1. C1 Araçatuba, quarta-feira, 18 de maio de 2011
Espetáculo
O Bando Arteiros faz amanhã em Birigui uma apresentação que mescla
várias linguagens artísticas, como música, teatro e literatura. C3
ENSINO
EQUILÍBRIO A professora e linguista Roseli Imbernom do Nascimento explica que a
gramática normativa prescreve regras e a linguística estuda a língua: “o ideal é a união das
duas áreas para que não se vá ao extremo do 'pode tudo' e do 'nada pode’”
Paulo Gonçalves/Folha da Região - 17/05/2011
A língua em debate
Livro distribuído pelo MEC acende polêmica entre o falar “certo” ou “errado” ao
considerar como correta frase sem concordância no plural
Araçatuba foi distribuído em 4.236 escolas tuda a língua. O ideal é fazer a centivado a falar daquela forma que a forma de falar varia de NORMA
Talita Rustichelli do Programa Nacional do Livro união das duas áreas, para que se o professor não tiver a respon- acordo com o momento e fina- O professor Tito Damazo,
talita.nayla@folhadaregiao.com.br Didático para a EJA do MEC. De não se vá ao extremo do 'pode sabilidade e domínio do assun- lidade. "Assim como temos doutor em Literaturas em Lín-
acordo com dados do Ministério, tudo' e do 'nada pode'", diz. to", afirma Roseli. uma roupa adequada para cada gua Portuguesa, afirma que é
U
m livro distribuído pelo cerca de 500 mil alunos tiveram "Não há erro na não utilização situação, a língua também de- consensualmente admitido pela
MEC para ser utilizado acesso ao material. da concordância, por exemplo, MOMENTO ve ser adaptada às circunstân- gramática e pela linguística que
na EJA (Educação para A professora e linguista Ro- mas inadequação de uso formal A professora de português cias. O sambista Adoniran Bar- a aprendizagem deve considerar
Jovens e Adultos) tem levantado, seli Imbernom do Nascimento da língua. O aluno pode ser in- Cidinha Baracat acrescenta bosa, por exemplo, cantava e as várias formas de linguagem.
nas últimas semanas, uma discus- afirma que à escola cabe o ensi- falava de forma considerada er- "A língua padrão, como o pró-
são sobre o ensino da língua por- no formal, da gramática norma- rada para atingir determinado prio nome diz, tem uma norma.
tuguesa. O livro "Por uma vida tiva. Para ela, o aluno tem que público". Não se pode deixar que cada
melhor", da coleção "Viver, ter o conhecimento da padroni- Cidinha também defende um leia e escreva como bem en-
aprender", tem um capítulo desti- zação da língua, mas sem que que todos os registros (várias lin- tender, senão não se constitui
nado a explicar aos alunos as for- sejam desprezadas as variações guagens) que são usados para uma língua. Mas também, não
mas culta e popular da língua. linguísticas. "Há professores, comunicação são igualmente vá- se pode desprezar as outras for-
A polêmica tem girado em por exemplo, que usam o perso- lidos. "Todos são importantes. mas de linguagem", diz.
torno do falar "certo" ou "erra- nagem Chico Bento em exercí- O professor não pode dizer que Para o professor, não se po-
do". Um exemplo dado pelos au- cios para corrigir sua fala. Isso é o aluno fala errado, mas deve de ser radical e nem dizer que a
tores é a frase "os livro ilustrado preconceito", diz. apresentar-lhe as outras formas. língua padrão é exclusividade da
mais interessante estão empresta- Ela explica que a linguísti- A escola existe para que o alu- elite. "Não se pode manter uma
do", com o qual explicam que, ca, ciência que embasou a auto- no conheça novas formas de co- forma de discriminação com deter-
na variedade popular, o fato de ra do livro, trata de descrever e municação, principalmente a minados grupos sociais. O conhe-
haver a palavra "os" (no plural) já explicar as línguas naturais. "En- culta. Para aprender a lingua- cimento e domínio da língua po-
indica que se trata de mais de quanto a gramática normativa gem falada não é preciso ir à es- dem auxiliar para que o indivíduo
um livro. O livro de português prescreve regras, a linguística es- cola", completa. cresça social e economicamente".
Aluno que comete erros de concordância
não deve ser discriminado, afirma MEC
O MEC defende que o tipos de norma: vulgar e cul- norma culta e da norma vul- loisa Ramos, em depoimento
papel da escola não é só en- ta. "O livro traz exercícios gar não dá o direito de discri- ao site Último Segundo (IG),
sinar a forma culta da lín- em que o aluno deve passar minar um aluno porque ele co- o livro não promove o ensino
gua, mas também combater frases da norma coloquial mete erros de concordância ao da maneira de falar e escre-
o preconceito contra os alu- para a forma culta de lingua- se expressar. ver. "A proposta da obra é
nos que falam linguagem gem, só isso", explica. "Até porque, com erros ou que se aceite dentro da sala
popular. não, ele se comunica. É preciso de aula todo tipo de lingua-
Nunzio Briguglio, jorna- DEBATE ensiná-lo. E é justamente o que gem, ao invés de reprimir
lista e secretário de comuni- Briguglio argumentou no a professora Heloisa Ramos se aqueles que usam a lingua-
cação do MEC, afirma que blog ABC Politico, do qual é propõe no seu livro". gem popular. Desta forma a
o livro não defende o uso colunista, que o fascinante de- escola contribui para a sociali-
da fala sem concordância, bate e o confronto da língua PROPOSTA zação e melhor aprendizado
mas que apresenta os dois falada e da língua escrita, da Para uma das autoras, He- do aluno".TR