2. O primeiro estudo académico, com ampla
divulgação, que investigou a importância crítica do
espaço e lugar na mobilização dos movimentos
sociais, e que incluía a análise de movimentos lésbicos
e gays, não é da área da Geografia.
Manuel Castells, um sociólogo, no seu livro “The City
and the Grassroots” (Castells, 1983) explora
movimentos sociais urbanos modernos a partir de uma
análise da organização do espaço.
3. Os primeiros trabalhos da área da geografia sobre
sexualidades, e especificamente os que abordaram
temas relacionados com a
homossexualidade, centraram-se no mapeamento de
“guetos gay” e bairros nas cidades ocidentais
contemporâneas.
Estes estudos foram criticados pela sua abordagem
moralista e heterossexista às relações sociais e sexuais
de lésbicas e gays (Bell & Valentine, 1995).
4. Na década de 1990 surgiram um número significativo
de estudos sobre sexualidades e espaço com uma
abordagem positiva, utilizando métodos etnográficos e
integrando perspetivas de lésbicas e gays.
5. Embora na década de 1990 os principais temas de
estudo fossem: o impacto das comunidades gay em
áreas urbanas, as territorialidades de áreas gay
residenciais e de negócio, o poder do voto gay como
reação à hostilidade e opressão, e o papel da
sexualidade nas dinâmicas espaciais do capitalismo
(Knopp, 1990, 1992), a hegemonia da
heterossexualidade nas relações sociais e nos contextos
diários em todos os espaços como a
rua, casa, trabalho, zonas comerciais, etc., começa
também a ser um tema de crescente interesse na
investigação geográfica (Davis, 1992;
Valentine, 1993a, 1993b).
6. “Mapping desire: geographies of sexualities” (Bell & Valentine, 1995)
é um marco na investigação geográfica sobre sexualidades. A relação
entre espaço e sexualidades, as componentes materiais e simbólicas
do espaço e as formas pelas quais o espaço é produzido são ilustradas
em contextos específicos como bairros urbanos, zonas rurais, ilhas de
fantasia e a casa.
A diversidade das identidades abordadas neste livro revela várias
formas de “ser” e de “fazer sexualidade”, a multiplicidade e as formas
contraditórias em que a sexualidade é vivida.
Os editores reconheceram as limitações da sua investigação por ser
baseada em informação recolhida junto de “brancos” que vivem em
cidades contemporâneas no Reino Unido e EUA,
A investigação sobre sexualidade noutros contextos sociais e culturais
poderia permitir explorar variações interculturais da diversidade e
complexidade das sexualidades.
É possível argumentar que após 17 anos estas limitações ainda são
atuais.
7. O conceito de cidadania sexual como forma de pensar
as constantes transformações das paisagens
políticas, legais, sociais e culturais da
sexualidade, começa a emergir nos inícios dos anos
2000.
Começam a surgir estudos sobre a relação da cidadania
sexual com o mercado, casamento, contexto
militar, cidade, família; e a relação da sexualidade com
o consumo, espaço e globalização (Bell & Binnie, 2000).
8. Um passo significativo para a visibilidade das geografias
e geógrafas lésbicas foi dado por Gill Valentine com a
edição do livro “From nowhere to everywhere: lesbian
geographies” (Valentine, 2000). Este livro traça a
emergência das geografias lésbicas e o seu contributo
para a compreensão da relação de constituição mútua
entre espaço e sexualidade.
Explora a produção e regulação do espaço
heterossexual no trabalho, casa, universidade, rua e
bairros, e de como as lésbicas definem espaços físicos e
intangíveis através de aspetos tais como o vestuário, a
linguagem e a música.
9. Novas interpretações de espaço e sexualidade surgem
com base na teoria queer, desafiando a natureza
desincorporada do conhecimento
geográfico, reafirmando o valor do social e do material
na teorização sobre identidades queer.
O corpo humano é estudado como um veículo para o
conhecimento das relações entre pessoas e lugares, de
como a identidade sexual se relaciona com
comunidades, e de como os seres humanos “fazem”
género através de práticas reguladas como a
heterossexualidade (Bell, 2001).
10. Uma abordagem mais política explora as relações entre
as nações, globalização e dissidência sexual, focando
diversos aspetos como: mobilidade queer, migração e
turismo, aspetos económicos da globalização
queer, políticas queer do pós-colonialismo, políticas
espaciais da SIDA, cosmopolitismo queer e
nacionalismo, e cidadania sexual (Binnie, 2004).
11. O livro “Geographies of Sexualities: Theory, Practices and
Politics” (Browne, Lim & Brown, 2009) apresenta uma
abordagem interdisciplinar das geografias das sexualidades.
O seu conteúdo é muito diversificado, desde estudos de
identidades lésbicas e gay, estilos de vida e práticas
corporais, até à ilustração de que as categorias não são
finitas mas fluídas.
Salientas as potenciais interseções, sobreposições e
cruzamentos entre heterossexual e homossexual, gay e
lésbica, ou gay, hetero e queer.
Tendo em consideração que as sexualidades são
construídas em função da classe, raça e etnicidade
questiona não só a heteronormatividade mas também a
homonormatividade e outros modelos de relações de
poder sexualizadas.
12. A sexualidade é uma área legítima e significativa de
investigação geográfica, abrangendo diversas áreas
desde a geografia cultural, social e feminista até à
geografia política e económica.
13. Referências bibliográficas
• Bell, D. & Binnie, J. (2000). The sexual citizen: queer politics
and beyond. Cambridge: Wiley-Blackwell.
• Bell, D. & Valentine, G. (Eds.) (1995). Mapping Desire:
Geographies of Sexualities. London: Routledge.
• Bell, D. (1991). Insignificant Others: Lesbian and Gay
Geographies. In Area, Vol. 23, No. 4, pp. 323-329.
• Bell, D. (Ed.) (2001). Pleasure zones: bodies, cities, spaces:
Space, place, and society. Syracuse University Press.
• Binnie, J. (2004). The globalization of sexuality. London: Sage.
13
14. Referências bibliográficas
• Browne, K., Lim, J. &Brown, G. (Eds.) (2009). Geographies of
Sexualities: Theory, Practices and Politics. Surrey: Ashgate.
• Castells, M. (1983). The City and the Grassroots: A Cross-
Cultural Theory of Urban Social Movements. Berkeley:
University of California Press.
• Davis, T. (1992). Where should we go from here? Towards an
understanding of gay and lesbian communities. Paper
presented at the twenty-seventh International Geographical
Congress, Washington DC, August.
14
15. Referências bibliográficas
• Knopp, L. (1990). Some theoretical implications of gay
involvement in an urban land marker. Political Geography
Quarterly 9:337-352.
• Knopp, L. (1992). Sexuality and the spatial dynamics of
capitalism. Environment and Planning D: Society and
Space, 10:651-669.
• Valentine G, (1993b). Negotiating and managing multiple
sexual identities: lesbian time-space strategies. Transactions
of the Institute of British Geographers, New Series 18 237-
248.
15
16. Referências bibliográficas
• Valentine, G. (1993a). (Hetero)sexing space: lesbian
perceptions and experiences of everyday spaces.
Environment and Planning D: Society and Space, 11, pp. 395-
413.
• Valentine, G. (Ed.) (2000). From Nowhere to Everywhere:
Lesbian Geographies. New York: Harrington Park Press.
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