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                              No Vale da Lua...


                                         I




        No meio da mata, aos pés da montanha, via-se uma tímida nuvem de
fumaça que subia ao céu, se confundindo com as nuvens.


        Estava frio. Era uma linda manhã de inverno. Surya acordara cedo e
colocara pães para assar. Estava encostada na mesa esperando a água ferver para
fazer seu chá de ervas, que ela mesma cultivava em seu quintal.


        Dentro de casa exalava um cheiro delicioso. Enquanto o pão assava, ela foi
tomar o banho. Colocara umas gotas de óleo essencial de maracujá na água, que
era calmante. Entrou na banheira devagar, com medo da água muito quente, mas
logo seu corpo se acostumou à temperatura e ela relaxou, enquanto bolhas de
espumas perfumadas estouravam ao seu redor.


        Fechando os olhos, seus pensamentos se voltam ao livro que estava
escrevendo. Ela passara parte da noite anterior reunindo pesquisas para continuar
seu trabalho e assim que terminasse o café da manhã, iria direto para o escritório,
que ficava do outro lado do quarto.


        Trinta minutos depois, ela se levanta da banheira veste seu roupão branco e
calça chinelos quentes e confortáveis. Enquanto espalhava por seu corpo o
hidratante preferido, ela olhava pela janela. Amava aquele lugar! Jamais se
arrependera de ter se mudado para lá, há cinco anos.


        Desde que saíra da cidade, sua qualidade de vida melhorara bastante.
Parara de fumar, sentia o cheiro das flores, do mato, dos pães que ela fazia e das
ervas que ela mesma cultivava nos fundos de casa. Não era mais uma mulher
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ansiosa. Ouvia o canto dos pássaros, a queda das águas das cachoeiras e até
mesmo o silêncio do vale cheio de flores coloridas.
        Acostumara-se a dormir cedo. Às vezes assistia a um vídeo, mas gostava
mesmo era de ler um bom livro ou mesmo sentar em seu escritório e escrever seus
contos. Desde pequena, amava escrever e mal imaginava que um dia aquilo seria o
seu ganha-pão, além de hobby.


        De vez em quando entrava na internet e matava a saudade da família e dos
amigos, além de se atualizar com as notícias do mundo. Muito raramente, havia
problema no sinal e ela ficava sem luz, sem rádio e internet, mas isso não a
preocupava. Ali se sentia segura e tinha mantimentos suficientes para passar um
mês tranquilamente. Ela escolhera esse mundo para si e não queria outra coisa.


        Terminou de passar o creme no corpo e pegou um conjunto macio de
moletom azul escuro. Calçou meias, tênis confortáveis e foi até a cozinha. Preparou
uma bandeja com uma fatia de pão que acabara de assar, untado com a manteiga
produzida ali mesmo no vale, um pedaço de queijo e com uma caneca de chá
fumegante, encaminhou-se para a varanda.


        Sentou-se na cadeira de balanço de madeira branca, descansou a bandeja
na mesa ao lado, agasalhou o corpo com uma manta macia bordada por ela mesma
e fitou o céu, aguardando o nascer do sol com suas belíssimas cores que a
encantava todas as manhãs. Suspirava de prazer ao presenciar essa cena e
agradecia a Deus por tamanha beleza.


        Estava relaxada, bebericando o chá com os olhos entreabertos, quando de
repente ouviu um barulho à sua esquerda. Era Zion, seu labrador cor chocolate. Ele
chegou perto dela, lambeu sua mão e fez sinal com a cabeça, como se quisesse lhe
mostrar alguma coisa. Ele estava ansioso e latia bastante.


        Estranhando o comportamento nervoso do cachorro, ela se pôs de pé, vestiu
mais um casaco e uma touca azul para se proteger do frio. Ninguém aparecia por ali
a não ser José, o rapaz do armazém local, que trazia suas compras, encomendas e
cartas uma vez por mês.
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        Encaminhou-se mata adentro seguindo o cão, até chegar a mais ou menos a
150 metros de casa, onde encontrou um corpo caído no chão. Encaminhou-se até lá
com cuidado e arregalou seus grandes olhos cor de mel, surpresa. Era um rapaz
bastante jovem. Aproximou-se dele e sentiu seu pulso. Ele estava fraco, porém, vivo.
Seu corpo estava quente, ele queimava de febre. Surya podia ver as várias picadas
e feridas nas partes descobertas do seu corpo, além de alguns cortes.


        Olhando para os lados sem saber o que fazer, voltou rápido para casa,
pegou um edredom no armário da sala e voltou correndo para a mata. O homem
continuava na mesma posição. Seu rosto estava pálido e seus lábios meio azulados,
sinal que ele passara a noite ali sob o frio intenso.


        Apalpou o corpo do homem e reparou que ele tinha um osso trincado no
tornozelo direito. Providenciou uma tala com uma madeira encontrada no chão e o
pedaço de uma toalha que ela trouxera para limpar o rosto do rapaz. Com cuidado,
ela passou o edredom por baixo do corpo dele, dobrou as pontas, fez uns nós e
começou a puxá-lo vagarosamente evitando machucá-lo mais.


        Demorou um pouco, mas logo chegou até a sua casa. Havia uma rampa na
lateral da varanda, onde José passava o carrinho de mantimentos. Ela arrastou o
corpo por ali com cuidado, entrou na sala e olhando rapidamente ao seu redor,
decidiu deixar o corpo dele no tapete macio em frente a lareira.


        Tirou o edredom e não hesitou em despi-lo das roupas úmidas e sujas, afinal
ele estava ferido e ardendo em febre. Enquanto o despia, ela sentiu seu rosto
quente ao observar a força de sua musculatura. Foi até a cozinha e voltou com uma
bacia com água quente, esponja e toalhas limpas. Ajoelhou-se ao seu lado e lavou-o
com cuidado.


        Cobriu-o com uma manta e levou a bacia com as toalhas e suas roupas para
a lavanderia. Abriu a porta dos fundos e pegou algumas ervas no quintal. Separou-
as na mesa de granito da cozinha e preparou um curativo para os machucados do
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rapaz. Também fez um chá de ervas para que baixasse sua febre e evitasse uma
infecção.


       Quando terminou, ela se sentia exausta. Sentara-se na poltrona de frente à
lareira para observar o rapaz, até que seu estômago fez um barulho engraçado.
Observando o relógio antigo em cima da lareira, ela viu que passara muito da hora
do almoço e sentiu fome. Foi até a cozinha, abriu a geladeira e separou ingredientes
para uma sopa.


       Assim que ficou pronta, ela foi até à sala e, enquanto tomava a sopa
silenciosamente, fitou o rosto do rapaz, procurando algum sinal de que ele acordava,
mas ele dormia profundamente, no entanto, sua febre estava cedendo. Pouco
depois, levantou-se e foi até a cozinha lavar seu prato e voltou à sala. Pegou um
livro na mesinha ao lado do sofá e enrolou-se numa manta quente e macia.
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                                           II




           Max entreabriu os olhos vagarosamente. Estava confuso. Não sabia onde
estava. Tentou mexer a cabeça, mas ela doía terrivelmente, o que o fez ficar imóvel.
De repente a viu. Seus cabelos loiros caindo de um lado da cabeça, que ficava
inclinada por causa do livro e do sofá. Ela usava um conjunto de moletom azul e
estava descalça, sentada em cima de uma de suas pernas, totalmente à vontade. A
mão que segurava o livro era muito bonita, seus dedos eram longos e delicados. Ela
mordia os lábios e às vezes fazia uma careta engraçada como se estivesse
“brigando” com algum personagem do livro.


           Seu olhar desceu para os pés da moça. Eram pés pequenos, brancos,
delicados. As unhas estavam bem pintadas com uma cor clara. Às vezes uma de
suas mãos desciam até os pés, massageando-os inconscientemente.


           Ela não possuía uma beleza estonteante, mas tinha um charme que nem
mesmo ela se dava conta. O formato de sua boca era perfeito e quando ela mordia
os lábios, Max sentia vontade de beijá-los, o que chocou seus pensamentos, afinal,
não a conhecia. Ela não era magra, tinha curvas como toda mulher deveria ter. Ele
não sabia precisar sua idade, mas ela parecia ter por volta de 32 anos de idade.
Definitivamente, ele gostava do que via!


           Surya sentiu uma sensação estranha. Levantou os olhos vagarosamente e
deu de cara com os olhos do rapaz encarando-a. Estremeceu levemente. Apertou os
lábios inconscientemente, numa mistura de timidez e desafio, ao se sentir analisada
por ele.


           Ele era magro. Quando o trouxera, vestia calça cáqui de boa qualidade, uma
camisa de manga comprida verde e uma camiseta por cima na cor bege. Calçava
tênis de caminhada e não encontrara nenhum cantil com água ou qualquer provisão
de comida.
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        Sentiu seu rosto esquentar ao lembrar de seu corpo despido. Ele parecia ler
seus pensamentos, pois dera um sorriso estranho. Ela não sorrira de volta, estava
irritada com a presença marcante daquele estranho que mexia com sua rotina
tranqüila.


        Colocando o livro sobre a mesa ao lado do sofá, ela levantou-se e ajoelhou-
se ao seu lado, tocando sua testa para medir a febre. Ainda estava febril, mas sua
aparência estava melhor.


        - Meu nome é Surya. Eu o encontrei desacordado há alguns metros daqui,
perto da cachoeira da Pedra da Lua. Você se lembra de algo?


        - Meu nome é Max. Lembro que me perdi e caí em um barranco quando
começou a chover. Foi difícil sair de lá e quando consegui, desmaiei de dor e
cansaço. Acho que perdi minha mochila e meu material de trabalho, falou ele
fazendo uma leve careta.


        Sua voz era rouca. Surya achou-a sexy. Franziu a testa.


        - Vou trazer um pouco de sopa pra você, afinal precisa se alimentar para
ficar forte e voltar logo para onde veio. Depois que falou isso, ela se desculpou,
achando-se mal-educada.


        - Desculpe, é que não costumo receber visitas... falou ela e saiu em direção
à cozinha, voltando logo depois com uma tigela de sopa.


        Ajeitou o travesseiro para que ele conseguisse se sentar e ficou ao seu lado,
tentando ajudá-lo.


        - Seu tornozelo tem um osso trincado, provavelmente por causa da queda e
você possui cortes e picadas por todo o corpo, mas amanhã cedo, o Dr. Marcos dá
uma olhada nisso tudo, já passei um rádio pra ele e ele está ciente do seu quadro.
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       - Obrigado, desculpe o trabalho... você vive sozinha aqui? Falou ele olhando
ao redor.


       Desconfiada, ela apertou os olhos e falou, mentindo:


       - Não. Moro com o meu marido e meu cachorro Zion, que é muito bravo.


       - Hey, calma, não sou um vagabundo, não precisa se preocupar comigo.
Você pode pegar a carteira no bolso de trás da minha calça e....


       Ele enfiou a mão por baixo do edredom e só então reparou que estava nu.


       - Er... tive que despi-lo para lavar e cuidar das suas feridas. Lavei também
as suas roupas, logo mais estarão secas, falou ela sentindo o seu rosto quente.


       - Tudo bem, obrigado. Provavelmente o seu marido deve estar chateado
com toda essa situação.


       - Não, ele está tranqüilo, falou ela desviando o olhar do dele.


       - Então, você pode pegar a carteira que está no meu bolso. Tem todos os
meus documentos e uma identificação da National Geografic, onde eu trabalho.
Estou na região há três dias para fazer uma matéria sobre o Vale da Lua.


       - Ah que interessante! Você é jornalista...


       - Sim, adoro o que faço. Estou hospedado na pousada “Sol da meia-noite”,
conhece?


       - Ah sim, é uma pousada muito boa. Eles não te indicaram um guia para que
não se perdesse por aí? Ela perguntou erguendo as sobrancelhas.


       - Sim, indicaram, mas há dois dias ele não aparece e decidi me aventurar
sozinho - falou com um sorriso irresistível de menino travesso.
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        - Você não é muito novo para ser um jornalista? Perguntou desconfiada.


        Sorrindo, ele respondeu:
        - Trabalho desde os 16 anos. Comecei Na NG como simples estagiário e fui
trocando de cargo até a minha primeira matéria, aos 19 anos de idade. Felizmente
viram o meu potencial e agora faço o que gosto: viajo e escrevo!


        Curiosa para saber a sua idade, Surya continuou dando-lhe a sopa.


        - Ah... e você escreveu essa matéria há muito tempo?


        Rindo de sua curiosidade, ele respondeu:


        - Está preocupada com a minha idade? O fato de eu ser novo incomoda
você Surya?


        - Não, não... gaguejou, corada.


        - Eu tenho 29 anos, aliás, seu nome combina muito com você. É indiano e
significa “luz do sol”, estou certo?


        - Sim. Está certo, ela respondeu, sem graça com a sua curiosidade e ao
mesmo tempo, encantada com a sua inteligência. Ninguém nunca sabia o
significado do seu nome. Ela terminou de dar-lhe a sopa, limpou sua boca e
levantou-se.


        - Vou até à cozinha buscar um chá para você.


        - Obrigado.


        Se encaminhando até a cozinha, Surya reclamava consigo mesma: ah que
raiva! Estou há tanto tempo sem uma presença masculina que estou parecendo uma
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tola. Ele é lindo, sem dúvida, mas é muito jovem e geralmente, rapazes daquela
idade só queriam aventuras.


          - Mas o que é que eu estou fazendo?? Deus! Não importa a idade do rapaz.
Ele não tem nada a ver comigo. Estou ficando maluca! [pensou batendo a mão
fechada sobre o tampo da pia]
          Fez um bule de chá de ervas para os dois e voltou para a sala. Max tentava
se sentar e havia algumas gotas de suor em sua testa. O edredom caíra até sua
cintura e a luz do fogo da lareira dava-lhe um aspecto bem sexy, apesar da careta
de dor.


          - Está tudo bem? Precisa de ajuda?


          - Não, está tudo bem, obrigado. Me diz uma coisa, como você me trouxe da
mata até aqui, já que você é tão pequena, perguntou ele observando seu corpo e
sorrindo.


          - Quando Zion veio me “avisar”, eu fui até lá e o encontrei desacordado.
Voltei para casa, peguei um edredom e coloquei por baixo do seu corpo, arrastando-
o até aqui.


          - Nossa, quanto trabalho, afinal eu sou mais alto e mais pesado que você. O
seu marido não podia ajudá-la?


          Sem graça, ela respondeu:


          - Não. Ele está num congresso na cidade e só volta amanhã.


          - Sei, ele falou analisando o seu rosto. E vocês moram aqui há muito tempo?


          - Há cinco anos. É um lugar lindo. Me apaixonei assim que o vi pela primeira
vez – falou com os olhos brilhando.
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        - Sim, é “muito” lindo mesmo – ele falou fitando-a intensamente, o que fê-la
desviar os olhos para o chão.


        - Bem, eu preciso me deitar. Tenho muito trabalho a fazer amanhã e logo
cedo, o Dr. Marcos virá vê-lo. Se precisar de algo, toque o sino que deixei ao lado da
mesinha do sofá ok?


        - Sim, obrigado. Boa noite e durma bem “luz do sol” – ele respondeu,
deixando-a apreensiva com a intensidade do sentimento que brotou dentro dela.
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                                          III




       Surya desligou as luzes, deixando somente a iluminação do fogo crepitando
na lareira. Colocou mais um travesseiro ao lado de Max, caso ele necessitasse,
deixou uma jarra com água ao lado do sofá, deu uma olhada em volta e, satisfeita,
subiu as escadas encaminhando-se para o seu quarto, com pensamentos que a
incomodavam.


       - Que droga, não sei que está acontecendo comigo! Porque o sorriso dele
mexe tanto comigo?


       Andou      pelo   quarto   se   despindo   e   entrou   no   banheiro,   fitando
cuidadosamente o seu corpo no espelho em cima da bancada da pia. Tinha uma
marca bem fina de cesariana. Seus seios eram medianos e firmes e possuíam bicos
rosados. Passou a observar seu rosto.
       Possuía poucas marcas de expressão, apesar dos seus 40 anos, mas
raramente saía de casa sem protetor solar e procurava se cuidar o máximo possível.
Sempre que podia, caminhava em torno de 7 km com Zion pelas redondezas,
aproveitando a beleza do lugar. Uma vez a cada dois meses ia ao salão na cidade,
para retocar a tintura do cabelo. Tinha cabelos castanhos, mas gostava de usá-los
com algumas mexas loiras, que lhe davam um ar mais despojado.


       A bancada do banheiro estava repleta de cremes para o rosto, corpo,
cabelo, mãos, etc – e mesmo estando sozinha há cinco anos, desde que se separou
do ex-marido, ela se cuidava bastante, apesar de não pensar em outro
relacionamento.


       Suspirando, ela saiu do banheiro, subiu um pequeno lance de escada e foi
ao terraço. Encostou o corpo na grade de madeira crua. Amava sua casa! Cada
cômodo foi projetado com muito amor e carinho. Ela vendera sua casa na cidade e
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investira tudo naquela casa. Ela possuía dois andares, porém, não era uma casa
grande, era aconchegante.


         No térreo, circundado por varandas, havia uma sala imensa dividida em dois
ambientes, separada pela lareira. Uma bancada de granito negro com quatro
banquetas abria-se para a cozinha. Panelas de cobre penduradas ao teto davam um
charme ao ambiente. A casa era aconchegante. As vigas do teto completavam o ar
rústico misturado com o moderno, oferecendo um estilo próprio e maravilhoso.


         No segundo andar havia três quartos e todo o andar era circundado por
vidros. Seu quarto era o maior de todos, pois era dividido em quarto e escritório,
separados por uma grande estante forrada de livros.


         Do seu escritório, Surya tinha a vista da cachoeira da Pedra da Lua, perto de
onde encontrou Max... e de seu quarto, ela via todo o vale da Lua com suas
perfeitas formações rochosas cavadas nas pedras pelas corredeiras de águas
transparentes do rio São Miguel.


         O Vale da Lua ficava fora do Parque Nacional, na Serra da Boa Vista, num
vale que se torna muito perigoso na época da chuva devido às repentinas trombas
d'água. O nome Vale da Lua vem da aparência que lembra uma paisagem lunar,
com pequenas crateras escavadas pelo atrito da areia levada pela água com as
rochas, nas curvas onde as corredeiras são mais fortes, dando origem a pequenos
rodamoinhos e funis.


         Seus pensamentos voltaram-se para Max e ela fitou o céu negro forrado de
estrelas. Encaminhou-se para o ofurô, ligou a água e foi tirando a roupa até chegar
ao banheiro, onde pegou um roupão de plush branco. Colocou algumas gotas de
óleo de pitanga e maracujá na banheira e sentou-se confortavelmente, pensando no
rapaz.
         Era estranho ter um homem em sua casa. Enquanto passava a bucha
delicadamente por seu corpo, pensou no corpo firme e másculo de Max. Seu corpo
estremeceu, arrepiando os pêlos dos seus braços. Apertou os lábios, irritada com
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seus pensamentos, levantou-se e expôs seu corpo ao frio para parar de pensar
bobagem.


        Pegou um óleo de amêndoas doces, passou por todo o corpo e agarrou uma
toalha que estava pendurada ao lado da banheira. Enxugou-se vagarosamente para
não tirar o óleo do corpo e pegou o hidratante, esparramando-o pelo corpo. De
repente, sentiu-se observada e olhou para baixo.


        Seu corpo estremeceu com o susto. Não havia pensado antes, mas boa
parte do terraço podia ser vista através dos vidros da sala, onde Max se encontrava
deitado, fitando-a sem o menor pudor.


        Fingindo naturalidade, virou-se, vestiu o roupão, pegou a toalha e se
encaminhou para o quarto, trancando a porta atrás de si. Nem ligou a luz. A
claridade da lua iluminava o ambiente. Sentia seu rosto corado de vergonha, ficara
irritada. Só faltava ele achar que ela estava se exibindo!


        Com esses pensamentos, despiu o roupão e deitou-se em sua cama repleta
de travesseiros, puxou o edredom até a orelha e fechou os olhos. Sonhou com um
par de olhos negros profundos fitando-a cheios de desejo.


        Surya acordou com a sensação que dormira pouco. Lembrou-se de Max e
olhou para o relógio que ficava à mesinha ao lado de sua cama. Dr. Marcos chegaria
em uma hora. Levantou-se e encaminhou-se cambaleante até o banheiro, tomando
uma ducha rápida.


        Escolheu outro conjunto de moletom, desta vez, na cor branca. Calçou tênis
branco com uma listra azul e complementou o vestuário com uma touca branca e um
cachecol colorido. Passou protetor nos lábios e desceu as escadas.


        Max não estava. Preocupada, ela olhou em volta e viu a porta do lavabo
entreaberta. Ele estava com uma toalha enrolada na cintura e lavava o rosto. Seus
olhos se cruzaram através do espelho.
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        - Bom dia! Falaram juntos.


        - Bom dia Max, como está se sentindo hoje?


        - Parece que fui atropelado. Todo meu corpo dói, respondeu ele sorrindo.


        - Isso logo vai passar. O Dr. Marcos chega em menos de uma hora, aliás,
nesse armário embaixo da pia tem toalhas, escovas de dente e gilete, caso queira
se barbear.


        - Obrigado, eu vou aceitar. Posso tomar um banho também?


        - Claro, mas você acha que consegue? Aceita uma cadeira?


        - Sim, acho melhor, pelo menos pra não forçar demais a perna.


        - Eu já volto, vou buscar a cadeira pra você.


        Surya foi até a varanda e trouxe uma cadeira. Colocou-a dentro do Box do
lavabo, trocou as toalhas, verificou os itens básicos de higiene e saiu. Seu corpo
esbarrou-se com o de Max e ela deu um pulo, assustada. Para não se desequilibrar,
ele segurou-a pelo braço.


        - Desculpe... falaram ao mesmo tempo.


        - Ah, bem... er... é melhor você tomar logo o banho, pois o Dr. Marcos está
chegando e não é bom você ficar muito tempo em pé. Enquanto isso, vou preparar
um café para nós. Desvencilhou-se do braço dele e saiu quase correndo para a
cozinha.


        Ela preparou ovos mexidos com torrada, suco de laranja com acerola,
biscoitos, geléia, requeijão, manteiga, queijo, peito de peru, leite, chá e café e levou
num carrinho até a sala.
15



       - Nossa, o cheiro está muito bom. Estou morto de fome – ele disse,
chegando perto dela, mancando e sorrindo.


       Ela suspirou. Cheiro bom era o que exalava do corpo dele, que acabara de
sair do banho. Seus cabelos molhados caíam sobre os olhos e dava vontade dela
estender a mão e colocá-los para cima.


       - É, eu também estou com muita fome. Vamos, eu te ajudo a sentar-se.


       Segurou-lhe o braço e puxou-o um pouco para cima, apoiando suas costas
com uma almofada. O cheiro da pele dele entrava-lhe pelas narinas, provocando-lhe
um estremecimento.


       - Está com frio? Perguntou ele com os olhos brilhando.


       - Não.


       - Quando é mesmo que o seu marido retorna de viagem?


       - Ah, talvez mais tarde ou amanhã, não sei – ela respondeu desviando os
olhos dos dele.


       - Espero que ele não fique chateado por toda essa situação.


       - Não, não. Além do mais, o Dr. Marcos deve te levar até o seu hotel, já que
ele vem de carro. [Ela queria que ele fosse embora o mais rápido possível]


       Ambos ficaram em silêncio perdidos em seus pensamentos. Ela se
esforçando para não olhar para o peito nu dele e ele lembrando da visão do corpo
dela ontem à noite.


       Terminaram o café em silêncio e quando terminavam, escutaram passos na
varanda. Surya estranhou, não ouviu o barulho do carro do Dr. Marcos. Abriu a porta
e recepcionou o médico.
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         - Surya, olá, bom dia!


         - Dr. Marcos, bom dia, como vai?


         - Muito bem. Onde está o nosso paciente? Perguntou o médico olhando em
volta.
         - Olá, bom dia doutor, meu nome é Max – falou, se apresentando.


         - Bom dia rapaz. Então Surya, o que houve?


         - Eu o encontrei desacordado ontem pela manhã na mata. Ele está com um
osso trincado no tornozelo esquerdo, além de vários cortes e picadas pelo corpo
todo.


         - Vamos examiná-lo então. Marcos pegou a maleta dentro da mochila e
começou os primeiros procedimentos. Lavou suas feridas com soro e passou
pomada antibiótica e logo depois, preparou uma tala.


         - Surya, preciso de sua ajuda.


         - Claro Dr.


         - Segure a perna dele desta maneira, explicou ele – para que eu coloque a
tala e fique firme.


         Uma hora depois, o médico se despedia deles.


         - Max, você pode ficar um pouco de pé, mas não muito, pois é necessário
que você repouse por pelo menos quinze dias antes de começar a caminhar.


         - Dr. Marcos, o senhor pode dar carona para ele até o seu hotel? Perguntou
Surya, ansiosa, ao médico.
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        - Minha querida, você não está sabendo? Eu vim caminhando. A ponte que
corta o rio São Miguel e o Rio Preto está com problemas, além do mais, Max precisa
ficar de absoluto repouso por pelo menos quinze dias.


        - Quinze dias???


        - Sim, algum problema? Perguntou o médico sem entender a razão da
surpresa.


        - Não, não ... é que...
        - É que o marido dela pode não gostar Dr.


        - Ah? Que marido? [ele perguntou]


        - Ah... er...


        Não entendendo nada e com pressa, o médico se despede dos dois.


        - Bem, eu preciso ir. Bom descanso aos dois e leve a sério o tratamento,
pois você pode ter alguma reação às picadas.


        - Está certo Dr., farei tudo que recomendou.


        O médico fez um afago na cabeça de Zyon e saiu apressado.


        - Você está preocupada, ele falou enquanto observava ela mordendo os
lábios. Se pudesse, eu...


        - Não. O Dr. Marcos disse que você precisa de cuidados e repouso e é
assim que tem que ser.


        - Desculpe o abuso...


        - Não, você não tem culpa...
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       - Se o seu marido...


       - Marido, marido, marido! Você só sabe falar isso?? Olha, fique tranqüilo,
vamos encontrar uma solução. Eu vou subir, trabalhar um pouco. Nas estantes ao
lado da lareira tem uma coleção de livros, fique à vontade para ler o que quiser e se
precisar de alguma coisa, me chame!


       Ela saiu apressada, sentindo raiva de si mesma!
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                                        IV




        Ela subiu correndo as escadas. Assim que chegou ao escritório, desabou na
cadeira, pensativa: como ia conseguir encarar Max depois da noite passada? Ela
sentiu uma energia, uma vibração entre eles, mas se negava a aceitar.


        Uma semana se passou. Surya evitava Max e ele a perseguia com os olhos.
Ela era incansável em cuidados para com ele. Sua perna melhorara bastante, no
entanto, o tempo parecia se arrastar e ela não conseguiu escrever nada.


        Seus pensamentos estavam voltados ao rapaz. Ás 11h levantou-se e foi
preparar o almoço. Geralmente se virava com um lanche, um sanduíche ou uma
fruta, mas agora ela precisava preparar algo para Max, já que ele precisava se
alimentar bem.


        Desceu as escadas e não o viu na sala. Entrou na cozinha e preparou algo
rápido, porém nutritivo. Arrumou a comida no carrinho e levou para a sala. Desta
vez, ele estava sentado, pensativo, no sofá, com uma perna apoiada em uma
almofada no banco que ela lhe emprestara para tomar banho.


        - Olá, vamos almoçar?


        - Não estou com muita fome.


        - Mas precisa se alimentar, senão jamais vai sair daqui. Ela falou isso sem
pensar e notou que o semblante dele se fechou, tristonho.


        Ela serviu os pratos, entregou um deles para Max e ligou a TV. Fizeram toda
refeição em silêncio.


        - Aceita um suco de frutas?
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        - Sim, claro!


        Ficaram ali saboreando o suco e assistindo ao jornal até que Surya sentiu o
olhar dele sobre ela. Virou-se para ele e indagou:


        - Algum problema? Você precisa de alguma coisa?


        - Eu só estava pensando... como uma mulher como você decidiu morar num
lugar desses, longe do agito da cidade.


        - Uma mulher como eu em que sentido? Ela perguntou desconfiada.


        - Desculpe, eu quis dizer uma mulher bonita e, ao que parece, bastante
inteligente.


        - Sei... enfim... criei duas filhas, meu ex-marido se casou novamente e meu
trabalho permite que eu tenha flexibilidade de lugar e horário, já que envio tudo pela
Internet à minha agente.


        - Então você está no segundo casamento?


        - Não!! Pega na mentira.... ela respondeu: - Não sou casada, desculpe pela
mentira. Falou abaixando a cabeça envergonhada.


        - Tudo bem, não se preocupe – respondeu ele com um sorriso enigmático no
rosto. Eu já imaginava isso.


        - Imaginava como? Porque?


        - Porque esta casa não tem nenhuma foto de homem, nenhuma presença
masculina. Agora me diga o que você faz.


        - Sou escritora.
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       - Jornal? Revista?


       - Tenho um livro publicado e também uma coluna de aconselhamento no
jornal da cidade. Estou tentando escrever o meu segundo livro.


       - Uau, parabéns! Opa, espere, você é a Surya Singh, eu tenho o seu livro de
contos. Só agora eu liguei o nome à pessoa. Seu livro é muito bom!


       - Obrigada, ela respondeu enrubescendo.


       - O seu segundo livro de contos, em que pé está? Já tem bastante material?
Os primeiros são todos muito interessantes, a maioria tem um certo apelo sexual e
ao mesmo tempo, remontam a uma certa tristeza.


       Sentindo um certo desconforto, ela se levanta, ajeita a almofada e pergunta:


       - Você quer mais alguma coisa? Acho que vou dar uma caminhada!


       Rapidamente Max se levanta e impede a sua passagem, segurando uma de
suas mãos.


       - Espere Surya, eu...


       - Max, eu...
       [falaram ao mesmo tempo]


       Ele fez um carinho em seu rosto. – Você é linda [ele falou rouco]


       - Não sou...


       - Psiii sim, você é. Você tem uma sensualidade latente. Quando fala, dá
vontade de beijar seus lábios bem desenhados. Você é inteligente, independente,
uma mulher batalhadora e que sabe o que quer.
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        Ela fitou seus olhos e inconscientemente passou a ponta da língua por seus
lábios ressecados.
        - Max, eu não tenho mais idade para joguinhos...


        - E eu não estou jogando, nem brincando. Simplesmente estou tentando não
lembrar do seu jeito carinhoso e dos seus cuidados comigo. Não consigo esquecer
do seu jeito sentada no sofá em cima de uma perna e mordendo os lábios enquanto
lia o livro. Não consigo esquecer do seu corpo saindo da hidromassagem ontem, o
apelo do meu corpo ao pensar nisso. Posso ser muito novo em idade, mas sei ser
maduro o suficiente para lutar pelos meus objetivos e, principalmente, lutar por tudo
que eu quero e eu quero você Surya. Se você quiser, eu espero você pensar. Eu
espero o tempo que for necessário, mas quero te provar que não sou um garoto e
sim um homem com responsabilidades.


        Segurando seu rosto com ambas as mãos, ele fica seus olhos e lhe dá um
beijo caloroso. Surya corresponde com a mesma intensidade. Ela já não tinha forças
pra lutar contra esse desejo que tomava conta do corpo dela desde que o vira pela
primeira vez.


        Uma das mãos de Max percorre seu pescoço e vai até a sua nuca. Ela
suspira e aprofunda mais o beijo, abrindo caminho na boca dele com sua língua
quente e úmida.


        Max suspira e pára. Encosta sua testa na dela e respira fundo. Ela se sente
confusa. Queria-o profundamente! Queria fazer amor com ele, queria lhe dizer o que
sentia, queria senti-lo dentro de si.


        - Desculpe... eu não entendo... disse ela.


        - Surya, não! Eu que peço desculpas, mas eu preciso parar antes que te
jogue ao chão e faça amor com você como nunca fiz antes.


        - Mas é isso que eu quero Max! Porque parou?
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       - Porque eu quero que tudo seja perfeito. Quero que sinta, não apenas o
meu desejo, mas os meus sentimentos por você e também não quero que pense
que será apenas sexo. Eu quero você também aqui, Surya. [ele disse apontando
para o coração]. E quero ter certeza que é o mesmo que você quer, além do mais,
você está me evitando há mais de uma semana.


       - Max, eu não sei, estou confusa. Estou evitando me envolver seriamente
com alguém há muito tempo. Não sei se consigo lidar com isso.


       - Psiu. Vamos deixar o tempo rolar e analisar melhor os nossos sentimentos.
Eu quero muito você e não quero ter apenas uma aventura...


       - Max, nem sei o que dizer...


       - Não fale nada, apenas sinta. Vou entender se desistir e não me quiser
mais, mas por enquanto, vamos nos conhecer melhor. Ainda tenho uma semana pra
te mostrar quem na verdade sou e conhecer mais ainda essa mulher que tanto me
encanta.


       Ele sentou-se e puxou-a para o seu colo. Ela podia sentir o desejo dele
ainda duro de encontro ao seu corpo, mas não disse nada.


       - Surya, vamos nos dar esta chance por favor!


       - Está bem Max, vamos fazer do seu jeito então.


       Abraçou-o e em seguida, levantou-se.


       - Eu preciso trabalhar, nos falamos depois então.


       - Sim Senhora! Ele respondeu rindo.
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       Sorrindo, ela subiu as escadas. Cada um ficou perdido em seus
pensamentos. Ele pensando numa maneira de conquistá-la e ela pensando no
sentimento forte que ardia em seu peito.




                                           V
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       Três dias se passaram e a relação deles se transformara. Trocavam alguns
carinhos, mas nada muito íntimo. Tudo que eles queriam era sentir segurança um
com o outro e ter certeza dos sentimentos. Eles faziam pequenas caminhadas,
lanchavam ao ar livre à beira de rios fabulosos e também trocavam impressões
sobre seus trabalhos.


       Nesse dia Surya passou a manhã inteira trabalhando. Mal almoçou e subiu
para o escritório. A noite caiu e Surya desceu as escadas sem fazer barulho. Há
pouco tempo ela descera para ver como Max estava e ele dormia profundamente.
Ela aproveitou para analisá-lo melhor.


       Seus cabelos castanhos caíam sobre os seus olhos. Um dos braços estava
caído ao longo do seu corpo e o outro apoiado no estômago. A perna ainda estava
dolorida, mas o Dr. Marcos o autorizara a fazer caminhadas.


       Seu rosto era moreno, a pele acostumada ao trabalho feito ao ar livre. Ao
redor dos olhos, havia linhas de expressão causadas pelo sol. Os lábios, um pouco
entreabertos, possuíam um formato perfeito. Suas mãos eram longas com dedos
finos, mas só ela sabia como aquela mão podia segurar uma mulher.


       Suspirando, ela ouve um barulho. Era Zion, anunciando a chegada de
alguém. Era José, trazendo algumas encomendas. Ela trocou algumas palavras com
o rapaz, despediu-se e voltou para a sala, deixando outros medicamentos em cima
da mesa ao lado do sofá, junto à receita médica.


       Foi até a cozinha, preparou um caldo bem forte e foi até o quintal colher
laranjas e cenoura para fazer um suco bem forte para Max. Ela voltou para a sala
quando ele estava despertando.


       - Oi, boa noite dorminhoco, disse ela sorrindo.
       Seus olhos sorriam felizes. – Boa noite Surya. Acho que dormi demais né?
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        - Demais não. Você dormiu bem. Estava precisando. Como vai a perna?
Ainda sentindo dores?


        - Não, estou me sentindo ótimo. Gostaria apenas de um banho.


        - Claro! Eu estava pensando se você não quer subir as escadas e tomar um
banho de ofurô pra você relaxar. Gosto de acrescentar algumas ervas à água. É
muito bom para as dores no corpo e em casos de tensão.


        - Eu adoraria, respondeu ele levantando-se.


        Surya levou-o escada acima.


        Max não perdeu um detalhe pelo caminho até o terraço. Na parede que
subia as escadas, ele viu a fileira de fotos e sorriu diante do retrato de uma garota
de cabelos longos e castanhos com o mesmo olhar e sorriso de Surya.


        Chegando ao terraço, Surya ajudou-o a sentar-se no banco e deixou a
banheira enchendo enquanto buscava um roupão no banheiro, junto com uma
toalha, que entregou para ele.


        - Aqui está a toalha e o roupão. Fique o máximo que puder e relaxe. Ela
disse sorrindo.


        - Obrigado Surya – ele respondeu e tocou levemente em sua mão, fazendo-
a se lembrar da noite que ele a vira nua.


        - Quando terminar, eu venho te ajudar.


        - E como vai saber que terminei? Ele perguntou com um sorriso cínico,
fazendo-a ficar vermelha.


        - Ah... bem... não vou saber, mas tenho uma idéia de que seja daqui a uma
hora.
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       Ele riu alto observando seu rosto pegando fogo.


       - Coloquei algumas gotas de óleos essenciais medicinais na água pra você.
Você vai se sentir relaxado, além de fazer bem para a cicatrização total dos
machucados.


       - O cheiro está ótimo, obrigado de novo Surya. Quem sabe um dia eu posso
agradecê-la por tanto trabalho e por sua atenção comigo.


       - Não precisa agradecer, qualquer um faria isso...


       - Quem sabe...


       - Então ta... vou descer. Volto daqui uma hora para te ajudar a descer.


       - Ok!


       Ela desceu sem olhar para trás. Seu rosto estava quente. Ficou imaginando
o corpo dele deslizando pela banheira... e sentiu um arrepio em sua espinha. Ficou
andando de um lado pro outro até que decidiu sentar na poltrona e ler um livro.


       Mal se passaram 15 minutos quando ela notou que não estava prestando
atenção ao que estava lendo. Deixou cair o livro e seu olhar vagou para fora. Ficou
pensando no que Max dissera alguns dias atrás. Ele tinha razão, era melhor esperar
o momento certo... mas quando seria o momento certo? Quem saberia? Ela só sabia
que um forte sentimento acontecia entre eles e não era somente sexo.


       Max era um homem inteligente, batalhava pelo que queria. Era jovem, mas
era responsável, tinha uma visão de futuro que a agradava, apesar dela mesmo ter
parado de pensar no futuro desde que se mudara para o Vale da Lua.
       Apesar de ser um homem másculo, ela podia observar nele um homem
carinhoso, atencioso e que se preocupava com as pessoas e isso era raro nos
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homens. Se ele quisesse somente um caso com ela, eles já teriam feito amor, mas
ele deixou claro que queria conquistá-la e mostrar a ela que era digno de confiança.


        Seu olhar voltou-se para cima e ela quase deu um pulo no sofá. Max estava
deitado na banheira, com os olhos fechados. Dava para ver seu torço e seus braços.
Seu rosto estava relaxado, o pescoço inclinado para trás. Suas roupas jogadas no
banco ao lado da banheira.


        Ela não sabia há quanto tempo estava observando-o até que seus olhos se
encontraram. Ela sentiu o corpo pegando fogo e podia notar o mesmo através do
olhar dele. Sem pensar, ela molhou os lábios com a ponta da língua e não precisou
de mais nada para que se levantasse do sofá e fosse até o terraço.


        O caminho pareceu levar uma eternidade. Max a esperava em silêncio. Os
olhos dos dois traduziam o que ambos já sabiam. Eles se queriam e aquele era o
momento certo.


        Despindo-se vagarosamente, ela foi deixando as roupas pelo caminho até
chegar ao lado da banheira. Sentiu a mão dele segurando a sua, puxando-a com
cuidado para junto de si.


        A água cobriu o corpo dela até a metade dos seios. Max estendeu a mão e
pegou o sabonete líquido de mel e pitanga. Colocou bastante na palma da mão e
virou-a de costas para si, massageando seus ombros – primeiro com firmeza, para
logo em seguida, transformar a massagem em pequenas carícias.


        Ela estava de olhos fechados. Podia sentir cada músculo do seu corpo
relaxando ao toque dele. Abaixou a cabeça e entregou seu pescoço às mãos dele.
Seu toque era firme, gentil, carinhoso. Ele sabia o que estava fazendo e ela sabia
que ele a queria tanto quanto ela o queria.


        As mãos dele deslizavam do ombro ao pescoço dela. Ela suspirava de
prazer. Ele puxou-a mais para trás e deslizou as mãos dos ombros até a palma da
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mão. A pele dela estava quente pela água e pelas carícias, mas ao mesmo tempo,
um arrepio tomava conta do seu ser.


       Ele virou-a para si e ajeitou-a no seu colo, de modo que suas pernas
sustentassem o peso dela. As pernas dela se separaram, uma de cada lado do
corpo dele. Ele apanhou o sabonete e esparramou mais em suas mãos. Voltou a
acariciar os ombros dela e o pescoço, só que agora seus olhares não se
desgrudavam.


       A mão dele desceu, traçando vagarosamente um caminho entre os ombros
e seus seios. Os dedos dele tocaram os bicos duros e voltavam-se para cima,
provocando-a ao máximo. Ele observava o rosto dela e ela observava o rosto dele a
cada toque. Sabiam que aquilo não teria fim, eles queriam se amar, apenas isso.


       As mãos dele continuaram a acariciá-la, desta vez descendo dos seios para
a barriga. Ela gemeu baixinho o que fez ele entreabrir os lábios. O ponto entre as
pernas dela pulsava desejoso. Ela desceu o olhar e viu seu membro duro quase
tocando sua barriga. Mordeu os lábios, nervosa.


       Com um meio-sorriso, ele colocou um dedo na boca dela, impedindo-a de
machucar os próprios lábios. Brincando, ela mordeu a ponta do seu dedo – mas ele
não riu, apenas tocou novamente os lábios dela com o dedo. Ela mordeu
novamente, só que em seguida, ela beijou a ponta de seu dedo e passou levemente
a língua, provocando-o.


       Desta vez ele sorriu, como se ela tivesse feito exatamente o que ele queria.


       Ela segurou seu dedo entre os dentes e sugou-o vagarosamente, o que fez
ele puxá-la mais contra si, para que ela sentisse a força do desejo que guardava
para ela. Consciente do poder sobre ele, ela traçou uma linha de beijos que
começou em seu queixo, passou por sua bochecha, pelos olhos, testa, nariz.


       Os lábios dela eram macios e molhados. A pele dele se arrepiava de prazer.
A boca dela descia pelo pescoço dele e ele jogava o pescoço para trás, de olhos
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fechados. As mãos dele acariciavam os seios dela. Ela abriu um pouco mais as
pernas e, ainda beijando-o, fez pequenos movimentos pra frente e pra trás, roçando
seu sexo nas pernas dele, o que provocou uma onda de gemidos nos dois.


        Com firmeza, ele abraçou sua cintura e trouxe-a mais para cima, invadindo
sua boca com a língua ao mesmo tempo em que sentia com os dedos, o local exato
de penetrá-la. Ela abafou seu grito com a boca dele. Sentiu seus dedos penetrando-
a devagar, para não machucá-la. Sabia que estava molhada. Seus seios roçavam o
peito dele enquanto seus movimentos ficavam mais intensos. A língua dos dois
traçava um duelo dentro da boca do outro. A vontade que tinha era de fazer o tempo
parar. Sentiu os dedos dele procurando seu ponto sensível em meio ás suas carnes
e gemeu, fazendo-o pressionar mais ainda o ponto duro logo acima da abertura de
seu sexo.


        Ela não conseguia se conter, muito menos ele. Queria dar todo prazer para
ela. Queria que ela se sentisse a mulher mais amada do mundo. Queria vê-la
gemendo e se contorcendo de prazer em seus braços para sempre.


        Com apenas um movimento, ele guiou seu sexo para dentro dela. O grito
dela fora abafado pelo grito dele. Ela colocou as mãos no ombro dele e começou a
se movimentar em seu colo. Ele segurou sua cintura com ambas as mãos e ajudava-
a a rebolar em cima dele. Ela jogava a cabeça para trás e ele não parava de
observá-la.


        Inconscientemente ela lambia e mordia seus próprios lábios, apertava os
ombros dele como se implorando para que não parasse. Os cabelos dela voavam de
um lado pro outro em seu rosto úmido de suor misturado ao vapor da água da
banheira.


        Ele estendeu uma mão e puxou-a para um beijo ao mesmo tempo em que
se afundava dentro dela e puxava seu cabelo com firmeza. Ela soltou o grito mais
sensual que ele já havia visto no mundo e sorriu.
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          Ela queria falar pra ele não parar, mas nenhum som, além dos gemidos,
saía de sua boca. Ele adivinhava seus desejos e fazia-a delirar.


          Pelos gemidos dela, ele sabia que ela estava próxima do gozo e desceu
seus dedos novamente até o ponto que ela mais gostava. Acariciou-a a princípio
com cuidado, provocando. Logo depois, acelerou os movimentos e se preparou para
senti-la gozando em si e nos seus dedos.


          Não deixando de observá-la, em poucos segundos ele sentiu seu sexo
sendo sugado para mais fundo dentro dela de uma maneira que ele nunca havia
sentido. Ela girou os olhos e do fundo de sua garganta saiu um grito rouco, se
transformando depois em gemidos altos e demorados, logo se misturando ao dele,
terminando, enfim, num longo suspiro.


          Ela abriu os olhos surpresa, como se estivesse voltando de uma longa
viagem. Ele sorriu. Estava apaixonado por ela. Queria esta mulher em sua vida para
sempre. E diria ainda hoje isso pra ela. Queria cuidar dela, ser seu companheiro,
fazer caminhadas diárias com ela, explorar o lugar lindo em que morava. Queria ser
seu homem, seu namorado, seu marido, seu amante. Queria-a para sempre ao seu
lado!


          Abraçou-a fortemente. Ela estava relaxada, entregue a este homem. Teve a
impressão que ouvira-o falar que a amava, mas ela não tinha certeza. Os gemidos
na hora do gozo não permitiam prestar muita atenção aos ruídos externos.


          - Max.... você disse.... ?


          - Sim, eu disse – falou ele sorrindo.


          - É sério?


          - Não precisa falar nada Surya. Eu a amo e quero você na minha vida. Mas
se você não estiver se sentindo confiante ou não tem certeza do que sente, eu
espero.
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       Ela deu-lhe um beijo terno na boca e abraçou-o.


       - Você é uma pessoa maravilhosa Max. Eu o amo! Eu também quero você
na minha vida. Para sempre...


       - Surya...


       - Max, vamos sair daqui, está esfriando. Vamos! – Ela falou isso levantando-
se da banheira rindo. Pegou o roupão, vestiu e ajudou-o a enrolar a toalha em sua
cintura, correndo abraçados pra dentro do quarto dela.


       Rindo muito, eles caíram em cima da cama. Ele rolou seu corpo para cima
dela e beijou-a fazendo-lhe cócegas.


       - Você é linda!


       - Ah, sou nada! Ela riu alto.


       - É sim e eu estou muito feliz.


       - Max, você tem certeza mesmo do que quer?


       - Sim, tenho. Nunca senti isso por outra mulher e estou amando amar você.


       Ele falou isso e abriu o roupão dela, expondo seus seios. Baixou a cabeça e
beijou-os carinhosos, dando início a outra onda de calor em seus corpos que os
levaram a outros gozos maravilhosos noite adentro, até que, cansados, dormiram
abraçados.




                                         VI
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          Lá fora, a lua cheia se juntava ao brilho das estrelas, formando uma visão
digna de cartão postal.


          Algo acordava Surya. Ela abriu os olhos sem saber onde estava e logo
desceu os olhos para o braço de Max em cima de sua barriga. Ela sorriu. Estava
apaixonada. Ele era perfeito!


          Ela puxou delicadamente o braço dele de cima dela e pulou da cama.
Estava nua. Seu corpo estava marcado pelo amor da noite passada. Ela desceu as
escadas procurando a origem do barulho. Em cima da mesinha ao lado do sofá, o
celular de Max tocava sem parar. Surya não sabia se podia atender, e, na dúvida,
atendeu.


          - Alô!


          - Ah, acho que liguei errado. Esse celular não é o do Max? [era uma voz de
mulher]


          - Sim, é dele sim. Surya respondeu nervosa.


          - E quem é que está falando aí? Perguntou a voz novamente do outro lado,
desta vez, com uma ponta de irritação.


          - Olha, ele está dormindo, gostaria de deixar recado?


          - Diz pra ele que a noiiiiiiiva dele ligou. Meu nome é Julia. Dizendo isso, ela
bateu o telefone com toda força.


          Tremendo muito, Surya senta-se no sofá.


          - Não é possível! Não pode ser! Meu Deus, diz que não é possível por favor!
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        Depois de alguns minutos, ainda em choque, Surya sobe as escadas e entra
em seu banheiro. Deixa a água cair por seu rosto, lavando suas lágrimas. Ela estava
em pedaços, não podia acreditar no que estava acontecendo. Max não podia ter
mentido pra ela, não era possível! Ela podia ver em seus olhos o quanto a amava,
mas então, porque.... ??


        Diante da possibilidade de um novo sofrimento, ela só via um caminho: fugir!


        Entrou no closet e pegou uma pequena maleta, onde colocou algumas
poucas peças de roupa e algumas sandálias. Vestiu uma calça jeans, uma camiseta
regata branca, tênis all-star branco e jogou uma jaqueta de couro marrom por cima
dos ombros.


        Desceu quase correndo as escadas. Pegou as chaves do Jeep em cima do
móvel, abriu a porta e voltou-se para escrever um bilhete. Colocou-o na mesinha ao
lado do celular dele e saiu.


        As lágrimas impediam-na de enxergar à frente. Ela parou o jeep há poucos
km dali, junto às pedras do Vale da Lua.


        - Eu não posso acreditar que mais uma vez cometi um erro. Como pude ser
tão burra? Como pude acreditar nas palavras dele?


        Voltou para o jeep e seguiu até encontrar a via principal que levava à cidade.
Uma hora depois estava dentro de um avião.




        Max acordou com o sol batendo em seus olhos. Virou-se de lado, tentando
abraçar Surya e encontrou a cama vazia. Imaginando que ela estava no banho, ele
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desceu as escadas. Ainda estava nu, mas nem ligou para o fato e foi direto à
cozinha. Lá preparou ovos mexidos, pães, torradas, suco de laranja, geléia, leite,
chá e bolo. Saiu pela porta dos fundos e colheu um lindo girassol, colocando-o junto
à bandeja de café da manhã. Subiu as escadas assoviando, tranqüilo. Entrou no
quarto e Surya não estava.


        Olhou no banheiro e não a encontrou. Sorrindo, foi até o terraço chamando-
a e nada.


        - Pra onde ela foi??? Ele perguntou surpreso.


        Desceu as escadas, desta vez já vestido. Olhou a mesa ao lado do sofá e
viu um bilhete ao lado do seu celular.


        “Por favor, saia da minha casa! Tranque a porta e coloque as chaves
embaixo do vaso de tulipas vermelhas. Eu cometi um erro e não voltarei a cometê-lo
novamente.”


        Sentindo o sangue sumir de seu rosto, ele sentou-se na ponta do sofá.


        - Mas.... porque?? O que houve???


        Seus pensamentos se perderam entre mil explicações, mas não encontrara
nenhuma a não ser que ela tenha se arrependido e voltara atrás.


        Chateado, ele reuniu suas coisas, colocou numa sacola e saiu porta afora.
Não conseguia acreditar no que tinha acontecido. Em um dia estava vivendo no
paraíso e no outro fora até o inferno.


        - Ah Surya... falou ele gemendo, atordoado, porque você fez isso?


        Seu celular tocou.
        - Alô!
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       - Max! Gritou uma voz histérica.


       - Sim Julia, o que houve?


       - Onde é que você está?


       - Pra que você quer saber Julia, o que você quer?


       - Você está com uma mulher que eu seiiii!


       - Como você......... ???


       - Você sabe que eu amo você Max, mas você sempre me humilha, falou ela
choramingando.


       - Julia, nunca te prometi nada. Tivemos um caso, só isso. Não temos
nenhuma relação. Nosso namoro começou e terminou rapidamente, não deu certo!


       - Mas eu sempre sonhei com o dia que você viesse a me amar....


       - Julia, eu estou apaixonado por outra mulher como nunca estive antes.


       - É a moça que atendeu o telefone?


       - Como? ........ espere... Julia, que moça, do que está falando? – ele
pergunta confuso.


       - Eu liguei pra você, queria saber notícias suas e uma moça atendeu.


       - O que você disse pra ela Julia? – perguntou ele sobressaltado, agora
entendendo tudo.


       - Eu não disse nada.... só queria falar com você! – respondeu ela insolente.
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- Julia, me diz exatamente como foi a conversa! – ele perguntou nervoso.


- Ah... eu....


- Julia!!!!!!!! – gritou ele.




                                VII
38




        José estava a caminho da cidade quando vê um homem caminhando com
certa dificuldade. Demorou a reconhecê-lo, até que chegou perto e parou o carro.


        - Olá, o Sr. não é aquele amigo da Dona Surya que estava machucado?


        - Sim, sou eu – respondeu Max cansado e com o rosto coberto de suor.


        - Aceita uma carona? O Sr. não me parece bem.


        - Aceito sim, obrigada.


        Entrando no carro com certa dificuldade, ele começou a sondar o rapaz.


        - Você por acaso sabe onde fica a cidade onde moram as filhas da Surya?


        - Claro que sei moço, as meninas dela moram em Brasília.


        - Sim, mas você sabe mais ou menos onde ou como posso achá-las ou o
endereço delas?


        - Aconteceu alguma coisa moço? Perguntou José desconfiado.


        - Não. É que eu escrevo pra um jornal e fiquei de entregar uma encomenda
para as filhas dela, só que esqueci de pegar o endereço e agora estou muito longe
para voltar.


        - Eu tenho aqui comigo uma encomenda das meninas pra mãe, só que não
deu tempo de entregar pra ela ontem. Deixei pra entregar hoje. Acho que talvez
tenha o endereço delas. Parou o carro e jogou o corpo para trás, pegando uma caixa
de papelão.


        - Aqui! Olha que sorte! Anote aí!
39




         Tremendo, nervoso, Max anotou o endereço das filhas de Surya e
agradeceu.


         - Pra onde o Sr. está indo?


         - Preciso ir até o aeroporto. Você pode me levar até lá?


         - Sem problemas moço, eu o levo, respondeu José, sorrindo.


         Uma hora depois Max se encontrava sentado em uma poltrona no avião que
o levava à Brasília. Seu rosto estava pálido. Ele chamou uma comissária de bordo,
pediu-lhe água e tomou os remédios. Encostou a cabeça na poltrona e fechou os
olhos.


         - Maldita Julia e sua inconveniência! Droga! Porque Surya não me acordou e
brigou comigo para eu poder me explicar? Porque ela não confiou em mim? Depois
de tudo que aconteceu...


         Chateado, Max ficou pensando no que fazer. Não queria perder Surya, mas
também não queria passar por cima do seu orgulho ferido e procurá-la com
explicações, depois de ter passado a noite inteira falando que a amava e fazendo
amor com ela.


         Abatida, Surya olha o relógio em seu pulso. Era 17h.


         - Será que Max já saíra de sua casa?


         Pegou um táxi e foi para a casa das filhas, pensando nele com tristeza.


         - Porque eu sou tão estourada? Eu devia ter ficado e conversado com ele.
Eu não deveria ter saído da minha própria casa. Mas não tinha coragem de olhar pra
ele.... e ver a mentira em seu olhar.
40



       Pouco tempo depois, estava abraçando as filhas.


       - Mãeeeeeeeee!! Gritavam as duas, felizes. O que aconteceu que você veio
ver a gente antes das férias??


       - Ué, não posso vir a hora que eu quero não? – respondeu ela rindo.


       - Claro que pode mãe, foi uma ótima surpresa!


       Abraçadas, as três entraram em casa. Tudo estava arrumado e limpo. Surya
gostava da moça que trabalhava na casa das filhas. Ela era responsável e
carinhosa, além de satisfazer todas as vontades delas.


       - Ah que saudade daqui filhotas! Como estão as coisas?


       - Estão bem mãe e você? Como está o Vale da Lua?


       Abaixando a cabeça, Surya responde:


       - Está tudo bem, lá continua lindo como sempre.


       Trocando olhares, as filhas levam-na até o quarto de hóspedes.


       - Mãe, aconteceu alguma coisa?


       - Não, nada. Eu só quero tomar um banho e descansar um pouco.


       - Tudo bem mãe. Vou pedir pra Marta fazer um lanche pra nós para quando
você acordar.


       As filhas fecharam a porta atrás de si conversando baixinho.


       - Aconteceu alguma coisa, a mamãe não está bem. Notou os olhos dela
como estavam vermelhos?
41




        - Sim. Vamos deixá-la descansar e quando ela quiser se abrir, estaremos
aqui.


        As duas foram até a cozinha e conversaram com Marta sobre o lanche para
logo mais à noite.


        Surya entrou no banho e deixou as lágrimas correrem livres sob o chuveiro.
Ela estava profundamente magoada. A dor em seu peito era imensa. Sentia ainda
em seu corpo as carícias de Max. Entregara-se a ele completamente. Mas ele era
noivo. Ele mentira para ela.


        Saindo do chuveiro, enrolada numa toalha, Surya deita-se na cama e dorme,
cansada de tanto chorar.


        Enquanto isso, Max toma um táxi no aeroporto e vai direto a um hotel. Ao
entrar em no quarto, ele deita na cama com um dos braços embaixo da cabeça e
outro na texta. Estava se sentindo confuso, talvez fosse melhor deixá-la ir. Talvez
ele não fosse o homem ideal para ela. Talvez ele não se sentisse à altura dela o
suficiente e talvez ela não o amasse como ele a amava. Talvez ela esperasse
demais dele ou vice-versa.


        Ficou pensando na noite maravilhosa que tiveram. Tudo foi tão perfeito!
Será que foi um sonho? Fechou os olhos e dormiu, exausto. Logo a noite cairia e ele
pensaria melhor numa maneira de resolver a história entre eles.... ou não !!




                                   [Continua.... ou não!]

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  • 1. 1 No Vale da Lua... I No meio da mata, aos pés da montanha, via-se uma tímida nuvem de fumaça que subia ao céu, se confundindo com as nuvens. Estava frio. Era uma linda manhã de inverno. Surya acordara cedo e colocara pães para assar. Estava encostada na mesa esperando a água ferver para fazer seu chá de ervas, que ela mesma cultivava em seu quintal. Dentro de casa exalava um cheiro delicioso. Enquanto o pão assava, ela foi tomar o banho. Colocara umas gotas de óleo essencial de maracujá na água, que era calmante. Entrou na banheira devagar, com medo da água muito quente, mas logo seu corpo se acostumou à temperatura e ela relaxou, enquanto bolhas de espumas perfumadas estouravam ao seu redor. Fechando os olhos, seus pensamentos se voltam ao livro que estava escrevendo. Ela passara parte da noite anterior reunindo pesquisas para continuar seu trabalho e assim que terminasse o café da manhã, iria direto para o escritório, que ficava do outro lado do quarto. Trinta minutos depois, ela se levanta da banheira veste seu roupão branco e calça chinelos quentes e confortáveis. Enquanto espalhava por seu corpo o hidratante preferido, ela olhava pela janela. Amava aquele lugar! Jamais se arrependera de ter se mudado para lá, há cinco anos. Desde que saíra da cidade, sua qualidade de vida melhorara bastante. Parara de fumar, sentia o cheiro das flores, do mato, dos pães que ela fazia e das ervas que ela mesma cultivava nos fundos de casa. Não era mais uma mulher
  • 2. 2 ansiosa. Ouvia o canto dos pássaros, a queda das águas das cachoeiras e até mesmo o silêncio do vale cheio de flores coloridas. Acostumara-se a dormir cedo. Às vezes assistia a um vídeo, mas gostava mesmo era de ler um bom livro ou mesmo sentar em seu escritório e escrever seus contos. Desde pequena, amava escrever e mal imaginava que um dia aquilo seria o seu ganha-pão, além de hobby. De vez em quando entrava na internet e matava a saudade da família e dos amigos, além de se atualizar com as notícias do mundo. Muito raramente, havia problema no sinal e ela ficava sem luz, sem rádio e internet, mas isso não a preocupava. Ali se sentia segura e tinha mantimentos suficientes para passar um mês tranquilamente. Ela escolhera esse mundo para si e não queria outra coisa. Terminou de passar o creme no corpo e pegou um conjunto macio de moletom azul escuro. Calçou meias, tênis confortáveis e foi até a cozinha. Preparou uma bandeja com uma fatia de pão que acabara de assar, untado com a manteiga produzida ali mesmo no vale, um pedaço de queijo e com uma caneca de chá fumegante, encaminhou-se para a varanda. Sentou-se na cadeira de balanço de madeira branca, descansou a bandeja na mesa ao lado, agasalhou o corpo com uma manta macia bordada por ela mesma e fitou o céu, aguardando o nascer do sol com suas belíssimas cores que a encantava todas as manhãs. Suspirava de prazer ao presenciar essa cena e agradecia a Deus por tamanha beleza. Estava relaxada, bebericando o chá com os olhos entreabertos, quando de repente ouviu um barulho à sua esquerda. Era Zion, seu labrador cor chocolate. Ele chegou perto dela, lambeu sua mão e fez sinal com a cabeça, como se quisesse lhe mostrar alguma coisa. Ele estava ansioso e latia bastante. Estranhando o comportamento nervoso do cachorro, ela se pôs de pé, vestiu mais um casaco e uma touca azul para se proteger do frio. Ninguém aparecia por ali a não ser José, o rapaz do armazém local, que trazia suas compras, encomendas e cartas uma vez por mês.
  • 3. 3 Encaminhou-se mata adentro seguindo o cão, até chegar a mais ou menos a 150 metros de casa, onde encontrou um corpo caído no chão. Encaminhou-se até lá com cuidado e arregalou seus grandes olhos cor de mel, surpresa. Era um rapaz bastante jovem. Aproximou-se dele e sentiu seu pulso. Ele estava fraco, porém, vivo. Seu corpo estava quente, ele queimava de febre. Surya podia ver as várias picadas e feridas nas partes descobertas do seu corpo, além de alguns cortes. Olhando para os lados sem saber o que fazer, voltou rápido para casa, pegou um edredom no armário da sala e voltou correndo para a mata. O homem continuava na mesma posição. Seu rosto estava pálido e seus lábios meio azulados, sinal que ele passara a noite ali sob o frio intenso. Apalpou o corpo do homem e reparou que ele tinha um osso trincado no tornozelo direito. Providenciou uma tala com uma madeira encontrada no chão e o pedaço de uma toalha que ela trouxera para limpar o rosto do rapaz. Com cuidado, ela passou o edredom por baixo do corpo dele, dobrou as pontas, fez uns nós e começou a puxá-lo vagarosamente evitando machucá-lo mais. Demorou um pouco, mas logo chegou até a sua casa. Havia uma rampa na lateral da varanda, onde José passava o carrinho de mantimentos. Ela arrastou o corpo por ali com cuidado, entrou na sala e olhando rapidamente ao seu redor, decidiu deixar o corpo dele no tapete macio em frente a lareira. Tirou o edredom e não hesitou em despi-lo das roupas úmidas e sujas, afinal ele estava ferido e ardendo em febre. Enquanto o despia, ela sentiu seu rosto quente ao observar a força de sua musculatura. Foi até a cozinha e voltou com uma bacia com água quente, esponja e toalhas limpas. Ajoelhou-se ao seu lado e lavou-o com cuidado. Cobriu-o com uma manta e levou a bacia com as toalhas e suas roupas para a lavanderia. Abriu a porta dos fundos e pegou algumas ervas no quintal. Separou- as na mesa de granito da cozinha e preparou um curativo para os machucados do
  • 4. 4 rapaz. Também fez um chá de ervas para que baixasse sua febre e evitasse uma infecção. Quando terminou, ela se sentia exausta. Sentara-se na poltrona de frente à lareira para observar o rapaz, até que seu estômago fez um barulho engraçado. Observando o relógio antigo em cima da lareira, ela viu que passara muito da hora do almoço e sentiu fome. Foi até a cozinha, abriu a geladeira e separou ingredientes para uma sopa. Assim que ficou pronta, ela foi até à sala e, enquanto tomava a sopa silenciosamente, fitou o rosto do rapaz, procurando algum sinal de que ele acordava, mas ele dormia profundamente, no entanto, sua febre estava cedendo. Pouco depois, levantou-se e foi até a cozinha lavar seu prato e voltou à sala. Pegou um livro na mesinha ao lado do sofá e enrolou-se numa manta quente e macia.
  • 5. 5 II Max entreabriu os olhos vagarosamente. Estava confuso. Não sabia onde estava. Tentou mexer a cabeça, mas ela doía terrivelmente, o que o fez ficar imóvel. De repente a viu. Seus cabelos loiros caindo de um lado da cabeça, que ficava inclinada por causa do livro e do sofá. Ela usava um conjunto de moletom azul e estava descalça, sentada em cima de uma de suas pernas, totalmente à vontade. A mão que segurava o livro era muito bonita, seus dedos eram longos e delicados. Ela mordia os lábios e às vezes fazia uma careta engraçada como se estivesse “brigando” com algum personagem do livro. Seu olhar desceu para os pés da moça. Eram pés pequenos, brancos, delicados. As unhas estavam bem pintadas com uma cor clara. Às vezes uma de suas mãos desciam até os pés, massageando-os inconscientemente. Ela não possuía uma beleza estonteante, mas tinha um charme que nem mesmo ela se dava conta. O formato de sua boca era perfeito e quando ela mordia os lábios, Max sentia vontade de beijá-los, o que chocou seus pensamentos, afinal, não a conhecia. Ela não era magra, tinha curvas como toda mulher deveria ter. Ele não sabia precisar sua idade, mas ela parecia ter por volta de 32 anos de idade. Definitivamente, ele gostava do que via! Surya sentiu uma sensação estranha. Levantou os olhos vagarosamente e deu de cara com os olhos do rapaz encarando-a. Estremeceu levemente. Apertou os lábios inconscientemente, numa mistura de timidez e desafio, ao se sentir analisada por ele. Ele era magro. Quando o trouxera, vestia calça cáqui de boa qualidade, uma camisa de manga comprida verde e uma camiseta por cima na cor bege. Calçava tênis de caminhada e não encontrara nenhum cantil com água ou qualquer provisão de comida.
  • 6. 6 Sentiu seu rosto esquentar ao lembrar de seu corpo despido. Ele parecia ler seus pensamentos, pois dera um sorriso estranho. Ela não sorrira de volta, estava irritada com a presença marcante daquele estranho que mexia com sua rotina tranqüila. Colocando o livro sobre a mesa ao lado do sofá, ela levantou-se e ajoelhou- se ao seu lado, tocando sua testa para medir a febre. Ainda estava febril, mas sua aparência estava melhor. - Meu nome é Surya. Eu o encontrei desacordado há alguns metros daqui, perto da cachoeira da Pedra da Lua. Você se lembra de algo? - Meu nome é Max. Lembro que me perdi e caí em um barranco quando começou a chover. Foi difícil sair de lá e quando consegui, desmaiei de dor e cansaço. Acho que perdi minha mochila e meu material de trabalho, falou ele fazendo uma leve careta. Sua voz era rouca. Surya achou-a sexy. Franziu a testa. - Vou trazer um pouco de sopa pra você, afinal precisa se alimentar para ficar forte e voltar logo para onde veio. Depois que falou isso, ela se desculpou, achando-se mal-educada. - Desculpe, é que não costumo receber visitas... falou ela e saiu em direção à cozinha, voltando logo depois com uma tigela de sopa. Ajeitou o travesseiro para que ele conseguisse se sentar e ficou ao seu lado, tentando ajudá-lo. - Seu tornozelo tem um osso trincado, provavelmente por causa da queda e você possui cortes e picadas por todo o corpo, mas amanhã cedo, o Dr. Marcos dá uma olhada nisso tudo, já passei um rádio pra ele e ele está ciente do seu quadro.
  • 7. 7 - Obrigado, desculpe o trabalho... você vive sozinha aqui? Falou ele olhando ao redor. Desconfiada, ela apertou os olhos e falou, mentindo: - Não. Moro com o meu marido e meu cachorro Zion, que é muito bravo. - Hey, calma, não sou um vagabundo, não precisa se preocupar comigo. Você pode pegar a carteira no bolso de trás da minha calça e.... Ele enfiou a mão por baixo do edredom e só então reparou que estava nu. - Er... tive que despi-lo para lavar e cuidar das suas feridas. Lavei também as suas roupas, logo mais estarão secas, falou ela sentindo o seu rosto quente. - Tudo bem, obrigado. Provavelmente o seu marido deve estar chateado com toda essa situação. - Não, ele está tranqüilo, falou ela desviando o olhar do dele. - Então, você pode pegar a carteira que está no meu bolso. Tem todos os meus documentos e uma identificação da National Geografic, onde eu trabalho. Estou na região há três dias para fazer uma matéria sobre o Vale da Lua. - Ah que interessante! Você é jornalista... - Sim, adoro o que faço. Estou hospedado na pousada “Sol da meia-noite”, conhece? - Ah sim, é uma pousada muito boa. Eles não te indicaram um guia para que não se perdesse por aí? Ela perguntou erguendo as sobrancelhas. - Sim, indicaram, mas há dois dias ele não aparece e decidi me aventurar sozinho - falou com um sorriso irresistível de menino travesso.
  • 8. 8 - Você não é muito novo para ser um jornalista? Perguntou desconfiada. Sorrindo, ele respondeu: - Trabalho desde os 16 anos. Comecei Na NG como simples estagiário e fui trocando de cargo até a minha primeira matéria, aos 19 anos de idade. Felizmente viram o meu potencial e agora faço o que gosto: viajo e escrevo! Curiosa para saber a sua idade, Surya continuou dando-lhe a sopa. - Ah... e você escreveu essa matéria há muito tempo? Rindo de sua curiosidade, ele respondeu: - Está preocupada com a minha idade? O fato de eu ser novo incomoda você Surya? - Não, não... gaguejou, corada. - Eu tenho 29 anos, aliás, seu nome combina muito com você. É indiano e significa “luz do sol”, estou certo? - Sim. Está certo, ela respondeu, sem graça com a sua curiosidade e ao mesmo tempo, encantada com a sua inteligência. Ninguém nunca sabia o significado do seu nome. Ela terminou de dar-lhe a sopa, limpou sua boca e levantou-se. - Vou até à cozinha buscar um chá para você. - Obrigado. Se encaminhando até a cozinha, Surya reclamava consigo mesma: ah que raiva! Estou há tanto tempo sem uma presença masculina que estou parecendo uma
  • 9. 9 tola. Ele é lindo, sem dúvida, mas é muito jovem e geralmente, rapazes daquela idade só queriam aventuras. - Mas o que é que eu estou fazendo?? Deus! Não importa a idade do rapaz. Ele não tem nada a ver comigo. Estou ficando maluca! [pensou batendo a mão fechada sobre o tampo da pia] Fez um bule de chá de ervas para os dois e voltou para a sala. Max tentava se sentar e havia algumas gotas de suor em sua testa. O edredom caíra até sua cintura e a luz do fogo da lareira dava-lhe um aspecto bem sexy, apesar da careta de dor. - Está tudo bem? Precisa de ajuda? - Não, está tudo bem, obrigado. Me diz uma coisa, como você me trouxe da mata até aqui, já que você é tão pequena, perguntou ele observando seu corpo e sorrindo. - Quando Zion veio me “avisar”, eu fui até lá e o encontrei desacordado. Voltei para casa, peguei um edredom e coloquei por baixo do seu corpo, arrastando- o até aqui. - Nossa, quanto trabalho, afinal eu sou mais alto e mais pesado que você. O seu marido não podia ajudá-la? Sem graça, ela respondeu: - Não. Ele está num congresso na cidade e só volta amanhã. - Sei, ele falou analisando o seu rosto. E vocês moram aqui há muito tempo? - Há cinco anos. É um lugar lindo. Me apaixonei assim que o vi pela primeira vez – falou com os olhos brilhando.
  • 10. 10 - Sim, é “muito” lindo mesmo – ele falou fitando-a intensamente, o que fê-la desviar os olhos para o chão. - Bem, eu preciso me deitar. Tenho muito trabalho a fazer amanhã e logo cedo, o Dr. Marcos virá vê-lo. Se precisar de algo, toque o sino que deixei ao lado da mesinha do sofá ok? - Sim, obrigado. Boa noite e durma bem “luz do sol” – ele respondeu, deixando-a apreensiva com a intensidade do sentimento que brotou dentro dela.
  • 11. 11 III Surya desligou as luzes, deixando somente a iluminação do fogo crepitando na lareira. Colocou mais um travesseiro ao lado de Max, caso ele necessitasse, deixou uma jarra com água ao lado do sofá, deu uma olhada em volta e, satisfeita, subiu as escadas encaminhando-se para o seu quarto, com pensamentos que a incomodavam. - Que droga, não sei que está acontecendo comigo! Porque o sorriso dele mexe tanto comigo? Andou pelo quarto se despindo e entrou no banheiro, fitando cuidadosamente o seu corpo no espelho em cima da bancada da pia. Tinha uma marca bem fina de cesariana. Seus seios eram medianos e firmes e possuíam bicos rosados. Passou a observar seu rosto. Possuía poucas marcas de expressão, apesar dos seus 40 anos, mas raramente saía de casa sem protetor solar e procurava se cuidar o máximo possível. Sempre que podia, caminhava em torno de 7 km com Zion pelas redondezas, aproveitando a beleza do lugar. Uma vez a cada dois meses ia ao salão na cidade, para retocar a tintura do cabelo. Tinha cabelos castanhos, mas gostava de usá-los com algumas mexas loiras, que lhe davam um ar mais despojado. A bancada do banheiro estava repleta de cremes para o rosto, corpo, cabelo, mãos, etc – e mesmo estando sozinha há cinco anos, desde que se separou do ex-marido, ela se cuidava bastante, apesar de não pensar em outro relacionamento. Suspirando, ela saiu do banheiro, subiu um pequeno lance de escada e foi ao terraço. Encostou o corpo na grade de madeira crua. Amava sua casa! Cada cômodo foi projetado com muito amor e carinho. Ela vendera sua casa na cidade e
  • 12. 12 investira tudo naquela casa. Ela possuía dois andares, porém, não era uma casa grande, era aconchegante. No térreo, circundado por varandas, havia uma sala imensa dividida em dois ambientes, separada pela lareira. Uma bancada de granito negro com quatro banquetas abria-se para a cozinha. Panelas de cobre penduradas ao teto davam um charme ao ambiente. A casa era aconchegante. As vigas do teto completavam o ar rústico misturado com o moderno, oferecendo um estilo próprio e maravilhoso. No segundo andar havia três quartos e todo o andar era circundado por vidros. Seu quarto era o maior de todos, pois era dividido em quarto e escritório, separados por uma grande estante forrada de livros. Do seu escritório, Surya tinha a vista da cachoeira da Pedra da Lua, perto de onde encontrou Max... e de seu quarto, ela via todo o vale da Lua com suas perfeitas formações rochosas cavadas nas pedras pelas corredeiras de águas transparentes do rio São Miguel. O Vale da Lua ficava fora do Parque Nacional, na Serra da Boa Vista, num vale que se torna muito perigoso na época da chuva devido às repentinas trombas d'água. O nome Vale da Lua vem da aparência que lembra uma paisagem lunar, com pequenas crateras escavadas pelo atrito da areia levada pela água com as rochas, nas curvas onde as corredeiras são mais fortes, dando origem a pequenos rodamoinhos e funis. Seus pensamentos voltaram-se para Max e ela fitou o céu negro forrado de estrelas. Encaminhou-se para o ofurô, ligou a água e foi tirando a roupa até chegar ao banheiro, onde pegou um roupão de plush branco. Colocou algumas gotas de óleo de pitanga e maracujá na banheira e sentou-se confortavelmente, pensando no rapaz. Era estranho ter um homem em sua casa. Enquanto passava a bucha delicadamente por seu corpo, pensou no corpo firme e másculo de Max. Seu corpo estremeceu, arrepiando os pêlos dos seus braços. Apertou os lábios, irritada com
  • 13. 13 seus pensamentos, levantou-se e expôs seu corpo ao frio para parar de pensar bobagem. Pegou um óleo de amêndoas doces, passou por todo o corpo e agarrou uma toalha que estava pendurada ao lado da banheira. Enxugou-se vagarosamente para não tirar o óleo do corpo e pegou o hidratante, esparramando-o pelo corpo. De repente, sentiu-se observada e olhou para baixo. Seu corpo estremeceu com o susto. Não havia pensado antes, mas boa parte do terraço podia ser vista através dos vidros da sala, onde Max se encontrava deitado, fitando-a sem o menor pudor. Fingindo naturalidade, virou-se, vestiu o roupão, pegou a toalha e se encaminhou para o quarto, trancando a porta atrás de si. Nem ligou a luz. A claridade da lua iluminava o ambiente. Sentia seu rosto corado de vergonha, ficara irritada. Só faltava ele achar que ela estava se exibindo! Com esses pensamentos, despiu o roupão e deitou-se em sua cama repleta de travesseiros, puxou o edredom até a orelha e fechou os olhos. Sonhou com um par de olhos negros profundos fitando-a cheios de desejo. Surya acordou com a sensação que dormira pouco. Lembrou-se de Max e olhou para o relógio que ficava à mesinha ao lado de sua cama. Dr. Marcos chegaria em uma hora. Levantou-se e encaminhou-se cambaleante até o banheiro, tomando uma ducha rápida. Escolheu outro conjunto de moletom, desta vez, na cor branca. Calçou tênis branco com uma listra azul e complementou o vestuário com uma touca branca e um cachecol colorido. Passou protetor nos lábios e desceu as escadas. Max não estava. Preocupada, ela olhou em volta e viu a porta do lavabo entreaberta. Ele estava com uma toalha enrolada na cintura e lavava o rosto. Seus olhos se cruzaram através do espelho.
  • 14. 14 - Bom dia! Falaram juntos. - Bom dia Max, como está se sentindo hoje? - Parece que fui atropelado. Todo meu corpo dói, respondeu ele sorrindo. - Isso logo vai passar. O Dr. Marcos chega em menos de uma hora, aliás, nesse armário embaixo da pia tem toalhas, escovas de dente e gilete, caso queira se barbear. - Obrigado, eu vou aceitar. Posso tomar um banho também? - Claro, mas você acha que consegue? Aceita uma cadeira? - Sim, acho melhor, pelo menos pra não forçar demais a perna. - Eu já volto, vou buscar a cadeira pra você. Surya foi até a varanda e trouxe uma cadeira. Colocou-a dentro do Box do lavabo, trocou as toalhas, verificou os itens básicos de higiene e saiu. Seu corpo esbarrou-se com o de Max e ela deu um pulo, assustada. Para não se desequilibrar, ele segurou-a pelo braço. - Desculpe... falaram ao mesmo tempo. - Ah, bem... er... é melhor você tomar logo o banho, pois o Dr. Marcos está chegando e não é bom você ficar muito tempo em pé. Enquanto isso, vou preparar um café para nós. Desvencilhou-se do braço dele e saiu quase correndo para a cozinha. Ela preparou ovos mexidos com torrada, suco de laranja com acerola, biscoitos, geléia, requeijão, manteiga, queijo, peito de peru, leite, chá e café e levou num carrinho até a sala.
  • 15. 15 - Nossa, o cheiro está muito bom. Estou morto de fome – ele disse, chegando perto dela, mancando e sorrindo. Ela suspirou. Cheiro bom era o que exalava do corpo dele, que acabara de sair do banho. Seus cabelos molhados caíam sobre os olhos e dava vontade dela estender a mão e colocá-los para cima. - É, eu também estou com muita fome. Vamos, eu te ajudo a sentar-se. Segurou-lhe o braço e puxou-o um pouco para cima, apoiando suas costas com uma almofada. O cheiro da pele dele entrava-lhe pelas narinas, provocando-lhe um estremecimento. - Está com frio? Perguntou ele com os olhos brilhando. - Não. - Quando é mesmo que o seu marido retorna de viagem? - Ah, talvez mais tarde ou amanhã, não sei – ela respondeu desviando os olhos dos dele. - Espero que ele não fique chateado por toda essa situação. - Não, não. Além do mais, o Dr. Marcos deve te levar até o seu hotel, já que ele vem de carro. [Ela queria que ele fosse embora o mais rápido possível] Ambos ficaram em silêncio perdidos em seus pensamentos. Ela se esforçando para não olhar para o peito nu dele e ele lembrando da visão do corpo dela ontem à noite. Terminaram o café em silêncio e quando terminavam, escutaram passos na varanda. Surya estranhou, não ouviu o barulho do carro do Dr. Marcos. Abriu a porta e recepcionou o médico.
  • 16. 16 - Surya, olá, bom dia! - Dr. Marcos, bom dia, como vai? - Muito bem. Onde está o nosso paciente? Perguntou o médico olhando em volta. - Olá, bom dia doutor, meu nome é Max – falou, se apresentando. - Bom dia rapaz. Então Surya, o que houve? - Eu o encontrei desacordado ontem pela manhã na mata. Ele está com um osso trincado no tornozelo esquerdo, além de vários cortes e picadas pelo corpo todo. - Vamos examiná-lo então. Marcos pegou a maleta dentro da mochila e começou os primeiros procedimentos. Lavou suas feridas com soro e passou pomada antibiótica e logo depois, preparou uma tala. - Surya, preciso de sua ajuda. - Claro Dr. - Segure a perna dele desta maneira, explicou ele – para que eu coloque a tala e fique firme. Uma hora depois, o médico se despedia deles. - Max, você pode ficar um pouco de pé, mas não muito, pois é necessário que você repouse por pelo menos quinze dias antes de começar a caminhar. - Dr. Marcos, o senhor pode dar carona para ele até o seu hotel? Perguntou Surya, ansiosa, ao médico.
  • 17. 17 - Minha querida, você não está sabendo? Eu vim caminhando. A ponte que corta o rio São Miguel e o Rio Preto está com problemas, além do mais, Max precisa ficar de absoluto repouso por pelo menos quinze dias. - Quinze dias??? - Sim, algum problema? Perguntou o médico sem entender a razão da surpresa. - Não, não ... é que... - É que o marido dela pode não gostar Dr. - Ah? Que marido? [ele perguntou] - Ah... er... Não entendendo nada e com pressa, o médico se despede dos dois. - Bem, eu preciso ir. Bom descanso aos dois e leve a sério o tratamento, pois você pode ter alguma reação às picadas. - Está certo Dr., farei tudo que recomendou. O médico fez um afago na cabeça de Zyon e saiu apressado. - Você está preocupada, ele falou enquanto observava ela mordendo os lábios. Se pudesse, eu... - Não. O Dr. Marcos disse que você precisa de cuidados e repouso e é assim que tem que ser. - Desculpe o abuso... - Não, você não tem culpa...
  • 18. 18 - Se o seu marido... - Marido, marido, marido! Você só sabe falar isso?? Olha, fique tranqüilo, vamos encontrar uma solução. Eu vou subir, trabalhar um pouco. Nas estantes ao lado da lareira tem uma coleção de livros, fique à vontade para ler o que quiser e se precisar de alguma coisa, me chame! Ela saiu apressada, sentindo raiva de si mesma!
  • 19. 19 IV Ela subiu correndo as escadas. Assim que chegou ao escritório, desabou na cadeira, pensativa: como ia conseguir encarar Max depois da noite passada? Ela sentiu uma energia, uma vibração entre eles, mas se negava a aceitar. Uma semana se passou. Surya evitava Max e ele a perseguia com os olhos. Ela era incansável em cuidados para com ele. Sua perna melhorara bastante, no entanto, o tempo parecia se arrastar e ela não conseguiu escrever nada. Seus pensamentos estavam voltados ao rapaz. Ás 11h levantou-se e foi preparar o almoço. Geralmente se virava com um lanche, um sanduíche ou uma fruta, mas agora ela precisava preparar algo para Max, já que ele precisava se alimentar bem. Desceu as escadas e não o viu na sala. Entrou na cozinha e preparou algo rápido, porém nutritivo. Arrumou a comida no carrinho e levou para a sala. Desta vez, ele estava sentado, pensativo, no sofá, com uma perna apoiada em uma almofada no banco que ela lhe emprestara para tomar banho. - Olá, vamos almoçar? - Não estou com muita fome. - Mas precisa se alimentar, senão jamais vai sair daqui. Ela falou isso sem pensar e notou que o semblante dele se fechou, tristonho. Ela serviu os pratos, entregou um deles para Max e ligou a TV. Fizeram toda refeição em silêncio. - Aceita um suco de frutas?
  • 20. 20 - Sim, claro! Ficaram ali saboreando o suco e assistindo ao jornal até que Surya sentiu o olhar dele sobre ela. Virou-se para ele e indagou: - Algum problema? Você precisa de alguma coisa? - Eu só estava pensando... como uma mulher como você decidiu morar num lugar desses, longe do agito da cidade. - Uma mulher como eu em que sentido? Ela perguntou desconfiada. - Desculpe, eu quis dizer uma mulher bonita e, ao que parece, bastante inteligente. - Sei... enfim... criei duas filhas, meu ex-marido se casou novamente e meu trabalho permite que eu tenha flexibilidade de lugar e horário, já que envio tudo pela Internet à minha agente. - Então você está no segundo casamento? - Não!! Pega na mentira.... ela respondeu: - Não sou casada, desculpe pela mentira. Falou abaixando a cabeça envergonhada. - Tudo bem, não se preocupe – respondeu ele com um sorriso enigmático no rosto. Eu já imaginava isso. - Imaginava como? Porque? - Porque esta casa não tem nenhuma foto de homem, nenhuma presença masculina. Agora me diga o que você faz. - Sou escritora.
  • 21. 21 - Jornal? Revista? - Tenho um livro publicado e também uma coluna de aconselhamento no jornal da cidade. Estou tentando escrever o meu segundo livro. - Uau, parabéns! Opa, espere, você é a Surya Singh, eu tenho o seu livro de contos. Só agora eu liguei o nome à pessoa. Seu livro é muito bom! - Obrigada, ela respondeu enrubescendo. - O seu segundo livro de contos, em que pé está? Já tem bastante material? Os primeiros são todos muito interessantes, a maioria tem um certo apelo sexual e ao mesmo tempo, remontam a uma certa tristeza. Sentindo um certo desconforto, ela se levanta, ajeita a almofada e pergunta: - Você quer mais alguma coisa? Acho que vou dar uma caminhada! Rapidamente Max se levanta e impede a sua passagem, segurando uma de suas mãos. - Espere Surya, eu... - Max, eu... [falaram ao mesmo tempo] Ele fez um carinho em seu rosto. – Você é linda [ele falou rouco] - Não sou... - Psiii sim, você é. Você tem uma sensualidade latente. Quando fala, dá vontade de beijar seus lábios bem desenhados. Você é inteligente, independente, uma mulher batalhadora e que sabe o que quer.
  • 22. 22 Ela fitou seus olhos e inconscientemente passou a ponta da língua por seus lábios ressecados. - Max, eu não tenho mais idade para joguinhos... - E eu não estou jogando, nem brincando. Simplesmente estou tentando não lembrar do seu jeito carinhoso e dos seus cuidados comigo. Não consigo esquecer do seu jeito sentada no sofá em cima de uma perna e mordendo os lábios enquanto lia o livro. Não consigo esquecer do seu corpo saindo da hidromassagem ontem, o apelo do meu corpo ao pensar nisso. Posso ser muito novo em idade, mas sei ser maduro o suficiente para lutar pelos meus objetivos e, principalmente, lutar por tudo que eu quero e eu quero você Surya. Se você quiser, eu espero você pensar. Eu espero o tempo que for necessário, mas quero te provar que não sou um garoto e sim um homem com responsabilidades. Segurando seu rosto com ambas as mãos, ele fica seus olhos e lhe dá um beijo caloroso. Surya corresponde com a mesma intensidade. Ela já não tinha forças pra lutar contra esse desejo que tomava conta do corpo dela desde que o vira pela primeira vez. Uma das mãos de Max percorre seu pescoço e vai até a sua nuca. Ela suspira e aprofunda mais o beijo, abrindo caminho na boca dele com sua língua quente e úmida. Max suspira e pára. Encosta sua testa na dela e respira fundo. Ela se sente confusa. Queria-o profundamente! Queria fazer amor com ele, queria lhe dizer o que sentia, queria senti-lo dentro de si. - Desculpe... eu não entendo... disse ela. - Surya, não! Eu que peço desculpas, mas eu preciso parar antes que te jogue ao chão e faça amor com você como nunca fiz antes. - Mas é isso que eu quero Max! Porque parou?
  • 23. 23 - Porque eu quero que tudo seja perfeito. Quero que sinta, não apenas o meu desejo, mas os meus sentimentos por você e também não quero que pense que será apenas sexo. Eu quero você também aqui, Surya. [ele disse apontando para o coração]. E quero ter certeza que é o mesmo que você quer, além do mais, você está me evitando há mais de uma semana. - Max, eu não sei, estou confusa. Estou evitando me envolver seriamente com alguém há muito tempo. Não sei se consigo lidar com isso. - Psiu. Vamos deixar o tempo rolar e analisar melhor os nossos sentimentos. Eu quero muito você e não quero ter apenas uma aventura... - Max, nem sei o que dizer... - Não fale nada, apenas sinta. Vou entender se desistir e não me quiser mais, mas por enquanto, vamos nos conhecer melhor. Ainda tenho uma semana pra te mostrar quem na verdade sou e conhecer mais ainda essa mulher que tanto me encanta. Ele sentou-se e puxou-a para o seu colo. Ela podia sentir o desejo dele ainda duro de encontro ao seu corpo, mas não disse nada. - Surya, vamos nos dar esta chance por favor! - Está bem Max, vamos fazer do seu jeito então. Abraçou-o e em seguida, levantou-se. - Eu preciso trabalhar, nos falamos depois então. - Sim Senhora! Ele respondeu rindo.
  • 24. 24 Sorrindo, ela subiu as escadas. Cada um ficou perdido em seus pensamentos. Ele pensando numa maneira de conquistá-la e ela pensando no sentimento forte que ardia em seu peito. V
  • 25. 25 Três dias se passaram e a relação deles se transformara. Trocavam alguns carinhos, mas nada muito íntimo. Tudo que eles queriam era sentir segurança um com o outro e ter certeza dos sentimentos. Eles faziam pequenas caminhadas, lanchavam ao ar livre à beira de rios fabulosos e também trocavam impressões sobre seus trabalhos. Nesse dia Surya passou a manhã inteira trabalhando. Mal almoçou e subiu para o escritório. A noite caiu e Surya desceu as escadas sem fazer barulho. Há pouco tempo ela descera para ver como Max estava e ele dormia profundamente. Ela aproveitou para analisá-lo melhor. Seus cabelos castanhos caíam sobre os seus olhos. Um dos braços estava caído ao longo do seu corpo e o outro apoiado no estômago. A perna ainda estava dolorida, mas o Dr. Marcos o autorizara a fazer caminhadas. Seu rosto era moreno, a pele acostumada ao trabalho feito ao ar livre. Ao redor dos olhos, havia linhas de expressão causadas pelo sol. Os lábios, um pouco entreabertos, possuíam um formato perfeito. Suas mãos eram longas com dedos finos, mas só ela sabia como aquela mão podia segurar uma mulher. Suspirando, ela ouve um barulho. Era Zion, anunciando a chegada de alguém. Era José, trazendo algumas encomendas. Ela trocou algumas palavras com o rapaz, despediu-se e voltou para a sala, deixando outros medicamentos em cima da mesa ao lado do sofá, junto à receita médica. Foi até a cozinha, preparou um caldo bem forte e foi até o quintal colher laranjas e cenoura para fazer um suco bem forte para Max. Ela voltou para a sala quando ele estava despertando. - Oi, boa noite dorminhoco, disse ela sorrindo. Seus olhos sorriam felizes. – Boa noite Surya. Acho que dormi demais né?
  • 26. 26 - Demais não. Você dormiu bem. Estava precisando. Como vai a perna? Ainda sentindo dores? - Não, estou me sentindo ótimo. Gostaria apenas de um banho. - Claro! Eu estava pensando se você não quer subir as escadas e tomar um banho de ofurô pra você relaxar. Gosto de acrescentar algumas ervas à água. É muito bom para as dores no corpo e em casos de tensão. - Eu adoraria, respondeu ele levantando-se. Surya levou-o escada acima. Max não perdeu um detalhe pelo caminho até o terraço. Na parede que subia as escadas, ele viu a fileira de fotos e sorriu diante do retrato de uma garota de cabelos longos e castanhos com o mesmo olhar e sorriso de Surya. Chegando ao terraço, Surya ajudou-o a sentar-se no banco e deixou a banheira enchendo enquanto buscava um roupão no banheiro, junto com uma toalha, que entregou para ele. - Aqui está a toalha e o roupão. Fique o máximo que puder e relaxe. Ela disse sorrindo. - Obrigado Surya – ele respondeu e tocou levemente em sua mão, fazendo- a se lembrar da noite que ele a vira nua. - Quando terminar, eu venho te ajudar. - E como vai saber que terminei? Ele perguntou com um sorriso cínico, fazendo-a ficar vermelha. - Ah... bem... não vou saber, mas tenho uma idéia de que seja daqui a uma hora.
  • 27. 27 Ele riu alto observando seu rosto pegando fogo. - Coloquei algumas gotas de óleos essenciais medicinais na água pra você. Você vai se sentir relaxado, além de fazer bem para a cicatrização total dos machucados. - O cheiro está ótimo, obrigado de novo Surya. Quem sabe um dia eu posso agradecê-la por tanto trabalho e por sua atenção comigo. - Não precisa agradecer, qualquer um faria isso... - Quem sabe... - Então ta... vou descer. Volto daqui uma hora para te ajudar a descer. - Ok! Ela desceu sem olhar para trás. Seu rosto estava quente. Ficou imaginando o corpo dele deslizando pela banheira... e sentiu um arrepio em sua espinha. Ficou andando de um lado pro outro até que decidiu sentar na poltrona e ler um livro. Mal se passaram 15 minutos quando ela notou que não estava prestando atenção ao que estava lendo. Deixou cair o livro e seu olhar vagou para fora. Ficou pensando no que Max dissera alguns dias atrás. Ele tinha razão, era melhor esperar o momento certo... mas quando seria o momento certo? Quem saberia? Ela só sabia que um forte sentimento acontecia entre eles e não era somente sexo. Max era um homem inteligente, batalhava pelo que queria. Era jovem, mas era responsável, tinha uma visão de futuro que a agradava, apesar dela mesmo ter parado de pensar no futuro desde que se mudara para o Vale da Lua. Apesar de ser um homem másculo, ela podia observar nele um homem carinhoso, atencioso e que se preocupava com as pessoas e isso era raro nos
  • 28. 28 homens. Se ele quisesse somente um caso com ela, eles já teriam feito amor, mas ele deixou claro que queria conquistá-la e mostrar a ela que era digno de confiança. Seu olhar voltou-se para cima e ela quase deu um pulo no sofá. Max estava deitado na banheira, com os olhos fechados. Dava para ver seu torço e seus braços. Seu rosto estava relaxado, o pescoço inclinado para trás. Suas roupas jogadas no banco ao lado da banheira. Ela não sabia há quanto tempo estava observando-o até que seus olhos se encontraram. Ela sentiu o corpo pegando fogo e podia notar o mesmo através do olhar dele. Sem pensar, ela molhou os lábios com a ponta da língua e não precisou de mais nada para que se levantasse do sofá e fosse até o terraço. O caminho pareceu levar uma eternidade. Max a esperava em silêncio. Os olhos dos dois traduziam o que ambos já sabiam. Eles se queriam e aquele era o momento certo. Despindo-se vagarosamente, ela foi deixando as roupas pelo caminho até chegar ao lado da banheira. Sentiu a mão dele segurando a sua, puxando-a com cuidado para junto de si. A água cobriu o corpo dela até a metade dos seios. Max estendeu a mão e pegou o sabonete líquido de mel e pitanga. Colocou bastante na palma da mão e virou-a de costas para si, massageando seus ombros – primeiro com firmeza, para logo em seguida, transformar a massagem em pequenas carícias. Ela estava de olhos fechados. Podia sentir cada músculo do seu corpo relaxando ao toque dele. Abaixou a cabeça e entregou seu pescoço às mãos dele. Seu toque era firme, gentil, carinhoso. Ele sabia o que estava fazendo e ela sabia que ele a queria tanto quanto ela o queria. As mãos dele deslizavam do ombro ao pescoço dela. Ela suspirava de prazer. Ele puxou-a mais para trás e deslizou as mãos dos ombros até a palma da
  • 29. 29 mão. A pele dela estava quente pela água e pelas carícias, mas ao mesmo tempo, um arrepio tomava conta do seu ser. Ele virou-a para si e ajeitou-a no seu colo, de modo que suas pernas sustentassem o peso dela. As pernas dela se separaram, uma de cada lado do corpo dele. Ele apanhou o sabonete e esparramou mais em suas mãos. Voltou a acariciar os ombros dela e o pescoço, só que agora seus olhares não se desgrudavam. A mão dele desceu, traçando vagarosamente um caminho entre os ombros e seus seios. Os dedos dele tocaram os bicos duros e voltavam-se para cima, provocando-a ao máximo. Ele observava o rosto dela e ela observava o rosto dele a cada toque. Sabiam que aquilo não teria fim, eles queriam se amar, apenas isso. As mãos dele continuaram a acariciá-la, desta vez descendo dos seios para a barriga. Ela gemeu baixinho o que fez ele entreabrir os lábios. O ponto entre as pernas dela pulsava desejoso. Ela desceu o olhar e viu seu membro duro quase tocando sua barriga. Mordeu os lábios, nervosa. Com um meio-sorriso, ele colocou um dedo na boca dela, impedindo-a de machucar os próprios lábios. Brincando, ela mordeu a ponta do seu dedo – mas ele não riu, apenas tocou novamente os lábios dela com o dedo. Ela mordeu novamente, só que em seguida, ela beijou a ponta de seu dedo e passou levemente a língua, provocando-o. Desta vez ele sorriu, como se ela tivesse feito exatamente o que ele queria. Ela segurou seu dedo entre os dentes e sugou-o vagarosamente, o que fez ele puxá-la mais contra si, para que ela sentisse a força do desejo que guardava para ela. Consciente do poder sobre ele, ela traçou uma linha de beijos que começou em seu queixo, passou por sua bochecha, pelos olhos, testa, nariz. Os lábios dela eram macios e molhados. A pele dele se arrepiava de prazer. A boca dela descia pelo pescoço dele e ele jogava o pescoço para trás, de olhos
  • 30. 30 fechados. As mãos dele acariciavam os seios dela. Ela abriu um pouco mais as pernas e, ainda beijando-o, fez pequenos movimentos pra frente e pra trás, roçando seu sexo nas pernas dele, o que provocou uma onda de gemidos nos dois. Com firmeza, ele abraçou sua cintura e trouxe-a mais para cima, invadindo sua boca com a língua ao mesmo tempo em que sentia com os dedos, o local exato de penetrá-la. Ela abafou seu grito com a boca dele. Sentiu seus dedos penetrando- a devagar, para não machucá-la. Sabia que estava molhada. Seus seios roçavam o peito dele enquanto seus movimentos ficavam mais intensos. A língua dos dois traçava um duelo dentro da boca do outro. A vontade que tinha era de fazer o tempo parar. Sentiu os dedos dele procurando seu ponto sensível em meio ás suas carnes e gemeu, fazendo-o pressionar mais ainda o ponto duro logo acima da abertura de seu sexo. Ela não conseguia se conter, muito menos ele. Queria dar todo prazer para ela. Queria que ela se sentisse a mulher mais amada do mundo. Queria vê-la gemendo e se contorcendo de prazer em seus braços para sempre. Com apenas um movimento, ele guiou seu sexo para dentro dela. O grito dela fora abafado pelo grito dele. Ela colocou as mãos no ombro dele e começou a se movimentar em seu colo. Ele segurou sua cintura com ambas as mãos e ajudava- a a rebolar em cima dele. Ela jogava a cabeça para trás e ele não parava de observá-la. Inconscientemente ela lambia e mordia seus próprios lábios, apertava os ombros dele como se implorando para que não parasse. Os cabelos dela voavam de um lado pro outro em seu rosto úmido de suor misturado ao vapor da água da banheira. Ele estendeu uma mão e puxou-a para um beijo ao mesmo tempo em que se afundava dentro dela e puxava seu cabelo com firmeza. Ela soltou o grito mais sensual que ele já havia visto no mundo e sorriu.
  • 31. 31 Ela queria falar pra ele não parar, mas nenhum som, além dos gemidos, saía de sua boca. Ele adivinhava seus desejos e fazia-a delirar. Pelos gemidos dela, ele sabia que ela estava próxima do gozo e desceu seus dedos novamente até o ponto que ela mais gostava. Acariciou-a a princípio com cuidado, provocando. Logo depois, acelerou os movimentos e se preparou para senti-la gozando em si e nos seus dedos. Não deixando de observá-la, em poucos segundos ele sentiu seu sexo sendo sugado para mais fundo dentro dela de uma maneira que ele nunca havia sentido. Ela girou os olhos e do fundo de sua garganta saiu um grito rouco, se transformando depois em gemidos altos e demorados, logo se misturando ao dele, terminando, enfim, num longo suspiro. Ela abriu os olhos surpresa, como se estivesse voltando de uma longa viagem. Ele sorriu. Estava apaixonado por ela. Queria esta mulher em sua vida para sempre. E diria ainda hoje isso pra ela. Queria cuidar dela, ser seu companheiro, fazer caminhadas diárias com ela, explorar o lugar lindo em que morava. Queria ser seu homem, seu namorado, seu marido, seu amante. Queria-a para sempre ao seu lado! Abraçou-a fortemente. Ela estava relaxada, entregue a este homem. Teve a impressão que ouvira-o falar que a amava, mas ela não tinha certeza. Os gemidos na hora do gozo não permitiam prestar muita atenção aos ruídos externos. - Max.... você disse.... ? - Sim, eu disse – falou ele sorrindo. - É sério? - Não precisa falar nada Surya. Eu a amo e quero você na minha vida. Mas se você não estiver se sentindo confiante ou não tem certeza do que sente, eu espero.
  • 32. 32 Ela deu-lhe um beijo terno na boca e abraçou-o. - Você é uma pessoa maravilhosa Max. Eu o amo! Eu também quero você na minha vida. Para sempre... - Surya... - Max, vamos sair daqui, está esfriando. Vamos! – Ela falou isso levantando- se da banheira rindo. Pegou o roupão, vestiu e ajudou-o a enrolar a toalha em sua cintura, correndo abraçados pra dentro do quarto dela. Rindo muito, eles caíram em cima da cama. Ele rolou seu corpo para cima dela e beijou-a fazendo-lhe cócegas. - Você é linda! - Ah, sou nada! Ela riu alto. - É sim e eu estou muito feliz. - Max, você tem certeza mesmo do que quer? - Sim, tenho. Nunca senti isso por outra mulher e estou amando amar você. Ele falou isso e abriu o roupão dela, expondo seus seios. Baixou a cabeça e beijou-os carinhosos, dando início a outra onda de calor em seus corpos que os levaram a outros gozos maravilhosos noite adentro, até que, cansados, dormiram abraçados. VI
  • 33. 33 Lá fora, a lua cheia se juntava ao brilho das estrelas, formando uma visão digna de cartão postal. Algo acordava Surya. Ela abriu os olhos sem saber onde estava e logo desceu os olhos para o braço de Max em cima de sua barriga. Ela sorriu. Estava apaixonada. Ele era perfeito! Ela puxou delicadamente o braço dele de cima dela e pulou da cama. Estava nua. Seu corpo estava marcado pelo amor da noite passada. Ela desceu as escadas procurando a origem do barulho. Em cima da mesinha ao lado do sofá, o celular de Max tocava sem parar. Surya não sabia se podia atender, e, na dúvida, atendeu. - Alô! - Ah, acho que liguei errado. Esse celular não é o do Max? [era uma voz de mulher] - Sim, é dele sim. Surya respondeu nervosa. - E quem é que está falando aí? Perguntou a voz novamente do outro lado, desta vez, com uma ponta de irritação. - Olha, ele está dormindo, gostaria de deixar recado? - Diz pra ele que a noiiiiiiiva dele ligou. Meu nome é Julia. Dizendo isso, ela bateu o telefone com toda força. Tremendo muito, Surya senta-se no sofá. - Não é possível! Não pode ser! Meu Deus, diz que não é possível por favor!
  • 34. 34 Depois de alguns minutos, ainda em choque, Surya sobe as escadas e entra em seu banheiro. Deixa a água cair por seu rosto, lavando suas lágrimas. Ela estava em pedaços, não podia acreditar no que estava acontecendo. Max não podia ter mentido pra ela, não era possível! Ela podia ver em seus olhos o quanto a amava, mas então, porque.... ?? Diante da possibilidade de um novo sofrimento, ela só via um caminho: fugir! Entrou no closet e pegou uma pequena maleta, onde colocou algumas poucas peças de roupa e algumas sandálias. Vestiu uma calça jeans, uma camiseta regata branca, tênis all-star branco e jogou uma jaqueta de couro marrom por cima dos ombros. Desceu quase correndo as escadas. Pegou as chaves do Jeep em cima do móvel, abriu a porta e voltou-se para escrever um bilhete. Colocou-o na mesinha ao lado do celular dele e saiu. As lágrimas impediam-na de enxergar à frente. Ela parou o jeep há poucos km dali, junto às pedras do Vale da Lua. - Eu não posso acreditar que mais uma vez cometi um erro. Como pude ser tão burra? Como pude acreditar nas palavras dele? Voltou para o jeep e seguiu até encontrar a via principal que levava à cidade. Uma hora depois estava dentro de um avião. Max acordou com o sol batendo em seus olhos. Virou-se de lado, tentando abraçar Surya e encontrou a cama vazia. Imaginando que ela estava no banho, ele
  • 35. 35 desceu as escadas. Ainda estava nu, mas nem ligou para o fato e foi direto à cozinha. Lá preparou ovos mexidos, pães, torradas, suco de laranja, geléia, leite, chá e bolo. Saiu pela porta dos fundos e colheu um lindo girassol, colocando-o junto à bandeja de café da manhã. Subiu as escadas assoviando, tranqüilo. Entrou no quarto e Surya não estava. Olhou no banheiro e não a encontrou. Sorrindo, foi até o terraço chamando- a e nada. - Pra onde ela foi??? Ele perguntou surpreso. Desceu as escadas, desta vez já vestido. Olhou a mesa ao lado do sofá e viu um bilhete ao lado do seu celular. “Por favor, saia da minha casa! Tranque a porta e coloque as chaves embaixo do vaso de tulipas vermelhas. Eu cometi um erro e não voltarei a cometê-lo novamente.” Sentindo o sangue sumir de seu rosto, ele sentou-se na ponta do sofá. - Mas.... porque?? O que houve??? Seus pensamentos se perderam entre mil explicações, mas não encontrara nenhuma a não ser que ela tenha se arrependido e voltara atrás. Chateado, ele reuniu suas coisas, colocou numa sacola e saiu porta afora. Não conseguia acreditar no que tinha acontecido. Em um dia estava vivendo no paraíso e no outro fora até o inferno. - Ah Surya... falou ele gemendo, atordoado, porque você fez isso? Seu celular tocou. - Alô!
  • 36. 36 - Max! Gritou uma voz histérica. - Sim Julia, o que houve? - Onde é que você está? - Pra que você quer saber Julia, o que você quer? - Você está com uma mulher que eu seiiii! - Como você......... ??? - Você sabe que eu amo você Max, mas você sempre me humilha, falou ela choramingando. - Julia, nunca te prometi nada. Tivemos um caso, só isso. Não temos nenhuma relação. Nosso namoro começou e terminou rapidamente, não deu certo! - Mas eu sempre sonhei com o dia que você viesse a me amar.... - Julia, eu estou apaixonado por outra mulher como nunca estive antes. - É a moça que atendeu o telefone? - Como? ........ espere... Julia, que moça, do que está falando? – ele pergunta confuso. - Eu liguei pra você, queria saber notícias suas e uma moça atendeu. - O que você disse pra ela Julia? – perguntou ele sobressaltado, agora entendendo tudo. - Eu não disse nada.... só queria falar com você! – respondeu ela insolente.
  • 37. 37 - Julia, me diz exatamente como foi a conversa! – ele perguntou nervoso. - Ah... eu.... - Julia!!!!!!!! – gritou ele. VII
  • 38. 38 José estava a caminho da cidade quando vê um homem caminhando com certa dificuldade. Demorou a reconhecê-lo, até que chegou perto e parou o carro. - Olá, o Sr. não é aquele amigo da Dona Surya que estava machucado? - Sim, sou eu – respondeu Max cansado e com o rosto coberto de suor. - Aceita uma carona? O Sr. não me parece bem. - Aceito sim, obrigada. Entrando no carro com certa dificuldade, ele começou a sondar o rapaz. - Você por acaso sabe onde fica a cidade onde moram as filhas da Surya? - Claro que sei moço, as meninas dela moram em Brasília. - Sim, mas você sabe mais ou menos onde ou como posso achá-las ou o endereço delas? - Aconteceu alguma coisa moço? Perguntou José desconfiado. - Não. É que eu escrevo pra um jornal e fiquei de entregar uma encomenda para as filhas dela, só que esqueci de pegar o endereço e agora estou muito longe para voltar. - Eu tenho aqui comigo uma encomenda das meninas pra mãe, só que não deu tempo de entregar pra ela ontem. Deixei pra entregar hoje. Acho que talvez tenha o endereço delas. Parou o carro e jogou o corpo para trás, pegando uma caixa de papelão. - Aqui! Olha que sorte! Anote aí!
  • 39. 39 Tremendo, nervoso, Max anotou o endereço das filhas de Surya e agradeceu. - Pra onde o Sr. está indo? - Preciso ir até o aeroporto. Você pode me levar até lá? - Sem problemas moço, eu o levo, respondeu José, sorrindo. Uma hora depois Max se encontrava sentado em uma poltrona no avião que o levava à Brasília. Seu rosto estava pálido. Ele chamou uma comissária de bordo, pediu-lhe água e tomou os remédios. Encostou a cabeça na poltrona e fechou os olhos. - Maldita Julia e sua inconveniência! Droga! Porque Surya não me acordou e brigou comigo para eu poder me explicar? Porque ela não confiou em mim? Depois de tudo que aconteceu... Chateado, Max ficou pensando no que fazer. Não queria perder Surya, mas também não queria passar por cima do seu orgulho ferido e procurá-la com explicações, depois de ter passado a noite inteira falando que a amava e fazendo amor com ela. Abatida, Surya olha o relógio em seu pulso. Era 17h. - Será que Max já saíra de sua casa? Pegou um táxi e foi para a casa das filhas, pensando nele com tristeza. - Porque eu sou tão estourada? Eu devia ter ficado e conversado com ele. Eu não deveria ter saído da minha própria casa. Mas não tinha coragem de olhar pra ele.... e ver a mentira em seu olhar.
  • 40. 40 Pouco tempo depois, estava abraçando as filhas. - Mãeeeeeeeee!! Gritavam as duas, felizes. O que aconteceu que você veio ver a gente antes das férias?? - Ué, não posso vir a hora que eu quero não? – respondeu ela rindo. - Claro que pode mãe, foi uma ótima surpresa! Abraçadas, as três entraram em casa. Tudo estava arrumado e limpo. Surya gostava da moça que trabalhava na casa das filhas. Ela era responsável e carinhosa, além de satisfazer todas as vontades delas. - Ah que saudade daqui filhotas! Como estão as coisas? - Estão bem mãe e você? Como está o Vale da Lua? Abaixando a cabeça, Surya responde: - Está tudo bem, lá continua lindo como sempre. Trocando olhares, as filhas levam-na até o quarto de hóspedes. - Mãe, aconteceu alguma coisa? - Não, nada. Eu só quero tomar um banho e descansar um pouco. - Tudo bem mãe. Vou pedir pra Marta fazer um lanche pra nós para quando você acordar. As filhas fecharam a porta atrás de si conversando baixinho. - Aconteceu alguma coisa, a mamãe não está bem. Notou os olhos dela como estavam vermelhos?
  • 41. 41 - Sim. Vamos deixá-la descansar e quando ela quiser se abrir, estaremos aqui. As duas foram até a cozinha e conversaram com Marta sobre o lanche para logo mais à noite. Surya entrou no banho e deixou as lágrimas correrem livres sob o chuveiro. Ela estava profundamente magoada. A dor em seu peito era imensa. Sentia ainda em seu corpo as carícias de Max. Entregara-se a ele completamente. Mas ele era noivo. Ele mentira para ela. Saindo do chuveiro, enrolada numa toalha, Surya deita-se na cama e dorme, cansada de tanto chorar. Enquanto isso, Max toma um táxi no aeroporto e vai direto a um hotel. Ao entrar em no quarto, ele deita na cama com um dos braços embaixo da cabeça e outro na texta. Estava se sentindo confuso, talvez fosse melhor deixá-la ir. Talvez ele não fosse o homem ideal para ela. Talvez ele não se sentisse à altura dela o suficiente e talvez ela não o amasse como ele a amava. Talvez ela esperasse demais dele ou vice-versa. Ficou pensando na noite maravilhosa que tiveram. Tudo foi tão perfeito! Será que foi um sonho? Fechou os olhos e dormiu, exausto. Logo a noite cairia e ele pensaria melhor numa maneira de resolver a história entre eles.... ou não !! [Continua.... ou não!]