SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
“Do inferno para o céu”
Noite serena; o céu, tomado pelas luzes da cidade, as invejava. Queria
exibir suas estrelas, mas os pontinhos luminosos lá embaixo não as deixavam
aparecer. Um jovem solitário, à janela de um apartamento, observava a lua.
Queria pegá-la. Debruçou-se sobre o parapeito e esticou os braços: não a
alcançava. Insistiu até sentir a mão deslizar em falso e, assustado pelo perigo da
queda, virou as costas para a janela. Deparou-se com um cômodo escuro; apenas
um abajur aceso ao centro, proporcionando sombras psicodélicas ao redor.
Demônios com as mais diversas faces escondiam-se, corriam, dançavam,
enquanto os móveis tomavam formas estranhas. Sentiu o braço arder: era a
seringa, há pouco usada a fim de encontrar mais uma vez aquele mundo, ainda
espetada nele.
Seus olhos vagavam perdidos em meio àqueles ilusões quando, subtamente,
deparou-se com o retrato de sua avó – na verdade mãe, pois fora ela quem o
criara desde a morte dos pais. Suas feições sorridentes derreteram,
convertendo-se numa expressão macábra, de luto. E por que sorriria? Ali era o
inferno; a morte envolvia o jovem neto, tomava seu corpo aos poucos com o que
nós, mortais, chamamos de vírus. De repente, vozes. O jovem, dominado por
horror, encolheu-se ao chão e por entre as mechas de seu cabelo negro jogado
ao rosto, viu as criaturas demoníacas a encará-lo, dizendo “Ninguém mandou
usar drogas”, “Se tivesse ouvido sua avó”, “Aids? É merecido, seu drogado! Ta aí
seu prêmio por...”. “CHEGA”, gritou o garoto.
Sintia-se cansado. Cansado pela fadiga gerada pela doença, diagnosticada
há alguns meses e, principalmente, cansado de sua solidão. Arrependera-se de
usar drogas, mas o vício era mais forte que ele e mais forte ainda era o
preconceito vivido após contrair Aids. Pagava seus pecados através da doença e
suportando os olhares alheios a condená-lo, a contemplar sua desgraça como
merecida. E não suportando toda a condenação, recorria a seringa novamente.
“Cadê a seringa?” Encontrando-a, injetou novamente a droga. Em sua circulação,
condenação e morte corriam juntos.
Agora sim. O mundo já não era tão obscuro, a cabeça não pesava, o coração
não se remoía. Vovó sorria. Ele sorria. Os demônios transformavam-se em
borboletas multicoloridas e anjos, muito brilhantes. “Será que vieram me
buscar?” Apesar de todos o condenarem, queria ir para o céu. E por que não iria?
É tradição a humanidade atribuir ao doente a culpa de seus males, fazer o
inferno aqui e agora além de garantí-lo para o amanhã, após a morte. Mas e
Deus? Seria Ele assim tão mal? Incompreensível? Claro que não! Até lhe enviara
anjos! Com certeza o Senhor, criador dos céus e de terra, teria piedade. Teria
de ter! Afinal, tirara-lhe os pais, o desolara e o fizera infeliz. Merecia um céu,
enfim. O céu...
Voltou-se novamente a janela, a qual enquadrava o paraíso ali, tão perto.
Lembrou-se da namorada, a quem amava tanto. Ela o deixara após saber da
doença. Era uma moça tão linda; olhos escuros, lábios grossos. E gostava da lua.
Quando fosse para o céu, daria um jeito de lhe enviar a lua numa caixinha de
presentes. Quem sabe assim voltasse para ele, quisesse ir para o céu também.
Daí poderia até conhecer seus pais! Ah, como eram bons, seus pais. Amava-os
tanto, tanto. Enfim, depois de tanto tempo, iria os rever.
Debruçou-se novamente sobre a janela. Aquele céu prometia-lhe tantas
coisas, tanta felicidade e até estrelas. Inclinou o corpo à frente. E lá estariam
seus pais e até Deus, os quais não o condenariam, o deixariam em paz. As mãos
deslizaram. Só que dessa vez, não foi em falso. Ele foi atrás de seu céu e seus
anjos o seguiram. Era uma noite muito, muito serena.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Da solidão à redenção em 40 letras

Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02Telma Costa
 
Contos de um coração quebrado
Contos de um coração quebradoContos de um coração quebrado
Contos de um coração quebradoRaquel Alves
 
"A Destinada" - Paula Ottoni (Cap. 1)
"A Destinada" - Paula Ottoni (Cap. 1)"A Destinada" - Paula Ottoni (Cap. 1)
"A Destinada" - Paula Ottoni (Cap. 1)paulaottoni
 
Nuvem negra flipsanck pdf
Nuvem negra flipsanck pdfNuvem negra flipsanck pdf
Nuvem negra flipsanck pdfGabriel171
 
Poemas de Manuel Felipe de Sousa
Poemas de Manuel Felipe de SousaPoemas de Manuel Felipe de Sousa
Poemas de Manuel Felipe de SousaJosiane Amaral
 
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)guest3bd1a70
 
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)guest3bd1a70
 
Loucura de Mário de Sá Carneiro realizado por Ana Luísa Silva
Loucura de Mário de Sá Carneiro realizado por Ana Luísa SilvaLoucura de Mário de Sá Carneiro realizado por Ana Luísa Silva
Loucura de Mário de Sá Carneiro realizado por Ana Luísa Silva12anogolega
 
Resumo O SEGREDO DOS GIRASSÓIS
Resumo O SEGREDO DOS GIRASSÓISResumo O SEGREDO DOS GIRASSÓIS
Resumo O SEGREDO DOS GIRASSÓISAdriana Matheus
 
Análise de laços de família, clarice lispector
Análise de laços de família, clarice lispectorAnálise de laços de família, clarice lispector
Análise de laços de família, clarice lispectorma.no.el.ne.ves
 
COUTO,-Mia-O-Fio-das-missangas.pdf
COUTO,-Mia-O-Fio-das-missangas.pdfCOUTO,-Mia-O-Fio-das-missangas.pdf
COUTO,-Mia-O-Fio-das-missangas.pdfDeborah Kash
 
Aden stone contra o reino das bruxas vol 2 (série:Interligados)
Aden stone contra o reino das bruxas vol 2 (série:Interligados)Aden stone contra o reino das bruxas vol 2 (série:Interligados)
Aden stone contra o reino das bruxas vol 2 (série:Interligados)Niele Maria
 

Semelhante a Da solidão à redenção em 40 letras (20)

Lua nova
Lua novaLua nova
Lua nova
 
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02
 
Capitulo dois
Capitulo doisCapitulo dois
Capitulo dois
 
Capítulo 1 - Volko
Capítulo 1 - VolkoCapítulo 1 - Volko
Capítulo 1 - Volko
 
Contos de um coração quebrado
Contos de um coração quebradoContos de um coração quebrado
Contos de um coração quebrado
 
"A Destinada" - Paula Ottoni (Cap. 1)
"A Destinada" - Paula Ottoni (Cap. 1)"A Destinada" - Paula Ottoni (Cap. 1)
"A Destinada" - Paula Ottoni (Cap. 1)
 
O Corvo de Vidro
O Corvo de VidroO Corvo de Vidro
O Corvo de Vidro
 
Nuvem negra flipsanck pdf
Nuvem negra flipsanck pdfNuvem negra flipsanck pdf
Nuvem negra flipsanck pdf
 
Primeiras 15 páginas:
Primeiras 15 páginas: Primeiras 15 páginas:
Primeiras 15 páginas:
 
Poemas de Manuel Felipe de Sousa
Poemas de Manuel Felipe de SousaPoemas de Manuel Felipe de Sousa
Poemas de Manuel Felipe de Sousa
 
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
 
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
 
Loucura de Mário de Sá Carneiro realizado por Ana Luísa Silva
Loucura de Mário de Sá Carneiro realizado por Ana Luísa SilvaLoucura de Mário de Sá Carneiro realizado por Ana Luísa Silva
Loucura de Mário de Sá Carneiro realizado por Ana Luísa Silva
 
Claro enigma
Claro enigmaClaro enigma
Claro enigma
 
01 no limitedapaixorev-pl
01 no limitedapaixorev-pl01 no limitedapaixorev-pl
01 no limitedapaixorev-pl
 
Resumo O SEGREDO DOS GIRASSÓIS
Resumo O SEGREDO DOS GIRASSÓISResumo O SEGREDO DOS GIRASSÓIS
Resumo O SEGREDO DOS GIRASSÓIS
 
Análise de laços de família, clarice lispector
Análise de laços de família, clarice lispectorAnálise de laços de família, clarice lispector
Análise de laços de família, clarice lispector
 
COUTO,-Mia-O-Fio-das-missangas.pdf
COUTO,-Mia-O-Fio-das-missangas.pdfCOUTO,-Mia-O-Fio-das-missangas.pdf
COUTO,-Mia-O-Fio-das-missangas.pdf
 
Aden stone contra o reino das bruxas vol 2 (série:Interligados)
Aden stone contra o reino das bruxas vol 2 (série:Interligados)Aden stone contra o reino das bruxas vol 2 (série:Interligados)
Aden stone contra o reino das bruxas vol 2 (série:Interligados)
 
A mariposa e a estrela
A mariposa e a estrelaA mariposa e a estrela
A mariposa e a estrela
 

Mais de carla Furlan

aula 2 interpretação alethus.pptx
aula 2 interpretação alethus.pptxaula 2 interpretação alethus.pptx
aula 2 interpretação alethus.pptxcarla Furlan
 
Dissertativo argumentativo
Dissertativo argumentativoDissertativo argumentativo
Dissertativo argumentativocarla Furlan
 
Conotação e denotação 3o ano
Conotação e denotação 3o anoConotação e denotação 3o ano
Conotação e denotação 3o anocarla Furlan
 
Texto dissertativo argumentativo teoria e intro
Texto dissertativo argumentativo teoria e introTexto dissertativo argumentativo teoria e intro
Texto dissertativo argumentativo teoria e introcarla Furlan
 
Peridos coordenados subordinados
Peridos coordenados  subordinadosPeridos coordenados  subordinados
Peridos coordenados subordinadoscarla Furlan
 

Mais de carla Furlan (13)

aula 2 interpretação alethus.pptx
aula 2 interpretação alethus.pptxaula 2 interpretação alethus.pptx
aula 2 interpretação alethus.pptx
 
Vozesverbais
VozesverbaisVozesverbais
Vozesverbais
 
Dissertativo argumentativo
Dissertativo argumentativoDissertativo argumentativo
Dissertativo argumentativo
 
Conotação e denotação 3o ano
Conotação e denotação 3o anoConotação e denotação 3o ano
Conotação e denotação 3o ano
 
Verbete teoria
Verbete teoriaVerbete teoria
Verbete teoria
 
Resumo 2
Resumo 2Resumo 2
Resumo 2
 
Resumo 2
Resumo 2Resumo 2
Resumo 2
 
Texto dissertativo argumentativo teoria e intro
Texto dissertativo argumentativo teoria e introTexto dissertativo argumentativo teoria e intro
Texto dissertativo argumentativo teoria e intro
 
Peridos coordenados subordinados
Peridos coordenados  subordinadosPeridos coordenados  subordinados
Peridos coordenados subordinados
 
Conto
ContoConto
Conto
 
Verbos 1
Verbos 1Verbos 1
Verbos 1
 
Substantivos
SubstantivosSubstantivos
Substantivos
 
Substantivos
SubstantivosSubstantivos
Substantivos
 

Último

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdfBlendaLima1
 
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanhola
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanholaSLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanhola
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanholacleanelima11
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSOLeloIurk1
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobre
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobreAULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobre
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobremaryalouhannedelimao
 
Introdução a Caminhada do Interior......
Introdução a Caminhada do Interior......Introdução a Caminhada do Interior......
Introdução a Caminhada do Interior......suporte24hcamin
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Maria Teresa Thomaz
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfTutor de matemática Ícaro
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxMauricioOliveira258223
 

Último (20)

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
3-Livro-Festa-no-céu-Angela-Lago.pdf-·-versão-1.pdf
 
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanhola
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanholaSLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanhola
SLIDE DE Revolução Mexicana 1910 da disciplina cultura espanhola
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobre
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobreAULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobre
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobre
 
Introdução a Caminhada do Interior......
Introdução a Caminhada do Interior......Introdução a Caminhada do Interior......
Introdução a Caminhada do Interior......
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdfProjeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
Projeto de Extensão - ENGENHARIA DE SOFTWARE - BACHARELADO.pdf
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2Estudar, para quê?  Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
Estudar, para quê? Ciência, para quê? Parte 1 e Parte 2
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptxSlides sobre as Funções da Linguagem.pptx
Slides sobre as Funções da Linguagem.pptx
 

Da solidão à redenção em 40 letras

  • 1. “Do inferno para o céu” Noite serena; o céu, tomado pelas luzes da cidade, as invejava. Queria exibir suas estrelas, mas os pontinhos luminosos lá embaixo não as deixavam aparecer. Um jovem solitário, à janela de um apartamento, observava a lua. Queria pegá-la. Debruçou-se sobre o parapeito e esticou os braços: não a alcançava. Insistiu até sentir a mão deslizar em falso e, assustado pelo perigo da queda, virou as costas para a janela. Deparou-se com um cômodo escuro; apenas um abajur aceso ao centro, proporcionando sombras psicodélicas ao redor. Demônios com as mais diversas faces escondiam-se, corriam, dançavam, enquanto os móveis tomavam formas estranhas. Sentiu o braço arder: era a seringa, há pouco usada a fim de encontrar mais uma vez aquele mundo, ainda espetada nele. Seus olhos vagavam perdidos em meio àqueles ilusões quando, subtamente, deparou-se com o retrato de sua avó – na verdade mãe, pois fora ela quem o criara desde a morte dos pais. Suas feições sorridentes derreteram, convertendo-se numa expressão macábra, de luto. E por que sorriria? Ali era o inferno; a morte envolvia o jovem neto, tomava seu corpo aos poucos com o que nós, mortais, chamamos de vírus. De repente, vozes. O jovem, dominado por horror, encolheu-se ao chão e por entre as mechas de seu cabelo negro jogado ao rosto, viu as criaturas demoníacas a encará-lo, dizendo “Ninguém mandou usar drogas”, “Se tivesse ouvido sua avó”, “Aids? É merecido, seu drogado! Ta aí seu prêmio por...”. “CHEGA”, gritou o garoto. Sintia-se cansado. Cansado pela fadiga gerada pela doença, diagnosticada há alguns meses e, principalmente, cansado de sua solidão. Arrependera-se de usar drogas, mas o vício era mais forte que ele e mais forte ainda era o preconceito vivido após contrair Aids. Pagava seus pecados através da doença e suportando os olhares alheios a condená-lo, a contemplar sua desgraça como merecida. E não suportando toda a condenação, recorria a seringa novamente. “Cadê a seringa?” Encontrando-a, injetou novamente a droga. Em sua circulação, condenação e morte corriam juntos. Agora sim. O mundo já não era tão obscuro, a cabeça não pesava, o coração não se remoía. Vovó sorria. Ele sorria. Os demônios transformavam-se em
  • 2. borboletas multicoloridas e anjos, muito brilhantes. “Será que vieram me buscar?” Apesar de todos o condenarem, queria ir para o céu. E por que não iria? É tradição a humanidade atribuir ao doente a culpa de seus males, fazer o inferno aqui e agora além de garantí-lo para o amanhã, após a morte. Mas e Deus? Seria Ele assim tão mal? Incompreensível? Claro que não! Até lhe enviara anjos! Com certeza o Senhor, criador dos céus e de terra, teria piedade. Teria de ter! Afinal, tirara-lhe os pais, o desolara e o fizera infeliz. Merecia um céu, enfim. O céu... Voltou-se novamente a janela, a qual enquadrava o paraíso ali, tão perto. Lembrou-se da namorada, a quem amava tanto. Ela o deixara após saber da doença. Era uma moça tão linda; olhos escuros, lábios grossos. E gostava da lua. Quando fosse para o céu, daria um jeito de lhe enviar a lua numa caixinha de presentes. Quem sabe assim voltasse para ele, quisesse ir para o céu também. Daí poderia até conhecer seus pais! Ah, como eram bons, seus pais. Amava-os tanto, tanto. Enfim, depois de tanto tempo, iria os rever. Debruçou-se novamente sobre a janela. Aquele céu prometia-lhe tantas coisas, tanta felicidade e até estrelas. Inclinou o corpo à frente. E lá estariam seus pais e até Deus, os quais não o condenariam, o deixariam em paz. As mãos deslizaram. Só que dessa vez, não foi em falso. Ele foi atrás de seu céu e seus anjos o seguiram. Era uma noite muito, muito serena.