3. De 27 de janeiro a 1o
de fevereiro de 2009, a
cidade de Belém, Pará, sediou a nona edição do
Fórum Social Mundial.
4. Um evento que contou com
aproximadamente cem mil inscritos,
provindos de mais de 160 países.
5. Representantes de movimentos sociais, de tradições
religiosas e espirituais, ONGs, intelectuais solidários,
universitários, estudantes, cidadãos do mundo.
21. Dirão - os economistas, as corporações
transnacionais e os detentores do poder -
que o capitalismo vive de crises,
e que esta é mais uma crise cíclica.
22. E tentarão nos empurrar mais do mesmo,
mais consumo, mais conflitos,
mais individualismo...
23. Porém, a crise atual é terminal.
O desafio não é remediar o que não tem
conserto, mas buscar novas alternativas.
24. que, em sua natureza, é voraz, acumulador,
depredador do meio ambiente, criador de
desigualdades e sem sentido de solidariedade,
atesta a sua própria falência.
O sistema atual, regido pelo capital
e pelas leis do mercado,
25. Um sistema onde
a cada quatro
minutos uma pessoa perde
a visão,
em decorrência da
carência de vitamina A,declara o seu
próprio fracasso.
26. Um sistema onde
a cada cinco segundos
uma criança com menos
de cinco anos morre de
fome ou desnutrição
atesta a sua
própria falência.
27. Um sistema que criou
desumanos sofrimentos e
gritantes desigualdades.
28. O sistema vigente, que tem como pilar
um individualismo avassalador,
demonstrou-se incapaz de assegurar
o bem-estar da humanidade.
29. Um individualismo que se revela
na linguagem cotidiana:
O meu emprego, o meu salário,
a minha casa, o meu carro, a minha família...
30. Um sistema onde ninguém é levado
a construir algo em comum,
onde a competição, o acúmulo e a ostentação
predominam em detrimento
da solidariedade, da caridade e da compaixão.
31. Um sistema onde as crianças aprendem
tão cedo a conjugar o verbo comprar,
mas que desconhecem o que seja compartilhar.
32. Um sistema que
incentiva o consumismo
inconsequente e
desenfreado,
e que tanto cultua
os bens materiais.
34. Um sistema que
desconhece o amor,
a caridade e a
compaixão,
e que se fez cego e
surdo para o apelo
do excluído,
do necessitado.
36. O oposto do amor
não é o ódio,
mas a indiferença.
37. Um sistema que por
longas décadas alega
não possuir recursos
para promover
a educação, a saúde
e para aplacar
a fome
mundial,
mas que tanto gasta
com guerras, conflitos
e com a indústria
bélica,...
38. ...e que se mostra capaz de
mobilizar em poucas horas
três trilhões de dólares
para socorrer bancos,
montadoras e corretoras,
atesta seu próprio
fracasso terminal.
39. Como foi que permitimos
chegar a este ponto?
Quanto tempo ainda
haverá de passar até
que resgatemos a nossa
humanidade perdida?
40. Um punhado de
farinha e água
para enganar a fome,
acrescido, nos dias de sorte,
de um pouco de sal.
42. Além da crise financeira,
nos deparamos também
com a crise ambiental.
43. A falta de solidariedade que impera
nas nossas relações sociais.
E a falta de solidariedade
para com a Natureza.
44. A ânsia pelo crescimento econômico, aliada ao
consumismo compulsivo, resultou na dilapidação
sem precedentes da Natureza.
45. O atual modelo econômico fracassou contra
a própria humanidade e contra o planeta.
46. O bem-estar de todos e a preservação da
Terra são sacrificados ao lucro de poucos.
47. O consumo inconsequente aumentou
o desperdício, a produção de lixo,
e os impactos ambientais.
51. O desenvolvimento técnico-científico, dissociado da
consciência ecológica, fez com que saqueássemos os
recursos naturais numa escala sem precedentes.
52. E a ruptura entre o trabalho e o cuidado fez
com que o afã desmedido de produção
se revertesse na ânsia incontida
de dominação das forças da natureza.
53. Os limites do capitalismo são os limites da Terra.
Já encostamos nestes limites, tanto da Terra
quanto do capitalismo.
54. Já não mais podemos prosseguir
com a perversa lógica do capital,
baseada no acúmulo e no desperdício:
55. “Quem não tem quer; quem tem quer mais;
quem tem mais diz que nunca é suficiente.”
56. A lógica do capital que tanto incentiva
o supérfluo, a ostentação e o desperdício...
58. Imagem de celulares descartados,
quase todos em perfeitas condições de uso.
Somente nos EUA, 426.000 aparelhos
são jogados fora diariamente,
trocados por modelos mais novos.
59. E juntamente com os aparelhos vão-se embora
também carregadores, baterias, acessórios...
61. Os atuais padrões de extração, produção e
consumo, mostraram-se insustentáveis,...
68. Precisamos de
um novo paradigma
de civilização
porque o atual chegou
ao seu fim e exauriu
suas possibilidades.
69. Projeções feitas por
pesquisadores e
cientistas ambientais
mostram que, se o
consumo continuar
no ritmo atual,
em 2050
precisaremos de dois
planetas Terra.
70. Qual o mundo que
iremos deixar para
as próximas
gerações?...
71. Qual o mundo que
iremos deixar para
as próximas
gerações?...
80. Devemos lançar
um novo olhar
sobre a realidade,
adotar um novo
paradigma de
relacionamento com
todos os seres.
81. O universo caminhou
15 bilhões de anos para
produzir o planeta
que habitamos,
essa admirável obra
que nós, seres
humanos, recebemos como
herança,
para cuidar como jardineiros,
e preservar como
guardiões fiéis.
83. Uma mesma Fonte alimentadora, misteriosa e
inominável, sustenta e confere vida a tudo que existe.
O mesmo Sopro permeia toda a existência.
84. A vida é milagre,
tão belo quanto
curto,que deve ser
cultivado como
as flores mais belas.
85. Como nunca antes na história
o destino comum nos
conclama a buscar um novo
começo.
86. Promover a ecologia do cuidado,
que zela pelos interesses de toda
a comunidade de vida.
Coexistir com respeito,
cooperação e harmonia
com os demais
moradores deste
pequeno planeta,
- animais, vegetais,
seres humanos.
101. “Onde é que,
no olhar da criança,
começa o céu e
acaba a terra?”
103. O texto desta apresentação se baseia em
palestra proferida por Leonardo Boff
durante o Fórum Social Mundial,
Belém, Pará, janeiro de 2009.
Para saber mais acerca do tema, acesse:
www.forumsocialmundial.org.br
www.leonardoboff.com.br