O documento discute a importância da comunicação corporal na educação e apresenta uma atividade realizada com alunos do 2o ano do ensino fundamental baseada em uma lenda africana. A atividade envolveu dança, música, teatro e artes visuais e demonstrou o alto engajamento dos estudantes ao abordar o tema de forma interdisciplinar e contextualizada à sua cultura.
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FACULDADE POLIS DAS ARTES
CRISTINA AKEMI MUNEHISA
COMUNICAÇÃO CORPORAL
Embu das Artes
2015
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FACULDADE POLIS DAS ARTES
CRISTINA AKEMI MUNEHISA
COMUNICAÇÃO CORPORAL
Embu das Artes
2015
Trabalho final apresentado à disciplina
“Comunicação corporal” como exigência
parcial para a obtenção do curso de Pós
Graduação em Arte, Cultura e Educação –
Turma “E-43”, sob a supervisão do Professor
(a) Ms Jane Nogueira dos Santos. Pólo:
Taboão da Serra
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Introdução
No meio empresarial muitas linhas de estudo já avaliam a análise da
expressão corporal como algo significativo para a plena produtividade. Na
educação, porém, ainda existe resistência por parte de alguns docentes
essencialmente conservadores que ignoram ou rejeitam a importância de um
olhar mais atento ao tema e suas influências positivas, tanto que as aulas Artes e
Educação Física ainda são consideradas secundárias em certas escolas,
apresentando aspectos utilitaristas, imediatistas e tecnicistas. Mas são essas as
disciplinas que tem relação direta com o desenvolvimento físico, emocional,
expressivo e criativo da criança fundamentais para seu futuro, e também ajudam
a indicar determinados processos importantes para o entendimento do
funcionamento cognitivo, fundamentando uma avaliação humana e contundente
que norteia o trabalho do educador. E se cada indivíduo tem características
físicas e emocionais próprias, bem como a sua maneira de se relacionar com o
meio, também é diversa a expressão corporal adotada, bem como a forma de
apropriação de novos conceitos e vivências. Portanto o educador precisa
conhecer e reconhecer não somente a comunicação corporal tendo em vista seu
papel receptor, mas precisamente como sua emissão é elaborada. Ou seja, é
uma via de mão dupla, educador e educando passam por um processo de
autoconhecimento, de consciência corporal e de elaboração comunicativa entre
si. O resultado dessa dinâmica é que ambos saiam fortalecidos na consolidação
de sua identidade. E justamente o presente trabalho tem o objetivo de demonstrar
a relevância do tema, apresentando inúmeras possibilidades pedagógicas no
Ensino Fundamental I, tendo e vista ações já realizadas baseadas em pesquisa
bibliográfica relacionada.
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Desenvolvimento da Pesquisa
O Brasil é um país de identidade cultural miscigenada, e portanto, diversa
em suas características. Parte do pressuposto de um educador bem intencionado
é compreender e assimilar com um olhar despido de preconceitos cada
manifestação cultural provinda de seus alunos.
É o que rege a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.294/96
(BRASIL, 1996), o processo educativo deve ser contextualizado ao mundo do
educando, pois o ensino deve estar vinculado a sua atuação na sociedade.
Sendo assim o que perpassa a cultura é da alçada da escola e função dela
enriquecer no que tange à produção, conhecimento e expansão da cultura
brasileira.
Também nos Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte está posto que o
ensino da arte potencializa a aprendizagem da criança, tendo em vista sua
dimensão social e consequentemente existencial. Isso indica que apesar da
trajetória tecnicista do ensino da arte, essa não é mais a proposta mais
abrangente e adequada atualmente. Ainda segundo os PCN’s pode-se observar
que há no Brasil um profundo abismo entre as concepções teóricas e suas
aplicações nas escolas, portanto, os esforços para o processo de modernização
dos educadores brasileiros ainda não deram frutos significativos, pois os
exemplos positivos dessa experiência ainda são isolados.
Historicamente o corpo vem sendo analisado, retratado e seu conceito
constituído de maneiras diversas e até antagônicas, de acordo com hábitos e
convenções sociais de cada época. A arte acompanha de certa forma, isso
quando não é vanguarda nas mudanças, os determinismos dessa construção
estética. A escola não deve ser diferente, muito embora ainda esteja atrasada em
relação às manifestações culturais.
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O corpo em movimento apresenta-se como uma
necessidade da vida moderna, da à sua dinâmica total.
Constitui-se em meio de atender não só às necessidades
vitais do homem, como também às necessidades sociais, às
referências individuais (percepção dos estados de
tensão/relaxamento), da auto-imagem (pela consciência
corporal), do autoconceito (na busca de sua identidade do
“Eu” existencial) e destas em relação à sociedade e aos
diferentes tipo de comportamentos e estilos de vida, ou
ainda, nas inter e intra-relações pessoais que advêm da
sociedade em que o homem se insere (noção de tempo e
espaço em relação ao meio ambiente). (NANNI, 2005 p. 47)
Das necessidades vitais às sociais e individuais, todas devem passar pelo
processo educativo. Para criança a escola é sua área de atuação cultural e social,
é lá que mais estabelece relações com pessoas desconhecidas, e com maior
número de pessoas da mesma faixa etária, e tais relações vão ajudá-la a ter uma
noção melhor, inclusive de si próprio, do seu lugar e papel nessa comunidade. É
um processo orgânico.
Ao passo que todo esse autoconhecimento e as necessidades vem a tona
o corpo começa a sugerir intencionalidade, ou seja, é mais preciso em seus
movimentos, é mais habilidoso inclusive.
Tendo em vista esse trabalho completo de consciência e comunicação
corporal, é possível pensar em diversas estratégias pedagógicas e
desdobramentos para atividades já realizadas no ensino fundamental I. Todos os
eixos de atuação da arte devem estar interligados: Artes visuais, teatro, dança e
música, pois se completam e facilitam ao aluno a imersão necessária para esse
tipo de vivência.
As aulas de artes devem ser diversificadas e principalmente permitir as
crianças liberdade de percepção e expressão. É muito produtivo por exemplo a
utilização de dinâmicas.
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Houve uma experiência realizada com segundos anos do ensino fundamental,
que será relatada a seguir e reúne todas essas áreas e é possível notar a total
participação das crianças e a contextualização do tema trabalhado com as
necessidades reais que atendem não só à curiosidade dos alunos, como também
sua expressão.
“Furos no céu”
Durante as leituras feitas pela professora, estudávamos lendas, para o
projeto institucional da escola com o tema leitura. Em paralelo estávamos
num período de familiarização com instrumentos de percussão. À época
eles já haviam trazido instrumentos de casa para escola, todos
experimentamos, depois exploramos os instrumentos da bandinha da
escola, na tentativa de ritmos mais precisos e trabalhos utilização do corpo
como instrumento.
No primeiro contato com uma lenda sobre o aparecimento de estrelas no
mundo os alunos acharam interessante, busquei então outras versões da
mesma lenda e o conto africano se tornou o preferido deles. Passamos ao
estudo mais especifico das africanidades, outras lendas, vestuário, dança,
ritmo e instrumentos musicais.
O estudo se deu por completo quando assistimos o filme “Kiriku e a
Feiticeira”.
A apresentação se deu da seguinte maneira:
ADAPTAÇÃO DO CONTO AFRICANO “FUROS NO CÉU” PARA A PEÇA
NARRADORES entram em cena – Houve um tempo em que o Céu e a
Terra eram muito próximos um do outro.
Entram alunos desenrolando o céu e a terra.
NARRADORES – Esta história aconteceu numa aldeia africana em que as
mulheres pegavam seus pilões para amassar grãos de milho.
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Entram as meninas batendo o pé e
fazendo gesto de usar o pilão. Ficam em cena amassando com o pilão e
conversando.
NARRADORES – Um dia, distraídas, elas levantaram as mãos do pilão tão
forte e tão alto que fizeram furos no céu.
Meninas fazem o gesto se esticando bastante fazendo os furos no céu.
NARRADORES – O Céu ficou assustado com os furos e começou a gritar:
Todos – AAAAAIIII, UUUUUUIIIIII
NARRADORES – As mulheres olharam para o céu e disseram:
MENINAS – Acho que vai chover!!!
NARRADORES – O céu continuou bravo e ordenou ao tambor: Toque bem
alto! Avise que vou me separar da Terra!
Os meninos fazem o som de tambor.
NARRADORES – As mulheres gostaram do som do tambor e começaram
a dançar.
Meninas dançam.
NARRADORES – O céu achou bonito mas nada iria mudar sua opinião.
Então foi subindo, subindo.
Crianças com as faixas se separam. A do céu vai para trás e para cima e a
terra fica no chão.
NARRADORES – Com saudades do som dos tambores, das danças e das
histórias, o céu resolveu transformar os furos em estrelas para poder espiar
as coisas da terra.
Alunos colam estrelas na faixa do céu e outros acendem as lanternas.
TODOS – Satisfeito o céu sorriu e assim surgiram as estrelas.
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A foto é muito representativa quanto à avaliação da atividade, já que as
roupas não foram produzidas na escola e sim por eles em casa. E ainda é
importante salientar que quase todas as famílias compareceram numa
sexta feira a tarde para apreciar todo esse trabalho, tamanha a dedicação e
interação das crianças com o projeto.
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Conclusão
O processo avaliativo nos dias atuais, felizmente é mais flexível e leva em
consideração principalmente a participação ativa da criança, seu interesse na
participação da atividade e sua interação durante o processo. Portanto é possível
concluir que na atividade relatada houve um excelente aproveitamento de todos
os temas explorados interdisciplinarmente, na utilização da arte como
procedimento vivo de experimentação.
Isso só vem a confirmar as teorias propostas pela LDB 9394/96, pelos
PCN’s e autores da área que defendem uma concepção de corpo mais integrada
e uma educação que contemple e respeite esse corpo.
Para Foucault (1987), a disciplina dos corpos, ao contrário do que se
acreditava antigamente, torna-os dóceis e não poderosos e capazes. Ou seja, a
prática mecânica de movimentos e exercícios faz do indivíduo um instrumento
que executa sem reflexão. Na contramão desse propósito as experiências que se
pretende buscar nas escolas, é que pela liberdade dos corpos, pela vivência mais
próxima do que é do interesse de quem aprende é que se dá a aprendizagem
real.
Em termos psicológicos e mais abrangentes sobre o ser humano, Roberto
Freire, nos elucida à compreensão de que para que o sujeito seja completo e
tenha plenitude no seu viver é necessário ser fiel a sua originalidade, tanto quanto
possível. É dever da escola ajudar o educando a encontrar tal originalidade,
permitir que ele a exerça com força e orientar as interações provindas dessas
escolhas.
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Referências bibliográficas
BRASIL, Ministério da secretaria de educação básica. Parâmetros curriculares
nacionais - arte . Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica:
Brasília (DF), 1997 v.l; il.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. 27ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1987.
FREIRE, Roberto. Soma – uma terapia anarquista vol I - A alma é o corpo. Rio
de Janeiro: Editora Guanabara
NANNI, Dionísia. O ensino da dança na estrutura/expansão da consciência
corporal e da auto-estima do educando. Fitness & Performance, v. 04, n. 01.
Rio de Janeiro, 2005.
BRASIL, Senado Federal. Lei de diretrizes e bases da educação nacional: nº
9394/96. Brasília, 1996.