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Os radiojornalistas
PAULO MARCOS




        Os radiojornalistas
O pensamento e o perfil dos produtores de
   notícias da Região Sisaleira da Bahia




UNEB - Universidade do Estado da Bahia
(CC) 2009 Paulo Marcos

Pesquisa, textos e edição: Paulo Marcos
Desing gráfico (capa e capítulos): Márcio Mendes
Supevisão para editoração: Kleuber Cedraz
Editoração: Paulo Marcos
Impressão: Nossa Gráfica Editora
Formato: 14 X 21
Papel: 75 g.
Capa: Papel Cochê 230
Orelha: Sim




            Ficha Catalográfica - Bibliotecário Roberto Freitas
   BPJCA - Biblioteca Professor José Carlos dos Anjos (UNEB)


    S237          Santos, Paulo Marcos Queiroz dos

    Os radiojornalistas: O pensamento e o perfil dos produtores de
    notícias da Região Sisaleira da Bahia. / Paulo Marcos Queiroz dos
    Santos. Conceição do Coité: o próprio, 2009.


    160p. il.


    Jornalismo-Entrevistas. 2. Reportagens. 3. Título


    CDD 070.449
Agradecimentos



        Meu professor/orientador é um cara tranquilo. Ele
chega cedo com livros, novas ideias e um bom papo. Senta-
se numa das cadeiras da biblioteca que está sempre movi-
mentada. Preocupado com o andamento do trabalho faz logo
aquela boa pergunta:
        - E aí rapaz, como vão os textos?
        - A semana foi muito boa. Muitas novidades - res-
pondi.
        Quem circula pelo Departamento de Educação do
Campus XIV da UNEB - Universidade do Estado da Bahia já
conhece o professor Jorge Soares, anda sorridente, disposto
a uma boa conversa, um conselho e fazer novas amizades.
Durante a pesquisa se empenhou bastante no acompanha-
mento semanal dos trabalhos e é parte integrante do resulta-
do;
        Também sou grato ao antropólogo Márcio
Mascarenhas, pois gentilmente fez uma leitura mais atenta
dos textos, fez boas críticas e sempre me apoiou ao longo de
minha vida profissional;
        Ao bibliotecário Roberto Freitas que também teve
importante papel neste trabalho ao sugerir e orientar na
formatação técnica;
        À professora Carolina Ruiz, que tanto contribuiu na
elaboração do projeto de pesquisa e fez várias sugestões no
texto final;
         Ao professor Tiago Sampaio, que assim como Jorge
e Carolina, também compôs à banca de avaliação e contri-
buiu com o resultado deste livro;
         Ao professor Francisco de Assis, que ao longo dos
quatro anos foi grande apoiador dos meus trabalhos;
         Agradeço também a kleuber Cedraz, Gilmara Portu-
gal, Meire Nunes, Adalício Ramos, Maria Dalva, Bruna San-
tos, Maria Queiroz (D. Lia), Del Feliz, Delma Nunes, aos ami-
gos, colegas, professores e parentes pelo incentivo e cola-
boração. Por fim, aos radialistas, funcionários e dirigentes
das rádios que facilitaram o acesso às informações e estarão
presentes em cada uma das páginas seguintes.
         Muito obrigado!




        “Pelo direito à palavra e apaixonado por rádio igual a
todo brasileiro”, Paulo Marcos




        Para Odenice Queiroz dos Santos (Dene)
        In memorian
SUMÁRIO
Apresentação, 9

Introdução, 15

Livro-reportagem: perfil e retrato do radiojornalismo, 18
Região: o que é isso?, 23
O rádio: popular e sempre, 20
Metodologia: as rádios e radialistas pesquisados, 26

CAPÍTULO 1
Chegada do rádio na Região Sisaleira, 29

Difusora AM: a primeira rádio da região, 34
Morena FM: 22 anos sem jornalismo, 35
Regional AM: a menina dos olhos de Lomes, 36
Sisal AM: o trono da família Rios, 38
Jacuípe AM: muda de dono, mas não de objetivo, 41
Rádios Comunitárias: a voz de quem só ouvia, 43
Valente FM: não desiste nunca, 45
Santa Luz FM: uma rádio premiada, 46
Curso de Rádio e TV: a formação profissional, 49

CAPÍTULO 2
Fazendo jornal pelo rádio, 53

Radiojornalismo: perfil e características na Região Sisaleira, 55

CAPÍTULO 3
Tocando ética, 69

Profissão: a legislação e a prática, 71
Terceirização: a falsa liberdade comprada, 79

CAPÍTULO 4
Os radiojornalistas sisaleiros, 83

O radiojornalista poeta, 86
Uma mulher em movimento, 92
Do sisal ao rádio: uma trajetória de sucesso, 96
Deus, Ferraz e o povo!, 100
O radialista professor: meio século de rádio, 106
Genivaldo: seu sobrenome é criatividade, 109
“O Bola de Ouro do rádio”, 113
Feliz é esporte nas ondas do rádio, 120
Da Capital Federal ao Sertão da Bahia, 125
Filho de radialista, radialista é, 130
Valdemi de Assis: do rádio para a Internet, 135
Ícone do rádio comunitário no Sertão, 139


CONCLUSÃO, 145


Cronologia histórica apresentada no livro, 151
Lista de imagens e créditos, 154
Referências Bibliográficas, 155
APRESENTAÇÃO




         Este é o resultado de uma pesquisa fundamentada e
planejada para analisar o perfil e pensamento dos
radiojornalistas e não apenas a confecção de um livro sobre
a história de cada entrevistado. Esta é uma oportunidade,
em forma de reportagem, para entender como anda o
radiojornalismo neste pedaço de chão do Sertão baiano. O
projeto surge das ideias temáticas para a pesquisa de con-
clusão do meu Curso de Comunicação Social com habilita-
ção em Rádio e TV no Campus XIV da Universidade do Esta-
do da Bahia, mas principalmente das minhas inquietações
sobre o radiojornalismo da região a partir das várias experi-
ências que desenvolvi. Em 1997, comecei fazendo locução
na Rádio Comunitária Barreiros FM e no Serviço de Comuni-
cação “Voz da Sociedade Barreirense” do Distrito de Barreiros,
em Riachão do Jacuípe-BA, onde nasci, em 1982. Depois
atuei no Projeto Comunicação Juvenil e no Programa de Co-
municação do Movimento de Organização Comunitária entre
2002 e 2007. Atuei também nas rádios Barreiros FM, Arcos
FM, Sabiá FM, Sisal AM, Difusora AM, Regional AM e Jacuípe
AM, onde basicamente trabalhei com jornalismo.
         Durante o curso de Rádio e TV, que iniciei em 2006,
identifiquei que não há estudos sobre a atuação dos
radiojornalistas na Região Sisaleira da Bahia, principalmente
                             10
sobre a produção de notícias para o rádio: e este é um dos
fatores importantes para entender como se dá o desenvolvi-
mento da comunicação na região. O radialista é um persona-
gem importante no estudo do rádio, mas ainda pouco valori-
zado nas pesquisas.
         A proposta da pesquisa orientada pelo professor Jor-
ge Soares é avaliar, através da atuação e experiência dos
profissionais, se o radiojornalismo da região possui caracte-
rísticas que o diferencie da atividade de produção e divulga-
ção de notícias radiofônicas que se propõe nos manuais de
radiojornalismo; apresentar as características técnicas e hu-
manas dos radiojornalistas das principais emissoras de rádio
da região; analisar a relação dos comunicadores com a dire-
ção das emissoras; identificar as principais fontes e critérios
noticiosos dos radialistas; e observar como se dá o cumpri-
mento da legislação e dos tratados como Código de Ética e
Manual do Radialista dentro dos programas por eles produzi-
dos e/ou apresentados.
         No primeiro capítulo Chegada do Rádio na Região
Sisaleira, há uma breve história, o perfil e elementos do fun-
cionamento de sete emissoras. São três FMs e quatro AMs:
Morena FM (Serrinha), Valente FM (Valente) e Santa Luz FM
(Santa Luz); Sisal AM (C. do Coité), Continental AM (Serrinha),
Jacuípe AM (R. do Jacuípe) e Regional AM (Serrinha).
         No segundo capítulo do livro, Fazendo jornal pelo
rádio, mostro qual é o perfil dos programas jornalísticos da
região, através do olhar dos próprios radialistas, e as pers-
pectivas a partir de análises da prática de cada um.
                              11
No terceiro capítulo, Tocando ética, levanto uma dis-
cussão sobre os princípios éticos da atuação dos
radiojornalistas. Faço um breve relato e análise sobre os
Códigos, Leis, Manifestos e Convenções sobre o tema.
         Penso que um estudo sobre a atuação dos profissio-
nais desta área poderá contribuir também com a formação
de novos radialistas servindo de fonte de pesquisas e para a
comunidade como meio de entender o outro lado do rádio,
que é a produção. É exatamente este o enfoque do quarto e
último capítulo deste livro. Estão presentes os principais per-
sonagens do rádio sisaleiro que atuam diretamente com o
jornalismo e o jornalismo-esportivo e que sem eles não acon-
teceria esta publicação.
         Outra reflexão me direciona para a importância da
formação de profissionais da comunicação com consciência
crítica de sua área de atuação. Acredito que é conhecendo a
realidade em que se vive que o profissional poderá desenvol-
ver práticas cidadãs, se engajar nos processos de consolida-
ção da democracia e buscar a superação dos problemas eco-
nômicos, sociais e éticos dos quais tanto padece a popula-
ção da Região Sisaleira e do Brasil como um todo.
         Boa leitura!


        O autor.
        Conceição do Coité-Bahia, dezembro de 2009.




                              13
Introdução



         É hora de começar. Este é o momento de esclarecer
um pouco mais sobre o que estamos debatendo. Antes de
ligar o microfone e entrarmos direto no ar é preciso apresen-
tar o porquê de um livro-reportagem. Algumas pessoas po-
dem perguntar: por que não fazer uma monografia, um vídeo
ou um sítio na Internet? O fato é que o livro-reportagem me
chamou mais atenção, me aproximou mais do que eu sem-
pre quis. E como diz Belo (2006) é mais uma experiência na
faculdade.
         Produzir um livro-reportagem não exige anos de re-
portagem em jornalismo. Tanto que muitas escolas superio-
res facultam a seus alunos essa opção de trabalho de con-
clusão de curso. Bem orientada essa é uma atividade que
garante ao formando um preparo extraordinário quanto a al-
guns dos principais aspectos da prática profissional, como
apuração, texto e edição. (BELO, 2006, P. 69)
         O livro-reportagem dá mais liberdade de pensamen-
to e criatividade. Além disso, é preto no branco. Transformar
notícias, opiniões, comentários, informarções e notícias numa
grande reportagem.
         Quando falei sobre notícia eu mesmo me perguntei:
         – O que é notícia?
         Com essa dúvida, surge o momento certo de chamar
quem entende. Na faculdade a gente chama de “voz autori-
                             17
zada”, pesquisadores, especialistas, acadêmicos, seja lá o
que for: é quem já tem experiência própria, já pesquisou a
área em questão.
        É aí que surge Nilson Lage. O escritor tem uma obra
prima sobre o assunto. No livro A Reportagem: teoria e pes-
quisa jornalística, ele define que:

                     a notícia ganhou sua forma moderna, copiando
                     o relato oral dos fatos singulares, que, desde
                     sempre, baseou-se, não na narrativa em seqüên-
                     cia temporal, mas na valorização do aspecto
                     mais importante de um evento. (LAGE, 2006, P.
                     18)


        Sendo assim, vamos lá. Resolvi então, neste livro,
reportar relatos orais sobre o surgimento, desenvolvimento e
perspectivas do radiojornalismo na Região Sisaleira. É aí que
surge uma nova dúvida: o que é um livro-reportagem? Fui
buscar nas obras de Edivaldo Pereira Lima e Eduardo Belo
as respostas para essa dificuldade.

        Livro-reportagem: perfil e retrato do radiojornalismo


       O livro-reportagem, segundo Belo (2006), tem dife-
renças do jornalismo praticado atualmente nas redações da
imprensa no Brasil, mas:

                     é apenas uma reportagem, passível de empre-
                     gar exatamente o mesmo padrão técnico e de
                     conduta, como se fosse publicada em qualquer
                     outro meio de informação. (BELO, 2006, P. 41)

                              18
Perfil e Retrato, estes são os modelos de livro-repor-
tagem propostos no projeto da pesquisa. O primeiro, segun-
do os estudos de Edivaldo Pereira Lima (1993), tem como
objetivo evidenciar o lado humano de uma personalidade
pública ou de uma personagem anônima (que por algum
motivo, torna-se de interesse). Ainda segundo Lima, seme-
lhante ao livro-reportagem-perfil, diferindo no objeto de análi-
se: ao invés de uma figura humana, o livro-reportagem-retra-
to focaliza uma região geográfica, um setor da sociedade,
um segmento da atividade econômica e procura traçar o re-
trato do objeto em questão (elucidando seus mecanismos de
funcionamento, seus problemas, sua complexidade).
         Basicamente é para isto que serve o livro-reporta-
gem – para estender o papel do jornalismo contemporâneo.
Este produto do jornalismo ultrapassa também as concep-
ções do jornalismo atual:

                      Tem potencial para assumir posturas experimen-
                      tais. Tem pique suficiente, se trabalhado de for-
                      ma adequada, para fazer nascer a vanguarda
                      de um jornalismo realmente afinado com as ten-
                      dências mais avançadas do conhecimento hu-
                      mano contemporâneo. (LIMA, 1993, P. 16)


        E neste sentido, este livro-reportagem apresenta his-
tórias de vida, conceitos e experiências de profissionais que
atuam no rádio sisaleiro sob o enfoque da produção de notí-
cias. Logo, faz um retrato da profissão de radialismo na re-
gião, mas enfocando as práticas dos profissionais envolvidos
na pesquisa.
                               19
REGIÃO: o que é isso?


        O conceito de Região Sisaleira aqui adotado englo-
ba dois Territórios Rurais de Identidade*, que foram definidos
pelo Governo Federal, entre 2003 e 2004: o Território do Sisal**
e o Território da Bacia do Jacuípe***. Antes de nos
aprofundarmos neste debate precisamos entender um pou-
co mais o que aqui é denominado de região. Para isso bus-
quei os conceitos de Durval Muniz de Albuquerque Júnior,
que no livro A Invenção do Nordeste diz:

                               ela [região] remete a uma visão estratégica do
                               espaço, ao seu esquadrinhamento, ao seu re-
                               corte e à sua análise, que produz saber. Ela é
                               uma noção que nos envia a um espaço sob do-
                               mínio, comandado. Ela remete, em última ins-
                               tância, a regio (rei). Ela nos põe diante de uma
                               política de saber, de um recorte espacial das
                               relações de poder. Pode-se dizer que ela é um
                               ponto de concentração de relações que procu-
                               ram traçar uma linha divisória entre elas e o vasto
                               campo do diagrama de forças operantes num
                               dado espaço. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2001,
                               P. 25-26).

* Para saber mais sobre o processo de revelação dos territórios de identidade na Bahia
ver o livro DIAS, Wilson José Vasconcelos. Territórios de Identidade: um novo caminho
para o desenvolvimento rural sustentável na Bahia. Feira de Santana: Gráfica Modelo,
2006.
** Composto por Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité,
Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia,
Santa Luz, Serrinha, São Domingos, Teofilândia, Tucano e Valente (GOVERNO DA BAHIA,
2009). Disponível em http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html. Acesso em 15
de Outubro 2009.
*** Composto por Baixa Grande, Capela do Alto Alegre, Gavião, Ipirá, Mairí, Nova Fátima,
Pé de Serra, Pintadas, Quixabeira, Riachão do Jacuípe, São José do Jacuípe, Serra
Preta, Vázea da Roça e Vázea do Poço. (GOVERNO DA BAHIA, 2009). Disponível em
http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html. Acesso em 15 de Outubro 2009.
                                           20
A professora Vilbégina Monteiro dos Santos, que tem
pesquisas em andamento, sobre o Território do Sisal, aponta
que:

                          A constituição do Território do sisal se faz a par-
                          tir de uma comunidade imaginada, na qual sua
                          população é chamada a valorizar as caracterís-
                          ticas do clima, vegetação e do povo sisaleiro,
                          positivando os estigmas a eles imputados. Essa
                          comunidade é conclamada a partilhar os valo-
                          res de luta e resistência promovidos pela socie-
                          dade civil, tomando posições de sujeitos na histó-
                          ria. Ao construir e pensar essa identidade como
                          estratégia política e cultural, esse território tem
                          conseguido reverter suas demandas em
                          implementação de políticas públicas que aten-
                          dam aos interesses do lugar. (SANTOS, 2009,
                          P. 20).


         Ao longo dos anos nem sempre foi esse o discurso
empreendido no interior do Nordeste brasileiro como todo.
Na maioria das vezes, o Território do Sisal foi tratado apenas
como um lugar pobre e atrasado.
         Nesta entrevista* Albuquerque Júnior disse que este
fator também teve o incentivo do rádio que, ao invés de con-
tribuir em debater as condições de desenvolvimento que o
lugar pode oferecer, acaba repetindo o discurso de
”pobrezinho” criado pelas elites dominantes:



* A entrevista aconteceu no dia 13 de outubro de 2009, no Centro Cultural de
Conceição do Coité, durante a participação do professor Durval Muniz de
Albuquerque Júnior no Seminário Diálogos Possíveis realizado pela UNEB.


                                    21
P.M.: Professor, o rádio ajuda a manter esse discur-
so regionalista do Nordeste?
         Albuquerque Jr.: O rádio em grande medida repro-
duz essas mesmas falas, esses mesmos enunciados sobre
a região, esse discurso da pobreza, esse discurso da
vitimização, esse discurso da discriminação, esse discurso
de que somos vítimas do Sul, somos vítimas do Estado, e
esse próprio discurso da homogeneização, ou seja, tratar a
região como se ela fosse homogênea, como se ela tivesse
os mesmos problemas, como se não tivesse divisões de clas-
ses no seu interior, como se não tivesse uma parte da popu-
lação que é rica; você fala da pobreza da região como se
todo mundo fosse pobre, quer dizer você fala da miséria como
se a miséria fosse uma realidade de todas as áreas e de
todos os grupos sociais da região, então, o rádio veicula mui-
to isso, né? Como veicula essa própria ideia da discrimina-
ção, de que o Nordeste é discriminado, quer dizer esse dis-
curso de vítima ele é o tempo todo reproduzido, né?
         P.M.: Como mudar isso a partir das universidades que
acabam muitas vezes reproduzindo também este discurso?
         Albuquerque Jr.: Exatamente fazendo uma crítica a
essas imagens, a esses discursos. Você fazer as pesquisas
que mostrem justamente essa diversidade da região, essa
realidade diversa, essa realidade que é em grande medida
desigual, mas que é uma realidade que está em desacordo
com essas falas, com esses discursos, com esses estereóti-
pos.


                              22
O rádio: popular e sempre


          Dia de sol na Fazenda Morrinhos. Quase às 5h30 da
manhã e o rádio já está ligado. No meio do curral o vaqueiro
Hamilton “Grande” ouve as primeiras notícias do dia enquan-
to tira leite fresquinho para o café da manhã. Na cidade tam-
bém não é diferente. Logo cedo já tem gente de rádio ligado.
O fazendeiro Paulo “Velho” acorda cedo. Liga o carro, depois
o rádio e segue em direção à fazenda. Embora com atenção
marginal à transmissão, tanto o vaqueiro como o fazendeiro,
podem realizar atividades paralelas enquanto ouvem rádio
com certa facilidade e baixo custo. Para captar as emissões,
basta um simples receptor transistorizado que pode ser ad-
quirido por menos de R$ 5,00, em qualquer esquina de uma
cidade, onde tenha um camelô. Nessa facilidade toda teria
que ter algo para dificultar.
          No Brasil tanto rádio como televisão depende de ou-
torga do governo federal, que tem o poder concedente*. No
caso das rádios comunitárias um processo pode levar até
dez anos, como é o caso da Santa Luz FM. Outra vantagem
que o rádio tem é que, em geral, a programação volta-se ao
município sede da emissora e sua região. Um exemplo disso
é a Morena FM, que embora esteja em mais de 100 municípi-
os, tem uma programação voltada para Serrinha e, no máxi-
mo, cinco ou seis municípios vizinhos.

* Constituição Federal, Capítulo V, da Comunicação Social, diz no Artigo 223,
que “compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e
autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observa-
do o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal”.
                                      23
O advento das redes de rádio via satélite altera um
pouco esta realidade. As grandes cadeias de emissora têm
sede, na maioria dos casos, em São Paulo, com casos isola-
dos em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
         Na região, a Rádio 96.5 FM, de Riachão do Jacuípe,
repete a programação de rede com uma emissora de Salva-
dor, que começa a desenvolver a experiência na Bahia; as
demais emissoras geram seus próprios programas.
         A versatilidade e agilidade do rádio fazem acontecer
transmissões diversas ao vivo, dependendo, geralmente, de
uma linha telefônica fixa ou móvel. Essa facilidade concede
ao rádio a capacidade de noticiar rapidamente o fato, poden-
do narrá-lo em paralelo à sua ocorrência e com baixo custo.
O radialista Milton Jung (2005; P. 62) defende que é preciso
entender o rádio como uma linguagem. Devido à sua
abrangência e pelas características que possui, o discurso
radiofônico deve ser: claro, preciso, conciso e usar com o
máximo de propriedade o repertório de seu público prioritário.
“Ser simples, claro e objetivo é usar linguagem coloquial, sem
vulgaridade. É falar e escrever de forma que o ouvinte enten-
da de imediato”, explica Jung.
         Nos seus mais de 90 anos no Brasil, o veículo é o
meio de comunicação mais popular que existe. Ao longo da
história revelou talentos para a TV, foi palanque eleitoral e
ajudou a vender música. Neste sentido, a figura do radialista
tem um papel estratégico.
         – O que me deixa triste – desabafa o radialista
Genivaldo Silva –, é ver que em nossa região esse veículo

                              24
não se expande, não valoriza o profissional e tão pouco ofe-
rece a ele as dignas condições de exercer esta função tão
prestigiada pela nossa gente.
         – O trabalho do comunicador é super importante –
explica o radialista Tony Brasília –, temos que parar de olhar
ele como alguém que só está ali para ganhar dinheiro. É al-
guém que também ajuda as pessoas. Agora o que precisa
mesmo são os radialistas se valorizarem, se unirem. Se o
sindicato chegar aqui vai fechar as portas porque está tudo
irregular. Falta união, um exemplo é que no dia do radialista
ninguém nem lembrou.
         – Para ser um bom comunicador – comentei com
ele –, é preciso também saber usar os recursos de redação e
de sonoplastia, cuidar e usar bem a voz, além de desenvol-
ver e respeitar as regras para a elaboração de textos e a
produção de programas.
         Não existem estudos sobre audiência, mas em pou-
co tempo de convívio na região é possível notar a popularida-
de do veículo como meio de comunicação de massa. Mesmo
com problemas enfrentados pelos radialistas ou mesmo pe-
las rádios, mesmo com a influência política no conteúdo das
emissoras, o que se percebe facilmente é que o sertanejo
não vive sem rádio, seja na fazenda onde mora o vaqueiro ou
mesmo na cidade em que vive o fazendeiro. Com este deba-
te sobre o radiojornalismo acredito que será possível contri-
buir para a construção de conhecimento na academia e nas
comunidades dos Territórios do Sisal e Bacia do Jacuípe.


                              25
Metodologia: as rádios e radialistas pesquisados


         Nesta pesquisa busquei entrevistar radialistas que
atuam na atividade de produção do rádio nos setores de dire-
ção, criação, interpretação e locução. Todos os radialistas
foram entrevistados, especificamente com o objetivo de con-
tarem suas histórias e opinarem sobre o desenvolvimento da
profissão de radiojornalista na região. Os perfilados são:
Aluízio Farias, Cival Anjos, Edisvânio Nascimento, Genivaldo
Silva, Gilberto Oliveira, José Ferraz, José Ribeiro, Nilton Fe-
liz, Tony Brasília, Tony Sampaio, Valdemi de Assis e Vilmara
de Assis*. Os entrevistados receberam contatos antes pes-
soalmente ou por telefone para entender a proposta do pro-
jeto e marcar o dia da conversa “em profundidade”.
         Dos 14 radialistas previstos apenas dois não foram
entrevistados: o primeiro foi presidente e fundador da Rádio
Comunitária Barreiros FM, Manoel Missias, que atua na co-
municação no Distrito de Barreiros, no município de Riachão
do Jacuípe, desde a década de 1980, com o Serviço de Alto-
falante A Voz da Sociedade Barreirense, onde tive meu pri-
meiro contato com o microfone; e o segundo foi o radialista
Tony Sena, que é comunicador da Rádio Jacuípe AM. Tony já
está no ramo desde 1987 e atualmente apresenta o Notícias
da Hora, informativo no qual também fui produtor e apresen-
tador, em 2008, na mesma emissora. O noticiário tem dura-
ção de dois a cinco minutos e vai ao ar a cada hora dentro da
programação. As entrevistas foram canceladas por incompa-
tibilidade de agenda de ambos os lados.

                              26
Os Territórios do Sisal e da Bacia do Jacuípe, que
demarcam o foco deste trabalho, possuem outras emissoras
comerciais e comunitárias, que ficaram de fora por não per-
tencerem ao recorte de municípios priorizados para a pesqui-
sa (Conceição do Coité, Riachão, Serrinha, Valente e Santa
Luz). Neste locais além de existirem estudantes do Curso de
Rádio e TV, as emissoras de rádio possuem estrutura e his-
tórico de radiojornalismo reconhecidos pela comunidade a
mais de 10 anos.




* A presença de apenas uma mulher neste time de radialista mostra quanto à
profissão é centrada nos homens. São poucas as mulheres âncoras de noticiári-
os e com experiência em radiojornalismo nestas emissoras. No decorrer da pes-
quisa conheci outras três mulheres que estão iniciando em comentários, reporta-
gens e apresentações de noticiários.


                                      27
Chegada do rádio na Região
               Sisaleira



         No Sertão da Bahia, o pequeno rádio de pilhas colo-
ridas é usado constantemente para ouvir o principal veículo
de comunicação de massa com produção local, que vence
distâncias e aproxima as pessoas.
         Quase um milhão de habitantes estão espalhados em
mais de 30 municípios dos Territórios do Sisal e da Bacia do
Jacuípe e são alvo de pelo menos vinte emissoras de rádios
entre comerciais, educativas e comunitárias. Na maioria das
vezes, as rádios pertencem e são chefiadas por grupos polí-
ticos, que também comandam as Prefeituras, Câmaras de
Vereadores e as poucas empresas que existem.
         – Eles só querem as rádios para fins políticos, nin-
guém pode negar isso – informa o radialista Nilton Feliz que
atua no rádio desde o final dos anos 90.
         – Aqui em Serrinha mesmo – conta o radialista José
Ferraz –, todas as rádios são políticas.
         No sentido específico da palavra, Ferraz quer dizer
que as rádios são formas de poder com forte influência na
administração das cidades e diz que os donos estão filiados
a algum partido ou tem relação direta com os dirigentes
partidários e os gestores públicos:
         – É complicado – analisa Ferraz –, se você falar mal

                             31
de um que é aliado a Lomes ele lhe tira do ar. Ou então, lhe
chama e lhe fala “não vai falar nada porque esse cara é alia-
do da gente”. Por mais que o cara erre, o cara desvia dinhei-
ro público, é usurpador de dinheiro público e você não pode
falar. O ouvinte é quem fica sem ter a informação. A mesma
coisa é na rádio de Plínio. Lá você não pode falar da sobrinha
dele que é vereadora. É tudo assim.
         O radialista José Ferraz também não esquece as pro-
postas que recebeu para retornar para a Continental.
         – Quando eu já estava na Jacuípe a diretoria da
Continental tornou a me convidar com um salário melhor e
eu não aceitei porque lá é trabalho teleguiado e aqui [na
Jacuípe] não, tem dois nomes que eu não posso falar, mas
Zevaldo não interfere no meu programa, concluiu Ferraz.
         – Todas as rádios são lideradas por políticos – afir-
ma José Ribeiro, que tem 30 anos de rádio –, o Grupo Lomes,
o Grupo da Universal, enfim todas as emissoras estão subor-
dinadas a administrações de políticos ou igrejas. Se você não
faz aquilo que o patrão quer... e dentro da moralidade você
tem mais é que fazer, porque se não fizer vai para o olho da
rua e tem muita gente esperando você sair para entrar e fa-
zer o trabalho que você não quis fazer.
         Na história do rádio o envolvimento político e as con-
trovérsias estão desde o início. No Brasil, a primeira emisso-
ra de rádio data de 1919, que é a Rádio Clube de Recife, em
Pernambuco. Mas, os pesquisadores registram que a primei-
ra operação de rádio no país foi no Rio de Janeiro, em 7 de
setembro de 1922, para transmitir o discurso do Presidente
                              32
Epitácio Pessoa, durante a comemoração do centenário da
Independência do Brasil e que somente em 20 de abril do
ano seguinte, o Brasil conhecia “oficialmente” a sua primeira
emissora: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por
Edgard Roquete Pinto e Henry Morize. Enquanto aqui
engatinhavam as primeiras tentativas para transmissão de
rádio, nos EUA, no final de 1922, os americanos contavam
com 382 emissoras. No início eram emissoras coletivas,
elitizadas e chamadas de “sociedade” ou de rádio “clube”. Os
ouvintes mantinham as emissoras com mensalidades, pois
não havia os reclames, que só surgiram a partir de 1932 atra-
vés de Decreto de Getúlio Vargas – o presidente brasileiro
que melhor soube utilizar o rádio para pretensões políticas. A
entrada da publicidade também marcou na mudança de com-
portamento das emissoras, como registra Gisela Ortriwano:

                     Com o advento da publicidade, as emissoras tra-
                     taram de se organizar como empresas para dis-
                     putar o mercado. A competição teve, original-
                     mente, três facetas: desenvolvimento técnico,
                     status da emissora e sua popularidade. A preo-
                     cupação educativa foi sendo deixada de lado e,
                     em seu lugar, começaram a se impor os inte-
                     resses mercantis. (ORTRIWANO, 1985, P. 15)


         De acordo com o IBGE, em 1937, o Brasil tinha 59
emissoras de rádio transmitindo óperas, músicas e textos ins-
trutivos. Destas, 55 eram particulares e 04 dos governos fe-
deral e estaduais.



                              33
DIFUSORA AM: a primeira rádio da região


         A primeira emissora da Região Sisaleira surgiu qua-
se 50 anos depois da primeira transmissão de rádio no Bra-
sil. A Rádio Difusora AM de Serrinha entrou no ar em 1969* e
seus fundadores, segundo narram integrantes da emissora,
foram José Barradas Neto, Plínio Carneiro, Luiz Viana Neto,
dentre outros. Quem primeiro assumiu a função de radialista
da emissora foi José Malta e, em 1983, o sindicalista Carlos
Miranda Lima** assumiu os destinos administrativos da rádio
por 20 anos.
         – Eu vim para Serrinha na década de 1970 – lembra
Aluízio Farias – porque era a única cidade da região que ti-
nha rádio. Eu trabalhava como funcionário de uma cerveja-
ria, onde atuei até 1998, e nos finais de semana fazia jogos
pela Difusora.




* Neste ano já existiam 31 emissoras de rádio na Bahia e 959 no Brasil, segundo
dados do IBGE. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_xls/
palavra_chave/cultura/radiodifusao.shtm>. Situação Cultural de 1969, apud Ser-
viço de Estatística da Educação e Cultura. Tabela extraída de: Anuário estatístico
do Brasil 1969. Rio de Janeiro: IBGE, v. 30, 1969. Acesso em 13 de outubro de
2009.


** Carlos Miranda postou o seguinte comentário no site www.paulomarcos.com.
“Sempre que falar sobre início dos trabalhos radiofônicos na Região Sisaleira
não deve esquecer que a Rádio Difusora de Serrinha, a ZYC 36 em 1330 KHZ é
a DECANA, sempre deu oportunidade a todos com o seu espírito liberal por mim
implantado, fomos a primeira a transmitir ao vivo de várias cidades. Tudo come-
çou em 1969”. Disponível em http://softwarelivre.org/paulomarcos/blog/livro-mos-
trara-o-lado-de-dentro-do-radio-na-regiao-sisaleira.
                                       34
Da decadência vivida nos últimos anos da adminis-
tração de Miranda, a primeira rádio da região se transformou
em Continental AM. Foi em 23 de abril de 2004 que aconte-
ceu sua re-inauguração. Além de ganhar nova diretoria, tam-
bém passou para novo endereço com equipamentos moder-
nos e outra programação. Daí em diante também com trans-
missão ao vivo na Internet.
        – A “morte” da Rádio Difusora – comentou Cival
Anjos –, e o surgimento da Continental foi um marco na valo-
rização do profissional. Foi essa nova rádio que ajudou a mu-
dar um pouco a postura das emissoras na região com a
contratação de profissionais.


        MORENA FM: 22 anos sem radiojornalismo


        Na Praça Luiz Nogueira, em Serrinha, é fácil encon-
trar um parque infantil, onde meninos e meninas brincam;
árvores históricas, que sombreiam os jardins enfeitados de
esculturas e flores; no mesmo lugar é fácil de visualizar – de
todos os ângulos – o prédio do Grupo Lomes de Radiodifu-
são.
        O portão eletrônico está fechado. Antes quem che-
gava entrava sem se identificar, subia a escada de madeira
que leva ao primeiro andar, onde ficam os estúdios de duas
emissoras de rádio. Neste dia depois de me identificar tive
acesso pela terceira vez naquele mês ao estúdio da segunda
rádio de Serrinha, fundada em 1986, por Antônio Lomes do
Nascimento. Denominada no Ministério das Comunicações
                             35
como Serrinha FM, opera em 97.9 Mhz no ar 24 horas e é
basicamente musical. Com o slogan “A dona do primeiro lu-
gar” a emissora é a mais potente da região e recebe muitas
críticas por oferecer uma programação pouco variada, com
muita propaganda e apenas músicas de “mercado”.
         – O pessoal da Morena não sabe o que é música
não – diz José Ribeiro, que coordena o programa jornalístico
da rádio e é um dos entrevistados desta pesquisa.
         Diversidade musical não é mesmo o forte da emisso-
ra, mas é disso que sobrevive. O único programa de notícias
da Morena FM é o “Pauta Livre”, que está no ar desde o início
de abril de 2008, das 12 às 13 horas de segunda a sexta-
feira. O programa demonstra de fato que é um espaço livre
sem grandes produções, ou seja, vai acontecendo tudo ao
vivo e na base dos comentários, porém sem participação
popular.
         O proprietário impõe seu poder de influência usando
o veículo para expressar suas preferências políticas, assim
como faz com mais ênfase na Regional AM, a terceira emis-
sora de Serrinha.


        REGIONAL AM: a menina dos olhos de Lomes


        Foi também em 1986, quando Antônio Carlos Maga-
lhães era Ministro das Comunicações, que o Grupo Lomes
de Radiodifusão conseguiu outra outorga de funcionamento
de rádio. A Rádio Regional AM 790 Khz é uma emissora bem
popular com programação basicamente informativa, mas tam-
                             36
bém com programas de entretenimento.
         O estúdio é bem climatizado, ainda no estilo antigo
com cabine de locução separada da mesa de áudio. Segun-
do informações da própria emissora, sua abrangência pode
chegar a mais de 120 municípios da Bahia e Sergipe. O pro-
prietário Antônio Lomes é um empresário da radiodifusão com
várias emissoras de rádio AM e FM espalhadas na Bahia e
em outros Estado*, mas prefere esta emissora para falar to-
dos os dias por telefone. Ele tem fortes vinculações políticas
com partidos de Serrinha e usa a rádio para expor sua posi-
ção que acaba sendo também a visão dos comunicadores.
Lomes foi Superintendente de Desporto do Estado da Bahia
(Sudesb) e diretor da Empresa de Produtos Farmacêuticos
da Bahia (Bahiafarma) em governos do PFL, atual DEM. Atra-
vés do rádio, e em especial da Regional, Lomes mantém con-
tato direto com a população serrinhense e expõe suas opini-
ões políticas. Mesmo com todo aparato de rádios, em 2008,
perdeu a eleição municipal. A esposa do empresário foi
candidata a re-eleição para o cargo de prefeita, mas foi der-
rotada.




* Ver estudo do FNDC que aponta a existência de 65 emissoras na Bahia perten-
centes a políticos em exercício ou seus parentes com base em um levantamento
feito por Katherine Funke [DRT 2266/BA], para reportagem publicada no jornal A
Tarde, de Salvador, em 26/12/2005. Foram considerados os levantamentos feitos
por Venício de Lima [UnB], para deputados federais, e James Görgen [FNDC],
para senadores. Disponível em http://www.fndc.org.br/arquivos/Politicos-emisso-
ras-BA.pdf . Acessado em 03 de novembro de 2009.


                                     37
SISAL AM: o trono da família Rios


         “O símbolo de maior riqueza da nossa região” este é
um dos primeiros slogans da Rádio Sisal, que foi gravado
numa antiga vinheta na voz de Lucival Lopes um de seus
maiores comunicadores. Depois de se destacar na emissora,
Lucival com sua voz grave, foi para Feira de Santana, onde
comanda programas jornalísticos de grande repercussão.
         A Sisal não vive mais na “Era de Ouro” dos anos 90,
porém está no ar diariamente já com sistema digitalizado e
pode ser sintonizada em 900 Khz AM em aproximadamente
30 municípios do Sertão baiano e pelo sítio que mantém na
Internet. Situada na Rua Wercelêncio Calixto da Mota, 81, no
centro da cidade de Conceição do Coité, ganhou o nome em
20 de dezembro de 1986, durante sua inauguração numa
homenagem dos proprietários ao Sisal, a planta que por dé-
cadas foi a principal base econômica da região.
         Segundo a diretoria da rádio, os primeiros documen-
tos da iniciativa datam de março de 1979 e os seus fundado-
res foram Tiago Ferreira de Carvalho – segundo o sítio Do-
nos da Mídia* também é proprietário de outra emissora em
Euclides da Cunha –; Gilberto Mota, Roberto Pinto Lopes e
Edvaldo de Carvalho Santiago. Em maio de 1982, ingressa-
ram os sócios Hamilton Rios de Araújo e João Carvalho.




* Ver site http://www.donosdamidia.com - Acesso em 10 de outubro de 2009.

                                    38
Por falta de capital suficiente para adquirir os equipa-
mentos os sócios resolveram, em dezembro de 1985,
transformá-la em sociedade anônima composta por 31 acio-
nistas. Hamilton Rios de Araújo tem grande poder de decisão
na emissora. HR, como o chamam na rádio, tornou-se a mai-
or liderança política de Coité da década de 1970, se manten-
do no poder até os dias de hoje, porém em decadência polí-
tica.
         – Seus interesses sempre se refletiram no perfil e
na programação da rádio –, relata Valdemi de Assis, que por
quase 20 anos foi o principal radiojornalista da emissora.
            A Sisal tem uma programação direcionada ao pú-
blico rural e não arrisca colocar ouvinte no ar dentro do jorna-
lismo como acontece em outras rádios. Mantém no ar o Jor-
nal da Sisal pela manhã e o programa Sisal Esportes e Notí-
cias ao meio dia, que se constituem nos espaços de maior
dedicação ao radiojornalismo. No final de semana, a rádio
transmite jogos de futebol amador e se mantém, desde 1992,
como referência neste setor na região.
         – Em vez de fiscalizar se estamos seguindo a linha
da rádio eles deveriam corrigir e ajudar a gente. Seria bom
para a Rádio e para a gente também –, reclama Nilton Feliz,
que coordena o esporte na rádio.
         – Você fala também em termos de corrigir para me-
lhorar a qualidade dos programas? –, pergunto.
         – Exato. E também assim, aqui na Sisal, hoje não,
mas antes já teve momento de ninguém da direção ouvir e a
rádio sair do ar e o locutor continuar fazendo o programa sem

                               39
saber – concluiu Nilton Feliz.
         Com a nova estrutura talvez isso não aconteça mais.
A Sisal comemorou seus 23 anos de cara nova. Foram inves-
tidos mais de R$ 200 mil em equipamentos de última gera-
ção para operação e transmissão, além de novos estúdios
climatizados, com paredes coloridas e quadros bonitos.
         Ainda é preciso ir mais fundo numa pesquisa que
aponte a Rádio Sisal e as demais não apenas como um bra-
ço direito das prefeituras ou dos gestores públicos, mas que
possa investigar como de fato o rádio contribui na manuten-
ção de cargos públicos, por exemplo, eleições e derrotas de
vereadores, prefeitos e deputados da região.
         O comunicador Valdemi de Assis sabe bem o que é
isso. Ele foi vereador e radialista ao mesmo tempo na déca-
da de 1980. Em 2006, candidatou-se a deputado contra a
vontade do grupo político que comanda a Sisal e foi expulso:
         – O rádio aqui é usado também como forma de ma-
nutenção do poder político – explica Valdemi –, por influenci-
ar diretamente na opinião pública. É através dele que as
mensagens dos políticos chegam diariamente ao povo seja
no período eleitoral ou fora dele. Por seus proprietários man-
terem ligações diretas com os partidos acabam fornecendo
as emissoras como instrumento de manipulação da opinião
pública a partir do fechamento que há na programação. Não
pode ter a participação do povo. Só se for para elogiar eles.




                             40
JACUÍPE AM: muda de dono, mas não muda de ob-
jetivo


         A emissora é comercial e é propriedade do ex-prefei-
to de Serrinha Josevaldo Lima, que deixou o cargo em 2004,
ano que adquiriu a rádio e disputou a re-eleição (sem suces-
so) assim como na eleição seguinte, em 2006, quando dispu-
tou a eleição de deputado.
            O radialista José Ferraz, que trabalha na rádio há
mais de dois anos, sustenta que a emissora ajudou na última
eleição do prefeito de Serrinha, em 2008, quando o filho do
político disputou a eleição como vice-prefeito na chapa de
Osni Cardoso:
         – A rádio foi multada em R$ 22 mil na política passa-
da – exemplifica Ferraz –, a coligação de Tânia entrou na
Justiça alegando que estávamos beneficiando Osni do PT e
realmente ele foi eleito com o apoio da rádio Jacuípe porque
aqui todas as rádios eram contra ele.
         Antes a emissora já era comandada por político. O
presidente anterior era ex-prefeito de Riachão do Jacuípe,
Valfredo Matos, que faleceu logo após o final do segundo
mandato, em janeiro de 2005. A mudança de propriedade
não mudou a concepção, utilidade e nem mesmo o conteúdo
do veículo.
         Hoje, melhor equipada, ainda sofre as mesmas difi-
culdades de emissoras comunitárias, como a falta de investi-
mento financeiro. Seus radialistas dizem que são reconheci-
dos pela população, mas pouco valorizados profissionalmente
                              41
como na maioria das rádios. Na maior parte do tempo a rádio
está a serviço dos governos ou dos políticos que estão fora
da estrutura administrativa dos municípios. Serve como apên-
dice das campanhas políticas e é usada para garimpar votos
e prestígio*. Percebe-se também que a emissora presta rele-
vante serviço para a comunidade e é o principal meio de co-
municação do lugar.
        Outro momento marcante na emissora foi o atentado
contra o radialista Gilberto Oliveira, em 1999, que foi espan-
cado no meio da rua por pessoas até hoje não identificadas.
O radialista disse que não tem suspeita e prefere não ligar o
fato à questão política:
        – Existem aqueles radialistas que ficam subordina-
do a políticos – denuncia Gilberto –, chantageando, receben-
do propina pra divulgar isso ou aquilo ou não divulgar•c e eu
desafio no meu caso. Tem gente até que me chama de bobo
que eu levanto muita gente, mas eu não quero nada dos ou-
tros. Não faço isso. Tenho minha consciência tranquila.
        Situada na Rua Padre Argemiro Guimarães, 32, no
centro de Riachão, a Rádio Jacuípe foi criada em 1987 e,
segundo dados do sítio do Ministério das Comunicações, os
primeiros sócios-proprietários foram José Aloir Carneiro Ara-
újo e Valfredo Carneiro de Matos.




* Para saber mais sobre este comportamento da emissora ver SILVA, Gladston.
Riachão Recente. Riachão do Jacuípe: Clip Gráfica e Editora, 2003.


                                    42
A ideia deste e outros estudos que precisam ser fei-
tos é trazer para o debate problemas antigos e ao mesmo
tempo bem atuais envolvendo o rádio na região: controle po-
lítico partidário sobre o conteúdo; falta de planejamento es-
tratégico; pouco financiamento para produção; ausência de
qualificação profissional; dentre outras questões que interfe-
rem diretamente no radiojornalismo como, por exemplo, o
surgimento das rádios comunitárias que pode ser considera-
do um divisor de águas na comunicação.


        RÁDIOS COMUNITÁRIAS: a voz de quem só ouvia


         A implantação das rádios comunitárias no final da
década de 1990 foi uma das maiores transformações no se-
tor e que gerou duas significantes situações: primeiro a pró-
pria população passou a produzir o rádio com seus conheci-
mentos e necessidades de pautas; segundo é que as rádios
comerciais sentiram-se ameaçadas por perceber que a po-
pulação estava ouvindo e aceitando cada vez mais as novas
emissoras, como explica Edisvânio Nascimento da Rádio
Comunitária Santa Luz FM e diretor da Abraço Sisal - Associ-
ação de Rádio e TV Comunitárias do Território do Sisal:
         – Você pode apontar alguma característica do
radiojornalismo proposto pelas rádios comunitárias?
         – Sim. – respondeu Edisvânio –, fazemos o
contraponto aos veículos de massa. Eles trabalham para aten-
der a interesses particulares e nós não. Buscamos o compro-
misso com a sociedade. Não fazemos sensacionalismo com
                              43
a notícia nem com a miséria do povo.
         A associação das rádios comunitárias foi criada, em
2004, para manter o movimento articulado em torno das ques-
tões de democratização da comunicação na região, princi-
palmente visando atender os interesses das emissoras co-
munitárias*.
         Uma pesquisa que tive o prazer de ser colaborador,
em 2005, intitulada Rádios Comunitárias da Região Sisaleira
da Bahia: memória, conjuntura e perspectivas**, e realizada
pelo professor Doutor Antônio Dias Nascimento, mostra o
papel do rádio como um meio eficaz de fazer valer os anseios
de justiça e de melhores condições de vida e trabalho para
as populações que são agregadas e organizadas pelos movi-
mentos sociais locais, em torno das emissoras comunitárias.
Por isso resolvi investir também nesta pesquisa em duas
emissoras comunitárias que mais se destacam nestes muni-
cípios que fiz o recorte.
         – A gente dá nossa opinião também – diz Tony
Sampaio da Rádio Valente FM –, mas sempre deixa o cami-
nho aberto para a interpretação do ouvinte, inclusive recebemos

* Rádios que compõem a Abraço Sisal: Água Fria FM, Barreiros FM, Estrela FM
de Retirolândia; Cultura FM de Araci, Cruzeiro FM de Tucano; Independente FM
de Ichú; Nordestina FM; Santa Luz FM; Valente FM, São Domingos FM, Juá FM
de Juazeirinho - Conceição do Coité, Quijingue FM, Mairí FM, Contorno FM de
Capim Grosso e Quixabeira FM.


** NASCIMENTO, A. D. Rádios Comunitárias da Região Sisaleira da Bahia: Me-
mória, conjuntura e perspectivas. Relatório de Pesquisa. MOC/UNICEF, Salva-
dor - Bahia, 2005. Disponível em www.moc.org.br. Acesso em 10 de Agosto de
2009.

                                    44
mos ligações contrárias a nossas colocações, mas sempre
procuramos ouvir o máximo de opiniões. E nunca esquece-
mos os fatos de um dia para o outro, se for preciso voltamos
ao tema anterior, refazemos matérias, fazemos novas entre-
vistas.
         Em relação às emissoras AM, além de transmitirem
em FM com melhor qualidade, as novas rádios, ainda prome-
tem uma programação diversificada com prioridade para os
assuntos da própria comunidade, a prestação de serviço, a
notícia e a cultura local.


        VALENTE FM: não desiste nunca


         Fundada em fevereiro de 1998, a Rádio Valente FM
foi uma das primeiras comunitárias da Região Sisaleira e por
isso sempre foi referência dentro do movimento de radiodifu-
são comunitária. A emissora já teve características de uma
transmissão regionalizada podendo ser sintonizada em vári-
os municípios como Serrinha, Conceição do Coité, Santa Luz,
Riachão do Jacuípe, dentre outros. Na época da inaugura-
ção a rádio chegou a alcançar um raio de quase 100 km, com
boa qualidade. Hoje atua apenas no município de Valente
com um transmissor de 25 Kws e em 104.9 Mhz.
         O jornalismo na Valente FM começou em abril de 1998
e foi planejado para ter notícias locais, regionais, estaduais e
nacionais, mas principalmente locais. Enquanto o processo
de outorga era travado no Ministério das Comunicações, a
Anatel - Agência Nacional das Telecomunicações e a Polícia
                              45
Federal cuidavam de calar a rádio.
         – O jornalismo da emissora foi se tornando mais
crítico e fiscalizador, virando cada vez mais alvo da repres-
são. Por diversas vezes a rádio foi lacrada e teve equipa-
mentos confiscados –, denuncia Tony Sampaio.
         Quando foi criada, o país vivia um grande movimento
pela democratização da comunicação com a aprovação da
Lei 9.612/1998 que institui a modalidade de rádio comunitá-
ria. Algumas entidades da sociedade civil, como a APAEB -
Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da
Região Sisaleira, as igrejas e o Sindicato de Trabalhadores
Rurais de Valente discutiam esse projeto desde meados dos
anos 90.
         A Valente FM somente conseguiu a outorga depois
de quase cinco anos de luta. Dirigentes da emissora foram
processados por operarem sem a autorização e até hoje,
mesmo depois que a rádio obteve a outorga, os processos
não foram extintos.


        SANTA LUZ FM: uma rádio premiada


        A Santa Luz FM opera 24 horas modulando em 104.9
Mhz e é uma emissora referência na radiodifusão comunitá-
ria no Brasil. A rádio tem uma associação comunitária que é
gerenciada pela própria comunidade através de seus repre-
sentantes, que são jovens comunicadores, dirigentes de en-
tidades sociais de bairros e de classes e estudantes. As deci-
sões da rádio são tomadas através de reuniões com os mem-
                              46
bros da diretoria, locutores e entidades que compõem o Con-
selho Comunitário e que garantem uma atuação apartidária
da emissora.
         – O negativo que me marcou – relata Edisvânio Nas-
cimento –, foi ter participado de uma capacitação do UNICEF
durante três dias, em Salvador, e quando cheguei aqui, em
Santa Luz, a Polícia Federal já estava me esperando na por-
ta do ônibus pra me pegar. Então, essa pra mim desabou... –
na fala uma pausa, emoção e choro.
         – Você ter trabalhado numa perspectiva de constru-
ção cidadã – tentando refazer a voz, ele continua –, buscar
aprendizado para incentivar a sociedade do que nossas cri-
anças precisam e você chegar e ser tratado como bandido
foi isso que eu senti. Ser obrigado a sentar num carro de
polícia com armas aos seus pés é muita humilhação.
         A Santa Luz FM, ao longo de dez anos, quando a
Polícia Federal deixava, apresentou um conjunto de reporta-
gens que contribuíram para a discussão de políticas públicas
dirigidas à população infanto-juvenil na Região Sisaleira e,
assim, se tornou referência no assunto. A prática da rádio
demonstra, através das escutas que realizei que atua com
responsabilidade social enquanto formadora de opinião e
contribui para a construção de novos valores, buscando uma
mudança de comportamento em seu público no que diz res-
peito aos direitos e deveres da população; e estimula a parti-
cipação de adolescentes e jovens em sua programação.
         Desde dezembro de 2008, a Santa Luz FM está no
ar com outorga – depois de dez anos de luta – e sem inter-
                             47
rupções. Agora também disponível na Internet através de seu
blogue: santaluzfm.blogspot.com.
         O maior problema enfrentado pelas rádios Valente
FM e Santa Luz FM foi a burocracia para a liberação da ou-
torga, que levou a estas e ainda leva outras emissoras a fun-
cionarem sem concessão. Sobre essa questão de rádio fun-
cionar sem autorização são diversas as opiniões:
         – A Região do Sisal tem que criar um sindicato –
defende José Ferraz –, para combater rádio pirata que dá
prejuízo as rádios comerciais e também para combater os
radialistas clandestinos, todo mundo hoje é locutor.
         – Elas estão ocupando um espaço – sinalizou Nilton
Feliz –, que as comerciais estão deixando por questões polí-
ticas. A Sisal comandou a região por uma década e meia e
agora as comunitárias por terem baixo custo e serem mais
abertas para a comunidade conseguiram atrair ouvintes e
anunciantes•... a rádio aqui [Sisal] tem que investir em qua-
lidade para superar isso.
         As rádios criadas pelos movimentos comunitários em
vários municípios apesar de muitas vezes passarem pelos
mesmos problemas das emissoras comerciais no tocante a
controle político ou mesmo não desempenharem o papel so-
cial do rádio, tiveram e têm o papel de aproximar as pessoas
do veículo e ao mesmo tempo oferecer o acesso ao direito
humano de se comunicarem via a mídia. É também um espa-
ço onde surgem novos comunicadores, que depois de algu-
ma experiência migram para outras emissoras.


                             48
CURSO DE RÁDIO E TV: a formação profissional


         Jota Sampaio, Paulo Catu, Rodrigo Carneiro, Marce-
lo Felipe e eu eramos inseparáveis na faculdade. Juntos, em
2008, criamos o Na Cangaia. O projeto de comunicação via
rádio e Internet serviu como experiência para integração dos
estudantes de Rádio e TV e cinco emissoras de rádios co-
munitárias* da região.
         – Foi via o Programa Na Cangaia – informou Jota
Sampaio –, que trocamos ideias, reportagens e diversos pro-
dutos radiofônicos como músicas, vinhetas, spots, rádio-no-
velas, dentre outros.
         – O Na Cangaia também foi bacana porque tivemos
um espaço de experimentação do que estávamos discutindo
no curso – comentei.
         – Foi um período onde ousamos, criamos e recria-
mos personagens – lembrou Sampaio –, como Dona Zumira,
Val Queiroz e tantos outros que estão registrados em nossa
memória. Sem esquecer dos músicos regionais que passa-
ram pelo programa como Dó Nascimento, A Banda No Name,
Caé, Chaonda, Ninho Santana e muito mais.
         O curso que surgiu, em 2006, pretende formar profis-
sionais conscientes da realidade em que vivem e aptos a
dominarem as linguagens audiovisuais.


* Os primeiros quatro programas foram apresentados ao vivo na Rádio Educativa
Sabiá. A emissora pertence à Fundação Bailon Lopes Carneiro e está no ar des-
de 2005. A rádio apenas toca músicas através e uma programação automática
de computado. Durante mais de um ano vários estudantes do curso se dedica-
ram voluntariamente à produção de notícias na emissora.
                                     49
A proposta de implantação da graduação surgiu no
movimento de radiodifusão comunitária, em 2004, na criação
do Plano de Comunicação do Território do Sisal, como apon-
ta Giovandro Ferreira e Gislene Moreira:

                     A chegada de um curso de comunicação no Ter-
                     ritório do Sisal foi reflexo da efervescência des-
                     te sistema comunicativo, principalmente, no que
                     se refere à mobilização da sociedade organiza-
                     da local e seu amplo aparato comunicacional
                     comunitário. Sua instalação pode ser conside-
                     rada como o primeiro produto efetivo do Plano
                     de Comunicação do CODES, o qual contribuiu
                     decisivamente para o re-direcionamento da atu-
                     ação acadêmica no território, viabilizando inclu-
                     sive destinação orçamentária para o início de
                     seu funcionamento. (FERREIRA e MOREIRA,
                     2008, P. 10)


         Com o curso, jovens e experientes comunicadores
de diversas cidades da Bahia obtiveram a profissionalização,
realizaram laboratórios de pesquisas na área de comunica-
ção e iniciaram a construção de um novo processo de comu-
nicação no já desenvolvido e habitado Sertão baiano. Quase
a totalidade dos formandos da primeira turma do curso é dos
municípios de Conceição do Coité, Riachão do Jacuípe,
Serrinha e Valente.
          O Departamento de Educação do Campus XIV con-
ta com professores – mestres e doutores – com formação,
principalmente, em Língua Portuguesa, Literatura, Linguística,
História, Jornalismo e Rádio e TV aptos a ministrarem as dis-
ciplinas que envolvem Domínio das Linguagens; Domínio dos

                               50
Fundamentos da Comunicação; Domínio da Formação Só-
cio-Cultural e Humanística; e Domínio da Formação Especí-
fica. A proposta do currículo é que o radialista formado seja
voltado à percepção, à interpretação e à recriação da realida-
de social, cultural e com ambientes naturais, através de som
e imagem. Além disso, tenha condições de desenvolver as
atividades de criação, produção, formação, direção e progra-
mação requeridas para as elaborações audiovisuais.
         Com o término da formação da primeira turma já são
muitos os ensinamentos e desafios para os alunos e profes-
sores envolvidos na proposta pedagógica. A estrutura de todo
o curso foi aprimorada ao longo dos semestres, a partir do
envolvimento dos estudantes e da chegada de cada novo
professor selecionado pela instituição. A matriz curricular em
experimentação ainda deve passar por adaptações à reali-
dade, os estudantes não conseguiram implantar um movi-
mento estudantil pró-ativo e as pesquisas de campo ainda
precisam ser melhor exploradas para contribuir com o de-
senvolvimento do radiojornalismo na região.




                              51
Fazendo jornal pelo rádio



        Radiojornalismo: perfil e características na Região
Sisaleira

                      “O ouvinte da região gosta de um trabalho bem
                      feito, bem mastigado, bem explicado e nem sem-
                      pre isso acontece”


         O depoimento é de Genivaldo Silva, um dos rema-
nescentes da Agência Calila e hoje apresentador do Jornal
da Sisal. A declaração mostra que é dia de debate no rádio.
Pensadores e experientes radialistas vão conversar agora
sobre o radiojornalismo na Região Sisaleira. Para chegar neste
momento passamos pela Era de Ouro do Rádio – década de
1940 –, quando surgiu o Jornal Falado, que deu origem ao
que chamamos atualmente de radiojornalismo. Dentre os for-
matos, que estão presentes neste gênero, o de maior desta-
que, neste livro, é o “Jornal de Rádio”, que é um modelo de-
senvolvido em todas as rádios pesquisadas. São programas
diários com duração média de 60 minutos, quadros fixos como
esporte, política, polícia, tempo, dentre outros. Barbosa Filho
(2003; P. 89) explica que o gênero jornalístico ”é o instrumen-
to de que dispõe o rádio para atualizar seu público por meio
da divulgação, do acompanhamento e da análise dos fatos”.
         Edisvânio Nascimento é um jovem atualizado e aten-
to às discussões sobre a comunicação. Ele é sempre otimis-
                               55
ta e gosta de desafios:
         – Não existe jornalismo imparcial – contesta o radi-
alista –, existe jornalismo sério, que trabalha com transpa-
rência e busca envolver a sociedade, por exemplo, não faze-
mos perseguição a ninguém. Atendemos as necessidades
do povo.
         – E o que é notícia prioritária na Santa Luz FM? –
pergunto.
         – A notícia prioritária pra nós é a que aponta pers-
pectivas para a sociedade, que realmente vai gerar frutos e
tem relevância para a sociedade.
         – Você tem um exemplo?
         – Se tiver um assassinato – diz ele –, e uma reunião
de professores é claro que a reunião pra nós precisa de um
destaque maior.
         Geralmente os programas jornalísticos das emisso-
ras sisaleiras são apresentados por homens que usam do
estereótipo da masculinidade para falar forte, fazer comentá-
rios duros e bater na mesa assim como o Varella da Rádio
Sociedade da Bahia.
         – Quando eu comecei no rádio – denuncia Vilmara
de Assis –, era muito preconceito com a presença da mulher
neste ambiente. Sofri muito com isso.
         Vilmara é uma das poucas mulheres presente há mais
de 10 anos no radiojornalismo da região – média dos entre-
vistados deste debate. De 1992 a 2007, Vilmara de Assis tra-
balhou na produção de programas jornalísticos da Agência
Calila. Do surgimento até 2006 os programas eram apresen-

                              56
tados na Rádio Sisal AM e depois durante dois anos na Rá-
dio Regional. O maior sucesso do grupo que terceirizou os
horários destas rádios foi o Jornal das Oito, um noticiário que
se destacava por estar presente nos principais acontecimen-
tos políticos, sociais e econômicos da região:
         – Tudo aconteceu naturalmente – informou Valdemi
de Assis, que é irmão de Vilmara –, não teve planejamento
não. A gente ia fazendo, gostando e fazendo de novo. A co-
bertura policial mesmo eu fui criando um estilo próprio que
virou referência.
         – O jornalismo produzido pela Equipe da Agência
Calila – comemora Vilmara –, era sempre de primeira e com
boa produção. Não tinha essa de ir para o ar sem planejar.
Para mim o fim do programa Jornal das Oito foi um divisor de
águas no jornalismo da região.
         O veterano Aluízio Farias aponta para a necessidade
de planejamento para os programas de notícias da região:
         – Nós temos bons radialistas, mas está faltando
mais profissionalismo. As pessoas fazem programas de uma
hora só com manchetes e comentários, sem redigir nada.
         – Eu não trabalho com pautas – salienta José Ribei-
ro –, eu não faço o programa lendo nada, aquele negócio
preestabelecido. Eu conheço muita gente que teve uma edu-
cação milhões de vezes melhor que a minha e quando chega
aqui na Regional se treme todinho diante de mim e não tem
condições de ter um raciocínio rápido sem ler nada.
         Ao contrário do que diz Ribeiro, um elemento em
destaque da Rádio Valente FM é a estrutura proposta no jor-

                              57
nalismo. Os programas são roteirizados, com pautas e pla-
nejamento para cada edição. Além de avaliações constan-
tes, como narra Tony Sampaio:
        – Não existe esse negócio de experiência fazer jor-
nalismo, não há mágica•c você tem que ter informação•c
você tem que trabalhar com responsabilidade e não deve fi-
car fazendo julgamentos.
        Tony explica que no dia-a-dia faz contato com as fon-
tes, busca a notícia com responsabilidade e tem a certeza do
que vai trabalhar sem prejudicar terceiros, sem inventar ou
estar a serviço de políticos. Para ele a falta de planejamento
dos programas é coisa de radialista preguiçoso ou a fim de
manipular.
        – Claro que um experiente terá melhor possibilidade
de fazer um comentário, por exemplo – reconhece Sampaio
–, mas é preciso trabalhar bem, ouvir os diversos lados para
conseguir, inclusive, formar uma opinião.
        Para o radiojornalismo de uma emissora funcionar
bem, Maria Elisa Porchat, no Manual de Radiojornalismo da
Jovem Pan (1993; P. 47), diz que é preciso ter reuniões de
pauta em vários momentos do dia. Segundo ela, as reuniões
são responsáveis, em grande parte, pelo desempenho positi-
vo da Rádio Jovem Pan. •”As matérias já feitas são comen-
tadas, considerando-se a conveniência de prosseguir com
os assuntos”, defende Porchat.
        O radialista Edisvânio Nascimento volta a argumen-
tar que o radiojornalismo na Região Sisaleira é comprometi-
do com um lado só:

                              58
– É o lado que paga – diz ele –, temos que melhorar
muito esse comprometimento. Outra coisa é que estamos
muito voltados para as fontes ditas oficiais como os registros
dos livros de ocorrência da polícia.
         Já Nilton Feliz entende que depende muito do radia-
lista e das circunstâncias:
         – Por não concordar com algumas situações eu me
exponho muito – argumenta Nilton –, pago um preço por isso
e sou perseguido, às vezes punido, ameaçado... na verdade
eu não tenho paz, mas é meu estilo, né? De coragem, na
verdade. Claro que a gente sabe de nossas limitações por
várias circunstâncias. Quebro alguns tabus. Muita gente tem
medo de falar de assuntos que envolvem polícia, que é um
caso muito complicado. É meu estilo de coragem.
         José Ribeiro também contra argumenta a visão de
Edisvânio:
         – Eu não sou um sujeito dado a abrir espaço para
que as pessoas digam o que é que eu tenho que fazer –
explica Ribeiro –, aqui na Rádio Regional, por exemplo, já fui
demitido cinco vezes. Estou aqui a mais de vinte anos e sou
o segundo mais velho daqui (...) Fui demitido por não concor-
dar com algumas situações, comentários, por alguém querer
impor.
         – E você é feliz fazendo radiojornalismo? – pergun-
to.
         – Não – responde Ribeiro –, você tem que ter dois
corações... eu já cheguei a tomar remédio controlado para
conseguir desempenhar minha função. Se eu começasse hoje

                              59
no rádio eu não faria jornalismo.
         Pelo fato de alguns radiojornalistas ouvidos nesta
pesquisa atuarem no esporte ou também no esporte, talvez
seja mais fácil argumentar a ideia de liberdade como explica
o comunicador Tony Brasília:
         – A diferença é que no esporte você é mais livre e no
jornalismo não, você tem que se policiar (...) pessoas que
são seus parceiros, seus amigos, com uma “criticazinha” fi-
cam seus inimigos.
         A ausência de uma produção qualificada pode ser
explicada pela falta de recursos para investir em boas repor-
tagens. Nilton Feliz informou que os repórteres e comentaris-
tas de seu programa esportivo, por exemplo, na maioria das
vezes são voluntários e nem sempre estão disponíveis para
debates, reportagens especiais e divulgar outros esportes,
além do futebol.
         Segundo Tony Sampaio, a Valente FM é referência
na troca de notícias com diversas rádios de Coité, Feira de
Santana e outras cidades. Para ele um diferencial da emis-
sora é apostar no ouvinte:
         – Existe um perfil criado por vocês aqui em Valente?
         – Temos um perfil do radiojornalismo que é desde o
início da rádio ... eu não sei se foi copiado de outro lugar, mas
é diferente dos outros da região porque é uma programação
aberta para a participação da população e sempre traz temas
importantes para o debate. O Rádio Comunidade hoje é uma
referência nisso.
         Volto a falar com o radialista Nilton Feliz para tentar

                               60
entender um pouco mais aquele argumento sobre a sensa-
ção de liberdade dos radialistas na região.
         – Qual a sua avaliação sobre a relação dos dirigen-
tes da rádio e os radiojornalistas?
         – Péssima – responde Nilton demonstrando infelici-
dade –, eles impõem, eles querem que você siga uma linha
que não é a sua e nós somos forçados a obedecer. Ou obe-
dece ou cai fora. Então isso não é bom. Para o rádio isso é
péssimo. E talvez as rádios comunitárias, que eu apoio e
admiro também, estão surgindo e crescendo por isso, por-
que elas têm essa liberdade (...) o certo é falar, mas ... eles
não vão deixar que digam as verdades que precisam ser di-
tas contra políticos do seu grupo.
         Isso parece ser uma unanimidade mesmo. Tony
Sampaio defende que as rádios comunitárias crescem mais
rápido pela liberdade de contestar, por ouvir mais opiniões e
talvez por não ter o xerife, o dono:
         – Você fazer um programa com prazer e sem pres-
são é muito bom – comemora Tony –, aqui [na Valente FM]
não há pressão de não poder ou ter que falar de político a ou
b ... sem maquiagem, sem tapeação ... todas as comerciais
não, mas a maioria é ligada a político e os radialistas não têm
essa liberdade.
         Em Riachão do Jacuípe a situação para Gilberto Oli-
veira melhorou nos últimos anos:
         – Como é a pressão política da direção da rádio no
conteúdo do programa?
         – Quando a rádio é direcionada a um político – ex-

                              61
plica Gilberto –, você tem que fazer o que ele quer. Tive difi-
culdades no início, mas agora o dono é de Serrinha e meu
trabalho direcionado a Riachão. No início a minha ideia de
fazer algo independente era complicada.
         – E a receita qual é? – pergunto.
         – No Jornal da Manhã eu procuro sempre fazer com
independência e sem lado político. Falar para todos. Sempre
de forma transparente e imparcialidade. Todos os partidos
falam. Agora eu sempre procuro falar a eles que lá não é o
lugar de tratar de assuntos pessoais. – argumentou Gilberto
Oliveira.
         Em Serrinha, pergunto a José Ribeiro:
         – Por que você está insatisfeito com o que vive no
dia-a-dia?
         – O rádio de Serrinha é provinciano. Meu irmão, o
jornalista Valdomiro Silva, costuma dizer o seguinte: “você é
fim de carreira”, porque ele encara o rádio de Serrinha assim
muito tendencioso; e é realmente – afirmou –, eu não enten-
do o radiojornalismo de Serrinha bem feito, mas pode melho-
rar.
         Para Tony Brasília a perseguição nem sempre é de
dentro da rádio:
         – No rádio de Serrinha todo dia tem um político pre-
ocupado em processar radialista. Agora mesmo na Câmara
tem um político dizendo que vai fazer um dossiê sobre minha
vida. O rádio é a quarta força e é político. E a gente enfrenta
os políticos porque a gente é o olho do cidadão.
         A melhor saída, segundo Vilmara de Assis, é mudar

                              62
o foco jornalístico.
         – Eu defendo que coisa boa também é notícia. Só
que a maioria só quer trabalhar com violência e política, 80%
do que você ouve nos programas jornalísticos na região é
política. Isso é muito ruim.
         O problema no pensamento de Aluízio Farias está no
próprio radialista:
         – Como assim no radialista? – Pergunto.
         – Uma mistura conturbada – comentou ele –, o ra-
dialista acaba transformando a notícia em atrito entre os po-
líticos e isso é muito ruim, mas a relação com as diretorias
das rádios eu tenho tirado isso de letra. Nunca fui chamado a
atenção por nenhum dono de rádio ou mesmo nunca teve
nenhum que chegou pra mim pra dizer o que falar ou não
falar. Eles conhecem meu conceito e conhecem minha ma-
neira.
         O debate até aqui centrou-se em pelo menos duas
questões que estão intrinsecamente ligadas: as rádios co-
merciais de Serrinha, Coité e Riachão são concentradas nas
mãos de políticos; e as experiências das rádios comunitárias
Valente FM e Santa Luz levam a crer que, sem o envolvimento
de políticos na gestão da emissora, o debate é ampliado nas
redações e nos programas. Mas este argumento de Aluízio
aponta para o que disseram Gilberto Oliveira, Nilton Feliz e
José Ribeiro: a profundidade, o foco e a narrativa do jornalis-
mo nas rádios também dependem do profissional:
         – Como você pode explicar isso Gilberto?
         – Eu não crio polêmicas para chamar audiência do

                              63
povo. Eu sou simples e tudo é natural. Não tem isso de
polemizar para ter audiência. Eu trabalho com a verdade, com
sinceridade, com respeito a todos. – provoca o radialista.
         Na Continental Tony Brasília atua por outra lógica:
         – A notícia para o programa é aquela que causa
impacto de positivo ou negativo. Você não consegue manter
audiência só com coisas boas. Se você fala que um
motoqueiro atropelou e levou a criança para o hospital as
pessoas vão dizer “não fez mais que a obrigação”, mas se
ele fugir e você disser isso... é isso que vai dar audiência –
ele continua acreditando que o velho grito e tapa na mesa
para chamar a atenção é o que aumenta a audiência –, as
pessoas querem ouvir as coisas ruins. Deveria ser diferente,
mas só coisa boa as pessoas não querem.
         – É esse o retorno das pessoas que ouvem o seu
programa? –, insisto.
         – Em Serrinha não tem pauta – relata Brasília –,
aqui não tem padrão, ao contrário da capital. Se eu faço a
pauta antecipadamente o povo não quer isso e muda tudo. O
povo liga e dita as regras do programa querendo ridicularizar
o prefeito, o vereador... o povo liga para trazer problemas. A
cada 100 ligações 99 é de coisa ruim.
         Sobre a definição de notícia pergunto a Tony Sampaio
se o Jornal Rádio Comunidade da Valente FM, tem alguma
prioridade e ele responde:
         – Principalmente aquelas informações que possam
causar um senso crítico nas pessoas – diz ele com facilidade
–, as coisas boas que acontecem, as reclamações popula-

                              64
res, os acontecimentos do dia-a-dia, a falta de segurança e
diversos temas como a luta pelos direitos trabalhistas das
pessoas da comunidade.
         A rádio Valente FM aparentemente sempre separa o
joio do trigo. Tony contou que se um radialista prestar servi-
ços em campanhas eleitorais tem que se afastar da emissora
durante todo o período:
         – Eu mesmo me afastei para trabalhar numa cidade
vizinha e depois passei um tempo fora da rádio, demorou um
pouco para voltar porque depende sempre de uma avaliação
sobre o meu comportamento no trabalho que fiz. Isso sem-
pre acontece aqui e está correto.
         Vilmara de Assis acredita que o envolvimento político
partidário dos donos das emissoras impede as rádios de fa-
zerem um jornalismo mais plural e muitas pautas de interes-
se público ficam de fora dos programas. E outro problema
que ela já passou ao longo de seus 17 anos de profissão é
que essa relação dos proprietários com a política também
expõe o radialista.
         – Que tipo de exposição? - pergunto a Vilmara.
         – Antigamente a minha voz ia também para os car-
ros de som das campanhas políticas do dono da rádio – con-
ta Vilmara com ar de arrependimento –, e hoje não faço isso
mais –, argumenta demonstrando alívio.
         Cival Anjos entende que o contraponto não é apre-
sentado pelos radialistas por falta de formação profissional:
         – Os radialistas precisam entender que, por exem-
plo, em vez de ficar cobrando que a polícia mate bandidos

                              65
devem abrir o espaço para cobrar dos governantes ações,
melhorias, geração de emprego e renda, qualificação no en-
sino, enfim, a saída para a situação de violência, devemos
exaltar o que é bom para também dar o exemplo.
         – E o que impede que isso aconteça?
         – Falta qualificação – acredita Cival –, sem qualifi-
cação diminui essa possibilidade de atuação. Eu penso que
pra mim é fácil dizer isso depois de cursar uma faculdade e
ter participado do movimento social, que me deram esta pos-
sibilidade de visualizar isso.
         Para entender este comportamento da imprensa fiz
uma entrevista* com a professora e pesquisadora da USP -
Universidade do Estado de São Paulo, Cremilda Medina, num
seminário sobre jornalismo cultural. Ela disse que o jornalista
tem o hábito de procurar uma causa só para tudo, “mas não
é por aí”, alertou. Ela defende que é preciso entrar num pro-
cesso chamado de multicausalidade, ou seja, não buscar
apenas uma causa para os problemas.
         – Essa visão de um jornalismo centrado em busca
de um culpado é algo que se concentra mais no interior?
         – Não, é geral – respondeu Medina –, É uma ques-
tão que a gente precisa se debruçar.
         – Como é possível mudar este comportamento?
         – Só existe uma forma de enfrentar esse problema
que é criar laboratório de pesquisa – afirmou Medina.


* Entrevista realizada durante a II Conferência Estadual de Cultura, realizada de
26 a 28 de outubro de 2007, em Feira de Santana.


                                       66
Ela defende que as faculdades preparem os estu-
dantes mais para a pesquisa do que para o mercado de tra-
balho, como acontece hoje em dia. Essa talvez seja uma hi-
pótese interessante para se abordar quando o jornalismo
comunitário revela-se mais pretensioso e muitas vezes apre-
senta melhores resultados.
         Organizações comunitárias como a Abraço Sisal e o
MOC - Movimento de Organização Comunitária na Região
Sisaleira investem na capacitação dos comunicadores das
rádios comunitárias visando um jornalismo que pesquise a
realidade local antes de qualquer julgamento, avaliação e
outras condutas assumidas pelo jornalismo no dia-a-dia.
         Na comparação entre o jornalismo das rádios comu-
nitárias e o das comerciais foram encontrados diversos pon-
tos que são extremos, mas dentro do próprio setor das co-
mercias, lideradas por políticos, não há um mesmo perfil. Em
Conceição do Coité, por exemplo, a Sisal AM tem um perfil
de rádio que apenas promove os políticos de seu grupo e
pouco ataca os adversários, na maioria das vezes os ignora,
ao contrário das rádios de Serrinha. Cival Anjos pensa que a
Rádio Sisal não é concentrada na política porque a emissora
é ligada a administração pública local e, portanto, faz um jor-
nalismo sem polêmicas. Pensamento que é corroborado por
José Ferraz, da Rádio Jacuípe:
         – Coité é diferente de Serrinha porque lá só tem
uma rádio e só fala o que o prefeito quer. Então isso dificulta
e a rádio fica ludibriando o povo. Aqui [em Serrinha] tem três,
é diferente.
                              67
– Eu sempre me exponho – novamente contesta
Nilton Feliz –, porque faço cobranças de ações públicas no ar
e às vezes tenho atritos com algumas prefeituras que inclusi-
ve nos patrocinam, como a de Coité.
        Como o debate sobre o tema deve continuar em ou-
tros programas, livros e pesquisas eu resolvi ouvir a opinião
de Cival Anjos para concluir esta etapa e abrir o microfone
para novas discussões:
        – Só sei que a forma de fazer rádio na região tem
que ser passada a limpo de verdade, como dizia aqui o nome
de um programa da Continental – afirmou o radialista.




                             68
Tocando Ética




        PROFISSÃO: a legislação e a prática



                     “É quase impossível, mas o ideal é a liberdade.
                     Que todos pudessem falar. É um sonho… tem
                     que surgir uma rádio que ofereça isso”.


         A denúncia do radialista Valdemi de Assis refere-se
aos proprietários das emissoras, que na maioria das vezes
colocam seus interesses diante do bem comum. Para o radi-
alista isso se reproduz em todas as emissoras:
         – Aqui na região não tem como você cumprir a legis-
lação – comenta Valdemi –, você faz o que determina o pa-
trão. Acúmulo de função, muitas horas no ar, pouca estrutu-
ra, não pode falar o que realmente tem que falar.
         O cumprimento do Código de Ética do Jornalismo não
está presente de forma explícita no rádio da Região Sisaleira.
É possível ouvir constantemente radiojornalistas fazendo de
conta que está ao vivo num determinado local, quando de
fato está no estúdio e solta uma gravação. Isso é feito para
conquistar prestígio e dizer que é “boca quente”, mas no rá-
dio, que é um veículo íntimo, deve prevalecer a verdade para
conseguir conquistar o ouvinte. Quem quer ouvir aquele ou
este conteúdo não desliga o rádio porque não é ao vivo. En-
                              71
tão por que mentir? Para que esconder que a entrevista é
gravada? Qual o problema disso?
         Mas esse não é o único problema. Ao longo dos meus
estudos fui entendendo que o comunicador deveria tomar
como base para suas ações pelo menos os seguintes docu-
mentos: Código de Ética dos Radialistas, Código de Ética
dos Jornalistas e a Declaração Universal dos Direitos Huma-
nos, que completou 61 anos em 2009, além, é claro, da Cons-
tituição Federal de 1988, que é a Carta Magna de todos os
brasileiros. Muitos dos radialistas que entrevistei nunca le-
ram nada sobre o assunto. Alguns que, por exemplo, já leram
o Código dizem que é impraticável.
         A Lei dos Radialistas foi criada na década de 1970, e
está valendo desde 16 de dezembro de 1978 com o número
6.615. Nesta legislação, admite-se como radialistas aqueles
que comprovem a atuação no rádio anterior a esta data. Era
o chamado “direito adquirido”. Depois de 1978, somente po-
dem trabalhar como profissionais em empresas de radiodifu-
são quem tiver a carteira da DRT, que é o Registro na Dele-
gacia Regional do Trabalho.
         Em 1979, surge o Código, com o Decreto 84.134, de
30 de outubro 1979, que trata de regulamentar as funções e
setores de atuação do profissional de rádio.
         Diz o Código:

                     Art. 7 - Para registro do Radialista é necessária
                     a apresentação de: I - diploma de curso superi-
                     or, quando existente, para as funções em que
                     se desdobram as atividades de Radialista, for-

                              72
necido por escola reconhecida na forma da lei;
                    ou II - diploma ou certificado correspondente às
                    habilitações profissionais ou básicas de segun-
                    do grau, quando existente, para as funções em
                    que se desdobram as atividades de Radialista,
                    fornecido por escola reconhecida na forma da
                    lei ou III - atestado de capacitação profissional.
                    (Código do Radialista, 1979)


         Alguns radialistas concordam com a obrigatoriedade
da DRT, mas nem sempre do diploma de nível superior. É o
caso do Radialista Gilberto Oliveira:
         – Toda formação é boa – acredita Oliveira –, mas
não adianta você ir para a faculdade fazer um curso e dizer
que agora vai narrar futebol. Tudo é dom.
         Com a criação do Curso de Rádio e TV na UNEB, em
Conceição do Coité, muitos radialistas discursam preocupa-
dos com os formandos. Entendem que simplesmente chegar
com o diploma na mão não significa ser um radialista. A
comunicadora Vilmara de Assis defende a necessidade da
faculdade de comunicação para quem quer trabalhar no rá-
dio, mas faz um alerta:
         – Agora um detalhe, a gente respeita muito quem
está chegando e essas pessoas devem respeitar a gente tam-
bém, pois a experiência é válida – aconselha Vilmara.
         Um dos princípios fundamentais do jornalismo pre-
sente no Código é “ouvir sempre, antes da divulgação dos
fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas
em uma cobertura”. O Artigo 12 do Código de Ética dos Jor-
nalistas define que o profissional deve:

                             73
I - ressalvadas as especificidades da assesso-
ria de imprensa, ouvir sempre, antes da divul-
gação dos fatos, o maior número de pessoas e
instituições envolvidas em uma cobertura
jornalística, principalmente aquelas que são ob-
jeto de acusações não suficientemente demons-
tradas ou verificadas;


II - buscar provas que fundamentem as infor-
mações de interesse público;


III - tratar com respeito todas as pessoas men-
cionadas nas informações que divulgar;


IV - informar claramente à sociedade quando
suas matérias tiverem caráter publicitário ou
decorrerem de patrocínios ou promoções;

V - rejeitar alterações nas imagens captadas que
deturpem a realidade, sempre informando ao
público o eventual uso de recursos de
fotomontagem,          edição    de    imagem,
reconstituição de áudio ou quaisquer outras
manipulações;

VI - promover a retificação das informações que
se revelem falsas ou inexatas e defender o di-
reito de resposta às pessoas ou organizações
envolvidas ou mencionadas em matérias de sua
autoria ou por cuja publicação foi o responsá-
vel;


VII - defender a soberania nacional em seus as-
pectos político, econômico, social e cultural;


VIII - preservar a língua e a cultura do Brasil,
respeitando a diversidade e as identidades cul-
turais;


         74
IX - manter relações de respeito e solidariedade
                      no ambiente de trabalho;

                      X - prestar solidariedade aos colegas que so-
                      frem perseguição ou agressão em conseqüên-
                      cia de sua atividade profissional. (FENAJ, Códi-
                      go de Ética dos Jornalistas, 2007)




          – Da forma que eu aprendo eu procuro colocar em
prática – explica Cival Anjos –, mas essa questão de ética na
prática quase não funciona aqui na região.
          – E o que pode ser feito para mudar esta realidade?
– pergunto.
          – Nós deveríamos fazer nossa própria censura e
definir que algumas coisas não deveriam ir ao ar, devería-
mos ler e cumprir os manuais e código de ética; principal-
mente os radialistas mais velhos que não ligam pra isso.
          – Tem outra coisa – alerta Aluízio Farias –, nada de
piadinha no ar. Não coloco informações que a pessoa me
pede segredo no ar e tem muita coisa no rádio que não deve-
ria ir ao ar e não deve ir para o rádio a desavença familiar que
está escrita nos registros da polícia, por exemplo, isso eu
vejo muita gente fazendo e não deveria ser colocado no ar de
jeito nenhum. Não vai resolver nada.
          – Os processos que muitos enfrentam referem-se
diretamente com ao descumprimento do Código de Ética? -
pergunto a Farias.
          – Sim – respondeu demonstrando experiência no
assunto –, ética tem que existir em todos os sentidos. E a

                               75
ética profissional deve funcionar. Por isso eu nunca sofri ne-
nhuma agressão nem física nem verbalmente – ele lembrou-
se de um amigo que criticava seu estilo moderado de ser no
rádio –, sempre me comportei bem em rádio e eu tinha um
companheiro que dizia que eu gostava muito de ensebar, ou
seja, defender as pessoas. Mas é melhor defender do que
ridicularizar. E lá na frente quando se precisar fazer uma crí-
tica você faz.
         Gilberto Oliveira também entrou no debate:
         – Não tenho problema nenhum na justiça e penso
que isso é por causa da responsabilidade. Procuro sempre
cumprir as leis. Faço rádio com responsabilidade.
         De volta a Serrinha, é hora de ouvir o experiente José
Ribeiro que tem 30 anos de rádio.
         – Zé como se dá a prática dos princípios éticos nos
seus programas? – pergunto.
         – Eu nunca respondi a nenhum processo por ter
feito qualquer coisa que vá de encontro à ética ou que diz
respeito a minha vida profissional ou que está escrito na Lei
de Imprensa.
         – E como você se comporta?
         – Eu sempre me pautei pela seriedade, embora eu
brinque muito no rádio, mas quando é pra falar sério eu falo
mesmo. Nunca fui ao Fórum pra responder processo e posso
ser o maior mentiroso de Serrinha e da Bahia, mas sou inca-
paz de mentir nos microfones.
         Depois disso Ribeiro lembrou-se que, em 2000,
descumpriu a Lei Eleitoral ao divulgar uma pesquisa sem re-
                              76
gistro. Segundo ele, o programa ficou fora do ar por 30 dias:
         – Foi um comentário infeliz que eu fiz com o Juiz de
Serrinha. Ele veio na emissora, pediu para falar, explicou tudo
aos ouvintes e mandou suspender imediatamente eu e o pro-
grama por 30 dias. Por pouco não tirou a rádio também.
         Ele também se envolveu noutra polêmica, em 2009,
quando o vereador Jorge Gonçalves (PT) lhe denunciou por
tentativa de extorsão. José Ribeiro esclareceu que tudo não
passou de um mal entendido:
         – É o caso do vereador Jorge foi que ... eu ofereci a
ele um espaço para um comercial na Rádio Regional e ele
não quis. No outro dia fiz um comentário sobre outro assunto
também na rádio e ele não entendeu e deu uma polêmica,
mas isso nós já esclarecemos.
         Segundo ele, muitos confundem também o seu tra-
balho na internet com o trabalho no rádio. “Para aparecer no
meu blogue tem que pagar mesmo porque tem um custo pra
isso”, comunicou.
         – Aqui no interior ética funciona assim – comentou
Tony Brasília –, se você for aliado o cara lhe trata bem e vice-
versa. Se você não for aliado por mais que você o trate bem,
ele não quer saber se você tem ética ou se você não tem, ele
quer é mandar ver. E se você suportar segura como a gente
está segurando até hoje.
         Na Rádio Valente FM o princípio da ética é um dos
mais fundamentais da emissora, segundo informou Tony
Sampaio. O âncora do jornalismo disse que já recebeu pres-
são para divulgar nomes de pessoas que foram ao seu pro-
                              77
grama anonimamente fazer alguma denúncia:
          – Recebemos também ligações com ameaças por
estarmos tocando em algum assunto que alguém não queria,
mas nunca abrimos mão desse dever de proteger nossas
fontes e a maior agressão que sofremos aqui foi mesmo da
Polícia Federal.
          – A formação influencia no comportamento do radi-
alista? – perguntei.
          – Não sou formado em jornalismo, mas aprendi em
muitos cursos que fiz como se comportar no radiojornalismo
– informou Tony Sampaio – , aprendi que não devo me apro-
veitar da notícia pra fazer autopromoção, sensacionalismo,
mexer com vida pessoal das pessoas, misturar o trabalho no
rádio com as conversas na rua e aqui estamos sempre cum-
prindo os princípios éticos do jornalismo com base nessas
capacitações. Agora eu tenho vontade de fazer o curso de
rádio.
          Independente de ser rádio comunitária o tratamento
desta questão de ética e prática deve ser levado à risca. Ser
comunitária como a Valente FM não nos dá garantia de emis-
sora ética. A mesma coisa se a rádio for comandada por po-
lítico ou não. Ser político e dono de rádio não significa ter um
jornalismo antiético. Para a maioria dos entrevistados a ques-
tão também é individual de cada profissional e não depende
apenas da formação de nível superior. Outra questão que
tem ligação direta com o cumprimento das leis e tratados da
profissão é a terceirização de horários no rádio.


                              78
TERCEIRIZAÇÃO: a falsa liberdade comprada


         Desde os tempos do Estado Novo que o uso dos
meios de comunicação e as estratégias de quem não tinha
os veículos a seu favor são feitos na base da compra de es-
paço publicitário ou mesmo com a criação de meios alterna-
tivos. Segundo Skidmore (1982) Vargas também enfrentava
os meios de comunicação de massas com caminhões equi-
pados com alto-falantes e volantes impressos. Na Região
Sisaleira os políticos financiam horários e pagam matérias: e
se aproveitam dos radialistas que precisam de grana para
“pagar a rádio”. Isso mesmo. Rádio não paga a ninguém.
Quem quiser ser radialista tem que pagar a rádio:
         – Para sobreviver no rádio aqui na região tem que
fazer jabá – abre o jogo José Ferraz, que disse não ter língua
presa –, eu nunca gostei porque perde a credibilidade, mas
tem radialista aqui que quando o prefeito não paga ele bate
no ar. Eu trabalho na rádio e sou servidor público pra sobrevi-
ver porque notícia paga é ruim, isso é péssimo no rádio. Em
2004, uma revista e um jornal disseram que Zevaldo ganha-
va a eleição e ele perdeu. Não posso dizer que foi matéria
paga, mas dá pra desconfiar.
         Ferraz criticou a postura das emissoras que em nome
do dinheiro aceitam qualquer pessoa fazer programa:
         – Tem gente que pensa que Jornalismo e Radialismo
é a mesma coisa. Com esse negócio de queda do diploma
todo mundo quer ser radialista. Esse negócio de horário
terceirizado é ruim. Tem rádio aí que todo mundo que quiser
                              79
comprar um horário compra.
         Tony Brasília, que trabalha neste sistema, afirma que
realmente é assim que funciona:
         – O programa terceirizado é ruim porque você fica
escravo para pagar a rádio e tem um custo muito alto, inclusi-
ve a sua liberdade de expressão. Você depende de políticos,
o comércio não banca isso sozinho. Às vezes quer dar ape-
nas uma ajuda.
         Nos seus quase 50 anos de rádio como “colabora-
dor”, como ele mesmo diz, Aluízio Farias verifica que a
terceirização do rádio faz com que haja um desempenho maior
de seus profissionais:
         – E foi uma forma que as rádios encontraram para
diminuir os gastos – considera Farias –, mas eu não sou a
favor. Radiojornalista não tem que vender comerciais, mas
acredito que o jabá também foi quem ajudou nesse processo
da terceirização. Uma coisa é a gratificação que tem desde o
início do rádio. Mas esse esquema de jabá antigamente não
tinha. Eu condeno essa prática.
         Também na Regional, onde atua Aluízio Farias, há
opiniões divergentes.
         – Esse negócio de jabá foram os donos de rádio
que criaram. Eu não vejo esse negócio de jabá. Quando um
ouvinte ou um comerciante lhe dá uma ajuda é problema do
locutor ... Já me chamaram de “jabazeiro”, descontaram do
meu salário, mas eu já desafiei a encontrarem alguma coisa
contra mim - comenta José Ribeiro.
         Sobre a terceirização ele disse que já quis terceirizar,
                               80
mas o dono da rádio não aceitou.
          – Como eu sou muito polêmico – argumenta Ribeiro
–, e iria faturar muito, então eles não deixaram.
             Para ele a terceirização é boa para o radialista e
para o dono do rádio.
          – Só não é boa para o ouvinte, mas todas as emis-
soras do mundo estão fazendo isso e não tem pra onde fugir
– explica o radialista –, mas a qualidade do jornalismo fica
duvidosa. A pessoa paga por um produto seja ele ruim ou
não.
          Tony Sampaio é contra a terceirização no rádio, prin-
cipalmente no jornalismo e no esporte. Para ele “o bom é a
rádio dar condições de trabalho para o comunicador. Pelo o
lado do radialista pode até ser bom para ganhar dinheiro,
mas para o rádio não é bom”, defende.
          – Terceirização do rádio é um jogo perigoso – consi-
dera Edisvânio Nascimento da Santa Luz FM –, muitos
radiojornalistas da região são bancados por políticos e isso é
muito ruim. Por mais vontade que você tenha de fazer a coi-
sa certa você sabe que depende do dinheiro para se manter.
          Os radiojornalistas Nilton Feliz e Gilberto Oliveira eram
contratados da rádio, mas agora pagam para falar:
          – Sempre trabalhei para a rádio – disse Gilberto –, e
hoje estou terceirizado. Essa é uma questão que requer um
pouco de estudo. Você pode ter certa liberdade, mas ao mes-
mo tempo poderá somente divulgar o que é pago. Isso é ruim.
A mudança não interferiu neste sentido na minha postura
antes e depois, mas nem sempre é assim.
                                81
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Livro reportagem os radiojornalistas

  • 1.
  • 3. PAULO MARCOS Os radiojornalistas O pensamento e o perfil dos produtores de notícias da Região Sisaleira da Bahia UNEB - Universidade do Estado da Bahia
  • 4. (CC) 2009 Paulo Marcos Pesquisa, textos e edição: Paulo Marcos Desing gráfico (capa e capítulos): Márcio Mendes Supevisão para editoração: Kleuber Cedraz Editoração: Paulo Marcos Impressão: Nossa Gráfica Editora Formato: 14 X 21 Papel: 75 g. Capa: Papel Cochê 230 Orelha: Sim Ficha Catalográfica - Bibliotecário Roberto Freitas BPJCA - Biblioteca Professor José Carlos dos Anjos (UNEB) S237 Santos, Paulo Marcos Queiroz dos Os radiojornalistas: O pensamento e o perfil dos produtores de notícias da Região Sisaleira da Bahia. / Paulo Marcos Queiroz dos Santos. Conceição do Coité: o próprio, 2009. 160p. il. Jornalismo-Entrevistas. 2. Reportagens. 3. Título CDD 070.449
  • 5. Agradecimentos Meu professor/orientador é um cara tranquilo. Ele chega cedo com livros, novas ideias e um bom papo. Senta- se numa das cadeiras da biblioteca que está sempre movi- mentada. Preocupado com o andamento do trabalho faz logo aquela boa pergunta: - E aí rapaz, como vão os textos? - A semana foi muito boa. Muitas novidades - res- pondi. Quem circula pelo Departamento de Educação do Campus XIV da UNEB - Universidade do Estado da Bahia já conhece o professor Jorge Soares, anda sorridente, disposto a uma boa conversa, um conselho e fazer novas amizades. Durante a pesquisa se empenhou bastante no acompanha- mento semanal dos trabalhos e é parte integrante do resulta- do; Também sou grato ao antropólogo Márcio Mascarenhas, pois gentilmente fez uma leitura mais atenta dos textos, fez boas críticas e sempre me apoiou ao longo de minha vida profissional; Ao bibliotecário Roberto Freitas que também teve importante papel neste trabalho ao sugerir e orientar na formatação técnica; À professora Carolina Ruiz, que tanto contribuiu na elaboração do projeto de pesquisa e fez várias sugestões no
  • 6. texto final; Ao professor Tiago Sampaio, que assim como Jorge e Carolina, também compôs à banca de avaliação e contri- buiu com o resultado deste livro; Ao professor Francisco de Assis, que ao longo dos quatro anos foi grande apoiador dos meus trabalhos; Agradeço também a kleuber Cedraz, Gilmara Portu- gal, Meire Nunes, Adalício Ramos, Maria Dalva, Bruna San- tos, Maria Queiroz (D. Lia), Del Feliz, Delma Nunes, aos ami- gos, colegas, professores e parentes pelo incentivo e cola- boração. Por fim, aos radialistas, funcionários e dirigentes das rádios que facilitaram o acesso às informações e estarão presentes em cada uma das páginas seguintes. Muito obrigado! “Pelo direito à palavra e apaixonado por rádio igual a todo brasileiro”, Paulo Marcos Para Odenice Queiroz dos Santos (Dene) In memorian
  • 7. SUMÁRIO Apresentação, 9 Introdução, 15 Livro-reportagem: perfil e retrato do radiojornalismo, 18 Região: o que é isso?, 23 O rádio: popular e sempre, 20 Metodologia: as rádios e radialistas pesquisados, 26 CAPÍTULO 1 Chegada do rádio na Região Sisaleira, 29 Difusora AM: a primeira rádio da região, 34 Morena FM: 22 anos sem jornalismo, 35 Regional AM: a menina dos olhos de Lomes, 36 Sisal AM: o trono da família Rios, 38 Jacuípe AM: muda de dono, mas não de objetivo, 41 Rádios Comunitárias: a voz de quem só ouvia, 43 Valente FM: não desiste nunca, 45 Santa Luz FM: uma rádio premiada, 46 Curso de Rádio e TV: a formação profissional, 49 CAPÍTULO 2 Fazendo jornal pelo rádio, 53 Radiojornalismo: perfil e características na Região Sisaleira, 55 CAPÍTULO 3 Tocando ética, 69 Profissão: a legislação e a prática, 71 Terceirização: a falsa liberdade comprada, 79 CAPÍTULO 4 Os radiojornalistas sisaleiros, 83 O radiojornalista poeta, 86
  • 8. Uma mulher em movimento, 92 Do sisal ao rádio: uma trajetória de sucesso, 96 Deus, Ferraz e o povo!, 100 O radialista professor: meio século de rádio, 106 Genivaldo: seu sobrenome é criatividade, 109 “O Bola de Ouro do rádio”, 113 Feliz é esporte nas ondas do rádio, 120 Da Capital Federal ao Sertão da Bahia, 125 Filho de radialista, radialista é, 130 Valdemi de Assis: do rádio para a Internet, 135 Ícone do rádio comunitário no Sertão, 139 CONCLUSÃO, 145 Cronologia histórica apresentada no livro, 151 Lista de imagens e créditos, 154 Referências Bibliográficas, 155
  • 9.
  • 10. APRESENTAÇÃO Este é o resultado de uma pesquisa fundamentada e planejada para analisar o perfil e pensamento dos radiojornalistas e não apenas a confecção de um livro sobre a história de cada entrevistado. Esta é uma oportunidade, em forma de reportagem, para entender como anda o radiojornalismo neste pedaço de chão do Sertão baiano. O projeto surge das ideias temáticas para a pesquisa de con- clusão do meu Curso de Comunicação Social com habilita- ção em Rádio e TV no Campus XIV da Universidade do Esta- do da Bahia, mas principalmente das minhas inquietações sobre o radiojornalismo da região a partir das várias experi- ências que desenvolvi. Em 1997, comecei fazendo locução na Rádio Comunitária Barreiros FM e no Serviço de Comuni- cação “Voz da Sociedade Barreirense” do Distrito de Barreiros, em Riachão do Jacuípe-BA, onde nasci, em 1982. Depois atuei no Projeto Comunicação Juvenil e no Programa de Co- municação do Movimento de Organização Comunitária entre 2002 e 2007. Atuei também nas rádios Barreiros FM, Arcos FM, Sabiá FM, Sisal AM, Difusora AM, Regional AM e Jacuípe AM, onde basicamente trabalhei com jornalismo. Durante o curso de Rádio e TV, que iniciei em 2006, identifiquei que não há estudos sobre a atuação dos radiojornalistas na Região Sisaleira da Bahia, principalmente 10
  • 11. sobre a produção de notícias para o rádio: e este é um dos fatores importantes para entender como se dá o desenvolvi- mento da comunicação na região. O radialista é um persona- gem importante no estudo do rádio, mas ainda pouco valori- zado nas pesquisas. A proposta da pesquisa orientada pelo professor Jor- ge Soares é avaliar, através da atuação e experiência dos profissionais, se o radiojornalismo da região possui caracte- rísticas que o diferencie da atividade de produção e divulga- ção de notícias radiofônicas que se propõe nos manuais de radiojornalismo; apresentar as características técnicas e hu- manas dos radiojornalistas das principais emissoras de rádio da região; analisar a relação dos comunicadores com a dire- ção das emissoras; identificar as principais fontes e critérios noticiosos dos radialistas; e observar como se dá o cumpri- mento da legislação e dos tratados como Código de Ética e Manual do Radialista dentro dos programas por eles produzi- dos e/ou apresentados. No primeiro capítulo Chegada do Rádio na Região Sisaleira, há uma breve história, o perfil e elementos do fun- cionamento de sete emissoras. São três FMs e quatro AMs: Morena FM (Serrinha), Valente FM (Valente) e Santa Luz FM (Santa Luz); Sisal AM (C. do Coité), Continental AM (Serrinha), Jacuípe AM (R. do Jacuípe) e Regional AM (Serrinha). No segundo capítulo do livro, Fazendo jornal pelo rádio, mostro qual é o perfil dos programas jornalísticos da região, através do olhar dos próprios radialistas, e as pers- pectivas a partir de análises da prática de cada um. 11
  • 12. No terceiro capítulo, Tocando ética, levanto uma dis- cussão sobre os princípios éticos da atuação dos radiojornalistas. Faço um breve relato e análise sobre os Códigos, Leis, Manifestos e Convenções sobre o tema. Penso que um estudo sobre a atuação dos profissio- nais desta área poderá contribuir também com a formação de novos radialistas servindo de fonte de pesquisas e para a comunidade como meio de entender o outro lado do rádio, que é a produção. É exatamente este o enfoque do quarto e último capítulo deste livro. Estão presentes os principais per- sonagens do rádio sisaleiro que atuam diretamente com o jornalismo e o jornalismo-esportivo e que sem eles não acon- teceria esta publicação. Outra reflexão me direciona para a importância da formação de profissionais da comunicação com consciência crítica de sua área de atuação. Acredito que é conhecendo a realidade em que se vive que o profissional poderá desenvol- ver práticas cidadãs, se engajar nos processos de consolida- ção da democracia e buscar a superação dos problemas eco- nômicos, sociais e éticos dos quais tanto padece a popula- ção da Região Sisaleira e do Brasil como um todo. Boa leitura! O autor. Conceição do Coité-Bahia, dezembro de 2009. 13
  • 13.
  • 14. Introdução É hora de começar. Este é o momento de esclarecer um pouco mais sobre o que estamos debatendo. Antes de ligar o microfone e entrarmos direto no ar é preciso apresen- tar o porquê de um livro-reportagem. Algumas pessoas po- dem perguntar: por que não fazer uma monografia, um vídeo ou um sítio na Internet? O fato é que o livro-reportagem me chamou mais atenção, me aproximou mais do que eu sem- pre quis. E como diz Belo (2006) é mais uma experiência na faculdade. Produzir um livro-reportagem não exige anos de re- portagem em jornalismo. Tanto que muitas escolas superio- res facultam a seus alunos essa opção de trabalho de con- clusão de curso. Bem orientada essa é uma atividade que garante ao formando um preparo extraordinário quanto a al- guns dos principais aspectos da prática profissional, como apuração, texto e edição. (BELO, 2006, P. 69) O livro-reportagem dá mais liberdade de pensamen- to e criatividade. Além disso, é preto no branco. Transformar notícias, opiniões, comentários, informarções e notícias numa grande reportagem. Quando falei sobre notícia eu mesmo me perguntei: – O que é notícia? Com essa dúvida, surge o momento certo de chamar quem entende. Na faculdade a gente chama de “voz autori- 17
  • 15. zada”, pesquisadores, especialistas, acadêmicos, seja lá o que for: é quem já tem experiência própria, já pesquisou a área em questão. É aí que surge Nilson Lage. O escritor tem uma obra prima sobre o assunto. No livro A Reportagem: teoria e pes- quisa jornalística, ele define que: a notícia ganhou sua forma moderna, copiando o relato oral dos fatos singulares, que, desde sempre, baseou-se, não na narrativa em seqüên- cia temporal, mas na valorização do aspecto mais importante de um evento. (LAGE, 2006, P. 18) Sendo assim, vamos lá. Resolvi então, neste livro, reportar relatos orais sobre o surgimento, desenvolvimento e perspectivas do radiojornalismo na Região Sisaleira. É aí que surge uma nova dúvida: o que é um livro-reportagem? Fui buscar nas obras de Edivaldo Pereira Lima e Eduardo Belo as respostas para essa dificuldade. Livro-reportagem: perfil e retrato do radiojornalismo O livro-reportagem, segundo Belo (2006), tem dife- renças do jornalismo praticado atualmente nas redações da imprensa no Brasil, mas: é apenas uma reportagem, passível de empre- gar exatamente o mesmo padrão técnico e de conduta, como se fosse publicada em qualquer outro meio de informação. (BELO, 2006, P. 41) 18
  • 16. Perfil e Retrato, estes são os modelos de livro-repor- tagem propostos no projeto da pesquisa. O primeiro, segun- do os estudos de Edivaldo Pereira Lima (1993), tem como objetivo evidenciar o lado humano de uma personalidade pública ou de uma personagem anônima (que por algum motivo, torna-se de interesse). Ainda segundo Lima, seme- lhante ao livro-reportagem-perfil, diferindo no objeto de análi- se: ao invés de uma figura humana, o livro-reportagem-retra- to focaliza uma região geográfica, um setor da sociedade, um segmento da atividade econômica e procura traçar o re- trato do objeto em questão (elucidando seus mecanismos de funcionamento, seus problemas, sua complexidade). Basicamente é para isto que serve o livro-reporta- gem – para estender o papel do jornalismo contemporâneo. Este produto do jornalismo ultrapassa também as concep- ções do jornalismo atual: Tem potencial para assumir posturas experimen- tais. Tem pique suficiente, se trabalhado de for- ma adequada, para fazer nascer a vanguarda de um jornalismo realmente afinado com as ten- dências mais avançadas do conhecimento hu- mano contemporâneo. (LIMA, 1993, P. 16) E neste sentido, este livro-reportagem apresenta his- tórias de vida, conceitos e experiências de profissionais que atuam no rádio sisaleiro sob o enfoque da produção de notí- cias. Logo, faz um retrato da profissão de radialismo na re- gião, mas enfocando as práticas dos profissionais envolvidos na pesquisa. 19
  • 17. REGIÃO: o que é isso? O conceito de Região Sisaleira aqui adotado englo- ba dois Territórios Rurais de Identidade*, que foram definidos pelo Governo Federal, entre 2003 e 2004: o Território do Sisal** e o Território da Bacia do Jacuípe***. Antes de nos aprofundarmos neste debate precisamos entender um pou- co mais o que aqui é denominado de região. Para isso bus- quei os conceitos de Durval Muniz de Albuquerque Júnior, que no livro A Invenção do Nordeste diz: ela [região] remete a uma visão estratégica do espaço, ao seu esquadrinhamento, ao seu re- corte e à sua análise, que produz saber. Ela é uma noção que nos envia a um espaço sob do- mínio, comandado. Ela remete, em última ins- tância, a regio (rei). Ela nos põe diante de uma política de saber, de um recorte espacial das relações de poder. Pode-se dizer que ela é um ponto de concentração de relações que procu- ram traçar uma linha divisória entre elas e o vasto campo do diagrama de forças operantes num dado espaço. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2001, P. 25-26). * Para saber mais sobre o processo de revelação dos territórios de identidade na Bahia ver o livro DIAS, Wilson José Vasconcelos. Territórios de Identidade: um novo caminho para o desenvolvimento rural sustentável na Bahia. Feira de Santana: Gráfica Modelo, 2006. ** Composto por Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santa Luz, Serrinha, São Domingos, Teofilândia, Tucano e Valente (GOVERNO DA BAHIA, 2009). Disponível em http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html. Acesso em 15 de Outubro 2009. *** Composto por Baixa Grande, Capela do Alto Alegre, Gavião, Ipirá, Mairí, Nova Fátima, Pé de Serra, Pintadas, Quixabeira, Riachão do Jacuípe, São José do Jacuípe, Serra Preta, Vázea da Roça e Vázea do Poço. (GOVERNO DA BAHIA, 2009). Disponível em http://www.seplan.ba.gov.br/mapa_territorios.html. Acesso em 15 de Outubro 2009. 20
  • 18. A professora Vilbégina Monteiro dos Santos, que tem pesquisas em andamento, sobre o Território do Sisal, aponta que: A constituição do Território do sisal se faz a par- tir de uma comunidade imaginada, na qual sua população é chamada a valorizar as caracterís- ticas do clima, vegetação e do povo sisaleiro, positivando os estigmas a eles imputados. Essa comunidade é conclamada a partilhar os valo- res de luta e resistência promovidos pela socie- dade civil, tomando posições de sujeitos na histó- ria. Ao construir e pensar essa identidade como estratégia política e cultural, esse território tem conseguido reverter suas demandas em implementação de políticas públicas que aten- dam aos interesses do lugar. (SANTOS, 2009, P. 20). Ao longo dos anos nem sempre foi esse o discurso empreendido no interior do Nordeste brasileiro como todo. Na maioria das vezes, o Território do Sisal foi tratado apenas como um lugar pobre e atrasado. Nesta entrevista* Albuquerque Júnior disse que este fator também teve o incentivo do rádio que, ao invés de con- tribuir em debater as condições de desenvolvimento que o lugar pode oferecer, acaba repetindo o discurso de ”pobrezinho” criado pelas elites dominantes: * A entrevista aconteceu no dia 13 de outubro de 2009, no Centro Cultural de Conceição do Coité, durante a participação do professor Durval Muniz de Albuquerque Júnior no Seminário Diálogos Possíveis realizado pela UNEB. 21
  • 19. P.M.: Professor, o rádio ajuda a manter esse discur- so regionalista do Nordeste? Albuquerque Jr.: O rádio em grande medida repro- duz essas mesmas falas, esses mesmos enunciados sobre a região, esse discurso da pobreza, esse discurso da vitimização, esse discurso da discriminação, esse discurso de que somos vítimas do Sul, somos vítimas do Estado, e esse próprio discurso da homogeneização, ou seja, tratar a região como se ela fosse homogênea, como se ela tivesse os mesmos problemas, como se não tivesse divisões de clas- ses no seu interior, como se não tivesse uma parte da popu- lação que é rica; você fala da pobreza da região como se todo mundo fosse pobre, quer dizer você fala da miséria como se a miséria fosse uma realidade de todas as áreas e de todos os grupos sociais da região, então, o rádio veicula mui- to isso, né? Como veicula essa própria ideia da discrimina- ção, de que o Nordeste é discriminado, quer dizer esse dis- curso de vítima ele é o tempo todo reproduzido, né? P.M.: Como mudar isso a partir das universidades que acabam muitas vezes reproduzindo também este discurso? Albuquerque Jr.: Exatamente fazendo uma crítica a essas imagens, a esses discursos. Você fazer as pesquisas que mostrem justamente essa diversidade da região, essa realidade diversa, essa realidade que é em grande medida desigual, mas que é uma realidade que está em desacordo com essas falas, com esses discursos, com esses estereóti- pos. 22
  • 20. O rádio: popular e sempre Dia de sol na Fazenda Morrinhos. Quase às 5h30 da manhã e o rádio já está ligado. No meio do curral o vaqueiro Hamilton “Grande” ouve as primeiras notícias do dia enquan- to tira leite fresquinho para o café da manhã. Na cidade tam- bém não é diferente. Logo cedo já tem gente de rádio ligado. O fazendeiro Paulo “Velho” acorda cedo. Liga o carro, depois o rádio e segue em direção à fazenda. Embora com atenção marginal à transmissão, tanto o vaqueiro como o fazendeiro, podem realizar atividades paralelas enquanto ouvem rádio com certa facilidade e baixo custo. Para captar as emissões, basta um simples receptor transistorizado que pode ser ad- quirido por menos de R$ 5,00, em qualquer esquina de uma cidade, onde tenha um camelô. Nessa facilidade toda teria que ter algo para dificultar. No Brasil tanto rádio como televisão depende de ou- torga do governo federal, que tem o poder concedente*. No caso das rádios comunitárias um processo pode levar até dez anos, como é o caso da Santa Luz FM. Outra vantagem que o rádio tem é que, em geral, a programação volta-se ao município sede da emissora e sua região. Um exemplo disso é a Morena FM, que embora esteja em mais de 100 municípi- os, tem uma programação voltada para Serrinha e, no máxi- mo, cinco ou seis municípios vizinhos. * Constituição Federal, Capítulo V, da Comunicação Social, diz no Artigo 223, que “compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observa- do o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal”. 23
  • 21. O advento das redes de rádio via satélite altera um pouco esta realidade. As grandes cadeias de emissora têm sede, na maioria dos casos, em São Paulo, com casos isola- dos em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Na região, a Rádio 96.5 FM, de Riachão do Jacuípe, repete a programação de rede com uma emissora de Salva- dor, que começa a desenvolver a experiência na Bahia; as demais emissoras geram seus próprios programas. A versatilidade e agilidade do rádio fazem acontecer transmissões diversas ao vivo, dependendo, geralmente, de uma linha telefônica fixa ou móvel. Essa facilidade concede ao rádio a capacidade de noticiar rapidamente o fato, poden- do narrá-lo em paralelo à sua ocorrência e com baixo custo. O radialista Milton Jung (2005; P. 62) defende que é preciso entender o rádio como uma linguagem. Devido à sua abrangência e pelas características que possui, o discurso radiofônico deve ser: claro, preciso, conciso e usar com o máximo de propriedade o repertório de seu público prioritário. “Ser simples, claro e objetivo é usar linguagem coloquial, sem vulgaridade. É falar e escrever de forma que o ouvinte enten- da de imediato”, explica Jung. Nos seus mais de 90 anos no Brasil, o veículo é o meio de comunicação mais popular que existe. Ao longo da história revelou talentos para a TV, foi palanque eleitoral e ajudou a vender música. Neste sentido, a figura do radialista tem um papel estratégico. – O que me deixa triste – desabafa o radialista Genivaldo Silva –, é ver que em nossa região esse veículo 24
  • 22. não se expande, não valoriza o profissional e tão pouco ofe- rece a ele as dignas condições de exercer esta função tão prestigiada pela nossa gente. – O trabalho do comunicador é super importante – explica o radialista Tony Brasília –, temos que parar de olhar ele como alguém que só está ali para ganhar dinheiro. É al- guém que também ajuda as pessoas. Agora o que precisa mesmo são os radialistas se valorizarem, se unirem. Se o sindicato chegar aqui vai fechar as portas porque está tudo irregular. Falta união, um exemplo é que no dia do radialista ninguém nem lembrou. – Para ser um bom comunicador – comentei com ele –, é preciso também saber usar os recursos de redação e de sonoplastia, cuidar e usar bem a voz, além de desenvol- ver e respeitar as regras para a elaboração de textos e a produção de programas. Não existem estudos sobre audiência, mas em pou- co tempo de convívio na região é possível notar a popularida- de do veículo como meio de comunicação de massa. Mesmo com problemas enfrentados pelos radialistas ou mesmo pe- las rádios, mesmo com a influência política no conteúdo das emissoras, o que se percebe facilmente é que o sertanejo não vive sem rádio, seja na fazenda onde mora o vaqueiro ou mesmo na cidade em que vive o fazendeiro. Com este deba- te sobre o radiojornalismo acredito que será possível contri- buir para a construção de conhecimento na academia e nas comunidades dos Territórios do Sisal e Bacia do Jacuípe. 25
  • 23. Metodologia: as rádios e radialistas pesquisados Nesta pesquisa busquei entrevistar radialistas que atuam na atividade de produção do rádio nos setores de dire- ção, criação, interpretação e locução. Todos os radialistas foram entrevistados, especificamente com o objetivo de con- tarem suas histórias e opinarem sobre o desenvolvimento da profissão de radiojornalista na região. Os perfilados são: Aluízio Farias, Cival Anjos, Edisvânio Nascimento, Genivaldo Silva, Gilberto Oliveira, José Ferraz, José Ribeiro, Nilton Fe- liz, Tony Brasília, Tony Sampaio, Valdemi de Assis e Vilmara de Assis*. Os entrevistados receberam contatos antes pes- soalmente ou por telefone para entender a proposta do pro- jeto e marcar o dia da conversa “em profundidade”. Dos 14 radialistas previstos apenas dois não foram entrevistados: o primeiro foi presidente e fundador da Rádio Comunitária Barreiros FM, Manoel Missias, que atua na co- municação no Distrito de Barreiros, no município de Riachão do Jacuípe, desde a década de 1980, com o Serviço de Alto- falante A Voz da Sociedade Barreirense, onde tive meu pri- meiro contato com o microfone; e o segundo foi o radialista Tony Sena, que é comunicador da Rádio Jacuípe AM. Tony já está no ramo desde 1987 e atualmente apresenta o Notícias da Hora, informativo no qual também fui produtor e apresen- tador, em 2008, na mesma emissora. O noticiário tem dura- ção de dois a cinco minutos e vai ao ar a cada hora dentro da programação. As entrevistas foram canceladas por incompa- tibilidade de agenda de ambos os lados. 26
  • 24. Os Territórios do Sisal e da Bacia do Jacuípe, que demarcam o foco deste trabalho, possuem outras emissoras comerciais e comunitárias, que ficaram de fora por não per- tencerem ao recorte de municípios priorizados para a pesqui- sa (Conceição do Coité, Riachão, Serrinha, Valente e Santa Luz). Neste locais além de existirem estudantes do Curso de Rádio e TV, as emissoras de rádio possuem estrutura e his- tórico de radiojornalismo reconhecidos pela comunidade a mais de 10 anos. * A presença de apenas uma mulher neste time de radialista mostra quanto à profissão é centrada nos homens. São poucas as mulheres âncoras de noticiári- os e com experiência em radiojornalismo nestas emissoras. No decorrer da pes- quisa conheci outras três mulheres que estão iniciando em comentários, reporta- gens e apresentações de noticiários. 27
  • 25.
  • 26. Chegada do rádio na Região Sisaleira No Sertão da Bahia, o pequeno rádio de pilhas colo- ridas é usado constantemente para ouvir o principal veículo de comunicação de massa com produção local, que vence distâncias e aproxima as pessoas. Quase um milhão de habitantes estão espalhados em mais de 30 municípios dos Territórios do Sisal e da Bacia do Jacuípe e são alvo de pelo menos vinte emissoras de rádios entre comerciais, educativas e comunitárias. Na maioria das vezes, as rádios pertencem e são chefiadas por grupos polí- ticos, que também comandam as Prefeituras, Câmaras de Vereadores e as poucas empresas que existem. – Eles só querem as rádios para fins políticos, nin- guém pode negar isso – informa o radialista Nilton Feliz que atua no rádio desde o final dos anos 90. – Aqui em Serrinha mesmo – conta o radialista José Ferraz –, todas as rádios são políticas. No sentido específico da palavra, Ferraz quer dizer que as rádios são formas de poder com forte influência na administração das cidades e diz que os donos estão filiados a algum partido ou tem relação direta com os dirigentes partidários e os gestores públicos: – É complicado – analisa Ferraz –, se você falar mal 31
  • 27. de um que é aliado a Lomes ele lhe tira do ar. Ou então, lhe chama e lhe fala “não vai falar nada porque esse cara é alia- do da gente”. Por mais que o cara erre, o cara desvia dinhei- ro público, é usurpador de dinheiro público e você não pode falar. O ouvinte é quem fica sem ter a informação. A mesma coisa é na rádio de Plínio. Lá você não pode falar da sobrinha dele que é vereadora. É tudo assim. O radialista José Ferraz também não esquece as pro- postas que recebeu para retornar para a Continental. – Quando eu já estava na Jacuípe a diretoria da Continental tornou a me convidar com um salário melhor e eu não aceitei porque lá é trabalho teleguiado e aqui [na Jacuípe] não, tem dois nomes que eu não posso falar, mas Zevaldo não interfere no meu programa, concluiu Ferraz. – Todas as rádios são lideradas por políticos – afir- ma José Ribeiro, que tem 30 anos de rádio –, o Grupo Lomes, o Grupo da Universal, enfim todas as emissoras estão subor- dinadas a administrações de políticos ou igrejas. Se você não faz aquilo que o patrão quer... e dentro da moralidade você tem mais é que fazer, porque se não fizer vai para o olho da rua e tem muita gente esperando você sair para entrar e fa- zer o trabalho que você não quis fazer. Na história do rádio o envolvimento político e as con- trovérsias estão desde o início. No Brasil, a primeira emisso- ra de rádio data de 1919, que é a Rádio Clube de Recife, em Pernambuco. Mas, os pesquisadores registram que a primei- ra operação de rádio no país foi no Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 1922, para transmitir o discurso do Presidente 32
  • 28. Epitácio Pessoa, durante a comemoração do centenário da Independência do Brasil e que somente em 20 de abril do ano seguinte, o Brasil conhecia “oficialmente” a sua primeira emissora: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgard Roquete Pinto e Henry Morize. Enquanto aqui engatinhavam as primeiras tentativas para transmissão de rádio, nos EUA, no final de 1922, os americanos contavam com 382 emissoras. No início eram emissoras coletivas, elitizadas e chamadas de “sociedade” ou de rádio “clube”. Os ouvintes mantinham as emissoras com mensalidades, pois não havia os reclames, que só surgiram a partir de 1932 atra- vés de Decreto de Getúlio Vargas – o presidente brasileiro que melhor soube utilizar o rádio para pretensões políticas. A entrada da publicidade também marcou na mudança de com- portamento das emissoras, como registra Gisela Ortriwano: Com o advento da publicidade, as emissoras tra- taram de se organizar como empresas para dis- putar o mercado. A competição teve, original- mente, três facetas: desenvolvimento técnico, status da emissora e sua popularidade. A preo- cupação educativa foi sendo deixada de lado e, em seu lugar, começaram a se impor os inte- resses mercantis. (ORTRIWANO, 1985, P. 15) De acordo com o IBGE, em 1937, o Brasil tinha 59 emissoras de rádio transmitindo óperas, músicas e textos ins- trutivos. Destas, 55 eram particulares e 04 dos governos fe- deral e estaduais. 33
  • 29. DIFUSORA AM: a primeira rádio da região A primeira emissora da Região Sisaleira surgiu qua- se 50 anos depois da primeira transmissão de rádio no Bra- sil. A Rádio Difusora AM de Serrinha entrou no ar em 1969* e seus fundadores, segundo narram integrantes da emissora, foram José Barradas Neto, Plínio Carneiro, Luiz Viana Neto, dentre outros. Quem primeiro assumiu a função de radialista da emissora foi José Malta e, em 1983, o sindicalista Carlos Miranda Lima** assumiu os destinos administrativos da rádio por 20 anos. – Eu vim para Serrinha na década de 1970 – lembra Aluízio Farias – porque era a única cidade da região que ti- nha rádio. Eu trabalhava como funcionário de uma cerveja- ria, onde atuei até 1998, e nos finais de semana fazia jogos pela Difusora. * Neste ano já existiam 31 emissoras de rádio na Bahia e 959 no Brasil, segundo dados do IBGE. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_xls/ palavra_chave/cultura/radiodifusao.shtm>. Situação Cultural de 1969, apud Ser- viço de Estatística da Educação e Cultura. Tabela extraída de: Anuário estatístico do Brasil 1969. Rio de Janeiro: IBGE, v. 30, 1969. Acesso em 13 de outubro de 2009. ** Carlos Miranda postou o seguinte comentário no site www.paulomarcos.com. “Sempre que falar sobre início dos trabalhos radiofônicos na Região Sisaleira não deve esquecer que a Rádio Difusora de Serrinha, a ZYC 36 em 1330 KHZ é a DECANA, sempre deu oportunidade a todos com o seu espírito liberal por mim implantado, fomos a primeira a transmitir ao vivo de várias cidades. Tudo come- çou em 1969”. Disponível em http://softwarelivre.org/paulomarcos/blog/livro-mos- trara-o-lado-de-dentro-do-radio-na-regiao-sisaleira. 34
  • 30. Da decadência vivida nos últimos anos da adminis- tração de Miranda, a primeira rádio da região se transformou em Continental AM. Foi em 23 de abril de 2004 que aconte- ceu sua re-inauguração. Além de ganhar nova diretoria, tam- bém passou para novo endereço com equipamentos moder- nos e outra programação. Daí em diante também com trans- missão ao vivo na Internet. – A “morte” da Rádio Difusora – comentou Cival Anjos –, e o surgimento da Continental foi um marco na valo- rização do profissional. Foi essa nova rádio que ajudou a mu- dar um pouco a postura das emissoras na região com a contratação de profissionais. MORENA FM: 22 anos sem radiojornalismo Na Praça Luiz Nogueira, em Serrinha, é fácil encon- trar um parque infantil, onde meninos e meninas brincam; árvores históricas, que sombreiam os jardins enfeitados de esculturas e flores; no mesmo lugar é fácil de visualizar – de todos os ângulos – o prédio do Grupo Lomes de Radiodifu- são. O portão eletrônico está fechado. Antes quem che- gava entrava sem se identificar, subia a escada de madeira que leva ao primeiro andar, onde ficam os estúdios de duas emissoras de rádio. Neste dia depois de me identificar tive acesso pela terceira vez naquele mês ao estúdio da segunda rádio de Serrinha, fundada em 1986, por Antônio Lomes do Nascimento. Denominada no Ministério das Comunicações 35
  • 31. como Serrinha FM, opera em 97.9 Mhz no ar 24 horas e é basicamente musical. Com o slogan “A dona do primeiro lu- gar” a emissora é a mais potente da região e recebe muitas críticas por oferecer uma programação pouco variada, com muita propaganda e apenas músicas de “mercado”. – O pessoal da Morena não sabe o que é música não – diz José Ribeiro, que coordena o programa jornalístico da rádio e é um dos entrevistados desta pesquisa. Diversidade musical não é mesmo o forte da emisso- ra, mas é disso que sobrevive. O único programa de notícias da Morena FM é o “Pauta Livre”, que está no ar desde o início de abril de 2008, das 12 às 13 horas de segunda a sexta- feira. O programa demonstra de fato que é um espaço livre sem grandes produções, ou seja, vai acontecendo tudo ao vivo e na base dos comentários, porém sem participação popular. O proprietário impõe seu poder de influência usando o veículo para expressar suas preferências políticas, assim como faz com mais ênfase na Regional AM, a terceira emis- sora de Serrinha. REGIONAL AM: a menina dos olhos de Lomes Foi também em 1986, quando Antônio Carlos Maga- lhães era Ministro das Comunicações, que o Grupo Lomes de Radiodifusão conseguiu outra outorga de funcionamento de rádio. A Rádio Regional AM 790 Khz é uma emissora bem popular com programação basicamente informativa, mas tam- 36
  • 32. bém com programas de entretenimento. O estúdio é bem climatizado, ainda no estilo antigo com cabine de locução separada da mesa de áudio. Segun- do informações da própria emissora, sua abrangência pode chegar a mais de 120 municípios da Bahia e Sergipe. O pro- prietário Antônio Lomes é um empresário da radiodifusão com várias emissoras de rádio AM e FM espalhadas na Bahia e em outros Estado*, mas prefere esta emissora para falar to- dos os dias por telefone. Ele tem fortes vinculações políticas com partidos de Serrinha e usa a rádio para expor sua posi- ção que acaba sendo também a visão dos comunicadores. Lomes foi Superintendente de Desporto do Estado da Bahia (Sudesb) e diretor da Empresa de Produtos Farmacêuticos da Bahia (Bahiafarma) em governos do PFL, atual DEM. Atra- vés do rádio, e em especial da Regional, Lomes mantém con- tato direto com a população serrinhense e expõe suas opini- ões políticas. Mesmo com todo aparato de rádios, em 2008, perdeu a eleição municipal. A esposa do empresário foi candidata a re-eleição para o cargo de prefeita, mas foi der- rotada. * Ver estudo do FNDC que aponta a existência de 65 emissoras na Bahia perten- centes a políticos em exercício ou seus parentes com base em um levantamento feito por Katherine Funke [DRT 2266/BA], para reportagem publicada no jornal A Tarde, de Salvador, em 26/12/2005. Foram considerados os levantamentos feitos por Venício de Lima [UnB], para deputados federais, e James Görgen [FNDC], para senadores. Disponível em http://www.fndc.org.br/arquivos/Politicos-emisso- ras-BA.pdf . Acessado em 03 de novembro de 2009. 37
  • 33. SISAL AM: o trono da família Rios “O símbolo de maior riqueza da nossa região” este é um dos primeiros slogans da Rádio Sisal, que foi gravado numa antiga vinheta na voz de Lucival Lopes um de seus maiores comunicadores. Depois de se destacar na emissora, Lucival com sua voz grave, foi para Feira de Santana, onde comanda programas jornalísticos de grande repercussão. A Sisal não vive mais na “Era de Ouro” dos anos 90, porém está no ar diariamente já com sistema digitalizado e pode ser sintonizada em 900 Khz AM em aproximadamente 30 municípios do Sertão baiano e pelo sítio que mantém na Internet. Situada na Rua Wercelêncio Calixto da Mota, 81, no centro da cidade de Conceição do Coité, ganhou o nome em 20 de dezembro de 1986, durante sua inauguração numa homenagem dos proprietários ao Sisal, a planta que por dé- cadas foi a principal base econômica da região. Segundo a diretoria da rádio, os primeiros documen- tos da iniciativa datam de março de 1979 e os seus fundado- res foram Tiago Ferreira de Carvalho – segundo o sítio Do- nos da Mídia* também é proprietário de outra emissora em Euclides da Cunha –; Gilberto Mota, Roberto Pinto Lopes e Edvaldo de Carvalho Santiago. Em maio de 1982, ingressa- ram os sócios Hamilton Rios de Araújo e João Carvalho. * Ver site http://www.donosdamidia.com - Acesso em 10 de outubro de 2009. 38
  • 34. Por falta de capital suficiente para adquirir os equipa- mentos os sócios resolveram, em dezembro de 1985, transformá-la em sociedade anônima composta por 31 acio- nistas. Hamilton Rios de Araújo tem grande poder de decisão na emissora. HR, como o chamam na rádio, tornou-se a mai- or liderança política de Coité da década de 1970, se manten- do no poder até os dias de hoje, porém em decadência polí- tica. – Seus interesses sempre se refletiram no perfil e na programação da rádio –, relata Valdemi de Assis, que por quase 20 anos foi o principal radiojornalista da emissora. A Sisal tem uma programação direcionada ao pú- blico rural e não arrisca colocar ouvinte no ar dentro do jorna- lismo como acontece em outras rádios. Mantém no ar o Jor- nal da Sisal pela manhã e o programa Sisal Esportes e Notí- cias ao meio dia, que se constituem nos espaços de maior dedicação ao radiojornalismo. No final de semana, a rádio transmite jogos de futebol amador e se mantém, desde 1992, como referência neste setor na região. – Em vez de fiscalizar se estamos seguindo a linha da rádio eles deveriam corrigir e ajudar a gente. Seria bom para a Rádio e para a gente também –, reclama Nilton Feliz, que coordena o esporte na rádio. – Você fala também em termos de corrigir para me- lhorar a qualidade dos programas? –, pergunto. – Exato. E também assim, aqui na Sisal, hoje não, mas antes já teve momento de ninguém da direção ouvir e a rádio sair do ar e o locutor continuar fazendo o programa sem 39
  • 35. saber – concluiu Nilton Feliz. Com a nova estrutura talvez isso não aconteça mais. A Sisal comemorou seus 23 anos de cara nova. Foram inves- tidos mais de R$ 200 mil em equipamentos de última gera- ção para operação e transmissão, além de novos estúdios climatizados, com paredes coloridas e quadros bonitos. Ainda é preciso ir mais fundo numa pesquisa que aponte a Rádio Sisal e as demais não apenas como um bra- ço direito das prefeituras ou dos gestores públicos, mas que possa investigar como de fato o rádio contribui na manuten- ção de cargos públicos, por exemplo, eleições e derrotas de vereadores, prefeitos e deputados da região. O comunicador Valdemi de Assis sabe bem o que é isso. Ele foi vereador e radialista ao mesmo tempo na déca- da de 1980. Em 2006, candidatou-se a deputado contra a vontade do grupo político que comanda a Sisal e foi expulso: – O rádio aqui é usado também como forma de ma- nutenção do poder político – explica Valdemi –, por influenci- ar diretamente na opinião pública. É através dele que as mensagens dos políticos chegam diariamente ao povo seja no período eleitoral ou fora dele. Por seus proprietários man- terem ligações diretas com os partidos acabam fornecendo as emissoras como instrumento de manipulação da opinião pública a partir do fechamento que há na programação. Não pode ter a participação do povo. Só se for para elogiar eles. 40
  • 36. JACUÍPE AM: muda de dono, mas não muda de ob- jetivo A emissora é comercial e é propriedade do ex-prefei- to de Serrinha Josevaldo Lima, que deixou o cargo em 2004, ano que adquiriu a rádio e disputou a re-eleição (sem suces- so) assim como na eleição seguinte, em 2006, quando dispu- tou a eleição de deputado. O radialista José Ferraz, que trabalha na rádio há mais de dois anos, sustenta que a emissora ajudou na última eleição do prefeito de Serrinha, em 2008, quando o filho do político disputou a eleição como vice-prefeito na chapa de Osni Cardoso: – A rádio foi multada em R$ 22 mil na política passa- da – exemplifica Ferraz –, a coligação de Tânia entrou na Justiça alegando que estávamos beneficiando Osni do PT e realmente ele foi eleito com o apoio da rádio Jacuípe porque aqui todas as rádios eram contra ele. Antes a emissora já era comandada por político. O presidente anterior era ex-prefeito de Riachão do Jacuípe, Valfredo Matos, que faleceu logo após o final do segundo mandato, em janeiro de 2005. A mudança de propriedade não mudou a concepção, utilidade e nem mesmo o conteúdo do veículo. Hoje, melhor equipada, ainda sofre as mesmas difi- culdades de emissoras comunitárias, como a falta de investi- mento financeiro. Seus radialistas dizem que são reconheci- dos pela população, mas pouco valorizados profissionalmente 41
  • 37. como na maioria das rádios. Na maior parte do tempo a rádio está a serviço dos governos ou dos políticos que estão fora da estrutura administrativa dos municípios. Serve como apên- dice das campanhas políticas e é usada para garimpar votos e prestígio*. Percebe-se também que a emissora presta rele- vante serviço para a comunidade e é o principal meio de co- municação do lugar. Outro momento marcante na emissora foi o atentado contra o radialista Gilberto Oliveira, em 1999, que foi espan- cado no meio da rua por pessoas até hoje não identificadas. O radialista disse que não tem suspeita e prefere não ligar o fato à questão política: – Existem aqueles radialistas que ficam subordina- do a políticos – denuncia Gilberto –, chantageando, receben- do propina pra divulgar isso ou aquilo ou não divulgar•c e eu desafio no meu caso. Tem gente até que me chama de bobo que eu levanto muita gente, mas eu não quero nada dos ou- tros. Não faço isso. Tenho minha consciência tranquila. Situada na Rua Padre Argemiro Guimarães, 32, no centro de Riachão, a Rádio Jacuípe foi criada em 1987 e, segundo dados do sítio do Ministério das Comunicações, os primeiros sócios-proprietários foram José Aloir Carneiro Ara- újo e Valfredo Carneiro de Matos. * Para saber mais sobre este comportamento da emissora ver SILVA, Gladston. Riachão Recente. Riachão do Jacuípe: Clip Gráfica e Editora, 2003. 42
  • 38. A ideia deste e outros estudos que precisam ser fei- tos é trazer para o debate problemas antigos e ao mesmo tempo bem atuais envolvendo o rádio na região: controle po- lítico partidário sobre o conteúdo; falta de planejamento es- tratégico; pouco financiamento para produção; ausência de qualificação profissional; dentre outras questões que interfe- rem diretamente no radiojornalismo como, por exemplo, o surgimento das rádios comunitárias que pode ser considera- do um divisor de águas na comunicação. RÁDIOS COMUNITÁRIAS: a voz de quem só ouvia A implantação das rádios comunitárias no final da década de 1990 foi uma das maiores transformações no se- tor e que gerou duas significantes situações: primeiro a pró- pria população passou a produzir o rádio com seus conheci- mentos e necessidades de pautas; segundo é que as rádios comerciais sentiram-se ameaçadas por perceber que a po- pulação estava ouvindo e aceitando cada vez mais as novas emissoras, como explica Edisvânio Nascimento da Rádio Comunitária Santa Luz FM e diretor da Abraço Sisal - Associ- ação de Rádio e TV Comunitárias do Território do Sisal: – Você pode apontar alguma característica do radiojornalismo proposto pelas rádios comunitárias? – Sim. – respondeu Edisvânio –, fazemos o contraponto aos veículos de massa. Eles trabalham para aten- der a interesses particulares e nós não. Buscamos o compro- misso com a sociedade. Não fazemos sensacionalismo com 43
  • 39. a notícia nem com a miséria do povo. A associação das rádios comunitárias foi criada, em 2004, para manter o movimento articulado em torno das ques- tões de democratização da comunicação na região, princi- palmente visando atender os interesses das emissoras co- munitárias*. Uma pesquisa que tive o prazer de ser colaborador, em 2005, intitulada Rádios Comunitárias da Região Sisaleira da Bahia: memória, conjuntura e perspectivas**, e realizada pelo professor Doutor Antônio Dias Nascimento, mostra o papel do rádio como um meio eficaz de fazer valer os anseios de justiça e de melhores condições de vida e trabalho para as populações que são agregadas e organizadas pelos movi- mentos sociais locais, em torno das emissoras comunitárias. Por isso resolvi investir também nesta pesquisa em duas emissoras comunitárias que mais se destacam nestes muni- cípios que fiz o recorte. – A gente dá nossa opinião também – diz Tony Sampaio da Rádio Valente FM –, mas sempre deixa o cami- nho aberto para a interpretação do ouvinte, inclusive recebemos * Rádios que compõem a Abraço Sisal: Água Fria FM, Barreiros FM, Estrela FM de Retirolândia; Cultura FM de Araci, Cruzeiro FM de Tucano; Independente FM de Ichú; Nordestina FM; Santa Luz FM; Valente FM, São Domingos FM, Juá FM de Juazeirinho - Conceição do Coité, Quijingue FM, Mairí FM, Contorno FM de Capim Grosso e Quixabeira FM. ** NASCIMENTO, A. D. Rádios Comunitárias da Região Sisaleira da Bahia: Me- mória, conjuntura e perspectivas. Relatório de Pesquisa. MOC/UNICEF, Salva- dor - Bahia, 2005. Disponível em www.moc.org.br. Acesso em 10 de Agosto de 2009. 44
  • 40. mos ligações contrárias a nossas colocações, mas sempre procuramos ouvir o máximo de opiniões. E nunca esquece- mos os fatos de um dia para o outro, se for preciso voltamos ao tema anterior, refazemos matérias, fazemos novas entre- vistas. Em relação às emissoras AM, além de transmitirem em FM com melhor qualidade, as novas rádios, ainda prome- tem uma programação diversificada com prioridade para os assuntos da própria comunidade, a prestação de serviço, a notícia e a cultura local. VALENTE FM: não desiste nunca Fundada em fevereiro de 1998, a Rádio Valente FM foi uma das primeiras comunitárias da Região Sisaleira e por isso sempre foi referência dentro do movimento de radiodifu- são comunitária. A emissora já teve características de uma transmissão regionalizada podendo ser sintonizada em vári- os municípios como Serrinha, Conceição do Coité, Santa Luz, Riachão do Jacuípe, dentre outros. Na época da inaugura- ção a rádio chegou a alcançar um raio de quase 100 km, com boa qualidade. Hoje atua apenas no município de Valente com um transmissor de 25 Kws e em 104.9 Mhz. O jornalismo na Valente FM começou em abril de 1998 e foi planejado para ter notícias locais, regionais, estaduais e nacionais, mas principalmente locais. Enquanto o processo de outorga era travado no Ministério das Comunicações, a Anatel - Agência Nacional das Telecomunicações e a Polícia 45
  • 41. Federal cuidavam de calar a rádio. – O jornalismo da emissora foi se tornando mais crítico e fiscalizador, virando cada vez mais alvo da repres- são. Por diversas vezes a rádio foi lacrada e teve equipa- mentos confiscados –, denuncia Tony Sampaio. Quando foi criada, o país vivia um grande movimento pela democratização da comunicação com a aprovação da Lei 9.612/1998 que institui a modalidade de rádio comunitá- ria. Algumas entidades da sociedade civil, como a APAEB - Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira, as igrejas e o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Valente discutiam esse projeto desde meados dos anos 90. A Valente FM somente conseguiu a outorga depois de quase cinco anos de luta. Dirigentes da emissora foram processados por operarem sem a autorização e até hoje, mesmo depois que a rádio obteve a outorga, os processos não foram extintos. SANTA LUZ FM: uma rádio premiada A Santa Luz FM opera 24 horas modulando em 104.9 Mhz e é uma emissora referência na radiodifusão comunitá- ria no Brasil. A rádio tem uma associação comunitária que é gerenciada pela própria comunidade através de seus repre- sentantes, que são jovens comunicadores, dirigentes de en- tidades sociais de bairros e de classes e estudantes. As deci- sões da rádio são tomadas através de reuniões com os mem- 46
  • 42. bros da diretoria, locutores e entidades que compõem o Con- selho Comunitário e que garantem uma atuação apartidária da emissora. – O negativo que me marcou – relata Edisvânio Nas- cimento –, foi ter participado de uma capacitação do UNICEF durante três dias, em Salvador, e quando cheguei aqui, em Santa Luz, a Polícia Federal já estava me esperando na por- ta do ônibus pra me pegar. Então, essa pra mim desabou... – na fala uma pausa, emoção e choro. – Você ter trabalhado numa perspectiva de constru- ção cidadã – tentando refazer a voz, ele continua –, buscar aprendizado para incentivar a sociedade do que nossas cri- anças precisam e você chegar e ser tratado como bandido foi isso que eu senti. Ser obrigado a sentar num carro de polícia com armas aos seus pés é muita humilhação. A Santa Luz FM, ao longo de dez anos, quando a Polícia Federal deixava, apresentou um conjunto de reporta- gens que contribuíram para a discussão de políticas públicas dirigidas à população infanto-juvenil na Região Sisaleira e, assim, se tornou referência no assunto. A prática da rádio demonstra, através das escutas que realizei que atua com responsabilidade social enquanto formadora de opinião e contribui para a construção de novos valores, buscando uma mudança de comportamento em seu público no que diz res- peito aos direitos e deveres da população; e estimula a parti- cipação de adolescentes e jovens em sua programação. Desde dezembro de 2008, a Santa Luz FM está no ar com outorga – depois de dez anos de luta – e sem inter- 47
  • 43. rupções. Agora também disponível na Internet através de seu blogue: santaluzfm.blogspot.com. O maior problema enfrentado pelas rádios Valente FM e Santa Luz FM foi a burocracia para a liberação da ou- torga, que levou a estas e ainda leva outras emissoras a fun- cionarem sem concessão. Sobre essa questão de rádio fun- cionar sem autorização são diversas as opiniões: – A Região do Sisal tem que criar um sindicato – defende José Ferraz –, para combater rádio pirata que dá prejuízo as rádios comerciais e também para combater os radialistas clandestinos, todo mundo hoje é locutor. – Elas estão ocupando um espaço – sinalizou Nilton Feliz –, que as comerciais estão deixando por questões polí- ticas. A Sisal comandou a região por uma década e meia e agora as comunitárias por terem baixo custo e serem mais abertas para a comunidade conseguiram atrair ouvintes e anunciantes•... a rádio aqui [Sisal] tem que investir em qua- lidade para superar isso. As rádios criadas pelos movimentos comunitários em vários municípios apesar de muitas vezes passarem pelos mesmos problemas das emissoras comerciais no tocante a controle político ou mesmo não desempenharem o papel so- cial do rádio, tiveram e têm o papel de aproximar as pessoas do veículo e ao mesmo tempo oferecer o acesso ao direito humano de se comunicarem via a mídia. É também um espa- ço onde surgem novos comunicadores, que depois de algu- ma experiência migram para outras emissoras. 48
  • 44. CURSO DE RÁDIO E TV: a formação profissional Jota Sampaio, Paulo Catu, Rodrigo Carneiro, Marce- lo Felipe e eu eramos inseparáveis na faculdade. Juntos, em 2008, criamos o Na Cangaia. O projeto de comunicação via rádio e Internet serviu como experiência para integração dos estudantes de Rádio e TV e cinco emissoras de rádios co- munitárias* da região. – Foi via o Programa Na Cangaia – informou Jota Sampaio –, que trocamos ideias, reportagens e diversos pro- dutos radiofônicos como músicas, vinhetas, spots, rádio-no- velas, dentre outros. – O Na Cangaia também foi bacana porque tivemos um espaço de experimentação do que estávamos discutindo no curso – comentei. – Foi um período onde ousamos, criamos e recria- mos personagens – lembrou Sampaio –, como Dona Zumira, Val Queiroz e tantos outros que estão registrados em nossa memória. Sem esquecer dos músicos regionais que passa- ram pelo programa como Dó Nascimento, A Banda No Name, Caé, Chaonda, Ninho Santana e muito mais. O curso que surgiu, em 2006, pretende formar profis- sionais conscientes da realidade em que vivem e aptos a dominarem as linguagens audiovisuais. * Os primeiros quatro programas foram apresentados ao vivo na Rádio Educativa Sabiá. A emissora pertence à Fundação Bailon Lopes Carneiro e está no ar des- de 2005. A rádio apenas toca músicas através e uma programação automática de computado. Durante mais de um ano vários estudantes do curso se dedica- ram voluntariamente à produção de notícias na emissora. 49
  • 45. A proposta de implantação da graduação surgiu no movimento de radiodifusão comunitária, em 2004, na criação do Plano de Comunicação do Território do Sisal, como apon- ta Giovandro Ferreira e Gislene Moreira: A chegada de um curso de comunicação no Ter- ritório do Sisal foi reflexo da efervescência des- te sistema comunicativo, principalmente, no que se refere à mobilização da sociedade organiza- da local e seu amplo aparato comunicacional comunitário. Sua instalação pode ser conside- rada como o primeiro produto efetivo do Plano de Comunicação do CODES, o qual contribuiu decisivamente para o re-direcionamento da atu- ação acadêmica no território, viabilizando inclu- sive destinação orçamentária para o início de seu funcionamento. (FERREIRA e MOREIRA, 2008, P. 10) Com o curso, jovens e experientes comunicadores de diversas cidades da Bahia obtiveram a profissionalização, realizaram laboratórios de pesquisas na área de comunica- ção e iniciaram a construção de um novo processo de comu- nicação no já desenvolvido e habitado Sertão baiano. Quase a totalidade dos formandos da primeira turma do curso é dos municípios de Conceição do Coité, Riachão do Jacuípe, Serrinha e Valente. O Departamento de Educação do Campus XIV con- ta com professores – mestres e doutores – com formação, principalmente, em Língua Portuguesa, Literatura, Linguística, História, Jornalismo e Rádio e TV aptos a ministrarem as dis- ciplinas que envolvem Domínio das Linguagens; Domínio dos 50
  • 46. Fundamentos da Comunicação; Domínio da Formação Só- cio-Cultural e Humanística; e Domínio da Formação Especí- fica. A proposta do currículo é que o radialista formado seja voltado à percepção, à interpretação e à recriação da realida- de social, cultural e com ambientes naturais, através de som e imagem. Além disso, tenha condições de desenvolver as atividades de criação, produção, formação, direção e progra- mação requeridas para as elaborações audiovisuais. Com o término da formação da primeira turma já são muitos os ensinamentos e desafios para os alunos e profes- sores envolvidos na proposta pedagógica. A estrutura de todo o curso foi aprimorada ao longo dos semestres, a partir do envolvimento dos estudantes e da chegada de cada novo professor selecionado pela instituição. A matriz curricular em experimentação ainda deve passar por adaptações à reali- dade, os estudantes não conseguiram implantar um movi- mento estudantil pró-ativo e as pesquisas de campo ainda precisam ser melhor exploradas para contribuir com o de- senvolvimento do radiojornalismo na região. 51
  • 47.
  • 48. Fazendo jornal pelo rádio Radiojornalismo: perfil e características na Região Sisaleira “O ouvinte da região gosta de um trabalho bem feito, bem mastigado, bem explicado e nem sem- pre isso acontece” O depoimento é de Genivaldo Silva, um dos rema- nescentes da Agência Calila e hoje apresentador do Jornal da Sisal. A declaração mostra que é dia de debate no rádio. Pensadores e experientes radialistas vão conversar agora sobre o radiojornalismo na Região Sisaleira. Para chegar neste momento passamos pela Era de Ouro do Rádio – década de 1940 –, quando surgiu o Jornal Falado, que deu origem ao que chamamos atualmente de radiojornalismo. Dentre os for- matos, que estão presentes neste gênero, o de maior desta- que, neste livro, é o “Jornal de Rádio”, que é um modelo de- senvolvido em todas as rádios pesquisadas. São programas diários com duração média de 60 minutos, quadros fixos como esporte, política, polícia, tempo, dentre outros. Barbosa Filho (2003; P. 89) explica que o gênero jornalístico ”é o instrumen- to de que dispõe o rádio para atualizar seu público por meio da divulgação, do acompanhamento e da análise dos fatos”. Edisvânio Nascimento é um jovem atualizado e aten- to às discussões sobre a comunicação. Ele é sempre otimis- 55
  • 49. ta e gosta de desafios: – Não existe jornalismo imparcial – contesta o radi- alista –, existe jornalismo sério, que trabalha com transpa- rência e busca envolver a sociedade, por exemplo, não faze- mos perseguição a ninguém. Atendemos as necessidades do povo. – E o que é notícia prioritária na Santa Luz FM? – pergunto. – A notícia prioritária pra nós é a que aponta pers- pectivas para a sociedade, que realmente vai gerar frutos e tem relevância para a sociedade. – Você tem um exemplo? – Se tiver um assassinato – diz ele –, e uma reunião de professores é claro que a reunião pra nós precisa de um destaque maior. Geralmente os programas jornalísticos das emisso- ras sisaleiras são apresentados por homens que usam do estereótipo da masculinidade para falar forte, fazer comentá- rios duros e bater na mesa assim como o Varella da Rádio Sociedade da Bahia. – Quando eu comecei no rádio – denuncia Vilmara de Assis –, era muito preconceito com a presença da mulher neste ambiente. Sofri muito com isso. Vilmara é uma das poucas mulheres presente há mais de 10 anos no radiojornalismo da região – média dos entre- vistados deste debate. De 1992 a 2007, Vilmara de Assis tra- balhou na produção de programas jornalísticos da Agência Calila. Do surgimento até 2006 os programas eram apresen- 56
  • 50. tados na Rádio Sisal AM e depois durante dois anos na Rá- dio Regional. O maior sucesso do grupo que terceirizou os horários destas rádios foi o Jornal das Oito, um noticiário que se destacava por estar presente nos principais acontecimen- tos políticos, sociais e econômicos da região: – Tudo aconteceu naturalmente – informou Valdemi de Assis, que é irmão de Vilmara –, não teve planejamento não. A gente ia fazendo, gostando e fazendo de novo. A co- bertura policial mesmo eu fui criando um estilo próprio que virou referência. – O jornalismo produzido pela Equipe da Agência Calila – comemora Vilmara –, era sempre de primeira e com boa produção. Não tinha essa de ir para o ar sem planejar. Para mim o fim do programa Jornal das Oito foi um divisor de águas no jornalismo da região. O veterano Aluízio Farias aponta para a necessidade de planejamento para os programas de notícias da região: – Nós temos bons radialistas, mas está faltando mais profissionalismo. As pessoas fazem programas de uma hora só com manchetes e comentários, sem redigir nada. – Eu não trabalho com pautas – salienta José Ribei- ro –, eu não faço o programa lendo nada, aquele negócio preestabelecido. Eu conheço muita gente que teve uma edu- cação milhões de vezes melhor que a minha e quando chega aqui na Regional se treme todinho diante de mim e não tem condições de ter um raciocínio rápido sem ler nada. Ao contrário do que diz Ribeiro, um elemento em destaque da Rádio Valente FM é a estrutura proposta no jor- 57
  • 51. nalismo. Os programas são roteirizados, com pautas e pla- nejamento para cada edição. Além de avaliações constan- tes, como narra Tony Sampaio: – Não existe esse negócio de experiência fazer jor- nalismo, não há mágica•c você tem que ter informação•c você tem que trabalhar com responsabilidade e não deve fi- car fazendo julgamentos. Tony explica que no dia-a-dia faz contato com as fon- tes, busca a notícia com responsabilidade e tem a certeza do que vai trabalhar sem prejudicar terceiros, sem inventar ou estar a serviço de políticos. Para ele a falta de planejamento dos programas é coisa de radialista preguiçoso ou a fim de manipular. – Claro que um experiente terá melhor possibilidade de fazer um comentário, por exemplo – reconhece Sampaio –, mas é preciso trabalhar bem, ouvir os diversos lados para conseguir, inclusive, formar uma opinião. Para o radiojornalismo de uma emissora funcionar bem, Maria Elisa Porchat, no Manual de Radiojornalismo da Jovem Pan (1993; P. 47), diz que é preciso ter reuniões de pauta em vários momentos do dia. Segundo ela, as reuniões são responsáveis, em grande parte, pelo desempenho positi- vo da Rádio Jovem Pan. •”As matérias já feitas são comen- tadas, considerando-se a conveniência de prosseguir com os assuntos”, defende Porchat. O radialista Edisvânio Nascimento volta a argumen- tar que o radiojornalismo na Região Sisaleira é comprometi- do com um lado só: 58
  • 52. – É o lado que paga – diz ele –, temos que melhorar muito esse comprometimento. Outra coisa é que estamos muito voltados para as fontes ditas oficiais como os registros dos livros de ocorrência da polícia. Já Nilton Feliz entende que depende muito do radia- lista e das circunstâncias: – Por não concordar com algumas situações eu me exponho muito – argumenta Nilton –, pago um preço por isso e sou perseguido, às vezes punido, ameaçado... na verdade eu não tenho paz, mas é meu estilo, né? De coragem, na verdade. Claro que a gente sabe de nossas limitações por várias circunstâncias. Quebro alguns tabus. Muita gente tem medo de falar de assuntos que envolvem polícia, que é um caso muito complicado. É meu estilo de coragem. José Ribeiro também contra argumenta a visão de Edisvânio: – Eu não sou um sujeito dado a abrir espaço para que as pessoas digam o que é que eu tenho que fazer – explica Ribeiro –, aqui na Rádio Regional, por exemplo, já fui demitido cinco vezes. Estou aqui a mais de vinte anos e sou o segundo mais velho daqui (...) Fui demitido por não concor- dar com algumas situações, comentários, por alguém querer impor. – E você é feliz fazendo radiojornalismo? – pergun- to. – Não – responde Ribeiro –, você tem que ter dois corações... eu já cheguei a tomar remédio controlado para conseguir desempenhar minha função. Se eu começasse hoje 59
  • 53. no rádio eu não faria jornalismo. Pelo fato de alguns radiojornalistas ouvidos nesta pesquisa atuarem no esporte ou também no esporte, talvez seja mais fácil argumentar a ideia de liberdade como explica o comunicador Tony Brasília: – A diferença é que no esporte você é mais livre e no jornalismo não, você tem que se policiar (...) pessoas que são seus parceiros, seus amigos, com uma “criticazinha” fi- cam seus inimigos. A ausência de uma produção qualificada pode ser explicada pela falta de recursos para investir em boas repor- tagens. Nilton Feliz informou que os repórteres e comentaris- tas de seu programa esportivo, por exemplo, na maioria das vezes são voluntários e nem sempre estão disponíveis para debates, reportagens especiais e divulgar outros esportes, além do futebol. Segundo Tony Sampaio, a Valente FM é referência na troca de notícias com diversas rádios de Coité, Feira de Santana e outras cidades. Para ele um diferencial da emis- sora é apostar no ouvinte: – Existe um perfil criado por vocês aqui em Valente? – Temos um perfil do radiojornalismo que é desde o início da rádio ... eu não sei se foi copiado de outro lugar, mas é diferente dos outros da região porque é uma programação aberta para a participação da população e sempre traz temas importantes para o debate. O Rádio Comunidade hoje é uma referência nisso. Volto a falar com o radialista Nilton Feliz para tentar 60
  • 54. entender um pouco mais aquele argumento sobre a sensa- ção de liberdade dos radialistas na região. – Qual a sua avaliação sobre a relação dos dirigen- tes da rádio e os radiojornalistas? – Péssima – responde Nilton demonstrando infelici- dade –, eles impõem, eles querem que você siga uma linha que não é a sua e nós somos forçados a obedecer. Ou obe- dece ou cai fora. Então isso não é bom. Para o rádio isso é péssimo. E talvez as rádios comunitárias, que eu apoio e admiro também, estão surgindo e crescendo por isso, por- que elas têm essa liberdade (...) o certo é falar, mas ... eles não vão deixar que digam as verdades que precisam ser di- tas contra políticos do seu grupo. Isso parece ser uma unanimidade mesmo. Tony Sampaio defende que as rádios comunitárias crescem mais rápido pela liberdade de contestar, por ouvir mais opiniões e talvez por não ter o xerife, o dono: – Você fazer um programa com prazer e sem pres- são é muito bom – comemora Tony –, aqui [na Valente FM] não há pressão de não poder ou ter que falar de político a ou b ... sem maquiagem, sem tapeação ... todas as comerciais não, mas a maioria é ligada a político e os radialistas não têm essa liberdade. Em Riachão do Jacuípe a situação para Gilberto Oli- veira melhorou nos últimos anos: – Como é a pressão política da direção da rádio no conteúdo do programa? – Quando a rádio é direcionada a um político – ex- 61
  • 55. plica Gilberto –, você tem que fazer o que ele quer. Tive difi- culdades no início, mas agora o dono é de Serrinha e meu trabalho direcionado a Riachão. No início a minha ideia de fazer algo independente era complicada. – E a receita qual é? – pergunto. – No Jornal da Manhã eu procuro sempre fazer com independência e sem lado político. Falar para todos. Sempre de forma transparente e imparcialidade. Todos os partidos falam. Agora eu sempre procuro falar a eles que lá não é o lugar de tratar de assuntos pessoais. – argumentou Gilberto Oliveira. Em Serrinha, pergunto a José Ribeiro: – Por que você está insatisfeito com o que vive no dia-a-dia? – O rádio de Serrinha é provinciano. Meu irmão, o jornalista Valdomiro Silva, costuma dizer o seguinte: “você é fim de carreira”, porque ele encara o rádio de Serrinha assim muito tendencioso; e é realmente – afirmou –, eu não enten- do o radiojornalismo de Serrinha bem feito, mas pode melho- rar. Para Tony Brasília a perseguição nem sempre é de dentro da rádio: – No rádio de Serrinha todo dia tem um político pre- ocupado em processar radialista. Agora mesmo na Câmara tem um político dizendo que vai fazer um dossiê sobre minha vida. O rádio é a quarta força e é político. E a gente enfrenta os políticos porque a gente é o olho do cidadão. A melhor saída, segundo Vilmara de Assis, é mudar 62
  • 56. o foco jornalístico. – Eu defendo que coisa boa também é notícia. Só que a maioria só quer trabalhar com violência e política, 80% do que você ouve nos programas jornalísticos na região é política. Isso é muito ruim. O problema no pensamento de Aluízio Farias está no próprio radialista: – Como assim no radialista? – Pergunto. – Uma mistura conturbada – comentou ele –, o ra- dialista acaba transformando a notícia em atrito entre os po- líticos e isso é muito ruim, mas a relação com as diretorias das rádios eu tenho tirado isso de letra. Nunca fui chamado a atenção por nenhum dono de rádio ou mesmo nunca teve nenhum que chegou pra mim pra dizer o que falar ou não falar. Eles conhecem meu conceito e conhecem minha ma- neira. O debate até aqui centrou-se em pelo menos duas questões que estão intrinsecamente ligadas: as rádios co- merciais de Serrinha, Coité e Riachão são concentradas nas mãos de políticos; e as experiências das rádios comunitárias Valente FM e Santa Luz levam a crer que, sem o envolvimento de políticos na gestão da emissora, o debate é ampliado nas redações e nos programas. Mas este argumento de Aluízio aponta para o que disseram Gilberto Oliveira, Nilton Feliz e José Ribeiro: a profundidade, o foco e a narrativa do jornalis- mo nas rádios também dependem do profissional: – Como você pode explicar isso Gilberto? – Eu não crio polêmicas para chamar audiência do 63
  • 57. povo. Eu sou simples e tudo é natural. Não tem isso de polemizar para ter audiência. Eu trabalho com a verdade, com sinceridade, com respeito a todos. – provoca o radialista. Na Continental Tony Brasília atua por outra lógica: – A notícia para o programa é aquela que causa impacto de positivo ou negativo. Você não consegue manter audiência só com coisas boas. Se você fala que um motoqueiro atropelou e levou a criança para o hospital as pessoas vão dizer “não fez mais que a obrigação”, mas se ele fugir e você disser isso... é isso que vai dar audiência – ele continua acreditando que o velho grito e tapa na mesa para chamar a atenção é o que aumenta a audiência –, as pessoas querem ouvir as coisas ruins. Deveria ser diferente, mas só coisa boa as pessoas não querem. – É esse o retorno das pessoas que ouvem o seu programa? –, insisto. – Em Serrinha não tem pauta – relata Brasília –, aqui não tem padrão, ao contrário da capital. Se eu faço a pauta antecipadamente o povo não quer isso e muda tudo. O povo liga e dita as regras do programa querendo ridicularizar o prefeito, o vereador... o povo liga para trazer problemas. A cada 100 ligações 99 é de coisa ruim. Sobre a definição de notícia pergunto a Tony Sampaio se o Jornal Rádio Comunidade da Valente FM, tem alguma prioridade e ele responde: – Principalmente aquelas informações que possam causar um senso crítico nas pessoas – diz ele com facilidade –, as coisas boas que acontecem, as reclamações popula- 64
  • 58. res, os acontecimentos do dia-a-dia, a falta de segurança e diversos temas como a luta pelos direitos trabalhistas das pessoas da comunidade. A rádio Valente FM aparentemente sempre separa o joio do trigo. Tony contou que se um radialista prestar servi- ços em campanhas eleitorais tem que se afastar da emissora durante todo o período: – Eu mesmo me afastei para trabalhar numa cidade vizinha e depois passei um tempo fora da rádio, demorou um pouco para voltar porque depende sempre de uma avaliação sobre o meu comportamento no trabalho que fiz. Isso sem- pre acontece aqui e está correto. Vilmara de Assis acredita que o envolvimento político partidário dos donos das emissoras impede as rádios de fa- zerem um jornalismo mais plural e muitas pautas de interes- se público ficam de fora dos programas. E outro problema que ela já passou ao longo de seus 17 anos de profissão é que essa relação dos proprietários com a política também expõe o radialista. – Que tipo de exposição? - pergunto a Vilmara. – Antigamente a minha voz ia também para os car- ros de som das campanhas políticas do dono da rádio – con- ta Vilmara com ar de arrependimento –, e hoje não faço isso mais –, argumenta demonstrando alívio. Cival Anjos entende que o contraponto não é apre- sentado pelos radialistas por falta de formação profissional: – Os radialistas precisam entender que, por exem- plo, em vez de ficar cobrando que a polícia mate bandidos 65
  • 59. devem abrir o espaço para cobrar dos governantes ações, melhorias, geração de emprego e renda, qualificação no en- sino, enfim, a saída para a situação de violência, devemos exaltar o que é bom para também dar o exemplo. – E o que impede que isso aconteça? – Falta qualificação – acredita Cival –, sem qualifi- cação diminui essa possibilidade de atuação. Eu penso que pra mim é fácil dizer isso depois de cursar uma faculdade e ter participado do movimento social, que me deram esta pos- sibilidade de visualizar isso. Para entender este comportamento da imprensa fiz uma entrevista* com a professora e pesquisadora da USP - Universidade do Estado de São Paulo, Cremilda Medina, num seminário sobre jornalismo cultural. Ela disse que o jornalista tem o hábito de procurar uma causa só para tudo, “mas não é por aí”, alertou. Ela defende que é preciso entrar num pro- cesso chamado de multicausalidade, ou seja, não buscar apenas uma causa para os problemas. – Essa visão de um jornalismo centrado em busca de um culpado é algo que se concentra mais no interior? – Não, é geral – respondeu Medina –, É uma ques- tão que a gente precisa se debruçar. – Como é possível mudar este comportamento? – Só existe uma forma de enfrentar esse problema que é criar laboratório de pesquisa – afirmou Medina. * Entrevista realizada durante a II Conferência Estadual de Cultura, realizada de 26 a 28 de outubro de 2007, em Feira de Santana. 66
  • 60. Ela defende que as faculdades preparem os estu- dantes mais para a pesquisa do que para o mercado de tra- balho, como acontece hoje em dia. Essa talvez seja uma hi- pótese interessante para se abordar quando o jornalismo comunitário revela-se mais pretensioso e muitas vezes apre- senta melhores resultados. Organizações comunitárias como a Abraço Sisal e o MOC - Movimento de Organização Comunitária na Região Sisaleira investem na capacitação dos comunicadores das rádios comunitárias visando um jornalismo que pesquise a realidade local antes de qualquer julgamento, avaliação e outras condutas assumidas pelo jornalismo no dia-a-dia. Na comparação entre o jornalismo das rádios comu- nitárias e o das comerciais foram encontrados diversos pon- tos que são extremos, mas dentro do próprio setor das co- mercias, lideradas por políticos, não há um mesmo perfil. Em Conceição do Coité, por exemplo, a Sisal AM tem um perfil de rádio que apenas promove os políticos de seu grupo e pouco ataca os adversários, na maioria das vezes os ignora, ao contrário das rádios de Serrinha. Cival Anjos pensa que a Rádio Sisal não é concentrada na política porque a emissora é ligada a administração pública local e, portanto, faz um jor- nalismo sem polêmicas. Pensamento que é corroborado por José Ferraz, da Rádio Jacuípe: – Coité é diferente de Serrinha porque lá só tem uma rádio e só fala o que o prefeito quer. Então isso dificulta e a rádio fica ludibriando o povo. Aqui [em Serrinha] tem três, é diferente. 67
  • 61. – Eu sempre me exponho – novamente contesta Nilton Feliz –, porque faço cobranças de ações públicas no ar e às vezes tenho atritos com algumas prefeituras que inclusi- ve nos patrocinam, como a de Coité. Como o debate sobre o tema deve continuar em ou- tros programas, livros e pesquisas eu resolvi ouvir a opinião de Cival Anjos para concluir esta etapa e abrir o microfone para novas discussões: – Só sei que a forma de fazer rádio na região tem que ser passada a limpo de verdade, como dizia aqui o nome de um programa da Continental – afirmou o radialista. 68
  • 62.
  • 63. Tocando Ética PROFISSÃO: a legislação e a prática “É quase impossível, mas o ideal é a liberdade. Que todos pudessem falar. É um sonho… tem que surgir uma rádio que ofereça isso”. A denúncia do radialista Valdemi de Assis refere-se aos proprietários das emissoras, que na maioria das vezes colocam seus interesses diante do bem comum. Para o radi- alista isso se reproduz em todas as emissoras: – Aqui na região não tem como você cumprir a legis- lação – comenta Valdemi –, você faz o que determina o pa- trão. Acúmulo de função, muitas horas no ar, pouca estrutu- ra, não pode falar o que realmente tem que falar. O cumprimento do Código de Ética do Jornalismo não está presente de forma explícita no rádio da Região Sisaleira. É possível ouvir constantemente radiojornalistas fazendo de conta que está ao vivo num determinado local, quando de fato está no estúdio e solta uma gravação. Isso é feito para conquistar prestígio e dizer que é “boca quente”, mas no rá- dio, que é um veículo íntimo, deve prevalecer a verdade para conseguir conquistar o ouvinte. Quem quer ouvir aquele ou este conteúdo não desliga o rádio porque não é ao vivo. En- 71
  • 64. tão por que mentir? Para que esconder que a entrevista é gravada? Qual o problema disso? Mas esse não é o único problema. Ao longo dos meus estudos fui entendendo que o comunicador deveria tomar como base para suas ações pelo menos os seguintes docu- mentos: Código de Ética dos Radialistas, Código de Ética dos Jornalistas e a Declaração Universal dos Direitos Huma- nos, que completou 61 anos em 2009, além, é claro, da Cons- tituição Federal de 1988, que é a Carta Magna de todos os brasileiros. Muitos dos radialistas que entrevistei nunca le- ram nada sobre o assunto. Alguns que, por exemplo, já leram o Código dizem que é impraticável. A Lei dos Radialistas foi criada na década de 1970, e está valendo desde 16 de dezembro de 1978 com o número 6.615. Nesta legislação, admite-se como radialistas aqueles que comprovem a atuação no rádio anterior a esta data. Era o chamado “direito adquirido”. Depois de 1978, somente po- dem trabalhar como profissionais em empresas de radiodifu- são quem tiver a carteira da DRT, que é o Registro na Dele- gacia Regional do Trabalho. Em 1979, surge o Código, com o Decreto 84.134, de 30 de outubro 1979, que trata de regulamentar as funções e setores de atuação do profissional de rádio. Diz o Código: Art. 7 - Para registro do Radialista é necessária a apresentação de: I - diploma de curso superi- or, quando existente, para as funções em que se desdobram as atividades de Radialista, for- 72
  • 65. necido por escola reconhecida na forma da lei; ou II - diploma ou certificado correspondente às habilitações profissionais ou básicas de segun- do grau, quando existente, para as funções em que se desdobram as atividades de Radialista, fornecido por escola reconhecida na forma da lei ou III - atestado de capacitação profissional. (Código do Radialista, 1979) Alguns radialistas concordam com a obrigatoriedade da DRT, mas nem sempre do diploma de nível superior. É o caso do Radialista Gilberto Oliveira: – Toda formação é boa – acredita Oliveira –, mas não adianta você ir para a faculdade fazer um curso e dizer que agora vai narrar futebol. Tudo é dom. Com a criação do Curso de Rádio e TV na UNEB, em Conceição do Coité, muitos radialistas discursam preocupa- dos com os formandos. Entendem que simplesmente chegar com o diploma na mão não significa ser um radialista. A comunicadora Vilmara de Assis defende a necessidade da faculdade de comunicação para quem quer trabalhar no rá- dio, mas faz um alerta: – Agora um detalhe, a gente respeita muito quem está chegando e essas pessoas devem respeitar a gente tam- bém, pois a experiência é válida – aconselha Vilmara. Um dos princípios fundamentais do jornalismo pre- sente no Código é “ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura”. O Artigo 12 do Código de Ética dos Jor- nalistas define que o profissional deve: 73
  • 66. I - ressalvadas as especificidades da assesso- ria de imprensa, ouvir sempre, antes da divul- gação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são ob- jeto de acusações não suficientemente demons- tradas ou verificadas; II - buscar provas que fundamentem as infor- mações de interesse público; III - tratar com respeito todas as pessoas men- cionadas nas informações que divulgar; IV - informar claramente à sociedade quando suas matérias tiverem caráter publicitário ou decorrerem de patrocínios ou promoções; V - rejeitar alterações nas imagens captadas que deturpem a realidade, sempre informando ao público o eventual uso de recursos de fotomontagem, edição de imagem, reconstituição de áudio ou quaisquer outras manipulações; VI - promover a retificação das informações que se revelem falsas ou inexatas e defender o di- reito de resposta às pessoas ou organizações envolvidas ou mencionadas em matérias de sua autoria ou por cuja publicação foi o responsá- vel; VII - defender a soberania nacional em seus as- pectos político, econômico, social e cultural; VIII - preservar a língua e a cultura do Brasil, respeitando a diversidade e as identidades cul- turais; 74
  • 67. IX - manter relações de respeito e solidariedade no ambiente de trabalho; X - prestar solidariedade aos colegas que so- frem perseguição ou agressão em conseqüên- cia de sua atividade profissional. (FENAJ, Códi- go de Ética dos Jornalistas, 2007) – Da forma que eu aprendo eu procuro colocar em prática – explica Cival Anjos –, mas essa questão de ética na prática quase não funciona aqui na região. – E o que pode ser feito para mudar esta realidade? – pergunto. – Nós deveríamos fazer nossa própria censura e definir que algumas coisas não deveriam ir ao ar, devería- mos ler e cumprir os manuais e código de ética; principal- mente os radialistas mais velhos que não ligam pra isso. – Tem outra coisa – alerta Aluízio Farias –, nada de piadinha no ar. Não coloco informações que a pessoa me pede segredo no ar e tem muita coisa no rádio que não deve- ria ir ao ar e não deve ir para o rádio a desavença familiar que está escrita nos registros da polícia, por exemplo, isso eu vejo muita gente fazendo e não deveria ser colocado no ar de jeito nenhum. Não vai resolver nada. – Os processos que muitos enfrentam referem-se diretamente com ao descumprimento do Código de Ética? - pergunto a Farias. – Sim – respondeu demonstrando experiência no assunto –, ética tem que existir em todos os sentidos. E a 75
  • 68. ética profissional deve funcionar. Por isso eu nunca sofri ne- nhuma agressão nem física nem verbalmente – ele lembrou- se de um amigo que criticava seu estilo moderado de ser no rádio –, sempre me comportei bem em rádio e eu tinha um companheiro que dizia que eu gostava muito de ensebar, ou seja, defender as pessoas. Mas é melhor defender do que ridicularizar. E lá na frente quando se precisar fazer uma crí- tica você faz. Gilberto Oliveira também entrou no debate: – Não tenho problema nenhum na justiça e penso que isso é por causa da responsabilidade. Procuro sempre cumprir as leis. Faço rádio com responsabilidade. De volta a Serrinha, é hora de ouvir o experiente José Ribeiro que tem 30 anos de rádio. – Zé como se dá a prática dos princípios éticos nos seus programas? – pergunto. – Eu nunca respondi a nenhum processo por ter feito qualquer coisa que vá de encontro à ética ou que diz respeito a minha vida profissional ou que está escrito na Lei de Imprensa. – E como você se comporta? – Eu sempre me pautei pela seriedade, embora eu brinque muito no rádio, mas quando é pra falar sério eu falo mesmo. Nunca fui ao Fórum pra responder processo e posso ser o maior mentiroso de Serrinha e da Bahia, mas sou inca- paz de mentir nos microfones. Depois disso Ribeiro lembrou-se que, em 2000, descumpriu a Lei Eleitoral ao divulgar uma pesquisa sem re- 76
  • 69. gistro. Segundo ele, o programa ficou fora do ar por 30 dias: – Foi um comentário infeliz que eu fiz com o Juiz de Serrinha. Ele veio na emissora, pediu para falar, explicou tudo aos ouvintes e mandou suspender imediatamente eu e o pro- grama por 30 dias. Por pouco não tirou a rádio também. Ele também se envolveu noutra polêmica, em 2009, quando o vereador Jorge Gonçalves (PT) lhe denunciou por tentativa de extorsão. José Ribeiro esclareceu que tudo não passou de um mal entendido: – É o caso do vereador Jorge foi que ... eu ofereci a ele um espaço para um comercial na Rádio Regional e ele não quis. No outro dia fiz um comentário sobre outro assunto também na rádio e ele não entendeu e deu uma polêmica, mas isso nós já esclarecemos. Segundo ele, muitos confundem também o seu tra- balho na internet com o trabalho no rádio. “Para aparecer no meu blogue tem que pagar mesmo porque tem um custo pra isso”, comunicou. – Aqui no interior ética funciona assim – comentou Tony Brasília –, se você for aliado o cara lhe trata bem e vice- versa. Se você não for aliado por mais que você o trate bem, ele não quer saber se você tem ética ou se você não tem, ele quer é mandar ver. E se você suportar segura como a gente está segurando até hoje. Na Rádio Valente FM o princípio da ética é um dos mais fundamentais da emissora, segundo informou Tony Sampaio. O âncora do jornalismo disse que já recebeu pres- são para divulgar nomes de pessoas que foram ao seu pro- 77
  • 70. grama anonimamente fazer alguma denúncia: – Recebemos também ligações com ameaças por estarmos tocando em algum assunto que alguém não queria, mas nunca abrimos mão desse dever de proteger nossas fontes e a maior agressão que sofremos aqui foi mesmo da Polícia Federal. – A formação influencia no comportamento do radi- alista? – perguntei. – Não sou formado em jornalismo, mas aprendi em muitos cursos que fiz como se comportar no radiojornalismo – informou Tony Sampaio – , aprendi que não devo me apro- veitar da notícia pra fazer autopromoção, sensacionalismo, mexer com vida pessoal das pessoas, misturar o trabalho no rádio com as conversas na rua e aqui estamos sempre cum- prindo os princípios éticos do jornalismo com base nessas capacitações. Agora eu tenho vontade de fazer o curso de rádio. Independente de ser rádio comunitária o tratamento desta questão de ética e prática deve ser levado à risca. Ser comunitária como a Valente FM não nos dá garantia de emis- sora ética. A mesma coisa se a rádio for comandada por po- lítico ou não. Ser político e dono de rádio não significa ter um jornalismo antiético. Para a maioria dos entrevistados a ques- tão também é individual de cada profissional e não depende apenas da formação de nível superior. Outra questão que tem ligação direta com o cumprimento das leis e tratados da profissão é a terceirização de horários no rádio. 78
  • 71. TERCEIRIZAÇÃO: a falsa liberdade comprada Desde os tempos do Estado Novo que o uso dos meios de comunicação e as estratégias de quem não tinha os veículos a seu favor são feitos na base da compra de es- paço publicitário ou mesmo com a criação de meios alterna- tivos. Segundo Skidmore (1982) Vargas também enfrentava os meios de comunicação de massas com caminhões equi- pados com alto-falantes e volantes impressos. Na Região Sisaleira os políticos financiam horários e pagam matérias: e se aproveitam dos radialistas que precisam de grana para “pagar a rádio”. Isso mesmo. Rádio não paga a ninguém. Quem quiser ser radialista tem que pagar a rádio: – Para sobreviver no rádio aqui na região tem que fazer jabá – abre o jogo José Ferraz, que disse não ter língua presa –, eu nunca gostei porque perde a credibilidade, mas tem radialista aqui que quando o prefeito não paga ele bate no ar. Eu trabalho na rádio e sou servidor público pra sobrevi- ver porque notícia paga é ruim, isso é péssimo no rádio. Em 2004, uma revista e um jornal disseram que Zevaldo ganha- va a eleição e ele perdeu. Não posso dizer que foi matéria paga, mas dá pra desconfiar. Ferraz criticou a postura das emissoras que em nome do dinheiro aceitam qualquer pessoa fazer programa: – Tem gente que pensa que Jornalismo e Radialismo é a mesma coisa. Com esse negócio de queda do diploma todo mundo quer ser radialista. Esse negócio de horário terceirizado é ruim. Tem rádio aí que todo mundo que quiser 79
  • 72. comprar um horário compra. Tony Brasília, que trabalha neste sistema, afirma que realmente é assim que funciona: – O programa terceirizado é ruim porque você fica escravo para pagar a rádio e tem um custo muito alto, inclusi- ve a sua liberdade de expressão. Você depende de políticos, o comércio não banca isso sozinho. Às vezes quer dar ape- nas uma ajuda. Nos seus quase 50 anos de rádio como “colabora- dor”, como ele mesmo diz, Aluízio Farias verifica que a terceirização do rádio faz com que haja um desempenho maior de seus profissionais: – E foi uma forma que as rádios encontraram para diminuir os gastos – considera Farias –, mas eu não sou a favor. Radiojornalista não tem que vender comerciais, mas acredito que o jabá também foi quem ajudou nesse processo da terceirização. Uma coisa é a gratificação que tem desde o início do rádio. Mas esse esquema de jabá antigamente não tinha. Eu condeno essa prática. Também na Regional, onde atua Aluízio Farias, há opiniões divergentes. – Esse negócio de jabá foram os donos de rádio que criaram. Eu não vejo esse negócio de jabá. Quando um ouvinte ou um comerciante lhe dá uma ajuda é problema do locutor ... Já me chamaram de “jabazeiro”, descontaram do meu salário, mas eu já desafiei a encontrarem alguma coisa contra mim - comenta José Ribeiro. Sobre a terceirização ele disse que já quis terceirizar, 80
  • 73. mas o dono da rádio não aceitou. – Como eu sou muito polêmico – argumenta Ribeiro –, e iria faturar muito, então eles não deixaram. Para ele a terceirização é boa para o radialista e para o dono do rádio. – Só não é boa para o ouvinte, mas todas as emis- soras do mundo estão fazendo isso e não tem pra onde fugir – explica o radialista –, mas a qualidade do jornalismo fica duvidosa. A pessoa paga por um produto seja ele ruim ou não. Tony Sampaio é contra a terceirização no rádio, prin- cipalmente no jornalismo e no esporte. Para ele “o bom é a rádio dar condições de trabalho para o comunicador. Pelo o lado do radialista pode até ser bom para ganhar dinheiro, mas para o rádio não é bom”, defende. – Terceirização do rádio é um jogo perigoso – consi- dera Edisvânio Nascimento da Santa Luz FM –, muitos radiojornalistas da região são bancados por políticos e isso é muito ruim. Por mais vontade que você tenha de fazer a coi- sa certa você sabe que depende do dinheiro para se manter. Os radiojornalistas Nilton Feliz e Gilberto Oliveira eram contratados da rádio, mas agora pagam para falar: – Sempre trabalhei para a rádio – disse Gilberto –, e hoje estou terceirizado. Essa é uma questão que requer um pouco de estudo. Você pode ter certa liberdade, mas ao mes- mo tempo poderá somente divulgar o que é pago. Isso é ruim. A mudança não interferiu neste sentido na minha postura antes e depois, mas nem sempre é assim. 81