, em última instância, ao Ku Klux Klan. Sendo uma página árabe e pró-palestiniana, para muitos tem vénia para o fazer. A prova definitiva se calhar terá de ser como assumem literalmente as suas palavras e o seu ponto de vista algumas outras publicações de carácter inequivocamente fascista. O texto, por exemplo, é reproduzido literalmente (segunda etapa da viagem) no site "Égalité & Réconciliation" ("Igualdade e Reconciliação") http://www.egaliteetreconciliation.fr/Une-note-d-espoir-17202.html Com esse nome pode parecer uma associação benéfica quase. Trata-se, porém, da denominação de um movimento que pretende reunir o melhor da esquerda e da direita ("A esquerda do trabalho e a Direita dos valores", segundo reza o seu slogan). Bom, na verdade o site é mais a página pessoal do seu fundador, Alain Soral, uma personagem "singular" da política francesa que já militou no Partido Comunista Francês e no Front National de Le Pen (onde chegaria a ser cabeça de lista nas eleições europeias) antes de tentar esta síntese, e que se apresenta assim aos seus seguidores na própria web:
  • 10. Coisa que não deve estranhar, porque a profunda "filosofia política" de Soral parte da convicção de que há uma conspiração capitalista-maçónico-buguesa-protestante-sionista- americana para feminizar a sociedade, e ela precisa de ser masculinizada. Precisa de uma direita e uma esquerda viris e bem musculadas. Na faixa superior da página aparece de facto um friso de grandes "machos" anti-americanos, anti-sionistas e anti-etc.: Fidel Castro, Gadafi, Chávez e Ahmadinejad, entre outros. Também não deve estranhar que este site ultra (segundo ele, ao mesmo tempo ultra- esquerdista e ultra-direitista) assuma directamente o ponto de vista de um meio árabe. Durante a sua estada no Front National, Alain Soral teve o empenho de tentar atrair os jovens radicais árabes da Banlieue (fonte inesgotável de testosterona), numa tentativa de compatibilizar o islamismo radical e o ultra-nacionalismo fascista do partido. Empenho meritório, porquanto o partido de Le Pen se caracteriza precisamente pela sua xenofobia anti-árabe, mas enfim, a esquizofrenia ideológica é uma das características, como dissemos, de todos estes grupos. Assim, um texto que, sendo escrito por um árabe pro-palestiniano teria sido considerado sem mais "progressista" por muitos, acontece que calha às mil maravilhas nos moldes de um site de ultra-direita como o de Alain Soral, que reproduz sem mais o texto de "Mounadil al Djazaïri", limitando-se a acrescentar simplesmente, no título, um pequeno texto em que saúda a notícia do boicote: "Uma nota de esperança. A comunidade autónoma da Galiza diz não ao lobby sionista". E daí saltamos (na terceira etapa da viagem) directamente para as estepes de Ásia Central. Porque a "nota de esperança" de Soral aparece, por sua vez, reproduzida literalmente nesta outra página escrita também em francês, mas que ecoa aplausos mais longínquos: http://eurempire.skynetblogs.be/archive/2013/03/26/la-communaute-autonome-de-galice-dit- non-au-lobby-sioniste.html Trata-se de blog com um título de referências bastante claras "Eurempire" (Euro-império), e presidido por um logótipo que não precisa de traduções:
  • 11. É a águia bicéfala, símbolo do Império Czarista, adoptada também pelo Império Prussiano criado por Bismarck, tomada por sua vez do escudo de armas do Sacro Império Romano- Germânico, inspiração também do escudo dos Áustrias nos não menos imperiais tempos de Carlos V e Filipe I de Espanha, e que vem, em última instância, do símbolo do Império Romano (na altura do "Império Dual", daí as duas cabeças) que continuou durante muitos séculos a ser o do Império Bizantino. Não estranha portanto que o lema da página seja "Refundar Europa como Império". Na verdade é que, se não fosse por tão imperiais referências, voltaríamos a ter dúvidas de se se trata de uma página de extrema esquerda ou de extrema direita, tanto se parecem as retóricas anti-israelitas e o mundo de referências míticas de uma e de outra. Por exemplo, um dos artigos que aparecem na coluna à direita, "Como foi Inventado o Povo Judeu", reproduz argumentos pseudo-históricos e anti-semitas, que se podem encontrar repetidos literalmente na boca de "alter-mundistas com pedigree" como Michel Collon, cujo veneno anti-semita é considerado dogma de fé histórico por todos os progressistas bem intencionados e pior informados. Além das constantes referências a Russia Today e outros meios oficiais russos como únicas fontes confiáveis de informação, uma pista pode fornecer-no-la o nome do autor, Friedrich von Dietersdorf, que procurando noutras páginas (por exemplo http://www.4pt.su/en/content/friedrich-von-dietersdorf), descobrimos que se trata na verdade de um alter-ego de Alexander Dugin, nem mais nem menos que o ideólogo privado de Putin. Não por acaso o velho escudo imperial com que Dugin-Dietersdorf, águia de duas cabeças, pretende identificar-se, foi adoptado como o da Federação Russa depois da crise institucional de 93 que inaugurou um regime presidencialista de corte neo-imperialista. Afinal esta pesquisa na política doméstica revela algumas coisas importantes da internacional. Dugin é um delirante líder carismático, preconizador da ideia da Eurásia, império que abrangeria o conjunto de Europa e Ásia e cujo epicentro seria "logicamente" a Rússia. Um ultra-nacionalista russo, que mistura ideias místicas e esotéricas com um ideal de supremacia russa. Podíamos dizer que é "O Rasputin de Putin", e ele mesmo cultiva um certo parecido com aquele monge lunático, ainda que só consiga parecer-se mais com Carlos Taibo. Do parecido físico Carlos Taibo não tem culpa, também podia ter-se parecido comigo. Mas os parecidos ideológicos deveriam começar a preocupar. Dugin é filo-islamista, amigo dos
  • 12. aiatolás do Irão e habitual conferencista naquele país. Fala contra a globalização com toda a indignação de um indignado. Admira Hugo Chávez e odeia tudo quanto cheira a EUA e a Israel. Um perfeito esquerdista.... se não fosse que é um ultra-direitista: As frechas amarelas atravessadas que aparecem atrás dele, numa foto tirada de The Green Star (http://americanfront.info/2012/07/27/alexander-dugin-on-friends-and-enemies/, é um site de propaganda de "New Resistence" a quinta coluna americana de Dugin,) são o símbolo da Eurásia, o império destinado a salvar a humanidade do imperialismo americano e sionista. Se somarmos o símbolo da águia com o das frechas amarelas atravessadas, obtemos nem mais nem menos este: É o brasão da Prússia como província do III Reich, directamente inspirado no do Império, só que a águia tem perdido uma cabeça (para Hitler mesmo uma só resultava excessiva, quanto duas!) e em lugar da cruz, assegura na garra esquerda uma feixe de setas, que a todos nos lembrará, e com razão, o símbolo da Falange Espanhola, e que também foi utilizado pelo
  • 13. Partido da Cruz-Flechada, que sustinha, na Hungria da II Guerra Mundial, o governo fantoche da Alemanha nazi que controlava então o país. Não é um caprichosa associação de imagens cuja semelhança pudera ter-se devido ao mero acaso. Estando proibidos os símbolos nazis na maior parte dos países civilizados, os grupos ultras, para conseguirem ser facilmente identificados, têm que acudir à simbologia menor, derivada, indirecta, associada ou próxima do nazismo. Às vezes à mera concomitância gráfica: desenhos lineares, ângulos marcados, padrões repetitivos, fortes contrastes cromáticos, fundos escuros com o intuito de uma certa sobriedade tétrica, etc. Se possível aproveitando algum motivo local associado, para disfarçar, como víamos no caso de Aurora Dourada. Há uma "estética" nazi, que se utiliza como código "difuso" para se dizer quem se é, sem ser um quem o diga. Todos esses procedimentos aparecem utilizados no símbolo de Dugin. Existe de facto um rascunho de 1920, da mão do próprio Hitler, em que aparece, entre os vários símbolos que andava a considerar para o seu movimento, um muito parecido com o do euro-asiático: Todos esses desenhos giram à volta de uma pretensa simbologia solar de raiz "indo-europeia" (o mito nazi da unidade racial "indo-europeia" está na base da ideia da "Eurásia") que não pode resultar alheia ao mundo ideológico de Dugin, que compartilha também com Hitler, além da psicopatia, as suas crendices esotéricas (são duas coisas que costumam ir unidas). A coincidência gráfica patenteia, portanto, umas coincidências muito mais profundas. Alexander Dugin é um reconhecido anti-semita e neofascista (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0962629801000439), fundador do "Partido Nacional Bolchevique", tradução russa do "Partido Nacional Socialista" alemão, embora ele ao mesmo tempo diga odiar os nazis. Coisa que acontece precisamente porque ele gostava de o ser mas não pode por causa do seu patriotismo russo que o impede de perdoar que os alemães tivessem invadido o seu país. Podemos dizer que é justamente o contrário do que se deve ser. É ao mesmo tempo pró-nazi e anti-alemão. Mas tudo isso é perfeitamente lógico dentro da lógica esquizofrénica que caracteriza estas ideologias. E quando falo em "lógica esquizofrénica destas ideologias", outra vez não sei se estou a pensar realmente nas de ultra- direita ou nas de ultra-esquerda. Com o aplauso de Dugin, os ecos do boicote de Beiras e o BNG ao Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, chegam já portanto até à Vladivostoque. E para acabarmos de dar a volta ao mundo (... do racismo, o nazismo e a ultra-direita), vamos voltar a América. Porque uma das páginas que, por causa dessa esquizofrenia ideológica das
  • 14. extremas direita e esquerda, mais me esquentou a cabeça na hora de determinar o seu extremismo, foi esta: http://thisiszionism.blogspot.com.es/2013/03/spanish-party-dismisses-holocaust.html Experimentem, se tiverem estômago. Pode-se percorrer de cima para baixo e de baixo para cima e registar todas as ideias, crenças e pretensas informações que contém, sem se saber se se trata de uma página de ultra-direita ou de ulta-esquerda. É uma página que se apresenta simplesmente como "anti-sionista" (daí o título: "This Is Zionism"), e todos os seus argumentos e mistificações podiam fazer parte de qualquer página alter-mundista feita por pessoas que se consideram o cúmulo do progressismo. Sem ir mais longe, ilustram a informação em que celebram a negativa de Beiras e BNG a lamentar a morte de milhões de pessoas nos campos de extermínio nazi, com um desenho que reproduz ponto por ponto o mesmo "raciocínio" (ou antes o "irraciocínio") com que os responsáveis de ambos os grupos parlamentares galegos pretenderam justificar a sua decisão: O desenho representa um "pioneiro" israelita, já entrado em anos, e caracterizado com todos os traços que o anti-semitismo atribui aos judeus. Repare-se especialmente no nariz desenhado com forma de 6 (neste caso de 6 virado por causa da direcção da marcha). Compare-se com estoutro desenho "pedagógico" tirado de um livro escolar alemão da época nazi, em que um aluno mostra aos colegas a maneira de identificar um judeu:
  • 15. O texto que acompanha a ilustração diz: "O nariz judeu é curvado na ponta. Parece um seis" Ora, o texto do cartaz que exibe no desenho anterior o perverso israelita que respira por um 6, diz: "Mais ajuda para Israel. O meu avô morreu em Dachau. O mundo deve-me dinheiro. E já por último, comemora o Holocausto". É exactamente o argumento utilizado por Beiras e o BNG para se negarem a lamentar nem por um segundo de legislatura o assassínio de 6 milhões de "seises" por isso constituir um claro acto de propaganda em favor de Israel! Há uma caricatura com todos os traços do anti- semitismo que reproduz todos os argumentos de Beiras e BNG. Isto deveria provocar-lhes um nojo profundo, se o juízo moral dos seus cérebros controlasse as suas vísceras, e não acontecesse exactamente o contrário. Não poderíamos, contudo, apenas pelo detalhe do nariz, acabar por inclinar pelo lado da direita a balança em que pesamos esse site, e com ele esse texto, e com ele esse argumento. Todo o site está cheio de desenhos de igual laia, mas, contudo, sempre são dirigidos contra os "sionistas", nunca directamente contra os judeus. Simplesmente todos os preconceitos que há sessenta anos os anti-semitas reconhecidos aplicavam aos judeus, estes anti-sionistas actuais aplicam-nos aos "sionistas". Quando se nega o holocausto nega-se exclusivamente, igual que Beiras e BNG, em função apenas de não ser senão propaganda sionista. Falar do lobby judeu e da conspiração dos judeus para controlar o mundo das finanças, da política e dos meios de comunicação, também não é já património Goebbels nem dos Protocolos dos Sábios de Sião. É uma coisa que todo o "progre" pró-palestiniano dá por demonstrada. A única diferença é que agora, quem faz isso são os "judeus maus": os sionistas. Coloca-se, porém, (nesta página, como nas da esquerda radical) o contra-exemplo dos "judeus bons": os judeus anti-sionistas, os judeus mesmo negacionistas (o texto do cartaz podia ter sido assinado também por Norman Finkelstein, cuja obra deve estar na base da argumentação de Beiras e o BNG), os judeus que mesmo negam a existência do povo judeu, os judeus anti-semitas. A aplicação sistemática da "lógica esquizofrénica" de que falávamos antes, faz com que resulte impossível resolver a dúvida. Este site insiste fervorosamente em rejeitar qualquer acusação previsível de anti-semitismo e insiste na legitimidade do seu anti-sionismo, que sempre adopta um tom "humanitário". Um ódio com tom humanitário. A lógica
  • 16. esquizofrénica permite estas e muitas mais coisas. Permite, por exemplo, negar por momentos o Holocausto, para, a seguir, culpar os judeus pelo Holocausto. Insinua-se, de uma parte, que os nazis não eram assim tão maus ao tempo que, da outra, se afirma que os "sionistas" são nazis de hoje em dia porque são muito maus. Chega a culpar os próprios judeus pelo nazismo histórico até, insistindo-se em demonstrar que todos os grandes chefes nazis, Hitler à cabeça, eram judeus! Ora, meus senhores, todos estes são argumentos que utilizam, e dados que consideram provados, muitos pretensos progressistas em todos os foros de debate pró-palestinianos. O único truque para passar de um lado a outro "do espelho" é, onde a propaganda nazi colocava a palavra "judeu", colocar agora "israelita" ou "sionista". Embora nos possa causar escândalo que isto não cause escândalo à mentes bem-pensantes, os mesmos procedimentos utilizados nesta página são aqueles que se utilizam nos meios auto- considerados progressitas dos nossos dias. Por não sairmos do mundo da caricatura, é o procedimento que aplica regularmente o humorista espanhol Forges a todos as suas charges que têm Israel como alvo. Não que ele desenhe israelitas com nariz em forma de 6 (curiosamente evita pôr-lhes rosto), mas ele retrata, na mesma, os israelitas com traços muito mais graves do anti-semitismo: a crueldade caprichosa, a dominação do mundo, utilizando sempre um recurso gráfico e simbólico, desta vez sim, tomado directamente do "humor gráfico" anti-semita: o de relacionar sempre iconograficamente os judeus com o sangue. Os desenhos dele no El País sempre aparecem a preto e branco, mas nesta charge publicada por ocasião dos incidentes da primeira "flotilha a Gaza" organizada pelos islamistas turcos, utilizou excepcionalmente a cor (vermelha, claro): Ele ficou de certeza muito satisfeito julgando-se o mais sensível e humanitário desenhador do mundo, mas estava a ecoar, de forma consciente ou inconsciente, um preconceito multissecular. A frase ignominiosa parece uma reflexão, mas é na verdade uma reflexo. Um reflexo automático do fundo cultural espanhol mais escuro e mais anti-semita. A obsessão por relacionar os judeus com o sangue pode-se ver também nos sites que temos visitado, e representada com imagens que me nego a reproduzir. Trata-se afinal de uma recriação do famoso "libelo do sangue" da Idade Média, ainda de curso corrente no mundo árabe (sem ir mais longe eis o título de um "sisudo" artigo aparecido estes dias no jornal jordano Al-Arab A-Yawn: "É Obama, que costuma celebrar a Páscoa Judia, ciente do uso de sangue de cristão nesta celebração?" (http://www.memri.org/report/en/0/0/0/0/0/0/7114.htm#_ednref1). Compare-se o desenho de Forges com este tirado do blog "Relámpago Informativo", (http://relampagoinfo.blogspot.com.es/2009_05_01_archive.html, o seu nome parece uma
  • 17. tradução castelhana de "Storm Front") ligado ao grupo neonazi argentino Bastión Nacional Revolucionario): Grupo que, já agora, utiliza um emblema que nos lembra um outro que já encontrámos, embora apareça agora transplantado das estepes para as pampas: A ligação directa desta classe de representações com o "libelo de sangue" aparece, porém, de forma mais directa neste outro desenho com a legenda "Israel bebe sangue", utilizado na propaganda da Marcha Global a Jerusalém organizada por grupos "progressistas" pró- palestinianos do mundo ocidental e grupos integristas do mundo islâmico: E finalmente esta é uma das tantas representações medievais da, na altura, "absolutamente provada" (tanto como o genocídio do povo palestiniano hoje em dia) prática judia de verter o sangue de uma criança cristã para utilizar nos ritos da Páscoa:
  • 18. Como se vê, há uma continuidade discursiva em todos esses desenhos. Uma mesma mensagem e um mesmo motivo central: os judeus vistos como seres "sedentos de sangue". Claro que nos desenhos actuais, nunca se diz "os judeus", diz-se Israel (ou supõe-se "Israel" no desenho de Forges) ou "os sionistas". Ora, atribuir a Israel ou aos sionistas uma inata sede maléfica de sangue, parece-me que só pode fazer-se em função do velho preconceito da maléfica sede de sangue inata dos judeus. O recurso à imagem de crianças daria para um outro dossier tão amplo como este, que teria que abranger também o anti-semitismo medieval, o nazismo e a propaganda pró-palestiniana, ou melhor dito anti-israelita. O que interesse é salientar agora a continuidade nos argumentos ideológicos e nos recursos retóricos (quer verbais, quer gráficos ou simbólicos) entre essas três expressões do ódio anti-judeu. Desta digressão pelo grafismo anti-semita, tiramos apenas uma conclusão: Resulta impossível saber, quando se trata de sionismo ou de Israel, se uma caricatura foi feita por uma pessoas daquelas que querem parecer as mais progressistas do mundo ou daquelas que querem ser as mais reaccionárias do mundo. O desenho que acompanha a celebração do repúdio de Beiras e BNG a render tributo à vítimas do Holocausto, por muitos traços anti-semitas que apresente, não serve para descartar completamente a hipótese de que o site "This is Zionism" seja obra de pessoas que se auto-proclamam progressistas. Afinal, para podermos acabar de inclinar a balança no sentido de atribuir o site ao racismo mais nojento e não a algum ingénuo movimento eco-pacifista, temos que acudir necessariamente a uma informação externa. Vejamos o post que segue àquele que celebra o boicote de Beiras e BNG. É um vídeo de um activista de barba branca e olhar iluminado que acusa o Estado de Israel de ser um Estado racista, supremacista e mesmo "anti-semita". Um vídeo que acusa o Estado de Israel de nazi. Mas não, não é Xosé Manuel Beiras (embora eu tenha visto um vídeo de ele a dizer coisas muito parecidas há alguns anos na TVG). Trata-se de um tal David Duke, e pela maneira de falar dele também não podemos resolver a questão. Antes parece incliná-la "do lado esquerdo". O "dado externo" vem agora. Averiguemos, então, quem é David Duke. Será um activista americano dos direitos humanos? Não senhor, David Duke resulta ser um conhecido dirigente do Ku Klux Klan (só colocar "conhecido" ao lado de "dirigente do Ku Klux Klan" já causa arrepios) que chegou a candidatar-se para a presidência dos Estados Unidos (isto causa ainda mais), ainda que fosse com a bandeira da Confederação, e não a da União, de fundo:
  • 19. Na verdade este personagem já tinha aparecido no nosso drama (que deve ser o drama de termos a esquerda mais anti-semita da Europa). Porque voltando a uma das primeiras citações, no foro de Storm Front (http://www.stormfront.org/forum/t956106-2/), abaixo dos parabéns a Beiras e a BNG por dizerem num parlamento o que eles têm que conformar-se com propalar pelos esgotos mais ocultos da Internet, aparecia já este anúncio: "Ouve o Dr. David Duke. Um homem que ousa dizer a verdade!". É o anúncio da rádio de David Duke. Resulta realmente triste pensar que uma informação relativa a uma votação no Parlamento Galego possa ser sponsorizada pela rádio de um racista do Ku Klux Klan! Mas resulta muito mais triste pensar que o nexo de união entre duas páginas racistas americanas resulta ser tanto o de contar com a presença de David Duke como o de celebrar uma notícia protagonizada por Beiras e o BNG.... E não é a única aderência de Duke que leva a notícia da oposição de Beiras e BNG a honrar a memória das vítimas do Holocausto. O racista americano tem relação com outras pessoas que, como víamos atrás, também celebraram a ignomínia dos nossos deputados. Assim, o jornal vienense "Die Presse", a denunciar a presença de Duke na Áustria, em 2009, entre outros detalhes da sua biografia, nos ilustra: "Duke mantém bons contactos com o negacionista espanhol Enrique Ravello e o anti-semita russo Alexander Dugin. Ambos encontraram-se perto de Moscovo. Ravello e Dugin foram convidados, no final de Janeiro, no Bruschenschaftenball no Palácio de Hofburg" (http://oberhaidinger.wordpress.com/2009/05/12/david-duke-in-zell-am-see/) O "Bruschenschaftenball" é o baile anual de um tipo especial de associações ou "irmandades" de estudantes ("Bruschenschaften") de carácter patriótico, típicas da Alemanha e a Áustria, frequentemente infiltradas por elementos de extrema-direita. Nos últimos anos o Bruschenschaftenball tem sido palco de inúmeras manifestações de anti-semitismo. Especialmente nesse ano (2009) em que, além da presença de grandes vultos da extrema- direita internacional (como os acima citados), convidados por Heinze-Christian Strache, líder do FPO (o denominado Partido Liberal da Áustria, mas na verdade o partido neonazi
  • 20. austríaco) e a polémica pelo uso de uniformes parecidos aos da época do "Anschluss" (da anexação alemã durante o III Reich), causou indignação o facto de fazerem questão de que a celebração do baile coincidisse com o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, 17 de Janeiro. Precisamente a mesma data em que o Parlamento Galego devia ter aprovado, neste ano, a Declaração Institucional que a oposição de Beiras e BNG impediu. Fecha-se assim um círculo perfeito de afrentas à memória das vítimas do Holocausto. Dentro desse círculo tece-se a maranha da ultra-direita, o nazismo, o racismo internacional. A seguir a pista das adesões internacionais à postura anti-anti-Holocausto de Beiras e BNG, acabámos de fazer, curiosamente, uma radiografia das principais linhas do nazismo e racismo internacional. Ou antes uma ecografia ou uma tomografia com contraste, porque é o eco dos aplausos à postura deles que nos devolve a imagem do nazismo internacional, e é o rasto que vai deixando essa notícia (a valoração positiva dessa notícia) que vai actuando como um contraste que desenha as linhas que relacionam a teia de aranha dessa maranha de ódio. Bom, na verdade, temos visto apenas uns poucos fios da maranha. O importante é que temos descoberto alguns dos nós mais importantes. Temos visto (na verdade sem excessivo assombro) que um deles se localiza em Teerão. Não só em bailes de opróbio às vitimas do Holocausto é que se encontram estes indivíduos. Se seguirmos as peripécias vitais de todas as personagens que têm aparecido ao longo desse artigo, veremos que as linhas de todas as suas vidas se cruzam na capital dos aiatolás. Já vimos que o autor da primeira notícia que vai marcando um desses fios, aquele " Mounadil al Djazaïri", colaborava em meios iranianos, e tínhamos falado das frequentes visitas a Irão de Alexander Dugin. Mas na verdade quase todas as pessoas e movimentos que se regozijaram com a repugnância de Beiras e BNG a render tributo à vítimas dos Holocausto, têm passado por aí. A começar pelo final, o nosso último protagonista, o racista David Duke, que foi convidado especialmente pelo regime islâmico como estrela do congresso internacional do negacionismo que organizou em 2006 o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad (quem, como vemos, estava portanto muito justamente sentado à beira de Jorquera na fotomontagem que abre este artigo). http://archive.adl.org/learn/extremism_in_america_updates/individuals/david_duke/duke_Teh ran.htm Na sua intervenção Duke lamenta que o povo palestiniano tenho sido imolado "no altar do Holocausto", num delirante arrazoado irracional também muito frequente nos lábios dos nossos esquerdistas. O bom deste percurso pelos infernos, não é tanto localizarmos as pessoas e movimentos de extrema-direita que aplaudem a decisão de Beiras e BNG, mas identificar nos lábios de uns os mesmos argumentos que nos dos outros. O realmente importante desta pesquisa tem sido identificar, nuns e outros, uns mesmos processos mentais. Um deles é este: o da inversão. É devolver o Holocausto aos judeus, colocar sadicamente as vítimas no lugar dos assassinos. Nega-se ao mesmo tempo um genocídio do que há constância histórica inegável (e matemática: havia 6 milhões menos de judeus no mundo no final da II Guerra mundial do que no início) ao tempo que se dá por demonstrado um genocídio de que não há constância histórica nenhuma, o do povo palestiniano (e que também não resiste a constatação matemática de que a população palestiniana é uma das que mais cresceram no planeta e uma das que apresentam menor taxa de mortalidade). Também depois das reacções ao Bruschenschaftenball negacionista, o líder do partido neonazi austríaco, Heinze-Christian Strache, afirmou que eles eram os novos judeus e que a censura das autoridades podia comparar-se com a "Noite de Cristal", início da perseguição sistemática dos nazis contra os judeus. Agora atentem às declarações de Beiras sobre o conflito do Oriente Médio e verão
  • 21. como este processo de inversão, de devolver a "bola" do Holocausto ao campo judeu (ele dirá "sionista") aparece também por toda a parte. Neste congresso internacional do negacionismo, que se auto-intitulava "International Conference to Review the Global Vision of the Holocaust" ("revisionismo" é um eufemismo por "negacionismo"), havia também judeus convidados (os "Neturei Karta" à cabeça), o que constitui um outro procedimento do novo anti-semitismo: a coarctada do judeu. "Nós não somos anti-semitas, convidámos também judeus". Como sempre há judeus o suficientemente e estupidamente narcisistas (cujo único objectivo na vida é serem considerados heróis da abertura, a compreensão, a elasticidade, o pacifismo e o progressismo), nunca lhes faltarão coarctadas. Revejam também os foros, manifestações e "flotilhas" e verão como o "argumento ad hominen inverso do judeu convidado" aparece também por toda a parte. Mas não só Duke e os pontos inicial e final daquele fio (Mounadil al Djazaïri e Alexander Dugin) apresentavam vinculações directas com o Irão. Elas são igualmente claras na etapa intermédia daquela viagem, a protagonizada por Alain Soral. Soral, além de criar "Égalité & Réconciliation" fundou também o "Partido Anti-Sionista" com que se apresentou à últimas eleições europeias. Um partido que utiliza, naturalmente, a coarctada do judeu convidado, e inclui, como não podia deixar de ser, um judeu ultra- ortodoxo no seu cartaz: Pois bem, neste vídeo, Alain Soral reconhece abertamente que a sua lista foi financiada, a fundo perdido, pelo Irão: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=kzyRB7pHvwQ Tradução: "Se foi possível fazer a Lista Anti-sionista, que custou 3 milhões de euros, é porque obtivemos o dinheiro dos iranianos. Pode-se dizer, não há que surpreender-se. Não temos 3 milhões de euros, sobretudo para os perdermos. Para sermos reembolsados precisamos obter 5% dos votos... (Risos. Eles sabiam perfeitamente que não tinham hipótese nenhuma e que a lista era simples propaganda: obtiveram 1,3% na região da Île de France)... Isto quer dizer o que? Que eu sou o homem de uma potência estrangeira?"
  • 22. O logo utilizado na campanha ilustra, aliás, às mil maravilhas um outro mecanismo comum a todas estas pessoas e ideologias ultra-esquerdistas-direitistas. Repare-se na forma subtil de fazer, gráfica e ideologicamente, a passagem subliminar do pretenso "anti-sionismo" para o anti-semitismo não declarado: À esquerda tal e como aparece na web do partido (www.partiantisioniste.com) e à direita tal e como aparece reproduzido numa web mais "de casa", neste caso a página "de humor palestiniano" "La Gueule Enfarinée" (http://la.gueule.enfarinee.over-blog.com/article-jericho- iii-menace-toutes-les-capitales-europeennes-87955381.html "Avoir la gueule enfarinée", "Ter o focinho enfarinhado", quer dizer em francês precisamente fingir-se inocente para conseguir propósitos ocultos, como o gato da fábula de La Fontaine que cobriu de farinha o focinho para enganar o rato e o atrair assim directamente às suas fauces) No primeiro, ainda se pode interpretar que o que se está a riscar é a bandeira de Israel, e que portanto estamos no terreno do "anti-sionismo politicamente correcto". No segundo, porém, já não estamos a riscar a bandeira, que excede o sinal de proibição (mesmo as bandas azuis não representam os seus limites, e há ainda uma área branca acima e abaixo delas). Está a riscar-se a estrela de David, que não representa já apenas Israel, mas a totalidade do povo judeu, em qualquer lugar do tempo e do espaço em que se encontre. É o símbolo com que eram marcados os judeus na Alemanha nazi antes da criação do Estado de Israel. Pode parecer exagerado, e de teoria conspiratória, analisar estes pormenores. Temos de ter em conta, porém, que estamos a tratar precisamente com ideologias de uma parte "conspiratórias", cujo procedimento retórico mais frequente é, aliás, o da "inversão", e a que portanto resulta conveniente aplicar as teorias conspiratórias que eles aplicam aos outros, E devemos considerar também, de outra parte, que são ideologias que consideram fundamentais todas as questões "identitárias", pessoas que vivem num mundo habitado de símbolos, e para as quais um emblema vale mais do que uma vida humana. Quando eles querem queimar, ou riscar, uma bandeira, queimam-na ou riscam-na inteira. Para eles os símbolos não são arbitrários nem irrelevantes. Cada centímetro é tão valioso como uma cidade perdida ou conquistada. Quando renunciam a uma parte do símbolo é que alguma coisa querem dizer. Quando fazem este género de coisas estão a enviar uma piscadela para os acólitos: "bom, nós dizemos que somos anti-sionistas, mas vocês já sabem que o que queremos dizer é que é preciso riscar os judeus da face da Terra". Interpretação que se revela, aliás, como incontestavelmente certa quando encontramos na Uncyclopedia (uma Wikipédia "alternativa" sem "censura", onde ao lado de muitas piadas absurdas podemos encontrar apologia da violência, elogios de Hilter ou conteúdos anti-
  • 23. semitas como é o caso) este símbolo catalogado como "No Jews" , "Não aos Judeus" (http://uncyclopedia.wikia.com/wiki/File:No_Jews.gif), ou o vemos em páginas anti-semitas como Veterans News Now ( cujo nome pretende evocar, ao mesmo tempo, pelas siglas VNN o da CNN e pela última palavra e o ar bélico do site também o do filme "Apocalypsis Now" http://www.veteransnewsnow.com/2011/12/05/thought-u-s-military-would-protect- individual%E2%80%8Bs-from-in-rank-bigotry-and-injustice/no-jews-allowed/), utilizado ao lado da sua tradução em letra gótica "Não se admitem judeus!": Bom, na verdade o mero facto de riscar a bandeira de um outro país não deveria ser admissível na propaganda política de um país civilizado. Imaginam o que aconteceria se um Partido anti-romeno se apresentasse às eleições europeias com o mapa da França com uma bandeira romena riscada no centro? Daí que resulte ainda mais surpreendente que isto seja permitido num país que costuma ter as coisas muito mais claras que Espanha e cujo Supremo Tribunal declarou ilegal a campanha BDS de boicote a Israel por constituir necessariamente um acto de xenofobia. Campanha precisamente em cujo logo parece inspirar-se o do Partido Anti-sionista, e com o qual também se realiza (de uma maneira se calhar mais clara) a subtil transição gráfica do anti-sionismo para o anti-semitismo, do "Boicote a Israel" ao "Não aos judeus!". O da esquerda é tirado da página brasileira Liberdade Palestina (http://liberdadepalestina.blogspot.com.es/2010/09/bds-o-boicote-internacional-israel.html), e o da direita de uma página polaca empenhada também em tão nobre fim (http://palestyna.wordpress.com/2011/02/08/list-otwarty-do-rzadu-rzeczypospolitej-polskiej/): E campanha também à que coincide que, nestes dias atrás, acabou de somar-se publicamente o BNG. É bom sabermos que na França seria considerado um partido ainda mais xenófobo do que o Partido Anti-sionista. No cartaz eleitoral acima, além do judeu ortodoxo (cujo nome não se especifica, nem interessa, porque como sabemos não representa senão o álibi do "judeu convidado")
  • 24. aparecem, junto com Soral, duas personagens que delineiam outros tantos fios da malha do racismo, negacionismo, nazismo e anti-semitismo. No centro Dieudonné Mbala, e ao lado direito dele, Yahia Gouasmi (nos nomes, em baixo, os lugares aparecem trocados). Yahia Gouasmi é o presidente da Federação dos Xiitas da França e dirige o centro pró-iraniano Zahra. Num comunicado do próprio Partido Anti-sionista, reconhece-se que se reuniu com o comandante do grupo terrorista libanês pró-iraninao Hezbollah, Hassan Nasrallah, patenteando a coincidência de objectivos e estratégias e proclamando a vontade de colaboração: http://www.partiantisioniste.com/communications/rencontre-entre-m-gouasmi-parti-anti- sioniste-et-m-nasrallah-hezbollah-331.html Os caminhos de Dieudonné e Gouasmi voltam a levar-nos, como cabia esperar, a Teerão: Neste encontro, celebrado em Novembro de 2009, Dieudonné conseguiu também financiamento, não já para o partido mas para sua particular "carreira artística", assegurando que graças à generosidade do regime islamista ia poder fazer filmes à altura dos de Holliwood, dominado, como todo o anti-semita sabe, pelo lobby judeu. Perdão: ele disse "sionista". http://tempsreel.nouvelobs.com/societe/20091128.OBS9083/dieudonne-en-iran-pour-recolter- des-fonds-et-liberer-reiss.html Mas a figura de Dieudonné tem outras muitas ramificações. Dieudonné faz parte dessa tendência ultimamente registada na política pelo freakismo. Como Tiririca no Brasil ou Beppe Grillo em Itália, Dieudonné começou como cómico antes de se decidir a provar fortuna na política. Dieudonnée é originário da República dos Camarões, mas colabora sem pudor com partidos xenófobos como o Front National. Dieudonné é mulato e colabora sem pudor com movimentos racistas. Dieudonné é um caso único dentro da cromatismo político. Porque é um racista mulato. Primeiro, porque é mulato e racista (exactamente igual que há judeus anti- semitas), mas também porque, dada a sua largueza de espírito, é também capaz de ser racista das duras cores, um "racista de amplo espectro" podíamos dizer.
  • 25. Assim, as suas amizades políticas, e pessoais, abrangem um racista branco, Jean Marie Le Pen, padrinho da sua filha e padrinho também na sua carreira política (mais um convidado, já agora, no Bruschenschaftenball negacionista. Le Pen é outro nó da malha e portanto também "muito bem sentado", na fotomontagem inicial, à beira de Beiras), e um racista negro como Kémi Seba (alcunha que significa "Estrela Negra"), fundador de diversas organizações de supremacismo negro, condenado por instigação ao ódio racial, etc. Coisa que também não deve estranhar, pois Le Pen e Kémi Seba concordam numa coisa: brancos e negros devem viver separados. Como cómico a especialidade de Dieudonnée são, como se pode imaginar, as piadas anti- semitas, e foi graças às polémicas que suscitaram que ele se tornou uma vedeta do "show- bisness". Num dos seus espectáculos fez a "brincadeira" de convidar para sair ao palco, no final, o ancião, mas nada venerável, historiador Robert Faurisson, considerado o "patriarca do negacionismo", e pedir ao público (entre o qual se encontravam, como não, Jean Marie Le Pen e Kémi Seba) uma salva de palmas para ele. A "piada" consistia em que um figurante vestido com o uniforme às riscas dos internados nos campos de concentração e uma estrela de David amarela no peito, saísse também à cena e lhe desse como troféu uma menorah com maçãs espetadas nos braços (escapa-me a simbologia disto, mas alguma ofensiva e delirante deve ter), entre uivos desenfreados de Dieudonné que não cessava de pedir mais e mais aplausos para Faurisson ao público (http://www.lemonde.fr/societe/article/2008/12/28/l- humoriste-dieudonne-derape-une-nouvelle-fois_1135912_3224.html) Robert Faurisson leva-nos de novo a Teerão, onde foi também convidado estrela no congresso negacionista de 2006. Ali provavelmente terá encontrado Duke. Mas não terá sido, de certeza, o seu primeiro encontro com um racista americano. Este historiador, que nega a autenticidade dos diários de Anne Frank, das câmaras de gás, e só afirma as virtudes da principais figuras anti-semitas colaboracionistas do governo de Vichy, já se tinha dirigido, em Setembro de 1979 aos militantes da National Alliance (http://www.anti- rev.org/textes/Fresco88a/index.html), o partido neonazi americano que encontrávamos na primeira das webs analisadas, mesmo num lugar acima da celebração da negativa de Beiras e BNG a lamentar as vítimas do holocausto. Camaradagem ultra-direita-esquerda que também não lhe resulta alheia a Faursisson que foi publicamente defendido por um "alternativo" como Noam Chomsky, que não se importou, aliás, de fazer o papel de "judeu convidado" a prefaciar um livro deste campeão do negacionismo (http://www.anti-rev.org/textes/VidalNaquet81a/) Entre todos os nomes de pessoas e de grupos que celebraram o repúdio de Beiras e BNG a mostrarem solidariedade com as vítimas do Holocausto, entre não importa que dois pontos do círculo de infâmia que desenha o percurso desse regozijo, podemos estabelecer, como estamos a ver, ligações múltiplas. Não resulta estranho encontrar, por exemplo, o ultra-nacionalista francês Alain Soral como protagonista do site "Open Revolt" (http://openrevolt.info/2012/09/14/alain-soral-political- incorrectness-ideology-of-resistance/):
  • 26. Já sei que pode parecer uma página do mais "alternativo". Mas repare-se no logo da estrela verde. É o mesmo do que aparecia no site "The Green Star", donde tirávamos a foto do ultra- nacionalista russo Alexander Dugin com o emblema hitleriano do "movimento euro-asiático" atrás. Essa estrela verde é o símbolo do grupo New Resistence, o seu ramo americano: Sem dúvida está inspirado (mesmo o pretende patentear) no símbolo das Revolutionäre Zellen ("Celulas Revolucionárias), um grupo terrorista alemão de estrema esquerda colaborador da Frente Popular para a Libertação da Palestina, com um forte viés anti-semita, que sequestrou não só israelitas, mas também judeus não israelitas só pelo feito de serem judeus, e, pelo mesmo "pecado", planeou assassinar o célebre caça-nazis Simon Wiesenthal e o líder da comunidade judia alemã:
  • 27. A cor verde, segundo eles mesmo confessam (http://americanfront.info/green-star/) é uma homenagem a Muammar Gaddafi (venerado no site como mártir e guia da sua causa), que escolheu para a "revolução" líbia, não o vermelho das ocidentais, mas a cor simbólica do Islão, a cor do chamado à oração (de facto hoje em dia costumam colocar-se fluorescentes verdes no alto dos minaretes, e é a cor das fitas com versículos do Alcorão que se usam os terroristas do Hamas). Porque neste site abundam também as citas de Maomé, ao lado de panegíricos não só de Muammar Gaddafi, mas também de Hugo Chávez, cujas exéquias ocupam um enorme espaço. Então? Cada vez mais progressista, não acham? New Resistence é um movimento fundado por um líder neonazi americano que responde, a sério, ao muito ilustrativo nome de James Porrazzo, sobre quem nos ilustra este informe do Soutthern Poverty Law Center, uma organização americana de luta contra o ódio e a intolerância: http://www.splcenter.org/get-informed/intelligence-report/browse-all- issues/2012/winter/the-fourth-position Porrazzo provém do American Front, o principal grupo de skinheads racistas americanos. Declarado admirador de Muammar Gaddafi, foi-se aproximando cada vez mais de grupos islamistas como Hamas, Hezbollah e Al Qaeda, até que encontrou nas teorias de Dugin a síntese perfeita de tudo isso. Pode parecer estranho (se uma nova salada mental pudesse estranha a estas alturas) que um movimento tão anti-americano como o de Dugin, tenha um ramo americano (um americano euro-asiático, e ainda em cima contrário à mundialização, deveria ou exilar-se na Antárctida ou suicidar-se...). E não deve estranhar porque o objecto reconhecido (http://americanfront.info/new-resistance/) de New Resistence é precisamente destruir os Estados Unidos e estabelecer, no seu território, uma série de nações determinadas com critérios étnicos: uma para os brancos, outra para os negros, outra para os índios, etc. Por isso New Resistence se declara "não racista". E ao que parece está de acordo com outros movimentos "não racistas" negros (Porrazzo declara-se admirador também de Malcom X), índios, muçulmanos, chicanos etc. (como New Black Panther Party, Nation of Islam, o grupo "nacionalista chicano" Aztlán, etc.) Resulta demolidor comprovar que os dois vínculos que temos encontrado entre Dugin e Soral sejam por um lado admiração que por eles sentem James Porrazzo e New Resistance, e do outro a admiração que eles sentem por Beiras e BNG. Não é, porém, a única ocasião em que podemos encontrar vultos do Partido Anti-sionista em páginas inspiradas no "pensamento" (por o chamar de alguma forma) de Dugin. Como "Remetre Les Choses en Place"("Pôr as coisas no seu lugar"), que, com um texto e uma imagem do profeta da Eurásia, se apresenta como uma página nem de esquerda nem de direita, cristã e muçulmana, contrária ao capitalismo e à mundialização promovidas pelos "lobbies ocultos", e contra os quais o melhor antídoto é a restauração do Sacro Império Romano-Germânico. Nesta ocasião (http://justice.skynetblogs.be/archive/2009/12/30/les-agents-immobiliers-en-israel.html) insere-se um comunicado do Partido Anti-sionista em que se denuncia a conspiração das imobiliárias israelitas para comprarem terrenos e casas aos árabes e vendê-los a judeus (no seguinte post afirmarão que os judeus roubam as suas terras aos palestinianos, mas isso é normal). Mas o que mais nos interessa é o desenho que o acompanha, porque ele traz à baila um terceiro convidado, também já conhecido:
  • 28. Já tínhamos encontrado a bandeira de Israel relacionada com o "libelo de sangue", e agora encontramo-la relacionada com outro libelo, também exponente máximo do anti-semitismo: o livro "Os Protocolos dos Sábios de Sião", pretensa "confissão de parte" (como outras muitas utilizadas hoje em dia, sem ir mais longe nessa mesma informação) falsificada pela polícia secreta czarista para justificar os progroms de fins do XIX na Rússia. É por isso que vamos encontrar essa capa reproduzida onde? No site "This is Zionism" em que acabámos por descobrir as pegadas do Ku Klux Klan: A serpente com as fauces abertas que "personifica" a conspiração judia para fazer-se com o domínio do mundo, serve perfeitamente portanto para ilustrar igual a conspiração imobiliária sionista para adquirir uns quantos metros quadrados a um preço livremente pactuado com um proprietário árabe. É só mais um pequeno nó, neste caso, em que se apinham, à volta da causa palestiniana, mais uma vez Soral, Dugin e Duke, três das grandes mentes (ainda que eu preferiria não tratar estes de mentes) que aplaudiram a negativa de Beiras e BNG a lamentarem por cinco minutos o extermínio nazi, não fosse isso favorecer Israel. Encontro que vem ilustrar, aliás, duas coisas valiosas que temos aprendido neste estudo: - Como o moderno anti-sionismo bebe nas fontes do mais rançoso anti-semitismo, por meio de um transvasamento constante de argumentos ideológicos, recursos retóricos e elementos simbólicos de um para o outro. - Como existe uma rede internacional de movimentos e pessoas que abrangem um amplo espectro (negacionistas, neonazis, racistas, supremacistas de todas as latitudes e cores, anti-
  • 29. sistema, anti-mundialistas, anti-sistema, anti-ocidentais, pró-palestinianos, etc.) através da qual se realiza esse tráfico. São movimentos e pessoas com projectos em muitos aspectos antagónicos, alguns mais "nazis", mais revolucionários, mais centrados na "raça", outros de corte mais "fascista", mais tradicionalistas, mais centrados no nacionalismo. A maior parte deles são furiosamente anti- americanos, mas estão também os nacional-socialistas americanos, que por sua vez não deviam dar-se muito bem com os sulistas do Ku Klux Klan, por não falar do imperialismo russo à Alexander Dugin, cujo projecto devia chocar, em boa lógica, com todos os outros, se a expressão "boa lógica" pudesse fazer aqui algum sentido. Há só duas coisas realmente comuns a todos esses grupos e indivíduos: o anti-semitismo e o facto de terem celebrado o nojo manifestado por Beiras e BNG de lamentarem a morte cruel de seis milhões de judeus. Claro que isso também pudera indicar que não se trata afinal de "duas coisas". Não esqueçamos que toda a trama dessa rede fomo-la desenhando a seguir o eco do aplauso ao facto de Beiras e BNG terem rejeitado condenar o Holocausto. Como se fôssemos morcegos, a reverberação dessa notícia é que nos forneceu o retrato da extrema-direita internacional. E isso deveria fazer com que Beiras e BNG pedissem perdão publicamente com a cara vermelha de vergonha. Também por isso não deve estranhar tanto o facto de termos encontrado, num fio dessa malha, um conterrâneo. É um fio menor que sai daquela versão "gaddafista" do imperialismo euro-asiático de Dugin, o site islamo-chavista The Green Star. Porque ele nos oferecia, numa coluna à direita, ou mesmo à ultra-direita, uma ligação directa, ou mesmo ultra-directa, para um blog português intitulado Legio Victrix. A "piscadela" do feixe ("fascio") ao lado da águia imperial, com o álibi do latim (como a fazer ver que se trata de saudades da Roma Imperial, quando se trata mais de admiração por uma Roma de há apenas 80 anos), indicam-nos que estamos claramente diante de um blog mais "neofascista" do que "neonazi". "Piscadela" que os conteúdos confirmam sobejamente. Entrei nele para ver se havia alguma reacção à ignomínia perpetrada no Parlamento Galego. Não encontrei. Mas, a pesquisar, topei inesperadamente um texto "made in Galicia": http://legio-victrix.blogspot.com.es/search/label/Xos%C3%A9%20Curr%C3%A1s Trata-se de uma defesa acesa de Gaddafi, aquando da guerra civil na Líbia, e contra a intervenção da OTAN. O texto acaba, nem mais nem menos que a dizer que, face as pressões internacionais: "o que não tem que fazer Muammar Gaddafi é convocar eleições livres, permitir a existência de partidos e aplicar as receitas europeias ao seu país." Assinam o texto Xosé Currás e Rafael Fernandes Veiga, que, a pesquisar um pouco mais, resultam ser dois empresários galegos com interesses económicos na Líbia de Gadaffi: http://www.farodevigo.es/portada-o-morrazo/2011/02/27/busca-ne-gocio-libia/522414.html Que perfeita síntese de anti-liberalismo político e de liberalismo económico!
  • 30. Depois de tudo o visto, já quase que não provoca muita surpresa, encontrar um texto de um dos autores (ao que parece o principal e o ideólogo da dupla) Xosé Currás, também num meio nacionalista galego: http://praza.com/opinion/461/cara-ao-nacionalismo-disxunto/ É uma espécie de carta aberta escrita na sequência da cisão do BNG de que saiu a nova força de Beiras. E, curiosamente, nela Xosé Currás manifesta ao mesmo tempo a sua adesão ao BNG (quer dizer à liderança da UPG do BNG) e a sua admiração por Beiras, a defender precisamente a linha (a coligação estratégica com Esquerda Unida) que acabaria por dar origem, meses depois, à AGE. Deveria causar arrepios constatar que "o autor de um texto publicado num meio neofascista"* a elogiar Gaddafi e a abjurar da democracia, seja também o autor de um texto publicado num meio nacionalista galego a elogiar Xosé Manuel Beiras e defender o seu projecto político. Há estudos que analisam as relações sociais com os conceitos da física de redes. Num cristal os átomos estão ordenados e quaisquer dois não se relacionam assim tão facilmente mas através de uma estrutura. Quanto mais facilmente se possam relacionar dois dados átomos, "menos cristalina" e mais fluida é a estrutura do material estudado. Os átomos relacionam-se mais livremente, e mais frequentemente, num líquido e logicamente muito mais num gás. Acabámos de descobrir que, para chegar de Beiras a Dugin através de Xosé Currás, só precisávamos, até há pouco, dous cliques de rato: um de "Praza Pública" para "Legio Victrix", e outro de "Legio Victrix" para "The Green Star". Dois graus de separação vêm a equivaler à densidade de uma geleia, e mesmo uma geleia bastante fluida. Agora, após ter-se tornado célebre no mundo da ultra-direita pelo seu nojo a render homenagem às vítimas do Holocausto, a distância informativa e informática entre Beiras e * Utilizo este circunlóquio para não dizer "o colaborador de uma página fascista" ou "um fascista" directamente, porque, a ser honesto, não posso estar seguro em 100% de que essa participação tenha sido voluntária. Sempre pudera ter acontecido que o texto tivesse sido copiado de outro lado sem conhecimento nem consentimento do autor, e que da sua presença aí não caiba deduzir nenhuma adscrição política. Vejo com tudo, bastante improvável. No final do mesmo cita-se, de facto, uma fonte: http://yrminsul.blogspot.com/2011/10/libia- contrainformacao-de-combate.html, mas a ligação não funciona, e quando se tenta colocando-a na barra de direcções do navegador, aparece um aviso a dizer que essa página não existe. De qualquer modo, o nome do blog, mesmo que fosse na verde aquele onde foi originalmente colocado o texto, não deixa lugar a dúvidas. O "irminsul" (ou "yrminsul" como se grafa também em línguas germânicas) é um símbolo pertencente à iconografia mística do esoterismo nazi. Era o símbolo que se colocava nas lápides dos SS mortos. Então, neonazi ou neofascista, para mim pouca diferença faz. Se fizermos, aliás, uma procura directa pelo título do artigo e o nome do seu autor ("contrainformação de combate", "Xosé Currás": https://www.google.pt/search?q=%22contrainforma%C3%A7%C3%A3o+de+combate%22+%22Xos%C3%A9+ Curr%C3%A1s%22&num=100&safe=off&filter=0 ) aparecem apenas 6 ocorrências. As 2 mais antigas são ligações para a própria Legio Victrix, outras duas para páginas esotéricas bastante dúbias (uma inclusive que fala dos "illuminati") e as outras duas para um blog que compila teorias conspiratórias. Todas 4 de datas posteriores à publicação na página fascista, e todas 4 citam Legio Victrix como fonte. Não é possível portanto que tenha havido "corta e cola", e o texto deveu ter sido enviado directamente para o blog fascista. A língua utilizada revela, aliás, ter sido escrita por um galego habituado à norma da RAG que tenta adaptar-se (com desigual sucesso) à norma lusitana, não por um português que "traduz" um texto galego. O que parece corroborar a impressão de que o texto foi preparado propositadamente pelos autores para a sua publicação nesta página.
  • 31. qualquer dos líderes neonazis antes mencionados, é já apenas de um grau (digamos, em termos computacionais, de um "clique"). Parabéns. A sua relação com eles passou de geleia para plasma, o estado mais fluido da matéria. Como pudemos comprovar ao longo deste escrito existe uma "tripla aliança", hoje em dia, entre uns colectivos aparentemente dispares. De uma parte a confusa amálgama dos movimentos "alternativos", radicais de esquerda, anti-sistema, entre os quais pretendem situar-se Beiras e BNG. Da outra, o turvo sistema coloidal que formam um integrismo islâmico que sempre foi além do religioso, e um pan-arabismo que nunca conseguiu ser completamente laico. E em terceiro lugar o mundo, não menos viscoso, do neonazismo, do neofascismo, dos ultra-nacionalismos, supremacismos, e racismos de toda a classe. Há apenas três bandeiras que unem todas essas forças. Uma a do ódio a Israel. A outra, a que víamos no final do último testemunho: o ódio à democracia (bom, à democracia que eles chamam de "liberal", mas não se conhece, nem no espaço nem no tempo, nem no mundo nem na história, nenhuma outra democracia autêntica que não seja essa). E por último o ódio ao processo imparável da mundialização. Se na catequese nos ensinavam que os inimigos da alma eram o demónio, o mundo e a carne, para estes os inimigos (à escolha: da pátria, da raça ou da fé), também são três. No lugar do demónio deve estar a democracia (que para algo tem "demo" na raiz). No lugar da carne, só pode estar Israel. Não por nenhuma causa. Só por exclusão. Porque, curiosamente, o único que não varia é "o mundo". O ódio aos Estados Unidos podia ser um quarto elemento comum, se não fosse que nesse mercado de ódios também entram também alguns "patriotas" e racistas americanos (bom, também esse ódio pode que seja ainda mais acentuado no caso dos sulistas do Ku Klux Klan, mas há também "nacional-socialistas" yankees). O próprio Dugin reconhece esta aliança implícita num dos seus textos mais didácticos: "Sobre Amigos e Inimigos":
  • 32. "Se és a favor da hegemonia liberal global, és um inimigo. Se és contra, és um amigo. O primeiro é inclinado a aceitar esta hegemonia: o outro anda na revolta!" (http://americanfront.info/2012/07/27/alexander-dugin-on-friends-and-enemies/). Irmandade que podemos ver "em carne e osso", patenteada nesta imagem de uma manifestação (legal e publicitada pelos meios) realizada no centro de Moscovo em solidariedade com Bachir El-Assad, em que podemos ver, além das pequenas bandeiras russa e síria, outras maiores com o já conhecido emblema "euro-asiático" (© Adolf Hitler, lembre- se) junto a bandeiras do Hezbollah, bandeiras vermelhas e o símbolo da fouce e o martelo: A coisa então não começa neste ano nem com esta votação. Muito pelo contrário, a atitude hostil de Beiras e BNG à Declaração Institucional em Memória das Vítimas do Holocausto, não representa o início de nenhum processo, mas a consequência de um que vem de muito mais longe. O nacionalismo galego tem um pecado original. Todos os nacionalismos se reivindicam da idade de pedra, mas na verdade todos eles nascem no romantismo, como consequência do conceito de Estado-Nação que cristaliza na Ilustração (em Rousseau e em Montesquieu, que estes movimentos paradoxalmente tanto odeiam) e que se concretiza pela primeira vez na revolução francesa. O nacionalismo galego, como o espanhol, como o polaco, como o alemão, é um produto do romantismo, e como tal tem um elemento de irracionalidade e mito intrínseco. Goya colocou este lema a um dos seus mais famosos "Caprichos": "Os sonhos da razão produzem monstros". Ora, a racionalização das fantasias não os produz menores. Sem ir mais longe, a letra do hino galego, que é cantado de punho erguido pelos nossos "esquerdistas", foi feita por um proto-nazi, machista, com um característico complexo de inferioridade/superioridade, um Alain Soral de Ponteceso e do século XIX, chamado Eduardo Pondal. Um poeta "wagneriano" sempre imerso numa atmosfera delirante de exaltação da raça, da força, da virilidade agressiva. Tem-se discutido às vezes acerca do significado da expressão "nação de Breogan" que aparece no hino galego, que se interpreta no sentido político do nacionalismo actual, mas que choca com outros versos do próprio poema original de que se toma o hino (mas que não se
  • 33. cantam nele) onde a Galiza é chamada de "região de Breogan". Mas há uma outra interpretação concorda muito bem com uma outra passagem do poema original (também não incluída no hino) em que se invoca a "Grei de Breogan". Breogan, para Pondal, era o mítico progenitor de todos os galegos, e por isso a interpretação mais cabal da palavra "nação" nesse contexto seria a etimológica: "conjunto dos nascidos de...". "Nação" é um cognato de "nascer". A "nação de Breogan" seria o conjunto dos nascidos de Breogan, a sua descendência. Embora a palavra "nação" seja latina, o conceito é anterior à fundação mesma de Roma. Séculos antes de que o latim começasse a ser escrito, já se falava na Bíblia inúmeras vezes da "nação de Israel" (a primeira em Éxodo 40, 38), o que, como no hino galego, quer dizer "o conjunto dos nascidos de Jacob". Como se sabe, Israel é a alcunha que ganhou Jacob (o mítico progenitor dos míticos progenitores das míticas doze tribos) após ter lutado com um anjo que lhe enviava deus, e quer dizer "aquele que luta contra Deus", o que já adianta o carácter complexo das futuras relações entre os judeus e a divindade. Daí que essa expressão às vezes apareça também traduzida como "povo de Israel", "filhos de Israel" ou "os israelitas", ou como simplesmente "Israel". O nome da "nação" funde-se com o deu seu procriador, e surge assim o primeiro nome de "nação" (não de "povo", nem de Estado) de que há registo. O conceito de "nação" aparece pois como o de "conjunto da descendência de alguma personagem mítica". O nacionalismo de Pondal é nacionalismo sim, mas não no sentido político actual. É um nacionalismo etimológico, "bíblico", "mítico", "religioso". Na verdade todo o nacionalismo tem bastantes elementos comuns com a crença religiosa. Para começar, o carácter axiomático e irracional da sua tese fundamental: a existência "per se" dessa nação ou desse deus. É claro que a expressão "nação de Israel" aparece apenas nas versões romances (e cristãs). No original hebreu a expressão que aparece é "beth Israel", traduzida na maior parte das versões romances modernas (e em todas as traduções judias, que nunca tiveram como referência a tradução latina mas a original hebraica) como "casa de Israel". Ora "beth" aqui não significa "casa" como edifício, mas no mesmo sentido "dinástico" com que se usava até há pouco no mundo rural galego, onde todo o mundo sabia de que "casa" era, que nada tinha a ver normalmente com o edifício que habitava. O sistema é idêntico ao bíblico, porque a denominação da "casa" faz-se, não a partir do nome "legal" de um indivíduo tomado como "patriarca" (chame-se Jacob ou José Pereira), mas da sua alcunha (seja "Israel" por ter lutado conta deus, seja "da Raposa" por José Pereira ter passado a ser conhecido como "Pepe da Raposa" após ter caçado uma). Os teóricos descendentes do primeiro, durante milénios, serão "da casa de Israel", ou "os de Israel", ou os "israelitas", e os descendentes reais do segundo, durante várias gerações mas nem tantas, serão "da casa da Raposa", ou "os da Raposa". Não existe a denominação "os rapositas", mas é só por falta de tempo histórico para ela poder coalhar. Este não foi apenas "o nascimento de uma nação". Foi o nascimento do conceito de "nação". Se os nossos nacionalistas pretendessem aderir com coerência à campanha de boicote aos produtos de Israel, deveriam deixar de o ser, porque o nacionalismo, como tantas outras coisas que nos fazem a vida mais fácil, é um invento israelita, ainda que não sei se por este a humanidade deve estar-lhes realmente muito agradecida. Naturalmente que há outros nacionalismos menos "românticos", ou menos "essencialistas", como o de muitos países africanos actuais, que se reconhecem como fruto do acaso histórico de ter sido colonizados por uma dada potência. No mundo antigo, por exemplo, ninguém relacionava fronteiras com línguas ou culturas. Era antes ao contrário: eram os Estados que conformavam os domínios linguísticos e usos culturais. Os povos invadidos tinham (e não sem razão) o sentimento apenas de terem mudado
  • 34. de senhor. Pare eles Estados e fronteiras eram mero fruto de interesses pessoais, de acasos históricos e de conquista. Concepção, já agora, bastante mais lógica, racional e baseada nos dados históricos objectivos, do que a crença mítica de que um dado território pertence desde a origem dos tempos a um dado grupo humano que também existiu desde a noite dos tempos (Spengler, uma das bases teóricas do nazismo, dizia que as nacionalidades e culturas nasciam dos lugares, como o musgo nasce da rocha. E esta concepção inatista subjaz a todos os nacionalismos românticos). Até ao século XIX a única manifestação "nacionalista" na história da humanidade tinha sido a revolta judia de 66 d.C. Galaicos, Lusitanos, Íberos, Gauleses, Britânicos e Germânicos, lutaram contra os romanos antes da conquista, fieis aos seus "senhores naturais". Ora, uma vez que foram conquistados, assumiam com "fair play" que tinham perdido o jogo, mudavam sem problemas de "camisola" (quer dizer de armadura) e passavam sem mais a "jogar como romanos", a fazerem parte entusiasta, por exemplo, das legiões que iam alargar o império pelo oriente. Os judeus não, porque a particularidade (realmente extravagante na altura) do seu monoteísmo os impedia de aceitarem o culto ao Imperador e admitirem qualquer poder acima do seu deus único e ciumento. Os nacionalismos nunca se deram bem com os judeus. Para já porque a sua presença rompe os esquemas dos nacionalismos modernos, como corpo estranho que desmancha a sua fantasia de unidade étnica, cultural e linguística, ao longo da história, de um território. Também porque, já não a sua presença nos territórios que deus, ou a natureza, tinha dado aos eslavos, aos germanos ou aos celtas, mas a sua mera existência como povo, punha em causa os princípios mesmos do nacionalismo moderno, que pretende estabelecer una relação biunívoca entre língua, cultura e território. Diz-se que o judaísmo, a contrário do Cristianismo ou Islamismo, que santificam uma porção de espaço (uma igreja, uma mesquita, ou um país inteiro) optou, expatriado pelos romanos, e destruído o seu único templo pelos mesmos, por santificar uma porção de tempo: o Shabat. Talvez por isso tenham sobrevivido, no tempo, a todos os seus inimigos. Porque os judeus não precisavam de ter um território, nem uma língua comum, nem um Estado, nem bandeira, nem exército, nem polícia, para manterem teimosamente a sua delgada identidade, a atravessarem o espaço e a permanecerem do tempo, infiltrados por todas as partes do mundo e ao longo de todos os séculos da história. Podemos concluir que os nacionalismos não se dão bem com o judaísmo por "pura inveja". Todos os movimentos (neonazis, racistas, islamistas, etc.) que temos visto ao longo deste estudo, referem-se a si próprios com o eufemismo de "movimentos identitários". Mais um traço comum com os movimentos "progressistas", que também consideram fulcral a questão "identitária". Quando vejo criticar a proibição do véu islâmico como um ataque à identidade das mulheres islâmicas que querem manifestar publicamente que são seres de segunda categoria, a deverem sempre submissão a um homem (pai ou marido), penso: "Que classe de identidade é essa que pode levar o vento?". A identidade dos judeus pode parecer ainda muito mais frágil do que um véu, mas uma racha de ar não a consegue levar. Os judeus nunca basearam a sua identidade nem numa peça de roupa (só os ultra-ortodoxos, mas esses são uma questão à parte), nem num território, nem numa língua. Baseiam-na apenas nunca coisa quase que intangível: a memória. A simples memória de serem "judeus", a consciência de não pertencerem a nenhuma língua, a nenhuma terra (na sequência da II Guerra Mundial, muitos países, entre eles Espanha, qualificavam os refugiados judeus que lhes chegavam, como "apátridas"). Com tão pouca coisa os judeus conseguiram, porém, sobreviver como povo ao longo de milénios. São o único povo do mundo antigo (Junto com os chineses! Compare-se!) que se mantém como tal até aos nossos dias. Os gregos modernos ou os egípcios actuais não podem considerar-se realmente como uma continuação dos antigos. Outros povos, como os aborígenes australianos, por exemplo, mantiveram-se, pelo contrário, excessivamente iguais,
  • 35. quer dizer: não "através da historia", mas a custo de viverem isolados do mundo e alheios a ela. Só os judeus conseguiram manter-se como tais sem viverem isolados, mas participando activamente em todas as mudanças que o mundo experimentou nestes últimos 2.000 anos. Os judeus foram os únicos que encontraram (provavelmente com a ajuda dos seus múltiplos e sucessivos perseguidores) a arte de se manterem como tais "através da história" E isto é uma outra coisa que nenhum nacionalismo lhes podia perdoar! Há curiosamente uma traço que o judeus ultra-ortodoxos compartilham com os anti-semitas (e daí que muitas vezes apareçam como os seus aliados): o seu ódio contra o judeu apátrida, contra o "judeu internacional". Os primeiros não lhes perdoam a ruptura entre a identidade judia e a religião judia. E os segundos não lhes perdoam que a sua só existência ponha em causa a ideia mesmo do "nacionalismo". Não lhes perdoam que eles tenham encontrado a maneira de ser eles próprios e estar no mundo. Do que mais gosto do "estilo de pensamento judeu" é que é sempre contraditório (e a este traço alguma coisa deve dever-lhe a dialéctica marxista, tão esquecida pela nossa esquerda monofásica). Assim, os judeus, apesar de terem inventado o nacionalismo, foram também sem dúvida os primeiros "cidadãos do mundo" do mundo. Se dizíamos que duas das bandeiras que uniam aquela "tripla aliança" de ultra-esquerdistas, islamistas e ultra-direitistas, eram o ódio a Israel (eufemismo do ódio aos judeus, à "casa de Israel") e o ódio à mundialização, no ódio ao "judeu internacional" sintetizam-se ambas. Há muitas coisas que os nacionalismos não podem perdoar-lhes aos judeus. E o galego não podia ser, nisso, uma excepção. É curioso que apresente esta vertente anti-semita tão acusada, tomando em consideração de que se trata de um "anti-semitismo sem judeus", dado que, quando o nacionalismo galego começa, havia cinco séculos que a península ficara (graças a uns curiosos aliados: os Reis Católicos. O ódio comum cria estas amizades imprevistas) "limpa" de judeus. Eu penso que a apresenta porque se trata de um "nacionalismo mimético" (que é o pior que se pode dizer de um nacionalismo). No nacionalismo alemão os judeus incomodam para eles se poderem sentir "mais alemães". O nacionalismo galego não é anti- semita para ser "mais galego" mas para ser "mais nacionalista". Para se sentir mais integrado nos movimentos "identitários" mundiais, que também o são. Nos anos trinta o modelo era o nazismo. Na actualidade os movimentos "alternativos", mas afinal pouco importa. Como vimos ambos compartilham esta fobia, chamem-lhe uns anti-semita, chamem-lhe outros anti- israelita. Essa corrente racista, celtista, ou mesmo "barbarista" (face a efeminação da romanização, a primeira "mundialização") do nacionalismo galego, que já vem de Pondal, e chega até aos nossos dias, tem um dos seus máximos exponentes na figura de Vicente Risco, que em 1944 publicaria uma documentada antologia do anti-semitismo intitulada "Historia de los Judíos desde la Destrucción del Templo", em que precisamente hostilizava a figura do "judeu internacional", embora fosse "tolerante" com a do "judeu nacional" (o do gueto voluntário, o ultra-ortodoxo). Na altura Beiras teria os seus sete ou oito anos. Dada a grossura do volume, não é difícil conjecturar que, em grande parte, deveram crescer juntos. Mesmo pode ter acontecido que Vicente Risco tivesse feito "festas" ao menino Beiras com as mãos sujas da tinta do libelo anti-semita. O caso de Beiras é precisamente paradigmático, por isso, em relação a todo este assunto. As gerações posteriores, aquelas que nos setentas ou oitentas nos podíamos identificar como "nacionalistas galegos de esquerdas", fazíamo-lo numa espécie de revolta edípica contra a geração dos nossos país, que tinha suportado, ou pelo menos consentido, o franquismo. Havia um doloroso processo de ruptura ideológica contra a educação no nacional-catolicismo espanhol que tínhamos recebido.
  • 36. No caso de Xosé Manuel Beiras, não. Ele nasceu no mesmo ano da guerra civil (1936), no seio da família de um dos vultos do nacionalismo galego da pré e da pós-guerra, Manuel Beiras. Montaigne foi um caso inaudito de uma criança educada pelo pai, em pleno século XVI, com o latim como língua materna, como se fosse um cidadão do antigo Império Romano numa ilha linguística, rodeada de francês, no meio da França. Xosé Manuel Beiras foi também um caso de rapaz criado numa bolha de plástico, educado com o nacionalismo galego como língua materna, como se fosse cidadão da República Independente da Galiza (ou quem sabe se do Antigo Reino da Galiza, ou mesmo da mesmíssima tribo de Breogan, de Breogan...) numa ilha ideológica, rodeada de nacionalismo espanhol, no meio da Espanha franquista. Ele é o verdadeiro "filho de proveta" do nacionalismo galego. Não teve de fazer revolução edípica alguma para ser nacionalista galego. Ele começou a ver o mundo com esses anteolhos desde que abriu os olhos. O nacionalismo dele é continuidade, e não ruptura. E daí que seja um raro exemplo para podermos ver a continuidade das linhas de pensamento nacionalista. Bom, sejamos honestos, ainda que seja a custo de sermos complexos: nalguns aspectos ele fez, sim a sua revolução edípica (sem ir mais longe, ao criar a AGE, acabou por fazer precisamente aquilo que repudiava o pai e que o levara a separar-se do Partido Galeguista: coligar-se com a esquerda "espanholista") mas noutros muitos (provavelmente naqueles absorvidos de uma forma mais inconsciente por terem a ver com preconceitos muito mais ancestrais) não, e mesmo fez questão de inserir, já nos últimos anos de vida do pai, o Partido Galeguista de direitas que ele "ressuscitara" na Transição, dentro de um BNG que se pretendia "muito de esquerda", como a marcar simbolicamente esta continuidade com o galeguismo mais tradicional, e mais tradicionalista. Um ano antes de ele nascer (1935) o pai tinha fundado "Dereita Galeguista", uma cisão da ala direita do Partido Galeguista, desconforme com a coligação deste com partidos da esquerda espanhola na Frente Popular. E fundou-a junto com Risco e Filgueira Valverde. Com os mesmos Risco e Filgueira Valverde que naqueles anos se dedicavam a percorrer as montanhas de Ourense a medirem os crânios dos paisanos (no que eles denominavam de "estudos de etnografia antropométrica") para chegarem à conclusão da pureza indo-europeia da raça galega, muito mais limpa do que o resto dos peninsulares do elemento "semítico", o que constituía um dos nossos elementos "identitários". Os mesmos Risco e Filgueira Valverde cujos estudos de etnografia nas páginas da revista Nós reflectiam as ideias racistas de Frazer, etnólogo britânico que foi outro dos precursores do nazismo e do conceito de "raça ariana". O mesmo Filgueira Valeverde autor de um hino das "Mocidades Galeguistas" que parecia das "Juventudes Hitlerianas". O mesmo Risco que só um ano antes (1934) publicava o livro de memórias "Mitteleuropa" em que fazia um elogio explícito e entusiasta de Hitler e da Alemanha nazi. Foi neste ambiente ideológico e cultural que Xosé Manuel Beiras se criou. Eu tenho ouvido Isaac Díaz Pardo (outro "filho" do galeguismo da época, mas, nos seus últimos anos, uma das mentes mais livres deste país) comentar, divertido, que quando via os trisqueles e ouvia os cânticos e as ideias que pululavam nos meios nacionalistas em que o pai tentava inseri-lo, com bom olfacto político abjurava de toda aquela "fascistada". Eu nunca tenho ouvido Xosé Manuel Beiras fazer este "exame de consciência". Não sei se Risco teve alguma vez o bebé Beiras no colo. Não sei nem se Risco teve alguma vez algum bebé no colo. Talvez o pai dele, a partir do início da guerra, já não lhe falava. Curiosamente, o nacionalismo galego nunca lhe perdoou a Risco a sua adesão ao franquismo, mas nunca lhe censurou a sua anterior adesão ao nazismo. Esse simples dado é suficiente para esclarecer alguma das linhas mais escuras do "pensamento galeguista". Na verdade a ilha nacionalista galega em que se educou o menino Beiras era tão anti-semita como o mar de